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1/4 Fibrose cística: o que você precisa saber sobre sintomas, diagnóstico e tratamento Considerada a doença genética grave mais comum na infância, a fibrose cística é causada por alterações no gene Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator (CFTR). Estimativas indicam que até hoje foram descritas mais de 1,8 mil mutações dessa proteína. A mutação, aliás, gera um desequilíbrio na concentração de cloro e sódio nas células que produzem as secreções do corpo, já que a CFTR é essencial na liberação do líquido das células. Diante dessa instabilidade, o suor e o muco do paciente com fibrose cística chegam a ser de 30 a 60 vezes mais espesso que o habitual. A fibrose cística, vale dizer, é uma patologia rara. Conforme o Ministério da Saúde, a doença atinge cerca de 70 mil pessoas no mundo. Em 2017, o índice de incidência no Brasil era de 1 em cada 10 mil pessoas. Com alto índice de mortalidade, o paciente tem expectativa de vida média de 15 a 25 anos. Nos últimos anos, no entanto, houve melhoras nos prognósticos, e com muitos casos revelando taxa de 75% de sobrevida até o final da adolescência e de 50% até os 30 anos. Ainda assim, menos de 10% dos pacientes ultrapassam a terceira década de vida. A alta taxa de mortalidade ocorre porque a fibrose cística é multissistêmica – ou seja, seus sinais se manifestam em diversos órgãos, causando sintomas diferentes em cada indivíduo. As mudanças nas secreções do organismo provocam diversos impactos. Um dos mais graves ocorre nos pulmões: 80% dos pacientes com fibrose cística vão a óbito por complicações no órgão. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/8882/6765 http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/2675-fibrose-cistica https://www.unicamp.br/unicamp/ju/532/para-entender-melhor-fibrose-cistica 2/4 Nos pulmões, o aumento de muco bloqueia as vias aéreas, o que possibilita a proliferação de bactérias – especialmente pseudômonas e estafilococos. O aumento da viscosidade também pode bloquear o trato digestório e o pâncreas, impossibilitando que enzinas digestivas cheguem ao intestino. Apesar de ter tratamento, a fibrose cística é irreversível e se manifesta nos primeiros anos de vida. Diante de uma patologia com um prognóstico tão grave, é essencial que os profissionais de saúde se atualizem para buscar conhecimentos e promovam o melhor acompanhamento dos pacientes. Confira, a seguir, os principais sintomas, diagnóstico, tratamento e o que há de novo em medicamentos no Brasil: Doença do beijo salgado Um dos principais sintomas da fibrose cística é a pele e o suor excessivamente salgados, já que a doença afeta as glândulas sudoríparas. Mas há outros sintomas: Tosse persistente, muitas vezes com catarro; Infecções pulmonares frequentes (pneumonia, bronquite); Chiados no peito ou falta de fôlego; Baixo crescimento ou pouco ganho de peso, apesar do bom apetite; Fezes volumosas e gordurosas, dificuldade no movimento intestinal (poucas idas ao banheiro); Surgimento de pólipos nasais; Em alguns pacientes, os sintomas são atípicos e a doença pode se manifestar apenas por azoospermia obstrutiva ou polipose nasal. *A fibrose cística não é contagiosa e não afeta questões cognitivas. Diagnóstico Muitas crianças com fibrose cística não apresentam nenhum sinal ou sintoma da doença ao nascer. Entre 5% e 10% dos bebês afetados nascem com obstrução intestinal por mecônio, que pode ser vista na avaliação ultrassonográfica. Veja outras formas de diagnóstico: Teste do Pezinho Como primeiro passo para o encaminhamento de um diagnóstico, é de extrema importância realizar o Exame do Pezinho no paciente. O teste também está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “A tripsina imunoreativa encontra-se elevada em pacientes com fibrose cística. Deve-se realizar um segundo teste, preferencialmente no primeiro mês de vida”, constata o estudo Fibrose Cística: Diagnóstico e Tratamento, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O exame não é capaz de confirmar ou excluir a doença, apenas identifica os recém-nascidos que possuem o risco de ter fibrose cística. Teste do Suor https://saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/por-que-o-teste-do-pezinho-e-tao-importante/ https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/21540/12779 3/4 Após a identificação de bebês que apresentam risco de ter fibrose cística pelo Teste do Pezinho, o paciente deve ser encaminhado ao Teste do Suor. O exame irá excluir ou confirmar a doença através do estímulo de suor do paciente e uma análise de condutividade. Após o procedimento, coleta-se uma dosagem de cloreto na amostra e é feito o diagnóstico laboral. Confira os valores que indicam a presença da doença – a partir da dosagem de cloreto: Cloreto, mmol/l Condutividade, mmol/l Normal < 30 < 60 Intermediário 30 – 59 60 – 90 Positivo ≥ 60 < 90 Fonte: Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística Exames genéticos Podem ser identificadas duas mutações para a fibrose cística em amostras de sangue, confirmando o diagnóstico. “O estudo genético limita-se ao estudo de apenas algumas mutações da fibrose cística, visto que mais de 1.800 mutações foram descritas”, conforme a pesquisa Fibrose Cística: Diagnóstico e Tratamento, que integra uma série de estudos sobre o tema feitos por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Tratamento Como a fibrose cística é uma doença multissistêmica, o paciente precisa ser tratado em centros especializados. O centro de diagnóstico e tratamento de fibrose cística deve oferecer cuidados multidisciplinares e abordagem holística. Nesse contexto, a equipe que presta assistência aos pacientes costuma ser formada por médico, pneumologista, enfermeiro, fisioterapeuta, microbiologista, geneticista, nutricionista, assistente social, psicólogo, recreacionista e pedagogo – além de profissionais de outras especialidades, como radiologia, endocrinologia, medicina intensiva, cirurgia, cardiologia, otorrinolaringologia e gastroenterologia. O principal objetivo no tratamento de pacientes com fibrose cística é o aumento da sobrevida, o que se dá através da manutenção da função pulmonar e da condição nutricional. Diante disso, é necessário manter os pulmões livres dos excessos de secreções e infecções. Nesses casos, são utilizadas medicações de uso oral e inalatório a fim de diluir o muco e tratar as infecções. Fisioterapia respiratória diária também é recomendada. Pacientes com problemas digestivos, causados pela insuficiência do pâncreas, precisam tomar enzimas digestivas antes das refeições e receber dieta hipercalórica acompanhada por nutricionistas. É importante atentar aos dias quentes: o suor excessivo causa perda de sal. Por isso, os pacientes devem controlar o uso do sal na dieta em temporadas de calor. Em geral, o tratamento resume-se em: Fisioterapia respiratória; Controle da insuficiência pancreática; 4/4 Suporte nutricional; Tratamento das infecções respiratórias; Atenção à possibilidade de complicações tais como pneumotórax e obstrução intestinal. Novos medicamentos Em setembro de 2018, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou dois novos medicamentos para o tratamento da fibrose cística: Kalydeco e Orkambi, ambos da farmacêutica Vertex. No Brasil, as duas drogas são indicadas para pacientes a partir dos seis anos de idade. Já nos Estados Unidos a idade mínima é de dois anos. Diferente de outros medicamentos, o remédio age na doença e repara a proteína CFTR, responsável pela fibrose cística. É importante ressaltar que esses fármacos não substituem o controle dos sintomas e o manejo das consequências da fibrose cística – até porque as drogas não são aplicadas a todas as mutações. Conforme pesquisa publicada na European Respiratory Journal, é possível que os compostos lumacaftor e ivacaftor, presentes no Orkambi, sejam ainda mais efetivos em pessoas com vias aéreas inflamadas. No entanto, o Orkambi é eficaz para um conjunto de mutações do gene CFTR comuns a não mais do que 20% do total de brasileiros com a doença. A eficiência do Kalydeco,que mira em outro subgrupo de alteração do DNA, é ainda menor: atinge apenas 5%. 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