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Texto Complementar - CONTABILIDADE SOCIETARIA

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VALOR JUSTO – DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DO CPC 46 
 
A Lei n. 11.638, que introduziu os padrões contábeis internacionais 
(IFRS) no Brasil, chegou de surpresa no último dia de 2007. As empresas 
fizeram seu dever de casa nos anos subsequentes para que o processo de 
consolidação vingasse e o Brasil fosse um dos 120 países integrantes do 
IFRS em 2010. Hoje são mais de 260 países, segundo pesquisa realizada 
pela PWC em 2012, e o número continua aumentando. Afinal, um mundo 
globalizado precisa suprir seus investidores e mercado com relatórios 
também globais, falando uma única língua. E a língua escolhida foi o IFRS. 
A entrada em vigor do CPC 46 – Mensuração do Valor Justo, 
correspondente ao IFRS 13, visa suprir o mercado de esclarecimentos sobre 
a principal expressão utilizada na língua IFRS: Valor Justo (Fair Value). 
Chega em boa hora, considerando que estamos aplicando o IFRS 
oficialmente desde 2010 sem literatura adequada sobre o tema Valor Justo 
na nossa língua nativa. Será, portanto, uma contribuição valiosa para o 
mundo acadêmico e também para os profissionais que se habituaram a 
pronunciar a expressão (na contabilidade, Valor Justo talvez seja a 
expressão mais corriqueira hoje), sem ter um mínimo conhecimento do 
assunto. “Ah, isto tem que ser calculado a Valor Justo”, ou então “Os passivos 
estão registrados a Valor Justo? Ah, existe uma Nota Explicativa dizendo que 
sim? Então tudo bem”. O leitor terá a sensação, ao terminar a leitura do 
pronunciamento, de ter aberto a Caixa de Pandora. Verá que o assunto é 
mais complexo do que imaginava, mas, ao mesmo tempo, não estará mais 
na escuridão de antes, quando só tinha as versões brasileiras dos IFRS 
(CPC) e suas interpretações. E como por coincidência do destino une-se à 
promulgação deste CPC o primeiro livro contendo metodologias de avaliação 
no conceito de valor justo, incluindo casos práticos, com lançamento previsto 
ainda para o 1º semestre deste ano. 
Comentaremos a seguir os pontos relevantes do CPC 46 na avaliação 
de ativos não financeiros. 
 
 
MERCADO PRINCIPAL OU MAIS VANTAJOSO 
 
O conceito de Valor Justo parte do princípio que a transação ocorre no 
“mercado principal” do ativo ou passivo objeto ou, na ausência deste, “no 
mais vantajoso”. A principal tarefa que precede a mensuração do valor justo 
de algo, portanto, consiste na evidenciação deste mercado, conforme 
parágrafo 17 do CPC 46: “A entidade não necessita empreender uma busca 
exaustiva de todos os possíveis mercados para identificar o mercado 
principal ou, na ausência de mercado principal, o mercado mais vantajoso, 
mas ela deve levar em consideração todas as informações que estejam 
disponíveis. Na ausência de evidência em contrário, presume-se que o 
mercado no qual a entidade normalmente realizaria a transação para a venda 
do ativo ou para a transferência do passivo seja o mercado principal ou, na 
ausência de mercado principal, o mercado mais vantajoso”. Fica claro para o 
profissional avaliador, portanto, que o mercado deve ser identificado, se 
possível com evidências de transações anteriores, ou caso não existam, com 
justificativas para a premissa adotada. 
 
PARTICIPANTES DE MERCADO 
 
Seguindo o modelo conceitual para determinação do Valor Justo 
descrito no CPC 46, o próximo passo, após a caracterização do mercado, é 
a caracterização dos participantes deste, na transação hipotética que tem 
como objetivo a determinação do Valor Justo do objeto. De acordo com o 
parágrafo 42 do CPC 46, “A entidade deve mensurar o valor justo de um ativo 
ou passivo utilizando as premissas que os participantes do mercado 
utilizariam ao precificar o ativo ou o passivo, presumindo-se que os 
participantes do mercado ajam em seu melhor interesse econômico”, não é 
necessária a nomeação de participantes específicos, mas sim a divulgação 
de uma lista de características em comum destes participantes. 
 
 
PREÇO 
 
Como já sabemos pelas definições de Valor Justo em outros 
pronunciamentos do IFRS, o preço de referência é um preço de “saída”, ou 
seja, um valor recebido pela venda, na ótica do vendedor, dentro do mercado 
e negociantes definidos anteriormente. Vale ressaltar aqui que este preço de 
referência hipotético não inclui custos da transação específica, mas pode 
incluir custos de transporte do ativo até o mercado definido, conforme o 
parágrafo 26 do CPC 46: “Os custos de transação não incluem custos de 
transporte. Se a localização for uma característica do ativo (como pode ser o 
caso para, por exemplo, uma commodity), o preço no mercado principal (ou 
mais vantajoso) deve ser ajustado para refletir os custos, se houver, que 
seriam incorridos para transportar o ativo de seu local atual para esse 
mercado.” 
 
APLICAÇÃO A ATIVOS NÃO FINANCEIROS 
 
Os maiores desafios nas mensurações a Valor Justo residem neste 
grupo, onde se encontram os ativos de longo prazo, como o imobilizado e 
toda a classe de ativos intangíveis. São o foco deste manual, e também um 
dos motivadores para a redação do IFRS 13. O princípio básico na avaliação 
destes ativos foi importado de técnicas e normas da engenharia (no Brasil, 
NBR 14.653, ABNT), que têm suas origens na avaliação de ativos 
imobiliários. Este princípio é colocado no parágrafo 27 do CPC 46: “A 
mensuração do valor justo de um ativo não financeiro leva em consideração 
a capacidade do participante do mercado de gerar benefícios econômicos 
utilizando o ativo em seu melhor uso possível (highest and best use) ou 
vendendo-o a outro participante do mercado que utilizaria o ativo em seu 
melhor uso”. Um exemplo simples seria uma entidade que adquire uma marca 
e decide não usá-la, devendo, mesmo assim, contabilizá-la pelo respectivo 
valor justo com base nas premissas de uso pelos demais participantes de 
mercado. 
 
PREMISSAS NA AVALIAÇÃO DE ATIVOS NÃO FINANCEIROS 
 
Este é um ponto importante devido à contradição na literatura e, 
consequentemente, na prática sobre o tema, e tem como foco a venda 
combinada (ou não) dos ativos/passivos avaliados. Está bem claro no 
parágrafo 31 do CPC 46 que não é necessária a existência ou viabilidade de 
um mercado para determinado ativo que se deseja mensurar a valor justo, 
isoladamente: “Se o melhor uso possível do ativo for o uso do ativo em 
combinação com outros ativos ou com outros ativos e passivos, o valor justo 
do ativo é o preço que seria recebido em uma transação atual para a venda 
do ativo, presumindo-se que o ativo seria utilizado com outros ativos ou com 
outros ativos e passivos e que esses ativos e passivos (ou seja, seus ativos 
complementares e os respectivos passivos) estariam disponíveis aos 
participantes do mercado”. Este conceito fundamental é a premissa básica 
para que se possa aplicar metodologias de avaliação que embutam técnicas 
de decomposição de valores para os citados ativos complementares, 
notadamente o MPEEM (Multi Period Excess Earnings Method), amplamente 
utilizado na avaliação de intangíveis. 
 
TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO 
 
Após a exploração dos pontos obscuros no campo conceitual que 
envolve todo o processo de mensuração a valor justo, o CPC 46 estabelece 
uma série de padrões na aplicação de técnicas de mensuração, com foco na 
divulgação de todos os parâmetros dos modelos matemáticos utilizados, para 
que o leitor dos relatórios possa avaliar a coerência e riscos associados ao 
Valor Justo divulgado. Este foco do CPC 46 fica claro no parágrafo 61, onde 
compreende-se que: “A entidade deve utilizar técnicas de avaliação que 
sejam apropriadas nas circunstâncias e para as quais haja dados suficientes 
disponíveis para mensurar o valor justo, maximizando o uso de dados 
observáveis relevantes e minimizando o uso de dados não observáveis.” 
 
Ainda com relação às técnicas de avaliação, o IFRS 13, e 
consequentemente o CPC 46, induz a uma prática não recomendada no 
parágrafo 63, quando estimula a apuração
do Valor Justo por mais de uma 
técnica e posterior cálculo de uma média destes métodos. Tal estímulo nos 
parece influência da avaliação de ativos imobiliários, assim como o conceito 
de melhor uso visto anteriormente, onde esta média é aplicada em alguns 
casos. De um modo geral, as normas internacionais de avaliação (IVS), assim 
como as melhores práticas, nos dizem que devemos escolher o método e 
abordagem apropriados, e não realizar uma média dos métodos sem 
qualquer fundamentação científica ou empírica sobre os motivos para tal. 
Esta interpretação também encontra-se corroborada na literatura 
internacional sobre o assunto. 
HIERARQUIA DO VALOR JUSTO 
 
A hierarquia do valor justo talvez seja o conceito mais importante 
introduzido por este pronunciamento contábil. Para fins de divulgação dos 
resultados de uma avaliação a valor justo são criados três níveis de 
classificação deste valor, em função da técnica de avaliação utilizada e 
respectivos inputs ou dados de entrada utilizados no modelo. A hierarquia 
prioriza os dados observados ou verificados diretamente pelos participantes 
de mercado (nível 1), desestimulando a utilização de dados que não podem 
ser observados ou verificados (nível 3). Temos uma questão relevante aqui: 
uma técnica de avaliação pode exigir uma quantidade n de dados de entrada, 
classificados em diferentes níveis quanto à observação e verificação. Como 
esta hipótese é bastante provável, principalmente no caso brasileiro, onde 
não existe histórico de divulgação ou manutenção de transações de compra 
e venda de ativos em bases de dados públicas, faz-se necessária a 
introdução do conceito de análise de sensibilidade da técnica de avaliação 
utilizada, vis-à-vis todos os dados de entrada utilizados. O nível que deverá 
ser atribuído a determinado valor justo deverá ser equivalente ao menor nível 
do input que tenha influência significativa no resultado. Isto significa que os 
 
modelos de avaliação não devem evoluir para técnicas complexas baseadas 
em inputs não observáveis, sob pena de rebaixamento de todo o modelo. 
Fonte: https://www.apsis.com.br/blog/artigos/valor-justo-desafios-na-
implementacao-do-cpc-46/

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