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LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA I O poema “Magaíça” de Noémia de Sousa e “Um conto igual a muitos” de Francisco Fernando da Costa Andrade são obras que dialogam com o Movimento Negritudinista ao relatar as condições de vida do homem negro diante de narrativas que exploram as relações de trabalho em um contexto colonial. Magaíça é a designação dada ao trabalhador moçambicano emigrante que trabalhava nas minas da África do Sul. O poema de Noémia relata um trabalhador das minas, citado como um homem desencorajado, também chamado de mamparra, uma designação depreciativa utilizada para esses trabalhadores. Em um primeiro momento o sujeito se vê angustiado pelo desconhecido ao chegar na África do Sul com “sonhos insatisfeitos”. Ao voltar para sua terra natal, o Magaíça ainda traz consigo “as malas cheias de falso brilho” em que sua condição de vida não melhorou pela constatação presente na última estrofe de que sua mocidade e sua saúde não mais voltariam, com um tom melancólico, a mocidade e a saúde que ficaram soterrados nas minas. O magaíça retorna ferido pelos anos de trabalho de modo sofrido com seus sonhos perdidos. O poema de Noémia é considerada como obra que dialoga com o movimento Negritudinista por relatar a condição do homem negro. Os magaíças eram, majoritariamente, homens negros. Além de ter sido publicado no primeiro caderno de poesia negro-africana de expressão portuguesa. O conto de Francisco Fernando da Costa Andrade também relata a situação vivenciada por um trabalhador em um sistema de exploração, mas em um contexto angolano. O título escolhido pelo autor (“Um conto igual a muitos”) é uma indicação de que a estrutura narrativa a ser descrita apresenta semelhança com outras já contadas, como também relata uma condição vivenciada por muitos. O personagem principal, Paulino Kambulu, retorna para Angola após seis anos de trabalho em S.Tomé. Esse sistema de trabalho por contrato, em que um sujeito trabalhava durante um período para latifundiários, era uma forma de trabalhado comum na época. Assim como o Magaíça do poema de Noémia, Paulino retorna para sua cidade desencorajado, com olhar melancólico, e com a perda da mocidade que é observado pelo narrador que conheceu Paulino durante sua infância. Na Angola, Paulino acredita ter uma autoridade justificada por assumir um papel de cidadão português diante do exercício de funções. Entretanto, sua percepção muda quando é preso por desacato e precisa assumir um trabalho correlacional. O conto termina com a morte de Paulino ao não conseguir salvar seu filho dos portugueses com “a esperança do grito, embora frágil, quase morta, persiste ainda.”, em um último suspiro de um sujeito que havia lutado para que a história não se repetisse com seu filho e que ele não fosse também uma história de “Um Conto Igual a Muitos”.
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