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ARTRITE REUMATOIDE - é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida marcada por uma poliartrite periférica simétrica. - Ela é a forma mais comum de artrite inflamatória crônica e frequentemente leva à lesão articular e à incapacidade física CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS - aumenta entre os 25 e 55 anos; - os sintomas resultam da inflamação das articulações, dos tendões e das bursas; queixas de rigidez matinal nas articulações que dura mais de 1 hora e que melhora com atividade física; - inicialmente há envolvimento das articulações das mãos e dos pés. Monoarticular, oligoarticular (maior igual a 4 articulações) ou poliarticular (maior igual a 5); - Alguns pacientes com artrite inflamatória irão se apresentar com poucas articulações afetadas para serem diagnosticados como AR – a chamada artrite inflamatória indiferenciada. - Aqueles com artrite indiferenciada que serão mais tarde diagnosticados como AR apresentam um número maior de articulações inchadas e dolorosas, teste positivo para o fator reumatoide (FR) sérico ou anticorpos anti-CCP e maior tendência à incapacidade física. - Uma vez estabelecido o processo de doença da AR, os punhos e as articulações metacarpofalângicas (MCFs) e interfalângicas proximais (IFPs) apresentam-se como as articulações mais frequentemente envolvidas. - A tenosinovite do tendão flexor é uma característica frequente da AR e leva a uma redução na amplitude de movimento e na força de preensão, e a dedos “em gatilho”. A destruição progressiva das articulações e dos tecidos moles leva a deformidades crônicas irreversíveis. Constitucionais: perda de peso, febre, fadiga, mal-estar, depressão e, nos casos mais severos, caquexia; eles em geral refletem um alto grau de inflamação e podem até preceder o aparecimento de sintomas articulares. Em geral, a presença de uma febre > 38,3ºC, a qualquer momento durante o curso clínico, deverá aumentar a suspeita de vasculite sistêmica ou infecção. Nódulos: Quando palpáveis, os nódulos em geral são firmes, não são dolorosas e são aderentes ao periósteo, aos tendões ou às bursas, desenvolvendo-se em áreas do esqueleto sujeitas a trauma repetido ou irritação, como antebraço, proeminências sacrais e tendão de Aquiles. Eles também podem ocorrer nos pulmões, na pleura, no pericárdio e no peritônio. Os nódulos são benignos, embora possam estar associados a infecção, ulceração e gangrena. Pulmonares: Pleurite, pode produzir dor torácica pleurítica e dispneia, assim como atrito e derrame pleurais. Pode haver presença de nódulos. Cardíacas: Pericárdio é o mais envolvido, pode haver insuficiência mitral. Vasculite: Os sinais cutâneos variam e incluem petéquias, púrpura, infartos digitais, gangrena, livedo reticular e, nos casos mais graves, ulcerações dolorosas das extremidades inferiores. Hematológicas: anemia normocítica normocrômica. O grau de anemia tem relação direta com o grau de inflamação, correlacionando-se com os níveis séricos de proteína C reativa (PCR) e com a velocidade de hemossedimentação (VHS). A contagem de plaquetas também pode estar elevada na AR, como um reagente de fase aguda. Doença cardiovascular, osteoporose e hipoandrogenismo contribuem para morbidade e mortalidade. FATORES DE RISCO - A probabilidade de um parente de primeiro grau de um paciente compartilhar o diagnóstico de AR é 2 a 10 vezes maior do que na população geral. - o tabagismo confere um risco relativo de 1,5 a 3,5 para o desenvolvimento da AR. Em particular, mulheres que fumam cigarros apresentam um risco quase 2,5 vezes maior para AR, um risco que persiste mesmo até 15 anos após o abandono do hábito de fumar. PATOLOGIA - A AR afeta o tecido sinovial e a cartilagem e o osso envolvidos. A membrana sinovial, que cobre a maioria das superfícies articulares, bainhas tendinosas e bursas, normalmente é uma fina camada de tecido conectivo. Nas articulações, ela recobre o osso e a cartilagem, ligando as superfícies ósseas opostas e se inserindo nas regiões periósteas próximas à cartilagem articular. - Ela consiste primariamente de dois tipos celulares – sinoviócitos do tipo A (derivados de macrófagos) e sinoviócitos do tipo B (derivados de fibroblastos). Os fibroblastos sinoviais são os mais abundantes e produzem os componentes estruturais das articulações, incluindo colágeno, fibronectina e laminina, assim como outros constituintes extracelulares da matriz sinovial. A camada subjacente é constituída de vasos sanguíneos e uma esparsa população de células mononucleares dentro de uma frouxa rede de tecido conectivo. O fluido sinovial, um ultrafiltrado do sangue, difunde-se pelo tecido subsinovial através da membrana sinovial para o interior da cavidade articular. Seus principais constituintes são hialuronano e lubricina. O hialuronano é um glicosaminoglicano que contribui para a natureza viscosa do fluido sinovial que, em conjunto com a lubricina, lubrifica a superfície da cartilagem articular. - As características patológicas da AR são a inflamação e a proliferação sinovial, as erosões ósseas focais e o afinamento da cartilagem articular. A inflamação crônica leva à hiperplasia da camada sinovial e à formação do pannus, uma membrana celular espessada contendo sinoviócitos semelhantes ao fibroblasto e tecido fibrovascular granuloso-reativo que invade a cartilagem e o osso adjacentes. O infiltrado inflamatório é constituído de nada menos que seis tipos celulares: células T, células B, plasmócitos, células dendríticas, mastócitos e, em menor grau, granulócitos. As células T compreendem 30 a 50% do infiltrado, com as outras células representando o restante. - A lesão estrutural à cartilagem mineralizada e ao osso subcondral é mediada pelo osteoclasto. Os osteoclastos são células gigantes multinucleadas que podem ser identificadas por sua expressão de CD68, fosfatase ácida resistente ao tartrato, catepsina K e receptor de calcitonina. Eles surgem na interface pannus-osso onde acabam formando lacunas de reabsorção. Essas lesões localizam-se onde a membrana sinovial se insere na superfície do periósteo, nas margens de ossos próximos à borda da cartilagem articular e nos sítios de inserção de ligamentos e bainhas tendinosas. Esse processo explica, muito provavelmente, por que as erosões ósseas normalmente se desenvolvem nos sítios radiais das juntas MCF justapostas aos sítios de inserção dos tendões, ligamentos colaterais e membrana sinovial. PATOGÊNESE - Os mecanismos patogênicos da inflamação sinovial são provavelmente resultantes de uma complexa interação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos que desregulam o sistema imune e levam a uma quebra da autotolerância. - Predisposição genética em conjunto com fatores ambientais pode levar ao desenvolvimento de artrite reumatoide (AR), com subsequente ativação da célula T sinovial. As células T CD4+ são ativadas pelas células apresentadoras de antígeno (APCs) por interações entre o receptor da célula T e o complexo de histocompatibilidade principal de classe II (MHC)-antígeno peptídico (sinal 1) com coestimulação pela via de CD28-CD80/86, assim como por outras vias (sinal 2). Em teoria, ligantes que interagem com o receptor semelhante ao Toll (TLRs) podem posteriormente estimular a ativação das APCs no interior das articulações. Células T sinoviais CD4+ diferenciam-se em células TH1 e TH17, cada uma com seu perfil distinto de citocinas. As células TH CD4+, por sua vez, ativam as células B, algumas das quais são destinadas a se diferenciar em plasmócitos produtores de anticorpos. Complexos imunes, possivelmente compreendidos por fatores reumatoides (FRs) e peptídeos citrulinados anticíclicos (CCp), podem se formar no interior das articulações, ativando a via do complemento e amplificando a inflamação. As células T efetoras estimulam os macrófagos (M) e os fibroblastos sinoviais (FS) a secretar mediadores pró-inflamatórios, entre os quais está o fator de necrose tumoral α (TNF-α). O TNF-α regula positivamente as moléculas de adesão das células endoteliais, promovendo o influxo de leucócitos para a articulação.Ele também estimula a produção de outros mediadores inflamatórios, como a interleucina 1 (IL-1), a IL-6 e o fator estimulador das colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF, de granulocyte-macrophage colony-stimulating factor). O TNF-α possui uma função criticamente importante na regulação do equilíbrio entre a destruição e a formação óssea. Ele regula positivamente a expressão de dickkopf-1 (DKK-1), que então poderá internalizar os receptores Wnt dos precursores dos osteoblastos. O Wnt é um mediador solúvel que promove a osteoblastogênese e a formação óssea. Na AR, a formação óssea é inibida pela via do Wnt, provavelmente devido à ação de níveis elevados de DKK-1. Além de inibir a formação óssea, o TNF-α estimula a osteoclastogênese. - A patogênese da AR tem como base o conceito de que as células T autorreativas desencadeiam a resposta inflamatória crônica. Em teoria, as células T autorreativas podem surgir na AR a partir da seleção central (tímica) anormal devido a defeitos no reparo do DNA levando a um desequilíbrio entre a vida e a morte da célula T, ou a defeitos no aparato de sinalização celular reduzindo o limiar para a ativação da célula T. Da mesma forma, a seleção anormal do repertório de células T na periferia poderia levar à quebra da tolerância da célula T. - Na articulação reumatoide, por mecanismos de contato célula-a-célula e liberação de mediadores solúveis, as células T ativadas estimulam sinoviócitos derivados de macrófagos e fibroblastos a produzir mediadores pró-inflamatórios e proteases que causam a resposta inflamatória sinovial e destroem a cartilagem e o osso. A ativação da célula T CD4+ é dependente de dois sinais: (1) ligação do receptor de célula T ao complexo peptídeo-MHC nas células apresentadoras de antígeno, e (2) ligação de CD28 ao CD80/86 nas células apresentadoras de antígeno. As células T CD4+ também auxiliam as células B, que, por sua vez, produzem anticorpos que podem promover a posterior inflamação da articulação. O modelo prévio, focado na célula T, para a patogênese da AR teve como base um paradigma de TH1, que veio de estudos indicando que as células T auxiliares (TH) CD4+ diferenciam-se em subpopulações TH1 e TH2, cada uma com perfis distintos para a produção de citocinas - Sob ativação, as células TH17 secretam uma variedade de mediadores próinflamatórios como IL-17, IL-21, IL-22, TNF-α, IL-26, IL-6 e o fator estimulador das colônias de granulócitos e macrófagos (GM-CSF). Evidências substanciais existem atualmente a partir de modelos animais e humanos de que a IL-17 desempenha um importante papel, não apenas na promoção da inflamação articular, como também na destruição da cartilagem e do osso subcondral. - As células B ativadas também são importantes na resposta inflamatória crônica. As células B dão origem aos plasmócitos, que, por sua vez, produzem anticorpos, incluindo FR e anticorpos anti-CCP. Os FRs podem formar grandes complexos imunes no interior da articulação, que contribuem para o processo patogênico fixando complemento e promovendo a liberação de quimiocinas pró-inflamatórias e quimiotáticas. - A AR em geral é considerada como uma doença dirigida pelo macrófago, já que esse tipo celular é a fonte predominante de citocinas pró-inflamatórias no interior da articulação. As citocinas pró-inflamatórias importantes liberadas pelos macrófagos sinoviais incluem TNF-α, IL-1, IL-6, IL-12, IL-15, IL-18 e IL-23. Os fibroblastos sinoviais, outro tipo celular importante nesse microambiente, produz as citocinas IL-1 e IL-6, assim como TNF-α. Esta última é uma citocina essencial na patobiologia da inflamação sinovial. Ela regula positivamente as moléculas de adesão nas células endoteliais, promovendo o influxo de leucócitos para o microambiente sinovial, ativa os fibroblastos sinoviais, estimula a angiogênese, promove as vias sensibilizantes do receptor de dor e modula a osteoclastogênese. Os fibroblastos secretam metaloproteinases da matriz (MMPs, de matrix metalloproteinases), assim como outras proteases que são as principais responsáveis pela degradação da cartilagem articular. - O aumento da perda óssea é apenas parte da história da AR, já que a redução da formação óssea desempenha um papel crucial no remodelamento do osso nos sítios de inflamação. Evidências recentes mostram que a inflamação suprime a formação óssea. A citocina pró-inflamatória TNF-α desempenha um importante papel na supressão ativa da formação do osso, aumentando a expressão de dickkopf-1 (DKK-1). DKK-1 é um importante inibidor da via de Wnt, que age promovendo a diferenciação do osteoblasto e a formação do osso. LABORATORIAIS - marcadores inflamatórios inespecíficos elevados como a VHS e a PCR. - A detecção de FR e de anticorpos anti-CCP no soro é importante na diferenciação da AR de outras doenças poliarticulares, embora o FR não apresente especificidade diagnóstica e possa ser encontrado em associação com outras doenças inflamatórias nas quais a artrite faça parte das manifestações clínicas. - FR IgM, 75 a 80% dos pctes com AR, também encontrado no LES. Se negativo não exclui a presença de AR. - A presença de anticorpos séricos anti-CCP tem aproximadamente a mesma sensibilidade do FR sérico para o diagnóstico de AR. Entretanto, sua especificidade diagnóstica se aproxima de 95%, de modo que um teste positivo para os anticorpos anti-CCP no contexto de uma artrite inflamatória precoce é útil para distinguir a AR de outras formas de artrite. - análise do fluido sinovial: reflete estado inflamatório. Oscilam entre 5.000 e 50.000 leucócitos/µL comparados com 2.000 leucócitos/µL em uma condição não inflamatória como a osteoartrite. O principal tipo celular do fluido sinovial é o neutrófilo. - O raio X simples é a modalidade mais comum de avaliação por imagem, porém é limitado à visualização das estruturas ósseas e a inferências a respeito do estado da cartilagem articular, com base no nível de estreitamento do espaço articular. - As técnicas de RM e ultrassonografia oferecem o valor adicional para detecção de alterações nos tecidos moles, como a sinovite, a tenosinovite e derrames, bem como maior sensibilidade para identificar anormalidades ósseas. As radiografias simples normalmente são utilizadas na prática clínica com o propósito de diagnosticar e monitorar as articulações afetadas. CURSO CLÍNICO É importante saber que cerca de 10% dos pacientes com artrite inflamatória, que se encaixam nos critérios de classificação da ACR para AR, irão evoluir para remissão espontânea em seis meses (em particular os soronegativos). Entretanto, a grande maioria dos pacientes irá apresentar um padrão de atividade da doença persistente e progressivo, com períodos de maior e menor intensidade ao longo do tempo. Uma minoria dos pacientes irá apresentar ataques explosivos intermitentes e recorrentes de artrite inflamatória permeados por períodos de doença quiescente. Por fim, uma forma agressiva de AR pode ocorrer em uns poucos desafortunados com progressão inexorável de doença articular erosiva severa, embora esse curso altamente destrutivo seja menos comum na era moderna de tratamentos biológicos. TRATAMENTO Eles incluem (1) a emergência do metotrexato como fármaco antirreumático modificador da doença (DMARD, de disease-modifying antirheumatic drug) de primeira escolha para o tratamento da AR precoce; (2) o desenvolvimento de novos agentes biológicos altamente eficazes que podem ser usados isoladamente ou em combinação com o metotrexato, e (3) a superioridade comprovada da combinação de regimes de DMARDs sobre o uso do metotrexato isolado. As medicações usadas para o tratamento da AR podem ser divididas em amplas categorias: fármacos antiinflamatórios não esteroides (AINEs); glicocorticoides, como a prednisona e a metilprednisolona; DMARDs convencionais e DMARDs biológicos. - Os AINEs foram considerados como o centro de todas as outras terapias da AR, porém atualmente são considerados como terapia adjuvante para o controle dos sintomas não controlados por outras medidas. - Glicocorticoidespodem ser administrados em doses baixas a moderadas até alcançar o controle da doença antes da terapia eficiente com DMARD (semanas ou meses). - FÁRMACOS ANTIRREUMÁTICOS MODIFICADORES DA DOENÇA Os DMARDs são assim chamados devido à sua habilidade em retardar ou impedir a progressão estrutural da AR. Os DMARDs convencionais incluem a hidroxicloroquina, a sulfasalazina, o metotrexato e a leflunomida; eles exibem um atraso no início de suas atividades de cerca de 6 a 12 semanas. O metotrexato é o DMARD de escolha para o tratamento da AR e é o fármaco âncora para a maior parte das terapias de combinação
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