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Conversa Inicial 
Caríssimos alunos, muito bem-vindos! Quero lhes convidar 
a navegar comigo em direção aos primórdios do Brasil. 
Vamos ao longo desta e das outras aulas nos aventurar 
pela história do período que nos acostumamos a chamar 
de Colonial. Se é verdade que abordaremos alguns marcos 
factuais do período, não deixaremos de lado as 
contribuições historiográficas. Estas irão nos permitir uma 
compreensão mais densa, alargada e problematizada do 
que teria ocorrido no território atualmente chamado de 
Brasil em c. 1500-1822. 
Portanto, antes de iniciarmos nossa navegação em direção 
ao Brasil dos séc. XVI, XVII, XVIII, faz-se muito importante 
recuperar alguns conceitos operacionais que servirão de 
bússola a nos guiar pelas tramas do passado mais remoto 
brasileiro. São eles: Brasil Colonial – América portuguesa – 
Antigo sistema colonial – Antigo Regime. 
Tema 01 – Brasil Colonial? 
Durante muito tempo, ao menos uma parte dos estudiosos 
da História do Brasil tendeu a pensar a colônia como uma 
homogeneidade temporal e geográfica. Do ponto de vista 
historiográfico, essa concepção unívoca da colônia parece 
ter surgido do desdobramento das propostas do IHGB e, 
especialmente, da primeira grande História Geral do Brasil, 
publicada por Varnhagen em 1854. Para esse autor, a ação 
colonizadora portuguesa havia gerado uma nação 
independente e o Brasil surgia como resultado de um 
“caminho colonial”, que teria sido percorrido sob a tutela de 
Portugal, sem estabelecer uma ruptura radical entre o 
antigo e o moderno, como em outras interpretações 
contemporâneas. 
Trata-se de uma classificação que incorpora numa 
perspectiva linear uma espécie de Brasil em devir, fruto do 
contexto intelectual que buscava legitimar o surgimento do 
Brasil enquanto Estado Nacional Independente. 
Tema 02 – América 
portuguesa? 
Você já havia ouvido falar na expressão América 
portuguesa? Se anteriormente indicamos os perigos da 
classificação Brasil Colonial, os historiadores, a partir da 
década de 1970, passaram a procurar termos e conceitos 
que abarcassem de forma mais coerente as complexidades 
do território que hoje chamamos de Brasil. 
A expressão surgiu em 1730 para nomear o livro História 
da América Portuguesa do soteropolitano Sebastião da 
Rocha Pita. Caído em desuso por muito tempo, o termo foi 
reabilitado inicialmente por Fernando Novais. A ideia era 
evitar os anacronismos implícitos nas expressões Brasil 
Colônia ou Período Colonial do Brasil. Afinal, os 
contemporâneos não tinham a consciência de que viviam 
uma fase peculiar da história e, tampouco, do futuro que 
resultaria no Brasil que conhecemos hoje. Fernando Novais 
acreditava que América portuguesa seria o termo mais 
apropriado para “tentar surpreender um processo em 
gestação”. 
Tema 03 – América 
portuguesa ou espanhola ou 
os dois? 
Caro aluno, a história, a boa história, deve ser fruto de 
debate e reflexão. Tal qual ocorreu com o conceito Brasil 
Colonial, a expressão América portuguesa não ficou imune 
às críticas. A formação do território que hoje poderíamos 
chamar de América portuguesa é fruto de três séculos de 
história e muitas descontinuidades. Os domínios 
portugueses na América durante boa parte do tempo não 
extrapolaram mais do que uma pequena faixa litorânea. 
Além disso, durante sete décadas a região esteve sob o 
domínio da Coroa espanhola (Período Filipino 1540-1680). 
Ou seja, a América portuguesa foi espanhola também 
durante um bom tempo. 
Luiz Felipe de Alencastro, por sua vez, levanta outro 
problema: para ele, nossa história não deveria se confundir 
com a continuidade do nosso território colonial. O Brasil 
não era apenas um prolongamento da Europa, se construiu 
em estreito vínculo atlântico que o unia com a África, não 
raro, à revelia de Portugal. 
Tema 04 – O antigo sistema 
colonial. Uma antiga 
interpretação? 
Desse modelo interpretativo, podemos destacar três 
elementos fundamentais: 
• O papel do exclusivo comercial, ou seja, a importância 
dos monopólios comerciais metropolitanos na 
extração de excedentes coloniais. 
• A importância da escravidão e de outras formas de 
trabalho compulsório, única forma de suprir o fator 
trabalho na escala exigida pela produção colonial. 
• O papel decisivo do tráfico negreiro, visto como o 
mecanismo fundamental da acumulação primitiva de 
capital. 
• O sentido mercantil da 
colonização, isto é, sua função de 
estabelecer nas colônias uma 
economia complementar à 
europeia que, submetida ao 
monopólio, enriqueceria as 
metrópoles, pauperizando as 
colônias. 
• As preocupações de fundo, como 
no caso da maioria da 
intelectualidade da esquerda, 
integravam um pensamento crítico 
acerca do subdesenvolvimento ou 
dependência, buscando as raízes 
históricas do imperialismo na 
América Latina. 
Tema 05 – Um antigo regime 
tropical? 
A partir dos anos de 1980, historiadores brasileiros trazem 
nuance ao quadro traçado por Novais. A acepção binária 
das relações metrópole-colônia deu lugar a um enfoque 
mais ampliado do passado colonial, inserindo-o no âmbito 
de dinâmicas político-econômico-sociais que se davam, no 
espaço atlântico, ao longo do império ultramarino 
português. 
Estas supõem a existência de inter-relacionamentos 
atlânticos; a importância de linhas comerciais entre 
diversas colônias cujas funções extrapolavam a mera troca 
de mercadorias, muitas vezes feitas sem a mediação da 
Coroa; o papel do comércio intracolonial, como mecanismo 
de acumulação endógena; o peso da transposição dos 
valores do Antigo Regime português para boa parte de 
seus domínios, apesar da inexistência de um plano geral a 
orientar a expansão portuguesa, entre outros. A colônia 
teria incorporado aos trópicos, de maneira muito peculiar, 
valores arcaicos de uma estrutura social europeia. 
Tema 01 – Antigo Regime 
O conceito nasceu na Europa. Porém, passou a ser 
apropriado por historiadores brasileiros para tentar abarcar 
as complexidades do contexto colonial. Socialmente, o 
Antigo Regime é marcado pelos contrastes: 
• entre o ambiente rural preso a rotinas e tradições 
imemoriais e o nascente contexto urbano; 
• entre as formas de trabalho compulsório e de trabalho 
livre; 
• entre a plebe e a nobreza – contrastes que eram 
considerados naturais decorrentes de uma ordem 
divina. 
• Ignorava-se a ideia 
contemporânea da igualdade entre 
os indivíduos. 
• Ao contrário, os fundamentos do 
Antigo Regime assentavam-se na 
ideia de privilégio em contraste à 
noção de direito, privilégio de 
nascimento, em primeiro lugar, 
que distinguia o sangue pela 
nobreza; de ocupação em que se 
menosprezava o trabalho manual 
e, por fim, uma série de privilégios 
particulares buscados e almejados 
por todos – nobres, plebeus, livres 
e, também, escravos. 
Tema 02 – Homens Bons 
Caro aluno, você já ouviu a expressão Homem Bom? Ela é 
uma consequência do que dissemos anteriormente. 
Representa a incapacidade de considerar os indivíduos 
como nascidos iguais e dotados dos mesmos direitos. No 
contexto da América portuguesa, ser Homem Bom 
consistia no topo da hierarquia. Poucos ostentavam essa 
posição. Elegiam e eram eleitos para os cargos públicos 
das Câmaras Municipais, instancias de poder local 
reconhecidas pelo rei. Os requisitos para tanto eram: 
sangue, linhagem e ocupação. Constituíam assim uma 
espécie de nobreza local. 
Muitos homens bons, não descendendo de uma linhagem 
puramente nobre, chegavam até essa situação prestando 
favores ao rei nas áreas do ultramar. Depois, poderiam ter 
sua nobreza reconhecida formalmente em comendas 
solicitadas à Coroa. Nessa posição, distinguiam-se pelas 
regalias de possuir serviçais à sua disposição, usar de 
montarias, usar armas; insígnias etc. 
Tema 03 – Câmaras 
Municipais 
Depois de falar dos Homens Bons, vamos tratar agora de 
um dos seus principais espaços de atuação: as Câmaras 
Municipais. Para Charles Boxer, essa instância, em 
conjunto com as Misericórdias, consistiu em um pilar de 
sustentaçãodos domínios portugueses. Os cargos eram 
preenchidos por eleições, só poderiam concorrer e votar 
aqueles reconhecidos como Homens Bons escolhendo, em 
geral, três ou quatro vereadores, um procurador e um 
escrivão, além de outros oficiais camarários. 
Uma vez eleitos se reuniam duas vezes por semana, 
deliberando sobre problemas cotidianos, fiscalizando 
condições locais como, por exemplo, comportamento 
social, abastecimento, salubridade e higiene. Possuíam um 
patrimônio próprio: terrenos públicos, terras aforadas e 
parte do pecúlio amealhado por meio de impostos. Eram 
espaços privilegiados de negociação política e há amplo 
debate historiográfico buscando compreender o grau de 
autonomia das Câmaras. 
Tema 04 – O Século 
Caro aluno, o termo ordenações define as antigas 
compilações jurídico-legislativas do período que estamos 
estudando. Foram três os códigos que receberam o nome 
de ordenações do Reino: as afonsinas (c. 1447); 
manuelinas (1521); filipinas (1603). Eram o fundamento das 
práticas políticas administrativas em todo o império 
português, devendo ser conhecidas pelos Homens Bons. 
As ordenações vigentes por mais tempo no período colonial 
foram as filipinas, que consistiam num texto reformado das 
manuelinas. 
Era assim dividida: 
• Livro I apresentava os regimentos 
dos magistrados e oficiais de 
justiça; 
• Livro II definia as relações de 
Estado e Igreja e privilégios da 
nobreza; 
• Livro III tratava do processo civil; 
• Livro IV considerou os contratos, 
testamentos, tutelas; 
• Livro V questões penais. 
Apesar das alterações realizadas na 
vigência da ordenações filipinas, no 
Brasil, a sua vigência, ainda que 
residualmente, chegou até 1917. 
Tema 05 – A Igreja 
Estimado aluno, para a administração da vida colonial, as 
ordenações eclesiásticas foram tão importantes quanto as 
seculares. Associada às Coroas Ibéricas, a Igreja tomou 
para si a função de controle das populações distribuídas 
nas colônias. Esse papel se consolidaria no registro de 
batismos, óbitos, casamentos e outros eventos vitais e, 
como demonstraremos, nas ordenações eclesiásticas. 
Durante os dois primeiros séculos, os representantes da 
Igreja na América portuguesa orientaram-se pelas 
ordenações do Arcebispado de Lisboa. 
Em julho de 1707, D. Sebastião Monteiro da Vide publicou 
as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. 
Incorporando valores tridentinos, preocupando-se com 
especificidades locais, incorporando determinações acerca 
da liturgia até comportamentos sociais (de heresias e 
homicídios até concubinatos), esse corpo documental 
doutrinário foi um marco fundamental da consolidação 
institucional da Igreja no Brasil. 
Tema 01 – Teoria dos Ciclos 
Em 1929, véspera da Grande Crise, João Lúcio de 
Azevedo, português imigrante que trabalhou em Belém do 
Pará como caixeiro, lançou o livro Épocas de Portugal 
Econômico. Sua intenção nessa obra foi estabelecer os 
ciclos sucessivos da economia portuguesa a partir da 
expansão marítima. A maioria desses ciclos estava 
associada à exploração de produtos coloniais e, nessa 
direção, exceto o ciclo da pimenta (Índia) e de outros 
produtos africanos (escravos inclusive), os demais se 
referiam a produtos do Brasil. 
Inspirado por esse autor, em 1937, Roberto Simonsem 
publica a obra História Econômica do Brasil. Partindo do 
princípio geral de que a cada período histórico, para cada 
povo, há um tema condutor essencial (religião, cultura, 
política), conclui-se que no Brasil do Período Moderno a 
economia teria sido o fator preponderante de sua 
"descoberta" e formação como colônia de exploração de 
Portugal. 
ema 02 – Pau-brasil e Açúcar 
Pois bem, caro aluno, conforme explicamos anteriormente, 
para Simonsem a história do Brasil poderia ser concebida 
em fases econômicas bem delimitadas, articuladas e 
sucessivas. O primeiro ciclo importante teria sido o do pau-
brasil, árvore muito apreciada como corante, que os povos 
locais cortavam e processavam minimamente em troca de 
anzóis e quinquilharias a partir das feitorias. 
Apesar de sua importância simbólica (o primeiro produto de 
interesse europeu a ser explorado por aqui), sua duração 
foi efêmera comparada a dois outros grandes ciclos. O do 
açúcar teria sido, com larga vantagem, o mais importante. 
Engenhos proliferaram a partir do século XVI, inicialmente 
no Nordeste. A organização da economia açucareira 
(pressupondo latifúndio e trabalho escravo) marcou 
profundamente o desenvolvimento da sociedade brasileira. 
Além disso, o setor exportador de açúcar estimulou, 
também, o comércio de abastecimento em áreas 
subsidiárias. 
Tema 03 – Ouro 
Estimado aluno, comentamos agora sobre o ouro. Em finais 
do século XVII, por volta de 1695, finalmente, descobriu-se 
o ouro. A região da descoberta foi o Brasil central. A 
economia colonial ganha grande impulso, as dinâmicas 
populacionais e de povoamento sofrem grande mudança. 
Portugal tentará conter uma verdadeira "sangria 
populacional" decorrente da corrida pelo ouro que se 
inaugura. No Brasil, a corrida do ouro provocou a criação 
de novas estradas e redes de comércio de abastecimento. 
Mantimentos e gado antes desviados para o litoral 
passaram a ser destinados às áreas onde estavam as 
lavras de ouro e, em menor escala, de diamantes. 
Como principal porto exportador de ouro, o Rio de Janeiro 
assumirá o posto de capital em 1763. Em 1720, estavam 
descobertas as principais lavras (Goiás, Mato Grosso). Há 
cálculos estimados em 27.000 quilos de ouro extraídos, 
porém, a produção pode ter sido maior (o ouro 
contrabandeado não era contabilizado). 
Tema 04 – Pecuária 
Em 1760, a produção do ouro começa a decair 
sucessivamente, e a economia colonial entra em declínio 
até 1790, quando a conjuntura internacional favorece o 
Brasil no mercado de exportação de açúcar. Porém, os 
impactos da descoberta de ouro estimularam setores da 
economia interna de forma definitiva. O fornecimento de 
gado dava função ao Brasil meridional no quadro 
econômico colonial. 
O alto preço alcançado pelo gado nas zonas de mineração, 
aliado às insuficiências de fornecimento de gado 
exclusivamente nordestino, conduziram as atenções para o 
gado do Sul, onde Portugal incorporara com a Colônia de 
Sacramento abundante gado sulino. Latifúndios pastoris se 
estabeleceram no Sul. Tangendo gado, abrindo currais, o 
vaqueiro abriu caminho para o interior, provocando o 
povoamento das áreas mais ao centro do Sul, Sudeste e de 
quase todo o interior do Nordeste. 
Tema 05 – Mercado interno, 
um debate historiográfico 
Em conjunto com a ideia dos ciclos econômicos, é bem 
provável que você associe a economia colonial do Brasil 
condicionada ao mercado externo. O mercado interno 
recebeu pouca atenção nesse contexto. Prado Júnior 
(1942) e Furtado (1959) entendiam que o mercado interno 
condicionava-se à economia exportadora. Ganhava força 
quando a conjuntura internacional era favorável à 
exportação e estagnava quando a mesma conjuntura era 
desfavorável. 
Já em 1970, Cardoso afirmou que a economia colonial 
possuía estruturas de mercado interno com algum grau de 
autonomia. Levantando documentação primária e seriada, 
historiadores brasileiros aprofundaram essa questão nos 
anos 1980. Assim, João Fragoso observou independência 
do mercado interno em relação à dinâmica da 
agroexportação. Indicou ainda o vigor desse mercado 
financiando, inclusive, unidades de agroexportação e o 
tráfico atlântico de escravos. 
Tema 01 – Indios – um 
equívoco de Colombo 
É muito importante assinalar a continuidade da presença 
indígena, não raro minimizada, no quadro da formação 
brasileira, como se esses povos tivessem simplesmente 
desparecido nos dois primeiros séculos da colonização. No 
Brasil, índio era um termo que englobava, erroneamente, 
uma série diversa de culturas e etnias nativas. Os reinóis 
utilizavam, também, o termo gentio para classificar, a partir 
do ponto de vista europeu, as populações nativas. 
Tupi e Tapuia (nome utilizadopelos Tupis para denominar 
quem não falava sua língua) também foram designações 
correntes. Vistos ora como cristãos em potencial, ora como 
"bárbaros", ora como demoníacos, os índios padeceram de 
fome e epidemias devastadoras, tendo muitos sucumbido. 
Porém, historiadores e antropólogos, em trabalhos 
recentes, têm desmontado alguns mitos retomando o 
protagonismo histórico das populações indígenas ao longo 
do período colonial. Sobre isso falaremos agora. 
Tema 02 – Africanos 
A diáspora africana iniciou por volta de 1550. Escravizados, 
foram introduzidos nas áreas do Nordeste, espalhando-se 
depois para grande parte do território colonial. Estima-se 
que pelo menos três a quatro milhões de africanos foram 
transferidos para o Brasil. Embora não se tenha dados 
exatos, é certo que essa população constituía parte 
considerável da população, maioria nas vilas e cidades 
coloniais. Transportados em navios negreiros, vinham de 
muitas partes, sobretudo da África Ocidental e Centro-
Oeste. Os negociados a partir da Costa Ocidental, Gana e 
Guiné eram denominados minas. 
A segunda maior região de tráfico escravo era a atual 
Angola: egressos dessa região, muitos eram denominados 
congos, angolas, bantos. Não se restringindo ao eito, 
servindo em tropas negras (a dos henriques), lutando pela 
liberdade, comprando a própria alforria, consistiram na mão 
de obra primordial para a montagem da economia colonial. 
Tema 03 – Reinóis 
Deslocando-se em lentos e incômodos veleiros, 
demorando-se de 40 a 60 dias de viagem, ingressaram no 
Brasil um sem número de indivíduos provenientes do Reino 
de Portugal, chamados assim de reinóis. Haviam, 
logicamente, os chamados colonizadores oficiais régios, 
que aportavam nos domínios portugueses da América com 
o intuito de assegurar as prerrogativas del rei. Havia 
também os chamados casais do rei, ilhéus provenientes 
dos açores, da madeira, que na segunda metade do século 
XVIII formaram contingentes de povoamento das áreas de 
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 
Porém, ao lado deles, havia uma grande massa de jovens 
portugueses deslocando-se voluntariamente, chamados 
pelas oportunidades da descoberta do ouro ou sonhando 
em enriquecer no comércio. Num ambiente de Antigo 
Regime, os imigrantes portugueses detinham um grande 
trunfo: eram brancos. Porém, isso nem sempre bastava. 
Muitos fracassaram em seu intento de ascensão social. 
Tema 04 – Família 
Caro aluno, quando pensamos em família colonial, uma 
imagem comum é aquela pintada por Gilberto Freyre: uma 
família extensa controlada pelo pater familias cercado de 
sua mulher, suas concubinas, seus filhos legítimos e/ou 
ilegítimos, agregados, escravos. Revelada com Gilberto 
Freyre em Casa Grande e Senzala, essa organização teria 
sido, segundo ele, a base da estruturação colonial em seu 
conjunto. 
Sem questionar, necessariamente, a vigência do 
patriarcalismo, uma geração de historiadores, ao consultar 
fontes seriadas primárias de caráter demográfico, trouxe 
novas cores para esse quadro. A família extensa teria sido 
menos representativa do que se imaginava. Mais comuns 
eram as famílias conjugais (casais com ou sem filhos) e, 
ainda, um índice expressivo de mulheres chefiando casas. 
Outro campo importante que se abriu foi o estudo da 
família escrava. Trataremos disso agora! 
Tema 05 – Mulher 
De um lado as mulheres brancas, submissas, 
enclausuradas, vivendo sob a tirania do pai, em seguida do 
marido, em ambiente misógino, sujeitas ao assassinato em 
caso de algum desvio ou, mesmo, suspeição. De outro as 
índias, negras, sobretudo mulatas, objetos da lascívia dos 
homens brancos, estereotipadas como símbolos do 
desregramento vigente nos domínios portugueses da 
América. 
A partir da década de 1980, a historiografia passou a rever 
esses estereótipos. Ao examinarem fontes primárias, 
historiadores perceberam mulheres à frente dos negócios 
mais variados, de taberneiras a donas de engenho. 
Demógrafos historiadores perceberam elevado percentual 
de domicílios chefiados por mulheres. A sociedade colonial 
era realmente misógina, porém, o mundo feminino era mais 
complexo do que se poderia imaginar. Romper com esses 
estereótipos foi passo fundamental da historiografia. Sobre 
isso falaremos agora. 
Tema 01 – Crise em Minas 
Estimado aluno, seguramente você já ouviu falar em 
Inconfidência e Conjuração Mineira. O primeiro termo, mais 
conservador, atende às visões metropolitanas tendo 
implícita uma ideia de traição à Coroa portuguesa. O 
segundo, parece espelhar melhor as perspectivas dos 
colonos que conspiraram a favor de seus interesses. 
Em um contexto de crise da extração do ouro e crescente 
tensão social, crescia o número de quilombos, o 
contingente de homens livres pobres, e aumentava a dívida 
fiscal de Minas para com a Real Fazenda. 
Em 1798, Joaquim Silvério dos Reis irá delatar os planos 
do levante. Pelo menos 11 inconfidentes foram condenados 
a morrer na forca. Tratava-se de uma decisão bastante 
dramática. Ora vista como um movimento colonial, ora vista 
como um ajuste no contexto de valores típicos de Antigo 
Regime, o tema gerou debate historiográfico que 
buscaremos recuperar aqui. 
Tema 02 – Crise em Salvador 
Na noite de 25 de agosto de 1798, foi registrado um motim 
em Salvador. Luíz Gonzaga das Virgens, um soldado, 
havia sido acusado de elaborar e fixar panfletos sediciosos 
em vários pontos da cidade. Com sua prisão, demais 
envolvidos tentaram se reunir nos arrabaldes de Salvador 
para tentar passar das palavras à ação colocando o levante 
em curso. Porém, foram impedidos pela reação das 
autoridades que prenderam os principais envolvidos. 
Movimento conhecido como Inconfidência Baiana ou 
Conjuração Baiana, veio a se dar conhecer aos 
historiadores pelos autos da devassa que as autoridades 
procederam e pelos panfletos em anexo. O programa 
nesses panfletos continha algumas palavras de ordem 
influenciadas pelos ideais revolucionários de 1789 na 
França: "todos serão iguais, não haverá diferença, só 
haverá liberdade, igualdade e fraternidade". O tema 
também gerou debate historiográfico, que recuperamos 
agora. 
Tema 03 – Transferência da 
Corte: ato I 
Em 29 de novembro de 1807, convencido de que a 
integridade da monarquia somente estaria garantida com a 
preservação dos domínios portugueses na América, onde 
os recursos naturais e humanos superavam os do Reino de 
Portugal, D. João VI e sua Corte partiram em direção ao 
Brasil. Mais do que uma resolução pessoal, a decisão do 
príncipe regente atendia às pressões internacionais. 
Encurralado entre as ambições da França (que impunha à 
Portugal o bloqueio continental) e da arquirrival Inglaterra 
(que impunha, pelo contrário, a ruptura ao bloqueio), o 
príncipe regente transmigrou cerca de 15.000 pessoas, 
praticamente da noite para o dia, para que se instalassem 
no Rio de Janeiro. 
Neste bloco, vamos recuperar o debate historiográfico 
acerca desse processo, e trazer alguns detalhes dessa 
verdadeira jornada que impactou de maneira decisiva o 
mundo colonial que havia se estabelecido na América 
portuguesa. 
Tema 04 – A Corte no Rio de 
Janeiro 
A transmigração da Corte resultou num processo 
conhecido por Maria Odila Dias como interiorização da 
metrópole. A história constitui-se em um processo de 
rupturas e continuidades e, nem sempre, a datação 
cronológica serve para esgotar o fim de uma era e o início 
da outra. Assim, a historiografia tende a considerar que o 
último estágio da experiência colonial brasileira teria se 
iniciado em 1808, quando, estando Portugal ocupada pelos 
franceses, o príncipe regente, por meio de Carta Régia de 
28 de janeiro de 1808, abriu os portos brasileiros às nações 
amigas. 
Ali findava uma das principais características das relações 
econômicas que vinham se estabelecendo entre a América 
portuguesa e sua metrópole, qual seja, a do exclusivo uso 
comercial. Iniciava-se um processo de separação entre 
Brasil e Portugal. Trataremos agora da presença da Corteportuguesa no Rio de Janeiro e, também, das 
consequências dessa situação. 
Tema 05 – Independência 
Entre 1886 e 1888, por encomenda oficial, Pedro Américo 
pintou o painel "Independência ou Morte", que consolidou 
no imaginário brasileiro o grito do Ipiranga como gesto 
fundador do Brasil. Contudo, o sete de setembro em 1822 
foi mais prosaico do que se poderia imaginar. 
Ao que tudo indica, a independência já estava decidida. 
Momento decisivo, durante muito tempo a independência 
foi encarada pela historiografia como o ponto final de um 
processo contínuo e linear que, desde o século XVIII até o 
XIX, forjou uma nacionalidade que emergiu quando as 
Cortes buscaram reestabelecer o exclusivo comercial, 
recolonizando o Brasil. 
Mais recentemente, no entanto, tanto a historiografia lusa 
quanto a brasileira buscam inserir o processo numa 
dinâmica de rupturas e permanências relacionadas ao 
Antigo Regime, destacando os fatores políticos e culturais 
que provocaram uma disputa pela hegemonia no interior do 
império luso-brasileiro. 
ema 01: Ceuta, um marco! 
Dentro do processo do expansionismo preventivo lusitano, 
a primeira grande conquista de Ceuta. Ceuta era um núcleo 
mercantil importante, que negociava tecidos, utensílios de 
cobre, cera, mel, peixes. Buscando conquistar tais 
riquezas, Portugal lança uma ofensiva bem-sucedida, 
tomando esse território aos mouros em 1415. Antevia-se aí 
algumas características vistas como fundamentais do 
processo expansionista em curso: o aspecto cruzadístico (a 
componente religiosa implícita no processo); a busca por 
territórios; a expectativa de auferir pelo comércio uma nova 
posição de destaque. 
A Ceuta portuguesa foi quase que imediatamente isolada 
pelos mouros, e o empreendimento não vigorou. Contudo, 
esse marco abriu a decisão de Portugal em ampliar suas 
conquistas, abrindo caminho para uma ação de maior 
envergadura, que comentaremos agora. 
Tema 02: A expansão 
Sabendo que as rotas comerciais vinham do Sul e do 
centro da África, Portugal organiza expedições. Nesse 
contexto, Gil Eanes, escudeiro de Dom Henrique, o 
Navegador, atinge o cabo do bojador em 1433. Ali vencia-
se não somente uma dificuldade náutica, mas um conjunto 
de ideias medievais acerca dos limites do mundo habitável. 
Trata-se, como diz José Mattoso, de um aprofunda 
"mutação do imaginário na Península Ibérica ao longo dos 
séculos XIV e XV”. Com as grandes descobertas feitas no 
litoral africano (São Jorge da Mina 1471) e com a 
consciência da extensão do mundo a partir do cabo do 
bojador, encoraja-se a busca pelo caminho para as Índias. 
Com o objetivo de ampliar a conquista de Vasco da Gama, 
dom Manuel envia, em 1500, uma nova frota às Índias. 
Liderada pelo fidalgo Pedro Álvares Cabral, era composta 
de 13 naus e chega em pouco mais de um mês à costa 
Nordeste da terra que hoje chamamos Brasil. 
Tema 03: Descobrimentos? 
Achamentos? Conquistas? 
Tradicionalmente, o ponto de demarcação para se estudar 
a gênese do que hoje chamamos Brasil remonta ao 
processo de "descobrimento" do território ao sul do 
continente americano. Porém, essa leitura merece atenção 
e problematização historiográfica. 
De um lado, há certo debate que indica que espanhóis já 
haviam tocado a costa antes de Portugal. De outro, há 
aqueles que reconhecem que usar descobrimento para um 
território já amplamente habitado é dar um tom 
demasiadamente eurocêntrico para o contexto abordado, 
minimizando ou excluindo aqueles que pioneiramente 
habitavam as terras descobertas erroneamente chamados 
de índios. Tratamos agora desse debate. 
Tema 04: O Império 
português 
O poder e o prestígio de Portugal estavam 
internacionalmente estabelecidos desde 1494, quando se 
assina com a Espanha a famosa "Capitulación de la 
partición del mar Oceano", o Tratado de Tordesilhas, em 
que Portugal e Espanha dividam suas conquistas. As ilhas 
e as terras do hemisfério oriental caberiam a Portugal, e 
aquelas do hemisfério ocidental à Espanha. 
Portugal, uma pequena monarquia agrária, transformara-se 
num império oceânico com as seguintes características: 
uma extensão relativamente importante; um programa de 
domínio e unificação de elementos políticos étnicos, raciais 
e culturais diversos; alta valorização do ideal e da estrutura 
militar e religiosa. 
Compreender o contexto da expansão marítima lusa e sua 
dinâmica de possessões estabelecidas ao longo do 
atlântico consiste num recorte historiográfico que se abriga 
debaixo do conceito de Império ultramarino português. 
Trataremos agora desse conceito. 
Tema 05: Brasil 
No Brasil, em 1534, foram estabelecidas as capitanias 
hereditárias e iniciou-se um interesse mais concentrado, 
sem que o avanço territorial tenha sido uma consequência 
mais imediata. 
Havia feitorização mais do que colonização. O principal 
foco de interesse era o pau de madeira tintorial chamado 
de pau-brasil. A "Terra de Santa Cruz" logo teria sido 
chamada de "Terra do Brasil", depois “Estado do Brasil”. 
Este último momento da aula dedica-se, portanto, a 
trabalhar essas nomenclaturas bem como entender o 
estabelecimento das capitanias hereditárias.

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