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governança e regulaçoes da internet no brasil e no mundo 4

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AULA 4 
Prof. Armando Kolbe Júnior 
GOVERNANÇA E 
REGULAÇÕES DA INTERNET 
NO BRASIL E NO MUNDO
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
1.1 Meios de regulação indireta 
 Nesta aula, iniciaremos abordando os assuntos de autorregulação (Tema 
1), o Direito do Ciberespaço (Tema 2), faremos uma analogia (Tema 3), 
trataremos de uma abordagem mista (Tema 4) e, ao final, falaremos da Lawrence 
Lessig (Direito, Normas Sociais, Mercado, Arquitetura) (Tema 5). 
TEMA 1 – AUTORREGULAÇÃO 
A Lei n. 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, conteúdo 
estudado anteriormente, é a Lei que regula o uso da internet no Brasil por meio 
da “previsão de princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa a rede, 
bem como da determinação de diretrizes para a atuação do Estado” (Brasil, 1988). 
De acordo com o dicionário Dicio (2019), autorregulação é a “ação ou efeito 
de se autorregular, regular a si mesmo sem intervenção externa: autorregulação 
do comportamento” (Dicio, 2019). 
Em nosso país, alguns serviços possuem competitividade restrita. É o caso 
da telefonia. Em nossa Constituição Federal, o inciso XI do art. 21 determina que 
compete à União: 
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou 
permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que 
disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão 
regulador e outros aspectos institucionais. (Brasil, 1988) 
A portaria Interministerial n. 147, em 31 de maio de 1995, cria o Comitê 
Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que tem os seguintes objetivos: 
I. acompanhar a disponibilização de serviços Internet no país; 
II. estabelecer recomendações relativas a: estratégia de implantação e 
interconexão de redes, análise e seleção de opções tecnológicas, e 
papéis funcionais de empresas, instituições de educação, pesquisa e 
desenvolvimento (IEPD); 
III. emitir parecer sobre a aplicabilidade de tarifa especial de 
telecomunicações nos circuitos por linha dedicada, solicitados por 
IEPDs qualificados; 
IV. recomendar padrões, procedimentos técnicos e operacionais e 
código de ética de uso, para todos os serviços Internet no Brasil; 
V. coordenar a atribuição de endereços IP (Internet Protocol) e o registro 
de nomes de domínios; 
VI. recomendar procedimentos operacionais de gerência de redes; 
VII. coletar, organizar e disseminar informações sobre o serviço Internet 
no Brasil; e 
VIII. deliberar sobre quaisquer questões a ele encaminhadas (Pires, 2014) 
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3 
A Anatel foi criada pela lei n. 9.472/1997, autarquia reguladora dos serviços 
de telefonia, cujo objetivo principal é celebrar contratos de concessão e fiscalizar 
a atividade da área (Otto, 2017). 
Prezar pelo interesse público na atividade é tarefa das agências 
reguladoras, assim como expedir normas que sejam de caráter regulamentar, 
exigindo o cumprimento obrigatório pelas empresas. 
De acordo com Otto (2017), essas agências, apesar de serem de interesse 
público, infelizmente têm se distanciado do consumidor, passando a proteger as 
empresas. No ano de 2017, a ANATEL estudou a hipótese de habilitar às 
empresas de telefonia a possibilidade de criar planos de banda larga com banda 
limitada de dados, como o que ocorria na mesma época com a internet móvel. Um 
dos argumentos era de que isso ocorria no mundo todo. 
Essa tentativa de limitar a utilização da banda larga com chancela da 
ANATEL é o que a doutrina costuma chamar de "Fenômeno da Captura". 
A Teoria da Captura ressalta que, em determinados casos, as agências 
reguladoras, que deveriam resguardar o interesse público, por pressão 
das empresas reguladas, acabam atendendo exclusivamente os 
interesses dessas, em uma verdadeira irregularidade na atividade 
regulatória. 
Tal desvio é passível de controle administrativo e jurisdicional. 
Afinal, se é para regular o mercado e restringir a competitividade, que o 
faça, ao menos, para o bem. (Otto, 2017) 
No ano de 2013, houve a tentativa de trazer uma maior organização à 
internet brasileira, com a operação de um novo órgão regulador. A Anarnet 
(Agência Nacional de Autorregulação da Internet) tinha como objetivo “unir as 
opiniões de empresas, organizações não governamentais, governantes e 
membros da população em geral para transformar a web nacional em um grande 
fórum de discussões” (Gugelmin, 2013). 
Entretanto, de acordo com Pires (2014), a Anarnet não tinha 
legitimidade para deliberar sobre Internet no Brasil. A criação de uma 
entidade que tenha o objetivo de ser um fórum de debate entre 
empresas, organizações não governamentais e sociedade civil precisa 
ser amplamente discutida com toda a sociedade. (Pires, 2014) 
Ocorre, então, uma discussão acirrada a respeito desses órgãos de 
autorregulação, ainda mais sobre um tema sensível como a internet, desde a 
definição de atividades até discussões políticas que definiam as criações dessas 
instituições. 
O que os fundadores da Anarnet propõem que sejam atividades da 
agência já estão entre as atribuições do CGI.br! Lembrando que, na composição 
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4 
CGI.br, estão representantes do governo, do setor empresarial, da comunidade 
científica e tecnológica. 
No dia 11 de março de 2020, foi veiculado no portal da TeleSíntese uma 
notícia sobre a autorregulação para melhorar a relação com consumidor, em que 
sete operadoras de telecomunicações, Algar Telecom, Claro, Oi, Sercomtel, Sky, 
TIM e Vivo, selavam compromisso, prevendo à época que em até quatro meses a 
publicação de um “código de conduta para cobrança, atendimento e ofertas de 
serviços de telecomunicações”. O Sistema é o “SART (Sistema de Autorregulação 
das Telecomunicações) que pretende apresentar em dois meses o Código de 
Conduta de Atendimento; em três meses, o Código de Conduta de Cobranças; e 
em quatro meses, o Código de Conduta de Ofertas” (Aquino, 2020). 
Algumas autoridades envolvidas no projeto afirmaram que: 
a autorregulação diminui os custos da assimetria da informação”, 
afirmou o presidente-executivo do SindiTelebrasil, Marcos Ferrari. 
Segundo José Alexandre Bicalho, diretor de Regulação e 
Autorregulação do sindicato, o principal objetivo dessa iniciativa é 
“melhorar as relações de consumo”. 
Para a superintendente de Relações com os Consumidores da Anatel, 
Elisa Leonel, a autorregulação poderá resolver o problema das relações 
entre os diferentes agentes. “Os serviços de telecomunicações serão 
sempre muito regulados, resta saber quem vai desenvolver esse papel. 
Hoje, há uma visão dos órgãos de controle de que a Anatel age de má-
fé;por sua vez a Anatel acha que as prestadoras agem de má-fé; e as 
prestadoras acham que os consumidores agem de má-fé”, sentenciou. 
Nesse documento estão previstos sete princípios que deverão ser 
seguidos pelas organizações que quiserem aderir ao SART. A posição de 
destaque é o consumidor: 
• Atuação segundo os ditames da ética, honestidade, moralidade e 
lealdade; 
• Obediência à legislação vigente e às normas e decisões expedidas 
no âmbito do SART; 
• Promoção e proteção à liberdade de iniciativa; 
• Respeito e promoção da livre concorrência no setor de 
telecomunicações; 
• Respeito e valorização dos direitos dos consumidores; 
• Comunicação correta, eficiente e transparente perante os 
consumidores, as demais Prestadoras Signatárias e perante as 
autoridades competentes; e 
• Melhoria contínua dos padrões de atendimento e qualidade dos 
serviços por elas ofertados. (Ventura, 2020) 
Para variar um pouco, essas iniciativas deverão contar com participação 
de um conselho independente, objetivando com que as demandas entre o 
consumidor, o setor público e o setor privado possam chegar a um bom termo. 
Vamos aguardar os acontecimentos... 
 
 
5 
Saiba mais 
 Antes de irmos o próximo tema, veja um pouco mais sobre o CGI.br no 
vídeo a seguir: 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F38J9R5wuqo>. 
Acesso em: 15abr. 2020. 
TEMA 2 – DIREITO DO CIBERESPAÇO 
Podemos definir como direito do ciberespaço, 
o conjunto de leis, regulamentações em geral e práticas contratuais de 
todos os tipos e níveis, que envolvam a utilização e funcionamento de 
redes de software e computadores. É também chamado ‘direito online’, 
debatido nos Estados Unidos desde 1985, com o objetivo de se 
estabelecerem regras para a comunicação, os negócios e o uso em geral 
das redes de computadores. (Cerqueira, 1999) 
E Direito Digital é 
um conjunto de normas jurídicas e tem como finalidade de regulamentar 
as relações dentro do ambiente digital, coibindo a prática de condutas 
lesivas. Com o desenvolvimento da tecnologia e da interação online, 
nasceu a necessidade de editar regras que regulamentem as relações, 
evitando assim práticas ilícitas. (Azevedo, 2020) 
Quando entramos nesses assuntos, alguns autores apresentam diversas 
considerações relacionadas a regulamentação e legislação do ciberespaço e 
problemas sobre seu entendimento, principalmente porque não é encarado como 
um lugar à parte, bem diferente do que se conhecia. 
Cerqueira (1999) afirma que diversas situações vêm à tona nessas 
discussões, principalmente se adotarmos a hipótese de ser um ambiente à parte, 
o que resulta, inclusive, em repensarmos o nosso conceito de fronteira entre 
países, já esse espaço independe de qualquer tipo de fronteira. Logicamente 
alguns países já criaram suas próprias leis a respeito dessa “fronteira” (Cerqueira, 
1999). 
As controvérsias também vão ao encontro de quem irá ter o poder de 
regulamentar e aplicar a lei? Devemos lembrar que distribuir poderes e vantagens 
é uma das prerrogativas de quem vier a regulamentar o funcionamento e utilização 
da internet. 
Existe muita discussão entre os países a respeito de estabelecer ou não a 
regulamentação do ciberespaço. Alguns definem o ciberespaço como um lugar à 
parte, enquanto outros defendem que não existe nada de novo no ciberespaço, 
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6 
sendo o “meio” a única diferença. A parte que sustenta a segunda corrente é 
formada por aqueles que acham que os conceitos e a legislação vigente, 
principalmente a de Direitos Autorais/Copyright, que exerce influência sobre o 
software, é capaz de resolver os problemas que existem e deveriam ser aplicados 
também ao espaço cibernético. 
Não podemos deixar de considerar que a comunicação por redes de 
computadores é composta por algumas características especiais, tornando-a, em 
alguns aspectos, diferente do que conhecemos até agora. Fato esse suficiente 
para chamar a atenção do Direito. 
Primeiro, as mensagens por computador que vem escritas, automáticas 
e ricamente registradas, representam fatos de valor econômico e 
expressam as vontades das pessoas, são sucessivamente copiadas ao 
longo do seu caminho e ocupam lugar, materialmente considerado, no 
espaço físico, qual seja o disco ou qualquer outro meio físico. São provas 
documentais mais fidedignas que escritos em folhas de papel e muito 
mais fidedignas que escritos em papéis transmitidos por fax. Além disso, 
redes de computadores já provaram ser um meio eficaz de transmissão 
de produtos, tais como filmes, publicações escritas e sonoras, imagens 
e, last but not least (por último, mas não menos importante), programas 
de computador. (Cerqueira, 1999) 
Azevedo (2020) afirma que ainda existem poucas normas que tratam 
exclusivamente sobre a regulamentação do direito digital: 
• Uma importante norma é a Lei n° 12.965/2014, o Marco Civil da 
Internet, que regula o uso da Internet no Brasil, trazendo previsão 
de garantias aos internautas e a responsabilidade civil de usuários 
e provedores. 
• A lei dos crimes cibernéticos, conhecida como a Lei Carolina 
Dieckmann, Lei 12.737/2012, tornou crime a prática de invadir 
dispositivos eletrônicos portáteis a fim de obter, adulterar ou destruir 
dados de terceiros. 
• Temos também a Lei nº 13.709/2018, nomeada como a Lei Geral 
de Proteção de Dados (LGPD), que regulamenta o acesso a dados 
pessoais para proteger os titulares e permitir que sejam utilizadas 
de forma ética e segura. 
• O decreto 9.854/19 instituiu o Plano Nacional de Internet das Coisas 
(Internet of Things – IoT), estabelecendo premissas relevantes para 
setor essencial do desenvolvimento tecnológico e da transformação 
digital, visando regular e estimular a tecnologia no país. 
• Internet das Coisas (IoT) é um conceito que se refere à interconexão 
digital de objetos cotidianos com a internet. Pela escassez de 
normas específicas, em muitos casos que envolvem o direito digital 
é necessário utilizar normas de outras áreas do direito, contudo este 
ramo vem ganhando muita relevância no universo jurídico, pois a 
era digital já é uma realidade. (Azevedo, 2020) 
O advento da internet transformou-se em meio comum, local onde ocorre o 
acesso a dados e informações, tornando-se, inclusive, em um ambiente altamente 
conveniente e habitual para que pessoas possam realizar suas pesquisas, discutir 
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7 
e trocar opiniões sobre qualquer assunto, mostrando-se como ferramenta eficaz 
para a realização de transações e negócios, em geral, para assumirem 
compromissos e direitos e, também, infelizmente, cometer atos ilícitos. 
Os profissionais e instituições que atuam nas esferas jurídicas necessitam 
manter-se atualizados e preparados, pois, nessa nova Era, ainda existem pessoas 
físicas e jurídicas que, desatentas, não lerão termos de uso e, consequentemente, 
serão lesadas por uma diversidade de golpes cibernéticos. Afinal, criminosos que 
acreditam na impunidade dos crimes praticados também não deixarão de existir, 
pensando que a internet é um mundo livre e podem passar desapercebidos. 
Saiba mais 
Para se inteirar mais sobre os crimes que ocorrem no ciberespaço, acesse: 
Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/ciberespaco-facilidade-
para-o-cometimento-de-crimes/>. Acesso em: 15 abr. 2020. 
TEMA 3 – ANALOGIA 
A partir da criação da internet, desenvolveram-se sistemas de informações 
com objetivos bem diferentes de uma Guerra Fria (que era o objetivo inicial) na 
busca de avanços tecnológicos, obtendo-se mais uma maneira de manter vivas 
as relações sociais que são favoráveis à economia ou a cultura e política. Utilizada 
pelo Estado em muitas ocasiões, auspiciando a extensão da sua soberania, 
advindo disso consequências sociais abrangentes em razão desse avanço 
tecnológico, influenciando de diversas maneiras o mundo do Direito. 
De acordo com Silva (2013), 
É concebível de forma clara, a síntese de que a evolução das formas de 
comunicação e informação são admitidas como forma de extensão do 
homem e modificação do meio, sendo praticamente inevitável o 
encantamento do homem enquanto ser social, pelas invenções, uma vez 
que o sistema ora criado manifesta nos meios de comunicação a sua 
própria extensão enquanto ser revestido de capacidade criativa. É o que 
define-se em filosofia como “o mito de Narcísio” (Silva, 2013) 
Tanto a globalização como a internacionalização, estão relacionadas em 
nossa era, direta e indiretamente, com o recorrente fenômeno do mundo virtual. 
Atualmente é necessário visualizar de modo mais concreto o que é “essa tal” de 
virtualização e, nesse bojo, entender a sua influência nas relações sociais e o seu 
processo de exteriorização. 
 
 
8 
Falando de crime virtual ou real, Silva (2013) destaca que uma das 
problemáticas dos delitos digitais “advém do bem jurídico ao qual o Direito Penal 
pretende forma resumida, é notória o entendimento que da mesma maneira pela 
qual são gerados danos aos bens jurídicos comuns, é necessário vislumbrar 
também bens jurídicos não convencionais”, quando ocorrer de o tema for delitos 
informáticos, observando seu caráter incomum concernente aos outros tipos de 
infrações já devidamente codificadas. Trata-se, como visto anteriormente, de bens 
jurídicosnovatos, ainda imprevisíveis, mas de roupagem nova e descendências 
semelhantes (Silva, 2013). 
Dando sequência ao assunto, existe a clara necessidade de prevenção e 
punição de crimes cibernéticos, em que deva existir proteção igual aos dos crimes 
já tutelados pelo direito. Principalmente porque são poucos os bens jurídicos 
tutelados com características cibernéticas como, por exemplo, as formas de 
armazenamento, a cessão e proteção de dados, já merecedores de atenção para 
que seja aplicada eventual penalidade. 
Contudo, há que se registrar, que dentre todos os bens jurídicos 
peculiares à informática a informação é compreendida como bem 
supraindividual deve ser protegida em prima facie, visto que as outras 
violações supramencionadas estão ligadas a informação ora violada”, 
como é o entender de Freitas Crespo1 (2011, p. 56-58) (citado por Silva, 
2013) 
Dentro do tema analogia, podemos citar os considerados crimes digitais 
impróprios, diferentes dos crimes digitais próprios2, que não são o foco de nossos 
estudos. 
Os delitos digitais impróprios, assim denominados, são a evolução por meio 
digital daqueles delitos já conhecidos na esfera jurídica. Os mais corriqueiros são 
crimes contra a honra: 
a) Ameaça; 
b) Participação em suicídio. Embora o suicídio não seja crime, a 
instigação ou auxílio são punidos. Vale lembrar, que o auxílio deve 
ter pessoa determinada e ser eficaz. Quanto ao meio virtual, este 
está intimamente ligado com a era do Cyberbullying, caracterizando 
como instigação a criação de comunidades em sites de 
relacionamento dirigidas especificamente a ofender uma pessoa 
determinada; 
c) Incitação e apologia ao crime; 
d) Falsa identidade e falsidade ideológica; 
e) Violação de direitos autorais (pirataria). Esse tipo de delito já é 
protegido por lei que versa sobre a propriedade intelectual; 
 
1 Crespo, Marcelo Xavier de Freitas. Crimes digitais. São Paulo: Saraiva, 2011. p.56-58. 
2 Acesso não autorizado; Obtenção e transferência ilegal de dados; Dano informático; Dos vírus 
e sua disseminação; Social engineering e Phishing. 
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9 
f) Pornografia infantil; 
g) Crimes contra a honra previstos nos arts. 138, 139 e 140 do Código 
Penal (calunia, difamação e injúria) 
Atualmente, tem-se verificado um grande avanço nos estudos científicos 
que envolvem o combate ao cibercrime. Podemos vislumbrar a implementação 
concreta no direito brasileiro. Torcemos para que esses estudos não fiquem 
ocupando prateleiras, no mundo das ideias, e possam, sim, ser colocados em 
prática da melhor maneira possível, respeitando os princípios constitucionais que 
regem o Estado Democrático Brasileiro. 
Saiba mais 
Acompanhe a comparação dos dois projetos de Lei para crimes virtuais: 
Dieckmann x Azeredo em: 
Disponível em <https://gizmodo.uol.com.br/projeto-leis-dieckmann-
azeredo/> Acesso em: 15 abr. 2020. 
TEMA 4 – ABORDAGEM MISTA 
Com todas as variáveis que surgem frente a esse novo momento, algumas 
lacunas devem ser preenchidas e algumas abordagens mistas podem ser a 
solução. Entre os novos questionamentos, discute-se a aplicação do Direito nas 
hipóteses de lacunas da lei com técnicas de integração. Frente a esse cenário, 
vejamos o que a Equipe SAJ ADV (2018) tem a falar sobre o papel do Direito: 
O Direito existe para regular as condutas humanas e, assim, estabelecer 
a paz social. Devido à diversidade de comportamentos e a própria 
dinâmica da sociedade, nem sempre as normas jurídicas se aplicam à 
todas as situações. Em casos onde o ordenamento jurídico não atende 
ao caso concreto, o operador está diante das chamadas lacunas da lei. 
Quando falamos de abordagem mista, estamos nos referindo a uma 
situação em que o sistema jurídico estará aliado à arquitetura da internet. Algumas 
correntes doutrinárias, contrárias a sua regulação, por muito tempo supunham que 
a internet não poderia ser adequadamente regulada. 
Existia uma ideia de que: 
os governos não iriam e não conseguiriam regular a Internet. O 
ciberespaço era, por natureza, inevitavelmente livre. Governos poderiam 
ameaçar, mas o comportamento no ciberespaço não poderia ser 
controlado. Leis seriam aprovadas, mas não teriam nenhum efeito. Não 
havia escolha sobre qual tipo de governo instalar – nenhum poderia 
reinar. (Leonardi, 2011, p.147) 
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10 
De acordo com Leonardi (2011), o posicionamento cético adotado seria 
superado aos poucos com o avançar do tempo, logo após o surgimento das 
primeiras normas jurídicas e inúmeras decisões judiciais que acabavam 
envolvendo internet. As discussões começaram a mudar seu rumo e, em vez de 
questionar se o Direito poderia ou não regulamentar a rede, começaram a discutir 
qual a melhor maneira de atender essa demanda. 
Isso porque, tal como identificado pela doutrina tradicional, os 
defensores da impossibilidade de regulação da Internet cometem três 
erros básicos: a) Exageram as diferenças existentes entre atos ocorridos 
no ciberespaço e outros atos transnacionais; b) não se atentam à 
distinção entre normas sociais, sem sanção, e normas de cumprimento 
obrigatório, impostas pelo Estado; e c) subestimam o potencial das 
ferramentas jurídicas tradicionais e da tecnologia para resolver os 
problemas multijurisdicionais causados pelo ciberespaço. (Leonardi, 
2011) 
Nesse contexto, Leonardi (2011), afirma que os atos ocasionados no 
ciberespaço não seriam diferentes dos atos transnacionais no mundo real, pois 
“envolvem pessoas em um determinado lugar, sob determinada jurisdição, 
comunicando-se com pessoas em outros lugares, sob outras jurisdições” 
(Leonardi, 2011). 
Sendo assim, não existiria argumento geral e normativo que apoiasse a 
imunização das atividades do ciberespaço da regulação territorial. Existiriam, sim, 
inúmeras razões para acreditar que nações poderiam exercer a autoridade 
territorial buscando alcançar controle regulatório substancial sobre as transações 
realizadas no ciberespaço. 
Percebeu-se, então, que a busca de soluções exclusivas no direito positivo, 
aguardando o surgimento de “soluções mirabolantes” na área legislativa para a 
internet, era uma fase ultrapassada e fadada a falhar. Sair em busca de resultados 
realmente concretos e defender de forma adequada os direitos da rede 
resultariam da correta compreensão, pelos juristas, de algumas peculiaridades da 
internet e de quais seriam as implicações para o Direito. Esse cenário abriu portas 
para uma nova corrente doutrinária, amparando a necessidade de uma 
abordagem mista, que pudesse regulamentar os conflitos derivados da rede, 
fazendo uso do sistema jurídico em conjunto com a arquitetura da internet. 
De acordo com Leonardi (2011), Joel Reidenberg formulou o conceito de 
uma lex informatica3, “definida como uma existente e complexa fonte de regras de 
 
3 Cf. Joel Reidenber, Lex informatica: the formulation of information policy rules through technology, 
in Texas Law Review, vol. 76, Number 3, February 1998, p. 584. 
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11 
políticas de informação em redes globais, que deveriam ser adotadas em 
complementação – jamais em substituição – às normas jurídicas tradicionais”. A 
ideia, baseada na lex mercatoria4, “refere-se às regras impostas aos usuários de 
uma rede, oriundas de sua capacidade e limitação tecnológicas e de escolhas a 
respeito de seu design”. O maior expoente dessa corrente é Lawrence Lessig, 
próximo tema de nossos estudos. 
Seguindo em frente com essas ideias, Yochai Benkler, citado por Silva 
(2011), explicitou a importância de realmente se compreender a questão de 
regulagem da internet, relacionando as três camadas que os sistemas de 
comunicação são construídos: física, lógica e de conteúdo, também 
demonstrando de que maneiras as redes de computador, a internet, mudaram o 
modo de se entender o mundo. 
No Brasil, Ronaldo Lemos5, citado por Leonardi (2011, p. 149), julga ser 
necessário entender“como a tecnologia se normatiza por meio do seu ‘código’”, 
usando as estruturas normativas criadas em sua arquitetura, alertando que 
de nada adianta o jurista debruçar-se sobre o problema da privacidade 
na internet se ele desconhece o significado normativo da criação de um 
protocolo como o P3P, que permite inserir, na própria infraestrutura das 
comunicações online, comandos normativos de filtragem que bloqueiam 
ou permitem a passagem de conteúdo, sendo autoexecutáveis e, muitas 
vezes, imperceptíveis para o usuário (Leonardi, 2011, p.149) 
A ideologia de uso do sistema jurídico para deliberar os destinos da 
tecnologia, imprimindo alterações na arquitetura de redes informáticas, que em 
sua origem foram estruturadas e projetadas sem quaisquer mecanismos de 
controle, tornou-se imensamente influente, porque representa o caminho mais 
efetivo para o apoio de direitos. No Brasil e no mundo, as decisões judiciais 
especificam a implementação de medidas técnicas destinadas às pessoas físicas 
e jurídicas, principalmente provedores de serviços de internet, buscando a 
resolução dos problemas jurídicos inerentes à rede. 
De encontro a relevância para a internet, analisaremos a seguir a teoria das 
modalidades de regulação, proposta por Lawrence Lessig. 
 
 
4 Sobre o conceito de Lex Mercatoria, cf., por todos, Berthold Goldman, Frontières du droit et lex 
mercatoria, in Archives de la Philosophie du Droit, Paris: Sirey, 1964, p. 177-192, “que a define 
como um “conjunto de princípios gerais e de regras costumeiras, aplicadas espontaneamente ou 
elaboradas para o comércio internacional, sem relação com o sistema jurídico de um país 
específico, representando um direito supranacional” (Leonardi, 2011). 
5 Cf. Ronaldo Lemos, Direito, tecnologia e cultura, Rio de Janeiro: FGV, 2005, p. 9 
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12 
Saiba mais 
Acesse o link para compreender como a tecnologia pode ajudar o governo 
a prestar melhores serviços, por Ronaldo Lemos. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=d73iO_smyo4>. 
Acesso em: 15 abr. 2020. 
 
TEMA 5 – LAWRENCE LESSIG (DIREITO, NORMAS SOCIAIS, MERCADO, 
ARQUITETURA) 
A expressão direito é empregada por Lawrence Lessig, conceituado 
professor de direito da Universidade de Harvard, na representação do 
ordenamento jurídico, ou seja, todo o “conjunto normativo estatal, embasado 
constitucionalmente, em suas mais diversas naturezas e categorias hierárquicas” 
(Leonardi, 2011). Para o autor, o direito inibe alguns comportamentos utilizando 
regras estabelecidas ex ante6 e ex post7. Habitualmente, saber da existência e ter 
certeza da punição já seria o suficiente para desmotivar o descumprimento da 
norma jurídica. 
Ainda de acordo com Lessig, se, ao compararmos com o sistema jurídico, 
as normas sociais inibem comportamentos de modo diferente: elas são 
entraves normativos que membros de uma mesma comunidade 
impõem-se mutuamente, cujo descumprimento acarreta sanções por 
vezes pequenas, mas com efeitos poderosos, sem que haja quaisquer 
ações organizadas ou centralizadas por parte do Estado. (Leonardi, 
2011, p.158) 
Lessig afirma ainda que as normas sociais ratificam condutas discordantes, 
ou seja, “desvios que tornam alguém socialmente anormal”. Nossa vida, 
principalmente em sociedade, dispõe de inúmeras normas sociais, mesmo que 
nem todas consideremos justas ou mesmo valiosas. Um exemplo é se ignorarmos 
a festa de aniversário ou casamento de um colega e não apresentarmos uma 
justificativa, podemos perder uma amizade, ou mesmo que compareçamos, mas 
em trajes inadequados, isso pode desvalorizar a pessoa. 
Se formos analisar esses atos, pode-se dizer que nenhum deles é ilegal, 
entretanto pode vir a causar punições sociais gravíssimas, como crítica, gozação, 
 
6 Com sanções impostas 
7 O indivíduo pode desrespeitá-las, mas arcará com as consequências jurídicas de sua 
desobediência, as quais serão impostas pelo Estado (Leonardi, 2011, p.158) 
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vergonha, preconceito, entre inúmeras outras. Para aquelas pessoas que são 
socialmente integradas, essas normas sociais estabelecem parcela significativa 
dos embaraços cobrados do seu comportamento. Da mesma forma que no Direito, 
essas normas sociais são eficientes, diferenciando unicamente seu mecanismo e 
sua fonte de sanção, por serem colocadas pela comunidade e não pelo Estado, e 
suas sanções e punições são impostas depois de ocorrida a violação. 
O mercado, onde ocorrem as relações econômicas que envolvem a compra 
e venda, sendo também o sistema principal de acesso aos bens econômicos, 
simboliza outra maneira de regulação, pois tende a inibir os comportamentos 
sociais usando o preço como artífice. Simplificando, para termos algum benefício, 
é necessário arcar com seu custo. Mesmo que consiga obter bens e serviços a 
crédito, fica contraída a obrigação, dependendo da situação econômico-financeira 
do consumidor. Assim sendo, os obstáculos colocados pelo mercado são 
simultâneos à ação, e não ex post. 
Emprega-se a palavra arquitetura de maneira ampla, objetivando algum 
jeito de representar o mundo como ele é, ou, em outras palavras, a maneira 
estruturada de como as coisas existem na natureza, como também a maneira 
como elas são projetadas e posteriormente construídas pelas pessoas. “A 
arquitetura é uma modalidade de regulação, na medida em que as características 
de determinadas coisas restringem comportamentos, ou forçam determinadas 
condutas” (Leonardi, 2011). 
Contrariamente as outras três modalidades, a regulação utilizando a 
arquitetura é autoexecutável, ou seja, não dependerá da cooperação de ninguém 
e nem de ações organizadas, muito menos de um mecanismo estatal, social ou 
de mercado para ser executada, inclusive não permitindo ao indivíduo desprezá-
la e sofrer futuras consequências. 
Leonardi (2011, p. 159), afirma que a ideia de regulação por meio da 
arquitetura é 
óbvia em alguns contextos: para evitar que carros trafeguem em alta 
velocidade nas proximidades de escolas, lombadas são construídas nas 
ruas que as circundam; obstáculos são colocados junto a escadas 
rolantes em aeroportos, para evitar que passageiros levem carrinhos de 
bagagem a certos locais; e filas são organizadas, por meio de barreiras 
físicas. Do ponto de vista da privacidade, essa constatação é ainda mais 
evidente (Leonardi, 2011, p.159) 
 
A influência da arquitetura urbana influi sobremaneira no grau de 
tranquilidade experimentada pelas pessoas, influenciando diretamente na decisão 
de morar em uma casa, em apartamento ou em um sobrado, decidir sobre morar 
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em bairros próximos ou em áreas afastadas, em metrópoles ou cidades pequenas, 
deixando de fora as limitações econômicas que venham a impedir essas escolhas. 
Saiba mais 
Assista o vídeo de “Lessig: é possível ter uma internet livre”, no link a seguir: 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_6YIH3f-nSc/>. Acesso em: 
15 abr. 2020. 
FINALIZANDO 
Na aula de hoje, vimos diversos conceitos oriundos da LGPD, alguns 
fundamentos da proteção de dados pessoais, mostrando a consonância com o 
que já consta na Constituição Federal. Os direitos, deveres e sanções aos agentes 
responsáveis pelo tratamento de dados também foi tema de nossas conversas. A 
importância de questões internacionais no que tange às comparações com a 
RGPD, bem como o papel da Administração Pública nesse cenário foram 
igualmente contemplados. 
 A LGPD, é alvo de inúmeras discussões. Era inicialmente prevista a sua 
vigência para agosto de 2020, tendo nova data sugerida para 2022 pelo Projeto 
de Lei 5762/19, da vigência da maior parte da Lei. 
 Na próxima aula, veremos alguns meios de regulação indireta. Até logo! 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm>. 
Acessoem: 31 mar 2020.

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