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_______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 1 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEITURA E DA ESCRITA ....................................................... 4 SURGIMENTO DA ESCRITA ................................................................................................ 4 MÉTODOS ALFABETIZADORES TRADICIONAIS ............................................................... 7 MÉTODOS SINTÉTICOS ...................................................................................................... 9 MÉTODOS ANALÍTICOS .................................................................................................... 12 CARTILHAS ALFABETIZADORAS ..................................................................................... 15 PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA: CONTRIBUIÇÕES PARA A ALFABETIZAÇÃO ... 17 UMA PERSPECTIVA INOVADORA .................................................................................... 18 REFERÊNCIAS CONCEITUAIS .......................................................................................... 18 O OLHAR CONSTRUTIVISTA ............................................................................................ 19 CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET ........................................................................................... 20 NÍVEIS DE LEITURA .......................................................................................................... 23 NÍVEIS DE ESCRITA .......................................................................................................... 24 A SONDAGEM .................................................................................................................... 33 INTERAÇÕES COMO INSTRUMENTO AUXILIADOR NA APRENDIZAGEM ..................... 34 INTERAÇÃO GRUPAL ........................................................................................................ 35 PROFESSOR MEDIADOR .................................................................................................. 36 AMBIENTE ALFABETIZADOR ............................................................................................ 37 CONSEQUÊNCIAS GERADAS PELA PESQUISA .............................................................. 39 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 42 http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 3 INTRODUÇÃO Vamos agora estudar algumas contribuições da língua escrita no processo de aquisição do sistema de escrita alfabética partindo do surgimento da escrita e referencias conceituais, a literatura especializada, muitas vezes, tem apontado para o fato de que parte dos educadores possui uma visão distorcida sobre qual deve ser a posição do aluno, neste processo de aquisição do sistema de escrita alfabética, desmerecendo a capacidade que este tem para assumir uma postura ativa, diante do processo de leitura e escrita. Diante disto, para efetivar o conhecimento sobre o sistema alfabético, o aluno não precisa simplesmente de ensinamentos externos, mas sim de oportunidades para colocar à prova suas próprias elaborações, acerca do sistema notacional. Desta forma, justifica-se a relevância deste estudo, que buscou ressaltar a importância da alfabetização, em um mundo letrado como o atual, considerando que, apesar de todo este valor, há aqueles alunos que não conseguem dominar o sistema de leitura e escrita, deste modo, o foco desta pesquisa buscou priorizar, mais do que o produto final do percurso da alfabetização, o processo gradual percorrido pela criança. Da mesma forma, torna-se pertinente acentuar que levar em conta como são estruturados os pensamentos dos educandos sobre a leitura e a escrita é um aspecto indispensável para se atingir o êxito educacional. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 4 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEITURA E DA ESCRITA SURGIMENTO DA ESCRITA A leitura e a escrita são habilidades muito importantes em um mundo letrado como o atual, pois é a partir deste tipo de comunicação que o ser humano se torna capaz de registrar suas próprias informações e ideias, assim como abstrair novos conceitos através do pensamento de outras pessoas, uma vez que A escrita, sistema simbólico que tem um papel mediador na relação entre sujeito e objeto de conhecimento, é um artefato cultural que funciona como suporte para certas ações psicológicas, isto é, como instrumento que possibilita a ampliação da capacidade humana de registro, transmissão e recuperação de ideias, conceitos, informações (OLIVEIRA, et al. 2002, p.63). Como se pode observar, os primeiros registros deram vazão a uma nova maneira de se viver, abrindo caminhos para interações sociais e alargando o conhecimento humano. A escrita serviu, ainda, como um dispositivo capaz de marcar graficamente mensagens para uma comunicação a distância, assim como um documento para resgatar concepções já adquiridas, pois, para Oliveira, A escrita seria uma espécie de ferramenta externa, que estende a potencialidade do ser humano para fora do seu corpo: da mesma forma que ampliamos o alcance do braço com o uso de uma vara, com a escrita ampliamos nossa capacidade de registro, de memória e de comunicação (2002, p.63). Diante disso, pode-se deduzir que, a partir do momento que o ser humano domina a escrita, este passa a expandir seus conceitos, por meio de registros, para o meio no qual está inserido. Conforme salienta Barbosa, a escrita, [...] vai surgir pela primeira vez no mundo antigo, num momento histórico caracterizado pelo desenvolvimento simultâneo de uma série de elementos diversos, a que chamamos civilização [...] Observando os fatores geográficos, sociais e econômicos que http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 5 conduzem ao desenvolvimento de uma civilização, notamos que o complexo de condições que se origina nesse momento histórico não poderia funcionar se não existisse a escrita (1994, p.34). Como se pode observar, para o autor, a civilização se expandiu junto ao surgimento da escrita. Segundo o exposto, o notável desenvolvimento que aprimorou a situação social da era só foi possível graças ao aparecimento dessa nova marca gráfica. Ou seja, a evolução de uma civilização não seria possível sem os benefícios e auxílios do registro, mas também, a escrita não se fortaleceria em um mundo não civilizado. Vale salientar que, apesar de a comunicação escrita se estabelecer no mundo antigo, na era pré-histórica já existia a preocupação do homem primitivo em reproduzir mensagens e registrar conceitosoriginando o início de um sistema de representação. Torna-se pertinente mencionar que o homem, através dos tempos, vem buscando comunicar-se com gestos, expressões e com a fala. A escrita tem origem no momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos (BARBOSA, 1994, p.34). Nota-se, portanto, que antes da eclosão da civilização já surgiam indícios de uma comunicação estabelecida simbolicamente. Graças a capacidade do homem em transpor suas ideias em signos, emergiu-se assim, traços baseados na implantação de uma unidade linguística que englobava um significante e um significado. Gradativamente, o homem se empenhou em aperfeiçoar esses signos, objetivando estabelecer uma comunicação clara que estivesse ao alcance de todos. Diante da exigência de se instaurar uma comunicação compreensível, Cócco e Hailer (1996, p.16) frisam que esta necessidade “[...] deu origem aos primeiros pictogramas com intenção expressa de comunicar, embora esses desenhos primitivos não assegurassem uma mensagem precisa para seus semelhantes”. Percebe-se, assim, que na era pré-histórica, o homem aprendeu a comunicar seus pensamentos e sentimentos reproduzindo traços gráficos. No entanto, tais correspondências, muitas vezes, não transmitiam uma mensagem precisa para o discernimento da comunicação, o que resultou uma preocupação em relação ao aprimoramento da representação gráfica. Ainda segundo os autores supracitados surgem, então, os primeiros pictogramas, utilizados para representar palavras por meio de desenhos, atribuindo http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 6 um significado para cada um deles. Aos poucos, estes sinais evoluíram para a escrita cuneiforme, em que o significante não se assemelhava ao objeto descrito (CÓCCO; HAILLER, 1996). Todavia, notou-se que estes sinais não eram suficientes para expressar a imensidão de conceitos existentes. Observa-se, portanto, que embora a escrita tenha se evoluído neste período, seu aperfeiçoamento ainda não dava conta de expressar com totalidade as informações. A partir disso, iniciou-se um processo de junção de duas unidades de escrita para representar uma terceira. O mesmo ocorreu com a representação de gestos e outros tipos de analogias, todos com a finalidade de especificar a mensagem (CÓCCO; HAILLER, 1996, p.17). Como se pode observar, houve a introdução de uma representação mais elaborada para abranger a diversidade de objetos e pensamentos que há no mundo, em que para se representar um conceito utilizavam-se duas unidades de escrita diferentes que resultava na interpretação desse primeiro. Contudo, segundo Cócco e Hailler (1996), ainda assim, ocorria certa dificuldade em registrar palavras abstratas e nomes pessoais, que só pode ser superada com uma notação gráfica da fala. Durante esse processo, progrediu-se a escrita alfabética. Diante desta constatação, observa-se que os desenhos iniciais se sofisticaram até alcançar um sistema que envolvia elementos que correspondessem a fala, sendo um marco de herança cultural. Logo, deduziu-se a importância da comunicação estabelecida por meio de registros e os novos horizontes que esta expressão trouxe para a vida humana. Por mais que o ganho da viabilidade de representar a fala tenha sido uma grande conquista, persistiu-se a necessidade de lapidar a escrita, da mesma forma que houve a preocupação de todos usufruí-la em sua totalidade. A partir desta visão, Emília Ferreiro e Ana Teberosky iniciam um estudo com o objetivo de desvendar como a criança pensa, em relação ao sistema de escrita alfabética, uma vez que os http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 7 métodos tradicionais existentes não se comprometiam em considerar este fato. Sendo assim, as estudiosas passaram a repensar a prática escolar de alfabetização, comparando a disparidade de crianças de classes sociais diferentes, focando o aluno como um ser capaz de pensar sobre o mundo letrado em que se encontra, independente de suas condições financeiras. MÉTODOS ALFABETIZADORES TRADICIONAIS Em contrapartida ao pensamento de Ferreiro e Teberosky (1999), o ensino sobre leitura e escrita até o momento trazia um saber pré-fabricado, advindo dos métodos alfabetizadores. Os educadores da época buscavam a melhor solução para a aprendizagem de seus alunos, ou seja, o melhor método que garantisse um estudo preciso e fragmentado, entretanto, o sucesso escolar de algumas crianças era insatisfatório. Ferreiro e Teberosky acreditavam que, tradicionalmente, conforme uma perspectiva pedagógica, o problema da aprendizagem da leitura e da escrita tem sido exposto como uma questão de métodos. A preocupação dos educadores tem-se voltado para a busca do “melhor” ou “mais eficaz” deles [...] (1999, p.21). B + A = BA / B + E = BE BALA / BEBÊ A BALA É DO BEBÊ O BEBÊ PEGOU A BALA http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 8 Partindo deste pressuposto, deduz-se que a preocupação dos professores se focava na procura de uma didática que o satisfizesse, sendo que o docente era considerado o responsável pelo processo de ensino e aprendizagem. Em momento algum o aluno era visto como o protagonista deste percurso. Segundo Morais, Criados desde a antiguidade, mas, sobretudo, a partir do século XVIII, os métodos tradicionais de alfabetização que conhecemos, apesar das diferenças que aparentam, têm uma única e comum teoria de conhecimento subjacente: a visão empirista/associacionista de aprendizagem (2012, p.27). O autor quis retratar neste discurso que as metodologias seguiam pensamentos diferentes, porém, enxergavam o meio como o informante que interferia significativamente no êxito escolar, no qual o aprendiz a partir dos conhecimentos, emitidos pelo educador, faria, então, associações de ideias. Desta maneira, a aprendizagem é vista como um processo de simples acumulação das informações recebidas do exterior, sem que o sujeito precisasse, em sua mente, reconstruir esquemas ou modos de pensar, para poder compreender os conteúdos (sobre letras e sons) que alguém (a escola, a professora) estava lhe transmitindo (MORAIS, 2012, p.27). Diante do exposto, nota-se que o aprendiz está posto sob uma entrega de conhecimento fornecido pelo professor através de repetições e memorizações de conteúdo didático. A aprendizagem era vista como um acúmulo de informações recebidas do ambiente, sem que a criança necessitasse pensar e compreender http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 9 aquilo que lhe era transmitido. As atividades propostas eram extremamente limitadas e pouco reflexivas. Partindo desta ideia, deduz-se que o educador tradicional acreditava que ele era a única fonte que forneceria conhecimento. Agindo assim como um transmissor de informações. Posto isto, os docentes lançavam mão de alguns métodos alfabetizadores que, deacordo com Ferreiro e Teberosky (1999), se dividem em dois grupos. No primeiro, denominado métodos sintéticos, a aprendizagem parte dos elementos mínimos num processo que consiste em ir das partes ao todo, e em contrapartida encontram-se os métodos analíticos que se iniciam com unidades maiores e posteriormente estas unidades são fragmentadas. Firma-se assim que a diferença de tais métodos se centra na gênese do aprendizado, e terá sempre uma disputa sobre o que o aprendiz deveria aprender inicialmente, unidades linguísticas menores ou maiores, pressupondo a criança como passiva, que espera a escolha do professor que irá lhe transferir o conhecimento de leitura e escrita. MÉTODOS SINTÉTICOS Seguindo a concepção de partir das unidades menores, os métodos de marcha sintética se fundamentam na correspondência entre o oral e o escrito. Seu processo consiste em iniciar o ensino partindo das unidades linguísticas mínimas, as letras, e em uma evolução acumulativa, ir somando as partes para poder “codificar” ou “decodificar” os elementos maiores, o texto. Segundo Feil no processo de alfabetização contido neste método, ensina-se partindo das letras (ou sons) para a criança formar sílabas e só mais tarde formar palavras, e, o pior, palavras que só tem função de fixar as letras estudadas. São apresentadas de uma forma isolada. A criança permanece horas repetindo uma letra, ou uma sílaba, até chegar a memorização. Ler, para estes métodos, significa decifrar. Esses elementos (sons, sílabas e até mesmo palavras) nada têm a ver com o sentido e, por outro lado, http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 10 sabemos que o indivíduo que não souber o sentido das palavras e só souber decifrar ainda não aprendeu a ler (1987, p.27). Considera-se assim, que esta ideologia, dos métodos sintéticos, parte de palavras que não apresentam função social, imaginando que a utilização desses escritos usuais e de fácil memorização, seria a melhor maneira para as crianças aprenderem, visto que esse método trabalha a repetição de elementos isolados. Por se utilizar palavras carentes de sentido real, o aluno não consegue compreender aquilo que decifra. Consequentemente, não há apelo à criatividade e ao raciocínio, pois a criança trilha os caminhos pré-concebidos pelo educador. Morais (2012) aponta que são encontrados dentro dessa perspectiva métodos de soletração, que parte o ensino de leitura e escrita do nome das letras; fônico que se inicia nos sons correspondentes às letras; e de silabação no qual se introduz, inicialmente, as sílabas. Deste modo, às crianças são ensinadas a leitura e escrita, a partir da apresentação dos nomes ou dos sons das letras, ou das silabações para poderem formar palavras, sempre levando em consideração uma ordem crescente de dificuldade. Somente depois de algum tempo, elas entrariam em contato com pequenos textos. Vale ressaltar que, por trás dos métodos alfabéticos (“B com A, BÁ”, “B com E, BÉ” etc.) existe a crença de que o aprendiz já compreenderia que as letras substituem sons e que, memorizando “casadamente” os nomes das letras, ele poderia ler sílabas. Depois de aprender muitas sílabas, o principiante veria que, juntas, elas formariam palavras e ...um dia ele leria textos (MORAIS, 2012, p.29). Sob este discurso, o método alfabético centra-se em decorar as letras do alfabeto e seus nomes, contudo o educando já deveria ter conhecimento de que cada marca gráfica substitui uma pauta sonora, o que por sua vez não ocorre. Assim, passando por um longo processo de repetições de leitura de sílabas, a criança aprende que a junção destas constituem as palavras. A partir desse momento, é introduzida à leitura de sentenças curtas e, somente em um momento posterior, há o contato com pequenos textos. Vale ressaltar que as maiores críticas a esse pensamento são centradas à repetição dos exercícios, tornando o meio escolar tedioso e cansativo, além de não considerar os conhecimentos do próprio aluno. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 11 Ao contrário do método alfabético, que parte do nome das letras, no método fônico, firma-se o pensamento de que o ensino da leitura e da escrita deva partir dos fonemas das letras. Capovilla e Capovilla apontam que, no método fônico, “A habilidade de discriminar e manipular os segmentos da fala é um quesito fundamental para a aquisição de leitura e escrita. ” (2002, p.88). Diante desse argumento, a criança deveria dominar o som de cada correspondência, agrupando-os de modo a formar sílabas. Desta maneira, somente assim o aluno conseguiria ser capaz de alcançar o sistema de escrita alfabética. Neste caso, seguindo os pensamentos de Alessandra G. S. Capovilla e Fernando C. Capovilla (2002), o professor, deve explicitar ao educando não somente o nome das letras, mas também os seus sons. A introdução das letras segue um grau de dificuldade. Inicialmente, são apresentadas as vogais, por haver uma semelhança do nome ao fonema. Posteriormente, mostram-se consoantes que são de fácil pronuncia e regulares como F, J, M, N, V, e Z. Dando prosseguimento, são ensinadas as consoantes de fácil pronúncia, mas que são irregulares, como L, S, R, e X. Após o aprendizado das consoantes facilmente pronunciáveis, são introduzidas as consoantes consideradas de emissão sonora mais difícil, como B, C, P, D, T, G e Q. Por fim, os alunos aprendem o som da letra H e somente depois as letras K, W e Y. Como se pode perceber, o método não trabalha a sequência do alfabeto, pois apresenta às crianças, inicialmente, as letras que são de fácil pronúncia para posteriormente introduzir o aprendizado dos sons das letras mais complexas. Decorados todos os fonemas, inicia-se a apresentação das sílabas. O método introduz o texto de forma gradual à medida que a criança consiga adquirir uma boa habilidade de fazer decodificações fonêmicas fluentemente (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2002). Observa-se, deste modo, que somente depois que os alunos conhecem cada fonema, eles poderão juntá-los com a intenção de formar sílabas, já a leitura de textos, só é efetivada a partir do instante que o educando se torna hábil à decodificação de fonemas. Em contraposição aos métodos já mencionados, de acordo com Morais, na técnica silábica, [...] está a crença de que o aprendiz não só compreenderia que http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 12 algumas poucas letras juntas substituem sílabas das palavras que falamos, mas que ele acreditaria que coisas escritas apenas com duas letras poderiam ser lidas. Decorando as sílabas e “juntando-as”, ele chegaria a ler palavras e ...um dia ele leria textos (2012, p.29). Entende-se, portanto, que os professores que faziam uso método silábico acreditavam que o aluno deveria ser introduzido à memorização de letras e sílabas através de exercícios repetitivos. Desta forma, o professor lança alguns exercícios de fixação das famílias silábicas para, sucessivamente, formar palavras, sem embasamento em algo concreto e real, crendo que o aprendiz traz, consigo, noções de que uma sílaba formada com poucas letras pode ser lida. Otrabalho escolar fica preso à leitura destas famílias silábicas durante um bom tempo, até introduzir o uso de frases pequenas com a mesma sonoridade. Somente depois, o discente teria contato com pequenos textos, mesmo assim, tais escritos são formados por repetições da mesma correspondência. Subjacente a qualquer um desses métodos sintéticos, conclui-se, portanto, que há a crença de que os educandos já teriam a capacidade de compreender as unidades menores do sistema alfabético. Dessa forma, o professor impõe atividades de cópias monótonas do gesto gráfico e memorização destes, gerando um acúmulo exaustivo de informações. MÉTODOS ANALÍTICOS Não muito diferente dos métodos sintéticos, os analíticos também priorizam o professor como único conhecedor do processo de ensino e aprendizagem sobre leitura e escrita. No entanto, diferem-se por partir de elementos maiores: textos, sentenças ou palavras, para, posteriormente, subdividi-los nas unidades menores: letras. Para Morais os métodos analíticos, [...] propõem que, por razões de tipo perceptivo e motivacional, seria adequado começar com unidades maiores, http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 13 que “têm significado” (palavras, frases, histórias), e, pouco a pouco, levar os alunos a analisá-las, isto é, a “parti-las em pedaços menores” (2012, p.29). Mediante essa constatação, deduz-se que os adeptos a esta concepção pensavam que o trabalho com unidades maiores que tivessem um “sentido” traria um envolvimento mais eficaz da criança com o objeto de ensino, mas vale acentuar que este “sentido” carecia de temas reais. Posteriormente, os elementos mínimos, no caso as letras, que constituem as palavras, as sentenças e os textos seriam estudados pelas crianças. Nicolas Adam apud Feil (1987) esclareceu em 1787 uma corrente de pensamento contrária ao Método sintético, lançando as bases do Método Analítico. Segundo seus pensamentos, a alfabetização deve partir do todo, para depois passar para a decomposição, só que o todo para Adam era a palavra. Ele afirmava que, quando alguém apresenta um objeto a uma criança, como, por exemplo, uma roupa, nunca são retiradas a gola, a manga e os bolsos, para depois mostrar a roupa inteira. É mostrado o conjunto completo e o nome da roupa. Deste modo, pode-se notar que o pensamento de Adam em relação ao processo de ensino de alfabetização, referia-se ao fato de possibilitar à criança o contato com as palavras, para em seguida trabalhar as letras. Em 1818, as ideias de Adam evoluíram através de Jacotot, o qual enunciou que o início do aprendizado de leitura e escrita [...] não se limita na palavra. Ele vai além, afirmando que a alfabetização deve partir de uma frase. Lança-se a frase (pois é ela que dá o verdadeiro sentido da ideia) e analisa junto à criança os elementos, destacando o mais importante, passando da análise para a síntese. (JACOTOT apud FEIL, 1987, p.31). Considera-se, assim, que, enquanto para Adam o ensino sobre leitura e escrita inicia-se na palavra, Jacotot (apud FEIL, 1987) afirma que a alfabetização deve ocorrer com base na frase, que será a geradora dos próximos estudos. Conforme Morais (2012), partindo dessas divergências, os métodos analíticos podem iniciar-se na palavra, na sentença ou nas historietas. No método de palavração, o elemento mais focado em que se introduz o ensino de leitura e escrita é a palavra. Morais (2012, p.30) menciona que, no método de palavração, durante um longo período (por exemplo, um semestre letivo), os http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 14 alunos são ensinados a identificar e copiar um repertório de palavras para, só depois, começarem a partir as palavras em sílabas e as sílabas em letras ou fonemas. Compreende-se, portanto, que os alunos passam a ter contato com vocábulos que englobam todos os sons da língua e, depois da memorização de um certo número de palavras, começam a fragmentar as elocuções. Morais ressalta que no método de sentenciação, [...] a cada unidade didática ou lição, as crianças memorizam (de modo a poder a identificar e copiar) sentenças completas, para, em seguida, tratar isoladamente suas palavras e, depois, analisarem tais palavras em partes menores (sílabas, letras) (2012, p.30). Diante do exposto, nota-se que ao contrário do método de palavração que se inicia nas palavras, o de sentenciação parte das sentenças, neste caso, frases que são intencionadas para trabalhar a alfabetização, quase sempre desconectada da realidade social de cada aluno. Outro método trabalhado na metodologia analítica é o global ou dos contos, que direciona um trabalho partindo de textos. Neste método, [...] a criança seria exposta a narrativas artificiais (sem qualidade literária, escritas especificamente para alfabetizar). O “grande todo”, o texto, seguiria, então, os passos do método anterior: suas frases seriam trabalhadas isoladamente e, do interior das mesmas, seriam selecionadas algumas palavras, cujas silabas ou relações fonema grafema seriam enfocadas (MORAIS, 2012 p. 30). Como se pode constatar, o método supracitado trabalha com textos, porém, segundo o autor, carentes de qualidade, por serem narrativas curtas e artificiais, especificamente escritas para a alfabetização de crianças. Após o trabalho com este elemento, são focalizadas as frases, dentro das quais são retiradas palavras para serem estudadas mais profundamente. Nas palavras as crianças aprendem as sílabas e as letras. Apesar das singularidades de cada um dos métodos, vale acentuar que existiam tanto educadores que se apoiavam nos métodos sintéticos, quanto os que se fundamentavam nos analíticos. Entretanto, havia docentes que utilizavam as http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 15 benevolências das duas metodologias, pois consideravam que, assim, alcançariam o aprendizado de forma mais rápida e eficiente. Percebe-se que, em consequência disso, não ocorria um seguimento didático, pois, ora se ensinava com os métodos sintéticos, ora com os analíticos, ocasionando assim uma ruptura no aprendizado de ambos. Para facilitar ainda mais o trabalho educacional, nos métodos tradicionais de alfabetização os educadores se apoiavam em cartilhas que serviam de referências para lecionar. Este material era pré-fabricado sem considerar a realidade de cada criança. CARTILHAS ALFABETIZADORAS As cartilhas eram livros que ditavam exercícios, de acordo com determinada metodologia, para se ensinar a leitura e a escrita. De acordo com Barbosa, Cartilhas são livros didáticos infantis destinados ao período da alfabetização. Daí seu caráter transitório, limitando-se seu uso à etapa em que, na concepção tradicional da alfabetização, a criança necessita dominar um mecanismo considerado de base na aprendizagem da leitura e escrita (1994, p.54). Entende-se, assim, que este material propunha o alicerce para o trabalho com alfabetização, e o uso deste seria dispensado quando a criança se familiarizasse com a leitura e escrita, uma vez que o mesmo foi criado apenas para esta etapa inicial. A cartilha apresentaum universo de leitura bastante restrito, em função mesmo de seu objetivo: trata-se de um pré-livro, destinado a um pré-leitor. A cartilha limita-se então ao ensino de uma técnica de leitura, entendendo-se essa técnica como a decifração de um elemento gráfico em um elemento sonoro. É a iniciação da criança ao mundo da escrita e, nessa iniciação, ela deve aprender a identificar os sinais gráficos (letras, sílabas, palavras) e associá-los aos sons correspondentes. A cartilha, coerente com os postulados das metodologias tradicionais, parte da crença de que, ensinando-a a decodificar e codificar, a criança aprende a ler e escrever (BARBOSA, 1994, p.54). http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 16 Compreende-se, portanto, que este apoio didático se caracterizava limitadamente, devido à crença de considerar a criança como um ser que ainda seria incapaz de lidar com textos literários reais, pois precisava, antes, descobrir os elementos da escrita e associá-los para, somente depois, ser introduzida ao mundo letrado. Desta forma, esta iniciação prioriza um treino de repetição de sons e memorização de conteúdos, reduzindo a leitura e escrita a um mero código de transcrição da fala. Sendo assim, as cartilhas posicionam o professor como o ator principal e primordial no processo de ensino. O livro adota peculiaridades de cada metodologia tradicional, podendo se encontrar cartilhas sintéticas e cartilhas analíticas (BARBOSA, 1994). Apesar das divergências entre as diferentes metodologias adotadas nas cartilhas, todas seguem o mesmo sistema de escrita, em relação ao sistema oral, partindo de uma visão em que o aprendizado provém do meio e das associações realizadas por exercícios repetitivos. As cartilhas sintéticas iniciam seu trabalho com os elementos menores da língua, ou seja, com as letras ou sílabas. Conforme Barbosa estes informantes, [...] Iniciam o processo pela apresentação das vogais [...] Passa-se a seguir para as combinações das vogais com as consoantes, dirigindo-se então o ensino para o estudo das “famílias silábicas” resultantes dessas combinações. As palavras surgem da combinatória das famílias silábicas já conhecidas. Passa-se, enfim, para a fase de fixação através de exercícios repetitivos. As cartilhas sintéticas propõem um processo combinatório, em que elementos não significantes da língua vão se somando até resultar em palavras; combinando-se as palavras surgem os textos (1994, p.55). Nota-se, assim, que este instrumento abrange uma sequência de exercícios que começam da apresentação das vogais para que, em seguida, focalize as combinações destas com as consoantes. As palavras serão estruturadas após o trabalho das famílias silábicas e, a partir desse momento, emprega-se um treinamento repetitivo para a decoração dos elementos envolvidos. Em contraposição, as cartilhas analíticas procedem de elementos significativos da língua, ou seja, das palavras ou frases. Estas cartilhas adotam http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 17 procedimentos inversos ao das cartilhas sintéticas: partem dos elementos maiores da língua (o “todo”, palavras em sentenças) e, através da decomposição, chegam aos elementos menores (as “partes”, as sílabas). Esses elementos menores são então sistematizados através dos exercícios de fixação (BARBOSA, 1994, p.55). O enunciado dito pelo autor acentua que os procedimentos dessa cartilha partem de elementos mais significantes, se comparado ao das cartilhas sintéticas, no qual se inicia o estudo com as unidades maiores: o texto, as sentenças ou as palavras, para posteriormente sintetizar estes elementos em correspondências menores, ou seja, em letras. A partir do estudo das cartilhas alfabetizadoras, pode-se até mesmo inferir que, em nenhuma das cartilhas abordadas, transparece a função e o valor real de comunicação da língua escrita, uma vez que não levam em conta a realidade de cada educando, tornando o ensino da leitura e da escrita uniforme, cumulativo e homogêneo. Muitos educadores ainda acreditam que as cartilhas são suportes para o ensino de leitura e escrita, entretanto, não compreendem que estas limitam tanto o ensino como a aprendizagem dos alunos. Percebe-se, portanto, que houve uma grande preocupação em torno do objeto de ensino, ou seja, o conteúdo didático, no qual se gerou a ênfase ao melhor método que seria capaz de alfabetizar a criança. Em nenhum desses momentos houve a consideração sobre o fato de o aluno ser capaz de participar ativamente da descoberta de novos conhecimentos sobre leitura e escrita. E foi a partir desta constatação que Emília Ferreiro e Ana Teberosky se empenharam em compreender como a criança estrutura seus pensamentos, em relação à escrita que a rodeia, vendo o aluno como construtor de seu próprio conhecimento. Deste modo, as autoras propõem um olhar pedagógico diferenciado daqueles existentes até o momento, com a publicação do livro “Psicogênese da Língua Escrita”. PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA: CONTRIBUIÇÕES PARA A ALFABETIZAÇÃO http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 18 UMA PERSPECTIVA INOVADORA Em 1980, houve um renascimento sobre a questão de alfabetização, que até então era considerada sem solução. Esta grande mudança foi ocasionada pela publicação dos dados de uma pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a “Psicogênese da língua escrita”, que indagava o fracasso escolar e buscava compreender como eram elaborados os pensamentos das crianças, frente à aprendizagem de leitura e escrita. Iniciou-se, assim, uma nova discussão que partia do pressuposto de que o conhecimento do sujeito não se restringia apenas ao uso de determinados métodos. Esta pesquisa surgiu na área pedagógica para Destacar a validade de pensar no conhecimento já adquirido pelas crianças independentemente da classe social a que pertenciam. Isso permitiu aos educadores olhar para o objeto de conhecimento e para o processo de aprendizagem por um novo ângulo. Era preciso dialogar com o aluno sobre o que ele sabia (WEISZ, 2012, p.36). Diante disto, compreende-se que a pesquisa surgiu com a intencionalidade de repensar a prática escolar, levando em conta os conhecimentos dos educandos, visto que estes já possuíam noções sobre a escrita que os rodeia. Desse modo, pode-se até mesmo inferir que as autoras Ferreiro e Teberosky se opunham à didática existente até o momento, a qual partia de um método pronto, a ser transmitido pelo professor e adquirido pelo aluno, uma vez que esta era a concepção que imperava no processo ensino aprendizagem. Para abrir esse novo olhar sobre este processo, as autoras se apoiaram em concepções, já existentes, que viam o sujeito como um ser capaz de construir ativamente seu próprio conhecimento a partir da elaboração de hipóteses e interpretações acerca da leitura e da escrita. REFERÊNCIAS CONCEITUAIS Algumas referências podem ser interpretadas como bases da pesquisa de Ferreiro e Teberosky. Pode-se ressaltar, assim, a relação deste estudo com a teoria construtivista, visto que esta corrente estabelecia que o conhecimento deveria serconstruído através da relação entre o sujeito e o meio no qual está inserido. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 19 Faz-se pertinente mencionar, ainda, que em muitos momentos da pesquisa, as estudiosas se apoiaram nos estudos de Jean Piaget, no qual fizeram uso das concepções deste como complemento dos novos fundamentos que seriam estabelecidos na Psicogênese da Língua Escrita. Entende-se, portanto, que a ideia de se repensar a prática pedagógica, surgiu a partir da reflexão das concepções do Construtivismo, assim como as de Piaget, pois, desta forma, Ferreiro e Teberosky perceberam que as metodologias adotadas pelos métodos tradicionais enxergavam o professor como o centro do aprendizado, e não o aluno, como propõe os estudos supracitados. O OLHAR CONSTRUTIVISTA A pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), criticava a prática pedagógica que considerava o educador como a única fonte geradora da aprendizagem, uma vez que, ao seguir este pensamento, torna-se impossível ver o aluno como o construtor de seu próprio conhecimento. Observa-se, assim, que as estudiosas tiveram como base teórica o construtivismo, pois, este [...] é uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve partindo do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. A ideia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada (CONSTRUTIVISMO..., 2013, p.1). Confirma-se, assim, que os pensamentos de Ferreiro e Teberosky (1999) realmente seguem uma perspectiva construtivista, visto que partem dos princípios básicos desta corrente, que são os de que o sujeito reage em resposta aos estímulos que o envolve, ao qual pode construir seu conhecimento de maneira ativa. É necessário acentuar que embora a “Psicogênese da língua escrita” tenha concordância com o construtivismo, não deve ser rotulada por este. Nota-se, portanto, que Ferreiro e Teberosky abriram um olhar construtivista sobre o conteúdo escolar, no qual se objetivava esclarecer que o professor precisava http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 20 considerar os conhecimentos de mundo, estes advindos das relações com o meio no qual está inserido cada aluno. CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET O aluno, dentro de uma ótica construtivista, deveria ser visto como um sujeito que busca ativamente a construção de seu próprio conhecimento, ou, nas palavras de Piaget, [...] o sujeito cognoscente, o sujeito que busca adquirir conhecimento, o sujeito que a teoria de Piaget nos ensinou a descobrir. O que quer isto dizer? O sujeito que conhecemos através da teoria de Piaget é aquele que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito o qual espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um ato de benevolência. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 29). Pode-se observar que as autoras supracitadas se fundamentaram nos estudos de Piaget, os quais postulavam que o conhecimento não era totalmente intrínseco (mas também não era fornecido pelo meio, e sim gerado pela interação entre sujeito e objeto), para focalizar que o aluno não é um ser passivo, pois constrói seus pensamentos por meio da interação que estabelece com o ambiente. Deste modo, compreende-se que há uma relação entre o olhar construtivista e as ideologias de Piaget, posto que ambos apontam para o fato de o conhecimento não nascer pronto, nem tampouco ser transmitido, mas sim, construído. Ferreiro e Teberosky (1999), ao se apoiarem nos estudos de Piaget, expõem que o sujeito constrói seu conhecimento a partir do instante que responde aos estímulos provindos do mundo. Neste instante, tais estímulos são transformados pelos sistemas de assimilação da criança. Percebe-se, deste modo, que as estudiosas, em concordância com os pensamentos de Piaget, acreditam que o conhecimento se constrói no momento em que a criança reage aos diversos estímulos oferecidos pelo meio, visto que esta situação, a qual resultará na construção do conhecimento, pode modificar-se por meio dos esquemas de assimilação, que consiste em [...] uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 21 esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação (PIAGET, 1996, p.13). Em síntese, nota-se que o indivíduo, ao receber novas informações provindas do meio externo, adapta estes novos informantes aos já existentes em sua mente, que por sua vez, podem ou não sofrer leves alterações devido a essa troca. Piaget, além de conceituar os esquemas de assimilação, também definiu outro esquema, este chamado acomodação, no qual se refere a “[...] toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) aos quais se aplicam” (PIAGET, 1996, p.18). Deste modo, compreende-se que, no processo de acomodação, o sujeito não apenas recebe e assimila a informação, mas a transforma em função das novas circunstâncias oferecidas pelo ambiente, acomodando-a. Segundo Piaget apud Carretero (1997), o produto final da interação entre a assimilação e a acomodação resulta a equilibração, que sucede quando se alcança um equilíbrio entre as disparidades provindas da recente informação recebida, em relação àquela que o sujeito já possuía no qual se acomoda. Sendo assim, pode-se concluir que a equilibração, ocorre a partir do momento que a criança estabiliza seus esquemas de assimilação e de acomodação, uma vez que este ponto de equilíbrio possibilita à criança uma interação eficiente dela com o meio. Ferreiro e Teberosky ressaltam que o avanço no conhecimento, por parte das crianças, [...] não será obtido se não através de um conflito cognitivo, isto é, quando a presença de um objeto (no sentido amplo de objeto de conhecimento) não- assimilável force o sujeito a modificar seus esquemas assimiladores, ou seja, a realizar um esforço de acomodação que tenda a incorporar o que resultava inassimilável (e que constitui, tecnicamente, uma perturbação) (1999, p.34). Diante do exposto, verifica-se que o aprendizado somente se interioriza quando o aluno, ao percorrer pela zona de conflito cognitivo, consegue acomodar e reestruturar seus esquemas de assimilação e acomodação. Compreende-se por conflito cognitivo uma perturbação que ocorre quando a criança se depara com informações que não estão de acordo com seus http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 22 conhecimentosprévios, e que, assim, geram um desafio que fará com que ela reorganize seus pensamentos. Torna-se pertinente estabelecer que, no instante do conflito cognitivo, o educando pode cometer erros inconscientemente, pois, como afirmam Ferreiro e Teberosky (1999), os erros ocorridos no processo de ensino-aprendizagem não se dão por falta de conhecimentos, mas sim demonstram os saberes de cada criança. Observa-se, assim, que o erro deve ser entendido como um apontamento dos conhecimentos que cada criança carrega durante seu processo educacional e não como insuficiência de determinado conhecimento. Ferreiro e Teberosky relataram os “erros construtivos” e afirmaram que, na teoria de Piaget, o conhecimento objetivo aparece como uma aquisição, e não como um dado inicial. O caminho em direção a este conhecimento objetivo não é linear: não nos aproximamos dele passo a passo, juntando peças de conhecimento umas sobre as outras, mas sim através de grandes reestruturações globais, algumas das quais são “errôneas” (no que se refere ao ponto final); porém, “construtivas” (na medida em que permitem aceder a ele). Esta noção de erros construtivos é essencial [...] Para uma psicologia piagetiana, é chave o poder distinguir entre os erros aqueles que constituem pré-requisitos necessários para a obtenção da resposta correta (1999, p.33). Diante do exposto, frisa-se que o sujeito, para alcançar o produto final da aprendizagem, passa por um caminho em que terá de reestruturar seus conhecimentos prévios, mediante aos aprendidos, no qual essas reestruturações podem manifestar-se de forma inadequada, porém construtivas, no sentido de permitir, futuramente, o acesso à adequada. A partir desses conceitos, pode-se, até mesmo, inferir que o educador precisa compreender e analisar os erros de seus alunos e enxergá-los como um auxílio à sua prática docente, no processo de alfabetização, visto que os “erros construtivos” podem servir de ponto de partida para identificar os saberes já existentes, de seus alunos, assim como os que ainda precisam ser internalizados. Subentende-se, assim, que as autoras criticavam os métodos tradicionais, pois baniam todos os erros dos educandos, sem percebê-los como um instrumente norteador do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que os educadores http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 23 adeptos à metodologia tradicional não se preocupavam em analisar o pensamento da criança, tal como as razões que a levavam a cometer determinado erro, o que, por sua vez, permite a dedução de que esses professores não intervinham significativamente, mediante o erro de seus alunos. Ferreiro e Teberosky (1999) afirmam que os alunos passam por um processo evolutivo na aquisição do conhecimento sobre leitura e escrita. Deste modo, a pesquisa esclareceu, a partir de um novo ângulo, que alguns erros comuns às crianças que ainda não efetivaram o sistema de escrita alfabética, nada mais eram do que algo característico de determinada fase de leitura ou de escrita. Pode-se observar, deste modo, que, a partir do momento que se constatou que o erro construtivo contribui para a identificação dos conhecimentos dos alunos, as pesquisadoras estabeleceram que alguns erros típicos de muitas crianças durante o processo de alfabetização designam hipóteses, que os próprios alunos constroem para entender o sistema de leitura e escrita. NÍVEIS DE LEITURA Ao analisar os erros das crianças no momento da leitura e da escrita, Ferreiro e Teberosky detectaram que alguns erros ocorriam comumente, e que poderiam ser considerados como característicos de diferentes níveis de leitura e de escrita. As autoras (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999), em relação aos níveis de leitura, ostentam algumas concepções cogitadas pelas crianças, no qual podem emergir alguns exemplos de erros construtivos, tais erros estavam integrados em um processo gradativo de compreensão do sistema de leitura, em que as crianças ao percorrerem-no estruturam seus pensamentos de forma a dominarem este sistema. Ferreiro e Teberosky expõem, sob um olhar evolutivo, que, de início, a criança, mesmo sem saber ler, já apresenta conhecimentos prévios sobre o ato de leitura e possui critérios, estes, por sua vez, bem elaborados, para admitir se uma marca gráfica pode ou não ser lida, tais como: o de fazer uma dicotomia entre as figuras e os escritos; o de hipotetizar uma exigência de “quantidade mínima de caracteres”; e o de exigir uma “variedade de letras”. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 24 Pode-se observar, em relação aos critérios elaborados pelos alunos no processo de compreensão de leitura, que o fato de a criança não estar, ainda, alfabetizada, não significa que ela não formula hipóteses acerca do que se pode ler, pois, como afirmam as pesquisadoras, quando é apresentado um texto ao aluno, ele discerne o que é legível daquilo que não é, isto ocorre em situações como: quando diferencia um desenho de um texto; quando estabelece a hipótese de que para uma palavra ser lida, esta não pode ter poucas letras; e, por fim, que é necessário uma variedade das letras que constituem as palavras. Ferreiro e Teberosky (1999) apontam que, além dos critérios de diferenciar desenho de texto, assim como o de estabelecer uma quantidade mínima de caracteres e o de variedades gráficas, os alunos, de início, pensam que apenas os substantivos estão escritos, deste modo, eles não consideram que verbos e artigos também estejam grafados, e em seu conceito existem partes escritas em demasia. Este percurso, gradativamente, tem seu término na ocasião em que os educandos percebem que estas palavras que, para eles, estão sobrando, fazem parte de todo o sistema de escrita. Nota-se, portanto, que as crianças elaboram inferências com a intenção de dominar o sistema de leitura. Vale acentuar, que as formulações criadas pelos educandos são tipicamente provindas de seus pensamentos, uma vez que nenhum adulto ensinaria a uma criança que somente os substantivos são escritos em um texto. Acentua-se, assim, que indubitavelmente a tese de Ferreiro e Teberosky manifestou uma inovação teórica, que trazia consigo a ideia de que a alfabetização de leitura ocorria gradualmente. NÍVEIS DE ESCRITA Assim como ocorre no processo de leitura, o aprendizado da escrita também se efetiva gradualmente, no qual os erros construtivos aparecem como características específicas de cada etapa percorrida pelo aluno. Segundo Ferreiro e Teberosky (1999), a evolução da escrita é marcada por cinco níveis que levarão o aprendiz a se tornar alfabético. Para identificar as características de cada nível, é necessário mencionar que os dados da pesquisa, http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 25 realizada pelas autoras, foram obtidos através de uma exploração em que se solicitava à criança que escrevesse seu próprio nome; um nome de alguém conhecido; palavras de uso escolar e não escolar; assim como uma pequena oração. No decorrer desta pesquisa, as crianças escreviam os pedidos, propostos por Ferreiro e Teberosky, da forma como lhes parecessem melhor. Percebe-se,deste modo, que os dados advindos da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, notificaram diferentes características de escrita produzidas pelas crianças. Por meio da análise destas características, as estudiosas descobriram que os alunos passam por uma evolução, até compreenderem como funciona o sistema de escrita alfabética. No primeiro nível, (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999) escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a criança conhece. Devido a isto, todas as escritas se assemelham muito entre si. Podem aparecer, no início deste nível, tentativas de correspondência figurativa entre a escrita e o objeto referido. Outra característica é a dificuldade momentânea de diferenciar desenho de escrita, chamada de fase icônica. Pode-se mencionar que há uma tendência de a criança escrever por meio de garatujas e, a partir do instante que o aluno entra em contato com o sistema escrito e numérico, tende a misturá-los, no momento da escrita, no qual passa a inventar novos símbolos para anotar as sentenças. Evidenciam-se, ainda, duas hipóteses que os alunos formulam: as grafias são variadas e a quantidade destas diferem-se, entre si. Vale acrescentar que estas hipóteses somente são formuladas quando a escrita- modelo do educando é a de imprensa. Observa-se, assim, que, no primeiro nível, o educando formula várias hipóteses acerca do sistema de escrita alfabética. Dentre elas, vale ressaltar as tentativas de correspondência figurativa, que ocorrem quando a criança imagina que a grafia dos nomes é proporcional ao tamanho do objeto a ser representado; a dificuldade, momentânea, por parte da criança, em diferenciar desenho de escrita. Torna-se pertinente estabelecer, ainda, que o sujeito analisa que, para ler algo, o texto precisa possuir uma quantidade considerável de letras e uma variedade destas, pois a criança possui o conceito de que há uma quantidade mínima de caracteres para que certa palavra seja lida, tal como a ideologia de que os elementos gráficos http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 26 devem variar-se dentro do vocábulo. As figuras abaixo podem exemplificar alguns aspectos do primeiro nível. Figura 1, 2 e 3: Primeiro nível de escrita. Fonte: (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 195-197). Verifica-se, por meio da análise das figuras, que algumas crianças, ao escreverem, fazem uso de garatujas (desenhos sem configuração), como explicita o primeiro exemplo, em que se pode, até mesmo, inferir que, embora as elocuções se assemelhem graficamente, o educando, ao dispor tais características, teve um intento de estruturá-las diferentemente. Já o segundo exemplo mostra claramente a indistinção que o educando possui entre a escrita e o desenho, no momento da representação gráfica. O terceiro exemplo demonstra aquela criança que dispõe as letras e os números que conhece, inventando conjuntamente novos símbolos, sem considerar que o número não se integra ao sistema de escrita alfabética. No segundo nível, conforme exposto por Ferreiro e Teberosky (1999), a hipótese central é que, para ler coisas diferentes, deve haver uma distinção objetiva nas escritas. As crianças formulam a hipótese de que há uma quantidade específica e uma variedade de letras para se escrever uma palavra. Visto que as crianças não conhecem muitas correspondências, elas tendem a dispor mais frequentemente as letras que compõem seu nome, variando a sequência destas para representar diferentes escritas. Sendo assim, constata-se que as formas de grafismos deste nível são mais definidas, se comparadas às do primeiro, pois, neste momento, sua representação demonstra que a criança utiliza pensamentos mais elaborados para grafar uma palavra. O avanço do conceito dos alunos referentes à notação das sentenças será exemplificado nas figuras a seguir: http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 27 Figura 4 e 5: Segundo nível de escrita Fonte: (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p.203). De acordo com as imagens expostas, pode-se observar que os dois exemplos expressam que, devido às crianças conhecerem poucas correspondências, há a necessidade de a criança utilizar-se das mesmas letras (aquelas que conhece) alternadamente, para não escrever palavras iguais, pois possui a hipóteses de que, para se escrever coisas diferentes, as palavras não podem ser idênticas. Vale pontuar que, apesar do avanço, se comparado ao primeiro nível, o educando ainda nota números e inventa grafismos para delinear as palavras. Segundo Ferreiro e Teberosky (1999), o terceiro nível é caracterizado pela tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõe a escrita produzida pela criança. Neste nível, o aluno dá um salto qualitativo: cada letra vale por uma sílaba, uma vez que esta letra pode ser representada com um valor sonoro estável, ou não. Caso o aluno não empregue o valor sonoro convencional para cada letra, segue-se, durante a representação escrita do educando, a exigência de se dispor uma letra para notar uma sílaba. Entretanto, há também outras crianças que, além de escreverem as palavras com a preocupação de quantificá-las corretamente, atribuem o valor sonoro convencional a cada letra representada, em suas escritas. Compreende-se, portanto que o terceiro nível de escrita pode ser subdividido em duas hipóteses distintas, a primeira é caracterizada por crianças que escrevem silabicamente, porém, ao grafar, dispõem letras aleatoriamente, sem relevar os valores sonoros designados a cada uma destas para representar as palavras notadas. A segunda hipótese é definida por crianças que também se preocupam em http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 28 quantificar corretamente as palavras grafadas, no entanto, atentam-se em atribuir o valor sonoro convencional de cada letra constituída na palavra a ser escrita. Ferreiro e Teberosky apontam que, no terceiro nível de escrita, a criança progride qualitativamente, visto que o avanço, [...] consiste em que: a) se supera a etapa de uma correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída, para passar a uma correspondência entre partes do texto (cada letra) e partes da expressão oral (recorte silábico do nome); mas, além disso, b) pela primeira vez a criança trabalha claramente com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala (1999, p.209). Diante do exposto, cabe salientar que, para a criança chegar a este nível, ela avançou significativamente, em relação aos níveis precedentes, pois não havia, até então, a noção de que a escrita é uma representação da fala e que, para cumprir o sistema alfabético, ela deveria dispor de letras que correspondessem ao som da palavra notada. Um exemplo disso são as próximas imagens. Figura 6 e 7: Terceiro nível de escrita. Fonte: (MORAIS, 2012, p.59). A partir dessas figuras, compreende-se que a primeira imagem exemplifica a escrita de uma criança que não atribui um valor sonoro convencional às suas representações, pois se preocupa apenas com questões quantitativas. Por outro lado, o segundo exemplo aponta a notação de um aluno que se preocupacom a qualidade de seus grafismos, isto é, atribui um valor sonoro convencional a seus escritos. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 29 O quarto nível de escrita é uma passagem do nível 3 ao nível 5 (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999), caracterizada por grandes conflitos, pois, neste momento, a criança percebe que estabelecer uma letra para cada sílaba não é suficiente para representar uma palavra e assim, começa a dispor mais letras, tornando a tarefa muito complexa, devido ao fato de implicar uma reflexão mais sofisticada, acerca da palavra a ser notada. Percebe-se, deste modo, que o quarto nível, é uma etapa relevante, no processo evolutivo de compreensão de escrita, por ser caracterizado pelos conflitos que o aluno irá enfrentar no momento da escrita. Cócco e Hailler em relação ao quarto nível de escrita exposto por Ferreiro e Teberosky, dispõem que o quarto nível, Por se tratar de um nível intermediário, é mais uma vez um momento conflitante, pois a criança precisa negar a lógica do nível silábico. Ninguém consegue ler o que ela escreve e, nesse momento, ela se vê sem saída. Isso acontece principalmente quando ela usa só as vogais, porque a mesma combinação de letras serve para escrever uma porção de palavras (1996, p.42). Diante do exposto, percebe-se que o sujeito, para chegar ao quinto nível de escrita, passa por um grande conflito, este típico do quarto nível, ocasionado pelo fato de o aluno começar a compreender que uma letra não é suficiente para escrever uma sílaba, negando, assim, suas hipóteses antes estruturadas. Pode-se dizer que essa nova concepção surge principalmente quando o aprendiz repara que, ao escrever diferentes palavras, estas podem apresentar-se iguais, visto que há o costume de se grafar apenas as vogais, por serem entonadas com mais vigorosidade. A próxima imagem notificará com mais clareza as características do quarto nível de escrita. Figura 8: Quarto nível de escrita http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 30 Fonte: (MORAIS, 2012, p.64). A figura exemplifica a representação gráfica de uma criança que se encontra no quarto nível de escrita. Nota-se que o exemplo exposto pela figura demonstra a escrita de uma criança que descobriu a necessidade de se dispor mais letras para representar uma sílaba. Sendo assim, este nível implica uma etapa em que o aprendizado das correspondências grafema-fonema precisa ser refletido de forma mais aprimorada. Ferreiro e Teberosky (1999) acentuam o quinto nível como o ponto final da evolução da escrita. Neste instante, o aluno se torna alfabético, visto que já compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba. Sendo assim, pode-se compreender que o processo evolutivo, descrito por Ferreiro e Teberosky, se encerra no momento em que o educando alcança o quinto nível e se torna alfabético. Vale enunciar que esta etapa final se resume ao aprendizado do aluno sobre questões conceituais da escrita. A partir deste instante, o aluno irá se deparar com dificuldades tipicamente ortográficas, pois, [...] não podemos confundir “ter alcançado uma hipótese alfabética de escrita” com “estar alfabetizado”. A passagem da primeira condição à seguinte deverá ser, em nosso ponto de vista, o resultado de um cuidadoso processo de ensino-aprendizagem, agora não mais (ou principalmente) de aspectos conceituais do sistema alfabético, mas, sim, das convenções som-grafia [...] (MORAIS, 2012, p.65). Com base nas ideias de Morais, pode-se concluir que, embora o sujeito tenha alcançado o quinto nível de escrita, este, descrito por Ferreiro e Teberosky, existe, http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 31 nesta ocasião, uma nova preocupação quanto à autonomia desse aluno, no momento da escrita, em relação às regras ortográficas. A imagem a seguir exemplifica uma escrita produzida por uma criança que se encontra no quinto nível. Figura 9: Quinto nível de escrita Fonte: (MORAIS, 2012, p.65). Como se pode perceber, esta criança já compreendeu o sistema notacional da palavra, entretanto apresenta um erro comum em relação às regras ortográficas, visto que um aluno recém-alfabético ainda não possui muitas habilidades grafofônicas e isso só será alcançado com uma autonomia mínima de leitura. Enfim, pode-se notar, que Ferreiro e Teberosky, ao realizarem a pesquisa que fundamentou a Psicogênese da Língua escrita (tese das autoras sobre como se inicia o processo de ensino aprendizagem de leitura e escrita), possibilitaram o surgimento de um pensamento reflexivo, por parte dos educadores, sobre como o aluno reage, sob os estímulos do meio, para compreender os conceitos que regem o sistema notacional. Vale pontuar que Ferreiro e Teberosky se embasaram, durante a estruturação da “Psicogênese da Língua Escrita”, nos estudos de Piaget quanto às fases de desenvolvimento humano, visto que os níveis do processo de compreensão de leitura e escrita, apontados pelas autoras, se assemelham às características típicas de cada estágio de desenvolvimento descrito por Piaget, uma vez que estes estágios, se dividem em; Sensório-motor (0 aos 2 anos)[...] um sujeito que começa a conhecer- se enquanto fonte ou mesmo enquanto senhor de seus movimentos[...] Pré- operatório (2 a 7 anos) [...] passagem das condutas sensório motoras para as ações conceituais[...] Operações concretas (7 a 11 anos) [...] é aquele em que se atinge o http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 32 equilíbrio geral das operações “concretas”, além das formas parciais já equilibradas desde o primeiro nível[...] Operações Formais (a partir dos 12 anos)[...] consiste em poderem elas realizar-se sobre hipóteses e não somente sobre objetos[...](PIAGET, 2002, p. 7 à 54) A partir destes estudos, compreende-se que Ferreiro e Teberosky se fundamentaram nos estágios de desenvolvimento de Piaget, posto que o conhecimento de mundo adquirido pelo contato do aluno com o meio, citado pelas autoras, ocorre no momento em que o sujeito se percebe como autor e ator de seus movimentos a fim de conhecer o outro (objeto) que está a sua volta, construindo, assim, o conhecimento por meio da interação que estabelece com o mundo que o rodeia. Pode-se destacar, ainda, que as características de cada nível de leitura e de escrita, os quais a criança percorre até tornar-se alfabética, só se estabelece, primeiramente, graças ao fato de a criança poder construir conceitos, como descreve o estágio pré-operatório. Torna-se pertinente mencionar, ainda, que, durante o processo de compreensão da alfabetização, a criança passa por reestruturações e estabilizações das operações concretas, visto que somente depois da equilibração dessas operações a criança poderá utilizar-se de operações mais elaboradas e abstratas, uma vez que, neste momento, se preocupará com questões hipotéticaspara compreender um objeto de conhecimento. Sendo assim, percebe-se que foram inúmeras as contribuições dos estudos de Piaget, às concepções de Ferreiro e Teberosky. Torna-se pertinente enunciar, ainda, que os níveis de escrita relatados por Ferreiro e Teberosky são conhecidos, popularmente, como pré-silábico, no qual se caracteriza pelos dois primeiros níveis; silábico, este envolvendo aspectos do terceiro nível; silábico alfabético, em que se seguem as peculiaridades do quarto nível e alfabético, sendo, por fim, o quinto e último nível desta evolução (FERREIRO, 1992). As estudiosas se destacaram na área pedagógica por terem focalizado os pensamentos das crianças, em relação à leitura e escrita, no decorrer do processo de alfabetização, no qual se percebe que, neste processo, a criança passa por níveis gradativos de escrita e leitura. Cabe, neste momento, ao professor, saber detectar em qual destes níveis o educando se encontra, para, posteriormente, utilizar tais informações como norteadoras de sua prática educacional. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 33 A SONDAGEM Para identificar os níveis de escrita e de leitura, as autoras arquitetaram um instrumento para avaliar os conhecimentos dos alunos. Telma Weisz (2012) comentou que o instrumento elaborado por Ferreiro e Teberosky, que, posteriormente, foi denominado como sondagem diagnóstica, é uma ferramenta que identifica o nível de escrita e de leitura das crianças, a partir da qual o educador poderá analisar as produções espontâneas do aluno. Deste modo, pode-se atentar que, além das autoras salientarem que os alunos passam por uma evolução no processo de ensino aprendizagem de leitura e escrita, elas também elaboraram uma maneira de identificar em qual nível de compreensão, do sistema de escrita alfabética, a criança se localiza. Faz-se necessário pontuar que, durante a sondagem diagnóstica, a criança irá realizar suas produções sem o auxílio do professor, para que, deste modo, ela consiga expor, através da escrita, seus pensamentos, no que concerne ao sistema de escrita alfabética. Vale acentuar que a sondagem diagnóstica ocorre por meio de uma entrevista realizada pelo professor com o aluno. Ferreiro, ao narrar a experiência que vivenciou durante sua pesquisa, sobre o processo de alfabetização, esclarece que em cada entrevista propusemos às crianças quatro palavras dentro de um dado campo semântico (nomes de animais, de alimentos, etc.), com uma variação sistemática no número de sílabas (palavras de uma a quatro sílabas) (1992, p.88). Pode-se estabelecer, deste modo, que a sondagem diagnóstica é realizada a partir da escolha de palavras que envolvam um determinado tema e que variem na quantidade de sílabas. Torna-se pertinente frisar que, de nada adianta o docente aplicar uma sondagem adequadamente se não souber interpretá-la e fazer uso das informações que provém dessa interpretação. Cabe, deste modo, ao professor, o difícil dilema de analisar coerentemente os dados obtidos por meio da sondagem, tal como identificar a periodicidade no qual se deve aplicá-la, para que consiga acompanhar o percurso de seus educandos, no processo de compreensão de leitura e escrita, visando proporcionar condições necessárias para o avanço de cada um deles. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 34 INTERAÇÕES COMO INSTRUMENTO AUXILIADOR NA APRENDIZAGEM Ao aprofundar-se nos estudos referentes ao pensamento da criança, durante o processo de alfabetização, Ferreiro e Teberosky atribuem grande importância às interações que a criança estabelece com o meio, como auxílio, na efetivação da aprendizagem sobre leitura e escrita. Desta forma, nota-se que as interações assumem um papel significativo na contribuição da busca do aluno pelo objeto de conhecimento, posto que, “Através das interações adulto-adulto, adulto-criança e crianças entre si, criam-se as condições para a inteligibilidade dos símbolos” (FERREIRO, 1992, p.59). Observa-se, portanto, que a autora citada atribui grande importância às interações, para o êxito no processo de ensino e aprendizagem sobre leitura e escrita, pois, afirma que as trocas de conhecimento, geradas pela interação, são efetivadas, não somente na relação do professor com o aluno, mas também entre os adultos envolvidos no processo de alfabetização, visto que estas relações podem ser concebidas pelo contato do professor com a família dos educandos, tal como com outros educadores. Vale ressaltar que as crianças se beneficiam do conhecimento umas das outras, a partir do momento que o professor oportuniza situações favoráveis para a interação mútua de seus alunos. Um autor de grande destaque, que pode ter servido de base a esses conceitos, foi Vygotsky que, segundo Marta Kohl de Oliveira, postulava que, [...] à dimensão sócio-histórica do funcionamento psicológico humano está sua concepção da aprendizagem como um processo que sempre inclui relações entre indivíduos. Na construção dos processos psicológicos tipicamente humanos, é necessário postular relações interpessoais: a interação do sujeito com o mundo se dá pela mediação feita por outros sujeitos (2002, p. 56). Confirma-se, deste modo, que Vygotsky considerava extremamente importante a interação do sujeito aprendiz com o mundo em que está inserido, no qual as relações que esse sujeito terá, servirão como um auxílio ao seu próprio desenvolvimento. http://www.inead.com.br/ _______________________________________ PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA www.inead.com.br 35 INTERAÇÃO GRUPAL Visto que as interações, no âmbito escolar, favorecem o desenvolvimento dos alunos, pode-se acentuar que a relação entre aluno-aluno serve como um instrumento de apoio ao professor, pois as crianças, neste momento, são mediadoras de seus próprios conhecimentos. Vale ressaltar que, durante essa relação, ambos os alunos podem avançar em seus conhecimentos sobre leitura e escrita, uma vez que os aprendizes trocam informações positivas, entre si, que acarretarão a mediação de um novo aprendizado. A partir do olhar construtivo sob a interação aluno-aluno, destaca-se a Interação Grupal, a qual pode ser descrita por uma interação que, [...]constitui uma fonte de conflitos, visto que as crianças utilizam suas próprias hipóteses para assimilar a informação do meio, e as põem à prova ao confrontá-las com as hipóteses de outros, nem sempre idênticas às suas (FERREIRO; PALACIO, 1987, p.125). Deste modo, observa-se que, por meio da interação grupal, o educando utiliza os conhecimentos que possui para assimilar as informações advindas do meio, no qual as ideias da criança são confrontadas, uma vez que, no momento da escrita, suas representações não se assemelham, fazendo-a reestruturar seus pensamentos quanto ao sistema de escrita alfabética. Segundo Ferreiro e Palacio (1987), para a formação adequada das interações grupais, o professor deve conhecer e se basear nos níveis de leitura e escrita de seus alunos, expostos por Ferreiro e Teberosky, para que, deste modo, o educador consiga agrupá-los, seguindo a exigência de que os níveis, de cada integrante do grupo, estejam próximos. Vale
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