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Alfabetização e LetramentoAlfabetização e Letramento
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Bem vindo(a)!
Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a mais uma etapa de formação e de estudos.
Nesta apostila vamos tratar de um tema bastante instigante e necessário na área da
educação: a Alfabetização e o Letramento dos indivíduos que iniciam um processo
de educação formal. A alfabetização se �rma como o pilar das primeiras
experiências com o mundo letrado.
A literatura apresenta inúmeros estudiosos que têm se posto a estudar os processos
de alfabetização e letramento na perspectiva educacional. Contamos com
contribuições importantíssimas, como Soares (1999, 2003, 2004), Soares e Batista
(2005), Ferreiro (2011), Ferreiro e Teberosky (1999), Cagliari (1995), Britto (2013), dentre
outros.
Braggio (1989) em muito contribuiu ao considerar que a experiência com
alfabetização requer consciência e sensibilidade antes mesmo de se iniciar qualquer
método preestabelecido. Teorias críticas, postura político-educacional centrada e
comprometida e pro�ssionais responsáveis certamente conduzirão o sujeito à
alfabetização com signi�cativa aquisição de linguagem oral e escrita e para toda a
vida, reconhecendo que tem papel ativo em sua aprendizagem e que possui uma
vivência sociocultural que deve ser respeitada e valorizada.
Assim, compreender a necessidade de se optar por uma postura política e �losó�ca
de educação, de ser humano, de sociedade e de linguagem é de suma importância,
pois “toda ação educativa deve necessariamente estar precedida de uma análise do
meio de vida concreto do homem concreto a quem queremos ajudar a educar-se”
(FREIRE, 1980, p. 104).
Portanto, caro(a) aluno(a), reconhecer que a criança, o sujeito é um ser social
concreto, que pertence a um meio social e cultural e que possui experiências e
conhecimentos anteriores compõe o ponto de partida para a alfabetização. Desse
modo, vale lembrar a necessidade de se entender a criança como sujeito ativo,
crítico e transformador de seu aprendizado por meio da linguagem e da sua prática
na sociedade, e nós, professores, devemos ser seus conscientes mediadores.
o ensino tem que ser organizado de forma que a leitura e a escrita deve ser
relevante à vida [...] deve ter signi�cado para a criança [...] deve ser incorporada a
uma tarefa necessária e relevante para a vida [...] para que se desenvolva como uma
forma nova e complexa de linguagem (VYGOTSKY, 2007, p. 143).
Sendo assim, escrever não é apenas habilidade motora e sim atividade cultural
complexa e, também, processo social complexo, como falamos anteriormente, além
de envolver diversos aspectos externos ao sujeito, como, por exemplo, a mediação
desempenhada pelo professor, pelos signos ou instrumentos. Desta maneira,
convidamos você a pensar sobre conhecimentos, aprendizagens, mediações e
experiências sobre a honrosa tarefa de alfabetizar.
Na Unidade I iremos abordar os aspectos históricos, sociais e políticos dos processo
de alfabetização, enfatizando como alguns estudiosos descrevem o processo de
alfabetização e letramento e como a linguagem oral e escrita são fundamentais
nesse processo.
Na Unidade II discutiremos a função social do processo de alfabetização, uma vez
que vivemos e convivemos em um espaço social letrado, que a cada dia exige mais
as competências e habilidades de ler, escrever e interpretar. Para tanto, é
fundamental que o alfabetizador compreenda como o sujeito se desenvolve
partindo do ponto de que o desenho é a primeira forma de expressão e
comunicação escrita com o mundo. Em cada fase do desenho, o sujeito percebe as
relações sociais a sua volta de modo diferenciado.
Continuando nosso estudo, na Unidade III identi�caremos os principais métodos de
alfabetização e como eles funcionam na prática da sala de aula. Além de
percebermos que letrar é um processo desa�ador, que exige habilidades especí�cas
do sujeito. Nesse processo a formação do professor alfabetizador é essencial para
que o processo de alfabetizar e letrar se torne e�caz.
Finalizando as discussões, encerramos, na Unidade IV, destacando como as
tendências pedagógicas são importantes para a escolha do método, para a
abordagem em sala de aula e, principalmente, para nortear o trabalho de ensino do
professor. Dentro dessa temática vamos veri�car as principais características das
avaliações internas aplicadas pelo professor e como o portfólio, como instrumento
avaliativo, pode ir desenhando o desempenho do sujeito ao longo de sua trajetória.
Bom estudo!!!!
Professoras Gilmara e Iris.
Unidade 1
Aspectos históricos,
sociais e políticos da
alfabetização
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Introdução
Uma das grandes abordagens e preocupações que as instituições de ensino da
educação básica possuem é com o processo inicial de alfabetização dos sujeitos em
processo de formação formal. Os primeiros contatos com as primeiras letras, a
apropriação da leitura, da escrita, do uso social e pessoal desses instrumentos tem
feito com que muitas políticas educacionais e métodos de alfabetização sejam
pensados e formulados por gestores e instituições de ensino, com o objetivo de fazer
com que esse processo seja dinâmico, e�caz e que contribua para a formação
intelectual de todos.
Ao ingressar na vida em sociedade, a criança já inicia um processo de mundo
letrado, tudo a sua volta é representado por escritas, signos, gestos e oralidade. O
adulto que não concluiu o processo de alfabetização também vivencia muitas
barreiras com esse mundo, sobrevive criando mecanismos de se inserir.
Nesta unidade iremos discorrer sobre alguns pontos relevantes para que possamos
compreender a importância da alfabetização e do letramento como condições
humanas e necessidades que devem ser sanadas para o ingresso do sujeito nas
relações sociais das mais diversas esferas. Abordaremos a terminologia utilizada para
conceituar a alfabetização e o letramento dentro do aspecto educacional, como
sendo o ponto de partida da vida escolar. Em seguida discorreremos sobre a
importância que a alfabetização e o letramento possuem no desenvolvimento
intelectual do sujeito; e, por �m, estabeleceremos a relação entre os dois termos
como processo social e político na formação intelectual.
O processo de
alfabetização escolar sob o
olhar dos estudiosos
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Ao ingressar no sistema educacional, o sujeito é colocado frente a um mundo de
números, letras, códigos e gestos e começa a perceber que toda a comunicação gira
em torno disso. Bem-vindo(a) ao mundo letrado!! Essa é uma das primeiras
descobertas que o ser humano processa e começa a reconhecer.
Aprender não é fácil. Exige do estudante disposição para enfrentar o conhecimento
e encarar di�culdades, contradições, dilemas e desa�os que, de forma natural ou
arti�cial, perturbam. Esses desa�os assumem contornos de obstáculos à medida
que os recursos intelectuais dele não são su�cientes para compreendê-los. O jovem
precisa, então, acionar o que sabe.
Somente ao colocar em prática seus esquemas de assimilação já construídos é que
ele estabelece novas relações para tentar entender o que não sabe. Um novo objeto
de conhecimento apresenta resistência e, para conhecê-lo mais de perto, é
necessário acionar conhecimentos prévios e lançar mão de algum (ou muito)
esforço intelectual. Depois de aproximações sucessivas e re�exões sobre o novo,
crianças e adolescentes têm condições de passar de um estado de menor para um
de maior conhecimento. Portanto, para compreender algo, é necessário re�etir,
pensar, estabelecer relações e resistir mais do que os próprios objetos de
conhecimento.
Os alunos que se sentem fortalecidos a enfrentar as tensões propostas nas situações
de sala de aula se relacionam mais com o conhecimento do que com o conhecido.
Eles estão dispostos a redimensionar a capacidade de autoria em suas produções, e
suas motivações para estudar tornam-se profundas, não se deixando macular pelas
adversidades. Por outro lado, aqueles que não se sentem encorajados a enfrentar
esses dilemasacabam ocupando o lugar do fracasso. Em vez de consolidar a ideia
de que muitos estudantes têm di�culdades de aprendizagem, é mais produtivo
pensar em meios para ajudá-los a reconhecer suas potencialidades para lidar com
as tensões do processo.
De acordo com Facci (2004, p. 209)
É a apropriação da cultura que leva os indivíduos a pensar de uma
forma humana, pois ao utilizarem os signos sociais, ao fazerem relações
com os fatos e objetos apreendidos, é que os indivíduos podem
compreender a realidade social e natural.
A percepção da própria capacidade depende da forma como cada um é visto. A
imagem construída pode ser positiva ou negativa e o reconhecimento das próprias
habilidades é determinante para a vida escolar. Para avançar, é preciso expor ideias,
hipóteses, representações e teorias.
O professor é a peça-chave para ajudar os estudantes a se reconhecerem como
sujeitos intelectualmente ativos. Entre as ações que favorecem a relação com o
conhecimento, estão averiguar o que os alunos pensam sobre o objeto a ser
estudado e reconhecer que há um grande esforço intelectual por trás das ideias e
representações expostas.
À medida que o professor conhece os saberes do grupo tem mais condições de
regular o desa�o nas propostas em sala, atendendo às necessidades de cada um.
Quando se depara com a diversidade, não pode classi�car quem sabe menos como
alguém que tem di�culdade de aprendizagem. Essas duas condições não são
idênticas ou equivalentes. Ter menos conhecimento do que a maioria apenas indica
que o estudante precisa de mais atenção ou de atividades diferenciadas.
Cabe ao educador ajudar a impulsionar e a infundir o desejo de enfrentar os dilemas
inevitáveis do processo de aprendizagem. Um bom ponto de partida é reconhecer
que o trabalho não é fácil, não é uma brincadeira. Muitos alunos avaliados como
tendo di�culdades, na verdade, estão desencorajados a enfrentar as contradições
intrínsecas desse processo.
Para compreender algo novo, é essencial ter uma boa dose de coragem, ousadia e
persistência. Ensinar pressupõe articular o modo de ser e pensar do aluno com as
estruturas epistemológicas dos conteúdos. A baliza dessas ações são o
compromisso, o trabalho, o afeto e a implicação de todos os envolvidos. Esse é o
caminho da aprendizagem.
REFLITA
Ao estabelecer a função de mediador do conhecimento entre o objeto
de apropriação de conhecimento e o aluno, o professor deve ter
consciência de que nessa relação a pessoa com mais experiência, com
maior conhecimento é ele, portanto, cabe a ele planejar e
operacionalizar os melhores recursos e as melhores metodologias para
fazer com que o aluno se aproprie dos conhecimentos históricos
sistematizados e acumulados pela humanidade ao longo da história.
Ressigni�car esses conhecimentos, fazer o usos social dessas
aprendizagens é fundamental no processo de aprendizagem e
desenvolvimento do sujeito.
Fonte: as autoras.
Para falarmos das possibilidades de uma aprendizagem signi�cativa, precisamos
entender a práxis que a envolve. De acordo com Pimenta (2002), para Marx, práxis é
a atitude de transformação da natureza e da sociedade. Não basta conhecer e
interpretar o mundo (teórico), é preciso transformá-lo (práxis).
A teoria de Ausubel, segundo Oliveira (1993), preocupa-se primordialmente com a
aprendizagem de matérias escolares no que se refere à aquisição e à retenção
desses conhecimentos de maneira “signi�cativa” (em oposição à matéria sem
sentido, decorada ou aprendida mecanicamente), e à “possibilidade de um
conteúdo torna-se com sentido” [dependendo] de ele ser incorporado ao conjunto
de conhecimentos de um indivíduo de maneira substantiva, isto é, relacionados a
conhecimentos previamente existentes na “estrutura mental do sujeito.
Deste modo, caro(a) aluno(a), observa-se que essa aprendizagem ocorrerá de forma
signi�cativa se houver uma efetiva participação dos atores envolvidos. Ou seja, tudo
dependerá das relações estabelecidas socialmente por meio da coletividade.
Vygotsky 2007( apud REGO, 2001, p. 60) a�rma que “as conquistas individuais
resultam de um processo compartilhado”.
Essa relação teoria e prática na formação do educador “deve estar presente no
professor, num comprometer-se profundo, como construtor, organizador
permanente do trabalho educativo que o educador se educa” (CANDAU; LELIS, 2001,
@arrow_smith2 em freepik
Para Moreira (1985, p. 54), a relação
entre a teoria e a prática é uma das
manifestações da aprendizagem
signi�cativa, que é “[...] um processo
através do qual uma nova
informação relaciona-se com um
aspecto relevante da estrutura de
conhecimento do indivíduo” . Ou
seja, esse processo envolve a
interação da nova informação com
uma estrutura de conhecimento
especí�ca, a qual Ausubel (1982)
de�ne como conceitos subsunções
ou subsunções existentes na
estrutura cognitiva do indivíduo. A
aprendizagem signi�cativa ocorre
quando a nova informação ancora-
se em conceitos relevantes,
preexistentes na estrutura cognitiva
do aprendiz. 
p. 60). As autoras acreditam que todos os componentes curriculares devem
trabalhar a unidade teoria-prática de diferentes con�gurações para que a visão da
totalidade da prática pedagógica não seja perdida.
Muito bem, feitas essas considerações, importantes para compreendermos que
aprender não é tarefa fácil, que os conhecimentos anteriormente devem ser a base
para o avanço de novas aprendizagens, que o professor é o mediador do processo de
ensino e aprendizagem, neste momento abordaremos alguns conceitos de
alfabetização, estruturados por estudiosos do tema.
Como mencionamos anteriormente, vários autores se debruçam sobre esse tema
com o intuito de colaborar com professores alfabetizadores. Compreender o
signi�cado e como ocorre a alfabetização oportuniza às escolas e professores
planejarem as melhores ações e dispositivos para alavancar essa ação cognitiva.
Uma das grandes estudiosas dessa temática é a professora Magda B. Soares. Ela
possui graduação em Letras Neolatinas, pela Universidade Federal de Minas Gerais
(1953), e doutorado em Didática, pela Universidade Federal de Minas Gerais (1962).
Atualmente é membro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação, membro de comitê assessor do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientí�co e Tecnológico, consultora da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior, professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais e
conselheira - Communitee Economique Europeen. Tem uma vasta experiência na
área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem, atuando principalmente
nos temas: alfabetização, letramento, escrita, ensino, leitura e formação de
professores. De acordo com Soares (2012, p. 47), “alfabetização é a ação de
ensinar/aprender a ler e escrever”.
SAIBA MAIS
É relevante que se entenda o processo de ensino e aprendizagem como
um processo contínuo, interdependente e dinâmico, ao passo que
precisa adaptar-se aos meios que ocupa. Por isso, os pro�ssionais da
educação precisam oferecer condições adequadas para que esse
processo alcance seus objetivos na educação dos estudantes. A�nal,
nem todo ensino desencadeia aprendizagem, pois aprendizagem
corrobora com a mudança de comportamento.
Fonte: as autoras.
Assim, de acordo com a autora, compreender o processo dos fonemas e grafemas,
codi�cando e decodi�cando oportuniza a alfabetização, ou seja, ler e escrever.
Soares (2004, p. 19) ainda expande e diz: “alfabetizado nomeia aquele que apenas
aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição de quem
se apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que as
demandam“.
Para Cagliari (1995), alfabetização é a aprendizagem da escrita e da leitura. O autor é
 professor de Fonética e Fonologia no departamento de Linguística do Instituto de
Estudos da Linguagem da Unicamp, possui mestrado em Linguística Geral e
doutorado pelo Departamento de Linguística da Universidade de Edimburgo,
Escócia. Um dos maiores linguistas brasileiros.
O processo da leitura e escrita pelascrianças exige delas habilidades e
competências que somente serão alcançadas se for feito um trabalho árduo,
planejado e consciente por parte do professor alfabetizador.
Até aqui observamos que o processo de alfabetização exige do sujeito a habilidade
de compreender, codi�car e decodi�car o código escrito, alfabético-fonético, dando
a ele a competência de ler e escrever letras, sílabas, palavras, frases e textos. Esse
processo de alfabetizar oportuniza ao sujeito a inserção no mundo letrado.
Aqui também cabe uma pergunta: mas só estar alfabetizado garante a
sobrevivência no mundo letrado? Uma das respostas a essa pergunta poderia ser
“não”, pois, além de ler e escrever, o sujeito deve compreender o que lê e o que
escreve, ou seja, deve saber fazer o uso dessa escrita e dessa leitura.
Sendo assim, vamos avançar um pouco mais em nossos estudos.
Alfabetização e
Letramento: implicações
sociais e político-
ideológicos
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Muito bem, já estamos entendendo um pouco sobre a alfabetização, que pode ser
de�nida como a apropriação da leitura e da escrita, como a�rmam Soares e Batista
(2005, p. 24)
O termo alfabetização designa o ensino e o aprendizado de uma tecnologia de
representação da linguagem humana, a escrita alfabético-ortográ�ca. O domínio
dessa tecnologia envolve um conjunto de conhecimentos e procedimentos
relacionados tanto ao funcionamento desse sistema de representação quanto às
capacidades motoras e cognitivas para manipular os instrumentos e equipamentos
de escrita.
Posto e rea�rmado isso, indagamos: mas a�nal, o que é letramento? Para darmos
início às discussões, vamos partir do conceito de Soares (2012, p. 47), que diz:
“letramento é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas
cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita”.
O letramento, assim, se constitui como o uso social da escrita e do texto.
Exempli�cando: um sujeito aprende a ler e a escrever. Ele domina o código escrito.
Em seguida aprende a ler um poema. Quando indagado para que serve o poema,
responde que é um texto que expressa sentimento e que pode ter rima ou não. Ao
ser colocado um texto impresso de poema e um de uma narrativa, ele consegue
mostrar qual dos textos é um poema.
Podemos a�rmar que esse sujeito é alfabetizado e letrado, pois, além de ler o
poema, ele sabe dizer para que serve esse texto, consegue saber  a diferença estética
e também sabe se posicionar sobre.
Para uma melhor compreensão, citamos Soares (2010, p. 24):
No processo de aprendizagem inicial da leitura e da escrita, a criança
deve entrar no mundo da escrita fazendo uso de dois “passaportes”:
precisa apropriar-se da tecnologia da escrita, pelo processo de
Alfabetização, e precisa identi�car usos e funções da escrita e vivenciar
diferentes práticas de leitura e de escrita, pelo processo de Letramento.
Se lhe é oferecido apenas um dos “passaportes” – se apenas alfabetiza,
sem conviver com práticas reais de leitura e de escrita – formará um
conceito distorcido, parcial do mundo da escrita; se usa apenas o outro
“passaportes” – se apenas, ou, sobretudo, se letra, sem apropriar plena
e adequadamente da tecnologia da escrita – saberá para que serve a
língua escrita, mas não saberá se servir dela.
Para a autora, o objetivo do professor alfabetizador não pode se limitar apenas ao
ato de ensinar o sujeito a decodi�car o código linguístico, deve, ao mesmo tempo,
alfabetizar letrando. Para isso, é fundamental oportunizar um ambiente instigador,
que possibilite o acesso a muitos materiais escritos, audiovisuais, manipulativos,
tudo regado com a mediação do professor. Lembrando, no entanto, que encher as
paredes da sala de aulas com textos, regras, desenhos e uma série de outras coisas
não denota um ambiente alfabetizado e letrado. Tudo deve ter signi�cado para o
sujeito, tudo deve ter sido parte de um processo de desenvolvimento.
Se um sujeito aprendeu a ler e a escrever, mas não incorporou a prática da leitura e
da escrita no seu dia a dia, se não consegue entender uma reportagem de jornal
que leu ou um livro, uma bula de remédio ou não consegue redigir um ofício ou
preencher um formulário, não está apto a responder às exigências da sociedade
letrada atual. Por isso, seu trabalho deve ser intenso para que o aluno consiga
responder a essas exigências da sociedade.
Para Magda Soares (2004), tornar-se alfabetizado e decodi�car os códigos
linguísticos é um ato mecânico, sem atribuição de signi�cado. Mas se o indivíduo
usar essa leitura e escrita nas suas práticas sociais, e quando essas práticas trazem
consequências sobre o indivíduo, alterando seus aspectos sociais, psíquicos,
culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e, até mesmo, econômicos, deixa de ser
apenas alfabetizado e passa a se apropriar da leitura e da escrita, ou seja,
“Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o
estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como
consequência de ter se apropriado da escrita” (SOARES, 2004, p. 18).
O letramento envolve dois fenômenos distintos e complexos: a leitura e a escrita,
ambos possuem características e habilidades diferentes de entendimento.
SAIBA MAIS
Você conhece um ambiente alfabetizador? Conhecê-lo e criá-lo nas
escolas, ou também em casa, é de grande valia para estimular a leitura
e a escrita da criança e, consequentemente, alfabetizando-a. Um
ambiente verdadeiramente alfabetizador possibilitará bons resultados
de aprendizagem, desde a educação infantil, ao passo que leva a
criança a aprender de modo mais lúdico e atrativo para ela.
A �m de aprofundar um pouco mais suas leituras a esse respeito,
acesse o texto Letramento e Alfabetização na Educação Infantil, no link:
ACESSAR
http://www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfantil/letramento_e_alfabetizacao/educacao_infantil.aspx
O processo da leitura e escrita pelas crianças exige delas habilidades e
competências que somente serão alcançadas se for feito um trabalho árduo,
planejado e consciente por parte do professor alfabetizador.
Numa perspectiva mais social, política e econômica, o modo como a sociedade
produz e distribui seus bens materiais e não materiais determina o modo como ela
pensa também. Historicamente, até meados da década de 1980, só utilizávamos e
nos preocupávamos com a alfabetização. Estudávamos teorias, métodos de
alfabetização, utilização de recursos como cartilhas e outros. Com o
desenvolvimento da tecnologia, da ciência e com uma nova estrutura econômica,
apenas ler e escrever não supria mais as demandas sociais.
De acordo com Brito (2013, p. 30), foram três os desencadeadores de um novo pensar
sobre a apropriação e utilização dos produtos culturais:
@twenty20photos em Envato
A leitura , do ponto de vista do
letramento, vai além do decodi�car
palavras escritas. O indivíduo precisa
ter capacidade de compreender
textos escritos de diversos gêneros.
Envolve habilidades e
comportamentos que não se
limitam à decodi�cação, mas se
estendem às leituras mais
complexas que exigem do leitor um
nível de entendimento maior. 
A escrita , assim como a leitura,
envolve um conjunto de habilidades
e comportamentos, que perpassam
a escrita de um simples bilhete, mas
se estendem à escrita de textos mais
complexos e argumentos
convincentes a um destinatário. 
O desenvolvimento dos estudos sobre a escrita – compreendida como
algo mais que cópia in�el da fala ou usurpadora do lugar original desta
– isto é, sobre os discursos, os gêneros, os modos de ler e escrever e de
aprender a ler e escrever, as formas de produzir textos e objetos de
leitura, as modi�cações consequentes do uso da tecnologia, em
particular o computar; o aumento da demanda social pelo domínio
operacional do sistema de escrita; e as mudanças no modo de
produção, da economia e da política global.
Hoje, o processo escolar e instrucional de aprender a ler e escrever demanda outras
necessidades. Assim, ser alfabetizado e letrado parece ser condições mínimas para
que os sujeitos se encaixem e sobrevivamdentro de uma sociedade cada vez mais
exigente e com novas demandas.
O conhecimento sobre os processos de aprendizagem renova o nosso olhar e nos
incita a enxergar novas possibilidades de ensinar, que só poderão ser
compreendidas se estivermos com desejo de ver outra forma de perceber as
mesmas coisas. Então, vamos lá?
É preciso planejar situações em que os alunos sejam instigados a escrever, de modo
que o professor irá conhecer suas hipóteses de escritas (eles não sabem ainda, de
memória, escrever) e seus níveis, para que ele possa oferecer boas situações de
ensino e aprendizagem, isto é, para que o professor possa planejar intencionalmente
suas aulas.
Muitos são os questionamentos feitos aos alunos quando eles têm que escrever e
não são alfabetizados: por que é difícil ler o que escrevo? Por que sobram letras? Por
que as letras parecem estar fora de ordem? Por que há tantas letras iguais em uma
mesma escrita. Por que eu leio a mesma coisa de um jeito diferente do meu colega?
E assim por diante.
Escrever e tentar ler a própria escrita representa um bom desa�o para quem ainda
não sabe ler. É preciso justi�car para si mesmo e para os outros as escolhas feitas.
Quando os alunos ainda não se alfabetizaram e estão empenhados em descobrir
quantas e quais letras são usadas para escrever, recomenda-se a letra caixa alta
(fôrma) A, B, C e assim por diante, pois é mais fácil de distingui-las umas das outras e
são mais simples de traçar.
A representação da
linguagem e o processo de
alfabetização
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Quando discorremos sobre escola, aprendizagem e desenvolvimento estamos
abrangendo uma série de fatores que contribuem para o desenvolvimento do
sujeito. Ao ser inserido no mundo letrado, o homem desenvolveu a capacidade de
comunicar-se. Esse processo chama-se linguagem. De acordo com Abbagnano
(2007, p. 615), a linguagem é conceituada, em geral, como sendo “uso de signos
intersubjetivos, que são os que possibilitam a comunicação”.
Nesse contexto, podemos compreender que todas as possibilidades que permitem a
comunicação podem ser nomeadas como linguagem. A linguagem possui vários
instrumentos. Meios como signos, gestos, símbolos são meios de linguagens que
ocasionam a comunicação.
Uma vez alfabetizado e/ou letrado, os sujeitos utilizam esses recursos para
promoverem a comunicação na vida em sociedade. Por isso que ensinar a ler, a
escrever, a falar são possibilidades humanas de cunho biológico e social.
Ao longo da história da humanidade, os homens inventaram vários signos e
instrumentos para suprirem a necessidade de comunicação – inicialmente, a
oralização da fala para expressar sentimentos e ações. Uma comunidade primitiva,
em que a oralidade é o principal veículo de comunicação, é valorizada a fala. Para
Cagliari (1995, p. 52)
@pressfoto em freepik
Dentro do contexto de
aprendizagem, os sujeitos devem
compreender a não somente
mecanizar essas ações, mas
também a vivenciar e a dar
signi�cados a elas. Em um de seus
estudos sobre a formação do
pensamento de maneira social,
Vygotsky (2007) pontua que ler e
escrever não devem se constituir
apenas de ações mecânicas,
reproduzidas pelo sujeito sem que
haja uma interação intelectual
nessas ações . 
Se a escola tem por objetivo ensinar como a língua funciona, deve
incentivar a fala e mostrar como ela funciona. Na verdade, uma língua
vive na fala das pessoas e só aí se realiza plenamente. A escrita preserva
uma língua como um objeto inanimado, fossilizado. A vida de uma
língua está na fala.
Percebamos como essas palavras são fortes. Ela demonstra que realmente a fala é o
princípio da ação. Outra possibilidade de linguagem foi a pintura rupestre, como
sendo uma das primeiras maneiras de expressar e preservar as ações vivenciadas.
Observe os signos, gestos e imagens a seguir. Todas elas se constituem como
possibilidades de linguagem, de comunicação. Cada uma expressa uma mensagem
direcionada a um receptor.
Figura 1 - Pintura Rupestre de animais - Vezere Valley, France
Fonte: Versloot (2008 apud WIKIPÉDIA, 2008, on-line)
Figura 2 - Cavalo
Fonte: Souza (2020)
Figura 3 - Símbolos em Braille
Fonte: Adaptada de @itler em Freepik
Figura 4 - Ícones de comunicação: proibidos e permitidos
Fonte: acesse o link Disponível aqui
O processo de desenvolvimento que desencadeia a alfabetização, inicia com os
gestos, em seguida vai para o desenho, materializa-se também nos jogos e
brinquedos a culmina na representação simbólica com signos, como as letras, por
SAIBA MAIS
Para complementarmos os estudos sobre as várias linguagens da
criança, indicamos o site a seguir para leitura e aprofundamento de
tema:
ACESSAR
https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/as-diversas-linguagens-da-crianca.htm
exemplo. Vygotsky (2007, p. 128) pontua que “o gesto é o signo visual inicial que
contém a futura escrita da criança, assim como uma semente contém um futuro
carvalho”.
Assim, o processo de alfabetização e de letramento inicia-se numa trajetória
biológica e social, quase que linear, pois inicialmente a primeira linguagem é o
choro. O bebê expressa-se por meio do choro como veículo de comunicação com o
mundo. Em seguida, passa a utilizar grunhidos orais, experencializados na vida em
sociedade com os adultos que o cercam.
Juntamente com os grunhidos, agregam-se os gestos, o sorriso, o olhar. Em seguida,
as primeiras palavras orais, gradativamente, os rabiscos, o desenho, os brinquedos, a
representação dos códigos e a utilização deles.
O processo de ensino e de aprendizagem desencadeia-se por meio da intervenção
dos signos e instrumentos produzidos para suprir as demandas humanas criadas.
Alfabetizar-se e letrar-se são ações que colocam o sujeito em um patamar de
desenvolvimento muito especí�co.
@envato
Por isso o uso da linguagem oral,
escrita, e lida deve sempre estar
num contexto signi�cativo para a
criança. O ato de representar a
comunicação por meio da fala
oralizada, por meio da escrita, por
meio do gesto, demanda uma
valorização maior no ambiente
escolar. A escrita não se sobrepõe a
fala ou ao gesto, elas se
complementam e fazem parte da
aprendizagem do mundo social e
letrado . Segundo Ferreiro (2011, p. 16-
17) 
A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um
sistema de representação, não um processo de codi�cação. Uma vez
construído, poder-se-ia pensar que o sistema de representação é
aprendido pelos novos usuários como um sistema de codi�cação.
Entretanto não é assim. No caso dos dois sistemas envolvidos no início
da escolarização ( o sistema de representação dos números e o sistema
de representação da linguagem), as di�culdades que as crianças
enfrentam são di�culdades conceituais semelhantes às da construção
do sistema e por isso pode-se dizer, em ambos os casos, que a criança
reinventa esses sistemas. Bem entendido: não se trata de que as
crianças reinventam as letras nem os números, mas que para poderem
se servir desses elementos como elementos de um sistema, devem
compreender seu processo de construção e suas regras de produção, o
que coloca o problema epistemológico fundamental: qual é a natureza
da relação entre o real e a sua representação?
Assim, compreendemos que estar alfabetizado e ser letrado demandam um
processo de aprendizagens e desenvolvimentos tanto biológicos como sociais, tudo
mediado por signos, instrumentos e pessoas. Ser alfabetizado vai muito além de
codi�car e decodi�car, encerra-se num processo internos e externo de projeções e
relações entre o objeto e o sujeito.
Quando nos alfabetizamos, aprendemos um sistema de representação
da linguagem humana que toma como objeto de representação inicial
os sons da fala, mas, posteriormente, para anular a variação lingüística,
tende a se afastar da fala por meio da ortogra�a. 
Apesar de mais completa, essa de�nição, porém, ainda é insatisfatória.
Não aprendemos esse objeto em si mesmo, mas no interior de
processos de leitura e de escrita. Isso signi�ca que capacidades ou
procedimentos como, por exemplo, reconhecerletras, categorizar letras
grafadas de forma diferente, realizar processos de análise e síntese de
sílabas e palavras, adquirir �uência em leitura e rapidez na escrita, são
também importantes dimensões daquilo que aprendemos quando nos
alfabetizamos. 
Também fazem parte desse objeto certas habilidades motoras e
cognitivas, envolvidas no uso e na manipulação de instrumentos e
equipamentos de escrita. Isso signi�ca, dentre outras coisas, segurar
adequadamente o lápis, desenvolver a coordenação motora necessária
à escrita, posicionar-se adequadamente para ler e escrever, saber como
se faz a seqüenciação do texto nas páginas, conhecer a organização
grá�ca do escrito na página (SOARES; BATISTA, 2005, p. 43).
Além disso, a memória é fundamental no processo de alfabetização. Ela se constitui
como uma função psicológica superior necessária para que as ações neurais de
armazenamento e uso se efetivem. Por isso, ao professor cabe a função de planejar
de maneira signi�cativa as intervenções pedagógicas necessárias no início do
processo de alfabetização.
As hipóteses de escritas que os alunos constroem possuem erros necessários para
que eles se aproximem da escrita convencional. Planejar intencionalmente as
atividades diárias, ou seja, seu trabalho pedagógico, irá atender as necessidades de
aprendizagem dos alunos. E de nada adianta saber disso e não pôr em prática.
A relação, a troca de experiências entre as crianças com diferentes níveis de
conhecimento gera troca de informações e confronto de ideias, que proporcionam a
aprendizagem. Mais uma vez entra em ação o conhecimento que o professor tem
sobre o que seus alunos sabem a respeito da escrita.
Ensinar é fazer aprender! Todo ensino que não tem como resultado a aprendizagem
não cumpre seu papel. Ensino e aprendizagem são processos diferentes, por isso
quando não desempenhamos bem nosso papel em relação aos resultados de
aprendizagens dos alunos, é hora de analisar, com muito cuidado, a e�cácia de
nossa proposta de ensino, rever, retomar o planejamento e adaptá-lo às novas
necessidades e potencialidade da turma.
Para que haja um bom desempenho dos alunos é preciso que os mesmos sintam-se
seguros de que não serão recriminados por cometerem erros, eles precisam estar à
vontade para realizar as atividades alfabetizadoras para que atinjam os objetivos
REFLITA
Um sujeito em processo de alfabetização precisa ter em seu entorno
uma situação concreta e signi�cativa de ensino, um professor
preparado e ciente de seu papel, recursos que possibilitem sair da
esfera abstrata para a concreta, estímulos para compreender a
linguagem, como processo fundamental de comunicação, e que dê ao
sujeito segurança para se tornar alfabetizado e letrado. Os instrumentos
por si só não são capazes de garantir o processo. Todos os elementos de
mediação são necessários e importantes!
Fonte: as autoras.
propostos. É necessário explicar a eles que podem escrever como acham que é, mas
devem fazer da melhor maneira que puderem também, levando-os a entender que
a atividade proposta (sondagem) não é uma coisa qualquer sem valor.
E quando se trata de criança ou adulto que experimentaram o fracasso escolar?
Para estes é preciso criar condições favoráveis para demonstrarem o pensam,
mesmo quando se recusam a escrever.
Certa vez ouvi, em um curso que realizei, a seguinte frase: “É pensando sobre a
escrita que se aprende a ler e a escrever”. Vamos compreender, no decorrer dos
nossos estudos, que a memorização de sílabas não garante a compreensão das
regras de geração e funcionamento do sistema de escrita alfabético.
SAIBA MAIS
Trabalhar com a educação exige o aprofundamento e a pesquisa
constante por parte dos professores, por isso, no que tange às
discussões aqui propostas sobre o ensino e aprendizagem na etapa de
alfabetização, indicamos um site que possibilita acesso a vídeos,
entrevistas e textos importantes para essa discussão aqui estabelecida.
Acesse o endereço eletrônico indicado e navegue pelo fantástico
mundo do ensino e aprendizagem na alfabetização:
ACESSAR
https://novaescola.org.br/conteudo/4706/colecao-pensadores-na-pratica-dialogo-entre-ensino-e-aprendizagem-telma-weisz
O processo de ensino e de aprendizagem é fundamental no início de vivências escolares, quando o principal objetivo da
instituição escolar é trabalhar e transmitir conhecimentos cientí�cos produzidos histórica e cumulativamente pela
humanidade. Dentre esses conhecimentos situa-se a alfabetização e o letramento. Alfabetizar um sujeito vai além das
letras e dos sons, oportunizar a ele a situação de letramento vai além da alfabetização.
Quando pensamos na alfabetização, em primeiro lugar nos vem em mente letras no alfabeto, os fonemas. Também nos
lembramos da nossa experiência quando fomos alfabetizados. E como professores alfabetizadores procuramos não
cometer as mesmas falhas que nossos professores cometeram. Por essas tidas “falhas” é que �lósofos estudiosos e outros
da área da educação repensaram o contexto, os objetivos da alfabetização. A educação era tida como modelo autoritário,
muita “decoreba” dos conteúdos, pois apenas o professor detinha o saber e era na escola que o conhecimento deveria
acontecer.
Hoje em dia buscamos a relação professor aluno de maneira ampla, isto é, somos mediadores de conhecimento já
existentes e estaremos sempre aprendendo com as colocações, participações das vivências de nossos alunos também.
Devemos partir da realidade da criança, instigando sua curiosidade, propiciando momentos interessantes em que os
conteúdos se apresentam com signi�cado e com re�exão. É a partir desse processo de ensino e aprendizagem signi�cativo
que professores e alunos participam ativamente da construção e desenvolvimento dos saberes. Por isso a �gura do
professor, enquanto mediador, torna-se fator essencial para que os alunos possam sistematizar os saberes de maneira mais
dinâmica e e�caz.
Desse modo, a alfabetização e letramento levarão os estudantes a um processo contínuo de aprendizagem, para a
formação cidadã, crítica e re�exiva, iniciada nos bancos escolares e levadas para a atuação da vida em sociedade e das
relações com com seu entorno social.
Leitura complementar
Com objetivo de aprofundar um pouco mais a discussão sobre alfabetização e letramento, propomos a leitura da entrevista
dada pela prof Magda Soares, que é muito elucidativa.
LETRAR É MAIS QUE ALFABETIZAR
Entrevista com Magda Becker Soares
Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais centradas na escrita, ser alfabetizado, isto
é, saber ler escrever, tem se revelado condição insu�ciente para responder adequadamente às demandas
contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no
cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso letrar-se. O conceito de letramento, embora ainda
não registrado nos dicionários brasileiros, tem seu a�orar devido à insu�ciência reconhecida do conceito de
alfabetização. E, ainda que não mencionado, já está presente na escola, traduzido em ações pedagógicas de
reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar, como constata a professora Magda Becker Soares, que,
há anos, vem se debruçando sobre esse conceito e sua prática.
“A cada momento, multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel,
mas também na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos”, diz Magda, professora emérita da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG). “Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe
escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada”, explica. Para ela,
em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas
populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, vivem em ambientes de
letramento.
Conclusão - Unidade 1
“A diferençaé que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente mais freqüente e mais intenso com
material escrito e com práticas de leitura e de escrita”, diz. “É prioritário propiciar igualmente a todos o acesso ao
letramento, um processo de toda a vida” (ELIANE BARDANACHVILI).
O que levou os pesquisadores ao conceito de letramento, em lugar de do Alfabetização?
- A palavra letramento e, portanto, o conceito que ela nomeia entraram recentemente no nosso vocabulário. Basta
dizer que, embora apareça com freqüência na bibliogra�a acadêmica, a palavra não está ainda nos dicionários. Há,
mesmo, vários livros que trazem essa palavra no título. Mas ela não foi ainda incluída, por exemplo, no recente
Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, de 1998, nem na nova edição do Aurélio, o Aurélio Século XXI,
publicado em 1999. É preciso reconhecer também que a palavra não foi incorporada pela mídia ou mesmo pelas
escolas e professores. É ainda uma palavra quase só dos “pesquisadores”, como bem diz a pergunta. O mesmo não
acontece com o conceito que a palavra nomeia, porque ele surge como conseqüência do reconhecimento de que o
conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório.
- Por quê?
- A preocupação com um analfabetismo funcional [terminologia que a Unesco recomendara nos anos 70, e que o
Brasil passou usar somente a partir de 1990, segundo a qual a pessoa apenas sabe ler e escrever, sem saber fazer
uso da leitura e da escrita], ou com o iletrismo, que seria o contrário de letramento, é um fenômeno
contemporâneo, presente até no Primeiro Mundo.
- E como isso ocorre?
- É que as sociedades, no mundo inteiro, tornaram-se cada vez mais centradas na escrita. A cada momento,
multiplicam-se as demandas por práticas de leitura e de escrita, não só na chamada cultura do papel, mas também
na nova cultura da tela, com os meios eletrônicos, que, ao contrário do que se costuma pensar, utilizam-se
fundamentalmente da escrita, são novos suportes da escrita. Assim, nas sociedades letradas, ser alfabetizado é
insu�ciente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas de hoje.
Qual tem sido a reação a esse fenômeno lá fora?
- Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há grande preocupação com o que consideram um baixo nível de literacy da
população, e, periodicamente, realizam-se testes nacionais para avaliar as habilidades de leitura e de escrita da
população adulta e orientar políticas de superação do problema. Outro exemplo é a França. Os franceses
diferenciam illettrisme muito claramente illettrisme de analphabétisme. Este último é considerado problema já
vencido, com exceção para imigrantes analfabetos em língua francesa. Já illettrisme surge como problema recente
da população francesa. Basta dizer que a palavra illettrisme só entrou no dicionário, na França, nos anos 80. Em
Portugal é recente a preocupação com a questão do letramento, que lá ganhou a denominação de literacia, numa
tradução mais ao pé da letra do inglês literacy.
O que explica o aparecimento do conceito de letramento entre nós?
- Não se trata propriamente do aparecimento de um novo conceito, mas do reconhecimento de um fenômeno que,
por não ter, até então, signi�cado social, permanecia submerso. Desde os tempos do Brasil Colônia, e até muito
recentemente, o problema que enfrentávamos em relação à cultura escrita era o analfabetismo, o grande número
de pessoas que não sabiam ler e escrever. Assim, a palavra de ordem era alfabetizar. Esse problema foi, nas últimas
décadas, relativamente superado, vencido de forma pelo menos razoável. Mas a preocupação com o letramento
passou a ter grande presença na escola, ainda que sem o reconhecimento e o uso da palavra, traduzido em ações
pedagógicas de reorganização do ensino e reformulação dos modos de ensinar.
Como o conceito de letramento, mesmo sem que se utilize este termo, vem sendo levado à
prática?
- No início dos anos 90, começaram a surgir os ciclos básicos de alfabetização, em vários estados; mais
recentemente, a própria lei [Lei de Diretrizes e Bases, de 1996] criou os ciclos na organização do ensino. Isso signi�ca
que, pelo menos no que se refere ao ciclo inicial, o sistema de ensino e as escolas passam a reconhecer que
alfabetização, entendida apenas como a aprendizagem da mecânica do ler e do escrever e que se pretendia que
fosse feito em um ano de escolaridade, nas chamadas classes de alfabetização, é insu�ciente. Além de aprender a
ler e a escrever, a criança deve ser levada ao domínio das práticas sociais de leitura e de escrita. Também os
procedimentos didáticos de alfabetização acompanham essa nova concepção: os antigos métodos e as antigas
cartilhas, baseados no ensino de uma mecânica transposição da forma sonora da fala à forma grá�ca da escrita, são
substituídos por procedimentos que levam as crianças a conviver, experimentar e dominar as práticas de leitura e
de escrita que circulam na nossa sociedade tão centrada na escrita.
Como se poderia, então, de�nir letramento?
- Letramento é, de certa forma, o contrário de analfabetismo. Aliás, houve um momento em que as palavras
letramento e alfabetismo se alternavam, para nomear o mesmo conceito. Ainda hoje há quem pre�ra a palavra
alfabetismo à palavra letramento - eu mesma acho alfabetismo uma palavra mais vernácula que letramento, que é
uma tentativa de tradução da palavra inglesa literacy, mas curvo-me ao poder das tendências linguísticas, que
estão dando preferência a letramento. Analfabetismo é de�nido como o estado de quem não sabe ler e escrever;
seu contrário, alfabetismo ou letramento, é o estado de quem sabe ler e escrever. Ou seja: letramento é o estado em
que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam
na sociedade em que vive: sabe ler e lê jornais, revistas, livros; sabe ler e interpretar tabelas, quadros, formulários,
sua carteira de trabalho, suas contas de água, luz, telefone; sabe escrever e escreve cartas, bilhetes, telegramas sem
di�culdade, sabe preencher um formulário, sabe redigir um ofício, um requerimento. São exemplos das práticas
mais comuns e cotidianas de leitura e escrita; muitas outras poderiam ser citadas.
Ler e escrever puramente tem algum valor, a�nal?
- Alfabetização e letramento se somam. Ou melhor, a alfabetização é um componente do letramento. Considero
que é um risco o que se vinha fazendo, ou se vem fazendo, repetindo-se que alfabetização não é apenas ensinar a
ler e a escrever, desmerecendo assim, de certa forma, a importância de ensinar a ler e a escrever. É verdade que
esta é uma maneira de reconhecer que não basta saber ler e escrever, mas, ao mesmo tempo, pode levar também
a perder-se a especi�cidade do processo de aprender a ler e a escrever, entendido como aquisição do sistema de
codi�cação de fonemas e decodi�cação de grafemas, apropriação do sistema alfabético e ortográ�co da língua,
aquisição que é necessária, mais que isso, é imprescindível para a entrada no mundo da escrita. Um processo
complexo, difícil de ensinar e difícil de aprender, por isso é importante que seja considerado em sua especi�cidade.
Mas isso não quer dizer que os dois processos, alfabetização e letramento, sejam processos distintos; na verdade,
não se distinguem, deve-se alfabetizar letrando.
- De que forma?
- Se alfabetizar signi�ca orientar a criança para o domínio da tecnologia da escrita, letrar signi�ca levá-la ao
exercício das práticas sociais de leitura e de escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever;
uma criança letrada (tomando este adjetivo no campo semântico de letramento e de letrar, e não com o sentido
que tem tradicionalmente na língua, este dicionarizado) é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até
mesmo o prazer de leitura e de escrita de diferentes gêneros de textos, em diferentes suportes ou portadores, em
diferentes contextos e circunstâncias. Se a criança não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou �nge
estar lendo um livro, se não sabeescrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu para
alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de
leitura e de escrita. Alfabetizar letrando signi�ca orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a
conviver com práticas reais de leitura e de escrita: substituindo as tradicionais e arti�ciais cartilhas por livros, por
revistas, por jornais, en�m, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que
tornem necessárias e signi�cativas práticas de produção de textos.
O processo de letramento ocorre, então, mesmo entre crianças bem pequenas...
- Pode-se dizer que o processo começa bem antes de seu processo de alfabetização: a criança começa a “letrar-se”
a partir do momento em que nasce numa sociedade letrada. Rodeada de material escrito e de pessoas que usam a
leitura e a escrita – e isto tanto vale para a criança das camadas favorecidas como para a das camadas populares,
pois a escrita está presente no contexto de ambas -, as crianças, desde cedo, vão conhecendo e reconhecendo
práticas de leitura e de escrita. Nesse processo, vão também conhecendo e reconhecendo o sistema de escrita,
diferenciando-o de outros sistemas grá�cos (de sistemas icônicos, por exemplo), descobrindo o sistema alfabético,
o sistema ortográ�co. Quando chega à escola, cabe à educação formal orientar metodicamente esses processos, e,
nesse sentido, a Educação Infantil é apenas o momento inicial dessa orientação.
O processo de letramento ocorre durante toda a vida escolar?
- A alfabetização, no sentido que atribuí a essa palavra, é que se concentra nos primeiros anos de escolaridade.
Concentra-se aí, mas não ocorre só aí: por toda a vida escolar os alunos estão avançando em seu domínio do
sistema ortográ�co. Aliás, um adulto escolarizado, quando vai ao dicionário, resolver dúvida sobre a escrita de uma
palavra está retomando seu processo de alfabetização. Mas esses procedimentos de alfabetização tardia são
esporádicos e eventuais, ao contrário do letramento, que é um processo que se estende por todos os anos de
escolaridade e, mais que isso, por toda a vida. Eu diria mesmo que o processo de escolarização é,
fundamentalmente, um processo de letramento.
Em qualquer disciplina?
- Em todas as áreas de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de práticas de leitura e
de escrita: em História, em Geogra�a, em Ciências, mesmo na Matemática, en�m, em todas as disciplinas, os alunos
aprendem lendo e escrevendo. É um engano pensar que o processo de letramento é um problema apenas do
professor de Português: letrar é função e obrigação de todos os professores. Mesmo porque em cada área de
conhecimento a escrita tem peculiaridades, que os professores que nela atuam é que conhecem e dominam. A
quantidade de informações, conceitos, princípios, em cada área de conhecimento, no mundo atual, e a velocidade
com que essas informações, conceitos, princípios são ampliados, reformulados, substituídos, faz com que o estudo
e a aprendizagem devam ser, fundamentalmente, a identi�cação de ferramentas de busca de informação e de
habilidades de usá-las, através de leitura, interpretação, relacionamento de conhecimentos. E isso é letramento,
atribuição, portanto, de todos os professores, de toda a escola.
Mas seria maior a responsabilidade do professor de Português?
É claro que o professor de Português tem uma responsabilidade bem mais especí�ca com relação ao letramento:
enquanto este é um “instrumento” de aprendizagem para os professores das outras áreas, para o professor de
Português ele é o próprio objeto de aprendizagem, o conteúdo mesmo de seu ensino.
O que essa ênfase nos textos do dia-a-dia tem de positivo e o que teria de negativo?
- Muitos pais reclamam do fato de, hoje, os grandes textos de literatura, nos livros didáticos, darem lugar a letras
de música, rótulos de produtos, bulas  de remédio.
- É verdade que o conceito de letramento, bem como a nova concepção de alfabetização que decorre dele e
também das teorias do construtivismo que chegaram ao campo da educação e do ensino nos anos 80, trouxeram
um certo exagero na utilização de diferentes gêneros e diferentes portadores de texto na sala de aula. É realmente
lamentável que os textos literários, até pouco tempo atrás exclusivos nas aulas de Português, tenham perdido
espaço. É preciso não esquecer que, exatamente porque a literatura tem, lamentavelmente, no contexto brasileiro,
pouca presença na vida cotidiana dos alunos, cabe à escola dar a eles a oportunidade de conhecê-la e dela usufruir.
Por outro lado, tem talvez faltado critério na seleção dos gêneros. Por exemplo: parece-me equivocado o trabalho
com letras de música, que perdem grande parte de seu signi�cado e valor se desvinculadas da melodia: é difícil
apreciar plenamente uma canção de Chico Buarque ou de Caetano Veloso lendo a letra da canção como se fosse
um poema, desligada ela da música que é quem lhe dá o verdadeiro sentido e a plena expressividade. Parece óbvio
que devem ser priorizados, para as atividades de leitura, os gêneros que mais freqüentemente ou mais
necessariamente são lidos, nas práticas sociais, e, para as atividades de produção de texto, os gêneros mais
freqüentes ou mais necessários nas práticas sociais de escrita. Estes não coincidem inteiramente com aqueles, já
que há gêneros que as pessoas lêem, mas nunca ou raramente escrevem, e há gêneros que as pessoas não só
lêem, mas também escrevem. Por exemplo: rótulos de produtos são textos que devemos aprender a ler, mas
certamente não precisaremos aprender a escrever. Assim, a adoção de critérios bem fundamentados para
selecionar quais gêneros devem ser trabalhados em sala de aula, para a leitura e para a produção de textos, afastará
os aspectos negativos que uma invasão excessiva e indiscriminada de gêneros e portadores sem dúvida têm.
A condução do processo de letramento difere, no caso de se lidar com uma criança de classe
mais favorecida ou com uma de classe popular?
- Em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas
populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, umas e outras vivem
em ambientes de letramento. A diferença é que crianças das camadas favorecidas têm um convívio inegavelmente
mais freqüente e mais intenso com material escrito e com práticas de leitura e de escrita do que as crianças das
camadas populares, e, o que é mais importante, essas crianças, porque inseridas na cultura dominante, convivem
Fonte: Jornal do Brasil (2000).
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com o material escrito e as práticas que a escola valoriza, usa e quer ver utilizados. Dois aspectos precisam, então,
ser considerados: de um lado, a escola deve aprender a valorizar também o material escrito e as práticas de leitura e
de escrita com que as crianças das camadas populares convivem; de outro lado, a escola deve dar oportunidade a
essas crianças de ter acesso ao material escrito e às práticas da cultura dominante. Da mesma forma, a escola que
serve às camadas dominantes deve dar oportunidade às crianças dessas camadas de conhecer e usufruir da
cultura popular, tendo acesso ao material escrito e às práticas dessa cultura.
Como deve ser a preparação do professor para que ele “letre”? Em que esse preparo difere
daquele que o professor recebe hoje?
- Entendendo a função do professor, de qualquer nível de escolaridade, da Educação Infantil à educação pós-
graduada, como uma função de letramento dos alunos em sua área especí�ca, o professor precisa, em primeiro
lugar, ser ele mesmo letrado na sua área de conhecimento: precisa dominar a produção escrita de sua área, as
ferramentas de busca de informação em sua área, e ser um bom leitor e um bom produtor de textos na sua área.
Isso se refere mais particularmente à formação que o professor deve ter no conteúdo da área de conhecimento queelegeu. Mas é preciso, para completar uma formação que o torne capaz de letrar seus alunos, que conheça o
processo de letramento, que reconheça as características e peculiaridades dos gêneros de escrita próprios de sua
área de conhecimento. Penso que os cursos de formação de professores, em qualquer área de conhecimento,
deveriam centrar seus esforços na formação de bons leitores e bons produtores de texto naquela área, e na
formação de indivíduos capazes de formar bons leitores e bons produtores de textos naquela área.
https://grupoautentica.com.br/autentica/livros/letramento-um-tema-em-tres-generos/190
https://www.saraiva.com.br/estrategias-de-leitura-420523/p
Livro
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Filme
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https://www.saraiva.com.br/alfabetizando-sem-o-ba-be-bi-bo-bu-419762/p
https://www.youtube.com/watch?v=OkTyMGWkDuk
Unidade 2
Função social da
alfabetização: do desenho à
escrita
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Introdução
Querido(a) aluno(a), vamos estudar nesta unidade um assunto que certamente irá
contribuir à sua prática pro�ssional, mais diretamente na Educação Infantil – o
desenho!
Veremos juntos a importância do desenho para as crianças que ainda não dominam
a escrita e a maneira adequada do professor conduzir seu trabalho a �m de que o
aprendizado e o desenvolvimento ocorram de maneira prazerosa, sem julgamentos
que possam tolher a criatividade e a vontade de desenhar por parte das crianças.
O desenho tem grande importância nessa fase, pois é o início do processo da escrita.
É o momento em que a criança cria, deposita no papel toda sua vontade e
conhecimento. É um momento mágico! Por meio de seus desenhos ela revela suas
emoções, seu desenvolvimento intelectual, físico, social, perceptual, criador e
estético.
Os professores precisam entender esses desenhos desenvolvidos e de que maneira
eles irão contribuir para a construção sistematizada da aprendizagem na criança.
Bons estudos!
As fases do
desenvolvimento infantil
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Uma das primeiras formas de representar o mundo a sua volta, utilizado pelas
crianças, é o desenho. Elas demonstram por meio dos desenhos seu modo de pensar
e as habilidades que cada uma possui, além de expressar seus sentimentos,
frustrações e medos. Lowenfeld e Brittain (1970) classi�cam a evolução do desenho
em três fases:
Garatujas: entre 2, 3 e 4 anos, aproximadamente.
Pré-esquemática: entre 3 e 6 anos, aproximadamente.
Fase Esquemática: entre 7 a 9 anos, aproximadamente.
Por meio da  interação com o meio,  a criança dá início a sua aprendizagem. Os seus
primeiros anos de vida são fundamentais, pois é aí que ela estabelece padrões de
aprendizagens que irão re�etir por toda vida, desenvolvendo já nessa etapa várias
habilidades que serão aperfeiçoadas ao longo da vida. A linguagem inicia-se bem
cedo, mas o registro permanente de suas ações iniciam-se com as garatujas. Eles
podem acontecer na terra, na areia, nas paredes, ou no papel, e podem ser utilizados
pedaços de tijolos, giz ou carvão na ausência do lápis ou caneta.
Garatujas (entre 2, 3 e 4 anos,
aproximadamente)
Nessa fase, os desenhos estão caracterizados por representações grá�cas muito
primitivas, chamadas de garatujas; é quando a criança percebe que deixou marca por
meio do movimento de sua mão. As garatujas possuem três categorias.
Garatujas desordenadas: são rabiscos aleatórios, a criança não percebe que pode
representar algo por meio deles.
GARATUJAS PRÉ-ESQUEMÁTICA FASE ESQUEMÁTICA
Garatujas desordenadas:
Figura 1 - Exemplo de garatuja desordenada
Fonte: Projecto Brincar e Aprender (2015).
Garatujas controladas: inicia-se quando a criança estabelece relação entre gesto e
traço. Aqui ela consegue �car por mais tempo e repetir movimentos de vai e vem. Ela
descobre que pode variar cores e adquire maior controle sobre o tamanho, forma e
localização no espaço em que está desenhando, no entanto, tudo ainda é muito
abstrato.
Garatujas controladas:
Figura 2 - Exemplo de garatuja controlada
Fonte: Ribeiro (2006).
Garatujas com atribuições de nomes: por volta dos 3 anos e meio, compreende-se
que até atingir esse estágio, a criança estava bem contente com seus movimentos ao
manusear lápis e papel, porém agora ela transferiu o pensamento cinestésico e o
motor para o pensamento imaginário.
Garatujas com atribuições de nomes:
De acordo com Aroeira (1996), o atribuir nomes às garatujas é caracterizado ao pedir a
um adulto que fale sobre o que desenhou. Nesse estágio é comum explicar o que vai
ou já desenhou. Por isso é importante que os rabiscos e traços tenham  um signi�cado
real para a criança que os desenha. Sua vontade de imitar o adulto agora é mais
evidente, também de comunicar-se com alguém.
Pré-esquemática (entre 3 e 6 anos)
Nesta fase os desenhos começam a surgir com bolinhas fechadas e são organizados
seguindo preceitos topográ�cos, como “em cima/embaixo”, “fora/dentro”. Ela cria
signi�cado se relacionando com o mundo a sua volta e, assim, os desenhos começam
a �car mais “concretos”. Conforme Aroeira (1996, p. 55),
O primeiro símbolo produzido pela criança em geral é a �gura de uma
pessoa – o boneco – uma representação constante nos desenhos da
primeira infância. A �gura humana típica desse estágio é um círculo
indicando a cabeça e duas linhas verticais indicando as pernas.
Pelo desenho, a criança estabelece vínculos com a realidade e, por isso, é importante
valorizar sua capacidade criadora. Reconhecer que o desenho possui signi�cados é de
fundamental importância para o professor.
Figura 3 - Exemplo de Garatuja com atribuições de nomes
Fonte: Educar com novo olhar (2015).
Para Lowenfeld e Brittain (1970), a fase pré-esquemática apresenta algumas
características:
É por meio do desenho que a criança estabelece vínculo com a realidade e é por isso
que o professor valoriza a capacidade criadora da criança, reconhecendo que o
desenho dela está cheio de signi�cado, ainda mais nessa fase em que é possível
entender as intenções que possuem ao desenhar.
Figura 4 -  Exemplo de Fase pré-esquemática
Fonte: Souza (2010, p. 23, apud BOMBONATO; FARAGO, 2016).
Ao desenhar, a criança retrata o que sabe dos objetos desenhados.
Há a descoberta e conquista de novas formas.
Não estabelece vínculo entre o tema e os objetos desenhados.
Não existe relação espacial entre os objetos desenhados.
Surge a representação da �gura humana.
Manifesta a vontade de escrever fazendo tentativas de escrita.
Os símbolos começam a ser construídos.
Fase Esquemática (entre 7 a 9 anos)
A ordem de�nida das relações espaciais é a maior descoberta feita pela criança nessa
fase. O desenho é considerado símbolo de um objeto real, tem intenções e permite a
elaboração de projetos individuais ou coletivos.
Nessa fase, todos os elementos de uma linha de base pode representar o chão, a
grama, isto é, onde a criança se situa. Ela organiza o desenho no espaço da folha e
tudo o que é relacionado ao céu está em cima e tudo o que é relacionado a terra está
embaixo.
A evolução do desenho é vista na �gura humana, que, a partir de agora, deixa de ser
caracterizada como palitos ou girinos, passando a ser mais elaborada.
Figura 5 - Exemplo de fase esquemática
Fonte: Didáctica de la educación por el arte (2010).
NA PRÁTICA
Você conhece alguma criança de até 9 anos de idade? Pois bem, a tarefa
aqui proposta é para que exercite seus conhecimentos e peça para que
essa criança desenvolva um desenho que contenha a �gura humana.
Entregue a ela uma folha de sul�te e peça para que elabore esse
desenho. Uma vez que a criança tenha concluído o desenho, questione-a
sobre o que desenhou e escreva. Feito isso, analise o desenho da criança a
�m de veri�car em qual fase ela se encontra!
Agora, reflita: quais estratégias posso aplicar, enquanto educador, para
que essa criança progrida em sua forma de desenhar?
Fonte: as autoras.
SAIBA MAIS
Este texto é para você re�etir a respeito da nossa tarefa como educadores.
Precisamos despertar em nossos alunos a criatividade por meio dodesenho e não matá-la mediante imposições e padrões pré-
estabelecidos.
“A infância tem as suas próprias maneiras de ver, pensar e sentir; não há
nada mais insensato que pretender substituí-las pelas nossas” (Rousseau).
UMA FLOR VERMELHA COM CAULE VERDE
“Era uma vez um menino bem pequenino que foi para a escola pela
primeira vez. A escola era bem grande e isso o deixava um pouco
inseguro. Uma manhã a sua professora disse: - Hoje vamos fazer um
desenho. O menino gostava muito de desenhar e podia fazer todo o tipo
de desenhos, leões, tigres, galinhas e vacas, comboios e barcos. Pegou
então na sua caixa de lápis e começou a desenhar. Mas a professora disse:
- Esperem! Não comecem ainda. E o menino esperou até que todos
estivessem preparados. - Agora, disse a professora, vamos desenhar �ores.
Que bom, pensou o menino, pois gostava muito de desenhar �ores, com
o lápis vermelho, laranja e azul. Mas a professora disse: - Esperem. Vou
mostrar-vos como se faz, e desenhou uma �or no quadro. Era uma �or
vermelha com caule verde. - Agora sim, disse a professora, podem
começar. O menino olhou para a �or da professora e para a sua. Para ele a
sua era mais bonita do que a da professora. No entanto não disse nada,
simplesmente guardou o seu papel e fez uma �or como a da professora:
vermelha com caule verde. No outro dia a professora disse: - Hoje vamos
trabalhar com plasticina. Que bom, pensou o menino, pois podia fazer
todo o tipo de coisas com a plasticina: serpentes, bonecos de neve,
elefantes, carros e caminhões. Começou a apertar e a amassar a bola de
plasticina. Mas a professora disse: - Esperem não está na hora de
começar! E ele esperou até que todos estivessem preparados. – Agora,
disse a professora, vamos fazer serpentes. Que bom pensou o menino,
pois gostava muito de fazer serpentes e começou a fazer serpentes de
diferentes tamanhos e formas. Mas a professora disse: - Esperem, vou
mostrar-vos como se faz uma serpente bem larga. Agora podem
começar. O menino olhou para a serpente da professora e para a sua e ele
gostava mais da sua, no entanto não disse nada, simplesmente amassou
a plasticina numa grande bola, e fez uma grande serpente como a da
professora. Assim o menino aprendeu a esperar, a observar e a fazer as
coisas como a sua professora. Sucedeu que o menino e a sua família
tiveram que se mudar para outra cidade, e o menino teve que frequentar
outra escola. Essa escola era muito maior que a primeira. Justamente no
primeiro dia em que foi à escola a professora disse: - Hoje vamos fazer um
desenho. Que bom, pensou o menino, e esperou que a professora desse
as instruções. Mas ela não disse nada, apenas circulava pela sala. Quando
se aproximou do menino disse: - Então não queres desenhar? - Sim, disse
o menino, – mas o que vamos fazer? – Não sei, disse a professora, basta
que faças um desenho. - E como o farei? Perguntou o menino. - Da
maneira que quiseres, disse a professora. - De qualquer cor? Perguntou
ele. - De qualquer cor, disse a professora, se todos usassem as mesmas
cores e �zessem os mesmos desenhos não teria muito interesse. - Eu não
sei, disse o menino, e começou a fazer uma flor vermelha de caule verde”
Fonte: Barckley (2010, p. 1 e 2 ).
O desenvolvimento da
criança por meio do
desenho
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Ao desenhar, a criança pode apresentar diversas características pessoais, transmitir
sentimentos e emoções. Não somente por isso, é possível perceber que há
possibilidades de buscar desenvolvê-la em aspectos diversos por meio do desenho,
ao promover estímulos capazes de aperfeiçoar habilidades.
Desenvolvimento Emocional
Sabe-se que, por meio da arte, a criança demonstra seus sentimentos e aqui o
desenho está relacionado à intensidade com que a criança se identi�ca com sua
obra. Por exemplo, se a criança está insegura ela procura refúgio em uma
representação padronizada, há carência de signi�cado e fuga da realidade.
Nesse caso, é papel do professor proporcionar atividades dirigidas, atividades
variadas, com o objetivo de transmitir segurança emocional à criança que irá
desenvolver várias habilidades na realização dos trabalhos.
Desenvolvimento Intelectual
A compreensão que a criança tem de si própria e também do seu meio pode ser
compreendida pelo desenvolvimento intelectual que a criança manifesta mediante
o desenho. No entanto, não podemos avaliar uma criança apenas por um de seus
desenhos.
Veja o que dizem Lowenfeld e Brittain (1970, p. 41):
@toystoryss em freepik
Crianças da mesma faixa etária
desenham o mesmo objeto de
formas diferentes, com mais ou
menos detalhes . Essas contradições
podem signi�car maior ou menor
capacidade intelectual ou também
pode ser in�uência do meio ou
fatores emocionais e afetivos. É
preciso que haja um equilíbrio entre
o desenvolvimento social e
intelectual. 
nosso atual sistema educacional possui o defeito de enfatizar,
excessivamente, o desenvolvimento intelectual. A aquisição do saber
continua sendo a �nalidade da educação. Pode ser muito mais
importante, para a criança, adquirir liberdade de expressão do que
reunir informações factuais. O conhecimento não usado carece de
signi�cação até que a criança adquira o anseio e a liberdade de usá-lo.
Desenvolvimento Físico
O desenvolvimento físico de uma criança, por meio do desenho, se manifesta pela
sua capacidade de coordenação visual e motora, o que irá proporcionar maiores
habilidades motoras.
O fato de uma criança exceder em contínuo ou em omissão determinadas partes do
corpo pode estar diretamente ligada às preocupações que ela tem em relação ao
seu próprio corpo.
Desenvolvimento Perceptual
Mediante a conscientização evolutiva e no uso da frequência de uma variedade de
experiências perceptuais vemos o desenvolvimento perceptual da criança. Na
observação visual surgem cores, espaços, texturas e sensações sinestésicas.
Na percepção auditiva, a criança pode ouvir e retratar no papel alguns sons. Já a
percepção espacial é desenvolvida em maior escala a medida que a criança vai
crescendo e passa a perceber o que não percebia antes.
É papel do educador estimular a criança a perceber todas as sensações, sejam,
auditivas, visuais ou palpáveis.
Desenvolvimento Social
Normalmente, os desenhos das crianças são representações com as quais a
consciência social está presente. São situações em que a criança identi�ca-se, como
momentos na escola, passeio que gostou, brincadeiras realizadas com amigos etc.
Nesse momento, é de suma importância fazer a criança compreender e assumir
responsabilidades pelo que ela realiza. Proporcionar nossos desa�os nas atividades
artísticas que desenvolve trará melhor desenvolvimento ao aspecto social da
criança.
Desenvolvimento Estético
Nos trabalhos que as crianças realizam, o desenvolvimento estético manifesta-se
pela capacidade sensitiva de integrar a experiência em um todo. É por isso que em
um trabalho criador não existe regra �xa ou um padrão a ser seguido. A estética está
ligada à personalidade!
Pintores são reconhecidos pela sua organização, qualidades de cores e formas. A
falta dessa organização pode respaldar a falta de integração psíquica do indivíduo. A
meditação do professor traz um crescente desenvolvimento estético.
Desenvolvimento Criador
O desenvolvimento criador inicia-se muito cedo. De acordo com Lowenfeld e
Brittain (1970), a reação da criança com as experiências sensoriais é o marco desse
estágio, traduzindo na capacidade de estabelecer contato com o mundo.
A criança necessita ter liberdade emocional para explorar, experimentar e envolver-
se com o que está pensando em criar, caso se sinta inibida, seus desenhos serão
limitados.
Investigando sobre o desenho representado pela criança, Aroeira (1996, p. 53), relata
que
A arte não começa com o primeiro rabisco que a criança faz. Na
realidade, tem início mais cedo, quando a criança reage às experiências
sensoriais estabelecendo o contato com o mundo. Essa é de fato a base
essencial para a produção de formas artísticas.
As dimensões da criação, da crítica, da fruição,da estesia, da expressão e da re�exão
devem ser trabalhadas e postas para as crianças, assim, elas terão sempre a
oportunidade e a autonomia de expressar-se por meio do desenho, como forma de
comunicação e linguagem.
Caro(a) acadêmico(a), apresentamos agora uma citação muito importante sobre o
ato de desenhar. Ela foi escrita por Vygotsky (2007, p. 135) e relata:
Ao estudar o desenho e a criança, �ca evidente a importância que o desenho e os
estímulos adequados para ele exercem ao desenvolvimento em diversos aspectos e
habilidades nessa etapa de aprendizagem. Tal fato o torna essencial para as fases
futuras de aprendizagem.
Inicialmente a criança desenha de memória. Se pedirmos para ela
desenhar sua mãe, que está sentada diante dela, ou algum outro objeto
que esteja perto dela, a criança desenhará sem sequer olhar para o
original; ou seja, as crianças não desenham o que veem, mas sim o que
conhecem. Com muita frequência, os desenhos infantis não só têm
nada a ver com a percepção real do objeto como, muitas vezes,
contradizem essa percepção.
Nós também observamos o que Buhler chama de “desenhos de raio X”.
Uma criança pode desenhar uma criança vestida e, ao mesmo tempo,
desenhar suas pernas, sua barriga, a carteira no bolso, e até mesmo o
dinheiro dentro da carteira – ou seja, as coisas que ela sabe que existem,
mas que, de fato, no caso, não podem ser vistas. Ao desenhar uma
�gura de per�l, a criança incluirá um segundo olho; ao desenhar um
homem montado a cavalo, visto de lado, incluirá a outra perna.
Finalmente, partes extremamente importantes dos objetos podem ser
omitidas; por exemplo, as crianças podem desenhar pernas que saiam
diretamente da cabeça, omitindo o pescoço ao tronco ou, ainda, podem
combinar partes distintas de uma �gura.
Uma das primeiras formas de representar a escrita é o desenho. Desde os primórdios 
da história da humanidade, o desenho é compreendido como uma forma de 
comunicação importante.
Observamos que a criança/o sujeito passa por fases em seu processo de criação e 
externalização do mundo. Nessas fases de�nidas como garatuja, pré-esquemática e 
esquemática, a criança/o sujeito vai adequando a produção, a comunicação, a 
expressão com o espaço a sua disposição, ali coloca todo o seu ser.
O desenvolvimento maturacional em perspectivas do desenho demonstra o grau de 
desenvolvimento da criança. Ao desenhar, ao colocar no papel, na parede, na areia as 
suas sensações, ela está conectada com o seu eu interior, promovendo o avanço 
emocional, o intelectual, o físico, o perceptual, o social, o estético e o criador. É um 
processo que deve ser levado em consideração pelo professor.
Assim, por meio do desenho a criança/o sujeito aprende e desenvolve todas as suas 
potencialidades e possibilidades, insere-se no mundo a sua volta.
Conclusão - Unidade 2
Para complementar os estudos sobre as fases de desenvolvimento das
crianças por meio do desenho, sugerimos a leitura do texto A
contribuição do desenho no desenvolvimento da criança na educação
infantil: uma análise teórica.
ACESSAR
Livro
Acesse o link
https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/23964_11765.pdf
https://grupoautentica.com.br/autentica/livros/aprender-com-a-crianca/1581
Filme
Acesse o link
https://www.youtube.com/watch?v=AFx4ViEFjF8
Unidade 3
O processo de ensino e
aprendizagem da leitura e
da escrita
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Introdução
Uma das grandes atribuições da instituição escolar é promover o desenvolvimento
cognitivo dos sujeitos e cuidar e educar nos aspectos físico, social e psicológico.
Esses aspectos devem ser contemplados dentro dos Projetos Políticos Pedagógicos
de todas as instituições de ensino.
No início do processo de escolarização, a primeira preocupação é com o
desenvolvimento das competências de alfabetização e letramento. O sujeito precisa
aprender a contemplar e dar signi�cados ao mundo a sua volta.
Fazendo uso de todas as possibilidades visuais, auditivas, de tato, de observação, de
experimentação e de mediações, o sujeito vai tornando-se intelectualizado
conforme aprende e se desenvolve.
Nesse processo, o modo como a alfabetização e o letramento serão desencadeados
é fundamental, assim, conhecer, estudar e analisar o melhor método de
alfabetização deve ser sempre prioridade. Porém o método sozinho não tem
condições de efetivar-se, cabendo, assim, ao professor, a função primordial nesse
processo.
Escolher o melhor método, alfabetizar e letrar o sujeito e contemplar a efetiva
formação do professor alfabetizador serão nossos temas de discussão nesta unidade
de estudo. Desejamos que consiga compreender esse processo de maneira
signi�cativa.
Bons estudos!
Os métodos de
alfabetização
AUTORIA
Gilmara Belmiro da Silva
Sabemos que fatos históricos a�rmam que a escrita surgiu da necessidade concreta
do homem primitivo contar e registrar a quantidade de animais de seu rebanho.
Na Antiguidade, era tido como alfabetizado quem sabia decifrar e reproduzir os
símbolos das contagens. As pessoas aprendiam a ler e a escrever lendo algo escrito
por alguém e, em seguida, realizando inúmeras cópias. Dominadas tais habilidades,
os alunos começaram a copiar textos famosos, então, surgiram os escribas, que
escreviam com detalhes a cultura da sociedade da época.
Muitos aprendiam a ler fora da escola, pois não tinham interesse de se tornarem
escribas. Faziam uso da leitura apenas nas situações diárias, assim, a escrita surgiu
como consequência da leitura.
Por causa do sistema de escrita dos semitas, houve signi�cativa redução dos
símbolos da escrita cuneiforme de 60 elementos para 21 consoantes. Para aprender
a ler e escrever nesse sistema, bastava que a pessoa identi�casse a lista de
consoantes.
Os gregos realizaram uma adaptação das letras semíticas para sua língua, com uma
especi�cidade, além das consoantes, era necessário identi�car, na fala, as vogais
também. Os romanos contribuíram para a rati�cação do sistema de escrita à
medida que se apropriaram das características do alfabeto grego. Então, passaram a
ter como nome da letra apenas o próprio som dela.
Com o aumento de textos escritos a mão e impressos, surgiram novas demandas de
compreensão do sistema. O surgimento das letras minúsculas foi uma delas, pois as
letras capitais (maiúsculas) eram a única forma de escrita.
Em seguida, compreender que as letras tinham gra�a diferente. Ao longo do tempo
a sociedade foi compreendendo essa grandiosa necessidade da diferenciação da
escrita, bem como a signi�cação dessas diferenças, conforme os exemplos a seguir
na gra�a das palavras:
MELANCIA = melancia 
FRUTA = fruta
As mudanças que aconteceram no início do século XV e em meados do século XVI,
que acarretaram na transição do Feudalismo para Capitalismo e no surgimento do
Renascimento, levaram à difusão da leitura. Está prática coletiva passa a ser um
exercício individual, aumentando, assim, a preocupação com o processo de
alfabetização.
Agora, vamos conhecer e entender alguns métodos de alfabetização, tendo em
mente que método é a maneira de se fazer algo; caminho a ser seguido para atingir
determinado objetivo.
Existem muitas formas de alfabetizar e cada uma delas destaca um aspecto no
aprendizado. Todos, com certeza, contribuem de uma forma ou de outra para o
processo de alfabetização. A intenção aqui, não é a de apontar qual é o melhor
método, até porque não se tem um consenso sobre o tema.
Faremos uso do artigo publicado por Christianne Visvanathan, How Stuffworks –
Como funcionam os métodos de alfabetização, para caracterizar os principais
métodos existentes nessa área. 
Métodos Sintéticos ou Analíticos
Existem duas opções para o ensino da leitura: ou parte-se da parte para o todo, que
são os métodos sintéticos, ou parte-se do todo para as partes, os chamados métodos
analíticos. A partir desses métodos é possível delinear também como funcionam os
métodos de alfabetização.
Método Sintético
O método sintético estabelece uma correspondência entre o som e a gra�a, entre o
oral e o escrito, por meio

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