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Tema: Misoginia e retrocessos na sociedade brasileira. Pontuação: 42,5. Escultora social Em “O Conto da Aia”, a estadunidense Margaret Atwood desenha uma sociedade distópica cuja estrutura política dominada por homens delimita um único destino às mulheres: a procriação. Com personagens vítimas das normas vigentes, Atwood tece uma crítica à misoginia contemporânea, que, presente no corpo social brasileiro como herança da colonização europeia, submete corpos femininos ao mito da beleza e restringe a participação política de mulheres. Em primeira análise, deve-se entender a misoginia como um projeto sociopolítico que contola corpos femininos, principalmente através do mito da beleza, teorizado por Naomi Wolf. Nesse sentido, o valor da mulher é atribuído pela sua aparência, em uma escala cuja pontuação máxima atende aos ideais “bela, recatada e do lar”. Essa noção é introduzida, por exemplo, através de revistas direcionadas ao público feminino, que prometem e exaltam corpos inseridos nos padrões midiáticos. Sob essa ótica, as exigências do mito da beleza encontram-se no tecido social tanto pelo objetivo econômico (lucrar com gastos de mulheres em suas aparências) quando político (enfraquecer a força política feminina). Nota-se, desse modo, como a validação de mulheres a partir da sua “beleza” resulta no enfraqquecimento e submissão desse grupo. Outrossim, ressalta-se como a misoginia restringe a participação feminina no âmbito político. Nessa perspectiva, a presença feminina nos espaços de poder, historicamente compostos por homens, é desvalorizada em prol da manutenção de uma sociedade estruturalmente patriarcal. Por exemplo, o feminicídio, o assassinato de mulheres devido ao seu sexo, só foi tipificado quando uma figura feminina, a ex-presidente Dilma Rousseff, assumiu a presidência do país. O enfrentamento ao ódio contra mulheres, contudo, foi marcado por ataques à integridade moral da presidente, configurando a violência política de gênero. Observa-se, dessa forma, como a misoginia implica em barreiras à participação de mulheres nos espaços de poder. Se os estereótipos impostos aos corpos femininos enfraquecem a atuação desse grupo, paralelo a eles há a exclusão de figuras femininas do cenário político para uma sociedade estruturada na misoginia. Ao limitar a ação de mulheres – dentro e fora das instâncias de poder –, a prática machista age como uma escultora social, que fomenta o patriarcalismo já existente. Assim, questiona-se: a quem beneficia a misoginia, que age escancaradamente contra as mulheres?
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