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Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais Apresentação A produção de plantas ornamentais é um dos segmentos agrícolas mais rentáveis e muito promissores que existem, com inserção de diferentes tecnologias para o seu cultivo. No entanto, as plantas ornamentais estão sujeitas a ataques de insetos-praga e doenças que podem comprometer a sua estética, desvalorizando-as na comercialização e, em situações mais severas, resultar em perda total da produção decorrente da multiplicação do patógeno na área. Assim, é importante o manejo integrado de pragas e doenças, composto por diferentes métodos de controles. São medidas preventivas (como evitar a introdução de pragas nas áreas) e de controle com base no número populacional das pragas e de seus inimigos naturais. Dessa forma, tem como propósito a alta produtividade atreladas ao menor impacto ambiental, além de reduzir os gastos com produtos químicos excessivos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a reconhecer as perdas econômicas e a importância do manejo integrado de insetos-praga e de doenças, bem como verificar quais são as estratégias de baixo impacto ambiental que podem ser realizadas nas plantas ornamentais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as perdas econômicas em plantas ornamentais devido a insetos-praga e doenças.• Identificar manejos integrados no controle de insetos-praga e doenças.• Descrever práticas de baixo impacto ambiental na proteção de plantas ornamentais.• Desafio Associar o ambiente de cultivo e a dinâmica populacional das espécies de insetos-praga e seus inimigos naturais é um dos princípios do manejo integrado de pragas (MIP). As estratégias do MIP se baseiam na exploração do controle natural e dos níveis de tolerância das plantas aos danos causados pelas pragas, no monitoramento de suas populações para o momento de agir e na ecologia da cultura e de suas pragas. Acompanhe a seguinte situação: Com base nas informações obtidas na elaboração do gráfico, responda as questões a seguir. a) A presença da Diaspis sp. está causando algum prejuízo à cultura das orquídeas nessa área? Justifique. b) Havendo necessidade de controle dessa praga, quais as estratégias que podem compor o MIP para Diaspis sp.? Infográfico O controle de praga com produtos químicos, muitas vezes, é realizado de maneira indiscriminada, sem requisitos e embasamentos técnicos, o que pode oferecer riscos aos trabalhadores e ao ambiente, além de, em algumas situações, não ser eficiente. Atualmente, existem diversos estudos renomados atrelados à inserção do manejo integrado de insetos-praga. Nessas estratégias de manejo, são ressaltados, principalmente, a identificação correta dos insetos, sejam pragas ou predadores, o monitoramento de suas populações e, quando possível, a utilização do controle biológico. Neste Infográfico, identifique os principais insetos-praga que atacam as plantas ornamentais e como manejá-los. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/c68ee962-46c4-4c50-8943-cfb0863a7c5b/45aedabf-efd7-405a-ab66-bfe775d0ff27.jpg Conteúdo do livro As flores e plantas ornamentais correspondem a um segmento do agronegócio de grande importância para as economias brasileira e mundial. No entanto, entre os principais desafios de produção destaca-se o controle de insetos-praga e doenças, que são responsáveis por grandes perdas e prejuízos na produção. Ao mesmo tempo que as inovações são utilizadas para agregar à produção, técnicas de manejo integrado de insetos-praga e doenças são de grande importância. Torna-se fundamental a identificação correta dos insetos-praga e de patógenos para que as medidas de controle sejam realizadas de acordo com estratégias integradas, e não somente a utilização de um único controle e com impactos ambientais desnecessários. No capítulo Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, reconheça as perdas econômicas decorrentes dos insetos-praga e doenças, e identifique quais manejos e práticas de baixo impacto ambiental podem ser utilizados para o controle dessas pragas em plantas ornamentais. Boa leitura. FLORICULTURA E PAISAGISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer as perdas econômicas em plantas ornamentais devido a insetos- -praga e doenças. > Identificar manejos integrados no controle de insetos-praga e doenças. > Descrever práticas de baixo impacto ambiental na proteção de plantas ornamentais. Introdução O cultivo de plantas ornamentais constitui um dos segmentos do agronegócio altamente rentável, dinâmico e promissor. Entretanto, como a maioria das culturas, essas plantas estão sujeitas à incidência de pragas, que podem resultar em grandes prejuízos e, até mesmo, inviabilizar a comercialização. As perdas decorrentes da ação de pragas em plantas ornamentais estão relacionadas principalmente com a qualidade estética, o que desvaloriza o produto final e pode comprometer a comercialização. Dentre as pragas que ocorrem em plantas ornamentais, destacam-se mos- cas-brancas, cochonilhas e tripes, além dos agentes patogênicos representados Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais Danielle Otte Carrara Castan Sarto por fungos, vírus e bactérias. Devido à variabilidade dessas pragas e seus ataques em diferentes partes das plantas, são utilizadas estratégias de manejo integrado, visando ao controle eficiente e com o menor impacto ambiental. Neste capítulo, você vai estudar sobre as principais perdas econômicas em plantas ornamentais devido aos insetos-praga e doenças, bem como o manejo integrado para seus controles. Além disso, você conhecerá quais são as práticas de baixo impacto ambiental que são utilizadas para proteção de plantas ornamentais. Perdas econômicas O termo “praga” é definido como “[...] qualquer forma de vida vegetal ou animal, ou qualquer agente patogênico daninho ou potencialmente daninho para os vegetais e produtos vegetais” (BRASIL, 2001, documento on-line). Consideram-se como pragas, então, a população de insetos e a presença de patógenos e plantas daninhas capazes de causar um dano econômico para a cultura. No entanto, aqui vamos destacar as categorias de pragas insetos e doenças em plantas ornamentais. Em plantas ornamentais, são várias as espécies de insetos e agentes patogênicos que causam prejuízo ao produtor e, por isso, são consideradas pragas. A importância de determinada praga varia de acordo com diversos fatores, destacando-se principalmente a região de cultivo, o uso de variedades resistentes, o ano agrícola e as técnicas utilizadas no manejo da cultura. As perdas diretas são aquelas relacionadas com a queda de produção ou a alteração da qualidade do produto final (MALAVOLTA JÚNIOR et al., 1995); as perdas indiretas são aquelas que exigem um gasto excessivo de con- trole, aumentando assim o custo de produção (SOLOGUREN; JULIATTI, 2007). Além desses prejuízos causados ao mercado interno, a presença de pragas interfere diretamente no comércio internacional por constituírem barreiras na exportação agrícola, uma vez que qualquer país signatário pode adotar medidas de proteção fitossanitária com o objetivo de minimizar os riscos de entrada e disseminação de pragas (HALFELD-VIEIRA; NECHET; SOUZA, 2011). Dimensionando-se as perdas, altas infestações (Frankliniella sp.) podem resultar em perdas de 25 a 95% devido à deformação de plantas (MONTEIRO, 2001), pois as características da haste e do botão floral, por exemplo, afetam diretamente a qualidade do produto comercializável (BARGUILI; VIANA; MOSCA, 2010; CARVALHO et al., 2012). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 2 Manejos integrados no controle de insetos-praga e doenças O manejo dos insetos-praga apresenta-secomo um dos principais desafios no cultivo de flores e plantas ornamentais, principalmente porque os insetos podem ser dispersos ou disseminados em uma nova área facilmente pelo vento, pela água, pela ação do homem e por materiais contaminados (como imple- mentos mecânicos, plantas e embalagens) (FRAGA; ALENCAR; TAVARES, 2009). Para minimizar os prejuízos decorrentes de pragas, de maneira tecnicamente correta, segura para o meio ambiente e economicamente viável, é necessária a implantação de um programa de manejo integrado de pragas (MIP). Além de promover benefícios ao ecossistema, mantendo as populações em equilíbrio, é crescente a valorização pelos consumidores por métodos de cultivo que priorizem a obtenção de produtos em sistemas com a aplicação minimizada de insumos químicos e que, assim, promovem a preservação do meio ambiente (VAZ; MELO; LAMA, 2016). O manejo integrado no controle de pragas, em plantas ornamentais, está inserido como uma das diretrizes instauradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Sistemas Agropecuário de Produção Integrada (Sapi), por meio da qual a produção de ornamentais possa ser conduzida com parâmetros sociais e ambientais reconhecidos mundialmente que assegurem a conservação do meio ambiente (BRASIL, 2009). O MIP começou a ser proposto no final da década de 1950, referindo-se ao uso combinado de produtos químicos (como os inseticidas, fungicidas e bactericidas) e biológicos no controle das pragas (STERN et al., 1959). Para aplicar o MIP em plantas ornamentais, devem ser considerar as seguintes etapas, conforme Gallo et al. (2002). 1. Identificar quais as pragas mais importantes a serem manejadas. 2. Avaliar os inimigos naturais, pois estes interferem no controle natural do agroecossistema. 3. Avaliar os efeitos dos fatores climáticos sobre a dinâmica populacional da praga e seus inimigos naturais. 4. Determinar os níveis de dano econômico e de controle. 5. Desenvolver técnicas confiáveis de monitoramento das populações de pragas. 6. Avaliar a eficiência de métodos de controle e seus impactos sobre os demais organismos. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 3 Para compor as estratégias de manejo, torna-se fundamental a identifi- cação correta das pragas e dos patógenos que podem ocorrer em diferentes partes das plantas ornamentais, como em rizomas, raízes, folhas, flores e inflorescência. Definidas as estratégias do MIP, o momento de intervir para fazer o controle da praga será com base no nível de dano econômico da praga (NDE). O NDE compreende a densidade populacional da praga ou de danos que ela causa, prejuízos semelhantes ao custo de adoção de medidas de controle, ou seja, é a menor densidade populacional capaz de causar perdas econômicas. No entanto, como as medidas de controle precisam de um tempo para co- meçar a atuar sobre as pragas, o controle deve ser realizado antes que se atinja o NDE, momento este definido como nível de controle (NC). Deve-se utilizar o maior número possível de estratégias para proteção das plantas, mantendo o nível populacional das pragas abaixo do nível de dano, com o objetivo de causar menor impacto ao meio ambiente e menor ou nenhum prejuízo econômico à cultura. O MIP também contribui para re- duzir a pressão de seleção de insetos-pragas, visto que diversas espécies têm adquirido resistência a muitos produtos químicos utilizados (BUENO, 2011). Dentre os principais métodos utilizados no controle de pragas estão os químicos, culturais, biológicos, controle por comportamento, resistência de plantas, métodos legislativos e controle físico. Métodos químicos No MIP, tem-se a possibilidade da utilização de produtos químicos para con- trole de insetos e doenças, mas são priorizadas as práticas de baixo impacto ambiental. No entanto, não se descarta o uso de produtos químicos, desde que estes sejam seletivos e com ingredientes ativos, a fim de evitar a pressão de seleção das pragas. Em cultivo protegido na cultura do crisântemo, o con- trole da mosca-branca pode ser realizado por meio de inseticidas (MODESTO; FENILLE, 2004), bem como o controle do Thrips palmi, no qual utiliza-se o inseticida tiametoxan (TAKEMATSU; POTENZA; PEREIRA, 1999). No cultivo de rosas, os inseticidas beta-ciflutrina e tiametoxam com lambdacialotrina foram eficientes para o controle de tripes (Frankliniella spp.) (FERNANDES et al., 2017). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 4 No entanto, deve-se ressaltar a importância da utilização de produtos químicos somente quando necessário e fazendo parte de um manejo inte- grado, pois além de aumentarem a pressão de seleção das pragas, apresen- tam influência direta sobre as populações de inimigos naturais (RAIS; SATO; SILVA, 2013). A preferência na escolha de produtos químicos deve ser baseada em sua seletividade em relação aos inimigos naturais, como, por exemplo, os ingredientes ativos ciromazina e cartap, que são considerados pouco tóxico sobre a população de Orius insidiosus (percevejo predador de tripes) em comparação a abamectina, fenpropatrina e imidaclopride, considerados altamente tóxicos (MORAIS et al., 2003). A seguir, têm-se alguns produtos químicos registrados para o controle de insetos-praga (Quadro 1) e doenças (Quadro 2) em plantas ornamentais. Quadro 1. Produtos químicos registrados para o controle de insetos-praga em plantas ornamentais Insetos-praga Produto comercial (i.a.) Nome comum Nome científico Pulgão Aphis gossypii Chess 500 WG (pimetrozina) Lagarta-das-palmeiras Brassolis sophorae Ampligo (clorantraniliprole + lambda-cialotrina) Lagarta helicoverpa Helicoverpa armigera Nomolt 150 (teflubenzurom) Lagarta das maçãs Heliothis virescens Nomolt 150 (teflubenzurom) Mosca-minadora Amauromyza maculosa Delegate (espinetoram) Mosca-minadora Liriomyza sativae Delegate (espinetoram) Tripes Thrips spp. Delegate (espinetoram) Tripes Frankliniella spp. Delegate (espinetoram) Tripes Thrips palmi Actara 250 WG (tiametoxam) Mosca-branca Bemisia tabaci raça B Chess 500 WG (pimetrozina) (Continua) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 5 Insetos-praga Produto comercial (i.a.) Nome comum Nome científico Mosca-minadora Liriomyza huidobrensis Epimec (abamectina) Mosca-branca Bemisia tabaci Polo 500 SC (diafentiurom) Tripes Frankliniella schultzei Fastac Duo (acetamiprido + alfa-cipermetrina) Fonte: Adaptado de Agrofit (c2003). Quadro 2. Produtos químicos registrados para o controle de doenças em plantas ornamentais Patógeno Produto comercial (i.a.) Nome comum Nome científico Antracnose Colletotrichum spp. Cuantiva (fluxapiroxade + piraclostrobina) Mildio Peronospora sp. Orkestra SC (fluxapiroxade + piraclostrobina) Mildio Pseudoperonospora sp. Veldara (fluxapiroxade + piraclostrobina) Mancha-foliar Alternaria sp. Bion 500 WG (acibenzolar-S-metílico) Mancha-foliar Cercospora spp. Cantus (Boscalida) Estiolamento; podridão-de-raízes Pythium spp. Forum (dimetomorfe) Podridão de raízes Phytophthora sp. Bravonil Ultrex (clorotalonil) Ferrugem branca Uromyces alstroemeriae Amistar 500 WG (Azoxistrobina) Mofo-cinzento Botrytis cinerea Unix 750 WG (ciprodinil) Mofo-branco Sclerotinia sp. Unix 750 WG (ciprodinil) (Continuação) (Continua) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 6 Patógeno Produto comercial (i.a.) Nome comum Nome científico Ferrugem Puccinia pelargonii-zonalis Comet (piraclostrobina) Podridão-das-raízes Phytium spp. Bion 500 WG (acibenzolar-S-metílico) Bacteriose Erwinia chrysanthemi Bion 500 WG (acibenzolar-S-metílico) Oídio Erysiphe cichoracearum Bion 500 WG (acibenzolar-S-metílico) Oídio Sphaerotheca fuliginea Comet (piraclostrobina) Oídio Sphaerotheca macularis Comet (piraclostrobina) Ferrugem das flores Puccinia heliconiae Comet (piraclostrobina) Mancha-bacteriana Pseudomonas cichorii Bunema 330 SL (metam-sódico) Tombamento Pythiumaphanidermatum Bunema 330 SL (metam-sódico) Pinta preta Alternaria solani Score (difenoconazol) Fonte: Adaptado de Agrofit (c2003). Métodos culturais Os métodos culturais estão relacionados com a manipulação de diversas práticas agrícolas, como rotação de culturas, podas, sistema de plantio direto, uso de materiais de propagação sadios, época de plantio e colheita, destruição de plantas doentes, dentre outras (ROSSETTO; SANTIAGO, [20--?]). A utilização de sementes e mudas sadias é considerada também uma medida de controle preventivo, pois a melhor situação de combate às pragas é evitar sua entrada e disseminação na área de produção. Portanto, deve-se exigir procedência e análises fitossanitárias em todos os materiais de propagação utilizados, sem exceção. (Continuação) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 7 A rotação de culturas também é considerada um método de controle cultural que tem como princípio alternar, anualmente, espécies vegetais numa mesma área agrícola (RESENDE; VIDAL, 2008). Além da preferência por materiais genéticos resistentes a doenças e insetos-praga, deve-se considerar a exis- tência de mercado para as espécies escolhidas para o cultivo. Apresentamos dois exemplos de rotação de culturas, um para cultivo em estufa (Figura 1) e outro para campo aberto (Figura 2), que podem ser realizados visando a dife- rentes nichos de mercado e para integrar um manejo de rotação de culturas. Figura 1. Exemplo de rotação de cultura para produção em estufa visando à alternância de famílias em plantas ornamentais. ESTUFA Grama-esmeralda (Zoysia japonica) Família: Poaceae Crisântemo (Dendranthema indicum Tzelev) Família: Asteraceae Cultivar 1: “Papiro” Cultivar 2: “Veria Dark” Antúrio (Anthurium andreanum) Família: Araceae Lírio (Lilium candidum) Família: Liliaceae Figura 2. Exemplo de rotação de cultura para produção em campo aberto visando à alternância de famílias em plantas ornamentais. CAMPO ABERTO Grama-esmeralda (Zoysia japonica) Família: Poaceae Crisântemo (Dendranthema indicum Tzelev) Família: Asteraceae Cultivar 1: “Papiro” Cultivar 2: “Veria Dark” Amendoim forrageiro (Arachis pintoi) Família: Leguminosae Rosa (Rosa damascena) Família: Rosaceae Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 8 A rotação de culturas é uma das práticas mais utilizadas quando são identificadas espécies de fungos patogênicos como Fusarium e Ralstonia solanacearum em plantas ornamentais, principalmente em flores tropicais; tem-se como intuito evitar o aumento do patógeno e o comprometimento da produção (WARUMBY; COELHO; LINS, 2004). O gênero Fusarium é compreendido por várias espécies, é considerado polífago, capaz de causar doenças em diversas culturas, além de apresentar estruturas de sobrevivência no solo, o que dificulta ainda mais seu controle (SINGH, 2010). Outra grande importância atribuída ao Fusarium é sua diferente forma de agressividade, como verificado na produção em diferentes lugares de Heliconia spp. (CASTRO et al., 2008). Dessa forma, o melhor controle desse patógeno é evitar sua introdução na área, pois, embora a rotação de cultura seja eficiente, tem-se restrição de espécies de plantas não hospedeiras a ele, podendo ser utilizado para rota- ção, quando for Fusarium solani, o cultivo de pimentão (MÖLLER et al., 2011). A fim de interromper o patógeno Ralstonia solanacearum, pode se produzir, como rotação de cultura, alface e cebolinha (BRINGEL; TAKATSU; UESUGI, 2001) e ornamentais da família Araceae (ALMEIDA, 2012), visto que são espécies não hospedeiras desse patógeno. Métodos biológicos O controle biológico de pragas pode ser considerado um fenômeno natural e consiste na regulação populacional das pragas por meio de seus inimigos naturais (VALICENTE, 2009). No entanto, essa estratégia da natureza tem sido amplamente utilizada de forma artificial pelo homem, a fim de controlar os insetos que não são de seu interesse, ou seja, aqueles que estejam causando prejuízos às produções de plantas. O controle biológico foi proposto para o controle de insetos, ácaros, plantas daninhas e doenças baseando-se no princípio de que todas as espécies de plantas apresentam inimigos naturais em seus estágios de vida, e estes podem ser manejados a fim de controlar as pragas (PARRA et al., 2002). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 9 Os insetos usados como inimigos naturais mais inseridos nos programas de controle biológico são da ordem Hymenoptera (como as abelhas, marimbon- dos, mamangavas, vespas e formigas), Diptera (como as moscas, mosquitos, varejeiras e mutucas) e os predadores de pragas das famílias Anthocoridae, Pentatomidae, Carabidae e Chrysopidae (HAGEN et al., 1976; GREATHEAD, 1986; BORROR; TRIPLEHORN; JOHNSON, 1989; GODFRAY, 1994). As pesquisas com controle biológico no Brasil estão sendo realizadas e apresentam resultados promissores em vista da quantidade de produtos que estão sendo já registrados e liberados para o uso (Figura 3). Figura 3. Situação dos registros de produtos biológicos para serem utilizados no Brasil. Fonte: Adaptada de Croplife (c2019). Os principais inimigos naturais utilizados nos cultivos de plantas orna- mentais em sistemas protegidos estão descritos no Quadro 3. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 10 Quadro 3. Principais inimigos naturais utilizados em plantas ornamentais e em cultivo protegido Parasitoides Presa Atuação Aphidius colemani e Lysiphlebus testaceipes Pulgões Atacam os pulgões por meio de seu ovipositor: inserem ovos no interior do corpo do pulgão, do qual eclode uma larva que se alimenta dos tecidos internos do pulgão, levando-o à morte. Encarsia formosa e Eretmocerus eremicus Mosca-branca Parasita os estágios ninfais da mosca- branca, onde a fêmea oviposita, e seu desenvolvimento ocorre na pupa do hospedeiro. Orius spp. Tripes Tanto suas ninfas como os adultos se alimentam de todos os estágios da presa, sendo encontrados no mesmo hábitat de suas presas, vivendo particularmente nas flores. Dacnusa sibirica e Diglyphus isaea Mosca- minadora Fêmeas de D. isaea matam a larva da mosca-minadora na mina, ovipositando em cima da larva da mosca-minadora, dentro da mina. Fonte: Adaptado de Miranda e Oliveira (1998), Carvalho, Bueno e Mendes (2006), Soglia (2006) e Costa-Lima et al. (2017). O controle biológico é bastante empregado na floricultura em países da Europa e nos Estados Unidos, destacando-se a utilização de ácaros predado- res do gênero Amblyseius para o controle de tripes, insetos predadores dos gêneros Chrysopa para o controle de pulgões e insetos parasitoides do gênero Encarsia para o controle de moscas-brancas (TAMAI; LOPES; ALVES, 2012). Existe também o controle biológico realizado por microrganismos, no qual um microrganismo, geralmente fungos, bactérias ou vírus, atua sobre insetos-praga ou mesmo sobre outros microrganismos patogênicos, realizando o controle por meio de predação ou inibição do crescimento das pragas (BET- TIOL, 1991). Na Figura 4 são apresentados diferentes artrópodes infectados pela Beauveria bassiana. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 11 Figura 4. Diferentes espécies de artrópodes infectados por Beauveria bassiana. (a) Ninfa da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B; (b) gorgulho-da-banana Metamasius hemipterus; (c) broca do café Hyphotenemus hampei ; (d) Anastrepha fraterculus; (e) ácaro-aranha Tetranychus urticae; (f) percevejo da soja Nezara viridula; (g) psilídeo Diaphorina citri; (h) percevejo bronzeado do eucalipto Thaumastocoris peregrinus. Fonte: Mascarin e Jaronski (2016, documento on-line). No entanto, as pesquisas no Brasil cresceram e evoluíram muito, em vista de alguns anos atrás; hoje é possível encontrar diferentes produtos registrados para o controle biológico. No Quadro 4 estão exemplificados alguns dos produtos biológicos registrados e que podem ser utilizadosno cultivo de ornamentais. Quadro 4. Principais inimigos naturais utilizados em plantas ornamentais e em cultivo protegido Inseto-praga Espécie ornamental Controle biológico Bemisia tabaci Coníferas Beauveria bassiana — cepa IBCB 66 Bemisia tabaci Phalaenopsis Beauveria bassiana — cepa ESALQ PL63 — registro no Mapa 4902 Bemisia tabaci Gérbera Beauveria bassiana — cepa ESALQ PL63 — registro no Mapa 4902 Bemisia tabaci Crisântemo Beauveria bassiana, cepa IBCB 66 Bemisia tabaci Kalanchoe Beauveria bassiana — cepa ESALQ PL63 — registro no Mapa 4902 (Continua) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 12 Inseto-praga Espécie ornamental Controle biológico Spodoptera Gérbera Microvespa parasitoide Trichogramma pretiosum — registro no Mapa 2315 Helicoverpa armigera Lírio Vírus entomopatogênico Nucleopolyhedrovirus (HearNPV) da família Baculoviridae — registro no Mapa 19716 Bemisia tabaci Begônia Fungo entomopatogênico (inseticida microbiológico) Beauveria bassiana — cepa ESALQ PL63 — registro no Mapa 4902 Bemisia tabaci Hibiscus Fungo entomopatogênico (inseticida microbiológico) Beauveria bassiana — cepa ESALQ PL63 — registro no Mapa 4902 Patógenos Sclerotinia Gérbera Fungo com ação fungicida e nematicida Trichoderma harzianum — cepa ESALQ 1306 — registro no Mapa 2007 Fusarium spp. Gérbera Fungo com ação fungicida e nematicida Trichoderma harzianum — cepa ESALQ 1306 — registro no Mapa 2007 Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici Rosa Fungicida e nematicida microbiológico Trichoderma harzianum — cepa T22 — registro no Mapa 27618 Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici Lírio Fungicida e nematicida microbiológico Trichoderma harzianum — cepa T22 — registro no Mapa 27618 Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici Gladíolo Fungicida e nematicida microbiológico Trichoderma harzianum — cepa T22 — registro no Mapa 27618 Fusarium spp. Croton Fungo com ação fungicida e nematicida Trichoderma harzianum — cepa ESALQ 1306 — registro no Mapa 2007 Fusarium spp. Ficus Fungo com ação fungicida e nematicida Trichoderma harzianum — cepa ESALQ 1306 — registro no Mapa 2007 (Continua) (Continuação) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 13 Inseto-praga Espécie ornamental Controle biológico Phytium Qualquer ornamental Bacillus subtilis (Biosubtilin) Fusarium, Rhizoctonia solani e Phytium Qualquer ornamental Bacillus subtilis MBI 600 (HiStick N/T®/ Subtilex®/Pro-Mix®) Colletotrichum Qualquer ornamental Bacillus subtilis QST 713 (Rhapsody®) Fonte: Adaptado de Bettiol et al. (2012). Controle por comportamento Esse método é eficaz no controle de insetos-praga. Consiste no uso de fe- romônios ou substâncias atraentes ou repelentes, que alterem o comporta- mento da praga a fim de reduzir sua densidade populacional. Para aplicação dessas substâncias, sejam elas naturais, sintéticas ou associadas a produtos químicos, utilizam-se estruturas como armadilhas, de acordo com a espécie ou finalidade da captura (monitoramento ou controle) (BENTO, 2000). Existem diferentes tipos de armadilhas, como a garrafa armadilha, a armadilha-de- -solo e armadilha tipo delta. A garrafa armadilha é constituída por um recipiente de plástico (PET) incolor, que contém uma abertura lateral, sendo parcialmente pintada de amarelo na fase interior e de preto na face exterior, contando um gancho inserido na tampa; a armadilha pode ser pendurada em um ramo de árvore, e, após a instalação, em seu bojo é colocada solução contendo 85% de água, 10% de formol comercial e 5% de detergente neutro, deixando o nível do líquido a cerca de 2 cm da borda (MELO; MOREIRA; SILVA, 2001) (Figura 5). Nessa armadilha, a coloração amarela é a responsável pela atração dos insetos, que posteriormente cairão no líquido e ficarão presos. Apresenta como vantagens a praticidade e o baixo custo de confecção, além de ser eficiente para a captura de insetos e para o monitoramento das ordens Hemiptera, Thysanoptera, Diptera, Hymenoptera, Coleoptera, Lepidoptera, Trichoptera, Neuroptera, Psocoptera e Blattodea. (Continuação) Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 14 Figura 5. Esquema da garrafa armadilha com vista lateral e frontal. Fonte: Adaptada de Melo e Silva (2001). Armadilha-de-solo ou armadilha de queda (pitfall trap) compreende outra opção para o monitoramento dos insetos presentes na área, sendo mais indicada para a coleta de insetos que vivem na superfície do solo (TONHASCA JÚNIOR, 1993), como os carabídeos (em sua maioria coleópteros predadores) (ESAU; PETERS, 1975; KOLLER; CASTRO; ALMEIDA, 2017). Outra opção é o uso dessas armadilhas de solo com feromônios tanto para a detecção precoce da infestação quanto para o controle do gorgulho-vermelho (Rhynchophorus ferrugineus), sendo um dos métodos mais importantes de MIP em palmeiras ornamentais (Phoenix sp.) (EL-WAHAB et al., 2021). Além destes, são eficientes para insetos das famílias Gryllidae, Cicindelidae, Formicidae e Acrididae, sendo considerada uma armadilha simples e de baixo custo (SILVA; CARVALHO, 2000). Existem diferentes adaptações de armadilhas de queda, como a utilização de potes de plástico com tampas para possibilitar o transporte do campo ao laboratório (local para realizar a identificação dos insetos), a cobertura do recipiente com uma prancha de madeira, plástico ou metal, de maneira que não dilua ou transborde a solução conservante da armadilha, e o uso de água e detergente ou de álcool 50% como solução conservante (ALMEIDA et al., 2003; ARAÚJO et al., 2005), todas, porém, com o mesmo princípio, sendo representadas na Figura 6. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 15 Figura 6. Exemplos de armadilhas tipo pitfall, recipientes de plásticos enterrados a nível do solo (15 cm) com um líquido para matar e conservar as espécies capturadas. Armadilha do tipo pitfall somente com recipiente de plástico (a), com opção de sua cobertura com tampa de madeira (b) e sem cobertura (c). Fonte: Adaptada de Aquino, Aguiar-Menezes e Queiroz (2006). a b c Re ci pi en te 15 cm 15 cm 10 cm 10 cm Prancha de madeira Suporte Tela Isca Recipiente Nível do solo A armadilha tipo delta é eficiente tanto para o monitoramento quanto para a coleta massal dos insetos, tendo como princípio em que os feromônios são mediadores de comunicação entre os indivíduos da mesma espécie, principalmente para a atração de parceiros para o acasalamento, demar- cação de território ou mesmo como alerta em situação de perigo (ZARBIN; RODRIGUES; LIMA, 2009) (Figura 7). Esse tipo de armadilha pode ser utilizado para captura de insetos do gênero Metamasius (coleóptera) em cultivo de helicônias (ROCHA, 2012). Figura 7. Armadilha tipo delta iscada com feromônio sexual específico para a traça-dos- -cachos Cryptoblabes gnidiella recém-colocada (A) e após uma semana de exposição (B). Fonte: Oliveira, Paranhos e Moreira ([20--?], documento on-line). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 16 Há outros tipos de armadilhas que podem ser utilizadas conforme o hábito dos insetos e a finalidade da captura (monitoramento ou controle). Podem ser citadas as redes entomológicas (REYES-NOVELO et al., 2009), a armadilha luminosa (TEIXEIRA 2012), o guarda-chuva entomológico (AZEVEDO FILHO; PRATES JÚNIOR, 2000), dentre outras. Resistência de plantas Consiste na utilização de materiais genéticos que resistam mais aos ataques das pragas, ou seja, apresentam menor dano quando constatada a ocorrência da praga na área. Em helicônias, foram constatados materiais com diferentes resistências a manchas causadas pelo fungo Pestalotiopsis pauciseta; nesse caso, recomenda-se optar pelo plantio das espécies mais resistentes ao patógeno (SERRA; COELHO, 2007). Para o cultivo de crisântemos, existem va- riedades com estruturas anatômicas (deposição de lignina, pectina e lipídeos) que conferem maior resistência à infecção causada pela ferrugembranca (Puccinia horiana) (ZOCCOLI, 2008). Em variedade de gladíolos (Gladiolus grandiflorus), também se encontram genótipos com diferentes resistências à mancha de curvularia (Curvularia gladioli), sendo as variedades Amsterdam e Verônica duas das mais resistentes (TORRES, 2013). Em roseiras (Rosa sp.), a severidade do míldio (Peronospora sparsa) foi diferenciada entre cultivares, sendo os cultivares Greta e Vegas mais suscetíveis em comparação ao Capri (RIBEIRO et al., 2012). Pode ser citado também o programa de melhoramento genético realizado no Brasil em progênies de abacaxizeiro ornamental cultivados em vasos, visando resistência à fusariose (SOUZA et al., 2014), e as variedades de palmas orelha de elefante mexicana (Opuntia stricta Haw) e a palma miúda (Nopalea cochenillifera Salm Dyck), naturalmente tolerantes à cochonilha-do-carmim (Dactylopius opuntiae) (ARAÚJO et al., 2019). Método legislativo É o conjunto de leis com o intuito de estabelecer medidas para o controle de pragas no país. De acordo com a análise de risco de pragas (ARP), esta- belecida na Norma Internacional de Medidas Fitossanitárias (NIMF) nº 2 e nº 11, as pragas são classificadas em quarentenárias ausentes, quarentenárias presentes e não quarentenárias regulamentadas. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 17 A instrução normativa nº 45, de 22 de agosto de 2018, define: Praga quarentenária ausente – PQA (praga de importância econômica potencial para uma área em perigo, que não esteja presente no território nacional), praga quaren- tenária presente – PQP (praga de importância econômica potencial para uma área em perigo, presente no país, porém não amplamente distribuída e que se encontra sob controle oficial), praga não quarentenária regulamentada – PNQR (praga não quarentenária cuja presença em plantas para plantar afeta o uso proposto dessas plantas, com impacto econômico inaceitável e que esteja regulamentada dentro do território da parte contratante importadora) (BRASIL, 2018, documento on-line). Incluem-se nesse método as medidas de controle amparadas por leis, como a Resolução nº 50/2010 para o controle do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) no Estado de São Paulo. Por meio dessa resolução, ficou estabelecido o vazio sanitário, período no qual o produtor fica proi- bido de cultivar o algodão, com intuito de interromper o ciclo dessa praga. Cada estado tem suas resoluções específicas, mas todas são regulamenta- das pelo Programa Nacional de Controle do Bicudo-do-Algodoeiro (PNCB), no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, visando à prevenção e ao controle do bicudo Anthonomus grandis em cultivos de algodão nas Unidades da Federação (BRASIL, 2008). As listas de pragas quarentenárias ausentes (PQA) e pragas quaren- tenárias presentes (PQP) podem ser acessadas no site do Ministério da Agricultura. Controle físico As práticas de controle físico são aquelas relacionadas a drenagem do solo, queima e temperatura. Essas medidas apresentam como princípio acelerar o processo de decomposição dos tecidos de plantas infectadas e estruturas de sobrevivência das pragas, visto que se constituem como substrato para permanência de algumas pragas na área de cultivo, como espécies de Fusarium (HOMECHIN, 1991). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 18 As técnicas baseadas no manejo da água do solo visam ao desenvolvimento de raizes das plantas em camadas mais profundas do solo, além de manterem a quantidade de água no solo somente na área ativa de absorção das raízes e na quantidade correta exigida pela cultura, tornando o ambiente desfavorável para manutenção de inóculos dos patógenos (COOK; PAPENDICK, 1970). O manejo com o fogo em materiais se constitui outra medida de controle físico que deve ser empregada sob supervisão integral durante o processo de queima, visando somente à eliminação de materiais infectados. Pode ser citada a queima dos frutos imaturos de coqueiro caídos para a redução de população em campo de Parisoschoenus obesulus Casey, o gorgulho de frutos e flores (FERREIRA et al., 1998). A aplicação de vapor no solo é considerada um método físico e tem como objetivo aumentar a temperatura do solo, por pelo menos 30 minutos, até atingir, no mínimo, 83°C (BAKER; ROISTAKER, 1957). Cobre-se o solo com uma lona, e o vapor que é produzido por uma caldeira, por exemplo, é injetado, promovendo o controle das pragas devido à essa elevação de temperatura. É um método viável para sistemas intensivos e lucrativos que permitam seu uso como em estufas e em canteiro (GHINI, 1996). No entanto, tem como desvantagem a não seletividade, resultando nos “vácuos biológicos”. Outra opção é a realização da solarização, que consiste na cobertura do solo em pré-plantio, com um filme plástico transparente, durante o período de maior radiação solar, com intuito de elevar a temperatura do solo por meio da radiação solar (GHINI, 1997). Podem ser controladas diferentes pragas de solo por meio da solarização, destacando-se a Verticillium dahliae e Phyto- phthora sp.; por outro lado, o patógeno Sclerotium rolfsii é moderamente tolerante à solarização e sua eficiência varia de acordo com a região (BELLÉ; FONTANA, 2018). Práticas de baixo impacto ambiental na proteção de plantas ornamentais Dentro das estratégias de manejo de insetos-pragas e doenças, existem os métodos preventivos, ou seja, técnicas usadas para prevenir o ataque das pragas, que poderiam causar prejuízos nos cultivos de interesse. O objetivo é priorizar sempre a prevenção do estabelecimento de pragas na área, sendo esta a medida mais eficiente para evitar prejuízos na produção, evitar gastos demasiados com produtos químicos e minimizar os impactos no meio ambiente. Dentre essas práticas destacamos, as descritas a seguir. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 19 Materiais de propagação sadios Primeiramente, é fundamental a utilização de sementes, bulbos, mudas e estacas sadias, ou seja, que tenham passado por um controle de qualidade ou de certificação, pois muitos patógenos podem estar associados a esses materiais, destacando-se os fungos, as bactérias, os vírus e os insetos (PETRY et al., 2008; OLIVEIRA, 1995). Com isso, evita-se a inserção e o estabelecimento de patógenos na área, visto que os materiais propagativos podem ser oriundos de diferentes regiões brasileiras ou mesmo importados, agravando ainda mais o risco de introdução de fitopatógenos e pragas exóticas (ALEXANDRE et al., 2010). Por exemplo, a murcha bacteriana em helicônias, considerada uma das principais doenças dessas flores, é controlada através de medidas preventivas, as quais priorizam a não introdução da bactéria na área. Dessa forma, materiais de propagação provenientes de regiões sabidamente infec- tadas devem ser submetidos à quarentena e à inspeção (BENCHIMOL; ISHIDA; CONCEIÇÃO, 2016). Catação Geralmente realizada em pequenas áreas de jardins, consiste na coleta ma- nual de ovos, larvas ou ninfas e insetos adultos facilmente visíveis. Pode ser utilizada para o controle de cochonilhas em plantas ornamentais de interiores e no controle à incidência de gafanhotos em cultivos de helicônias (IMENES; IDE, 2001). Barreiras físicas A utilização de vegetação como barreira física apresenta como característica principal a função de quebra-vento, a fim de reduzir a velocidade do vento, sem, contudo, impedir o seu fluxo, o que ainda melhora o microclima local. Além disso, essas barreiras também funcionam como hábitats para determinados insetos benéficos que irão atuar no controle de insetos-pragas (SOUZA et al., 2018). O quebra-vento foi eficiente no controle de gafanhotos migratórios em cultivos de helicônias (IMENES; IDE, 2001); já para plantas altamente atrativas por Acromyrmex, como as roseiras, a barreira física foi eficiente quando utilizada em plantas ainda não infestadas, ou seja, de maneira preventiva (ALMEIDA,2011). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 20 Rotação de cultura É o cultivo alternado de espécies vegetais diferentes no mesmo lugar e na mesma estação anual, técnica que tem como princípio a supressão ou elimina- ção do substrato apropriado para o patógeno (REIS; FORCELINI, 1995). A rotação de culturas pode ser realizada conforme o esquema apresentado na Figura 8. Figura 8. Esquematização da rotação de culturas, a qual deve ser bem planejada de acordo com as famílias de plantas e seus ciclos produtivos. Fonte: Adaptada de Altieri (2002). Planta-isca Utilização de variedades de plantas mais susceptíveis ou hospedeiros mais atrativos à praga em plantio antecipado, próximo à área de cultivo, a fim de favorecer a concentração de pragas nesses cultivos-isca. Essas populações devem ser monitoradas, a fim de definir o momento de eliminá-las com apli- cações de inseticidas ou outros manejos alternativos (SHELTON; NAULT, 2004). Essa técnica pode ser utilizada associada a outras estratégias do controle biológico, a fim de aumentar sua eficácia, como por exemplo, associada à uma armadilha, proporcionando maior interação das pragas e de seus inimigos naturais (LANDIS; WRATTEN; GURR, 2000). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 21 Tratamento do solo Dentre as técnicas de manejo preventivo encontra-se a solarização. Ela é re- comendada principalmente para regiões mais quentes e consiste na cobertura do solo com um filme plástico de preferência de cor branca, promovendo a elevação da temperatura do solo, por meio da energia solar (KATAN, 1987) (Figura 9). O princípio baseia-se em elevar a temperatura do solo por meio da energia solar, quando ocorre uma alteração na composição da microbiota, mas sem eliminá-la totalmente, o que dificulta a reinfestação de patógenos, aumentando a durabilidade desse tratamento (GUINI, 2004). Para sua eficácia, é necessária alta radiação solar captada durante, no mínimo, 30 dias. A profundidade de penetração do calor no solo depende do período de solarização (ZAMBOLIM; VALE; COSTA, 1997). Além de ser eficiente para o controle do fungo patogênico Phythium em cultivo de crisântemo, ressalta-se que o custo dessa técnica é mais baixo se considerado o valor do produto químico para o controle desse patógeno (BETTIOL et al., 1994). Figura 9. Imagens da instalação (a) da solarização com plástico transparente em canteiros para a produção de mudas e (b) após o período de 30 dias do tratamento. Fonte: Adaptada de Ritzinger e Rocha (2010). a b Instalação de telados Em cultivo protegido, tem-se a possibilidade de instalar telados juntos às laterais da estufa, cuja malha impede a entrada de insetos (VIDA et al., 2004). São chamadas de telas de exclusão de insetos ou anti-insetos e podem viabi- lizar o controle de diversas pragas em cultivos protegidos (SCHALLENBERGER et al., 2008). Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 22 Limpeza dos materiais e equipamentos de poda Implementos agrícolas, equipamentos de poda e o próprio trânsito de pessoas entre as diferentes áreas ou estufas podem constituir outras maneiras de introduzir e disseminar as pragas na área (ZAMBOLIM et al., 2000). Para higie- nização, comumente utilizam-se soluções de hipoclorito de sódio, variando sua concentração de acordo com o material, como por exemplo, bandejas e bancadas (solução a 2%) e tesouras e equipamentos de poda (solução a 2,5%) (PEREIRA; PINHEIRO, 2012). A importância da adoção do manejo integrado de pragas e doenças é tanta que o Mapa incentiva a produção integrada de flores, com parâmetros sociais e ambientais que, reconhecidos mundialmente, beneficiam o seu consumo interno e a exportação do produto. Citam-se como exemplos da produção integrada a garantia da qualidade, a rastreabilidade e a produção ambiental segura. Dessa forma, o Mapa aprovou dois projetos de produção integrada de flores que estão em fase inicial de execução, um na cidade de Holambra (SP), para o cultivo de rosas, e outro, no estado do Ceará, voltado para a produção de flores tropicais. Os projetos estão sendo desenvolvidos em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2008). Os insetos-pragas e doenças constituem um grande desafio para o cultivo de plantas ornamentais. Compreendem diversas espécies de insetos, fungos, bactérias e vírus que são capazes de interferir negativamente na produção, principalmente se houver desequilíbrio populacional de seus respectivos inimi- gos naturais na área. São responsáveis por significativas perdas em qualidade e quantidade do produto comercializado. Para o controle de pragas deve-se adotar o MIP, ou seja, mais de uma estratégia de controle visando o controle mais efetivo e a preservação do meio ambiente. Para isso, destacam-se as medidas de controle cultural, físico e biológico, dentre outras. O controle biológico constitui-se como uma das estratégias promissoras e acessíveis para controle de pragas em plantas ornamentais. Manejo integrado de pragas e moléstias em plantas ornamentais 23 Referências AGROFIT. Sistema de agrotóxicos e fitossanitários. c2003. Disponível em: http://agrofit. agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 23 abr. 2021. ALEXANDRE, M. A. V. et al. Vírus detectados em plantas ornamentais no período 2004 a 2008. Revista Brasileira de Horticultura Ornamenta, v. 16, nº 1, p. 95-100, 2010. ALMEIDA, I. M. G. Importância de bactérias fitopatogênicas em plantas ornamentais e seu controle. 2012. Disponível em: http://www.biologico.agricultura.sp.gov.br/uploads/ files/rifib/XIVRifib/almeida.PDF. Acesso em: 23 abr. 2021. ALMEIDA, J. T. S. Eficiência de barreiras físicas no controle de Acromyrmex Mayer, 1965 (hymenoptera: formicidae). 2011. 49 f. 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Referem-se aos prejuízos de perdas quantitativas quando a ocorrência da doença compromete a produção final, e qualitativas, quando prejudica a aparência da parte da planta comercializada, principalmente das flores e plantas ornamentais. Ressalta-se prejuízos ainda maiores quando o estabelecimento de determinado patógeno inviabiliza novas produções. Dessa forma, é fundamental a adoção de medidas de controle eficientes e com baixo impacto ambiental. Nesta Dica do Professor, aprenda os sintomas e controles de uma das principais doenças que ocorrem em plantas ornamentais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/f0d4a10ac5488fc88152b4b1bfdb0f2e Exercícios 1) Os prejuízos decorrentes das doenças de plantas são relatados desde os séculos passados. Com esses relatos tem-se a preocupação em se definir e difundir medidas de controle para evitar o progresso dos patógenos nas culturas. Diante disso, Herbert Hice Whetzel, patologista norte-americano, propôs quatro princípios biológicos que, atualmente, foram acrescidos do princípio da terapia para serem utilizadas práticas de controle que assegurem tanto a sua eficiência quanto a minimização dos riscos ambientais. Quais são esses quatro princípios de Whetzel? A) Exclusão, erradicação, proteção e imunização. B) Tratamento químico, exclusão, introdução e proteção. C) Imunização, prevenção, tratamento biológico e tratamento químico. D) Imunização, exclusão, introdução e prevenção. E) Exclusão, inimigos naturais, erradicação e tratamento biológico. 2) O aparecimento e o desenvolvimento de uma doença são resultantes da interação de plantas suscetíveis, do agente patogênico e do ambiente favorável. No entanto, o ambiente é o fator que modula o progresso da infecção, pois durante o ciclo da cultura é o que apresenta alterações frequentes, podendo favorecer ou não o ataque de patógenos. Quais desses fatores favorecem o desenvolvimento de doenças em cultivo protegido? A) Excesso de água e nutrição de plantas. B) Deficiência de água e nutrição de plantas. C) Temperaturas altas e substrato sadio. D) Temperaturas equilibradas ou temperaturas altas. E) Excesso de água ou deficiência hídrica. Os vírus são agentes infecciosos, submicroscópicos, filtráveis e não celulares. Não têm metabolismo próprio que permita se reproduzirem de forma independente, sendo 3) parasitas obrigatórios e utilizam os sistemas de síntese de ácido nucléico e de proteínas das células hospedeira para a sua replicação. Quais desses vírus estão associados a vetores e são responsáveis por doenças em plantas ornamentais? A) Tospovirus e Dashheen mosaic virus. B) Vírus-do-mosaico-severo-do-feijão-caupi e Toposvirus. C) Dashheen mosaic virus e vírus-do-mosaico-severo-do-feijão-caupi. D) Soybean mosaic virus (SMV) e Dashheen mosaic virus. E) Vírus do amarelecimento foliar da cana-de-açúcar e Dashheen mosaic virus. 4) As medidas preventivas para evitar a entrada de pragas em áreas produtivas são prioridades no manejo integrado de pragas em todas as culturas. No entanto, em plantas ornamentais, ressalta-se ainda mais essa estratégia de impedir a introdução e o estabelecimento de pragas diante da ampla utilização de materiais de propagação oriundos de diferentes países produtores (como as sementes, por exemplo). A defesa sanitária vegetal tem por objetivo salvaguardar a produção agrícola dos danos causados por pragas. Sendo assim, tornam-se necessários o monitoramento e a fiscalização, especialmente se tratando de pragas quarentenárias. Com base nisso, assinale a alternativa que apresenta o conceito correto de pragas quarentenárias. A) São pragas de importância econômica potencial para alguma área onde ainda não estão presentes ou não estão amplamente distribuídas, ou seja, sob controle oficial. B) São pragas cuja densidade populacional nunca atinge o nível de controle, mas precisam ser monitoradas. C) São pragas que raramente atingem o nível de controle, mas são consideradas pragas em outros países e, por isso, precisam ser monitoradas. D) Não são pragas de importância econômica para uma determinada área, e seu monitoramento ocorre somente para registro de suas populações. E) São pragas que frequentemente ou sempre atingem o nível de controle no território nacional e não ocorrem em outros países. 5) A identificação e a quantificação dos artrópodes presentes na área de cultivo são fundamentais para decidir o momento em que se deve iniciar as estratégias de controle das pragas. Para a realização de amostragem de pragas, primeiramente deve-se dividir o plantio em blocos, nos quais cada um deve ser constituído de uma única cultura, genótipo, idade e sistema de cultivo, sendo que cada estufa deve fazer parte de blocos diferentes. Recomenda-se a amostragem de 1% das plantas de cada bloco. Assinale a alternativa que apresenta a metodologia de amostragem correta a ser utilizada para a quantificação de moscas-brancas, pulgões e tripes. A) Cartões adesivos e contagem direta. B) Batida de bandeja e contagem direta. C) Batida de bandeja e cartões adesivos. D) Batida de bandeja e broqueadores. E) Cartões adesivos e broqueadores. Na prática As perdas econômicas decorrentes do ataque de insetos-praga e doenças se constituem em um dos fatores que mais prejudicam a comercialização do produto final. Especificamente em plantas ornamentais, nas quais a qualidade estética é altamente exigida pelos consumidores, pequenas manchas ou alterações nas partes das plantas podem significar depreciação. No entanto, existem os aspectos mais graves decorrentes das pragas, podendo onerar ainda mais o custo com seus controles e resultar na perda total da produção. Para que o controle de pragas não seja feito simplesmente por constantes aplicações desnecessárias de produtos químicos, aumentando a pressão de seleção de pragas e contaminando o ambiente, o MIP se torna indispensável no cultivo de plantas ornamentais. Confira, Na Prática a seguir, uma situação de manejo inadequado de pragas que pode acontecer e como ela foi solucionada. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/09c532f5-02f9-4ab8-9dfc-e1d7e197064d/d42c77b2-ae40-4aed-8db2-8f5f50e357cb.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja as sugestões do professor: Podridão negra nas orquídeas Os fungos dos gêneros Pythium e Phytophthora são responsáveis por grandes prejuízos no cultivo de orquídeas. Veja, no vídeo a seguir, algumas medidas que podem ser realizadas para o controle das doenças causadas por eles. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Defensivos agrícolas naturais: uso e perspectivas As estratégias que compõem o manejo integrado de prática são alvos de grande interesse para serem estudados pelos pesquisadores, de maneira que cada vez mais haja métodos eficientes e com menos impacto ambiental para o controle das pragas. Acompanhe esta pesquisa, que traz um panorama sobre os principais sucessos e desafios do controle biológico. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Pragas em propagação vegetativa de plantas ornamentais: problemas, monitorização e controlo em viveiro A utilização de materiais de propagação isentos de pragas se constitui em uma das estratégias do manejo integrado de pragas e tem despertado interesse por estudantes de pós-graduação. Veja, nesta dissertação, a importância das pragas em estufas em materiais de propagação em plantas ornamentais. https://www.youtube.com/embed/bgVn8YxFoI4 https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/153291/1/2016LV01-1.pdf Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.Métodos alternativos para o controle de fitopatógenos de solo: solarização e termoterapia Os fitopatógenos de solo se constituem em um dos principais grupos de microrganismos de importância econômica. Os sintomas nas culturas são caracterizados geralmente por murchamentos repentinos da planta, provocando perdas consideráveis de rendimento ou até a sua morte. Neste artigo, saiba mais sobre o assunto. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/18387/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20-%20Vers%c3%a3o%20definitiva%20-%20Andr%c3%a9%20Silva%20n%c2%ba22981.pdf https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/view/88/24
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