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Ciências Humanas e suas Tecnologias 109 ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS Não apenas as técnicas de produção foram in- tegradas com a cidade, mas também valores foram modificados, como a substituição do casamento ar- ranjado pela liberdade de escolha, a substituição da coletividade pela individualidade ou ainda a relativa diminuição da interferência da religiosidade nas rela- ções de produção e negócios. Outras conclusões errôneas acabam sendo de- senvolvidas como definir que o campo aparece como sendo mais atrasado que a cidade. Ricardo Abramovay, sociólogo rural, apresenta isto como sendo “um vício de raciocínio na maneira como se definem as áreas rurais no Brasil, que contribui deci- sivamente para que sejam assimiladas automatica- mente a atraso, carência de serviços e falta de cida- dania.” No entanto, sabe-se que na realidade o rural é um meio dinâmico e ativo e pode sim apresentar-se soberano perante as transformações que o atingem. Desta forma percebe-se que as paisagens rurais modificam-se pela entrada de novas estruturas, assim como também se modifica o comportamento dos in- divíduos em relação a sua produção e seu gênero de vida. Com isso se alteram suas relações sociais e de produção, e por extensão alteram-se as relações entre as categorias campo-cidade. Em verdade, o espaço geográfico se altera e se diferencia revelan- do-se como modificado, por ter assumido novas re- lações. Assim, entende-se ser fundamental que o meio rural seja compreendido a partir de suas relações com as cidades, sejam elas grandes centros como as regiões metropolitanas ou pequenos centros em torno dos quais se organiza a vida local. Isto porque é crucial o papel destes centros na dinamização das áreas rurais com as quais interage em constantes tro- cas de produção e de experiências. Ciências Humanas e suas Tecnologias ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS 110 Considerando as interações entre os seres vivos, podemos dividir a biosfera em do-mínios naturais, que são classificados de maneira hierárquica. Na base desses domínios naturais, estão as comu- nidades ecológicas, nas quais diferentes espécies de seres vivos, reunidos em determinada área, estabe- lecem entre si uma teia completa de interações. As- sim, o que é resíduo para uma espécie, por exemplo, pode servir de alimento para outra. Os ecossistemas reúnem diferentes comunidades ecológicas, tais como as existentes em lagos, encos- tas de montanha, florestas etc. Os biomas, por sua vez, são formados por um conjunto de ecossistemas associados e abrangem grandes extensões. Entre os principais biomas terrestres, destacam- -se a floresta tropical úmida ou pluvial, a savana, o deserto, a vegetação mediterrânea, as pradarias, a estepe, a floresta temperada, a taiga e a tundra. A FLORESTA TROPICAL Se você sobrevoar uma região extensa de floresta tropical, certamente vai se sentir navegando sobre um mar verde. Isso porque as copas das árvores encobrem totalmente o solo. Por outro lado, se você olhar para cima, caminhando sobre o chão da floresta, dificilmente verá o céu, encoberto por uma densa camada de folhas. As florestas tropicais são caracterizadas pela grande presença de árvores altas e densamente agrupadas. O fato de serem perenifólias, isto é de apresentarem folhas perenes, que não caem em ne- nhuma das estações do ano, dá à floresta tropical um aspecto compacto, quando vistas do alto. Apesar de as florestas tropicais ocuparem apenas uma décima parte da superfície dos continentes, elas abrigam 60% das espécies vegetais e animais conhecidas no mundo. Em uma floresta equatorial ou tropical, as varia- ções de temperatura são relativamente pequenas ao longo do ano. As temperaturas oscilam entre 25ºC e 30ºC, tanto de dia quanto à noite. Além disso, ocor- re um volume de chuvas elevado, com índices plu- viométricos de pelo menos 2.000 milímetros anuais. Por isso ela é classificada também como floresta tro- pical pluvial. Outra característica importante desse bioma é sua organização em estratos de vegetação, que comporta desde plantas rasteiras e arbustos até ár- vores de grande porte. O primeiro estrato arbóreo atinge entre 1 metro e 20 metros acima do solo. Nele, a u A maior parte das espécies da árvore da floresta tropical possui entre 30 e 40 metros de altura, formando o chamado es- trato arbóreo superior. As copas dessas árvores estão em contato com as outras, formando uma imensa camada de folhas sempre verdes, pois recebem luz diretamente durante o ano todo. Acima do estrato arbóreo superior, ainda podem ser observadas algumas árvores isoladas, que che- gam a ultrapassar os 60 metros de altura. Um dos fatores que contribuem para a riqueza das florestas tropicais é a presença de grandes ba- cias hidrográficas. Situadas em regiões extremamen- te úmidas e que recebem uma quantidade muito grande de chuvas ao longo de todo o ano, as flores- tas tropicais são atravessadas por alguns dos maiores rios do mundo, umidade é muito elevada e a mata é escura e fechada. O rio Amazonas atravessa praticamente toda a floresta equatorial brasileira (a Floresta Amazônica) e recebe água de diversos grandes afluentes que cor- tam parte da mesma floresta nos países vizinhos. A Floresta do Congo, a maior do continente afri- cano, é cortada pelo rio Congo, o segundo em vo- lume de água do mundo, enquanto as florestas tro- picais do Sudeste Asiático recebem as águas do rio Mekong e seus afluentes. Milhares de espécies de peixes e outros organismos vivem ou dependem de recursos trazidos pelos rios presentes nas florestas tropicais. Apesar de toda essa riqueza e diversidade, essas florestas se sustentam em solos arenosos, que apre- sentam deficiência de nutrientes. Como tanta maté- ria viva vegetal é sustentada nas florestas tropicais? A resposta está logo acima de seu solo: as camadas de folhas da própria floresta e da fauna local contêm seus nutrientes. • OS DOMÍNIOS NATURAIS E A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O AMBIENTE – RELAÇÃO HOMEM NATUREZA, A APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS PELAS SOCIEDADES AO LONGO DO TEMPO. Ciências Humanas e suas Tecnologias 111 ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS Por meio de um processo chamado ciclagem de nutrientes, a matéria orgânica da floresta e da fauna que ela abriga - folhas, frutos, carcaças de animais etc. - é triturada e decomposta, gerando os nutrien- tes fundamentais para o crescimento e o sustento das plantas. Os principais responsáveis pela ciclagem de nutrientes são as formigas e os cupins, que trituram e misturam a matéria orgânica, e os fungos e bacté- rias, que decompõem a matéria em substâncias quí- micas utilizadas pelas plantas em sua nutrição. Quando ocorre desmatamento, a quantidade de matéria orgânica da qual provêm os nutrientes diminui de forma drástica. Além disso, a água das chuvas passa a atingir o solo desprotegido, causan- do a lixiviação, ou seja, a dissolução e o transporte dos poucos nutrientes que restaram. Assim, o desma- tamento interrompe a ciclagem dos nutrientes e im- pede a recomposição da floresta. As florestas tropicais estão entre os ambientes mais ameaçados pelos impactos provocados pelos seres humanos. Grandes áreas delas já foram destruí- das em todo o mundo, acarretando impactos em di- versas escalas. Para o conjunto da humanidade, a degradação das florestas tropicais implica a perda da diversida- de biológica e mudanças climáticas globais. Para as comunidades tradicionais desses lugares, que se dedicam à coleta dos produtos florestais, o desmata- mento é uma ameaça à própria sobrevivência. AS SAVANAS As savanas são uma formação vegetal na qual convivem plantas rasteiras, como diversos tipos de capins e árvores e arbustos de galhos retorcidos e folhas pequenas. Elas ocorrem em áreas de transição entre regiões de clima úmido e de clima marcado pela alternância de estações secas e chuvosas. Cobrindo mais de 10% da superfície dos continentes, dominam partesda América do Sul, da África, da Índia e da Austrália. Nas savanas, predominam espécies vegetais do- tadas de raízes profundas, cascas grossas e folhas ás- peras. É o caso da mangabeira, no Brasil. As duas maiores regiões de savana do mundo estão localizadas na África e no Brasil. No Brasil, a sa- vana é conhecida como cerrado, e ocorre principal- mente na porção central do país. Apesar de comporem um mesmo bioma, a savana africana e o cerrado brasileiro apresentam diferenças importantes. No cerrado, o número de espécies vegetais é maior que o da savana africana, mas esta abriga mamíferos de grande porte, como elefantes, leões, girafas e zebras, ausentes no Brasil em geral. A variedade de animais de grande porte tam- bém pode ser observada em outras áreas de savana do mundo. Por exemplo, na savana da Índia, tam- bém existem elefantes; na da Austrália, há os aves- truzes e os emus. Com certa frequência, o período de seca provoca a migração massiva desses herbívoros para áreas mais úmidas. OS DESERTOS Os desertos são biomas extremamente secos. Os índices pluviométricos não ultrapassam os 250 milímetros anuais. Em muitos casos, os desertos encontram-se em zonas de climas quentes e podem alcançar tempe- raturas acima de 50 °C. A umidade é muito baixa e não há formação de nuvens. À noite, a temperatura pode chegar a 0 °C. Os desertos quentes apresen- tam as maiores amplitudes térmicas mundiais. Os desertos, porém, não existem apenas em re- giões quentes. Há aqueles localizados em altas latitu- des, nas quais o frio predomina. É o caso dos desertos da Mongólia Interior e de Góbi, na Mongólia, e de Taklimakan, na China. A existência dos desertos está associada a diversos fatores, entre eles a presença de áreas de alta pressão atmosférica, que originam os ventos secos e quentes das altas latitudes em direção às regiões próximas dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. Alguns desertos ou regiões semiáridas devem a sua escassez hídrica às altas montanhas, que impe- dem a passagem de nuvens úmidas para essas re- giões. O papel das correntes marítimas As correntes marítimas também contribuem bas- tante para a formação dos climas árido e semiárido. Correntes marítimas são massas de água em mo- vimento, que se comportam como rios que correm dentro dos oceanos. Seu deslocamento é decorren- te de diversos fatores, como o movimento de rota- ção da Terra e as diferenças de densidade da água do mar, as quais resultam das diferenças de tempe- ratura e do grau de salinidade. As correntes marítimas possuem diferentes tem- peraturas e podem influenciar muito o clima das re- giões por onde passam. As correntes frias de Humboldt (ou do Peru), no Oceano Pacífico, e de Benguela, no Atlântico, por exemplo, influenciaram diretamente na formação dos desertos de Atacama, no Chile, e da Namíbia e do Kalahari, na África, respectivamente. Como ocorre intensa evaporação e precipitação nos pontos de ressurgência do oceano, as massas de ar chegam secas quando atingem os continentes. 4 - CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologia 169 pgs red CIÊNCIAS HUMANAS e suas Técnologias OS DOMÍNIOS NATURAIS E A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O AMBIENTE Relação homem-natureza, a apropriação dos recursos naturais pelas sociedades ao longo do tempo.