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Aula 17 - intervenção do estado na propriedade - 2 parte

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Direito Administrativo 
Professor Barney Bichara
Aula 17
(Atualização em 23/10/2017: questões de Concurso)
	- Intervenção do Estado na propriedade II. (p. 163 a 232)
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE – 2º PARTE
8. TOMBAMENTO:
A. Patrimônio Cultural Brasileiro:
O art. 216 da CF/88 conceitua o patrimônio cultural brasileiro:
CF, Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
B. Conceito de tombamento:
É o procedimento administrativo pelo qual o poder Público sujeita a restrições parciais os bens de qualquer natureza cuja conservação seja de interesse público, por sua vinculação a fatos memoráveis da história ou por seu excepcional valor arqueológico ou etnológico, bibliográfico ou artístico.
Registro no cartório é ato extrínseco ao tombamento já que o tombamento se consuma com a inscrição do bem tombado no livro do tombo.
Divergência: Qual a natureza jurídica do tombamento: natureza discricionária ou vinculada? Há duas correntes:
1ª corrente: O tombamento é ato vinculado. Na medida em que o poder público entendesse que o bem seria patrimônio nacional brasileiro, a administração teria o dever de processar o tombamento.
2ª corrente: O tombamento é ato discricionário. Cabe à administração aferir a oportunidade e conveniência de tombar ou não determinado bem, já que existem vários bens que integram o patrimônio cultural brasileiro. Tombar envolve obrigações para o Estado, então, o Poder público deveria avaliar e ponderar quais bens mereceriam ser tombados.
Obs.: Predomina o entendimento de que o tombamento é um procedimento administrativo discricionário.
Questiona-se: O Estado, por meio do poder legislativo poderia tombar determinado bem? Seria possível o tombamento por lei? Há divergências:
1ª corrente: Quem regulamenta o tombamento é o Decreto-lei 25/37 e este diz que o tombamento é um procedimento administrativo pelo qual a Administração impõe restrições parciais sobre bens de qualquer natureza, cuja conservação merece preservação já que é vinculada ao patrimônio cultural brasileiro; é uma prerrogativa da Administração, que o fará por meio de procedimento administrativo. Não poderia, então, o Legislativo fazer lei determinando o tombamento.
2ª corrente: O poder legislativo poderia sim, por meio de lei de efeito concreto. (Lei, tendo em vista que parte do órgão legislativo; mas seria lei em sentido formal - ato administrativo em sentido material). 
Obs.: A doutrina majoritária não admite o tombamento por lei porque o tombamento é um procedimento administrativo - e não legislativo.
Tombamento Legal: É o tombamento determinado por lei. O STF, na Reclamação 1312 se manifestou contrário a essa possibilidade. Só que esta reclamação é anterior a CF/88 e que sequer terminou de ser julgada. Ela restou prejudicada com a nova ordem constitucional.
Tombamento Judicial: É o tombamento determinado por decisão judicial; não há uniformidade quanto a essa possibilidade. Admitir o tombamento judicial é admitir que o tombamento é ato vinculado e não admitir é entender que o tombamento é discricionário. Para a maioria da doutrina, o tombamento é discricionário. Para a minoria, é vinculado; para estes, é possível o tombamento judicial, diante da omissão administrativa.
Tombamento Constitucional: É o tombamento que decorre diretamente da norma constitucional. Vejamos o art. 216, §5º da CF/88:
Art. 216 [...] § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
O Decreto-lei 25/1937 trata da norma geral de tombamento.
· Se o tombamento recair sobre bem imóvel - a administração fica incumbida de ir ao cartório de imóveis e registrar o tombamento.
· Portanto, existem dois registros, um no livro do tombo e outro no cartório de registro de imóveis.
· Observe que o registro no cartório de imóveis não faz parte do procedimento do tombamento, o procedimento começa com a notificação do proprietário sobre o procedimento e termina com a inscrição do registro no livro do tombo.
· O registro se faz importante apenas para dar publicidade ao tombamento.
C. Atributo da propriedade que é afetado pelo tombamento:
A propriedade possui três atributos: exclusiva, absoluta e perpétua.
Questiona-se: O tombamento afeta qual atributo da propriedade? O tombamento recai sobre o caráter absoluto da propriedade. A medida que a Administração pública tomba um bem, ela impõe restrições parciais ao direito de propriedade: o proprietário não pode demolir, destruir, retirar o bem do país sem autorização do poder público (se for bem móvel), o proprietário tem que tolerar a fiscalização do bem, deve conservar o bem...
D. Objeto do tombamento:
Qualquer bem ou direito pode ser objeto do tombamento, desde que integre o patrimônio cultural brasileiro. A contrario sensu, se o bem não integra o patrimônio brasileiro, não pode ser tombado. 
O tombamento, nos termos do art. 1º, § 2º do Decreto Lei 25/1.937, pode atingir bens de qualquer natureza, sejam móveis ou imóveis, materiais ou imateriais, públicos ou privados.
Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. 
(...)
§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indústria humana.
Obs.: Bens que não podem ser objeto de tombamento:
 O referido decreto, no seu art. 3ª estabelece os bens que não podem ser objeto de tombamento:
1. Bens de origem estrangeira que pertençam à representações diplomáticas ou consulares acreditadas no país;
2. Bens de origem estrangeira que adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras que façam carreira no país;
3. Bens de origem estrangeira adquiridos por sucessão estrangeira e situados no Brasil;
4. Bens de origem estrangeira que pertençam a casas de comércio de objetos históricos ou artísticos;
5. Bens de origem estrangeira que sejam trazidos para exposições comemorativas, educativas ou comerciais;
6. Bens de origem estrangeira que sejam importados por empresas brasileiras expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos.
A cultura estrangeira não compõe a nossa identidade nacional. Portanto, os bens estrangeiros não integram o patrimônio histórico, cultural e artístico brasileiro.
E. Modalidades ou formas de tombamento:
1ª. Quanto à constituição ou procedimento:
· De ofício:
Quando incide sobre bens públicos, tem-se o tombamento de ofício, previsto no art. 5º DL n. 25/37, que se processa mediante simples notificação à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada; com a notificação, a medida começa a produzir efeitos.
Art. 5º O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer,ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, afim de produzir os necessários efeitos.
O procedimento se faz através de ofício.
Questiona-se: Tombamento de bem realizado por entidade de hierarquia inferior, é possível? Há duas correntes:
1ª corrente: Não seria possível. O Decreto-lei 3365/41 (que trata de desapropriação) trouxe a regra de que os entes de hierarquia maior podem desapropriar os entes de hierarquia menor, não sendo permitido o inverso, nos mesmo termos da desapropriação. Existe hierarquia federativa, o ente maior pode desapropriar bens de entes menores, mas o contrário não. Logo, a mesma regra deve ser aplicada ao tombamento: a união pode tombar bem do Estado ou do Município, no entanto os estados e municípios não podem tombar bem da União. 
2ª corrente: Entende que essa restrição seria apenas para desapropriação, não sendo aplicada ao tombamento. O Decreto-lei 25/37 trata de tombamento e não trouxe regra alguma sobre desapropriação, além do que o tombamento não implica em transferência da propriedade, dessa forma seria possível o tombamento por ente hierarquicamente inferior de bens de ente hierarquicamente superior.
O STJ entendeu pela 2ª corrente por diversas vezes. Vejamos o seguinte precedente:
STJ: RMS 18952 / RJ: ADMINISTRATIVO – TOMBAMENTO – COMPETÊNCIA MUNICIPAL. 1. A Constituição Federal de 88 outorga a todas as pessoas jurídicas de Direito Público a competência para o tombamento de bens de valor histórico e artístico nacional. 2. Tombar significa preservar, acautelar, preservar, sem que importe o ato em transferência da propriedade, como ocorre na desapropriação. 3. O Município, por competência constitucional comum – art. 23, III –, deve proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. 4. Como o tombamento não implica em transferência da propriedade, inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o Município de desapropriar bem do Estado. 5. Recurso improvido.
· Voluntário:
Somente recai sobre bem particular.
Incide sobre bens particulares e nos termos do art. 7º do DL n. 25/37 ocorre quando:
a) O proprietário pedir o tombamento e a coisa revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do órgão técnico competente;
b) O proprietário anui por escrito à notificação que se lhe fizer para a inscrição da coisa em qualquer dos livros do Tombo.
Art. 7º Proceder-se-à ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o pedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo.
· Compulsório:
Previsto nos artigos 8º e 9º do DL n. 25/37, é feito pela iniciativa do Poder Público, mesmo contra a vontade do proprietário. 
Art. 8º Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a anuir à inscrição da coisa. 
Art. 9º O tombamento compulsório se fará de acôrdo com o seguinte processo: 
1) o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente, notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, ou para, si o quisér impugnar, oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação. 
2) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado. que é fatal, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por símples despacho que se proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo. 
3) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, afim de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.
2ª. Quanto à eficácia: (quanto aos efeitos do tombamento)
· Provisório:
Ocorre com notificação do proprietário e produz os mesmos efeitos do tombamento definitivo, salvo quanto à inscrição no Registro de imóveis. 
Óbvio: se já tivesse havido a inscrição no registro de imóveis, seria definitivo o tombamento. No entanto, os efeitos do tombamento provisório são os mesmos do definitivo.
Sobre o assunto, vejamos o seguinte precedente do STJ:
STJ: RMS 8252 / SP: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERRA DO GUARARÚ. TOMBAMENTO. DISCUSSÃO QUANTO À PRECEDÊNCIA DO PROCESSO DE TOMBAMENTO PROVISÓRIO AO DEFINITIVO. INCOERÊNCIA. 1. O instituto do tombamento provisório não é fase procedimental precedente do tombamento definitivo. Caracteriza-se como medida assecuratória da eficácia que este poderá, ao final, produzir. 2. A caducidade do tombamento provisório, por excesso de prazo, não prejudica o definitivo, Inteligência dos arts. 8º, 9º e 10º, do Decreto Lei 25/37. 3. Recurso ordinário desprovido.
· Definitivo:
É o tombamento concluído pela inscrição do bem no competente Livro do Tombo, deve ser transcrito no registro de imóveis, nos termos do art. 10, parágrafo único do DL n. 25/37.
O tombamento torna-se definitivo quando é feito registro no livro tombo, enquanto não existir o registro no livro tombo ele será considerado provisório.
3ª. Quanto aos destinatários:
· Geral:
Atinge todos os bens situados em um bairro ou em uma cidade. Ex.: o tombamento do centro histórico do centro de Salvador.
· Individual:
Atinge um bem determinado.
Atenção: José dos Santos Carvalho Filho entende que não existe o tombamento geral. Para ele, isso seria uma limitação administrativa. Para o autor, o tombamento só pode ser individual.
F. Efeitos do tombamento: (arts. 11 ao 21 do DL 25/37):
Quais os efeitos e para quem?
1º. São efeitos do tombamento para o PROPRIETÁRIO do bem tombado:
1º efeito: Fazer as obras necessárias para conservar o bem tombado sob as expensas do proprietário, sob seus recursos, já que a propriedade é sua; ou, se não tiver recursos para tanto, comunicar a necessidade ao Poder Público, sob pena de multa.
O tombamento não transfere a propriedade; apenas impõe limitações parciais da propriedade para a conservação do bem.
2º efeito: Esse segundo efeito foi revogado pelo NCPC. É o de assegurar que, no caso de alienação onerosa do bem tombado, haverá direito de preferência a União, aos Estados e aos municípios, nesta ordem, sendo nula alienação realizada com violação do direito de preferência, ficando qualquer dos seus titulares habilitado a sequestrar a coisa e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis. Vejamos o art. 892, §3º do NCPC:
CPC, Art. 892. Salvo pronunciamento judicial em sentido diverso, o pagamento deverá ser realizado de imediato pelo arrematante, por depósito judicial ou por meio eletrônico.
§ 3o No caso de leilão de bem tombado, a União, os Estados e os Municípios terão, nessa ordem, o direito de preferência na arrematação, em igualdade de oferta.
O direito de preferência passou a ser para arrematar o bem tombado, não há mais direito de preferência na alienação onerosa.
3º efeito: O proprietário não poderá em caso nenhum destruir, demolir ou mutilar o bem tombado, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou ainda repará-lo, pintá-lo ou restaurá-lo, sob pena de multa de cinquenta por cento do dano causado.
4º efeito: No caso de bem móvel, o proprietário não poderá retirar a coisa tombada do país, senão por curto prazo, para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional. Tentada sua exportação a coisa fica sujeita a sequestro e o seu proprietário às penas previstas para o crime de contrabando e multa.
5º efeito: O proprietário fica ainda sujeito à fiscalização do bem pelo órgão competente, sob pena de multa, em caso de criar obstáculos injustificados a sua realização.
2º. São efeitos do tombamento para os VIZINHOS do bem tombado:
Não poderá, o proprietário dos imóveis vizinhos da coisa tombada, sem prévia autorização do órgão competente, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de cinquenta por cento do valor do mesmo objeto. 
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, trata-se de servidão administrativa em que é dominante a coisa tombada, e serviente, os prédios vizinhos.
3º. São efeitos do tombamento para o PODER PÚBLICO:
1º efeito: Realizar as obras necessárias para conservação do bem tombado na hipótese de o proprietário não possuir meios para tanto, ou ainda, providenciar a desapropriação do referido bem.
2º efeito: Vigiar permanente os bens tombados, podendo inspecioná-los sempre que julgar conveniente.
3º efeito: Esse terceiro foi revogado pelo NCPC. Providenciar a transcrição do tombamento no Registro de Imóveis, no caso de imóveis particulares, sob pena de não o fazendo perder o direito de preferência para aquisição onerosa do bem tombado. (Revogado pelo novo CPC)
G. Indenização:
O tombamento, em regra, não gera direito a indenização, pois não retira o direito de usar e gozar do bem. Não prejudica em nada o direito de propriedade, não lesa direitos. Apenas se o tombamento gerar danos é que enseja a indenização.
Atenção: Sempre que o ato de intervenção estatal na propriedade esvaziar o conteúdo econômico da propriedade ou causar dano gerará direito à indenização.
Sobre o assunto, vejamos o seguinte precedente:
AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 361.127 – SP: EMENTA: AVENIDA PAULISTA. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TOMBAMENTO. SÚMULA 279. Na desapropriação indireta, destaca-se a dimensão individual do prejuízo sofrido com o tombamento. Demonstração, no acórdão recorrido, do dano especial sofrido pelo proprietário, o qual resultou no esvaziamento do direito de propriedade. Inviabilidade da pretensão recursal de reexame das premissas fáticas do acórdão (súmula 279 desta Corte). Agravo regimental a que se nega provimento.
H. Cancelamento:
Decreto Lei 3.866/41:
Artigo único. O Presidente da República, atendendo a motivos de interesse público, poderá determinar, de ofício ou em grau de recurso, interposto por qualquer legítimo interessado, seja cancelado o tombamento de bens pertencentes à União, aos Estados, aos municípios ou a pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, feito no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de acordo com o decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.
Tema novo: DESAPROPRIAÇÃO
1. Conceito de Desapropriação
É um procedimento administrativo e quase sempre judicial pelo qual o poder público retira bem ou direito compulsoriamente do patrimônio de alguém, e depois o adquire de forma originária, pagando, em regra, uma indenização.
Até chegarmos à desapropriação propriamente dita, seguimos uma série de atos preparatórios anteriores.
A transferência da propriedade não é autoexecutória, o proprietário pode não concordar com o pagamento oferecido pelo poder público. Neste caso, o procedimento não se conclui e o poder público deverá recorrer ao Poder Judiciário.
Na desapropriação não se discute direito de terceiros, pois a desapropriação é forma de aquisição originária de propriedade.
Celso Antônio Bandeira Mello diz que toda a desapropriação tem que ter pagamento de indenização; se não houver indenização, será perdimento de bens.
2. Modalidades
Para cada modalidade de desapropriação teremos um regime jurídico correspondente. A modalidade é que define o regime jurídico.
	
MODALIDADE
	
PREVISÃO LEGAL
	
COMPETÊNCIA
	
INDENIZAÇÃO
	
Ordinária/Comum – Art. 5º, XXIV CF
	Utilidade e necessidade pública
(Dec. Lei 3365/41)
	Interesse social
(Lei 4132/62)
(O Dec. Lei 3365/41 é aplicado de forma subsidiária)
	
U, E, M, DF, T
(Todos podem desapropriar).
	
$$$$$$$$$
Justa, prévia e em dinheiro.
	
Desapropriação Urbanística Sancionatória
Art. 182, §4º, III CF
	
Lei 10 257/01 – Estatuto da Cidade
	
M, DF
(Somente)
	
TDP – resgatáveis em até 10 anos
	
Desapropriação por interesse social para fins de Reforma Agrária
Art. 184 CF
	
Lei 8629/93
LC 76/1993
	
União
(Somente)
	
TDA – resgatáveis em até 20 anos
(As Benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro)
	
Desapropriação Confiscatória
(cultivo de drogas e trabalho escravo)
Art. 243 CF
	
Lei 8257/1991
	
União
(Somente) 
	
Não há direito a indenização.
· SOBRE A DESAPROPRIAÇÃO QUE NÃO É COMUM, MERECE ATENÇÃO:
→ DESAPROPRIAÇÃO URBANÍSTICA SANCIONATÓRIA:
Art. 182, §4º, CF: É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal [Estatuto da cidade], do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
A desapropriação será paga em títulos da dívida pública previamente aprovado pelo senado, resgatáveis em até 10 anos, garantido o valor real da propriedade.
Lei 10.257/2001 – ESTATUTO DAS CIDADES:
Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública.
§ 1o Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de seis por cento ao ano.
O que o Estatuto das Cidades acrescenta além do que prevê a Constituição?
· Para a desapropriação devem ter decorrido 05 anos de IPTU progressivo;
· Juros Legais de 06% ao ano (no caso de desapropriação por descumprimento da função social propriedade urbana. Lembre-se que na desapropriação comum/ordinária o valor dos juros legais é de 2%).
§ 2o O valor real da indenização:
I – refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o imóvel se localiza após a notificação de que trata o § 2º do art. 5º desta Lei;
II – não computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.
Nessa modalidade de desapropriação não existe juros compensatórios!
§ 3o Os títulos de que trata este artigo não terão poder liberatório para pagamento de tributos.
Os impostos não podem ser pagos com o valor que se tem a receber (não pode compensar com crédito tributário).
§ 4o O Município procederá ao adequado aproveitamento do imóvel no prazo máximo de cinco anos, contados a partir da sua incorporação ao patrimônio público.
§ 5o O aproveitamento do imóvel poderá ser efetivado diretamente pelo Poder Público ou por meio de alienação ou concessão a terceiros, observando-se, nesses casos, o devido procedimento licitatório.
Se dentro dos cinco anos o poder público não fizer o aproveitamento do imóvel desapropriado poderá aliená-lo ou dar em concessão a terceiros.
§ 6o Ficam mantidas para o adquirente de imóvel nos termos do § 5o as mesmas obrigações de parcelamento, edificação ou utilização previstas no art. 5o desta Lei.
DL 3365/41 - REFERE-SE À DESAPROPRIAÇÃO COMUMOU ORDINÁRIA.
Ele trata de juros compensatórios e completa o Estatuto das Cidades.
Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive para fins de reforma agrária, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais, incidirão juros compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da diferença eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de juros compostos. [Há ADI quanto a parte final]
Os juros compensatórios não incidem sobre a desapropriação de imóvel urbano que não cumpre a sua função social, somente na desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou de interesse social.
→ DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSES SOCIAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA:
São para imóveis rurais que não cumprem sua função social.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
A indenização justa e prévia é paga em título da dívida agrária a começa a contar do segundo ano após sua emissão. A lei definirá o que será feito com esse imóvel.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
As benfeitorias úteis e necessárias são pagas em dinheiro, apenas a terra nua é paga em títulos da dívida agrária.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. [não se confunde com a ação de desapropriação comum ordinária].
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
A Lei 76/1993 a dispõe sobre o procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo de desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária:
Art. 1º O procedimento judicial da desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reforma agrária, obedecerá ao contraditório especial, de rito sumário, previsto nesta lei Complementar.
A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária [se o MST invadir por exemplo o imóvel, após a União ter iniciado o processo de desapropriação, suspenderá o processo expropriatório] – Súm. 354/STJ. Acórdãos:
AgRg no AREsp 516531/PE. Rel. Ministro HERMAN BEJAMIN, segunda turma, julgado em 18/06/2015
REsp 14144884/PE, Rel. Ministro OG Fernandes, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/05/2015, DJE 29/062015.
AgRg no AREsp 656732/BA, Rel. Ministro Humberto Martins, SEGUNRA TURMA, julgado em 14/04/2015, DJE 20/04/2015.
AgRg no Ag 1432291/BA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/10/2013, DJE 18/10/2013. AgRg no REsp 1249579/AL, Rel. Ministro CASTRO EIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJE 04/09/2013 AgRg no REsp 1001314/AL, Rel. LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA Julgado em 27/10/2009, DJE 09/11/2009
AREsp 1108733/PI, Rel. DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/052009, DJE 10/06/2009.
AgRg no AREsp 516531/PE: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. INVASÃO DO IMÓVEL. ESBULHO POSSESSÓRIO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. SÚMULA 354/STJ. SÚMULA 83/STJ. 1. Inviável rever a premissa fática fixada pelo Tribunal a quo sobre ter ou não a invasão influído na avaliação da produtividade do imóvel, por demandar o reexame do acervo fático-probatório dos autos, óbice da Súmula 7/STJ. 2. Orientação adotada pela Corte de origem em sintonia com a jurisprudência do STJ, no sentido de que "a invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária" (Súmula 354/STJ). (AgRg no Ag 1.432.291/BA, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 8.10.2013, DJe 18.10.2013). 3. "Qualquer que seja a data da invasão, anterior ou posterior, ou mesmo sua extensão, se total ou mínima, o esbulho possessório acarreta a suspensão do processo expropriatório quanto aos atos mencionados no art. 2º, § 6º, da Lei n. 8.629/93" (AgRg no REsp 1.249.579/AL, DJe de 4/9/2013). 4. Agravo Regimental não provido (AgRg no AREsp 516.531/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe 05/08/2015)
→ DESAPROPRIAÇÃO CONFISCATÓRIA:
Art. 243 CF: As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
A redação anterior falava em glebas de terras. Gleba traduz imóvel rural – sempre! E o dispositivo anterior se referia apenas a cultivo de plantas drogas psicotrópicas e drogas afins. A Emenda 81 ampliou a desapropriação confiscatória para abranger, também, as propriedades urbanas e propriedades com exploração de trabalho escravo.
A Constituição define a destinação que será dada a propriedade desapropriada: reforma agrária e a programas de habitação popular
3. Competência da Desapropriação Ordinária ou Comum – DECRETO-LEI 3365/41
A) Competência Legislativa
B) Competência declaratória
Art. 2º, DL 3365/1941: Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
Art. 6º, DL 3365/1941: A declaração de utilidade pública far-se-á por decreto do Presidente da República, Governador, Interventor ou Prefeito.

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