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Apostila Arte VR 2023-089-090

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@vestibularesumido
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O corpo transgressor
Os artistas dadaístas, ainda nas décadas de 1910 
e 1920 passaram a uti l izar técnicas 
interdisciplinares com a intenção de incorporar 
uma realidade física no embate contra as 
representações tradicionais. A estabilidade do 
plano da pintura já havia sido rompida com 
colagens, fotomontagens, performances, 
ambientes e montagens criados pelo 
movimento Dadá no Cabaret Voltaire. O foco 
do Surrealismo pelo inconsciente e pelas formas 
primitivas de comunicação abriu espaço para 
que a arte moderna se interessasse também 
por culturas vistas como "primitivas" ou fora do 
centro ocidental. Assim, rituais, tatuagens, 
pinturas corporais, perfurações e costumes de 
práticas de sacrifícios formavam uma nova 
perspectiva em contraponto ao olhar 
racionalista ocidental, passando gradualmente a 
fazer parte da arte ocidental.
Nas artes, as décadas de 1960 e 1970 testemunharam um 
rompimento irreversível das tradicionais disciplinas, como 
pintura, escultura, gravura e desenho. As performances, 
especificamente, firmaram-se como um campo híbrido e 
permeável, seja em dança, música, artes visuais ou teatro. O 
uso do corpo e ações sem ensaios eram a base desse tipo de 
arte, que transformou grande parte da concepção artística 
de então. De fato, essa mudança singular coloca o corpo do 
artista e sua ação como obra de arte imediata e efêmera, 
uma vez que a obra acontecia apenas no tempo da ação.
Happenings: ampliando as fronteiras
Os happenings, ou acontecimentos, são eventos artísticos 
abertos que permitem a interação do público com as obras 
propostas por artistas da vanguarda dos anos 1960 em 
diante. Até então, na cena artística, não havia essa ideia de 
interação com obras. Os happenings mesclavam dança, teatro, 
poesia e pintura numa clara herança das noites dadaístas. 
Allan Kaprow (1927-2006) cunhou o nome em 1959 para um 
trabalho chamado 18 happenings em 6 partes. O artista 
costumava criar instruções que eram sugeridas ao público. 
Em Quintal (Figura 10), vislumbra-se parte do espírito 
vivenciado na época em que surgiram os happenings. Kaprow 
encheu a galeria de arte com pneus, e sua proposta era uma 
interação livre com os objetos. Por ser a arte da ação, de um 
acontecimento que sé dá com o público, há muita ênfase no 
improviso.
O Fluxus foi o grupo mais importante da arte de vanguarda 
dos anos 1960. George Maciunas (1931-1978) foi quem 
concebeu a ideia. Tratava-se de um grupo fluido e aberto, sem 
regras definidas e marcado pelo experimentalismo. Kaprow, 
John Cage, Yoko Ono, Joseph Beuys e Nam June Paik são 
alguns dos artistas que participaram do Fluxus, que se 
formou internacionalmente. Os artistas do grupo tinham em 
comum a concepção de obras multimídia e de proposições 
abertas para a participação do público. Ao longo do tempo, 
mantiveram-se como referencial para a produção de obras 
performáticas e audiovisuais. Nas artes visuais, cênicas e 
tecnológicas, o caráter transgressor do grupo também foi 
marcante.
Figura 10. Allan Kaprow. Quintal. 1961. Galeria Martha Jackson, Nova lorque.
As performances de Marina Abramovié
A performance é uma expressão multidisciplinar que 
tem a ação do artista como essência do trabalho. 
Marina Abramovié (1946) talvez seja a artista 
performática mais famosa no mundo da arte 
atualmente. Na década de 1970, fez uma série de 
performances radicais, impondo seu corpo a diversos 
testes físicos, como experimentar remédios 
psicotrópicos, gritar até os limites da voz, empurrar 
paredes utilizando o próprio corpo ou "brincar" de 
espetar uma faca entre os dedos. Ações extremas, que 
mostraram o caráter transgressor da artista, foram 
presenciadas na peça Rhythm 5, de 1974, em que ela 
se deitou no centro de uma estrela de cinco pontas 
feita com toras de madeira em chamas, chegando a 
desmaiar após quase uma hora. Alguém da plateia 
percebeu o desmaio e ela foi retirada de lá. A ação 
Rhythm 0, do mesmo ano, consistia na artista em pé, 
diante de uma mesa com vários objetos em galeria 
em Nápoles, Itália. O público presente poderia fazer o 
que quisesse com a artista, como cortar sua roupa ou 
rabiscar seu corpo. Num momento de tensão, alguém 
do público colocou uma arma carregada, um dos 
objetos disponíveis na mesa, na mão de Abramovié e a 
apontou para o pescoço da artista, ação que precisou 
ser contida pelos seguranças. Essa performance expôs 
os limites os quais o público era capaz de romper. 
Durante 12 anos de sua vida, atuou conjuntamente 
com seu companheiro Ulay (1943). Quando se 
separaram, em 1988, para simbolizar o término da 
relação, fizeram uma performance chamada Os 
amantes, na qual cada um saiu de uma das 
extremidades da muralha da China em direção ao 
ponto central. Ao se encontrarem, após andarem por 
2,5 mil quilômetros, se abraçaram e não mais se 
viram, até o ano de 2010, quando se reencontraram 
durante a performance A artista está presente (Figura 
11).
O CORPO TRANSGRESSOR 
@vestibularesumido
90
Do começo de sua carreira até os dias de 
hoje, foram dezenas de performances. 
Além disso, produziu objetos e esculturas 
e, também, desenvolveu um método de 
ensino e produção da arte performática, 
conduzido hoje em um instituto que ela 
criou totalmente direcionado a essa 
linguagem artística. As temáticas de 
Abramovié vão desde sua memória 
pessoal, que abarca muito da cultura dos 
Bálcãs, onde fica a Sérvia, seu país natal, a 
questões da estética, do amor e das 
relações com o sagrado, o misticismo e as 
religiões e culturas antigas. Em 2010, o 
MoMA fez uma retrospectiva de toda sua 
carreira, quando foi produzido um 
documentário e uma performance de três 
meses de duração. A artista está presente 
é o nome do filme e da performance na 
qual Abramovié sentou-se diante do 
público em silêncio diariamente, somando 
736 horas e mela de trabalho.
Figura 11. Marina Abramovié. A artista está presente.
Living Theatre: rupturas teatrais 
Criado em 1947 pela alemã Judith Malina 
(1926-2015), então estudante, e pelo poeta e pintor 
estadunidense do Expressionismo Abstrato Jullan 
Beck (1925-1985), o Living Theatre se propunha a ser 
uma contraposição ao chamado teatro comercial. 
Suas bases estão fundadas na junção entre prática 
artística e política, com princípios libertários, 
anarquistas e pacifistas. Malina e Beck acreditavam no 
caos, no acaso, nos rituais e na manifestação das 
práticas para além de idealizações estéticas. Eram 
contrários às armas nucleares e à Guerra do Vietnã e 
a favor dos direitos civis e lutas sociais das minorias. 
A partir da década de 1950, o grupo se tornou 
pioneiro em encenações não convencionais e 
experimentais. Na década seguinte, começou a viajar 
pelo mundo enfocando práticas de criações coletivas. 
Os membros viviam juntos e se propunham a fazer 
um teatro físico e político, pensando sua arte como 
meio para modificações sociais. Ocupavam e atuavam 
nos espaços públicos, tornando-se nômades. Com o 
tempo, foram abrindo também a participação do 
público em suas peças, que, em algumas delas, podia 
ensaiar com os atores para as apresentações.
O legado histórico do grupo tem como 
questionamentos fundamentais o lugar do ator 
no teatro, a função do público e a necessidade de 
um espaço teatral. A construção coletiva de seus 
textos reflete a atitude não hierárquica que 
contrariava o sistema de produção cultural até 
então. Na composição de suas peças, utilizavam 
textos teatrais já escritos, mas, ainda assim, 
também interferiam, visando integrar a realidade 
vivida pelos integrantes com a representação 
cênica. Dessa maneira, pretendiam construir não 
uma ficção ou uma personagem, mas a própria 
vida e os Ideais de seus participantes em um 
espaço discursivo.
Figura 12. Apresentação da peça Antígona, pela companhia Living Theatre.
Pina Bausch e "dança-teatro"
Pina Bausch (1940-2009) formou-se na Alemanha em Dança e 
Pedagogia, posteriormente atuou como bailarina e coreógrafa, 
Sua formação no balé clássico não a impediu dese aproximar 
de técnicas criativas de diferentes linguagens, como ópera, 
música, artes visuais, entre outras, fazendo sua atuação como 
coreógrafa ter características multidisciplinares. Na década de 
1970, Bausch revolucionou seus métodos de trabalho 
incorporando gestos do cotidiano e trazendo elementos 
teatrais - como a fala e o uso de personagens - para a dança. A 
artista buscava a simplicidade do gesto como ponto sublime 
para o corpo em movimento. A vida comum era sua base de 
pesquisa. Esse estilo de dança recebeu o nome de Tanztheater, 
"dança-teatro" em alemão. Nas coreografias do Tanztheater 
Wuppertal, companhia que dirigiu, pequenas cenas eram

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