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Design político representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho Design político Mônica Moura com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design paraum mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado Design político Mônica Moura representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziuo Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visãomais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ Elmano de Freitas Governadora do Estado do Ceará Luisa Cela Secretária da Cultura INSTITUTO MIRANTE DE CULTURA E ARTE Tiago Santana Diretor-Presidente João Wilson Damasceno Diretor-Executivo Marília Marinho Diretora Administrativo-Financeira KUYA - CENTRO DE DESIGN DO CEARÁ Rodrigo Costa Lima Diretor Talles Azigon Assessor Executivo Cláudia Sales Coordenadora de Formação Erbene Monteiro Supervisora Administrativo Financeiro Rhayara Brenna Luiz Fernando Delano Pessoa Coordenador de Pesquisa Daniel França Coordenador de Comunicação Raissa de Oliveira Analista de Mídias Sociais Rafael Salvador Designer Tea Marcelo Produtore Flávio de Lima Oliveira Técnico de Equipamentos (TI, Áudio e Vídeo) Isabel Rocha Técnico de Pesquisa (Laboratório) Erikson Queiroz Técnico de Equipamentos (Pesquisa e criação) Camila Costa Receptivo Eriverton Ribeiro Receptivo Aline Andrezza Receptivo Dina Batista Receptivo Barbara Moura Estagiário Yana Leal Estagiária Lucas Borges Estagiário FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Luciana Dummar Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Marcos Tardin Gerente-Geral Raymundo Netto Gerente de Projetos Chico Marinho Gerente de Audiovisual Andrea Araujo Gerente de Marketing & Design Lia Leite Gerente editorial Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analistas de Projetos Narcez Bessa Analista de Contas Andrea Araujo Editora de Design Kamilla Damasceno e Welton Travassos Henri Dias Analista de Marketing Letícia Frota Social Media UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Prof. Dr. Deglaucy Jorge Teixeira Gerente Educacional Profa. Ms. Jôsy Cavalcante Coordenadora Pedagógica Esp. Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Iany Campos Secretária Escolar Isabela Marques Desenvolvedora Fron-End Germana Cristina Rebeca Azevedo Estagiárias em Mídias e tecnologia para Educação Arielly Ribeiro Estagiária em Pedagogia Mário Maia Ilustrações Expediente SUMÁRIO pág.08 pág.14 pág.26 pág.40 pág.65 pág.74 01 Design e Política no cotidiano 02 Design e Política 03 Design e Política em breve abordagem histórica 04 Design Contemporâneo 05 Ativismo em design na contemporaneidade 06 Referências e bibliografias representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho Nosso curso se propõe a apresentar e demonstrar a abrangência, bem como a pensar e dialogar a respeito do que vem a ser um design político. Mas, para isto vamos caminhar por um trajeto que discute o design e a política, ou melhor, as relações entre o design e a política e a ação política. Objetivos: - Apresentar e discutir as definições de design, política, ação política, políticas no design e o design contemporâneo; - Desenvolver o pensamento crítico a respeito do design e da política no cotidiano; - Explorar manifestos, publicações, autores e designers que relacionam a política e ação política; - Demonstrar breve histórico das vertentes políticas no design; - Discutir as proximidades entre design e política e o papel da atuação dos designers na contemporaneidade. Ao longo deste nosso percurso poderemos observar mais de perto e perceber que não há design sem política e que todo design envolve políticas de uma ou mais das variadas vertentes que existem. Mas, também o design pode constituir políticas e agir para a política. Parece jogo de palavras, mas não é. Então vamos começar nosso trajeto e conhecer alguns atalhos deste complexo caminho. com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suasdecisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado Design Político. // xx representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho Nosso curso se propõe a apresentar e demonstrar a abrangência, bem como a pensar e dialogar a respeito do que vem a ser um design político. Mas, para isto vamos caminhar por um trajeto que discute o design e a política, ou melhor, as relações entre o design e a política e a ação política. Objetivos: - Apresentar e discutir as definições de design, política, ação política, políticas no design e o design contemporâneo; - Desenvolver o pensamento crítico a respeito do design e da política no cotidiano; - Explorar manifestos, publicações, autores e designers que relacionam a política e ação política; - Demonstrar breve histórico das vertentes políticas no design; - Discutir as proximidades entre design e política e o papel da atuação dos designers na contemporaneidade. Ao longo deste nosso percurso poderemos observar mais de perto e perceber que não há design sem política e que todo design envolve políticas de uma ou mais das variadas vertentes que existem. Mas,também o design pode constituir políticas e agir para a política. Parece jogo de palavras, mas não é. Então vamos começar nosso trajeto e conhecer alguns atalhos deste complexo caminho. com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreendercomo tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Design e Política no cotidiano Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado Design Político. // 08 representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica,das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000 atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campode conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado Design Político. // 09 design representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca seriam cumpridas, apenas em favor da comercialização e do consumo. Clamava que os designers se envolvessem em propostas mais valiosas, ou seja, para uma visão mais humanista que promovessem a melhoria da sociedade. Esse manifesto ficou amplamente conhecido e teve intensa repercussão ao ser publicado no jornal inglês The Guardian. Posteriormente, em 1999, este manifesto foi publicado na Revista Emigre (https://www.emigre.com/Magazine/5 1). Em 2000 um grupo de escritores e designers liderados pelo designer gráfico, cineasta e tipógrafo britânico Jonathan Barnbrook (*1966-) produziu o Manifesto First Things First 2000atualizado e enviado para publicação em vários jornais. https://www.emigre.com/Essays/Maga zine/FirstThingsFirstManifesto2000 Esse manifesto é muito importante para a área do Design e para os designers, tanto que em 2020, nova versão foi produzida e publicada no website https://www.firstthingsfirst2020.org/p ortuguese Em 1971 a publicação do livro Design for The Real World human ecology and social change (Design para um mundo real - ecologia humana e mudança social) do designer e educador austríaco Victor Papanek (*1923+1998) com textos que abordam as questões políticas associadas ao design e a necessidade premente deste campo de conhecimento dar mais atenção aos modos de vida associadas ao ambiente e a sociedade. Preocupação que Papanek proclamava como as mais importantes para o design em contraposição a industrialização e a produção desenfreada e a valorização do consumo exacerbado Design Político. // 10 representação. Há vários tipos de política – institucional, partidária, sindical, empresarial, educacional, feminista, da igreja. Na política existe a atuação jurídica, das ciências sociais, da história e da economia onde muitas questões provenientes destas áreas se interrelacionam. As ciências políticas dedicam-se ao estudo da formação e construção dos Estados, dos governos e de instituições que detenham o poder, englobando teorias e práticas, análises dos sistemas e dos comportamentos. Portanto, design e política ocorrem e tem relação direta com a esfera humana, com a esfera ambiental, com a socio biodiversidade, ou seja, com o ser Antes das definições ou de explorar os conceitos relacionados a design e a política e como ocorrem as relações entre eles, vou citar alguns exemplos que podem nos ajudar a compreender como tanto o design quanto a política estão presentes em todas as dimensões da nossa vida e de nosso cotidiano. Vamos tomar como exemplos situações corriqueiras de nosso cotidiano. Você está em um canto da sala de sua casa onde criou seu espaço de trabalho e estudo remoto (home office). Está sentada(o) em uma cadeira junto a uma mesa que lhe serve de apoio e na qual está estudando ou trabalhando. Há canetas e smartphone, tablet ou notebook ou um computador sobre sua mesa. A partir destes dispositivos você acessa websites, livros digitais, aplicativos. Ainda na sua mesa há caderno, bloco de anotação, um vasinho com suculentas e uma embalagem com balas sortidas. Acima da sua mesa há prateleiras ou uma estante com livros, revistas e jornais impressos. Você está vestida (o) com camiseta e bermuda, chinelos confortáveis, brincos, piercing e tem uma (ou mais) tatuagem no seu corpo. Tudo isto é design! Os móveis, objetos, os artefatos tecnológicos ou impressos, os revestimentos do mobiliário e das paredes, tapetes, o ambiente interno da sala e de sua área de trabalho, os tecidos, as roupas, acessórios, joias, tatuagem, as embalagens. E, ainda, a tecnologia e os serviços dos apps, o formato, cores, tipografia, papel ou telas, ilustrações, fotografias e vídeos, sonorização e áudios que compõem o que você acessa ou consulta. Tudo isto é design. O design está em nosso cotidiano, em nossa vida, em tudo o que nos rodeia. Por outro lado, se paramos alguns minutos para refletir sobre o sistemas que envolvem e interferem diretamente em nossa vida, tais como o preço das passagens do transporte público e dos produtos na feira ou no supermercado; a faculdade na qual você faz seu curso em uma organização pública ou privada; o seu trabalho incluindo seu cargo e salário; o local que mora – bairro, condomínio, comunidade, cidade, país-; os impostos que paga direta ou indiretamente; seus benefícios e direitos; o serviço público de saúde ou seu convênio médico particular. Eu poderia aqui continuar listando uma série de coisas que parecem rotineiras e arraigadas em nosso cotidiano. Tudo isto para afirmar que em tudo há política! Há política em suas decisões, nas escolhas que faz, no que consome, em suas decisões alimentares, sua identidade de gênero, no partido político que apoia ou o fato de ser apartidário. E, também, nos candidatos que elege para serem seus representantes seja na esfera governamental, municipal, estadual, federal ou no diretório acadêmico de sua faculdade ou no edifício onde mora, suas decisões de voto (ou de anulação ou de abstenção), tudo isto é política! A política não está presente apenas nas questões do Estado e sim está em seu dia a dia. A política envolve teorias, linguagem e discurso. Refere-se ao poder, ao direito, a moral, ao estado, ao governo e aos comportamentos intersubjetivos. Envolve realidade social, interesses, conflitos, relações de participação e de humano e os seres que habitam este planeta, com o ser humano e o seu entorno: sociedade, comunidade, coletividade, cidadania, ambiente. Tanto o design quanto a política existem a partir do preceito da convivência, de saber atuar com as diferenças e visam a melhoria da vida, ou da chamada qualidade de vida, do bem-estar ou do bem viver o que infere também nos conceitos de dignidade, cidadania, inclusão e nos ideais nos quais acreditamos e, que para alcançá-los, devemos atuar junto a coletividade. Design e política são muito interligados, caminham juntos e até se misturam. Essa mistura ocorre de maneira tal que, muitas vezes, não percebemos ou não nos damos conta de que existe política no design, além das políticas públicas destinadas ao design e das políticas próprias do design. Devemos considerar ainda os serviços e ações políticas que ocorrem por meio do design. Ação política é um processo que envolve a dimensão individual, isto é, o individuo e sua liberdade perante as decisões e opções por suas escolhas, mas a ação política pode partir da esfera individual e envolver a esfera coletiva, desde os grupos, as micro comunidades, cidades e países. É importante lembrar que o comportamento das pessoas quando fazem escolhas é uma ação política. No design a supervalorização da tecnologia digital, a sedução pela forma externa, a sedução pelos objetos, pelas marcas ou pela assinatura do designer é uma ação política. São as grandes corporações criando políticas de gosto e os designers desenvolvendo projetos e criando objetos sedutores. O mesmo ocorre com relação a opção por produtos, serviços que visam a sustentabilidade, a reciclagem, o reuso e, também com os projetos de cunho social, são escolhas, são ações políticas. E, isto não ocorre apenas no âmbito do usuário e consumidor. É uma ação política as escolhas do profissional designer diante dos projetos pelos quais opta em desenvolver, dos projetos pro bono (iniciativas destinadas para o bem público), da conscientização ética a respeito do seu trabalho e do envolvimento dos designers em causas sociais, políticas e no ativismo. Ainda, é parte da ação política e é, de certa forma fazer política também, o pensamento crítico sobre a área, o campo de conhecimento e de atuação profissional dos designers. Neste sentido trazemos como exemplo o Manifesto First Things First (Primeiras Coisas Primeiro, conhecido também como O Manifesto das Primeiras Coisas). Este manifesto foi concebido e escrito pelo designer e educador britânico Ken Garland (*1929+2021) em 1963 e publicado em 1964. O documento foi assinado por vários designers, fotógrafos e estudantes (nenhum dos grandes grupos de design da época assinou). O teor principal é a conscientização dos designers a favor de projetos e de comunicação mais consistentes e duradouros e não que divulgassem comerciais cheios de truques ou promovessem status e nem promessas que nunca
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