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Princípios básicos de paisagismo Apresentação O paisagismo é um campo extremamente amplo e multidisciplinar, em franca expansão acadêmica e profissional. O entendimento dos princípios básicos de paisagismo proporciona um embasamento teórico fundamental para poder avançar na elaboração de projetos paisagísticos. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar os aspectos da evolução do paisagismo, bem como as multiescalaridades de projeto, entender mais sobre os diversos aspectos ambientais que incidem sobre a qualidade e a sobrevivência de uma intervenção paisagística e, ao final, conhecer mais sobre as ferramentas de representação digital de paisagismo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância econômica e a evolução do paisagismo.• Descrever o ambiente paisagístico.• Identificar os principais softwares utilizados no paisagismo.• Desafio As cidades têm avançado cada vez mais sobre as áreas naturais que ainda restam. Em grandes cidades, são cada vez mais escassas as áreas em que é possível estabelecer o mínimo contato com elementos naturais, como a flora e a fauna. Como consequência da extrema urbanização, lida-se com o aumento da poluição sonora e atmosférica, dos congestionamentos e do estresse urbano. Sendo assim, descreva uma proposta de jardim para a varanda adequando o seu uso para os moradores da família. Infográfico Roberto Burle Marx foi o principal expoente do paisagismo moderno brasileiro, com inúmeros projetos desenvolvidos no Brasil e no mundo. Muitos dos seus projetos paisagísticos ainda marcam a paisagem das cidades brasileiras. Seu conhecimento sobre aspectos botânicos e agronômicos foi fundamental para a sua trajetória de sucesso. Neste Infográfico, você vai ver cinco projetos paisagísticos emblemáticos de Burle Marx, seja na microescala, seja na macroescala. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/06adb7ca-439a-4364-952a-343d72e37c43/8f007c1f-dd03-45b2-907a-b324402eb9d1.jpg Conteúdo do livro O paisagismo é cativante. Nesta introdução ao paisagismo, aos poucos, você vai entrar em contato com seus conceitos e métodos. Incluindo desde projetos residenciais de pequeno porte até os de grandes parques urbanos, o paisagismo exige que se faça uma boa leitura técnica do lugar. Assim, seu resultado será de qualidade. No capítulo Princípios básicos de paisagismo, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ver os aspectos da evolução do paisagismo, a multiescalaridade de projetos possíveis, entender os diversos aspectos ambientais que incidem sobre a qualidade e a sobrevivência de uma intervenção paisagística e, por fim, conhecer mais sobre as ferramentas de representação digital de paisagismo. Boa leitura. FLORICULTURA E PAISAGISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a importância econômica e a evolução do paisagismo. > Descrever o ambiente paisagístico. > Identificar os principais softwares utilizados no paisagismo. Introdução O paisagismo é uma ciência. Isso significa que seus conhecimentos foram adqui- ridos de modo sistematizado ao longo do tempo por meio da observação e da experiência dos seus fenômenos e fatos. O estudo dos princípios de paisagismo visa apresentar algumas bases necessárias ao seu entendimento, tanto conceituais quanto profissionais. Neste capítulo, você vai estudar os aspectos conceituais de paisagismo, como sua diversidade de escalas de projeto, por exemplo. Vai conhecer alguns aspectos da relevância econômica desse campo profissional e as características do ambiente paisagístico, tais como análise do solo, temperatura, umidade, precipitações e ventos. Ao final, você vai conferir alguns softwares utilizados na representação gráfica digital de paisagismo. Princípios básicos de paisagismo Lucas Martins de Oliveira Evolução e relevância econômica do paisagismo O paisagismo vem se mostrando, cada vez mais, um campo da ciência essen- cial para o planejamento do espaço construído, permitindo que paisagistas atuem com consciência na qualificação dos espaços livres de edificação, ou espaços abertos. Mostra-se um instrumento metodológico ao apontar ações específicas para solucionar os problemas que afetam diretamente a apreensão da paisagem, em micro ou macroescala, nas nossas habitações ou na cidade. Na microescala, ou escala pontual, observamos que os espaços livres, sejam jardins, quintais ou recuos, vêm sendo tratados como espaços residuais, em vez de serem valorizados como lugares apropriados ao convívio familiar e social, concebidos como parte integrante da arquitetura. Qualquer espaço livre, que entendemos como sendo a área não contida entre paredes e tetos, por menor que seja, pode assumir um valor de uso extremamente relevante, desde que seja tratado na perspectiva do interesse paisagístico. Como paisagistas em formação, devemos ter cuidado com a escala em que ocorrem as atividades humanas. Seja um jardim residencial, seja um parque urbano, devemos identificar os usos previstos ou existentes e as relações mais próximas com a paisagem circundante. A escala do ser humano nos permite detalhar as composições vegetais que se integram às atividades cotidianas de lazer, trabalho ou habitação. As ações de projeto são cons- cientes e planejadas, visando a determinar em sua totalidade um ambiente funcional e harmônico que permita sua plena fruição pela sociedade que ali vive, trabalha ou se encontra (NIEMEYER, 2011). Podemos definir paisagismo como um “[…] processo consciente de manejo, planejamento e recriação física da paisagem, e que se utiliza de princípios artísticos na construção de ambientes e cenários em qualquer escala de atuação” (NIEMEYER, 2011, p. 11). A história comprova o interesse do paisagismo entendido como processo consciente de transformação dos espaços livres a partir do momento em que a humanidade sentiu a necessidade de modificar o ambiente em que vivia, adaptando-se às suas conveniências funcionais, ambientais ou estéticas. O profissional que atua em paisagismo é chamado de paisagista, termo vinculado historicamente aos pintores paisagistas do século XVIII. A atividade de pintar paisagens campestres se relaciona com o movimento romântico, com a ruptura do padrão clássico de fazer jardins e o decorrente surgimento Princípios básicos de paisagismo2 dos chamados jardins paisagísticos (PANZINI, 2013). A atividade do paisagista ocorre desde a Antiguidade. Sua atuação profissional como um planejador da paisagem se desenvolveu inicialmente na Inglaterra e se consolidou nos Estados Unidos na metade do século XX, com os trabalhos de Frederick Law Olmsted, autor de projetos emblemáticos, como o Central Park (Figura 1), em 1898. É de Olmsted a noção que temos atualmente de qualidade ambiental urbana e da função preservativa do verde nas estruturas urbanas (NIEMEYER, 2011). Figura 1. Vista aérea do Central Park, em Nova York. Projeto de Frederick Law Olmsted, 1857. Fonte: Pixabay.com/dariasophia. A postura do paisagista se ampliou da ornamentação estética para dentro das possibilidades de projetos voltados para a sustentabilidade ambiental. Podemos entender sua abordagem sob duas escalas: o micropaisagismo e o macropaisagismo. O micropaisagismo se refere à escala pontual de projeto dentro do microparcelamento urbano, ou seja, do lote. Macedo (2012) afirma que é nesses espaços onde se dá grande parte das experiências paisagísticas contemporâneas nacionais, seja no interior de quintais, jardins, pátios, áreas de lazer residências, até em condomínios residenciais, comerciais e industriais. O micropaisagismo é, de fato, o principal campo profissional do paisagista. Princípios básicos de paisagismo 3 Nas Figuras 2 e 3, vamos analisar o projeto de um jardim em uma área de 7 × 5 m. A proprietária da residência encomendou umjardim capaz de propor- cionar uma área de descanso ensolarada, onde pudesse fazer uma pausa do trabalho e receber amigos, e protegida visualmente de um edifício localizado aos fundos. Um deque de ripas diagonais foi assentado da porta da sala de jantar até a área de descanso. Dois pórticos em aço inoxidável ligados por cabos de aço formam uma pérgula, que gera uma área com conforto climático, desde que vegetada (WILSON, 2016). Figura 2. Planta de um projeto paisagístico residencial. Fonte: Wilson (2016, p. 151). Ao centro, foi pensado um gramado, como uma clareira em meio ao jar- dim, que foi contornado por oliveiras, bananeiras, palmeiras, bambus e uma figueira. Em uma das extremidades, foi implantada uma fonte de água junto de uma escultura, que contribui para a amenização do microclima, além de dar movimento ao jardim. O solo argiloso do lugar foi enriquecido com adubo (WILSON, 2016). Princípios básicos de paisagismo4 Figura 3. Perspectiva do projeto de paisagismo residencial. Fonte: Wilson (2016, p. 151). Normalmente, na escala do macropaisagismo, projetamos na escala da cidade praças, parques e projetos viários. Vamos analisar o projeto para o Millenium Park (Figuras 4 e 5), com 22.500 m², localizado na cidade de Chicago, nos Estados Unidos. A complexidade do projeto recaiu sobre ser localizado acima de um estacionamento subterrâneo, portanto, sobre a sua laje, res- tringindo o peso e a profundidade do solo. O projeto foi concebido como uma celebração à cultura e à paisagem da cidade, transmitidas pela colagem de jardins interconectados, inspirados na pluralidade cultural da cidade (WILSON, 2016). Princípios básicos de paisagismo 5 Figura 4. Projeto para o Millenium Park, Chicago, Estados Unidos. Fonte: Wilson (2016, p. 31). Na área central do projeto, foi pensado o jardim intitulado grama e céu. O vazio gerado pelo gramado proporciona um espaço de múltiplos usos. Em um de seus lados, foi criado o jardim impressionista, composto por plan- tas ornamentais de cores intensas, proporcionando uma rica combinação cromática. Em outro lado, foi criado o jardim pradaria, composto por três jardins geométricos de gramas nativas do lugar (WILSON, 2016). Princípios básicos de paisagismo6 Figura 5. Corte do projeto para o Millenium Park, Chicago, Estados Unidos. Fonte: Wilson (2016, p. 30). O paisagismo passa por uma crescente valorização econômica, tanto no mercado público quanto no mercado privado. Com a maior importância dada às questões de sustentabilidade ambiental, ecologia, esporte e lazer, vemos projetos de qualidade serem desenvolvidos em residências, condomí- nios, vias, praças e parques urbanos. Embora ainda tenha muito a melhorar, o mercado brasileiro fornecedor de espécies vegetais (viveiros) também se amplia e diversifica, ofertando exemplares de qualidade oriundos dos biomas nativos, valorizando a nossa flora. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Floricultura, o mercado de plan- tas ornamentais movimentou cerca de R$ 8,1 bilhões em 2018, mantendo um crescimento anual médio entre 7 e 9%, empregando cerca de 200 pessoas (entre as funções de produção, distribuição e varejo). Nos dias atuais, o Brasil é um dos 15 maiores produtores de flores e plantas ornamentais do mundo, podendo chegar aos 10 maiores nos próximos anos (IBRAFLOR, c2018). A Associação Nacional de Paisagismo (ANP) é uma entidade sem fins econômicos, de caráter organizacional, promocional e educacional, que busca congregar de forma aberta, democrática e participativa os profissio- nais paisagistas, independentemente da formação, sejam arquitetos, agrônomos, designers, engenheiros florestais, etc. O interesse em comum da associação é promover o crescimento da profissão com qualidade e compromisso com os princípios da ética e da cidadania (ANP, c2021). Princípios básicos de paisagismo 7 Características do ambiente objeto de projeto paisagístico Para obtermos uma boa qualidade de plantio e, consequentemente, o su- cesso do nosso projeto paisagístico, devemos ter em mente alguns critérios. Neste item, entenderemos mais sobre algumas características do ambiente paisagístico, como o solo, a temperatura, a umidade do ar, as precipitações (índices pluviométricos) e os ventos (movimentos de ar) que rebatem sobre o desenvolvimento pleno do elemento vegetal. Análise laboratorial do solo Relaciona-se ao êxito da implantação de um espaço ajardinado por estar diretamente ligado ao desenvolvimento do componente vegetal. A depender das características descobertas pela análise, obtemos leituras distintas da granulometria, da taxa de fertilidade e do pH do solo. Esse tipo de análise é fundamental para grandes projetos e consiste em retirar amostras de solo entre 30 e 40 cm em pontos diversos, em média cinco amostras por 500 m² de área. Vamos analisar tais itens, conforme Niemeyer (2011). Granulometria Varia em função dos fatores geológicos, basicamente entre solos arenosos, argilosos ou mesclados. Os solos arenosos têm alta permeabilidade, re- tendo pouca umidade e, consequentemente, baixíssima fertilidade. Podemos melhorá-la introduzindo húmus e argila, conforme recomendação da análise. Já os solos argilosos são pouco permeáveis e pouco férteis, podendo ser melhorados acrescentando húmus e areia. Perceba que o solo ideal é aquele cujos atributos granulométricos apresentam um equilíbrio entre partículas grossas e finas, garantindo boa permeabilidade e porosidade. Fertilidade Resultado da existência de matéria orgânica (húmus), responsável por fornecer nutrientes de que a planta precisa para se desenvolver e reproduzir. A análise pode apontar a diretriz de adição de produtos orgânicos ou inorgânicos, num processo conhecido como correção do solo. Os produtos orgânicos são os seguintes: Princípios básicos de paisagismo8 � estrumes curtidos; � farinha de ossos; � compostos orgânicos. Os principais produtos inorgânicos são conhecidos pela sigla NPK, que representa os macronutrientes básicos: � nitrogênio (N); � fósforo (P); � potássio (K). pH do solo (potencial de hidrogênio) Mede sua acidez ou alcalinidade e varia muito de região para região. A es- cala de análise varia de 0 a 14, sendo 7 o valor neutro. Abaixo de 7, temos o solo ácido, onde as substâncias químicas alcalinas, como cálcio e magnésio, dissolvem-se com facilidade. Regiões secas tendem a ter um solo alcalino. Grande parte do Brasil é formado por solos ácidos, com pH entre 5 e 5,5. Além do entendimento do solo, devemos melhor entender os elementos climáticos que influenciam diretamente no paisagismo. Os elementos climá- ticos são aqueles que representam os atributos relativos a cada tipo de clima que encontramos. Vamos entendê-los conforme Romero (2013). Temperatura A superfície terrestre é iluminada de maneira desigual. Tal fato, associado aos diferentes coeficientes de absorção da radiação solar devido aos diferentes tipos de solos e superfícies aquáticas, faz com que a energia solar se distribua também de modo desigual. Disso, surgem os movimentos de massa de ar e as trocas de matéria e energia entre o ar, os oceanos e a terra. Um dos resultados desse fenômeno é a variação de temperatura nas camadas mais próximas da superfície terrestre. A relação entre o aque- cimento e o esfriamento da superfície da terra é o fator que determina a temperatura do ar. O ar em contato com uma superfície que obteve ganhos de calor é aquecido por condução, por isso, o calor adquirido é transferido às camadas superiores por convecção. Trata-se de uma troca constante. A topo- grafia também contribui para mudanças na temperatura do ar. Normalmente, a temperatura diminui à medida que aumenta a altura. Princípios básicos de paisagismo 9 Umidade A evaporação da água e a evapotranspiração dos vegetais são os processos biológicos que mais contribuem para a concentração de vapor d’água contido no ar. A distribuição desse vapor sobre a terra não é uniforme, sendo maior nas zonasequatoriais e menos nas zonas polares. A capacidade do ar para conter vapor d’água aumenta de acordo com a temperatura. Geralmente, a umidade do ar varia nas diferentes horas do dia e épocas do ano, em razão das mudanças na temperatura do ar. Em regiões secas, por exemplo, as variações são grandes. Tal variação também ocorre em função das estações do ano, quando a umidade diminui no inverno e aumenta no verão. Como exemplo, temos o Parque Lago Negro (Figura 6), localizado em Gramado, no Rio Grande do Sul, com espécies adequadas ao clima e ao inverno local, além de ser uma atração turística. Figura 6. Parque Lago Negro em Gramado/RS. Fonte: Pixabay.com/pedroddf. Princípios básicos de paisagismo10 Precipitações As nuvens são formadas pela evaporação das águas, que são redistribuídas na forma de chuva, fluindo pelos córregos e rios em direção aos oceanos, completando o ciclo hidrológico. A precipitação é mais alta na zona equatorial, sendo também significativa nas zonas tropicais, em ambos os hemisférios. Nos trópicos, a porcentagem de precipitação que o solo retém é muito menor, sendo, também, nas latitudes médias no verão. Nesses casos, a chuva evapora antes mesmo de penetrar no solo. Altas temperaturas e velocidades do vento também fazem com que a evaporação aumente. Já a formação de orvalho e névoa ocorrem quando o ar entra em contato com superfícies frias em correntes de ar. A névoa é mais densa e prevalecente em vales e depressões topográficas, onde o ar frio e pesado se aglomera, bem como em regiões costeiras, quando o vento marinho traz uma quantidade de ar em contato com superfícies frias. O orvalho surge quando ocorre uma con- densação em grande escala, formando nuvens e, até mesmo, cristais de gelo. A precipitação convencional ocorre quando massas carregadas de umi- dade são aquecidas pelo contato com superfícies quentes. Ocorrem com maior frequência em zonas equatoriais e tropicais nas tardes de estações mais quentes. No litoral, são provocadas pelas massas de ar vindas do mar. Na região amazônica, por exemplo, a vida cotidiana exige uma grande con- vivência com as chuvas, que regulam os níveis de águas dos rios (Figura 7). Figura 7. Casas flutuantes em Tapauá/AM. Fonte: Pixabay.com/Ponciano. Princípios básicos de paisagismo 11 Ventos Os ventos são resultado das diferenças de pressão atmosféricas provocadas pela influência direta da temperatura de ar. As massas de ar se movimentam tanto na horizontal quanto na vertical. O movimento horizontal se origina das diferenças térmicas em um sentido global, e o deslocamento vertical ocorre entre as camadas da atmosfera. O ar quente sobe do equador para os polos, resfriando e descendo. Em relação aos fatores locais, o relevo é capaz de exercer um papel importante, desviando, alterando ou canalizando o movimento. Representação gráfica digital no paisagismo Embora o desenho manual criativo seja fundamental para a expressão de um projeto paisagístico, a representação gráfica digital, também citada como representação auxiliada por computador, é necessária para otimizar o tempo de trabalho sobre o projeto e facilitar os aspectos de interpretação, de execu- ção, como cálculo de áreas permeáveis, impermeáveis, de forrações vegetais, quantificação de espécies, etc. O paisagista deve ter um amplo conhecimento relacionado ao desenho assistido por computador. A representação confere totais habilidades de análise dos projetos, possibilitando ao paisagista um melhor diálogo com os demais profissionais envolvidos no projeto (HUTCHISON, 2011). Sob outro aspecto, Abbud (2006) afirma que, nos dias atuais, a representação gráfica digital é fundamental para a exploração comercial do paisagismo, conferindo apresentações realistas, simulações, vídeos, na tentativa de convencer clientes por meio de ações de publicidade e propaganda, por exemplo, de lançamentos imobiliários dotados de jardins e amplas áreas de lazer, de projetos públicos como praças e parques (Figura 8). A tecnologia CAD (Computer Aided Design), criada há mais 25 anos, revo- lucionou o modo de desenvolvimento de desenhos técnicos, facilitando sua execução e compartilhamento, já que o desenho passou da prancheta para a tela do computador. “No desenho digital, a perícia não está relacionada ao traço, mas associada à maneira de organizar sequências de comandos e ao planejamento do ato de desenhar”, afirmam Stumpp et al. (2015, p. 502). Princípios básicos de paisagismo12 Figura 8. Representação digital da perspectiva de um projeto paisagístico. Fonte: Pixabay.com/鱼与余渔. Você pode utilizar como ferramenta computacional para elaborar seus desenhos e representações gráficas digitais o software gratuito e livre chamado LibreCAD, como alternativa aos comerciais pagos usualmente conhecidos. Sua interface é similar aos demais softwares do tipo, não oferecendo dificuldades aos iniciantes na representação gráfica digital. Já para a representação tridimensional, como maquetes eletrônicas, por exemplo, existem softwares específicos no mercado que podem ser utilizados no campo do paisagismo, que proporcionam o estudo de sombras, cores, entre outros estudos técnicos que podem ser complementados. Assim como todo software, exige que tenhamos uma disponibilidade para aprendizado e treinamento para que possamos dominá-lo, assim, podendo aproveitar todos os recursos disponíveis. Princípios básicos de paisagismo 13 Um dos softwares comerciais de modelagem do espaço em três dimensões (3D) mais utilizados é o SketchUp. Sua interface é intuitiva e eficiente, sendo possível auxiliar no projeto por meio de rápidas visualizações do processo criativo e na apresentação tridimensional final realista, com a renderização. No campo do paisagismo, é possível inserir elementos (blocos) de diversas espécies, das mais utilizadas no mercado (Figura 9). Figura 9. SketchUp. Fonte: 3DWarehouse.sketchup.com/Évelin L. A BIM (Building Information Modeling), criada no início do século XXI, também pode ser aplicada para a elaboração de projetos paisagísticos. Como sua tecnologia possibilita informações parametrizadas, isto é, contendo todas as informações daquele objeto (em planta, vista, corte e perspectiva), tais informações podem ser direcionadas às espécies vegetais, desde que estejam ligadas aos templates (famílias) de cada objeto (STUMPP et al., 2015). O paisagismo como ciência incorpora conhecimentos provenientes da ar- quitetura, urbanismo, agronomia, engenharia florestal, design, biologia, geografia, etc. Forma-se, assim, um profissional apto a intervir na criação e na preservação da paisagem. Vimos, neste capítulo, uma abordagem histórica de paisagismo, que nos ajuda a entender a construção desse campo disciplinar com clara função de qualificar o espaço exterior para a plena e adequada apropriação humana. Vimos que o objeto de projeto paisagístico varia desde Princípios básicos de paisagismo14 um pequeno jardim até um parque urbano (ou, até mesmo, um plano regional), além dos fatores que devem ser estudados para compreendermos o ambiente paisagístico, ou seja, a área sobre a qual projetaremos. Por fim, conhecemos os softwares mais adequados para a representação digital do projeto. Referências ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. 4. ed. São Paulo: Senac, 2006. ANP. Histórico. São Paulo: ANP, c2021. Disponível em: http://anponline.org.br/portal/ historico/. Acesso em: 7 mar. 2021. HUTCHISON, E. O desenho no projeto da paisagem. Barcelona: Gustavo Gili, 2011. IBRAFLOR. Diagnóstico, estatística / release imprensa. Holambra: Ibraflor, c2018. Disponível em: https://www.ibraflor.com.br/numeros-setor. Acesso em: 8 abr. 2021. MACEDO, S. S. Paisagismo brasileiro na virada do século: 1990-2010. São Paulo: Edusp, 2012. NIEMEYER, C. A. C. Paisagismo no planejamento arquitetônico. Uberlândia: EDUFU, 2011. PANZINI, F. Projetar a natureza: arquitetura da paisagem e dos jardins desde as origensaté a época contemporânea. São Paulo: Senac, 2013. ROMERO, M. A. B. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. Brasília, DF: UnB, 2013. STUMPP, M. M. et al. A representação gráfica digital na apresentação de projetos de arquitetura: um olhar sobre a produção de jovens arquitetos brasileiros. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE IBERO-AMERICANA DE GRÁFICA DIGITAL, 19., 2015, Florianópolis. Anais [...]. São Paulo: Blucher, 2015. p. 502-505. Disponível em: https://www.proceedings. blucher.com.br/download-pdf/259/22359. Acesso em: 7 mar. 2021. WILSON, A. (org.). O livro das áreas verdes. São Paulo: Senac, 2016. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Princípios básicos de paisagismo 15 Dica do professor A Mata Atlântica é um bioma composto por diferentes formações vegetais e ecossistemas que se destaca por sua grande biodiversidade. Inclui, por exemplo, várias espécies endêmicas que existem apenas nessa região. Hoje, devido a uma série de fatos ocorridos ao longo da história de ocupação do país, restam apenas cerca de 15% da floresta original. Nesta Dica do Professor, você vai aprender mais sobre o ambiente paisagístico da Mata Atlântica, suas características e as espécies vegetais que podem constar de um projeto, enriquecendo seu valor ambiental. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/e19b9bf52dc5470786654170357595f6 Exercícios 1) A interescalaridade é um conceito-chave para entendermos a complexidade do paisagismo enquanto um campo do conhecimento. Assim, entendem-se como a microescala do paisagismo: A) os quintais. B) as praças. C) os parques. D) as ruas. E) as avenidas. 2) O paisagista deve compreender as práticas humanas de apropriação do espaço exterior, de modo que o projeto paisagístico seja adequado à escala do lugar. Sabe-se que a macroescala do paisagismo se refere aos projetos de: A) áreas de lazer residenciais. B) jardins residenciais. C) parques urbanos. D) jardins de inverno (solarium). E) recuos frontais. 3) No desenvolvimento de projetos de paisagismo, deve-se ter em mente que o conhecimento sobre os elementos climáticos é atributo fundamental. Pode-se afirmar que as trocas de matéria e energia entre o ar, os oceanos e a terra são resultado da: A) diferença de pressão atmosférica. B) formação de névoa e orvalho. C) alta precipitação na zona equatorial. D) alta umidade dos polos. E) variação da temperatura na Terra. 4) Sabe-se que a temperatura, as precipitações, os ventos e a umidade são elementos climáticos que influenciam o paisagismo. Em relação à umidade, assinale a alternativa correta. A) A umidade é mais alta nas zonas equatoriais. B) A distribuição do vapor d’água é uniforme. C) A evapotranspiração pouco contribui para a umidade. D) A umidade das zonas polares é a mais alta. E) A capacidade do ar para conter a umidade diminui de acordo com a temperatura. 5) Tradicionalmente, os paisagistas utilizavam lápis e papel, maquetes e fotografias para comunicar seus projetos. Trata-se de um benefício da representação gráfica digital de paisagismo: A) superar o desenho à mão nos aspectos de expressão. B) simplificar o projeto por meio da inteligência artificial. C) substituir outros profissionais envolvidos com o projeto. D) facilitar os aspectos de interpretação do projeto. E) baratear o valor de mercado do projeto. Na prática A vivência profissional deve sempre buscar aliar a teoria à prática. No caso do paisagista, as estratégias de projeto devem dialogar com a arquitetura, de modo a proporcionar harmonia e equilíbrio entre o espaço edificado e o espaço exterior sobre o qual projetaremos. Confira, Na Prática, como o paisagista Gilberto Elkis utilizou estratégias de composição paisagística refinadas em seu projeto para os jardins do Hotel Unique no contexto urbano paulistano. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Como começar um jardim Assista ao vídeo, produzido pelo arquiteto Benedito Abbud, sobre como começar um jardim. Veja os primeiros passos para iniciar um bom projeto de paisagismo residencial. O autor é um dos principais paisagistas brasileiros na atualidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Representação do paisagismo: o papel do desenho em planta para parques e praças Leia este artigo, que trata da representação gráfica digital do projeto de paisagismo, com foco na planta arquitetônica e suas peças gráficas. O artigo traz exemplos significativos de projetos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Projetos de Paisagismo e de Construções Rurais Galinatti, Anna C. M.; Giambastiani, Gabriel L.; Scopell, Vanessa G.; et al. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/ADolYMmHqdw https://www.archdaily.com.br/br/890014/representacao-do-paisagismo-o-papel-do-desenho-em-planta-para-parques-e-pracas