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– AULA PRÁTICA 05: INDICADORES ÁCIDO-BASE NATURAIS 5.1 – OBJETIVOS Esta aula prática tem por objetivo geral desenvolver o conceito de equilíbrio ácido-base, explicitando suas aplicações na Química Analítica e no cotidiano do aluno, utilizando os pigmentos naturais e suas propriedades como exemplo. Como objetivos específicos dessa aula prática, destacamos os seguintes pontos: - reconhecer um equilíbrio ácido-base; - aplicar o conceito de equilíbrio ácido-base na compreensão e resolução de problemas; - entender e utilizar o conceito de pH; - Compreender o funcionamento de um indicador ácido-base; - utilizar materiais disponíveis na região semi-árida como indicadores ácido-base. 5.2 – ABORDAGEM TEÓRICA 5.2.1 – Equilíbrios ácido-base Segundo o conceito de Brönsted-Lowry, um ácido é uma espécie química que doa prótons (íons H+) durante uma reação química, enquanto que uma base é uma espécie química que recebe prótons durante uma reação química. Exemplo: reação ácido-base genérica HA + :B- HB + :A- Transferência de H+ Transferência de H+ Ácido 1 Base 1 Ácido 2 Base 2 Pares conjugados ácido-base HA + :B- HB + :A-HA + :B- HB + :A- Transferência de H+ Transferência de H+ Ácido 1 Base 1 Ácido 2 Base 2 Pares conjugados ácido-base Ácidos e bases são extremamente importantes em química, pois muitas reações químicas de interesse envolvem essas substâncias. Quando um ácido doa um próton a uma base forma-se um novo ácido e uma nova base que podem também reagir entre si, o resultado é uma reação reversível que tenderá a um estado de equilíbrio. Quando um ácido perde um próton dá origem a uma base conjugada e quando uma base recebe um próton produz um ácido conjugado. Desse modo, em uma reação ácido-base podemos estabelecer pares conjugados ácido-base. 5.2.2 – Auto-ionização da água Um dos equilíbrios ácido-base mais importantes é a reação de auto- ionização da água: Na reação de auto-ionização da água, uma molécula de água doa um próton para uma outra molécula de água formando íons hidroxônio (H3O+) e íons hidroxila (OH-). A água doa prótons e recebe prótons nessa reação, agindo como ácido e como base simultaneamente, diz-se então que ela é uma espécie anfótera. A constante de equilíbrio para a reação de auto-ionização da água é chamada de produto iônico da água e designada por Kw, sendo que: ]][[ 3 OHOHKw Determinou-se, experimentalmente, que as concentrações de íons H3O+ e OH-, em água pura a 25 °C são ambas iguais a 10-7 mol.L-1. Dessa forma o valor de Kw a uma temperatura de 25 °C é igual a 10-14. H2O + H2O: H3O + + :OH- Transferência de H+ Transferência de H+ Ácido 1 Base 1 Ácido 2 Base 2 Pares conjugados ácido-base H2O + H2O: H3O + + :OH- Transferência de H+ Transferência de H+ Ácido 1 Base 1 Ácido 2 Base 2 Pares conjugados ácido-base 5.2.3 – A escala de pH A concentração de íons H3O+ (ou H+ de forma simplificada) é de fundamental importância em muitas reações químicas e bioquímicas que ocorrem em meio aquoso. Em 1909, Sören P. T. Sörensen (1868-1939), bioquímico dinamarquês, estabeleceu uma maneira conveniente de expressar a acidez utilizando o logaritmo negativo da concentração do íon hidrogênio: pH = - log [H+] Sörensen chamou o novo conceito de expoente do íon hidrogênio representado pelo símbolo pH “pondus hidrogenn - potencial de hidrogênio”. Devido ao uso do artifício matemático “– log [H+]” os valores dessa escala são positivos na faixa de concentração abaixo de 1 mol/L. A rigor, o pH é mais bem definido como sendo pH = -log ah, onde ah é a atividade do íon hidrogênio. Em soluções contendo mais de um íon a atividade e a concentração são diferentes, porque a atividade é a concentração real de um eletrólito em solução. Ela é função de todos os componentes iônicos em solução (força iônica). O conceito de pH pode ser estendido a outras grandezas e podemos definir uma função “p” de tal forma que: pX = - log X Assim, teremos: pOH = - log [OH-] pKw = - log Kw = - log 10-14 = 14 pNO3- = - log [NO3-] Em solução aquosa as concentrações dos íons OH- e H+ estão relacionadas e por conseguinte os valores de pH e pOH, de forma que temos: pH + pOH = pKw = 14 Quando as concentrações dos íons H+ e OH- são iguais em uma solução aquosa, teremos o pH igual a 7,0 e o meio é considerado neutro. Quando a concentração de íons H+ é superior à concentração de íons OH- a solução aquosa é considerada ácida, e quando ocorre o inverso é chamada de básica ou alcalina ([OH-] > [H+]). As relações existentes entre o pH, o pOH e as concentrações de íons H+ e OH- são exemplificadas no quadro 01: Quadro 01 – Relações entre pH, pOH e as concentrações de H+ e OH- em solução aquosa. [H+] 100 10-1 10-2 10-3 10-4 10-5 10-6 10-7 10-8 10-9 10-10 10-11 10-12 10-13 10-14 [OH-] 10-14 10-13 10-12 10-11 10-10 10-9 10-8 10-7 10-6 10-5 10-4 10-3 10-2 10-1 100 pH 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 pOH 14,0 13,0 12,0 11,0 10,0 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 CARÁTER DA SOLUÇÃO SOLUÇÃO ÁCIDA SOLUÇÃO NEUTRA SOLUÇÃO ALCALINA 5.2.3 – Indicadores ácido-base Os indicadores ácido-base são uma substâncias que mudam de coloração segundo o pH do meio onde se encontram. Um indicador ácido-base é um ácido ou uma base fraca cuja forma ácida apresenta uma cor diferente da forma básica. Quando em solução o indicador apresenta um equilíbrio do tipo: Um aumento do pH do meio favorece a formação da forma básica do indicador e uma diminuição do pH favorece a formação da forma ácida do indicador. Como critério visual, a mudança da cor da forma ácida para a básica (e vice-versa) ocorre quando a razão entre as concentrações da forma ácida (alcalina) e da alcalina (ácida) for maior que aproximadamente 10. Essa razão pode ser melhor determinada utilizando-se um método espectrofotométrico. O equilíbrio da mudança de cor (em uma dada força iônica) pode ser dado pela Equação: pH = pKin + log [In-]/[HIn] HIn + H2O: H3O + + :In- Forma ácida (cor 1) Forma básica (cor 2) onde pKin é a chamada constante aparente do indicador. Com base na mudança de cor em função das concentrações das espécies ácida e básica (10/1 ou 1/10), a faixa de viragem da cor do indicador pode ser expressa segundo a Equação: pH = pKin ± 1 ou seja, a faixa de viragem do indicador corresponde a cerca de duas unidades de pH. O primeiro indicador de pH comercialmente vendido foi o tornassol (litmato de cálcio). Atualmente existem inúmeras substâncias usadas como indicadores ácido-base, com faixas de viragem variadas como mostrado no quadro 02. Quadro 02 – Faixa de viragem de alguns indicadores ácido-base 5.2.4 – Pigmentos naturais usados como indicadores ácido-base As antocianinas são pigmentos da classe dos flavonóides responsáveis, em diversos casos, pela coloração vermelha, azul ou violeta de diversos vegetais. Quando as antocianinas são extraídas do vegetal, apresentam-se sob a forma de sais de flavílio, normalmente glicosiladas, ou seja, ligadas a moléculas de açúcares tais como a -D-glicose, -D-galactose e a -D-rammose. Quando livres dos açúcares esses pigmentos recebem o nome de antocianidinas. amarelo de alizarina timolftaleína fenolftaleína o-cresolfenolftaleína m-nitrofenol vermelho de fenol azul de bromotimol alizarina púrpura de bromocresol negro de eriocromo vermelho de metila verde de bromocresol alaranjado de metila azul de bromofenol 2,4-dinitrofenol eritrosina b azul de timol vermelho de cresol cristal violeta amarelo de alizarina timolftaleína fenolftaleína o-cresolfenolftaleína m-nitrofenol vermelho de fenol azul de bromotimol alizarinapúrpura de bromocresol negro de eriocromo vermelho de metila verde de bromocresol alaranjado de metila azul de bromofenol 2,4-dinitrofenol eritrosina b azul de timol vermelho de cresol cristal violeta As antocianinas possuem a propriedade de mudar de coloração em função do pH do meio onde se encontram, assim, podem ser utilizadas como indicadores ácido-base naturais. Íon flavílio Obs: Cianidina (R1 = OH e R2 = H); Peonidina (R1 = OCH3 e R2 = H); Delfinidina (R1 = OH e R2 = OH); Petunidina (R1 = OCH3 e R2 = OH); Malvidina (R1 = OCH3 e R2 = OCH3); Pelargonidina (R1 = H e R2 = H); Quando se aumenta o pH de uma solução ácida contendo uma antocianidina, ocorrem os seguintes equilíbrios químicos envolvendo o íon flavílio: O OH OH OH R2 OH R1 + Estes equilíbrios estão na base das mudanças de coloração que ocorrem quando se varia o pH do meio onde se encontram extratos vegetais contendo antocianidinas. 5.3 – PROCEDIMENTO PRÁTICO a) Separar aproximadamente 10 g (20 mL opcionalmente) da matéria vegetal que será utilizada na obtenção do extrato vegetal (beterraba, casca de uva roxa, repolho roxo, feijão preto, hibisco, etc.) b) Triturar a matéria vegetal (quando possível) ou, opcionalmente, transformá-la em raspas. c) Extrair os corantes vegetais em um béquer, utilizando 30 mL de álcool etílico comercial ou água, agite com um bastão de vidro e deixe macerar durante 10 minutos. d) Filtrar o extrato, usando funil e papel de filtro, recolhendo o filtrado em um béquer. e) Tomar 03 tubos de ensaio e adicionar 3,0 mL de HCl 0,1 mol.L-1 ao primeiro tubo (meio ácido), 3,0 mL de água destilada ao segundo tubo (meio aproximadamente neutro) e 3,0 mL de NaOH 0,1 mol.L-1 ao terceiro tubo (meio básico). Identifique cada tubo usando um pincel marcador para vidro. f) Adicionar 10 gotas do extrato vegetal filtrado (indicador natural) em cada tubo de ensaio. g) Observe as mudanças ocorridas nos tubos com a adição do indicador. Anote os resultados. Confira com os outros grupos os resultados obtidos com os outros vegetais, anote. 5.4 - PÓS-LABORATÓRIO a) Explique como funciona um indicador ácido-base. b) Você conhece outros vegetais que poderiam apresentar concentrações elevadas de antocianinas? Pesquise. c) Faça uma tabela contendo o tipo de extrato vegetal utilizado (por todos os grupos!) e as colorações do extrato em meio ácido, próximo do neutro e básico ? d) Faça uma pesquisa (01 folha) sobre a utilização de corantes vegetais como indicadores de pH (não esqueça de indicar a fonte consultada). 5.5 – MATERIAIS E REAGENTES MATERIAIS REAGENTES Béqueres - 02 Ácido clorídrico 0,1 mol/ L Bastão de vidro Hidróxido de sódio 0,1 mol/L Pipetas graduadas de 5 mL - 03 Álcool comercial (etanol) Funil Água destilada Papel de filtro Matéria vegetal Suporte para funil Tubos de ensaio - 03 Pipetas de pasteur Ralador 5.6 – BIBLIOGRAFIA RAMOS, Luiz Antônio; LUPETTI, Karina Omuro; CAVALHEIRO, Éder T. Gomes; FATIBELLO-FILHO, Orlando. Utilização do Extrato Bruto de Frutos de Solanum nigrum L No Ensino de Química. Eclética Química. Vol. 25. 2000. GAMA, Michelle da Silva e AFONSO, Júlio Carlos. De Svante Arrhenius ao Peagâmetro Digital: 100 anos de Medida de Acidez. Química Nova. Vol. 30, N° 1. 2007.