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APOSTILA NEUROCIENCIAS A EDUCACAO

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NEUROCIÊNCIAS A EDUCAÇÃO 
2 
 
 
 
Sumário 
1 O QUE É NEUROCIÊNCIA? ..................................................................................... 5 
2 A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO ................. 10 
2.1 Período Neolítico: ................................................................................................ 12 
2.2 Grécia: ................................................................................................................. 12 
2.3 Idade Média: ........................................................................................................ 13 
2.4 Raio X: ................................................................................................................. 13 
2.5 Tomografia Computadorizada: ............................................................................. 13 
2.6 Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons: ................................... 14 
2.7 Década do cérebro: .............................................................................................. 14 
2.8 Projeto Conectoma .............................................................................................. 14 
2.9 Paciente tem 75% de seu crânio substituído com impressão 3D em operação 
pioneira ................................................................................................................ 15 
3 TONS DE VERMELHO ............................................................................................ 16 
4 TONS DE VERDE .................................................................................................... 16 
5 TONS DE AZUL ...................................................................................................... 16 
6 CONHECIMENTOS ACERCA DO ASSUNTO ........................................................ 17 
6.1 Neuroplasticidade ................................................................................................ 17 
6.2 A química age sobre seu organismo .................................................................... 17 
7 Neurolinguística ..................................................................................................... 18 
8 Distribuição de funções ........................................................................................ 18 
9 Consciência ............................................................................................................ 18 
10 Memória ............................................................................................................ 18 
11 Plasticidade ...................................................................................................... 18 
12 Ressonância ..................................................................................................... 18 
13 Dor fantasma .................................................................................................... 20 
13.1 O que é sinestesia? ........................................................................................ 22 
13.2 Aprendizagem Automática .............................................................................. 24 
13.3 Pigenética ....................................................................................................... 26 
13.4 Mas o que é um fenótipo herdável? ................................................................ 27 
13.5 Epigenética pode ser a chave para muitas doenças humanas ....................... 28 
3 
 
13.6 Neurobiologia do cérebro................................................................................ 29 
13.7 Altas habilidades e Biologia do Cérebro ......................................................... 30 
13.8 Características comuns de pensadores com altas habilidades (AH) .............. 31 
14 EVOLUÇÃO DO CÉREBRO E ALTAS HABILIDADES .................................... 31 
5.1 O cérebro triádico ............................................................................................ 31 
14.1 O cérebro reptiliano ........................................................................................ 32 
14.2 O cérebro “felino” ............................................................................................ 33 
14.3 O neocortex .................................................................................................... 33 
14.4 Evolução e psique .......................................................................................... 34 
14.5 Evolução da mente ......................................................................................... 35 
14.6 Eficiência na codificação de informação de entrada ....................................... 36 
14.7 Neuroplasticidade e “talentosidade” ................................................................ 37 
14.8 Crianças com altas habilidades e talentosas e a Neurocognição ................... 38 
5.2 Perguntas motivadoras de pesquisa em altas habilidades .......................... 39 
15 PROPOSTA PARA CURRÍCULO PARA CRIANÇAS COM ALTAS 
HABILIDADES ........................................................................................................ 40 
15.1 Neurociências e Educação ............................................................................. 41 
15.2 Neurociências, altas habilidades: implicações no currículo ............................ 43 
16 A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO ................................ 44 
16.1 Relação entre memória e aprendizagem ........................................................ 48 
16.2 Sistema Nervoso Autônomo e Aprendizagem ................................................ 48 
16.3 Qual a relação desses sistemas em relação à aprendizagem? ...................... 49 
16.4 Contribuições da Neurociência para a Formação de Professores .................. 50 
17 FUNÇÃO E AS FINALIDADES DA NEUROCIÊNCIAS .................................... 51 
17.1 Um novo olhar educacional ............................................................................ 55 
18 HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA ................................................ 56 
19 A APRENDIZAGEM COM O OLHAR DA NEUROCIÊNCIA ............................. 59 
20 A neurociência sob novos olhares ................................................................. 62 
21 INTERVENÇÕES NEUROEDUCACIONAIS ..................................................... 63 
22 A NEUROEDUCAÇÃO E SUAS TRANSFORMAÇÕES ................................... 69 
4 
 
22.1 Neurociência, formação de professores e práticas pedagógicas .................... 73 
22.2 Vias neurais e aprendizagem ......................................................................... 78 
22.3 Abordagens da Neuroeducação ..................................................................... 80 
22.4 Neurociência dos seis primeiros anos-implicações educacionais. .................. 82 
23 INTERATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO PRECOCE DA MENTE .............. 83 
24 PRODUÇÃO DE SINAPSES E EDUCAÇÃO INFANTIL ................................... 85 
24.1 Períodos críticos e desenvolvimento do cérebro ............................................ 85 
24.2 Desenvolvimento cognitivo da criança pré-escolar ......................................... 86 
24.3 Componentes fundamentais do cérebro ......................................................... 87 
24.4 Cognição e períodos críticos .......................................................................... 88 
24.5 Ambientes enriquecidos .................................................................................. 89 
24.6 Estimulação sensorial primordial e a regulação das funções corporais .......... 90 
24.7 Como o cérebro aprende? .............................................................................. 90 
25 NEUROCIÊNCIA TRANSFORMADA EMEDUCAÇÃO .................................... 91 
25.1 Alfabetização em Neurociência ...................................................................... 92 
25.2 Crianças e Neurociência ................................................................................. 93 
25.3 Aprendizagem e Educação ............................................................................. 93 
25.4 Neurociência cognitiva e Educação ................................................................ 94 
25.5 Neurociência e prática educativa .................................................................... 95 
25.6 O que é aprendizagem? (Na percepção da Neurociência) ............................. 99 
26 BIBLIOGRAFIA BÁSICA................................................................................. 101 
 
 
 
5 
 
1 O QUE É NEUROCIÊNCIA? 
A Neurociência é a parte da ciência que descreve o estudo do sistema nervoso 
central tais como suas estruturas, funções, mecanismos moleculares, aspectos 
fisiológicos e compreender doenças do sistema nervoso. Essa, normalmente é 
confundida com a Neurologia que, por sua vez, é uma área especializada da medicina 
que se refere aos estudos das desordens e a doenças do sistema nervoso, esta 
envolve o diagnóstico e tratamento dessas condições patológicas dos sistemas 
nervoso central, periférico e autonômico. 
Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando 
desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que 
sofra. Portanto, o objeto de estudo dessa ciência é complexo, sendo constituído por 
três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. Ele é 
responsável por coordenar todas as atividades do nosso corpo, e é de extrema 
importância para o seu funcionamento como um todo, tanto nas atividades voluntárias, 
quanto as involuntárias (LENT, 2002). 
A neurociência, normalmente é estudada por diversos profissionais de diversas 
áreas e não somente por médicos neurologistas. Dentre os profissionais que se 
interessam pela neurociência temos farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros 
médicos, nutricionistas, biólogos, biomédicos e até mesmo engenheiros, pois a 
capacitação nesta área pode elucidar as novas técnicas te arquitetura robótica 
baseadas na neurociência. 
Essa ciência pode ser dividida em cinco grandes grupos: a neurociência 
molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva. 
1. Neurociência molecular, neuroquímica ou neurobiologia molecular - ramo da 
neurociência responsável pelo estudo de moléculas que têm importância 
funcional e suas possíveis interações no sistema nervoso; 
2. Neurociência celular, neurocitologia ou neurobiologia celular- esta área estuda 
as células que compõem o sistema nervoso, suas estruturas e funções; 
3. Neurociência sistêmica, neurofisiologia, neuro-histologia ou neuroanatomia- 
Estuda as possíveis ligações entre os nervos do cérebro (chamadas de vias) e 
diferentes regiões periféricas. São também considerados os grupos celulares 
situados nestas vias; 
 
6 
 
4. Neurociência comportamental, psicobiologia ou psicofisiologia - estuda as 
estruturas que estão relacionadas ao comportamento ou a fenômenos como 
ansiedade, depressão, sono entre outros comportamentos; 
5. Neurociência cognitiva ou Neuropsicologia - trata de todas as capacidades 
mentais relacionadas a inteligência como a linguagem, memória, 
autoconsciência, percepção, atenção, aprendizado entre outras. 
Os estudos da neurociência estão divididos em campos específicos que 
exploram as áreas do sistema nervoso e também podem ser divididos da forma abaixo 
(LENT, 2002): 
 Neurofisiologia: investiga as tarefas que cabem as diversas áreas do sistema 
nervoso. 
 Neuroanatomia: dedica-se a compreender a estrutura do sistema nervoso, 
dividindo cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos em partes 
para nomeá-las e compreender as suas funções. 
 Neuropsicologia: foca na interação entre os trabalhos dos nervos e as funções 
psíquicas. 
 Neurociência comportamental: ligada à psicologia comportamental, é a área que 
estuda o contato do organismo e os seus fatores internos, como pensamentos e 
emoções, ao meio e aos comportamentos visíveis, como fala, gestos e outros. 
 Neurociência cognitiva: estudo voltado à capacidade cognitiva, em que estão 
inclusos comportamentos ainda mais complexos, como memória e aprendizado. 
Nessa perspectiva, existem diversas neurociências, dependendo da condução e 
objetivo que motivaram o estudo do sistema nervoso. Mas em todas essas áreas, o 
cérebro é considerado em uma perspectiva unitária, já que todos os processos 
mentais têm influências físicas e as questões físicas alteram o indivíduo a nível 
emocional. Além disso, as pesquisas realizadas no ramo exploram mais de uma área 
do conhecimento. Por esse motivo, essa ciência é considerada multidisciplinar, 
reunindo diversas especialidades, como bioquímica, biomedicina, fisiologia, 
farmacologia, estatística, física, engenharia, economia, linguística, entre outras que 
objetivam investigar o comportamento, os mecanismos de aprendizado e a aquisição 
de conhecimento humanos. 
São várias as finalidades das pesquisas na área da neurociência. Entre elas, 
destaque para o entendimento de como nossas vivências são capazes de alterar o 
 
7 
 
cérebro e como interferem no seu desenvolvimento. Dessa forma, essa disciplina 
abrange a inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, de sonhar, comandar o 
corpo, tomar decisões, fazer movimentos, entre outros (HENNEMANN, 2012). 
Alguns setores específicos também se utilizam da neurociência, como é o caso 
dos profissionais em engenharia médica, no desenvolvimento de equipamentos e 
soluções a portadores de necessidades especiais. Da mesma forma, podemos citar 
profissionais da informática que desenvolvem softwares, para viabilizar as atividades 
de pessoas com algum tipo de limitação intelectual ou física. 
Para compreender esse complexo mecanismo, os cientistas consideram a 
forma como funcionam os processos a nível cognitivo, principalmente no que se refere à 
decodificação e transmissão de informação realizadas pelos neurônios, bem como 
suas respectivas funções e comportamentos. 
Durante as últimas décadas, com o avanço de equipamentos que permitem 
mapear o cérebro com maior riqueza de detalhes, os estudos médico-científicos 
tiveram um aumento significativo procurando entender com maior clareza de que 
forma a atividade cerebral influi no nosso comportamento. 
Dentro desta análise pode-se dizer que a Neurociência procura estudar as 
variações entre o comportamento e a atividade cerebral. Porém trata-se de um campo 
interdisciplinar que abrange várias outras “disciplinas’: - neuroanatomia, neurofisiologia, 
neuroquímica, neuroimagem, genética, neurologia, psicologia, psiquiatria, pedagogia. 
Todas essas ciências reunidas formam a Neurociência e juntas procuram 
investigar o sistema nervoso procurando entender como ele se desenvolve, como ele é 
parecido ou diferente entre indivíduos e entre espécies ou como ele deixa de 
funcionar. As Neurociências nos revelam como o cérebro produz nosso 
comportamento, porque nos emocionamos, porque precisamos comer, dormir, de que 
forma tomamos decisões, enfim como somos e o que somos. 
Através das Neurociências procura-se perceber a individualidade de cada um, e 
a partir disso, entender como as lesões no cérebro interferem no modo de ser dos 
indivíduos. Através dos estudos de Luria, que durante a Segunda Guerra Mundial, 
desenvolveu um estudo de indivíduos portadores de lesão cerebral, no qual catalogou 
cada paciente, mapeou as respectivas lesões cerebrais e anotou as alterações no 
comportamento, tendo como objetivo específico o estudo das bases neurológicas do 
comportamento, ocorreram mudanças significativas no experimento médico-cientifico, 
 
8 
 
modificando muito dos tratamentosque era ofertado aos pacientes com lesões 
cerebrais, pois durante vários anos as doenças mentais eram incompreendidas e 
vistas numa dimensão mais psicológica. 
No período de 1940-1970, muitos psicanalistas americanos começaram a 
afirmar que todas as doenças mentais, incluindo a esquizofrenia e as doenças 
maníaco-depressivas, eram causadas por conflitos psicológicos que podiam ser 
amenizados por meio da psicoterapia psicanalítica. Com frequência os pais, e 
principalmente as mães, eram acusados pelos transtornos mentais dos seus filhos. Era 
particularmente cruel o conceito da “mãe esquizofrenogênica”, que propunha que a 
esquizofrenia era causada devido a mãe rejeitar a criança de forma inconsciente, 
embora parecesse amá-la. Em uma série de livros bastante divulgados, Bruno 
Bettelheim teorizava que o transtorno autista era causado pela rejeição parental e que 
somente a “parentectomia” (isto é, retirar a criança do lar) poderia levar à cura. 
Aqueles que defendiam o conceito de que as doenças mentais têm causas 
estritamente “ambientais” ou “psicológicas” sentem com frequência que estão em um 
patamar moral superior – defendendo o paciente contra uma teoria biológica 
determinista. Em geral não conseguem ver que as suas próprias teorias da doença 
mental, na ausência de provas, culpam os pais e as famílias pelo problema de uma 
criança e, assim, causam dor e sofrimento enormes. Isso seria o equivalente a negar a 
natureza biológica do câncer e dizer aos pais de uma criança com leucemia que foi o 
fracasso deles em ter um relacionamento amoroso com ela que levou à doença 
(PLISZKA, 2004, p. 13-14). 
Na atualidade, estudos significativos já proporcionaram mudanças no tratamento 
de pacientes com necessidades educativas especiais. Indivíduos que antes eram 
retiradas do convívio de seus familiares, uma vez que se acreditavam que estes não 
teriam condições de reabilitação, hoje, através da Neurociência, sabe-se que existe a 
plasticidade cerebral e que a mesma necessita de muito estímulo daqueles que estão 
próximos a estes indivíduos. 
Temos que ter base neuro-científica para que possamos inferir nos estados 
mentais e nas intenções das outras pessoas. Em especial, inferir o que a outra pessoa 
acredita ser correto, estar occorrendo ou o que deverá estar pensando em fazer. 
Segundo Bear (2008) ainda temos muito pouco conhecimento neuro-científico, mas a 
 
9 
 
base de tudo é essa busca, esse entendimento, esse comprometimento com a 
melhora de outros. 
O desenvolvimento atual das Neurociências é verdadeiramente fascinante e 
gera grandes esperanças de que, em breve, tenhamos novos tratamentos para uma 
grande gama de distúrbios do sistema nervoso, que debilitam e incapacitam milhões 
de pessoas todos os anos. [...] Apesar dos progressos durante a última década e os 
séculos que a precederam, ainda existe um longo caminho a percorrer antes que 
possamos compreender completamente como o encéfalo realiza suas impressionantes 
façanhas. Entretanto, essa é a graça em ser um neurocientista: nossa ignorância 
acerca da função cerebral é tão vasta que descobertas excitantes nos esperam a 
qualquer momento (BEAR, 2008, p. 21). 
Como deu para você perceber, a neurociência é um campo de pesquisa de 
extrema complexidade e está sempre em pauta, em evolução, por se tratar do sistema 
nervoso e suas implicações na vida de uma pessoa. 
A neurociência abrange muitas áreas do conhecimento, a partir do momento em 
que o cérebro se torna o foco em comum de todas as neurociências; e como tudo em 
nossa vida se relaciona ao cérebro, essa multidisciplinaridade é plenamente 
justificável. 
Os estudos da neurociência são contínuos e podem revelar alguma descoberta 
para pesquisadores que desenvolvem máquinas, equipamentos e até mesmo chips 
para auxiliar algum indivíduo que seja portador de uma limitação física, para citar 
apenas um exemplo dentre vários. 
Há estudiosos também que estudam as funções que o sistema nervoso 
representa para as atitudes mais básicas do ser humano, como fazer um simples 
movimento. 
A neurociência estuda aquilo que é considerado objeto de maior complexidade 
no universo – o cérebro. 
Compreender o cérebro e como funciona o sistema nervoso pode, à partida, 
parecer relativamente fácil. Mas não o é. Perceber e estudar os mecanismos 
presentes na regulação do cérebro tem sido das temáticas, senão a temática, mais 
complicada que a humanidade já experimentou. 
A neurociência encerra em si várias disciplinas de diferentes áreas tais como 
bioquímica, fisiologia (anatomia e mecânica das células nervosas), farmacologia, 
 
10 
 
patologia, psicologia (que enveredou pelo difícil caminho do comportamento humano), 
física, estatística e medicina. E apesar de ser estudado por áreas tão diferentes, como a 
fisiologia e psicologia, o cérebro é visto de uma perspectiva unitária pois influencia ao 
mesmo tempo ambos os aspectos: as doenças mentais têm as suas consequências 
físicas e as doenças físicas provocam alterações a nível emocional no indivíduo. 
A neurociência procura estudar de que forma, por exemplo, as nossas vivências e 
experiências e a idade, modificam os circuitos neurais e interferem no 
desenvolvimento mental. A inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, a 
capacidade de sonhar, a capacidade de tomada de decisões, a capacidade de 
comandar o corpo e literalmente todo e qualquer movimento, são aspectos 
intrinsecamente ligados à disciplina e que há muito os neurocientistas tentam decifrar 
(PINTO, 2015). 
De forma a compreender o complexo mecanismo que está por detrás de cada 
ser humano, cientistas têm estudado ao pormenor todos os detalhes anatómicos e 
fisiológicos do sistema nervoso, tentando desta forma evoluir no sentido de perceber 
que mecanismos nos regem e de que forma o fazem, ansiando encontrar respostas 
para tão difícil tarefa. Neurocientistas trabalham deste modo com o objetivo de 
compreender o cérebro humano, a sua estrutura, o seu funcionamento, o seu 
comportamento, a sua evolução e a tradução de todas as suas características e 
modificações no comportamento do indivíduo, passando por um aspecto de inexorável 
importância e delicadeza: a investigação de doenças neurológicas e distúrbios mentais 
e a procura do respectivo tratamento e cura. 
Para percebermos como trabalha o cérebro é necessário compreender de que 
modo funcionam os processos a nível cognitivo, dentro dos circuitos neurais do 
sistema nervoso. É importante identificar funções, atividades e comportamentos, 
descodificar a linguagem dos neurónios na comunicação entre circuitos e 
compreender de que forma se transmite informações entre estes (sinapses). 
 
2 A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO 
Estudar o sistema nervoso pode parecer relativamente fácil, mas não é. O 
entendimento sobre o funcionamento dos mecanismos de regulação desse órgão tem 
sido um dos maiores desafios da humanidade desde a Antiguidade. O termo 
 
11 
 
Neurociência surgiu recentemente, em 1970, mas os estudos do cérebro humano são 
de muitos anos atrás, datam desde a filosofia grega, antes de Cristo. Isso se deve ao 
fato de que esse é o órgão mais complexo do corpo humano, constituído por milhares 
de células. 
Os filósofos da Grécia desenvolveram teorias sobre o cérebro através de 
simples observações, já os romanos iniciaram seus estudos dissecando animais. No 
século XVIII, levado pelo Iluminismo, surgiram os estudos mais aprofundados do 
sistema nervoso. 
A teoria da evolução de Charles Darwin também contribuiu significativamente 
para o entendimento da estrutura e funcionamento cerebrais. Mas foi o surgimento de 
tecnologias como Raio X e tomografias computadorizadas que otimizou as pesquisas 
na área e inaugurou efetivamente a Neurociência (PINTO, 2015). 
Atualmente, a cibernética também tem oferecido contribuições para essa 
disciplina, principalmente por meio da neurociênciacomputacional. O seu principal 
objetivo é compreender e imitar o funcionamento do sistema nervoso para o 
desenvolvimento de máquinas que auxiliem o ser humano em diversos campos. Como 
todas as grandes áreas a neurociência teve grandes cientistas que mudaram o rumo da 
humanidade e da medicina com suas descobertas dentre eles os que receberam 
premiação Nobel em fisiologia ou medicina; 
Em 1906 Golgi recebeu premiação por estudos sobre a estrutura do sistema 
nervoso, esse foi dividido com Ramón e Cajal que também propôs a maneira pela qual 
os axônios crescem e que as células neurais poderiam estar envolvidas na detecção de 
sinais químicos. 
Outro ganhador do Nobel foi Charles Scott Sherrington que explicou sobre o 
arco reflexo e flexão-extensão dos músculos ao provar que a excitação de um grupo 
muscular era inversamente proporcional a do grupo muscular oposto. 
Em 1952 Alan Hodkin publicou sua teoria e de Andrew Huxley baseada no 
potencial de ação dos nervos, onde os impulsos elétricos enviados pelas células 
nervosas eram capazes de controlar a atividade do organismo e em 1963 recebeu o 
Nobel com Huxley e John Eccles por sua descrição sobre as sinapses, e ainda 
sugeriram a hipótese de canais iônicos que foi confirmada anos depois. 
 
12 
 
Dentre os neurocientistas atuais ganhadores do Nobel estão; Kandel, 
Greengard e Carlsson ganhadores do prêmio de 2000 revelando os aspectos 
essenciais no processo de formação de memória. 
Dentre os brasileiros que trabalham com neurociências temos Miguel Nicolelis 
nomeado em 2009 um dos mais influentes brasileiros, foi também o primeiro cientista 
brasileiro a receber a premiação dos Institutos Nacionais de Saúdes Estadunidenses. 
Nicolelis foi um dos idealizadores do projeto exoesqueleto que fez com que um 
portador de necessidades especiais pudesse dar o chute inicial na Copa de 2014 no 
Brasil. 
A Neurociência é um campo novo, entretanto, possui influências de longas 
datas históricas; pautada em estudos científicos e não científicos que são descritas 
desde a filosofia grega até os modernos exames de imagens atuais. Perguntas tais 
como: "onde está a mente?" e "como a mente interage com o corpo" deram vazão a 
muitas pesquisas que constituíram alicerces importantes do que hoje se entende por 
neurociência, entre os quais podem ser destacados os seguintes fatos: 
2.1 Período Neolítico: 
Trepanações cerebrais para expulsar os demônios do corpo. Era utilizado um 
trépano (uma ferramenta de pedra) para cortar fora uma seção do crânio da pessoa, 
supostamente para fazer sair do corpo os espíritos malignos que causavam transtorno 
(ARAUJO, 2012). 
 
2.2 Grécia: 
Surgem as perguntas mais sistematizadas sobre onde está a mente e como ela 
interage com o corpo. 
 Demócrito (460 – 370 AC) e Hipócrates sugerem que a mente está no cérebro e 
que os nervos são ocos. Essas intuições filosóficas foram baseadas na 
instrumentação clínica, pois à época, não se dissecava os cadáveres. 
 Hipócrates (460 – 379 AC) acreditava que o cérebro estava envolvido com as 
sensações e que era a sede da inteligência. 
 
13 
 
 Aristóteles (384 – 322 AC) propôs que o coração era a sede da inteligência e o 
cérebro, uma espécie de radiador responsável pelo resfriamento do sangue. 
Pelo coração ter alterações durante eventos emocionais, só podia ser nele a 
origem da mente. Ele tinha essa ideia por observação, pois uma pessoa com 
uma emoção forte fica com o coração acelerado, por exemplo. Disso ele fez a 
associação inversa de causa e efeito. Essa constatação Aristotélica tem 
heranças até hoje. Por exemplo, quando falamos que decoramos um texto de 
cor, significa que decoramos o texto de coração, situando a memória também 
no coração e não no cérebro. 
 
 
 
 
 
2.3 Idade Média: 
Galeno pela primeira vez refuta o que diz Aristóteles a partir da dissecação de 
animais. Na época, o animal que ele tinha como escolha era o Boi. 
Galeno (130 - 200 DC) aceitou as ideias de Hipócrates - Sugeriu que o cérebro 
fosse responsável pelas sensações e o cerebelo pelo controle dos músculos; 
Galeno associou a imaginação, a inteligência e a memória com a substância 
cerebral, atribuindo ao cérebro o papel fundamental de sede de todas as faculdades 
mentais (ARAUJO, 2012). 
2.4 Raio X: 
Poucos acontecimentos na história da ciência provocaram impacto tão forte 
quanto a descoberta dos raios X, por Wilhelm Konrad Roentgen, professor de física 
na Universidade de Würzburg. A 22 de dezembro de 1895, Roentgen obteve a 
primeira chapa radiográfica da história: a mão de sua mulher. 
2.5 Tomografia Computadorizada: 
 
14 
 
Em 1972, a primeira máquina de tomografia é criada, que é um método de 
imagem que utiliza raios-x para captação de imagens de estruturas crânio-encefálicas. 
Em vários congressos, a palavra Neurociência começa a surgir. 
2.6 Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons: 
Em 1973, o primeiro PET, porém, devido ao alto preço, seu uso ficou limitado 
até 1990. Também conhecida pela sigla PET, é um exame imagiológico da medicina 
nuclear que utiliza radionuclídeos que emitem um positrão no momento da sua 
desintegração, o qual é detectado para formar as imagens do exame. A PET é um 
método de obter imagens que informam acerca do estado funcional dos órgãos e não 
tanto do seu estado morfológico como as técnicas da radiologia propriamente dita. A 
PET pode gerar imagens em 3D ou imagens de "fatia" semelhantes à tomografia 
computorizada (ARAUJO, 2012). 
 
 
 
2.7 Década do cérebro: 
Em 1990, Bush declara que estamos, oficialmente, na década do cérebro. A 
partir daí vários projetos de pesquisa iniciaram-se com o objetivo de mapear o cérebro, 
pois a pesquisa e o interesse em neurociências tem crescido em resposta à 
necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos normais, 
mas também ajudar àqueles que sofrem de distúrbios neurológicos. 
2.8 Projeto Conectoma 
Termo criado em 2005, por Olaf Sporns, professor da Universidade de Indiana – 
USA. Trata-se das pesquisas científicas realizadas na tentativa de se mapear a rede 
neural (o conjunto das ligações entre os neurônios) do cérebro. 
A Neurociência busca compreender o funcionamento do sistema nervoso, 
integrando suas diversas funções (movimento, sensação, emoção, pensamento etc). 
Compreender como o sistema nervoso - e em particular o córtex cerebral – funciona 
 
15 
 
é um importante passo para aperfeiçoarmos suas diversas funções, intervindo de 
forma eficaz no processo de aprendizagem (PRIMO, 2013). 
Em 1986, um grupo de pesquisadores liderado pelo americano John White 
concluiu o mapeamento do sistema nervoso de um verme, o C. Elegans. Em 2005, o 
neurocientista alemão Olaf Sporns foi o primeiro a usar o termo conectoma para se 
referir ao mapa das conexões neurais no cérebro. 
 
2.9 Paciente tem 75% de seu crânio substituído com impressão 3D em 
operação pioneira 
Através do aprimoramento da tecnologia novas possibilidades vêm sendo 
apresentadas. No mês de fevereiro, muitos sites divulgaram a imagem de uma orelha 
impressa em 3D, a qual seria utilizada para implantes em humanos. Porém, no início 
desta semana, um homem (cuja identidade permanece anônima) foi submetido a uma 
cirurgia de crânio, sendo que 75% foi substituído por um implante 3D. (A imagem é 
apenas um modelo do que é um implante 3D no crânio). 
Tal como acontece com toda a impressão em 3D, o processo começa com uma 
verificação digital para usar como um modelo. Neste caso, que seria uma tomografia 
computadorizada ou ressonância magnética do crânio do paciente. Em seguida, a 
impressora faz uma nova versão do crânio e também adiciona detalhes sobre a 
superfície e as bordas do implante para estimular o crescimento celular, pois isto 
também pode ajudar a prender o osso existente no implante com maior facilidade. 
Os doentes que sofreram de alguma doença ou traumatismo craniano iriam sebeneficiar desta tecnologia, assim como aqueles com o tecido ósseo canceroso no 
crânio. E ao contrário de implantes existentes, feitos de materiais como o titânio, os 
implantes de plástico são leves, não corrosivos e não detonam no detector de metais 
de aeroportos. 
O conjunto das ligações entre os neurônios é chamado de conectoma. 
Conhecê-lo é fundamental porque a genética, sozinha, não basta para definir as 
características do cérebro de uma pessoa. Os genes não gravam as memórias 
adquiridas ao longo de uma vida. Um tombo de bicicleta, o primeiro beijo ou o 
aprendizado de um segundo idioma não deixam sua assinatura na molécula de DNA. A 
maior parte do que se conhece sobre o funcionamento do cérebro provém de estudos 
 
16 
 
de danos causados por lesões e tumores. O diagnóstico em saúde mental mudou 
muito nos últimos 100 anos, mas quando ganharem acesso à gramática do 
conectoma, os cientistas poderão visualizar a doença mental e trata-la corrigindo as 
alterações que ela provoca no cérebro (Primo, 2013). 
O Projeto Conectoma Humano, liderado por pesquisadores americanos, utiliza o 
que há de mais avançado em imagens do cérebro para identificar o caminho provável 
da comunicação entre os neurônios. 
 A pesquisa é feita com a reconstrução tridimensional da posição das fibras a 
partir da movimentação das moléculas de água, captada com aparelhos de 
ressonância magnética. 
 Essa movimentação da água no tecido cerebral indica a direção das fibras, que 
são identificadas por um padrão de cores na representação feita em 
computador chamada de tractografia. 
 Cada uma das fibras coloridas reúne milhares de axônios, os prolongamentos dos 
neurônios. 
As imagens demonstram que as vias neurais na substância branca (parte do 
cérebro que conecta os axônios) são organizadas como ruas de uma cidade planeada, e 
não um emaranhado caótico como um prato de macarrão, como se acreditava. 
 
3 TONS DE VERMELHO 
DIREÇÃO: da esquerda para a direita 
O vermelho-escuro mostra as fibras mais associadas ao corpo caloso, que liga 
os dois hemisférios cerebrais. 
4 TONS DE VERDE 
DIREÇÃO: da frente para trás 
O verde-limão representa as fibras que conectam os olhos ao córtex cerebral 
5 TONS DE AZUL 
DIREÇÃO: do topo do cérebro para a medula espinhal 
 
17 
 
O azul-escuro representa, grosso modo, as fibras que vão do córtex até a 
medula. 
 
6 CONHECIMENTOS ACERCA DO ASSUNTO 
6.1 Neuroplasticidade 
O caso relatou a história de uma garota onde o hemisfério cerebral esquerdo 
não se desenvolveu então, o direito assumiu todas as funções. Segundo Cosenza 
(2000), o cérebro que se desenvolveu de forma diferente por fatores genéticos ou que 
sofreu modificações devido a condições da gestação apresentará comportamentos 
diferentes e necessitará de estratégias pedagógicas distintas durante a aprendizagem. 
Enfim, há necessidade do investimento em muitos estímulos para que ocorra a 
neuroplasticidade. 
6.2 A química age sobre seu organismo 
 
Cada sentimento está conectado com uma ou mais substâncias químicas e 
conforme os estímulos aumentamos ou diminuímos a produção deles. Caso você 
esteja apaixonada, os 3 (serotonina, dopamina e oxitocina) estarão circulando mais 
fortemente no seu sangue. Se estiver amamentando, ocorre maior produção da 
oxitocina. E assim por diante (HENNEMANN, 2013). 
A endorfina (endo=interno e morfina=analgésico) famosa por ser liberada após 
grande esforço físico, é um neurotransmissor – que auxilia a comunicação no sistema 
nervoso. Quando estimulada gera uma grande sensação de bem-estar. 
 
18 
 
7 Neurolinguística 
O médico francês Paul Broca (1824-1880) descobriu que a área do cérebro 
responsável pela fala fica no hemisfério esquerdo. 
O alemão Carl Wernicke (1848-1905) desvendou o efeito que lesões numa 
região à frente do giro temporal superior têm na compreensão das informações da fala. 
8 Distribuição de funções 
O Neurofisiologista inglês Charles Sherrington (1857-1952) estudou a ligação 
entre o cérebro e a medula espinhal. A partir disso, descobriu a natureza distributiva 
do cérebro e a sua capacidade de fazer o corpo inteiro funcionar simultaneamente. 
9 Consciência 
O neurocientista português António Damásio estudou o papel do lobo frontal na 
tomada de decisões. O biólogo molecular inglês Francis Crick (1916-2004), um dos 
descobridores da estrutura do DNA, teorizou que apenas uma parte dos neurônios do 
cérebro seria responsável pela consciência e que talvez ela não seja inata. 
10 Memória 
O filósofo americano Erick Kandel elucidou os sistemas químicos da memória 
de longo prazo. 
11 Plasticidade 
O americano Michael M. Merzenich foi pioneiro na pesquisa da plasticidade, ao 
identificar, que em algumas situações, uma região do cérebro pode assumir as 
funções antes desempenhada por outra área. 
12 Ressonância 
O japonês Seiji Ogawa aplicou a tecnologia da ressonância nuclear magnética 
funcional para visualizar como as regiões do cérebro são ativadas por estímulos 
internos e externos (HENNEMANN, 2013). 
 
19 
 
Pesquisadores descobriram que a região do cérebro excitada quando alguém 
fala de si mesmo é a mesma ativada por comida e sexo. 
 
20 
 
 
13 Dor fantasma 
A neurociência teria como explicar como pode um membro ausente trazer tanta 
dor? 
Você já ouviu falar sobre membro fantasma? Existem relatos desde o século 
XVI, deste fenômeno, trata-se da percepção continuada que algumas pessoas têm de 
seus membros que foram amputados. Embora estes membros não estejam mais 
ligados ao corpo, parecem que ainda estão. Por exemplo, alguém pode perder um 
braço, perna, pé, seio, mão, dedos e até órgãos internos e continuar a senti-lo. Às 
vezes, além de ter a sensação da existência deste membro, a pessoa ainda sente 
dores mesmo que ele não existe mais! Possivelmente o cérebro não processou a 
perda dele, e continua vendo-o como uma realidade existente. 
Depois de uma amputação, alguns pacientes podem ainda sentir o membro 
ausente como uma sensação fantasma (formigamento, quente ou frio, dormência ...) 
ou dor fantasma (facada, tiro, ardor, dores ...), sendo que no caso da dor, ocorre em 
50 a 80% das pessoas amputadas. Estes sentimentos são na sua maioria transitória, 
mas pode ser torturante. Essa dor é difícil de controlar, mas pode diminuir com o 
tempo, entretanto, ela pode comprometer a vida de uma pessoa tanto física como 
psicossocial. 
Dor fantasma é neuropática: é uma dor crônica resultante de lesão no sistema 
nervoso. Como tal, é muito difícil de tratar. Ela representa um verdadeiro desafio 
médico, pois cada paciente deve ser analisando individualmente. Lent (2009) enfatiza 
que “suas manifestações podem variar desde um calor prazeroso até uma intensa 
coceira que não tem solução... porque não há o que coçar. ” Por exemplo, na ausência 
de nervos periféricos, alguns sinais de dor não são inibidos e, portanto, são 
continuamente transmitidas ao cérebro através dos neurónios da medula espinhal. 
Além disso, a nível cerebral, vários estudos, foram realizados pelo médico Vilayanur 
Ramachandran e mostraram que numa amputação as áreas cerebrais ativadas eram 
as que anteriormente representavam o membro ausente. Ramachandran e seus 
colaboradores constataram que a amputação não fez desaparecer as áreas cerebrais 
correspondentes, mas que essas áreas passaram a receber informação de outras 
partes do corpo. Pois nosso cérebro é cheio de mapas de localizações. 
 
21 
 
Para testar sua teoria, Ramachandran (2004), criou uma "caixa espelho" - um 
aparato que cria a ilusão visual de duas mãos para pessoas que na realidade só têm 
uma. Colocando os braços do amputado nos dois lados de um espelho - com o 
membro amputado ficando no lado não reflexivo da caixa - o paciente vê o reflexo de 
sua mão normal superposta no local onde deveria estar sua mão que não existe. 
Os voluntários viram sua mão normal sendo espetada e relataramuma 
sensação real de que a mão faltante estava sendo espetada. Em outro experimento, 
quando eles viram a mão de outra pessoa sendo tocada, eles começaram a 
experimentar a sensação de toque em sua mão faltante. 
Ramachandran (2004), afirma haver uma espécie de “plasticidade neuronal”, 
“plasticidade cortical” ou ainda “plasticidade neural” no cérebro, de modo que este 
pode se readaptar às mudanças sofridas pela imagem do próprio corpo, dado a 
maleabilidade que o cérebro possui em se reorganizar. 
Essa tese é defendida por outros autores, os quais afirmam que a 
representação cortical do membro sofre alteração após a amputação de modo que o 
cérebro aprende a lidar com a nova imagem do corpo devido a uma reorganização da 
rede neuronal (SILVA, 2013). 
Quando alguém perde uma perna, uma mão ou um braço, as mensagens do 
córtex motor na parte frontal do cérebro continuam a enviar sinais para os músculos do 
membro ausente. Posteriormente, uma parte do cérebro que controla os movimentos 
“não sabe” que o membro se foi. Muito provavelmente esses comandos do movimento 
são simultaneamente monitorados pelos lobos parietais que afetam a imagem do 
corpo. Em pessoas normais, mensagens do lobo frontal são enviadas em conjunto ou 
através do cerebelo para o lobo parietal, que monitora os comandos e 
simultaneamente recebem o feedback do membro sobre a sua posição e velocidade 
do movimento. No caso do membro ausente, não há feedback do membro fantasma, é 
claro, mas a monitoração dos comandos motores pode continuar a ocorrer no lobo 
parietal, e assim o paciente tem a vívida sensação de movimento do membro fantasma 
(Ramachandran, 2004). 
É importante que se diga que o cérebro demora a reconhecer que houve a 
perda de uma parte do corpo, e na tentativa de se readaptar, passa a organizar uma 
nova imagem corporal (Ramachandran, 2004). 
 
22 
 
13.1 O que é sinestesia? 
O cinema nos convence de que o diálogo vem da boca dos atores em vez dos 
alto-falantes espalhados pela sala. Na dança, os ritmos do corpo imitam ritmos 
sonoros cineticamente e visualmente, parecendo ser uma só coisa... 
Conforme o filósofo David Chalmers, dentro da neurociência o estudo do 
cérebro tem ajudado a superar alguns estigmas que nos foram apresentados por mais 
de séculos. No decorrer da história existem diversas situações em que pessoas não 
tinham explicações para fatos ocorridos com elas (HENNEMANN, 2013). 
Um exemplo típico disso seria o caso dos sinestetas. Já ouviu falar? Dê uma 
olhada na imagem... consegue encontrar algum triângulo nela? 
Agora olhe novamente, porém observe à direita a maneira que os sinestetas 
visualizariam esta imagem... 
 
 
23 
 
 
 
Os números "2" formam o triângulo. 
Sinestesia é uma condição na qual um sentido (por exemplo, da audição) é 
simultaneamente percebido como se por um ou mais sentidos complementares, tais 
como visão. Outra forma de sinestesia junta objetos como letras, formas, números ou 
nomes de pessoas com uma percepção sensorial, tais como cor, cheiro ou sabor. A 
palavra sinestesia vem de duas palavras gregas, syn (junto) e aisthesis (percepção). 
Portanto, a sinestesia, literalmente, significa "percepções unidas." 
Por exemplo, se pensarmos na palavra banana, o mais comum é lembrarmos 
da imagem da banana, sinestetas podem além da imagem da banana, ver a palavra 
banana escrita na cor amarela, projetada à frente de seus olhos, podem sentir o gosto 
da banana, o cheiro da banana, tudo isso em frações de segundos (HENNEMANN, 
2013). 
A sinestesia pode envolver qualquer um dos sentidos. Há sinestetas que ouvem 
sons em resposta a cheiro, cheiro em resposta ao toque, ou que sentem algo em 
resposta a visão. Há algumas pessoas que possuem a sinestesia que envolve três ou 
até mais sentidos, mas isso é extremamente raro. Segundo Grossenbacker (1991), a 
visão de um sinesteta normalmente são percebidas fora do corpo. “As cores e os 
movimentos se formam em uma espécie de tela virtual, localizada a cerca de meio 
metro de distância dos olhos”. 
Percepções sinestésicas são específicas em cada pessoa. Diferentes pessoas 
com sinestesia quase sempre discordam em suas percepções. 
Segundo o neurologista Richard Cytowic, longe de ser raro, a sinestesia é 
comum – um em cada 23 indivíduos tem algum tipo de sinestesia. Mentes que 
funcionam de maneira diferente não são tão estranhas assim. Por exemplo, muitos 
artistas, poetas e romancistas têm a capacidade de vincular ideias aparentemente não 
relacionadas entre si, como se fosse uma metáfora. 
Para Herculano-Houzel (2009), existem alguns tópicos importantes em relação a 
sinestesia: 
1. sinestesia não é doença (pois não diminui a qualidade de vida), e sim uma 
variação da maneira como o cérebro processa sinais dos sentidos; 
 
24 
 
2. a sinestesia é herdada geneticamente, e, portanto, muito mais comum em 
famílias que já têm um ou mais sinestetas; 
3. não tem tratamento (e por que teria, ou por que deveria ter, se é apenas uma 
maneira de processar estímulos? O que percebemos como sons, afinal, não 
são uma propriedade do estímulo que chega às orelhas, e sim de como o 
cérebro processa esse estímulo); 
4. não é simples associação, memória, nem "modo de dizer", como algumas 
pessoas acham um som "macio" ou um aroma "pungente": é a capacidade 
que algumas pessoas têm de processar um estímulo como se fosse - 
SEMPRE - dois ou mais ao mesmo tempo. 
A quantidade de progressos em relação às pesquisas sobre sinestesia nos 
últimos anos tem aumentado. O futuro está repleto de possibilidades para mais 
descobertas. A revelação de algumas pessoas famosas que ditas sinestésicas, tais 
como os cientistas Nikola Tesla e Richard Feynman e a aceitação desta condição por 
parte da ciência, abrem caminho para que mais pessoas venham a falar sobre isso e 
talvez algumas se descubram sinestésicas e venham contribuir para pesquisas 
relacionadas a este enfoque (HENNEMANN, 2013). 
 
13.2 Aprendizagem Automática 
Download de aulas para o cérebro pode soar como ficção científica, mas, 
segundo alguns pesquisadores, a tecnologia que ativa padrões neurais em breve 
poderá nos ajudar e a prática poderá ser adquirida durante o sono. 
Em uma cena bem conhecido da Matrix, Neo (interpretado por Keanu Reeves) 
encontra-se na cadeira de uma dentista, coberto com tiras de alta tecnologia sobre 
uma variedade de eletrodos, então, “baixa” uma série de programas de treinamento de 
artes marciais em seu cérebro. A informação é transferida através do córtex visual. 
Depois, ele pisca os olhos e fala: "Sei kung fu!" 
A “aprendizagem automática” é um sonho antigo da subcultura Cyberpunk (A 
palavra “Cyberpunk” vem, não surpreendentemente, de uma junção dos termos 
“cibernética” e “punk”), e a maioria das pessoas pensava que permaneceriam neste 
reino ficcional por mais algum longo tempo. No entanto, graças a pesquisas recentes, 
 
25 
 
aquilo que tinha sido considerado “ficção científica” em breve pode tornar-se um “fato 
na ciência”. Uma pesquisa recente da Universidade Brown, nos EUA, liderado pelo 
neurocientista Takeo Watanabe, está demonstrando que a ficção científica pode se 
tornar fato científico. Suas descobertas revelam que é possível atingir os padrões de 
ondas cerebrais de especialistas como atletas e músicos, e depois para induzir esses 
padrões no cérebro de um sujeito passivo, através de estímulos visuais. O resultado: 
os participantes melhoraram o desempenho de uma tarefa (HENNEMANN, 2013). 
"Visualmente, os adultos, possuem muita plasticidade para permitir a 
aprendizagem da percepção visual", disse o pesquisador. 
Para entender o avanço de Watanabe, é preciso conhecer um pouco sobre o 
sistema visual. Vinte anos atrás, o neurobiólogo israelense Dov Sagi descobriu que 
com treinamento intensivo em determinadas tarefas visuais, tais como orientação de 
destino (a capacidade de olhar para um ponto na parede, olhar para longe,em 
seguida, olhar para trás, local exato do ponto de), pessoas muito mais velhas podem 
melhorar seu desempenho nessas tarefas. O "aprendizado perceptual" estudado por 
Sagi (1994), derrubou o conceito do sistema de visão rígida. A aprendizagem não se 
manifesta, de repente, como aconteceu com Neo. Mas em 2011, Watanabe imaginou a 
possibilidade de treinar o sistema de visão, sem o conhecimento do indivíduo e sem o 
uso de estímulos. Como isso? 
Da seguinte maneira: um grupo de participantes tiveram seus cérebros 
escaneados por uma Máquina de Ressonância Magnética Funcional (fMRI) enquanto 
olhavam fixamente para uma tela de computador. Nela havia uma imagem simples, 
composta por uma série de linhas diagonais. Simplesmente analisando essas linhas, 
um padrão de ativação muito específico foi produzido no córtex visual, codificado e 
armazenado pela FMRI. 
No dia seguinte, ocorreu a segunda parte da pesquisa. Indivíduos olharam 
novamente para uma tela de computador enquanto seus cérebros eram digitalizados 
por Ressonância Magnética. Agora, em vez de linhas, a imagem tinha um pequeno 
disco. O objetivo dos participantes era fazer com que o disco ficasse maior, porém 
mentalmente – os cientistas não disseram a eles como aumentar o disco. Portanto, a 
solução estava longe de ser óbvia. A única maneira de aumentar o tamanho do disco 
era fazer com que o cérebro produzisse um padrão, o mesmo gerado quando eles 
olharam fixamente para as linhas diagonais no dia anterior. 
 
26 
 
Muitos podem achar a tarefa impossível, mas na verdade não foi. Tentando 
solucionar um problema aparentemente insolúvel, o nosso cérebro automaticamente 
repete padrões de percepção recentemente adquiridos, no caso dos participantes da 
pesquisa, incluíam o padrão produzido por essas linhas diagonais observadas. 
Quando o cérebro deles processou este padrão, o disco começou a se expandir sem a 
necessidade de treinamento. "Quanto mais semelhante o padrão de ativação cerebral 
era", diz Watanabe, "quanto maior o disco se tornou." 
A partir deste ponto, as coisas ficam ainda mais interessantes. O primeiro 
padrão de ativação consistia apenas em informação sem sentido. Mas, de maneira 
hipotética, isso não precisa funcionar desta forma. Teoricamente, se a sequência 
produzida ao olhar para essas primeiras linhas realmente continha informações 
significativas – como uma série de treinamentos de kung fu, por exemplo –, então o 
indivíduo automaticamente repetiu esse padrão, praticando cada vez que o cérebro 
tentou ampliar o disco (HENNEMANN, 2013). 
Entretanto, a técnica ao estilo de Matrix, onde o conhecimento é baixado 
diretamente no cérebro, exigirá muito mais do que apenas gravar e reproduzir padrões 
de ativação do córtex visual. A ciência ainda não sabe dizer se este tipo de fenômeno 
surge também em áreas como o córtex motor ou córtex auditivo do cérebro, que viria a 
ser útil no domínio de habilidades físicas ou linguísticas. 
Watanabe pensa que futuramente este método pode ser utilizado para curar a 
depressão. "Eu acho que nós poderíamos facilmente treinar pessoas para ser feliz", 
diz ele. "Basta mostrar fotos de bebês e gatinhos e outras imagens conhecidas para 
elevar o humor, gravar e usar esse padrão como o gatilho para o “alargamento do 
disco”. Então, quando os assuntos executar esta tarefa, eles estariam se tornando feliz 
também. "Eu acho que nós poderíamos usar a técnica para apagar memórias, como a 
remoção de 12 meses de vida de uma pessoa”, diz Watanabe. Dessa forma, quando o 
sinal é dado, o assunto seria lembrar a memória implantada ao invés da memória do 
real. 
13.3 Pigenética 
A ideia de que o ambiente pode alterar nossa herança celular não é nova e tem 
nome: epigenética. Ela é um campo da biologia que estuda interações causais entre 
genes e seus produtos que são responsáveis pela produção de fenótipo. Ela investiga a 
 
27 
 
informação contida no DNA, a qual é transmitida na divisão celular, mas que não 
constitui parte da sequência do DNA. A epigenética trata de modificações no DNA que 
sinalizam aos genes se eles devem se expressar ou não. Esses marcadores não 
chegam a alterar nossa genética, mas deixam uma marca permanente ao ditar o 
destino do gene: se um gene não se expressa, é como se ele não existisse. 
Enquanto a genética está associada à sequência do DNA, o termo epigenética 
refere-se às informações reversíveis que são introduzidas nos cromossomos e 
replicadas estavelmente durante as divisões celulares, mas que não modificam as 
sequências de nucleotídeos e dessa forma alteram o fenótipo sem mudar o genótipo 
(KENDREW, 1994). Mais recentemente, a epigenética foi definida como o estudo de 
processos que produzem um fenótipo herdável, mas que não dependem estritamente 
da sequência de DNA (LIEB et al., 2006). Este termo (epigenética) deriva do prefixo 
grego epi, que significa literalmente "on" ou "acima", e assim define o que está 
ocorrendo no suporte físico dos genes, a cromatina. (A cromatina é uma estrutura 
presente em todas as células que possuem núcleo. Na cromatina se encontra o DNA – 
a sede da informação genética – em um complexo com proteínas que inclui as 
histonas, as proteínas não histônicas e, possivelmente, pequenos RNAs. Quando uma 
célula não está se dividindo, chamamos esse conjunto de cromatina. Quando a célula 
está se dividindo, chamamos esse conteúdo de cromossomos). 
Em um artigo publicado pela Veja, em 12.12.2012, Carvalho, traz a seguinte 
explicação para a epigenética: 
 
Epigenética — Imagine o material genético humano como um manual de 
instruções. Os genes formariam o conteúdo do livro, enquanto as epimarcas 
ditariam como esse texto deveria ser lido. "A epigenética altera e regula a 
forma como os genes se expressam", explica a geneticista Mayana Zatz, do 
departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo 
(USP). É por meio dos comandos epigenéticos, por exemplo, que o pâncreas 
fabrica apenas insulina, apesar de as células nesse órgão terem genes para a 
produção de muitos outros hormônios. Acreditava-se que os traços da 
epigenética não eram hereditários, sendo apagados e recriados a cada 
passagem de geração. Como pesquisas nas últimas décadas mostraram que 
uma fração de epimarcas é, sim, passada de pais para filhos, Friberg, Rice e 
Gavrilets julgaram ter encontrado a peça que faltava para montar o quebra- 
cabeça. 
 
13.4 Mas o que é um fenótipo herdável? 
 
28 
 
Para entender esse fato se faz necessário lembrar que o genótipo = o padrão 
de genes herdados (o mapa genético) e fenótipo = as características observáveis do 
indivíduo. Os genes são transmitidos dos pais para os filhos de acordo com relações 
complexas que incluem o padrão dominante-recessivo, herança poligênica, imprinting 
genético, herança mitocondrial e herança multifatorial. 
Em 1905, o geneticista britânico, Wiliam Bateson (1861-1926) cunhou o termo 
da genética como o termo relacionado à hereditariedade e variação dos organismos, 
baseado nos trabalhos de Gregor Mendel (1822-1884). Três décadas depois (1942), o 
geneticista, biólogo e filósofo Conrad Hal Waddington (1905-1975) definiu 
"epigenética" como "o ramo da biologia que estuda as interações causais entre genes e 
seus produtos, que trazem o fenótipo a ser". Quando Waddington cunhou o termo 
paisagem epigenética (“epigenetic landscape”), a natureza física dos genes e seu 
papel na hereditariedade não eram conhecidos, ele usou-a como uns modelos 
conceituais de como os genes podem interagir com o ambiente para produzir um 
fenótipo. E demonstrou que as ideias de herança apresentadas por Jean-Baptiste 
Lamarck (1744-1829) poderiam, pelo menos em princípio, ocorrer. Todas estas teorias 
foram fundamentadas nos estudos de Lamarck sobre assimilação de caracteres 
adquiridos por informação ambiental. 
13.5 Epigenética pode ser a chave para muitas doenças humanas 
Além da formação do comportamento,a epigenética também pode estar 
envolvido em doenças cerebrais e desordens. Um exemplo é a síndrome de Rett, uma 
doença genética que afeta quase exclusivamente as jovens e, atualmente, não tem 
cura. Em seus estágios iniciais, a síndrome de Rett provoca comportamentos 
semelhantes ao autismo, porém em fases posteriores, as meninas com síndrome de 
Rett podem perdem a capacidade de falar ou controlar o movimento. (HENNEMANN, 
2013). 
A pesquisa mostrou a síndrome de Rett foi causada por uma mutação no gene 
MECP2. A proteína MeCP2 se liga e desliga genes com marcas epigenéticas. Sem 
função MeCP2 adequada, alguns genes ficar fora de sincronia. Ao identificar e 
manipular outras proteínas que desempenham funções semelhantes às MeCP2, os 
pesquisadores esperam que um dia melhorar as opções de tratamento para a 
síndrome de Rett. 
 
29 
 
Investigação em curso é saber que epigenética pode ser um fator chave nas 
outras doenças cerebrais, como a esquizofrenia, autismo, e doença de Alzheimer, o 
que indica a importância de identificar padrões epigenéticos por todo o genoma e 
como elas são alteradas pela doença. Ao contrário de mutações genéticas, as marcas 
epigenéticas podem ser revertidas. Na verdade, os EUA Food and Drug Administration já 
aprovou várias drogas que trabalham para melhorar os resultados de saúde, 
modificando estas marcas. 
Como muito do que sabemos agora sobre epigenética, muitas dessas drogas 
foram inicialmente identificadas por pesquisadores de câncer. Os cientistas do cérebro 
estão trabalhando para desenvolver drogas mais seguras e eficazes para melhorar a 
função cognitiva e do comportamento nas pessoas. 
 
13.6 Neurobiologia do cérebro 
O conhecimento do cérebro no nível básico é relevante porque os 
pesquisadores estão paulatinamente desvendando, com muito esforço, os “mistérios” 
estruturais e funcionais deste órgão vital. É igualmente relevante, para a área de 
neuro-cognição, pois há novos “insights” de como crianças e adolescentes, e mesmo 
na fase de bebês, aprendem (Bradsford et al, 2000; Silberg, 2003). Além disso, se há 
períodos denominados “críticos” ou “sensíveis” para a aquisição de funções de alto 
nível, na escala de Benjamin Bloom, se faz urgente averiguar (Bloom, 1956; Bailey et 
al., 2001; Crowe et al., 2008). 
Ademais, é importante para os educadores, visto que de posse deste tipo de 
conhecimento, poderão descobrir ou adaptar maneiras de enriquecer a experiências 
escolares, não só de crianças superdotadas e criativas, mas também do estudante 
mediano, do disléxico, e enfim todos aqueles cuja capacidade não é adequadamente 
avaliada pelo teste do QI ou outras medidas convencionais (Perkins, 1995). É de 
fundamental importância saber como a criança aprende para incrementar como lhe é 
ensinado (Saint-Onge,1999). Faz-se mister, que os pais estejam cientes, que as 
drogas no período pré-natal e o consumo de bebidas alcoólicas, nutrição maternal e a 
posterior interação com os recém-natos, possam afetar o cérebro em desenvolvimento 
(Nathanielsz, 1999). 
 
30 
 
A sociedade presume que o bebê nasce com uma capacidade intelectual fixa, 
isto é, alguns com capacidade média e uns poucos com capacidade realçada ou 
limitada de aprender. Contudo, a evidência neurocientífica aponta, que a formação 
dos circuitos neuronais, mais importantes, se expandem após o nascimento e 
dependem das experiências que a criança vivencia (Gopnik et al., 1999). O estudo do 
desenvolvimento e dos primeiros anos da infância mostra que alguns neurônios 
aumentam a “arborização” e expandem seus processos regulados por genes contidos 
nos cromossomas (Greenough, 1991; Slater & Lewis, 2002; Begley, 2007; Carroll et 
al., 2008). Assim, parte das estruturas mais primitivas do cérebro herdadas 
evolutivamente de nossos antepassados regula o automatismo do batimento cardíaco, 
freqüência respiratória e controle da temperatura corporal. Desta feita, algumas áreas 
do cérebro continuam a se desenvolver rapidamente, em particular, as conexões que 
respondem aos estímulos nos três primeiros anos de vida (Bruer, 1999). Em suma, a 
aprendizagem no seu nível mais elementar, é um processo resultante de alterações 
neuroanatômicas e neuroquímicas, semipermanentes ou permanentes na 
citoarquitetura cerebral. Por outro lado, a eficiência com a qual o cérebro “aprende” 
informação nova ou faz um ajuste na informação prévia, para adequar-se às novas 
circunstâncias ambientais, depende do grau de engajamento no contexto de 
aprendizagem em que se encontra o aprendiz (Assmann, 2004; Rose, 2006). 
 
13.7 Altas habilidades e Biologia do Cérebro 
O cérebro humano tem seu crescimento e desenvolvimento desde o período 
pós-natal até, em média, a idade de sete anos e amplia suas ligações sinápticas bem 
além da segunda década. Desta forma, o córtex de associação pré-frontal, cujas áreas 
estão envolvidas com o planejamento antecipatório e regulação do comportamento 
emocional, continuam a se desenvolver até a idade de 20 anos. O cérebro de meninos e 
meninas, mais inteligentes submetidos ao teste do QI, verificou-se que ele se 
desenvolve de maneira diferente (James, 2007; Relvas, 2009). O estudo indicou um 
atraso na maturação e espessura da camada do córtex pré-frontal (função executiva), 
em amostra de mais de 300 crianças e adolescentes de 6 a 19 anos. Estes estudantes 
foram avaliados por ressonância magnética funcional (fRMI) e outras técnicas de 
neuroimagem (Blakemore & Frith, 2005). Constatou-se que o crescimento do córtex 
 
31 
 
pré-frontal é mais lento, só atingindo o tamanho máximo em média em torno dos 11 
anos, enquanto o grupo comparativo de QI, mediano, isto já se dá aos 8 anos. O que 
parece uma deficiência, na realidade é uma vantagem, pois é uma estratégia 
programada para a formação de conexões (sinapses) múltiplas e mais complexas. 
Desta forma aumenta a velocidade do processamento da informação (Le Doux, 2002). 
Assim, na puberdade estas crianças de QI mais alto mostram, através de exames, 
córtex com maior espessura, do que as crianças da mesma faixa etária (Keverne, 
2004). 
13.8 Características comuns de pensadores com altas habilidades (AH) 
A memória e aprendizagem, ou se memória é aprendizagem, é outra 
preocupação educacional a qual a neurociência, está procurando esclarecer. No seu 
aspecto mais básico a aprendizagem é o processo para a aquisição da memória. 
Porém, processos neurológicos complexos ocorrem para transferir a informação recém 
obtida e transferi-la para o “banco” de memória de longa duração (consolidação), onde 
fica armazenada para ser usada de maneira inovadora e imprevisível. De fato, o 
cérebro possui múltiplos sistemas de memória, distribuídos nas estruturas do cérebro, 
os quais desempenham papéis específicos (Izquierdo, 2002; Longoni, 2003). Por 
exemplo, o sistema da memória motora entra em ação para o desenvolvimento de 
habilidades físicas como o simples andar, prática de exercícios físicos, dança. Por seu 
turno, o sistema da memória emocional influencia a aprendizagem da música e outros 
estímulos podem ajudar o educador prescrever ambientes, que conduzam tanto para 
as crianças ditas “normais” como àquelas que necessitam educação especial. Por sua 
vez, pensadores com AH, precocemente apresentam realce no padrão de 
sensibilidade, mais especificamente, musicalidade qual seja, violinistas respondem 
mais ao som do violino, trompetistas ao trompete. Observa-se também, realce na 
memória de curta duração (de trabalho), na eficiência e capacidade de reter detalhes 
de gravuras, ilustrações, fotos, sons. 
14 EVOLUÇÃO DO CÉREBRO E ALTAS HABILIDADES 
5.1 O cérebro triádico 
Às vezes a pessoa fica frustrada porque não obtém a cooperação, que precisa, 
dos familiares, amigos, colegas de trabalho da empresa ou escola onde trabalha 
 
32 
 
arduamente das segundas às sextas-feiras. Zanga-se porque eles parecem não 
aquilatar a importânciadas coisas, que fazem e parecem agir irracionalmente. Tal 
comportamento pode ter uma explicação simples: está em franca atividade o “cérebro 
reptiliano”. 
A teoria do “cérebro triádico”, idealizada por Paul MacLean, postula, que 
evolutivamente, o ser humano possui “três cérebros”, formados por camadas 
sobrepostas, ou seja, algo no formato, contemporaneamente, pode-se dizer “três em 
um”. Esta teoria talvez possa explicar, em parte, nosso comportamento e daqueles que 
nos cercam nos locais de trabalho e no ambiente em geral, inclusive o educacional 
(Lambert, 2003). 
14.1 O cérebro reptiliano 
Durante o desenvolvimento embrionário do feto, no interior do útero materno, 
observa-se uma repetição dos “passos” evolucionistas pelo que passou o cérebro dos 
vertebrados na trajetória rumo a maior complexidade observada notadamente nos 
primatas. A parte mais básica é o tronco cerebral (Karp & Berrill, 1981). Este 
emaranhado de circuitos neurais é considerado pela teoria de P. MacLean, como 
sendo o cérebro reptiliano. É avaliado como muito primitivo na sua estruturação da 
circuitaria neuronal, um resquício de nosso passado evolutivo pré-histórico. Responde 
prontamente aos estímulos com resposta adequada, não sofisticada. O cérebro regula 
as funções do corpo, reações que asseguraram e continuam a fazê-lo para nossa 
sobrevivência. É extremamente útil para reações rápidas, sem pensar muito. O 
cérebro reptiliano centra-se em ações de quando o indivíduo está em perigo, quer se 
“safar” logo, sem muitas delongas! 
Naquele mundo primevo da sobrevivência do mais apto ou mais sagaz, essa 
porção do cérebro canalizava ações de como obter comida e não ser “alimento” de 
predador eventual, enfrentar oponente, ou parlamentar, ou dependendo fugir. Esta 
porção do cérebro é mais movida pelo “medo/temor” e assume o controle do que fazer, 
quando a pessoa se sente ameaçada (real ou imaginariamente) ou quando percebe a 
sensação iminente de morte. Com o passar do tempo evolutivo, uma camada de 
neurônios de características “olfatórias” sobrepôs-se à estrutura do cérebro primitivo. A 
capacidade expandida do sensorial olfatório, baseada em feromonas nos 
organismos mais simples, melhorou a possibilidade de sobrevivência do indivíduo. O 
 
33 
 
animal aprendeu a discriminar alimento comestível do tóxico, avaliar melhor presa de 
predador, e consequentemente a tomada de decisão frente a situações, do que comer 
ou evitar (Cartwright, 2001). 
14.2 O cérebro “felino” 
Gradualmente o “cérebro olfatório” tornou-se o âmago para outra sobreposição 
de camadas de células neuronais à medida que o indivíduo interagia com o meio. Esta 
nova projeção cresceu no formato de “anel” ao redor do tronco cerebral, e passou a 
ser chamada de “sistema límbico”. No decorrer do tempo essa estrutura neural evoluiu 
progressivamente, lançando conexões para o hipocampo primitivo. Houve um 
refinamento nos processos de aprendizagem & memória em certos mamíferos e 
primatas. O alimento deixou de ser meramente saudável ou tóxico e passou a ser 
discriminado como “bom” ou “ruim”, com repercussões até os dias atuais. Este cérebro 
olfatório primitivo tornou-se a base rudimentar, que originou posteriormente o 
neocórtex e as divisões pré-frontais. Com o crescimento das ramificações, o sistema 
límbico passa a ser a fonte do “prazer” das “emoções & sentimentos” afetando o humor e 
as funções orgânicas do indivíduo, como um todo (LeDoux, 2000; Newman & Harris, 
2009). 
14.3 O neocortex 
É a parte mais evoluída do cérebro triuno, a “lâmina pensante” o cérebro do 
Homo sapiens, sapiens mostra substancial crescimento e complexidade no sistema de 
colunas e arranjos dos neurônios e glia em termos evolutivos relativamente recentes. 
Consiste em grande medida, de camada fina de neurônios do neocortex, que 
“envelopa” as estruturas abaixo (Allman, 2000). Permite-nos particularmente pela 
ativação da porção do córtex pré-frontal, o planejamento de longo prazo, tomada de 
ações estratégicas, a função executiva. 
O neocortex é o “oceano do pensamento” (raciocínio), compreensão, arte e 
imaginação. Junta sutileza e elegância à vida emocional. O desejo e o prazer sexual 
são maquinados no sistema límbico, mas é o neocortex, entretanto, que gera a afeição 
maternal, o que não se observa em vertebrados inferiores. É esse liame, de mútua 
proteção entre pais e filhos, que assegura os cuidados da prole durante o período da 
longa infância nos primatas em geral, mas mais particularmente no caso humano. 
 
34 
 
Como já enfatizado, o cérebro reptiliano primitivo está intimamente relacionado com as 
funções instintivas básicas. Embora o neocortex seja voltado para a ação racional, por 
exemplo, o pensamento, o sistema límbico pode rapidamente assumir o comando em 
situações de emergência (Kandel et al., 2003). Em situações de perigo o que o 
organismo deseja é resposta imediata, age o instinto de sobrevivência, e não longas 
deliberações filosóficas! 
 
 
 
14.4 Evolução e psique 
A evolução além de selecionar as características físicas do indivíduo melhor 
adaptadas ao meio ambiente pretérito, também selecionou mecanismos psíquicos 
mais vantajosos para lidar com situações sociais da época. Assim, vê-se que nosso 
cérebro não foi selecionado para viver num ambiente urbano, altamente tecnológico 
como o atual. Para as funções básicas do cérebro, que organiza a homeostasia do 
corpo, isto é, as condições do ambiente interno e os processos dos mecanismos 
reguladores pela retroalimentação, isto não importa, mas para outras, como a ativação 
crônica do sistema de alarme, pode ser desastroso para o organismo, como 
manifestações inesperadas de ansiedade (Morgan, 1982, 1995; Barondes, 1998; 
Cartright, 2001; Pinel, 2005; Fox, 2007). 
A maioria das hipóteses da evolução do cérebro dos vertebrados sugere que os 
cérebros maiores em proporção a massa do corpo, se correlacionam com maior 
habilidade cognitiva. As pressões adaptativas para tal habilidade presumem-se, devem 
ter vindo de variáveis ecológicas, pois o conhecimento e localização de fontes 
alimentares dependiam de mapas cognitivos complexos. Da mesma forma, e 
particularmente, nos primatas de vida sociais mais evoluídos, requeria a 
armazenagem desta informação nas estruturas da memória. O processamento da 
informação espacial é particularmente ativado nos circuitos neurais do hipocampo, 
sendo que nas espécies animais que armazenam e escondem alimentos, é 
sobremaneira volumoso. Por sua vez, nos primatas de intensa vida social, e que vivem 
em grupos, incluindo os antecessores do homem atual, a estrutura neural mais 
volumosa é o neocórtex (Dunbar, 1992; Roth & Dicke, 2005). 
 
35 
 
A precocidade intelectual (fenômeno internacional) conjectura-se está baseada 
na psique humana (programada no genoma), como resultado da evolução da 
linguagem, com finalidade de coesão social do grupo (Barrett et al., 2002). Assim, na 
sociedade proto-humana, onde a linguagem estava começando a se desenvolver, uma 
pessoa com superioridade no uso desta linguagem, poderia ter compreensão 
privilegiada da relação entre os membros do grupo, e ser vista com potencial poder de 
manipular, explorar e distorcer a estabilidade das relações sociais (Pinker, 1994; 
1994). Tal indivíduo poderia ser percebido de possuir poderes injustos de persuasão, 
gerando medo nos demais, e que pudesse usufruir de vantagens sociais incompatíveis 
(Dunbar, 1996; Geake, 2000). 
Atualmente, as pessoas com altas habilidades intelectuais, em geral, são vistas 
como tendo um passaporte para a educação superior e empregos bem remunerados e 
de prestígio, desde que possam usufruir de sólidos programas de apoio (Freitas, 
2006). O contraponto é que em certos setores educacionais e da comunidade, tem-se a 
visão que o aluno com altas habilidades, embora brilhante, seja arrogante, 
autoconfiante e autocentrado, e que, portanto, não precisariade orientação. 
14.5 Evolução da mente 
A mente é considerada uma “entidade” que foi construída com lentidão 
temporal, que em função de um substrato biológico extremamente complexo, gera o 
processo mental. Nos humanos os domínios da mente, tais como social, linguístico, 
naturalista estão integrados, permitindo a emergência do pensamento simbólico, 
sendo extremamente primitivo nos antepassados hominídeos. Assim, a mente do 
chimpanzé e a mente humana, além da diferença do grau de complexidade, mostram 
profunda diferença estrutural (Deacon, 1997; Mithen, 1998; Ornstein, 1998; Rapchan, 
2005). O mecanismo de internalizar a experiência advinda da interação com o meio 
ambiente, torna-se básico para a construção da mente. Funções superiores do cérebro, 
tais como memória, sono e sonho, linguagem, pensamento, emergem da configuração 
de grupos neuronais interagindo com estímulos internos e externos oriundos do meio 
(Carter, 2002). Desta feita, o sistema nervoso mais complexo, é como se fosse uma 
interface, que permite o indivíduo organizar a informação captada pelos canais 
sensoriais, e transformá-la em significado. O complexo cérebro-mente lida com a 
informação inicialmente no plano dos receptores sensoriais. Assim, se tivéssemos uma 
 
36 
 
banana, suas qualidades físicas seriam analisadas e decodificadas pelo indivíduo, de 
acordo com a experiência, aprendizagem e memória anterior, como forma, cor, se está 
madura, lembrança do sabor, (Levitan & Kaczmarek, 1997). Depois as informações são 
processadas na esfera intracerebral e se atribui significado no nível semântico. Então, 
a banana pode ser vista como meramente uma fruta saborosa, ou se fazer cogitações 
sobre suas qualidades nutricionais, aos turbantes de Carmen Miranda ou alusão 
pejorativa à “Banana Republics”. A mente tenta decodificar o mundo e dar-lhe ordem e 
significado (Varela et al.,1991; Rose, 1992). A imprecisão e a contradição são inerentes 
ao raciocínio humano. Na dúvida, procura-se pelo pensamento difuso, nebuloso de 
lidar com a imprecisão e a ordem e desordem das coisas e eventos (Herbert, 1993; 
Harth, 1993; Greenpan e Benderly, 1997). Essa forma de pensamento busca 
alternativas por meios de raciocínio “desconstrutivo”, conduzindo a criatividade 
(Hofstadter, 1980; Demo, 2002; Edelman, 2006). 
14.6 Eficiência na codificação de informação de entrada 
O binômio cérebro e mente é uma entidade biológica. A cognição pode ser vista 
como uma função do cérebro, a semelhança de como a regulação cardiovascular é 
uma função do sistema cardiovascular, dependente das variáveis de pressão 
sanguínea, frequência cardíaca e resistência periférica. Assim, estímulos do ambiente 
disparam mecanismos biológicos já presentes no sistema nervoso, e como 
consequência alterações na estrutura e função neural. A relação entre estímulo e 
resposta é de caráter evolutivo acumulado na história de cada espécie animal ou 
vegetal. Por exemplo, a experiência altera a estrutura dos neurônios, a taxa de 
potencial sináptico, a circuitária do cérebro. Então, a informação de entrada, captada 
pelos órgãos sensoriais, modifica a descarga de neurotransmissores, a estrutura dos 
elementos pré e pós-sinápticos e, portanto, a informação de saída no circuito ou 
coluna neural. Em suma, o meio-ambiente seleciona características e processos já 
existentes no sistema nervoso do indivíduo levando a alterações. 
A organização da estrutura neural pode ser dividida nos níveis da genômica, 
molecular, sináptico, celular os quais estão subjacentes e geram o comportamento e 
as funções mentais do indivíduo (Black, 1992). Em termos de aplicação para pessoas 
com altas habilidades, significa que um maior número de áreas cerebrais é usado na 
codificação inicial da informação de entrada, memória de trabalho mais “eficiente” e 
 
37 
 
atenção para resolver problemas complexos (a informação fica mais tempo na mente). 
Manifesta-se por realce no reconhecimento e recordação de padrão, prática e 
repetição leva a perfeição, como por exemplo, aprendizagem manual bilateral: 
pianistas versus não-pianistas. Usam várias áreas cerebrais para tarefas especiais, 
por exemplo, prodígio em matemática resolvendo tarefa complexa. Maior número de 
associações e analogias pode resultar em processamento da informação mais lento, 
porém com inúmeras ligações, maiores possibilidades de escolhas. Há tendência de 
focar em lacunas do conhecimento (Dehaene e Cohen, 2007). Sob a perspectiva de 
atenção “criativa” pode desenrolar na elaboração de metas, planos e tomadas de 
decisão. Além disso, grau de abstração, simplificação de situações complexas, 
elaboração de análises, prioridades de ideias, convergência de pontos em comum. O 
indivíduo de altas habilidades aprecia “sistemas”, categorias, raciocínio dedutivo 
verbal, aprendizagem por conceitos, exatidão e dedução por formalismo matemático, e 
muitas vezes dotado de notável memória verbal e semântica (Moraes e Torre, 2004). 
14.7 Neuroplasticidade e “talentosidade” 
Quando o indivíduo vivencia certa experiência, este evento altera as conexões 
neurais. Determinada experiência faz com que haja descarga de potenciais de ação 
(impulsos elétricos) nos circuitos que detectaram esta experiência, especialmente se foi 
significativa. Descargas de potenciais de ação repetidas levam a mudanças estruturais 
nas sinapses neuronais, as quais tornam-se permanentes. Neste caso, ocorre 
aumento de ramificações, do volume, da densidade, da área sináptica, número dos 
receptores e concentração dos neurotransmissores. A organização funcional do 
cérebro do indivíduo é a resultante da competição por domínio de espaço funcional no 
mapa cortical. Como a circuitaria cerebral não é fixa e sim maleável, estes mapas 
corticais podem se alterar visivelmente no período de dias ou semanas. Estudos com 
registro de respostas por neuroimagem (fMRI) documentaram alterações em 
pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, e recuperaram parcialmente seus 
movimentos após sessões de fisioterapia (Mark et al., 2006). Assim, neuroplasticidade é 
a capacidade do cérebro alterar-se fisicamente inclusive com estimulação cognitiva. 
Torna-se um importante conceito na educação das crianças desde a pré-escola até as 
séries iniciais do ensino fundamental, mas não se esgota, pois acompanha a vida da 
pessoa. Deve-se ao papel desempenhado pela acumulação de conhecimento informal 
 
38 
 
e a taxa progressiva de leitura, contribuindo ambas ações para a aprendizagem. À 
medida que cresce o conhecimento pelas experiências diretas ou indiretas e 
oportunidades de leituras, suscitam alterações estruturais no cérebro. 
14.8 Crianças com altas habilidades e talentosas e a Neurocognição 
A meta da neurociência cognitiva é descobrir estratégias educacionais 
informadas pela investigação que possam ter relevância para a educação do 
superdotado e na formação dos educadores. Todavia, as hipóteses e informações 
disponíveis são conflitantes sobre indivíduos que apresentam “alta performance”, e 
ficam as indagações (HENNEMANN, 2013): 
 
 Será que usam mais áreas (circuitos) do cérebro para o desempenho da 
tarefa? 
 Será que usam menos áreas do cérebro para completar a tarefa? 
 Será que possuem maior densidade de neurônios com maior número de 
conexões entre eles? 
 Mostram comportamento mais “reflexivo” frente a uma situação? 
 Mostram trajetórias de desenvolvimento cognitivo diferenciado que afetam a 
capacidade intelectual? 
 Pensam mais rápido? 
 São mais hábeis? 
 Têm maior número de neurônios em certas áreas do cérebro? 
 Estrutura cerebral ainda “amadurecendo” embora conhecimento cristalizado 
acima da média e acima de testes psicométricos? 
 Qual a relação entre emocional & desenvolvimento cognitivo substancial? 
 Contudo, desenvolvimento emocional menos desenvolvido do que habilidade 
intelectual, i. e. desenvolvimento assincrônico, o emocional

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