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Conteudista: Prof. Me. Armando de Melo Servo Constante Revisão Textual: Maiara Stéfani Costa Brandão Objetivos da Unidade: Conhecer diferentes abordagens para o ensino de história no ensino fundamental; Conhecer possibilidades de trabalho com fontes primárias e discutir possibilidades de interdisciplinaridade. Material Teórico Material Complementar Referências Prática do Ensino de História no Ensino Fundamental Curadoria de Conteúdo – Para que Serve? Agora que você já conhece os conteúdos exigidos para cada um dos anos finais do ensino fundamental, vamos ver um pouco das possibilidades didáticas a serem trabalhadas. Você percebeu que a quantidade de temas dados para o trabalho do professor de história é, muitas vezes, extensa? Desse modo, qual o procedimento correto quanto ao trabalho com as habilidades? Será que o professor deve trabalhar todos os temas com o objetivo de “cumprir o conteúdo” ao final do ano? Respondendo às questões, devemos pensar que a preocupação em “cumprir os conteúdos” não deve ser uma preocupação per se. Por isso, o docente deve refletir sobre a curadoria de conteúdo, ou seja, pesquisa, escolha e tratamento do conteúdo a ser trabalhado com os alunos. Mas, para fazer tais escolhas, o professor deve ser capaz de acumular certo repertório e também ter acesso a fontes. Mais: deve saber procurar as fontes nos meios digitais, pois elas existem aos montes. Hoje, com o mundo altamente digitalizado, podemos lançar mão de uma série de materiais que antes eram muito difíceis ou até impossíveis de se acessar. Já pesquisou vídeos reais de combates da Primeira Guerra, por exemplo? A prática docente exige uma postura de constante estudo e pesquisa. Devemos, sim, escolher temas e conteúdos, mas tendo em mente que a BNCC pretende garantir os direitos de aprendizagem aos alunos. Em outras palavras, escolher não significa negligenciar os direitos de aprendizagem do aluno. No entanto, o professor deve evitar “correr” com o conteúdo sem levar em consideração o real aprendizado dos alunos. 1 / 3 Material Teórico Trabalhando com Fontes Vamos tomar como exemplo o trabalho com o conceito de tempo para o 6º Ano. A habilidade da BNCC que trata do tema é: (EF06HI01) Identificar diferentes formas de compreensão da noção de tempo e de periodização dos processos históricos (continuidades e rupturas). Vamos propor um trabalho para refletir sobre a percepção individual do tempo cronológico. Nesse processo de curadoria, há algumas técnicas que ajudam bastante na aplicação de atividades para diferentes habilidades. Como você pôde ver na unidade anterior, o trabalho com as fontes históricas é nevrálgico para o desenvolvimento das habilidades no aprendizado da Vídeo Curadoria Curadoria - Mario Sergio Cortella https://www.youtube.com/watch?v=7Sy9SrbLlKo disciplina. Vamos fazer uma análise das imagens. O trabalho com imagens como fontes é muito profícuo para desenvolver uma série de habilidades. Sobre este tipo de trabalho, a historiadora Romilda Costa Motta (2018) afirma: A autora citada traz um histórico sobre o uso de imagens como fontes históricas e, de fato, além de agregar valor à pesquisa histórica para além da história da arte, ainda integra um movimento que remonta à ideia original do Marc Bloch, vista na unidade anterior: a de que a história é a ciência do homem no tempo e não a ciência das sociedades com escrita como em outros tempos parecia ter ficado restrito o trabalho do historiador. Obviamente que, em sala de aula, as imagens, se bem trabalhadas, podem agregar muito valor. Voltando à habilidade EF06HI01 já mencionada, vamos ver a possibilidade de trabalhar a partir de imagens para que você se inspire em pensar em seus próprios materiais para suas aulas. Observe as duas primeiras imagens: - PAULINO et al., 2018, p. 93 “O ensino de História por meio do uso de imagens traz inegáveis vantagens em sala de aula. Uma delas é o fato de facilitar a comunicação e promover a imaginação, nos alunos, dos fatos e conteúdos tratados. Imagens quebram a série de leituras de textos que, por vezes, tornam-se maçantes ao aluno, que está bastante acostumado à interatividade, sons e movimentos encontrados no ambiente virtual. Ou seja, as fontes iconográficas transcendem barreiras que, por vezes, são colocadas entre a pesquisa realizada por acadêmicos e a forma de apresentá-las no ensino básico, por meio de documentos textuais.” Imagem 1 – Uma criança transportando um grande feixe de lenha Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: Fotografia de uma menina preta em pé em um chão de terra com um grande feixe de lenha amarrada às costas. Suas vestes na parte superior são um xadrez claro e uma saia azul. A menina segura a corda que prende o feixe às costas com as duas mãos e olha com sobrancelhas franzidas para seu lado esquerdo e expressão séria. Fim da descrição. Imagem 2 – Crianças brincando Fonte: Getty Images #ParaTodosVerem: Fotografia de crianças pulando sobre um irrigador de grama. Quatro crianças em fila, duas meninas e dois meninos. À frente, uma menina de cabelos curtos traja maiô laranja e está em cima do irrigador que solta água, com os braços abertos e olhos fechados sorrindo. Atrás dela, um menino, vestindo uma bermuda, levanta os braços para cima e sorri, seguido de uma menina com uma camisetinha regata e short azul-claros com detalhes em lista azul-escuro e vermelho e atrás um menino de bermuda azul olhando para o lado esquerdo. Fim da descrição. Vamos pensar sobre estas imagens, então? Elas trazem alguma sensação diferente a você? Indo por partes, vamos analisar uma a uma. A primeira imagem: trata-se de uma menina do Kenya transportando um grande feixe de lenha. A primeira percepção deve sempre se voltar ao “óbvio”. O que mostra a imagem? Qual a expressão da menina? A pessoa retratada aparenta ter consciência de que foi fotografada? Podemos tirar alguma informação da paisagem da foto? Agora vamos à segunda imagem. Trata-se de crianças brincando, descontraídas, em uma situação segura. Podemos repetir as mesmas questões anteriores. Agora, vamos voltar para a habilidade. O que podemos analisar em relação à percepção do tempo? Para qual criança o tempo passa “mais rápido”? Em outras palavras, em qual imagem o tempo parece “pesar” menos? A óbvia resposta é que na segunda imagem o tempo, para essas crianças, parece não ter importância. Elas apenas desfrutam o momento. Na primeira imagem, o tempo pesa, pois se trata de atividade pesada, enfadonha e, infelizmente, necessária. A percepção do tempo está ligada a nossas circunstâncias e nossa condição social. Perceba quantas possibilidades podemos explorar levando em consideração reflexões acerca do tempo, da cultura e das profundas desigualdades sociais. Perceba que até mesmo essa “leveza” momentânea é condicionada por uma série de fatores. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Leitura Where Children Sleep Conheça o excelente projeto Where children sleep (onde as crianças dormem) do fotógrafo James Mollison. Ele retrata as crianças e os locais em que elas dormem, seja um quarto ou não. Esse projeto dá inúmeras possibilidades didáticas para cada um dos anos finais do Ensino Fundamental, e mesmo do Ensino Médio. https://www.jamesmollison.com/where-children-sleep Por fim, vamos a uma terceira imagem. Desta vez, remontando a Revolução Industrial: Clique no botão para visualizar. ACESSE Podemos acrescentar esta imagem às discussões propostas para as primeiras imagens? Com certeza. Mesmo sendo a ilustração de um livro inglês de 1895, o uso da imagem a partir de seu tema pode ser muito interessante para compreender diferentes contextos e para identificar mudanças e permanências. Note: não há limite para o uso de imagens. Estas não ficam restritas às fotografias, podendo utilizar diferentes tipos de imagem, como quadros, pinturas rupestres... Imagem A imagem é um desenho em preto e branco mostrando o interior de uma fábrica de velas do século XIX. À frente, um menino trajando blusa, calça e um quepe insere a cera da vela num pequeno molde. Ao seu lado, um homem, trajando uma blusa clara, uma calça escura e avental, derrama cera líquida de uma jarra em um molde. Ao fundo percebe-se sete trabalhadores sentados trabalhando com a matéria- prima. A sala tem quatro janelas, sendo três ao fundo e uma na lateral, além de roldanas no teto e uma grande roda no canto esquerdo. https://media.gettyimages.com/id/175957298/pt/vetorial/encher-noite-luz-moldes-em-uma-f%C3%A1brica-de-vela-vitoriano.jpg?s=2048x2048&w=gi&k=20&c=Okm9R21zMto_ylrqM_kiVP0exJuYDpg6dtD04XxdnXk= Perceba que esta imagem também contempla um conteúdo do 8º Ano, a Revolução Industrial. A habilidade da BNCC (EF08HI03) Analisar os impactos da Revolução Industrial na produção e circulação de povos, produtos e culturas, pode ser trabalhada a partir do conteúdo da imagem 3. Pense que esta imagem pode servir de base para uma reflexão sobre o tempo, tal qual fizemos com as imagens 1 e 2. Mas podemos agregar o contexto da Revolução Industrial e ilustrar que determinadas questões persistem até os dias de hoje. Muito raciocínio histórico de qualidade pode sair destas atividades. Alguns objetivos dos trabalhos com imagem podem ser, nas sugestões da historiadora Romilda Costa (2018): Mas eu gostaria de destacar duas que, para mim, são das mais enriquecedoras: A questão da percepção dos detalhes, das leituras sobre as posturas e estereótipos presentes, pode render muito aprendizado sobre temas que vão até além da habilidade mais imediata Identificar as fontes históricas iconográficas; Analisar pinturas e fotografias; Relacionar imagens à escrita da história; Avançar na prática da escrita; Desenvolver a oralidade (PAULINO et al., 2018, p. 94) . Aprender a “treinar o olhar” para observar uma imagem – iluminação, cores, personagens que ocupam os planos central e secundário; Tecer reflexões acerca da forma como determinados segmentos sociais são representados (alguns, de forma idealizada, heroicizada e, outros, muitas vezes, de forma estereotipada) ou a ausência deles em imagens relacionadas a alguns períodos históricos (PAULINO et al., 2018, p. 93). tratada na aula. Mas as imagens substituem as fontes escritas? Não. As fontes escritas também são fundamentais e um trabalho articulando tipos de fontes diferentes pode ser muito interessante. Veja, primeiro, o que diz o historiador Carlos Bacelar (2005) que, com muita prática na pesquisa em arquivos, comenta sobre esse tipo de pesquisa: Este trecho diz respeito à pesquisa do historiador no arquivo. Porém, como o conhecimento histórico da sala de aula também requer o trabalho com fontes, estas reflexões também nos servem. Aliás, trata-se de um dos procedimentos de trabalho propostos na própria BNCC para o desenvolvimento do conhecimento histórico na escola. Vejamos as habilidades a seguir: - PINSKY et al., 2005, p. 24 (EF07HI15) Discutir o conceito de escravidão moderna e suas distinções em relação ao escravismo antigo e à servidão medieval; (EF08HI19) Formular questionamentos sobre o legado da escravidão nas Américas, com base na seleção e consulta de fontes de diferentes naturezas. “O abnegado historiador encanta-se ao ler os testemunhos de pessoas do passado, ao perceber seus pontos de vista, seus sofrimentos, suas lutas cotidianas. Com o passar dos dias, ganha-se familiaridade, ou mesmo certa intimidade, com escrivães ou personagens que se repetem nos papeis. Sente-se o peso das restrições da sociedade, ou o peso da miséria, ou a má sorte de alguém, e deseja-se ler mais documentos para acompanhar aquela história de vida, o seu desenrolar.” Trata-se de duas habilidades que trabalham a questão da escravidão africana moderna e contemporânea. Sem dúvida, um dos temas mais prementes da história do Brasil, dada a sua longevidade histórica de cerca de 300 anos e da pungência numérica. Milhões de africanos foram forçadamente deslocados para o Brasil e, obviamente, tiveram um peso enorme na nossa composição cultural e étnica. Além disso, trata-se de uma questão que deixou sérios legados à sociedade brasileira até os dias de hoje. Você pode perguntar: há fontes disponíveis para trabalhar este tema? E a resposta a essa questão é contundentemente positiva. Há muitas fontes. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Vamos tomar como exemplo um tipo de fonte dominante na segunda metade do século XIX: as escrituras de compras e vendas de escravos. Muitas cidades têm esses documentos em arquivos, Leitura SlavesVoyages Para conhecer os caminhos e números dos tráficos de escravos pelo mundo, acesse o excelente site colaborativo que conta com ajuda de pesquisadores do mundo todo. Nele, você encontrará mapas, documentos e artigos. https://www.slavevoyages.org/ muitas vezes abandonados e não catalogados, mas, graças a historiadores que estão sempre nos arquivos, algumas ficam disponíveis. Veja este exemplo: Neste documento, pode-se ver uma modalidade privada de venda de uma cativa. O historiador que coletou o documento acabou não indicando os impostos que estas escrituras costumavam trazer. Mas, mesmo assim, podemos entender alguns mecanismos de negociação de cativos - SCHEFFER, 2013, n. p. “Saibam quantos esta virem que no ano de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e nove, aos quatro de março, nesta Cidade de Campinas, e cartório do Tabelião Pontes, compareceram as partes entre si ajustadas e contratadas, como vendedora Dona Brandina Augusta de Moraes, e como compradora, Dona Anna Rita Clara Maia, solteiras, maiores, aquela residente em Pirassununga, e esta nesta cidade, reconhecidas pelas próprias do mesmo Tabelião e de mim Escrevente ajudante, de que damos fé, e apresentaram meia sisa sob número 310, com data de hoje da Coletoria desta cidade, na taxa de quarenta mil réis, pela transmissão e aquisição da escrava Bárbara, objeto desta escritura (…) E pela vendedora foi dito perante as testemunhas abaixo nomeadas e assinadas que era senhora e legítima possuidora de uma escrava de nome Bárbara, preta, de 22 anos, solteira, natural de Pirassununga, boa aptidão, do serviço doméstico, matriculada na Estação Fiscal da Vila de Pirassununga, desta Província, em 30 de setembro de 1872, sob o número de ordem na matrícula geral 1509 e 14 da relação, a qual escrava vende, como de fato vendeu, a compradora, D. Anna Rita Clara Maia, pela quantia de um conto e seiscentos mil réis, à vista que recebeu e lhe dá plena e geral quitação (…).” mesmo em época de declínio da mão de obra escrava. Esta negociação foi feita em período de abolicionismo indenizado, pois já havia a chamada lei do ventre-livre, de 1871. Junto a esta fonte poderíamos juntar o próprio texto da Lei do ventre-livre, ou excertos, uma vez que a lei é muito grande, e trabalhar o contexto da história da escravidão em SP na segunda metade do século XIX, época de expansão da produção cafeeira. Quantas questões não podem surgir daí, ainda mais quando trabalhamos fontes de diferentes tipos? Junto a esta fonte poderíamos trabalhar fontes que dizem respeito ao cotidiano da vida escrava a partir, por exemplo, de imagens de quadros e gravuras de Debret (1768-1848) ou do Rugendas (1802- 1858). Para finalizar estas sugestões de trabalho e procedimentos, não podemos deixar de observar as fontes materiais ou arqueológicas. Tendo em mente que todo objeto ou artefato utilizado pelo homem pode ser uma fonte, nossas possibilidades aumentam consideravelmente. Principalmente porque não precisamos estar em contato direto com a fonte material para desenvolver um trabalho com elas. Ao tratar de imagens, já estamos acessando a cultura material do passado. É óbvio que toda essa discussão sobre o uso de diferentes fontes em sala de aula exige um conhecimento das fontes em si. No entanto, o que você, futuro docente, deve ter em mente é que você deve tentar garantir aos alunos o acesso a diferentes fontes para que ele consiga perceber diferentes pontos de vista, conhecer uma realidade plural e conseguir raciocinar cronologicamente. Vamos pensar sobre o conteúdo proposto pela BNCC para o 9º ano. A primeira unidade temática é O nascimento da república no Brasil e os processos históricos até a metade do século XX. A segunda habilidade trabalhada é: Perceba que a BNCC se preocupa ainda com o local e o regional mesmo nessa etapa. Não se trata de trabalhar uma história do Brasil genérica apenas com as questões nacionais e a conjuntura (EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954. internacional. Trata-se de compreender as questões locais face a contextos mais amplos. Nesse sentido, construir um acervo próprio de informações, documentos e literatura especializada sobre a região em que trabalha, é fundamental para garantir tal habilidade. Seguindo na mesma temática, há as habilidades: Tais habilidades contemplam não apenas as leis que determinam o trabalho com as populações africanas e afrodescendentes, como a ideia de se trabalhar também outras perspectivas e narrativas da história. Trabalhando estas habilidades estamos também tornando mais plurais as vozes de diferentes atores históricos. Essa questão também é necessária para criar outras imagens históricas que a do negro escravizado como estereótipo. Música, arte, esporte, ciência... em todas as áreas há importantes contribuições de afrodescendentes, e é papel do docente também tornar acessível aos alunos tais informações e estimular pesquisas na área. O Aluno como Protagonista Cursando uma licenciatura, você já deve ter tido contato com as chamadas metodologias ativas. Em linhas gerais, tais metodologias servem para colocar em prática as didáticas que tenham os alunos como protagonistas do processo ensino-aprendizagem. O aluno se torna um agente ativo do processo ensino-aprendizagem e, espera-se, mais comprometido, uma vez que ele desenvolverá maior autonomia e poderá interferir em diferentes etapas do desenvolvimento dos trabalhos. O ensino de História pode se beneficiar dessas metodologias, uma vez que os acervos digitais são muito ricos, de modo que os alunos podem entrar em contato com uma gama muito grande de fontes. Leia esta perspectiva histórica sobre as metodologias ativas: (EF09HI03) Identificar os mecanismos de inserção dos negros na sociedade brasileira pós-abolição e avaliar os seus resultados; (EF09HI04) Discutir a importância da participação da população negra na formação econômica, política e social do Brasil. A problematização é um dos pilares das metodologias ativas. A partir dos problemas, é possível orientar os estudos e pesquisas que os alunos desenvolverão estudando diferentes temas. Se a problematização é um questionamento, e a própria BNCC exige a problematização no ensino de história como um dos elementos básicos da disciplina, vamos imaginar uma questão. Partindo da habilidade EF09HI04, podemos perguntar: como foi o processo de urbanização/modernização da região em que vivemos no século XX? Pensando os alunos como protagonistas, o docente deve orientar, bem como oferecer as bases cognitivas a respeito do assunto. Lembre-se que o aluno não é historiador e, portanto, não conhece as técnicas de investigação histórica. Um engano muito comum que se comete ao tentar trabalhar com metodologias ativas é atribuir aos alunos um dado tema e aguardar suas pesquisas para posterior avaliação. Tal abordagem é contraproducente, uma vez que deixa o aluno à deriva em um oceano de informações e o trabalho acaba sendo reduzido a uma coleta de informações feita em uma pesquisa sumária no Google, por exemplo. Além disso, esta abordagem também incorre no erro de minimizar o trabalho do professor, peça fundamental para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem. - PAULINO et al., 2018, p. 55-56 “As metodologias ativas de ensino não são exatamente uma novidade. Filósofos da Antiguidade, como Sócrates e Platão, adotavam uma postura indagadora para com seus alunos, que participavam ativamente do processo de aprendizagem. Mais de dois mil anos mais tarde, Dewey (1859-1952), filósofo, psicólogo e pedagogo norte-americano, grande influenciador da Nova Escola, formulou uma pedagogia cuja aprendizagem deveria ocorrer pela ação, ou seja, o aluno deve aprender fazendo. Com base nessa visão, muitos outros pensadores, de diversas áreas, foram desenvolvendo ideias de ensino e aprendizagem centradas na ação do aluno.” O docente deve, sim, explicar, abordar teoricamente da forma mais clara possível, levar informações e nortear as pesquisas, inclusive sugerindo fontes de pesquisa acessíveis e menos óbvias. Imprensa local; acervos digitais como do arquivo do estado de SP; CPDOC-FGV; acervo do museu da pessoa; memorial do imigrante, dentre muitas outras possibilidades. Voltando à questão colocada anteriormente, como trabalhar com o processo de urbanização que remonta, em muitos locais, ao período da República Velha (1889-1930), ou mesmo à chamada Era Vargas (1930-1945)? Dados estatísticos proporcionam uma leitura muito interessante da realidade. O site do IBGE oferece muito subsídio nesse sentido. Mas, como não se deve utilizar apenas um tipo de fonte, por que não procurar fotografias dos mesmos locais em diferentes momentos? Da mesma forma, podemos entrevistar descendentes diretos de imigrantes? Para além das fontes, temos que ter em mente que tal trabalho não pode preterir questões relacionadas a processos de exclusão social que acabam permeando muitos desses desenvolvimentos urbanos. É importante questionar: todo desenvolvimento urbano leva a uma melhora na qualidade de vida? Quais problemas decorrem da urbanização de uma determinada região? É claro que para responder a essas questões devemos estabelecer sempre o tempo a que a questão se refere. De qual período, ano, década estamos falando? Sem discutir a cronologia dos acontecimentos não é possível ajudar o aluno a aprender a contextualizar, o que é uma das bases do raciocínio histórico. Sobre a questão da aprendizagem, a partir de problemas para Dewey, Robert Westbrock (2010) afirmou: “Em vez de impor, dessa maneira, a matéria de estudos à criança (ou simplesmente deixar que elas as construam por si só, como aconselhavam os românticos), Dewey pedia aos educadores que integrassem a Psicologia ao programa de estudos, construindo um ambiente em que as atividades imediatas dos alunos se confrontem com situações problemáticas que exijam conhecimentos Alguém poderia questionar: mas uma realidade longínqua no tempo diz respeito ao cotidiano do aluno? Se pensarmos nas permanências, obviamente, é possível encontrar elementos do passado na vida contemporânea. Mas, para além da questão das permanências, as inquietações e questionamentos, ainda que motivados inicialmente por mera curiosidade, podem levar o aluno, ao final do processo, a compreender muito da sua própria vida. Afinal, uma pergunta sincera de um aluno sobre um passado distante não é legítima? Questões históricas que começam pela curiosidade devem ser estimuladas, pois o processo de construção da resposta agrega muito valor intelectual. Aprende-se a interpretar fontes, melhorando a capacidade de interpretação textual; alimenta a vontade de pesquisar e, sendo bem-sucedido, estimula a buscar mais respostas sobre outras questões. Pense, futuro docente, que manter a chama da curiosidade acesa é um dos grandes desafios. Além disso, é preciso romper com a ideia de que as respostas “estão a um clique de distância”. Isso é uma ilusão. Muitas vezes, o que está a um clique de distância é apenas alguma fake news sedutora e de fácil apreensão. Por isso, se espalham tão facilmente. Como afirma o historiador Jaime Pinsky (2021), no livro Novos Combates pela História: - WESTBROCK; TEIXEIRA, 2010, p. 18 teóricos e práticos da esfera científica, históricos e artísticos, para resolvê-las. Na realidade, o programa de estudos está aí para lembrar ao educador:” “A História pode e precisa ser defendida. Especialmente agora, quando as mentiras, que sempre existiram, ganham uma dimensão diferente, como fake News vomitadas por atacado, de forma organizada. Querem mudar a História utilizando a técnica do negacionismo, recusando-se a admitir fatos indiscutíveis, como o massacre dos armênios pelos turcos, ou o holocausto, que dizimou a Lembre-se que conhecimento e opinião são coisas distintas. Nos últimos anos, ficou muito comum estimular os alunos a darem suas opiniões acerca de diferentes e complexos temas. Mas é importante termos em mente que o conhecimento deve vir antes. Sendo assim, uma das missões do docente de história é ajudar o aluno a compreender que mentiras convenientes e fáceis podem ser mais sedutoras, mas são meras ilusões. Colocar os alunos na busca sincera por conhecimento é desafiador, mas é extremamente necessário. E, lembre-se, não é possível levar os alunos a trilhar esse caminho se nós mesmos não estivermos trilhando os mesmos bosques do saber. - PINSKY, 2021, p. 10-11 cultura secular do judaísmo europeu. Negacionismo que esquece até da milenar exploração dos camponeses egípcios, sugerindo soluções interplanetárias (deuses astronautas e outras bobagens do gênero) para o problema de transporte de pedras para a construção de monumentos erguidos ao custo da morte de milhares de servos. Negacionismo que tenta apagar da história a repressão violenta e criminosa de regimes autoritários de todas as bandeiras, fascistas e stalinistas, de direita e de esquerda.” Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Brasiliana Iconográfica Excelente site com obras de arte do Brasil de diferentes períodos históricos Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Brasiliana Fotográfica Site de coleções de fotografias dos séculos XIX e XX. Há coleções de fotos de escravos, por exemplo. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE 2 / 3 Material Complementar https://www.brasilianaiconografica.art.br/ https://brasilianafotografica.bn.gov.br/ Vídeos BNCC: como Ficam as Disciplinas de História e Geografia Permanências e Ausências no Ensino de História: Tempos, Espaços e Sujeitos BNCC: como �cam as disciplinas de História e Geogra�a | Conexão Circe Bittencourt | Permanências e ausências no ensino de Históri… https://www.youtube.com/watch?v=a0z0V2ECFdg https://www.youtube.com/watch?v=hWLrVMzlrAs SCHEFFER, R. C. Comércio de cativos através das fontes cartoriais: possibilidades e seus limites. XXVII Simpósio Nacional de História(ANPUH), 2013. Disponível em: < http: <//www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364739513_ARQUIVO_ArtigoRafaeldaCunha Sche�er.pdf> PAULINO, C. V. et al. Perspectivas do ensino de história: teorias, metodologias e desafios para o século XXI. Curitiba: Intersaberes, 2018. PINSKY, C. B. et al. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. (e-book) PINSKY, J. et al. Novos combates pela história. São Paulo: Contexto, 2021. (e-book) WESTBROCK, R. B.; TEIXEIRA, A. John Dewey. Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores). 3 / 3 Referências
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