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1 Plano de Aula de Imunologia- Caso 6: ACL Beatriz Macacari – 341820563 Objetivos de aprendizagem: 1) Descrever os mecanismos de reconhecimento de patógenos por células do sistema imune inato. 2) Compreender o tipo de resposta imune desenvolvida frente aos mecanismos de evasão do protozoário. 3) Discutir o curso da infecção frente ao tipo de resposta imune celular desenvolvida. 4) Compreender os mecanismos envolvidos na Reação de Hipersensibilidade Imediata, relacionando os métodos diagnósticos envolvidos e a abordagem imunoterapêutica. Resolução: 1) Descrever os mecanismos de reconhecimento de patógenos por células do sistema imune inato. IMUNIDADE INATA CONTRA PARASITAS Apesar de diferentes agentes parasitários como os protozoários e helmintos terem demostrado ativar diferentes mecanismos da imunidade inata, estes organismos são muitas vezes capazes de sobreviver e replicar em seus hospedeiros, porque eles são bem adaptados para resistir às defesas do hospedeiro. A principal resposta da imunidade inata aos protozoários é a fagocitose, mas muitos desses parasitas são resistentes à fagocitose e podem se replicar mesmo dentro de macrófagos. Alguns protozoários expressam moléculas de superfície que são reconhecidas por TLRs e ativam os fagócitos. As espécies de Plasmodium (o protozoário responsável pela malária), o Toxoplasma gondii (o agente que causa a toxoplasmose), e espécies de Cryptosporidium (o principal parasita que causa a diarreia em pacientes infectados pelo HIV), todos expressam lipídios glicosil fosfatidilinositol que podem ativar TLR2 e TLR4. Os fagócitos também podem atacar os parasitas helmintos e secretar substâncias microbicidas para matar organismos que são muito grandes para serem fagocitados. No entanto, muitos helmintos possuem tegumentos espessos que os tornam resistentes aos mecanismos citocidas de neutrófilos e macrófagos, e que são muito grandes para serem ingeridos pelos fagócitos. Alguns helmintos podem ativar a via alternativa do complemento, embora, como discutiremos mais tarde, parasitas obtidos de hospedeiros infectados parecem ter desenvolvido resistência à lise mediada pelo complemento. 2) Compreender o tipo de resposta imune desenvolvida frente aos mecanismos de evasão do protozoário. EVASÃO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA POR PARASITAS Os parasitas escapam da imunidade protetora reduzindo a sua imunogenicidade e pela inibição das respostas imunológicas do hospedeiro. Diferentes parasitas desenvolveram formas notavelmente eficazes de resistir à imunidade. • Os parasitas alteram seus antígenos de superfície durante o seu ciclo de vida em hospedeiros vertebrados. Existem duas formas de variação antigênica bem definidas. A primeira é uma alteração fase-específica na expressão dos antígenos, de modo a que os estágios teciduais maduros de parasitas produzem antígenos diferentes daqueles das fases infecciosas. Por exemplo, a fase dos esporozoítos infectantes dos parasitas da malária é antigenicamente distinta dos merozoítos que residem no hospedeiro e são responsáveis pela infecção crônica. No momento em que o sistema imunológico responde à infecção por esporozoítos, o parasita já tem se diferenciado, expressa novos antígenos e não é mais um alvo para a eliminação imunológica. O segundo e mais notável exemplo de variação antigênica em parasitas é a variação contínua dos principais antígenos de superfície observada em tripanossomas africanos como o Trypanosoma brucei e o Trypanosoma rhodesiense. A variação antigênica contínua de tripanossomas é principalmente devida a mudanças na expressão dos genes que codificam o maior antígeno de superfície. Os pacientes infectados apresentam ondas de parasitemia no sangue e cada onda consiste de parasitas que expressam um antígeno de superfície diferente daquele da onda anterior. Assim, no momento em que o hospedeiro produz anticorpos contra o parasita, um organismo antigenicamente diferente já se desenvolveu. Mais de 100 ondas de parasitemia 2 podem ocorrer em uma única infecção. Uma consequência da variação antigênica em parasitas é a dificuldade para vacinar eficazmente os indivíduos contra estas infecções. • Os parasitas se tornam resistentes aos mecanismos imunológicos efetores durante a sua permanência em hospedeiros vertebrados. Talvez os melhores exemplos sejam as larvas dos esquistossomos, que viajam para os pulmões de animais infectados e, durante esta migração, desenvolvem um tegumento resistente a danos pelo complemento e pelos CTLs. A base bioquímica desta mudança não é conhecida. • Os parasitas protozoários podem esconder-se do sistema imunológico por viver no interior das células do hospedeiro ou pelo desenvolvimento de cistos resistentes aos efetores imunológicos. Alguns parasitas helmínticos residem nos lumens intestinais e estão a salvo dos mecanismos imunológicos efetores mediados por células. Parasitas também podem expelir suas capas antigênicas espontaneamente ou após a ligação a anticorpos específicos. A disseminação de antígenos torna os parasitas resistentes a um ataque subsequente mediado por anticorpos. A Entamoeba histolytica é um parasita do grupo dos protozoários que lança antígenos e também pode se converter para uma forma de cisto no lúmen do intestino grosso. • Parasitas inibem a resposta imune do hospedeiro por múltiplos mecanismos. A anergia de células T aos antígenos do parasita tem sido observada em esquistossomose grave envolvendo o fígado e o baço e em infecções filariais. Os mecanismos de irresponsividade da resposta imunológica a essas infecções não são bem compreendidos. Na filariose linfática, a infecção de linfonodos com posterior ruptura da arquitetura podem contribuir para a imunodeficiência. Alguns parasitas, como Leishmania, estimulam o desenvolvimento das células T reguladoras, que suprimem a resposta imunológica o suficiente para permitir a persistência dos parasitas. Uma imunossupressão mais inespecífica e generalizada é observada na malária e na tripanossomíase africana. Esta imunodeficiência tem sido atribuída à produção de citocinas imunossupressoras por macrófagos ativados e células T e defeitos na ativação de células T. As consequências das infestações parasitárias para a saúde e desenvolvimento econômico são devastadoras. As tentativas de desenvolver vacinas eficazes contra essas infecções têm sido ativas por muitos anos. Embora o progresso tenha sido mais lento do que se poderia esperar, a elucidação dos mecanismos fundamentais das respostas imunológicas e a evasão imune por parasitas sustentam uma promessa para o futuro. 3) Discutir o curso da infecção frente ao tipo de resposta imune celular desenvolvida. A IMUNIDADE ADAPTATIVA CONTRA PARASITAS Diferentes protozoários e helmintos variam muito com relação às suas propriedades estruturais e bioquímicas, os ciclos de vida e seus mecanismos patogênicos. Portanto, não é surpreendente que diferentes parasitas provoquem respostas imunológicas adaptativas distintas. Alguns protozoários patogênicos evoluíram para sobreviver no interior das células hospedeiras, de modo que a imunidade protetora contra estes organismos é mediada por mecanismos semelhantes aos que eliminam as bactérias intracelulares e os vírus. O principal mecanismo de defesa contra os protozoários que sobrevivem dentro de macrófagos é a resposta imunológica mediada por células, em particular pela ativação de macrófagos por citocinas derivadas de células TH1. A infecção de camundongos com Leishmania major, um protozoário que sobrevive dentro dos endossomas de macrófagos, é o exemplo mais bem documentado de como a predominância das respostas TH1 ou TH2 determina a resistência ou a susceptibilidade à doença. A resistência à infecção está associada à ativação de células T CD4+ TH1 específicas para Leishmania, que produzem IFN-g e assim ativam os macrófagos para que destruam os parasitas intracelulares.Por outro lado, a ativação das células TH2 pelos protozoários resulta no aumento da sobrevivência do parasita e na exacerbação de lesões devido às ações supressoras de citocinas TH2 de macrófagos. Um bom exemplo desta diferença é visto nas infecções por Leishmania em diferentes linhagens de camundongos isogênicos. A maioria das cepas de camundongos isogênicos é resistente à infecção pelos L. major, mas a linhagem BALB/c e algumas cepas de camundongos relacionados são altamente suscetíveis e morrem, se forem infectados com um grande número de parasitas. Após a infecção, as cepas resistentes produzem grandes quantidades de IFN-g em resposta a antígenos de Leishmania, enquanto as cepas que são suscetíveis a leishmaniose fatal produzem mais IL-4 em resposta ao parasita. A promoção da resposta TH1 ou a inibição da resposta TH2 em cepas sensíveis aumenta a sua resistência à infecção. Protozoários que replicam dentro de várias células do hospedeiro e lisam estas células, estimulam anticorpos específicos e as respostas de CTL, semelhante aos vírus citopáticos. Um exemplo de um tal organismo é o parasita da 3 malária, que reside principalmente nas hemácias e em hepatócitos durante seu ciclo de vida. Pensou-se durante muitos anos que os anticorpos eram o principal mecanismo protetor contra a malária, e no início as tentativas de vacinação contra esta infecção eram direcionadas para gerar anticorpos. Agora é evidente que a resposta dos CTLs contra parasitas que residem nos hepatócitos é uma defesa importante contra a propagação deste protozoário intracelular. A citocina IFN-g tem sido apresentada como protetora em muitas infecções por protozoários, incluindo malária, toxoplasmose e criptosporidiose. A defesa contra muitas infecções por helmintos é mediada pela ativação das células TH2, o que resulta na produção de anticorpos IgE e ativação de eosinófilos. Os helmintos estimulam a diferenciação de células T CD4+ imaturas para o subconjunto de células efetoras TH2, que secretam IL-4 e IL-5. A IL-4 estimula a produção de IgE, a qual se liga ao receptor Fcε de eosinófilos e de mastócitos e a IL-5 estimula o desenvolvimento dos eosinófilos e ativa os eosinófilos. A IgE reveste os parasitas e os eosinófilos se ligam à IgE e são ativados para liberar seus conteúdos granulares, que destroem os helmintos. As ações combinadas de mastócitos e eosinófilos também contribuem para a expulsão dos parasitas do intestino. A expulsão de alguns nematódeos intestinais pode ocorrer devido a mecanismos dependentes de IL-4 que não requerem IgE, como o aumento da peristalse. As respostas imunológicas adaptativas contra parasitas também podem contribuir para a lesão tecidual. Alguns parasitas e seus produtos induzem respostas granulomatosas com fibrose concomitante. Os ovos de Schistosoma mansoni depositados no fígado estimulam as células T CD4+, que por sua vez ativam os macrófagos e induzem as reações DTH. As reações DTH resultam na formação de granulomas em torno dos ovos; uma característica incomum desses granulomas, especialmente em camundongos, é a sua associação a respostas de TH2. (Granulomas são geralmente induzidos por respostas TH1 contra antígenos persistentes). Tais granulomas induzidos por TH2 servem para conter os ovos dos esquistossomos, mas a fibrose grave associada a esta resposta imune crônica mediada por células leva a cirrose, interrupção do fluxo de sangue venoso no fígado e hipertensão portal. Na filariose linfática, o alojamento dos parasitas nos vasos linfáticos leva a reações imunológicas crônicas mediadas por células e, por fim, à fibrose. Isso resulta na obstrução linfática e linfedema severo. As infestações parasitárias crônicas e persistentes são muitas vezes associadas à formação de complexos de antígenos do parasita e anticorpos específicos. Os complexos podem ser depositados nos vasos sanguíneos e nos glomérulos do rim e produzem vasculite e nefrite, respectivamente. A doença do complexo imunológico é uma complicação da esquistossomose e da malária. 4) Compreender os mecanismos envolvidos na Reação de Hipersensibilidade Imediata, relacionando os métodos diagnósticos envolvidos e a abordagem imunoterapêutica. As alterações vasculares precoces, que ocorrem durante as reações de hipersensibilidade imediata são demonstradas pela reação pápula e de halo eritematoso para a injeção intradérmica de um alérgeno. Quando um indivíduo que encontrou um alérgeno previamente e produziu o anticorpo IgE é desafiado por uma injeção intradérmica do mesmo antígeno, o local da injeção torna-se vermelho pela dilatação local dos vasos sanguíneos cheios de células vermelhas do sangue. O local em seguida rapidamente incha como resultado do vazamento do plasma das vênulas. Este inchaço suave é chamado de pápula e pode envolver uma área de vários centímetros de diâmetro de pele. Posteriormente, os vasos sanguíneos nas margens da pápula se dilatam e se tornam cheios de células vermelhas do sangue e produzem uma borda vermelha característica chamada de halo eritematoso. A reação completa da pápula e do halo eritematoso podem aparecer dentro de 5 a 10 minutos após a administração do antígeno e geralmente desaparece em menos de 1 hora. A reação da pápula e do halo eritematoso é dependente de IgE e de mastócitos. O exame histológico mostra que os mastócitos na área da pápula e do halo eritematoso liberaram mediadores pré-formados; isto é, seus grânulos citoplasmáticos foram descarregados. A associação causal de IgE e de mastócitos com a hipersensibilidade imediata foi primeiramente deduzida a partir dos experimentos envolvendo a transferência passiva de anticorpos IgE de um indivíduo alérgico a um receptor normal. Por exemplo, as reações de hipersensibilidade imediata contra um alérgeno podem ser provocadas em indivíduos irresponsivos se o local da pele foi inicialmente injetado com a IgE de um indivíduo alérgico. Tais experimentos de transferência adotiva foram pela primeira vez realizados com o soro de indivíduos imunizados e o fator do soro responsável pela reação foi originalmente chamado de reagina. Por este motivo, as moléculas de IgE são ainda às vezes chamadas de anticorpos reagínicos. A reação cutânea iniciada pelo antígeno que acompanha a transferência adotiva de IgE é chamada de anafilaxia cutânea passiva. 4 A reação da pápula e do halo eritematoso resulta na sensibilização de mastócitos da derme pela IgE que se liga ao FcεRI, ligação cruzada de IgE pelo antígeno e ativação de mastócitos com liberação de mediadores, nomeadamente a histamina. A histamina liga-se a receptores de histamina nas células endoteliais venulares; as células endoteliais sintetizam e liberam PGI2, óxido nítrico e o PAF; e estes mediadores causam vasodilatação e vazamento vascular, conforme descrito anteriormente. Os mastócitos da pele parecem produzir apenas pequenas quantidades de mediadores de longa ação, tais como os leucotrienos, assim a resposta da pápula e do halo eritematoso desaparece rapidamente. Os alergistas muitas vezes testam os pacientes para alergias a diferentes antígenos, examinando a capacidade desses antígenos aplicados em manchas da pele ou administrados através de uma pequena picada de agulha para provocar as reações de pápula e eritema. SUPRESSÃO PELAS CÉLULAS T REGULATÓRIAS O conceito de que alguns linfócitos poderiam controlar as respostas de outros linfócitos foi proposta há vários anos atrás e, rapidamente, seguiram-se demonstrações experimentais de populações de linfócitos T que suprimiam respostas imunológicas. Esses resultados iniciais levaram a um grande interesse no assunto, fazendo com que as células T supressoras se tornassem um dos tópicos dominantes na área de pesquisa em Imunologia na década de 1970. Entretanto, esse campo de estudo teve uma história um tanto confusa, principalmente porque as tentativas iniciais de definir as populaçõesde células supressoras e seus mecanismos de ação foram muito malsucedidas. Mais de 20 anos depois, a ideia renasceu de uma forma impressionante, com a aplicação de melhores abordagens para definir, purificar e analisar populações de linfócitos T que inibiam respostas imunológicas. Estas células são chamadas de linfócitos T regulatórios. Linfócitos T regulatórios são um subconjunto de células T CD4+ cuja função é suprimir as respostas imunológicas e manter a autotolerância. A maioria desses linfócitos T regulatórios CD4+ expressam altos níveis da cadeia a do receptor de interleucina-2 (IL-2), denominada CD25. Um fator de transcrição chamado FoxP3 (membro da família de fatores de transcrição forkhead) é crítico para o desenvolvimento e função da maioria das células T regulatórias. Camundongos com mutações espontâneas ou induzidas experimentalmente no gene foxp3 desenvolvem uma doença autoimune multissistêmica associada à ausência de células T regulatórias CD25+. Uma doença autoimune rara em humanos, chamada síndrome de IPEX (desregulação imunológica, poliendocrinopatia e enteropatia ligada ao X), é causada por mutações no gene FOXP3 e está associada à deficiência das células T regulatórias. Essas observações estabeleceram a importância das células T regulatórias na manutenção da autotolerância. O aumento recente do interesse nas células T regulatórias ocorre em virtude da avaliação crescente de seus papéis fisiológicos, bem como da possibilidade de que defeitos nestas células possam resultar em várias doenças autoimunes; em contrapartida, as células T regulatórias podem ser usadas para tratar doenças inflamatórias. Marcadores Fenotípicos e Heterogeneidade das Células T Regulatórias Embora muitas populações de células T tenham sido descritas como tendo atividade supressora, o tipo celular cujo papel regulatório está mais bem estabelecido é o CD4+ FoxP3+ CD25high. Tanto FoxP3 quanto CD25 são essenciais para a produção, manutenção e função dessas células. Tipicamente, essas células apresentam baixos níveis de expressão de receptores de IL-7 (CD127) e, conforme previsto a partir do padrão de expressão de receptores, elas 5 usam IL-2 (mas não IL-7) como fator de crescimento e sobrevivência. As células regulatórias FoxP3+ normalmente expressam níveis altos de CTLA-4, o que também é necessário para o seu funcionamento. A desmetilação do lócus do gene FOXP3, bem como de outros loci que contêm genes que são expressos nessas células, serve para manter um fenótipo estável de célula T regulatória. Atualmente, essas alterações epigenéticas são utilizadas para identificar células T regulatórias em pesquisa básica e pesquisa clínica. Produção e Manutenção de Células T Regulatórias Células T regulatórias são produzidas principalmente através do reconhecimento de autoantígenos no timo e através do reconhecimento de autoantígenos e antígenos externos em órgãos linfoides periféricos. No timo, o desenvolvimento das células T regulatórias é um dos destinos das células T comprometidas com a linhagem CD4 que reconhece autoantígenos; essas células T regulatórias tímicas (tTreg) também vêm sendo chamadas de células T regulatórias naturais. Em órgãos linfoides periféricos, o reconhecimento do antígeno na ausência de fortes respostas imunológicas inatas favorece a produção de células regulatórias a partir de linfócitos T CD4+ imaturos; células T regulatórias também podem se desenvolver depois de reações inflamatórias. Essas células T regulatórias periféricas (pTreg) vêm sendo chamadas de adaptativas ou induzidas, porque podem ser induzidas a se desenvolverem a partir de células T CD4+ imaturas nos tecidos linfoides periféricos, como uma adaptação do sistema imunológico em resposta a certos tipos de exposição antigênica. Previsivelmente, as células regulatórias tímicas são específicas para autoantígenos porque estes são os antígenos mais encontrados no timo. As células regulatórias periféricas podem ser específicas para autoantígenos ou antígenos externos. A produção de algumas células T regulatórias necessita da citocina TGF-b. A cultura de células T imaturas com anticorpos ativadores anti-TCR, juntamente aTGF-b (e IL-2), pode promover o desenvolvimento de células regulatórias in vitro. Em camundongos, a eliminação do TGF-b ou o bloqueio da sinalização mediada por TGF-b em células T levam a uma doença inflamatória sistêmica atribuída a ativação leucocitária descontrolada e deficiência de células T regulatórias funcionais. O TGF-b estimula a expressão de FoxP3, o fator de transcrição necessário para o desenvolvimento e função das células T regulatórias. A sobrevivência e a competência funcional das células T regulatórias dependem da citocina IL-2. Camundongos deficientes para o gene da IL-2 ou para a cadeia a ou b do receptor de IL-2 desenvolvem autoimunidade manifestada por doença inflamatória intestinal, anemia hemolítica autoimune e múltiplos autoanticorpos (incluindo anticorpos antieritrócitos e anti-DNA). Esses camundongos carecem de um conjunto inteiro de células T regulatórias CD25+ FoxP3+; suas doenças podem ser corrigidas por meio da restauração dessas células. A IL-2 promove a diferenciação de células T em um subtipo regulatório, sendo também necessária para a manutenção dessa população celular. A IL-2 ativa o fator de transcrição STAT5, que pode aumentar a expressão de FoxP3, assim como outros genes que estão envolvidos na função das células T regulatórias. Esses resultados são a base para os ensaios clínicos em andamento, que testam a habilidade da IL-2 em estimular as células T regulatórias em humanos, para o controle de doença transplante versus hospedeiro, inflamação autoimune e rejeição ao transplante. Populações particulares ou subtipos de células dendríticas podem ser especialmente importantes para estimular o desenvolvimento de células T regulatórias em tecidos periféricos. Há alguma evidência de que células dendríticas expostas ao ácido retinoico (o análogo da vitamina A) são indutoras das células T regulatórias, especialmente em tecidos linfoides associados às mucosas. Mecanismos de Ação das Células T Regulatórias As células T regulatórias parecem suprimir respostas imunológicas em múltiplos estágios – na indução da ativação da célula T nos órgãos linfoides, assim como na fase efetora dessas respostas nos tecidos. Elas também podem suprimir diretamente a ativação das células B e inibir a proliferação e diferenciação de células assassinas naturais (NK, do inglês natural killer). Embora diversos mecanismos de supressão tenham sido propostos, os mecanismos discutidos adiante são os que apresentam maior suporte de acordo com os dados disponíveis. • Produção das citocinas imunossupressoras IL-10 e TGF-b. • Habilidade reduzida das APCs em estimularem as células T. Um mecanismo proposto que pode levar a essa ação depende da ligação do CTLA-4 (nas células regulatórias) às moléculas B7 (nas APCs), conforme descrito anteriormente. 6 • Consumo de IL-2. Em virtude do alto nível de expressão do receptor de IL-2, essas células podem consumir IL- 2, privando outras populações de células desse fator de crescimento, o que resulta na redução da proliferação e diferenciação de outras células dependentes de IL-2. Ainda não está bem estabelecido se as células regulatórias trabalham por meio de todos esses mecanismos ou se há subpopulações que utilizam mecanismos diferentes para controlar as respostas imunológicas. De fato, existe alguma evidência (em humanos) de que duas diferentes populações de células T regulatórias podem ser distinguidas pela expressão de FoxP3 ou produção de IL-10, mas essa separação pode não ser absoluta. Citocinas Inibitórias Produzidas por Células T Regulatórias O TGF-b e a IL-10 estão envolvidos na produção e nas funções das células T regulatórias. Estas citocinas são produzidas e agem em muitos outros tiposcelulares além das células regulatórias. Fator de Crescimento Transformador-b O TGF-b foi descoberto como um produto de tumor que promovia a sobrevivência das células tumorais in vitro. Na verdade, o TGF-b constitui uma família de moléculas muito relacionadas codificadas por genes distintos, comumente designadas por TGF-b1, TGF-b2 e TGF-b3. As células do sistema imunológico sintetizam principalmente TGF-b1. O TGF- b1 é produzido por células T regulatórias CD4+, macrófagos ativados e muitos outros tipos de células. O TGF-b1 é sintetizado sob a forma de um precursor inativo que é clivado proteoliticamente no complexo de Golgi, a fim de formar um homodímero. O TGF-b1 maduro é secretado em uma forma latente associado a outros polipeptídios, que devem ser removidos extracelularmente através de digestão enzimática antes que a citocina possa se ligar aos receptores e exercer seus efeitos biológicos. O receptor de TGF-b1 consiste em duas proteínas diferentes (TGF-bRI e TGF-bRII), ambas as quais fosforilam fatores de transcrição chamados de SMADs. Durante a ligação da citocina, um domínio quinase serina/treonina do TGF-bRI fosforila o SMAD2 e o SMAD3 que, juntos ao SMAD4, formam um complexo que transloca para o núcleo, liga-se aos promotores dos genes alvo e regula a transcrição dos mesmos. O TGF-b tem muitos papéis importantes e bastante diversos no sistema imunológico. • O TGF-b inibe a proliferação e as funções efetoras das células T e a ativação dos macrófagos. O TGF-b inibe a ativação clássica dos macrófagos, porém é uma das citocinas secretadas por macrófagos ativados. O TGF-b também suprime a ativação de outras células como neutrófilos e células endoteliais. Por meio dessas ações inibitórias, o TGF-b atua no controle das respostas imunológica e inflamatória. • O TGF-b regula a diferenciação de diferentes subtipos funcionais de células T. Conforme descrito anteriormente, o TGF-b estimula o desenvolvimento de células T regulatórias FoxP3+ periféricas. Em combinação com citocinas produzidas durante respostas imunológicas inatas (como IL-1 e IL-6), o TGF-b promove o desenvolvimento do subtipo TH17 de células T CD4+, em virtude de sua habilidade de induzir a transcrição do fator RORgt. A habilidade do TGF-b de suprimir as respostas imunológicas e inflamatórias (em parte por meio da produção de células T regulatórias) e também de promover o desenvolvimento de células TH17 pró-inflamatórias, na presença de outras citocinas, é um exemplo interessante de como uma única citocina pode ter diversas ações (às vezes opostas), dependendo do contexto na qual é produzida. O TGF-b também pode inibir o desenvolvimento dos subtipos TH1 e TH2. • O TGF-b estimula a produção de anticorpos IgA, induzindo as células B a fazerem a troca para este isotipo. A IgA é o principal isotipo de anticorpo necessário para a imunidade de mucosas. • O TGF-b promove o reparo tecidual após o término da reação imunológica local e da reação inflamatória. Esta função é mediada, principalmente, pela habilidade do TGF-b em estimular a síntese de colágeno e a produção de enzimas de modificação da matriz (por macrófagos e fibroblastos) e pela promoção da angiogênese. Esta citocina pode desempenhar um papel patológico em doenças nas quais a fibrose é um componente importante, como fibrose pulmonar e esclerose sistêmica. Interleucina-10 A IL-10 é um inibidor de macrófagos ativados e células dendríticas, estando envolvida no controle das reações imunológicas inatas e da imunidade mediada por célula. É um membro da família de citocinas heterodiméricas que incluem IL-22, IL-27 e outras. O receptor de IL-10 pertence à família de receptores de citocina tipo II (similar aos receptores para interferons); consiste em duas cadeias que se associam às quinases da família Janus (JAK1 e TYK2) e 7 ativam a STAT3. A IL-10 é produzida por muitas populações de células imunológicas, incluindo macrófagos ativados e células dendríticas, células T regulatórias e células TH1 e TH2. A IL-10 atua como um regulador de retroalimentação negativa, já que é produzida por macrófagos e células dendríticas e também inibe a função dos mesmos. A IL-10 também é produzida por alguns linfócitos B, que já mostraram ter funções de supressão imunológica, sendo chamados de células B regulatórias. Os efeitos biológicos da IL-10 resultam de sua habilidade em inibir muitas das funções dos macrófagos ativados e células dendríticas. • A IL-10 inibe a produção de IL-12 por células dendríticas ativadas e macrófagos. Já que a IL-12 é um estímulo crítico para a secreção de IFN-g, que desempenha um papel importante nas reações imunológicas inatas e adaptativas mediadas por células contra microrganismos intracelulares, a IL-10 atua no sentido de suprimir todas essas reações. Inicialmente, a IL-10 foi identificada como uma proteína que inibia a produção de IFN-g. • A IL-10 inibe a expressão de coestimuladores e moléculas de MHC classe II em células dendríticas e macrófagos. Por causa dessas ações, a IL-10 serve para inibir a ativação de células T e terminar as reações imunológicas mediadas por células. Já foi descrita uma doença autoimune hereditária rara, na qual mutações no receptor de IL-10 levam à colite grave que se desenvolve precocemente (antes de 1 ano de idade). Camundongos deficientes para IL-10 (tanto em todas as células quanto somente nas células T regulatórias) também desenvolvem colite, provavelmente como resultado da ativação descontrolada dos linfócitos e macrófagos que reagem aos microrganismos entéricos. Por causa desses resultados, acredita-se que essa citocina seja especialmente importante para o controle de reações inflamatórias em mucosas de tecidos, particularmente no trato gastrintestinal. O vírus Epstein-Barr contém um gene homólogo à IL-10 humana; a IL-10 viral tem as mesmas atividades que a citocina natural. Isso aumenta a intrigante possibilidade de que a aquisição do gene semelhante à IL-10 durante a evolução do vírus tenha dado ao mesmo a habilidade de inibir a imunidade do hospedeiro, concedendo a ele a vantagem da sobrevivência nas pessoas infectadas. Papéis das Células T Regulatórias na Autotolerância e Autoimunidade A elucidação das bases genéticas da síndrome IPEX e a doença similar em camundongos (causadas por mutações no gene Foxp3, descrito anteriormente) são provas convincentes da importância das células T regulatórias na manutenção da autotolerância e homeostase no sistema imunológico. Várias tentativas vêm sendo feitas para identificar defeitos no desenvolvimento ou função das células T regulatórias nas doenças autoimunes mais comuns em humanos, tais como doença inflamatória intestinal, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla, bem como nas doenças alérgicas. Parece provável que defeitos nas células T regulatórias ou resistência das células efetoras à supressão contribuam para a patogênese das doenças autoimunes e alérgicas. Estudos também apontam que há potencial no processo de expansão do número de células regulatórias em cultura com posterior injeção das mesmas nos pacientes, a fim de controlar respostas imunológicas patológicas. Já existem ensaios clínicos de transferência de células T regulatórias em andamento, na tentativa de tratar a rejeição ao transplante, doença transplante versus hospedeiro e outras doenças autoimunes e inflamatórias. Outras tentativas também estão em andamento para induzir essas células em pacientes por meio da administração (1) de autopeptídios que são alvos da autoimunidade ou (2) de baixas doses da citocina IL-2, separadamente ou em combinação.
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