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201768 :: 720002255715 eProc :: https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=7a1b1c1c3a7574027a6827c0bf552368 1/4 Avenida Vereador Abrahão João Francisco, 3655 Bairro: Dom Bosco CEP: 88307303 Fone: (47)33415800 www.jfsc.jus.br Email: scita01@jfsc.jus.br AÇÃO PENAL Nº 500198578.2017.4.04.7208/SC AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: TRAINOTTI DADAM EXTRACAO DE AREIA E ARGILA LTDA EPP RÉU: JULIANO DADAM DESPACHO/DECISÃO A denúncia imputa ao réu Juliano Dadam a prática dos delitos previstos no art. 55 da Lei nº 9.605/98 e no artigo 2º da Lei nº 8.176/91, e à empresa ré Trainotti Dadam Extração de Areia e Argila Ltda EPP a prática do delito previsto no art. 55 da Lei nº 9.605/98. Para o delito tipificado no art. 55 da Lei nº 9.605/98 é prevista pena privativa de liberdade de seis meses a um ano. Para o delito tipificado no art. 2º da Lei nº 8.176/91 é prevista pena privativa de liberdade de um a cinco anos. Considerados individualmente, o crime do art. 55 da Lei nº 9.605/98 admite transação penal, nos termos dos arts. 61 e 76 da Lei nº 9.099/95, já que tem pena privativa de liberdade máxima não superior a dois anos, e o crime do art. 2º da Lei nº 8.176/91 admite suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei nº 9.099/95, já que tem pena privativa de liberdade mínima não superior a um ano. O Ministério Público Federal, em alguns casos semelhantes, tem entendido inviável a concessão dos benefícios da transação penal e da suspensão condicional do processo, ao argumento de que as penas previstas para ambos os delitos deveriam ser consideradas conjuntamente, e não isoladamente. Discordo do entendimento ministerial. A Lei nº 11.313/2006 alterou a redação do parágrafo único do art. 60 da Lei nº 9.099/95 e do parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.259/2001, prevendo que o benefício da transação penal deve ser oferecido aos delitos aos quais cominada pena privativa de liberdade não superior a dois anos, considerados isoladamente, e não em conjunto com outros eventuais delitos. Com efeito, se a transação penal, nos termos das novas redações do parágrafo único do art. 60 da Lei nº 9.099/95 e do parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.259/2001, deve ser observada mesmo quando há reunião de processo relativo a infração de menor potencial ofensivo com outro processo no qual há imputação de crime de competência do tribunal do júri, a conclusão é de que, para tanto, a infração de menor potencial ofensivo Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária de Santa Catarina 1ª Vara Federal de Itajaí 201768 :: 720002255715 eProc :: https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=7a1b1c1c3a7574027a6827c0bf552368 2/4 necessariamente haverá de ter sua pena considerada isoladamente, e não conjuntamente à do crime de competência do tribunal do júri, já que não há crime da competência do tribunal do júri que, sozinho, tenha pena inferior a dois anos de privação de liberdade. A soma das penas prevalece devendo ser observada apenas para definição da competência para conhecer do processo (se do Juizado Especial Federal ou do Juízo Comum) e para avaliar se é devida a oportunização da suspensão condicional do processo (conforme o art. 89 da Lei nº 9.099/95). Para avaliar se é devida transação penal, porém, as penas devem ser consideradas isoladamente. Esse entendimento até aqui exposto já foi implicitamente reconhecido no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, em julgado produzido à luz do seguinte voto condutor, lavrado pela Ministra Maria Thereza de Assis Moura: (...) Este writ referese à definição de competência para processar e julgar ações penais envolvendo concurso de crimes contra a honra, em que o somatório das reprimendas máximas ultrapassa dois anos. O delitos imputados na queixacrime, isoladamente, permitem a aplicação do rito especial previsto na Lei 9099/95. São eles: injúria, difamação e calúnia. Nesta Corte,a jurisprudência é uníssona a afastar a competência do Juizado Especial Criminal para tratar de hipóteses como a presente. Conferir, a propósito: "PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. NATUREZA DA INFRAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM DELINEADA PELA PRETENSÃO. CONDENAÇÃO APENAS POR CRIME ABRANGIDO PELO CONCEITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. IRRELEVÂNCIA. MANUTENÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. 1. Na hipótese de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação de competência será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos. 2. A absolvição em relação a um ou a alguns dos crimes, a desclassificação ou mesmo a nãoincidência de causa de aumento de pena por ocasião da sentença não afastam a competência da Justiça comum delineada pela pretensão, mesmo subsistindo a condenação apenas em relação a crime abrangido pelo conceito de menor potencial ofensivo. 3. Conflito conhecido para declarar a competência da Segunda Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ora suscitado." (CC 51.537/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13.09.2006, DJ 09.10.2006 p. 259) "(...) No caso de concurso de crimes, a pena considerada, para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal, será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas aos delitos. Com efeito, se desse somatório resultar um apenamento superior a 2 (dois) anos, fica afastada a competência do Juizado Especial (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ). (...)" (REsp 776.058/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04.04.2006, DJ 15.05.2006 p. 282). Com o advento da Lei n. 11.313/06, que autorizou a proposta de transação penal para infrações penais de menor potencial ofensivo praticadas em concurso com crimes que refogem à competência do Juizado Especial Criminal, verifiquei, em um juízo de cognição sumária, a plausibilidade jurídica do pleito prefacial. Notase, porém, quanto ao mérito, que a impetração não merece guarida, visto que, de fato, o conjunto das penas máximas das infrações imputadas extravasam o limite de dois anos. 201768 :: 720002255715 eProc :: https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=7a1b1c1c3a7574027a6827c0bf552368 3/4 Assim, é inviável atenderse ao pedido de deslocamento da competência para o Juizado Especial Criminal, a despeito de se poder cogitar, atualmente, na hipótese, com a nova redação do parágrafo único do art. 60 da Lei n. 9.099/95, da aplicação da transação penal em casos de concurso de crimes, até mesmo perante o juiz do tribunal do júri. Neste passo, de rigor é transcrever a lição de GUSTAVO BADARÓ: "Não houve mudança no entendimento de que, havendo o concurso de crime (e conseqüentemente conexão entre eles), se a soma das penas máximas ultrapassar o limite de dois anos, o processo não será de competência do Juizado Especial, devendo ser remetido ao Juízo comum. Todavia, e neste ponto é que ocorreu a alteração, no juízo comum, em relação a cada infração penal que, isoladamente, seria infração de menor potencial ofensivo (por ter pena máxima igual ou inferior a dois anos), deverá ser aplicada a transação penal. (...) Por outro lado, se todos os crimes, isoladamente, forem infração penal de menor potencial ofensivo(p. ex.: três lesões corporais dolosas leves, que têm pena máxima de um ano), pela nova disposição, em relação a cada um deles, deverá ser feita proposta de transação penal e tentada a composição civil." (Direito processual penal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, tomo II, p. 108109). Em semelhante posição, colhese o magistério de ANTONIO SCARANCE FERNANDES: "Como fazer em casos de concurso entre infrações de menor potencial ofensivo quando a soma das penas impediria a transação penal? Ora, se é possível transação penal quando a soma das penas da infração de menor potencial ofensivo e de infração de outra natureza exceder o limite máximo de dois anos de pena privativa de liberdade, devese permitir também a transação em relação a uma das infrações conexas de menor potencial ofensivo, ficando impedida essa solução somente em relação às demais em virtude do inciso II, do § 2.º, do artigo 76, da Lei nº 9099" (Boletim do IBCCrim , São Paulo, n. 166, Setembro de 2006). Ante o exposto, denego a ordem e casso a liminar. É como voto. (...). Em resumo, tenho como indevida a recusa, pelo Ministério Público Federal, de oferta de transação penal aos réus denunciados no presente processo, ao menos sob a justificativa de que deveria haver soma das penas dos delitos imputados para submissão do total obtido ao limite de dois anos de privação de liberdade que é previsto no art. 62 da Lei nº 9.099/95. Verdade que o órgão ministerial, na denúncia que ofertou, fundamentou a falta de formulação de proposta de transação penal não com menção à soma das penas dos delitos imputados, mas sim com afirmação de que "(...) Ambos os denunciados registram antecedentes criminais (vide certidões anexas), de modo que é inviável a aplicação dos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo (...)" (evento 01, DENUNCIA1). Observo, entretanto, que, com a denúncia, foram apresentados três documentos. Um deles é certidão de antecedentes que registra que "nada consta" (evento 01, CERTANTCRIM2). Outro deles é certidão de antecedentes que registra gozo do benefício da suspensão condicional do processo em 28.02.2013, com medidas que já teriam sido extintas em 01.03.2016 (evento 01, CERTANTCRIM3). Ou seja, tratase de certidão que não indica condenação anterior, não indica gozo de benefício da transação penal nos últimos cinco anos, e não indica que o réu atualmente esteja sendo processado por outro crime. O terceiro documento é o demonstrativo de uma consulta a processo que tramita em Pomerode. Consultando tal processo na data de hoje, constato que os réus denunciados perante este juízo federal aparentemente celebraram acordo de transação penal perante a 201768 :: 720002255715 eProc :: https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=minuta_imprimir&acao_origem=acessar_documento&hash=7a1b1c1c3a7574027a6827c0bf552368 4/4 500198578.2017.4.04.7208 720002255715 .V6 AGS© MOV comarca daquela cidade. A celebração de acordo de transação penal naquele processo perante a Justiça Estadual seria impeditivo a nova celebração de acordo de transação penal neste processo em trâmite perante a Justiça Federal. Entretanto, não tem sido incomuns os casos em que um mesmo fato enquadrável como crime ambiental termine ensejando formação de processos distintos perante a Justiça Estadual e perante e Justiça Federal. Nesse sentido, determino que se oficie solicitando cópia integral do Processo 090004609.2016.8.24.0050, que tramita perante a Comarca de Pomerode. Tratandose eventualmente de processo eletrônico, passível de conmsulta pela internet, solicitese a chave ou senha para acesso. Depois, oportunizese nova manifestação ao Ministério Público Federal sobre eventual concessão do benefício da transação penal aos réus. Por fim, retornem conclusos. Desde logo, intimese o Ministério Público Federal sobre a presente decisão. Documento eletrônico assinado por MOSER VHOSS, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 720002255715v6 e do código CRC d9e237c3. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): MOSER VHOSS Data e Hora: 03/04/2017 17:53:58
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