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SENTENÇA ATOS JURISDICIONAIS Lato sensu, os atos jurisdicionais são classificados em duas ordens: DESPACHOS DE MERO EXPEDIENTE: aqueles destinados ao impulso do processo, sem qualquer carga decisória. DECISÕES: pronunciamentos que produzem sucumbência, destinados a resolver incidentes processuais ou pôr fim a processo. Dentre as principais classificações estabelecidas, destaca-se a seguintes: Sentenças definitivas de condenação ou de absolvição, decisões interlocutórias simples e decisões interlocutórias mistas (terminativas ou não terminativas): consagrada pela doutrina e jurisprudência majoritárias, esta classificação possui importância fundamental quando se trata de definir o recurso cabível diante de uma determinada decisão judicial, em especial naquelas hipóteses em que a lei não é expressa a respeito. SENTENÇAS DEFINITIVAS DE CONDENAÇÃO OU DE ABSOLVIÇÃO: são aquelas que põem fim ao processo, absolvendo ou condenando o réu, depois de esgotadas todas as etapas do procedimento. DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS: Decisões interlocutórias simples: são aquelas que resolvem incidentes processuais ou questões atinentes à regularidade do processo, sem extinguir o procedimento ou uma de suas etapas. Exemplos: Decretação da prisão preventiva, recebimento da denúncia, procedência da exceção de incompetência, desclassificação levada a efeito no procedimento do júri (art. 419 do CPP) etc. Decisões interlocutórias mistas: são aquelas que, julgando ou não o mérito, põem fim ao procedimento ou a uma de suas fases. Interlocutórias mistas terminativas (ou decisões definitivas): são as decisões que põem fim ao procedimento. Exemplos: rejeição da denúncia, impronúncia, procedência das exceções de coisa julgada e de litispendência, absolvição sumária nas fases dos arts. 397 e 415 do CPP etc. Interlocutórias mistas não terminativas (ou com força de definitivas): são as decisões que põem fim a uma etapa do rito. Exemplo: pronúncia, que extingue a primeira etapa do procedimento dos crimes dolosos contra a vida (juditium acusationes), dando início à segunda fase desse rito (juditium causae). DESPACHOS DE MERO EXPEDIENTE Por despachos de mero expediente compreendem-se os atos ordinatórios do processo, ou seja, aqueles que têm por objetivo impulsioná-lo, relacionados ao cumprimento das várias etapas que integram cada procedimento legalmente previsto. Exemplos: determinação de que seja o réu citado, de que sejam intimadas testemunhas arroladas, vista às partes para que se manifestem sobre desistência de testemunhas, aprazamento de audiências etc. Tratando-se de manifestações sem carga decisória, caracterizam-se pela irrecorribilidade, muito embora possam ensejar correição parcial pelo prejudicado se forem exarados ao arrepio da lei. A correição parcial, em princípio, não possui natureza recursal, mas sim de uma medida de caráter administrativo-disciplinar oponível contra atos de magistrado praticados por error in procedendo (erro de procedimento) ou abuso de poder. SENTENÇAS DEFINITIVAS DE CONDENAÇÃO OU DE ABSOLVIÇÃO Também chamadas de sentenças stricto sensu, estes atos encontram-se em extremo oposto aos despachos de mero expediente. Possuem carga decisória plena (julgam o mérito da causa em todos os seus aspectos) e importam na condenação ou na absolvição do réu depois de esgotadas todas as etapas procedimentais previstas em lei. CONDENATÓRIAS são as que acolhem o pedido formulado na inicial acusatória, aplicando ao réu uma pena (privativa da liberdade, restritiva de direitos ou multa). ABSOLUTÓRIAS, podem ser: Próprias, como tais consideradas aquelas que julgam improcedente a acusação inserida na ação penal, importando em reconhecimento da inocência do réu ou da ausência de comprovação de sua responsabilidade criminal pelo fato imputado; Impróprias, que são as que absolvem o réu com imposição medida de segurança em razão do reconhecimento da sua inimputabilidade total ao tempo do . DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS As decisões interlocutórias integram uma classificação intermediária entre os despachos de mero expediente e as sentenças propriamente ditas. Possuem carga decisória, podendo acarretar ou não a extinção do processo, conforme o caso. Em termos de regra geral e para facilitar sua identificação, é possível afirmar que, no processo de conhecimento, o enquadramento de uma determinada manifestação judicial como decisão interlocutória ocorre de forma residual, ou seja, deve-se considerar como tais os pronunciamentos que não possam ser enquadrados nem como despachos de mero expediente e nem como sentenças “stricto sensu”. Há duas ordens de decisões interlocutórias: Decisões interlocutórias simples; Decisões interlocutórias mistas: Decisões interlocutórias simples Constituem a maioria das decisões judiciais e destinam-se a solucionar incidentes que venham a surgir antes da sentença, sem, porém, acarretar qualquer extinção, seja do processo, seja de uma fase do respectivo procedimento. Exemplos: decretação da prisão preventiva, concessão de liberdade provisória, relaxamento da prisão em flagrante, deferimento ou indeferimento da habilitação do assistente de acusação, desclassificação (art. 419 do CPP), recebimento da denúncia e da queixa-crime etc. Esta forma de pronunciamento judicial é impugnável por meio de recurso em sentido estrito, quando houver previsão legal dessa via impugnativa para o caso concreto em análise. Não havendo possibilidade de ingresso desse recurso, poderá ser atacada por meio de habeas corpus, mandado de segurança ou correição parcial, que não possuem natureza recursal. Decisões interlocutórias mistas São pronunciamentos do juiz que ocorrem antes da sentença final, possuindo, obviamente, carga decisória. Diferenciam-se das decisões interlocutórias simples porque, ao contrário destas, acarretam a extinção do processo (provocando o respectivo arquivamento) ou a extinção de uma fase do procedimento criminal. Produzindo sucumbência, serão sempre impugnáveis. O recurso cabível nesta ordem de decisões é o recurso em sentido estrito, desde que haja previsão legal. Não havendo, serão sempre apeláveis, com fundamento no art. 593, II, do CPP. Subclassificam-se as decisões interlocutórias mistas em: Decisões interlocutórias mistas terminativas Decisões interlocutórias mistas não terminativas: Decisões interlocutórias mistas terminativas: também chamadas de decisões definitivas, são aquelas que, conquanto não possuam natureza de sentença, acarretam a extinção do processo ou do procedimento. Exemplos: rejeição da denúncia, não recebimento da queixa, acolhimento das exceções de ilegitimidade de parte, coisa julgada e litispendência, absolvição sumária (arts. 397 e 415 do CPP), impronúncia (art. 414 do CPP) etc. Decisões interlocutórias mistas não terminativas: também chamadas de decisões com força de definitivas, são as que, a despeito de não acarretarem a extinção do processo, extinguem uma etapa do procedimento. A respeito, o único exemplo aceito pela unanimidade da doutrina é a pronúncia, que encerra a primeira etapa do procedimento do júri (juditium acusationes) e inaugura a segunda fase (juditium causae). IDENTIFICAÇÃO DA NATUREZA DOS PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS Visando-se facilitar a compreensão do tema, pode-se concluir que a identificação de um pronunciamento judicial como despacho de mero expediente, decisão interlocutória ou sentença pode ser facilmente realizada pelo critério da residualidade. Basta que se façam, pela ordem, os seguintes questionamentos: Trata-se de um mero comando de impulso processual? Em caso positivo, haverá despacho de mero expediente. Trata-se de uma decisão condenatória ou absolutória proferida pelo magistrado após esgotar todas as fases do procedimento? Em caso positivo, haverá sentença. Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe termo ao processo, importando em seu arquivamento? Em caso positivo, haverá decisão interlocutória mista terminativa. Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença,põe termo a uma fase do processo, dando início a outra, sem importar em seu arquivamento? Em caso positivo, haverá decisão interlocutória mista não terminativa. .............. SENTENÇAS DEFINITIVAS DE CONDENAÇÃO ou de ABSOLVIÇÃO REQUISITOS FORMAIS O Código de Processo Penal, no art. 381 e seguintes, disciplina os requisitos formais da sentença penal. A ausência dessas formalidades torna viciada a decisão, sendo que a natureza dessa mácula pode oscilar de uma simples irregularidade até a inexistência do ato, dependendo do caso concreto. Art. 381. A sentença conterá: I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; V - o dispositivo; VI - a data e a assinatura do juiz. RELATÓRIO Trata-se do primeiro requisito obrigatório da sentença criminal, encontrando-se previsto, implicitamente, no art. 381, I e II, do CPP, quando dispõem que a sentença conterá “os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las” e “a exposição sucinta da acusação e da defesa”. Em linhas gerais, o relatório consiste no resumo das principais etapas do procedimento e dos incidentes que, eventualmente, tenham sido suscitados ou resolvidos no curso do processo. Ressalvada a hipótese prevista no art. 81, § 3.º, da Lei 9.099/1995, que dispensa o relatório nas sentenças do Juizado Especial Criminal, a ausência dessa formalidade é causa de nulidade absoluta da sentença, já que se trata de formalidade essencial do ato (art. 564, IV, do CPP). MOTIVAÇÃO A motivação é requisito geral das decisões judiciais, decorrendo de previsão inserida na própria Constituição Federal (art. 93, IX, da CF). Em nível de legislação infraconstitucional, muito especialmente no que se refere às sentenças definitivas de condenação e de absolvição, a exigência de fundamentação encontra-se tipificada no art. 381 do CPP, mais precisamente nos incisos III e IV desse dispositivo. Consiste a motivação no raciocínio lógico realizado pelo juiz a partir do contexto probatório inserido ao processo. Certo que o art. 155 do CPP estabelece que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida sob o contraditório judicial, mas isto não significa que esteja dispensado de justificar suas posições. Tem liberdade para decidir, explicitando, porém, os respectivos motivos. Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. DISPOSITIVO Como terceiro requisito da sentença, surge o dispositivo (art. 381, V, do CPP). Trata-se da conclusão da sentença, isto é, o momento em que, levando em consideração o raciocínio lógico realizado na etapa anterior, o julgador condena ou absolve o réu, indicando os respectivos dispositivos legais. Nesta fase, tratando-se de sentença condenatória, deverá o juiz consignar o tipo legal (artigo de lei) em que inserida a conduta criminosa pela qual está sendo responsabilizado o réu. A falta dessa indicação é causa de nulidade, que, todavia, estará sanada se tiver sido feita referência ao nomem iuris do crime. Já na sentença absolutória, impõe-se ao magistrado declinar o respectivo fundamento dentre os incorporados aos arts. 386, 397 ou 415 do CPP, v.g., a atipicidade da conduta, a ausência de provas de autoria, o agir sob o amparo de excludente de ilicitude etc. AUTENTICAÇÃO Consiste no quarto requisito da sentença (art. 381, VI, do CPP), correspondendo à aposição da assinatura do juiz. A sua falta torna a sentença inexistente, pois é a subscrição pelo julgador que lhe confere autenticidade. Quando proferida oralmente em audiência, muitas vezes a sentença é registrada pelo método da estenotipia ou gravada por sistemas de informática. Nestas hipóteses, o pronunciamento somente terá valor como decisão judicial no momento em que o juiz, após conferência e revisão, assiná-la. Outra formalidade é a rubrica pelo juiz em todas as folhas da sentença, nos termos do art. 388 do CPP. Reputamos, todavia, como simples irregularidade a ausência desta rubrica, mesmo porque o STJ já decidiu pela irrelevância de sua falta, considerando, para tanto, que “a interpretação jurídica não pode prender-se a dados formais secundários”. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA A sentença absolutória é aquela que julga improcedente a acusação por qualquer das razões mencionadas no art. 386 do CPP, quais sejam: Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: I - estar provada a inexistência do fato; II - não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal; IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; VII – não existir prova suficiente para a condenação. Estar provada a inexistência do fato: nesta situação, o juiz criminal constata a partir da prova coligida ao processo que o fato imputado na denúncia ou queixa evidentemente não ocorreu. Esta modalidade de absolvição, consoante a regra do art. 935 do Código Civil, faz coisa julgada no cível, afastando a possibilidade de ingresso posterior de ação de reparação dos danos supostamente causados com a infração penal. Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. (CC) Não haver prova da existência do fato: trata-se da hipótese em que não foi comprovada a materialidade ou a existência do fato imputado. Este fundamento da sentença não produz qualquer reflexo na esfera cível, sendo possível, a despeito da absolvição operada no juízo criminal, acionar o ofensor no juízo cível visando ao pagamento de indenização. Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato. (CPP) Não constituir o fato infração penal: trata-se do reconhecimento da atipicidade da infração descrita na inicial. Em princípio, também nesta espécie de absolvição criminal não haverá qualquer efeito civil sobre a obrigação de indenizar, que poderá ser normalmente discutida no juízo cível por meio da ação própria. Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal: nessa hipótese, o juiz declara a existência do delito, mas diz haver prova cabal de que foram outras pessoas as autoras do crime. Quando fundada nesse dispositivo, a sentença penal faz coisa julgada na esfera cível, não se podendo propor ação nesta esfera para provar que o réu cometeu o delito. Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal: nesse caso, o juiz também declara a ocorrência do crime, mas argumenta que não há prova de que o réu tenha tomado parte na empreitada criminosa. Aqui a situação é de dúvida, devendo ser aplicado o princípio in dubio pro reo. Como neste caso a absolvição é baseada em carência de provas, poderá ser proposta ação na esfera cível buscando indenização já que ali podem ser apresentadas novas provas. Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre a sua existência: neste caso, vislumbram-se três fundamentos distintos da absolvição criminal: Absolvição fundada em circunstânciasque excluam o crime: também conhecidas como excludentes de ilicitude ou de antijuridicidade, são as tratadas no art. 23 do Código Penal, consistindo na legítima defesa, no estado de necessidade, no estrito cumprimento do dever legal e no exercício regular de direito. Não se inserem nesta previsão as descriminantes putativas (aquelas motivadas pelo erro do agente), já que estas não excluem a ilicitude. Outro aspecto a atentar é que, muito embora a absolvição fundada em excludentes de ilicitude produza coisa julgada no cível, ex vi do art. 65 do CPP, tal coisa julgada não prejudica o direito de terceiros. Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Causas que isentem o réu de pena: abrangem as causas previstas no art. 20, § 1.º, 1.ª parte, do CP (descriminantes putativas) e as excludentes de culpabilidade propriamente ditas consagradas nos arts. 21 (erro de proibição inevitável), 22 (coação moral irresistível e obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal), 26, caput (inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), e 28, § 1.º (embriaguez fortuita completa), todos do Código Penal. Note-se que, neste caso, em princípio, a absolvição criminal não produz qualquer reflexo na obrigação de indenizar. Fundada dúvida sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou de causas que isentem o réu de pena: contempla-se a hipótese em que, muito embora não haja certeza quanto à efetiva ocorrência destas situações, haja fundada dúvida a respeito. A absolvição fundada em dúvida quanto à presença de excludente, seja ela qual for, não produzirá reflexos civis com o fim de excluir a obrigação de indenizar. Não existir prova suficiente para a condenação: motivo residual, aplicável quando a prova dos autos revelar-se frágil, impondo-se a absolvição em razão do princípio in dubio pro reo. Evidentemente, tal espécie de absolvição não gera qualquer repercussão na esfera cível, não obstando que venham o ofendido ou sucessores a mover ação ordinária de indenização em relação ao acusado. EFEITOS DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA Efeito principal Como efeito principal da sentença absolutória própria (absolvição sem imposição de medida de segurança) está a liberdade do réu, não importando, para tanto, fatores outros como seus antecedentes, a circunstância de ter ou não transitado em julgado a decisão absolutória e a natureza do crime pelo qual processado. Assim, caso esteja preso, deverá ser imediatamente posto em liberdade, não ficando suspenso este efeito pela superveniência de recurso da acusação. Entende-se por absolvição imprópria aquela que, reconhecendo a inimputabilidade do acusado em virtude de doença mental ao tempo do fato, impõe a ele medida de segurança (art. 26, caput, do CP, e art. 386, VI, 2.ª parte e parágrafo único, III, do CPP). Nesta hipótese, duas situações poderão ocorrer: O indivíduo, apesar de inimputável ao tempo do fato, respondeu ao processo em liberdade. Absolvido o réu com a imposição de medida de segurança, deverá continuar em liberdade, salvo se a sua internação em estabelecimento psiquiátrico mostrar-se necessária antes mesmo do trânsito em julgado da sentença. Note-se que tal internação não significa aplicação de medida de segurança provisória. Medida de segurança, com efeito, apenas poderá ser aplicada após transitada em julgado a decisão que a impuser. O indivíduo, no curso do processo, foi internado em estabelecimento psiquiátrico, encontrando-se nesta condição no momento da sentença. Nesta hipótese, se já estava internado antes, em tese, assim deverá continuar, até que transite em julgado a absolvição imprópria e possa ser executada a medida de segurança. Evidentemente, constatando o magistrado a superveniente cessação dos motivos que justificaram a segregação incidental, deverá autorizar sua desinternação, a fim de que aguarde solto o trânsito em julgado da decisão. Efeitos secundários Trata-se de outros efeitos que podem ser produzidos pela sentença absolutória em relação a hipóteses específicas, como, por exemplo: Levantamento do sequestro incidente sobre bens do acusado supostamente adquiridos com o produto da infração penal (art. 131, III, do CPP); Cancelamento da hipoteca legal e do arresto determinados sobre o patrimônio lícito do acusado (art. 141 do CPP); Restituição integral da fiança (art. 337 do CPP); Impedimento da propositura de ação civil de indenização quando fundada a absolvição em excludentes de ilicitude (art. 65 do CPP) ou no entendimento do juiz de que comprovada a inexistência do fato, ou de que o réu não concorreu para a infração penal (art. 935 do CC). .............. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA A sentença penal condenatória é aquela que reconhece a responsabilidade criminal do acusado em decorrência de infração a uma norma penal incriminadora, imputando-lhe, em consequência, uma pena. Exige, deste modo, comprovação plena acerca da autoria e da materialidade do delito imputado, não bastando um mero juízo de possibilidade ou probabilidade. Efeitos da sentença penal condenatória Classificam-se os efeitos da sentença penal condenatória em EFEITO PRINCIPAL, correspondente à aplicação da pena e à imposição de medida de segurança; e em EFEITOS SECUNDÁRIOS. Os EFEITOS SECUNDÁRIOS subdividem-se em efeitos de natureza penal e em efeitos de natureza extrapenal. São efeitos secundários de natureza penal a inclusão do nome do réu no rol dos culpados e os efeitos reflexos da sentença (reincidência, revogação do sursis, revogação do livramento condicional, reconversão de pena restritiva de direitos, revogação da reabilitação) estes últimos assim denominados pelo fato de se projetarem em relação jurídica distinta daquela em que proferida a decisão. Já os efeitos secundários de natureza extrapenal correspondem, no Código Penal, à previsão do art. 91, que insere consequências genéricas e obrigatórias; e à disposição do art. 92, concernente a decorrências específicas da decisão. Não apenas no Código Penal, mas também na Constituição Federal há a previsão de efeitos de natureza extrapenal (suspensão dos direitos políticos, Impedimento à naturalização) .............. DETRAÇÃO Compreende-se por detração o cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, do tempo em que o indivíduo esteve recolhido em razão de prisão provisória, no Brasil ou no exterior, assim como o tempo de prisão administrativa e o de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico (art. 42 do CP). Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior. De acordo com o art. 66, III, c, da LEP (Lei 7.210/1984), compete ao juiz da execução decidir sobre a detração penal. Ocorre que, objetivando agilizar a concessão dos benefícios da execução penal ao condenado, especialmente quanto ao regime prisional, a Lei 12.736/2012, em seu art. 1.º, estabeleceu que “a detração deverá ser considerada pelo juiz que proferir a sentença condenatória”. Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: § 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade. O art. 42 do Código Penal permite a compensação do tempo em que o apenado permaneceu encarcerado sem a devida sentença transitada em julgado, desimportando se tal processo resulta em condenação ou absolvição. Logo, infere-se que a detração penal pode se dar em processo diverso daquele em que o acusado permaneceu sob custódia cautelar e foi ao final absolvido. Todavia, de acordo com a jurisprudência majoritária, nessescasos, o processo em que poderá se dar a detração deve ser relativo a delito cometido em data anterior à prisão provisória, sob pena de haver a concessão de crédito de pena cumprida, contra o Estado, a ser usado para impunidade de posteriores infrações penais. A título de exemplo, considere-se que o apenado cumpra pena por delito cometido em 10 de setembro de 2005. Considere-se que, posteriormente, venha a ser preso provisoriamente em outro processo, por delito praticado em 20 de dezembro de 2012, sendo absolvido desta última imputação. Considerando que o processo pelo qual cumpre pena refere-se a crime praticado anteriormente à prisão provisória, é possível a detração do período que esteve recolhido cautelarmente. PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO e PRINCÍPIO DA CONSUBSTANCIAÇÃO A emendatio libelli e a mutatio libelli são institutos próprios da sentença condenatória e da decisão de pronúncia, implicando nova definição jurídica do fato. É por meio da emendatio e da mutatio que o juiz, ao sentenciar, atribui ao fato descrito uma capitulação (artigo) distinta daquela originariamente incorporada à denúncia ou à queixa. Diferem-se, contudo, as duas hipóteses pelo fato de que, enquanto na emendatio libelli esta definição jurídica diversa não decorre do reconhecimento de circunstâncias das quais o réu não se tenha defendido, na mutatio libelli ocorre exatamente o contrário, isto é, o juiz acrescenta ao fato descrito circunstâncias ou elementos que, por não integrarem a descrição realizada na peça vestibular, não foram objeto de defesa no curso normal da marcha processual. Na realidade, o estudo desses institutos está intimamente relacionado a dois princípios básicos em matéria de sentença penal: O princípio da consubstanciação, segundo o qual o réu defende-se dos fatos descritos na denúncia ou na queixa-crime e não da capitulação; O princípio da correlação da sentença, traduzindo-se este como a necessidade de amoldar a sentença aos fatos descritos na inicial acusatória. EMENDATIO LIBELLI (art. 383 do CPP) Trata-se da hipótese na qual o juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, atribui nova definição jurídica ao fato descrito, sem, porém, acrescentar a esse mesmo fato qualquer circunstância ou elemento que já não estivessem descritos na inicial e dos quais, portanto, o acusado não se tenha defendido. Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. § 1o Se, em conseqüência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. § 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos. Neste contexto, e levando em conta o regramento inserido ao Código de Processo Penal, três formas de emendatio libelli são passíveis de aplicação pelo juiz diante do caso concreto que esteja sob sua análise: Emendatio libelli por defeito de capitulação: situação na qual o juiz profere sentença condenatória ou decisão de pronúncia em conformidade exata com o fato descrito na denúncia ou na queixa. Sem embargo, reconhece que tal fato amolda-se ao dispositivo penal distinto daquele que constou na inicial. Exemplo: denunciado o acusado por roubo, mas, por equívoco, capitulada esta infração na denúncia como o art. 147 do CP (crime de ameaça). Na sentença, o juiz poderá condenar o réu pelo crime descrito (roubo), esclarecendo, porém, que se trata de conduta que tem enquadramento no art. 157 do Estatuto Repressivo, cuja pena, evidentemente, é maior do que a relativa ao artigo equivocadamente atribuído na denúncia. Emendatio libelli por interpretação diferente: examinando a descrição do fato constante da denúncia ou da queixa, realiza o juiz interpretação diferente da que o fez o Ministério Público ou o querelante quanto ao enquadramento da conduta narrada. Exemplo: Considere-se que tenha sido denunciado o agente por homicídio qualificado por meio cruel, por ter cortado a garganta de colega de cela enquanto este dormia, causando-lhe morte instantânea. Entendendo o magistrado que esse fato, tal como narrado, não configura a qualificadora do meio cruel (art. 121, § 2.º, III, CP), mas sim a qualificadora do uso de recurso que impossibilitou a defesa do ofendido (art. 121, § 2.º, IV, CP), poderá reconhecer essa última circunstância independente de qualquer aditamento da inicial pelo Ministério Público. É que, nesse caso, a nova definição jurídica atribuída não terá sido decorrência de qualquer inovação ao fato descrito, mas sim de interpretação diversa quanto ao enquadramento desse mesmo fato.. Emendatio libelli por supressão de circunstância: neste caso, o magistrado atribui nova capitulação ao fato imputado em razão da não constatação, pelas provas angariadas na fase instrutória, de elemento ou circunstância que estejam contidos na inicial. Em suma, há, aqui, modificação fática, mas não para acrescentar, e sim para subtrair circunstâncias do fato descrito, importando esta simples supressão na mudança de classificação jurídica (artigo). Exemplo: denunciado o acusado por crime de roubo capitulado no art. 157 do CP, sobrevém, no curso da instrução, a prova de que não houve violência nem grave ameaça. Diante disso, o juiz, suprimindo da inicial a referência à violência e à ameaça, condena o réu por furto simples. Há, neste caso, emendatio libelli, já que o furto se encaixa na descrição do roubo. Defendendo-se de um roubo, defende-se o acusado de furto + violência/ameaça. Desta sorte, basta retirar de um roubo as circunstâncias “violência e grave ameaça” e já se tem caracterizada a subtração que tipifica o furto. Mutatio libelli (art. 384 do CPP) No curso da instrução do processo, podem surgir novas provas quanto a elementos ou circunstâncias da imputação, os quais não estejam contidos na denúncia ou na queixa e que, se reconhecidos pelo juiz, importem em alteração do fato para mais. Trata-se da mutatio libelli – situação em que o juiz, condenando ou pronunciando o réu, atribui ao fato nova definição jurídica, mediante o acréscimo de circunstâncias não mencionadas na denúncia ou na queixa-crime. Nestes casos, como há evidente prejuízo ao acusado, não poderá ser o indivíduo condenado ou pronunciado pelo novo crime sem que adotadas, antes, as providências referidas no art. 384 do CPP, sendo irrelevante, para tanto, se a nova tipificação implica apenamento superior, igual ou inferior ao crime originalmente descrito. O art. 384 do CPP dispõe que o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de cinco dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. § 1o Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste Código. § 2o Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de debates e julgamento. § 3o Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao caput deste artigo. § 4o Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento. § 5o Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.E se o Ministério Público se recusar ao aditamento? Neste caso, estabelece o art. 384, § 1.º, do CPP que será aplicado o disposto no art. 28 do CPP. Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. Este art. 28 teve modificada sua redação pela Lei 13.964/2019, ficando subtraída do juiz a possibilidade de analisar o mérito da promoção de arquivamento do inquérito policial. No entanto, esta nova redação do art. 28 encontra-se com eficácia suspensa em razão de medida cautelar deferida no STF no âmbito das ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305. O cenário, enfim, é o seguinte: Enquanto permanecer suspensa a eficácia da nova redação do art. 28 do CPP em face da sobredita medida cautelar, cumprirá ao juiz, dissentindo da recusa do promotor de justiça em realizar o aditamento, encaminhar os autos ao Procurador-Geral de Justiça, que poderá discordar do órgão ministerial que atua no feito e proceder ao aditamento da inicial ou designar outro promotor para fazê-lo; ou, então, concordar com o seu entendimento. Neste último caso, nada restará ao magistrado fazer, a não ser proferir sentença pelo crime constante da inicial. Restabelecida, porém, a eficácia da redação dada ao art. 28 pela Lei 13.964/2019, nada restará ao juiz proceder, cabendo-lhe, apenas, prosseguir a tramitação do feito, julgando-o em consonância com imputação originalmente realizada. RECORRIBILIDADE Compreendendo-se, na atual concepção do art. 384 do CPP, que ainda seja possível ao juiz determinar vista dos autos ao Ministério Público para fins de aditamento quando constatar a possibilidade de nova definição jurídica do fato, tal pronunciamento será irrecorrível, pois dele não decorre qualquer sucumbência. É que tal manifestação do juiz não possui natureza jurídica de uma decisão, no sentido técnico do termo, sujeita à preclusão ou a trânsito em julgado. Apelável, isto sim, será a sentença do juiz exarada após, seja pelo crime objeto do aditamento (caso tenha sido este realizado), seja pelo delito originariamente imputado ao réu (na hipótese de recusa do Ministério Público ao aditamento e da concordância do Procurador-Geral de Justiça com essa posição). MUTATIO LIBELLI EM CRIME DE AÇÃO PENAL PRIVADA Parte expressiva da doutrina considera que não há a possibilidade de aplicação da mutatio libelli na ação penal privada exclusiva, o que implicaria violação aos princípios da oportunidade e disponibilidade que informam essa natureza de ação. No entanto, alguns juristas entendem que, por analogia à faculdade inerente ao Promotor de Justiça nos crimes de ação pública, também na ação privada exclusiva é de se conferir ao querelante igual faculdade, possibilitando a ele o aditamento da queixa, desde, é claro, que ainda não decorrido o prazo decadencial de seis meses contado da ciência do fato ou de sua autoria. MUTATIO LIBELLI EM SEGUNDO GRAU O art. 617, inserido no Capítulo V, do Título II, do Código de Processo Penal, versando sobre o processo e julgamento das apelações, e dos recursos em sentido estrito nos tribunais, refere que: Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença. Não faz qualquer referência, portanto, ao art. 384 do CPP. A partir daí surgiu o entendimento consubstanciado na Súmula 453 do STF, no sentido de que, enquanto segunda instância, vale dizer, no julgamento de recursos, não poderá o instituto da mutatio libelli ser aplicado pelos Tribunais. Assim, se no julgamento de uma apelação, o Órgão Recursal reconhecer que a definição jurídica correta para o fato é diversa daquela constante na inicial, não tendo sido aplicada a solução do art. 384 no curso do processo, a consequência será a absolvição do imputado, por inexistir outra alternativa SENTENÇA CONDENATÓRIA E PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO O art. 385 do CPP faculta ao juiz criminal, nos crimes de ação penal pública, condenar o réu, ainda que tenha o Ministério Público opinado pela absolvição. Na verdade, o uso do verbo opinar traduz impropriedade do legislador e contrasta com a posição exercida pelo Ministério Público na ação pública – a de autor. Portanto, o parquet não opinará pela absolvição nessa modalidade de ação penal, mas sim pedirá esta solução, se assim o entender. Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. E quando se tratar de crime de ação penal privada exclusiva? Neste caso, é inaplicável a regra do art. 385 do CPP. Assim, sobrevindo de parte do querelante pedido de absolvição, tal deverá ser interpretado pelo juízo como desistência da ação penal, o que o impede de prosseguir o feito com a prolação de sentença condenatória. PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA De acordo com o art. 389, 1.ª parte, do CPP, a sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo. A interpretação literal do dispositivo sugere que a publicação ocorre no momento em que é a sentença recebida pelo escrivão e por ele registrada, ou seja, transcrita no livro próprio. Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim. Na maioria das comarcas, o registro da sentença e sua consequente divulgação é realizado em sistema informatizado, abolindo-se, assim, o chamado “livro de registro”. Não se confunde publicação da sentença com intimação das partes de seu teor. Publicação e intimação são atos distintos. Trata-se, então, a publicação do ato que formaliza a sentença, sendo obrigatória, independentemente da natureza da ação penal – pública (condicionada ou incondicionada) ou privada. Uma vez confeccionada e publicada a sentença, não poderá mais o juiz alterá-la, salvo na oposição de oportunos embargos declaratórios ou na hipótese de ter ocorrido erro material, que pode ser retificado ex officio. Na hipótese de sentença condenatória recorrível, efeito importante da publicação é a interrupção da prescrição. INTIMAÇÃO DAS PARTES DA SENTENÇA A intimação das partes em relação à sentença deverá observar os seguintes critérios: Ministério Público: a intimação do Ministério Público deve ser sempre pessoal, nos termos dos arts. 370, § 4.º, 390, 798, § 5.º, e 800, § 2.º, todos do CPP. Defensor nomeado: deverá ser intimado pessoalmente (art. 370, § 4.º). Defensor Público: a intimação também deve ser pessoal, de acordo com o art. 44, I, da Lei Complementar 80/1994. Defensor constituído pelo acusado e advogado do querelante e do assistente de acusação: serão intimados mediante publicação no órgão oficial, conforme referem os arts. 370, § 1.º, e 391, ambos do CPP. Acusado: devem ser observadas, em princípio, as regras inseridas no art. 392 do CPP, dispondo que sejam feitas: ao réu, pessoalmente, se estiver preso; ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança; ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça; mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de justiça; mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça; mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça. Partindo deste regramento, ajurisprudência majoritária inclina-se no sentido de que, em se tratando de decisão condenatória, é necessária tanto a intimação pessoal do réu como a de seu defensor, observando-se, quanto a este último, o disposto no art. 370 do CPP. Já quanto ao réu solto, se assistido por advogado constituído, bastará a intimação do causídico. Se, por outro lado, estiver sendo patrocinado por defensor público ou dativo, aí sim será preciso, tal como ocorre em relação ao preso, a sua intimação pessoal ou, se não localizado, por edital com prazo de 90 dias se for o caso de condenação a pena igual ou superior a um ano de prisão, e de 60 dias se for o caso de condenação a outra pena (art. 392, § 1.º, do CPP). Cumpre lembrar que, na hipótese de intimação editalícia da sentença, o prazo da apelação somente se esgota cinco dias após o término do fixado no edital (art. 392, § 2.º, do CPP). Agora, se o réu foi localizado e intimado pessoalmente durante o período do edital, ficará este prejudicado, considerando-se que o prazo flui a partir da data em que se deu a ciência pessoal. E no que tange à intimação da sentença absolutória? Segundo precedentes do STF, tratando-se de sentença absolutória, não ocorre nulidade na ausência de intimação pessoal do réu do teor dessa decisão , sendo suficiente a ciência de seu advogado a respeito, na forma prevista em lei. Em relação às intimações dos acórdãos proferidos no julgamento de recursos, é consolidado na jurisprudência o entendimento de que não é preciso atentar aos preceitos do art. 392 do CPP, tampouco se faz necessária a intimação do acusado. Inexiste, neste caso, o rigor estabelecido em relação à sentença condenatória. Inclusive, em diversas oportunidades, tem se manifestado o STJ no sentido de que “esta Corte firmou compreensão de que a determinação de ciência pessoal do réu da sentença condenatória, a que se refere o art. 392, I, do Código de Processo Penal, se restringe aos provimentos proferidos em primeiro grau de jurisdição, sendo que a intimação das decisões dos Tribunais se aperfeiçoa com a publicação do ato na imprensa oficial” , sempre ressalvando-se, por óbvio, as figuras do Ministério Público e do Defensor Público, cuja intimação, em qualquer hipótese, deve ser realizada pessoalmente. EMBARGOS DECLARATÓRIOS CONTRA SENTENÇA O art. 382 do CPP trata dos embargos declaratórios contra sentença. No caso de embargos contra acórdãos, a previsão encontra-se no art. 619 do mesmo Código. Ambos, entretanto, possuem os mesmos requisitos, vale dizer, existência de decisão omissa (não se pronuncia sobre um ponto relevante), obscura (não permite compreender o pensamento que lhe está incorporado), ambígua (possibilita duas ou mais interpretações) ou contraditória (insere fundamentos conflitantes). Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão. Os embargos declaratórios, quando opostos contra sentença ou acórdão, devem ser deduzidos no prazo de dois dias, por meio de petição escrita, já instruída com as respectivas razões (arts. 382 e 619 do CPP). Não admitem a proposição por termo, como tal considerada a forma oral, reduzida a escrito pelo juiz, escrivão ou oficial de justiça. Ressalvam-se destas regras os embargos opostos em sede de juizados especiais criminais, os quais estão disciplinados no art. 83 da Lei 9.099/1995, podendo ser confeccionados por escrito ou oralmente. Além disso, o prazo é dilatado, admitindo-se sua dedução em cinco dias.