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TEOLOGIA TRINITÁRIA CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA – EAD Teologia Trinitária – Prof. Dr. Pe. Julio Endi Akamine Meu nome é Julio Endi Akamine. Sou graduado em Filosofia, pela Universidade Católica do Paraná (Curitiba), e em Teologia, pelo Studium Theologicum de Curitiba. Fiz Especialização (Mestrado e Doutorado) em Teologia Sistemática na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Tenho experiência no campo de formação de padres e de irmãos da Sociedade do Apostolado Católico (SAC-Palotinos). Colaborei, por seis anos, no Secretariado Internacional para a Formação da SAC. Resido, atualmente, em São Paulo (SP) e exerço a função de Reitor na Província São Paulo Apóstolo desde janeiro de 2008. Desde 1995, leciono no Instituto de Teologia Studium Theologicum de Curitiba. Ministrei as disciplinas Introdução à Teologia, Teologia Fundamental, Sacramentologia Geral, Sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia, bem como Eclesiologia. Atualmente, leciono a disciplina Teologia Trinitária. No Centro Universitário Claretiano, sou autor do Material Didático Mediacional de Teologia Trinitária. e-mail: jeakamine@tiscali.it TEOLOGIA TRINITÁRIA Prof. Dr. Pe. Julio Endi Akamine Plano de Ensino Caderno de Referência de Conteúdo Caderno de Atividades e Interatividades © Ação Educacional Clare� ana, 2008 – Batatais (SP) Trabalho realizado pelo Centro Universitário Clare� ano de Batatais (SP) Curso: Bacharelado em Teologia Disciplina: Teologia Trinitária Versão: jul./2010 Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula Pró-Reitor Administra� vo: Pe. Luiz Claudemir Bo! eon Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida Coordenador Geral de EAD: Prof. Ar� eres Estevão Romeiro Coordenador do Curso de Bacharelado em Teologia: Prof. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos Coordenador de Material Didá� co Mediacional: J. Alves Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Preparação Aletéia Patrícia de Figueiredo Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Cá� a Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Elaine Cristina de Sousa Goulart Josiane Marchiori Mar� ns Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Luiz Fernando Trentin Patrícia Alves Veronez Montera Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Revisão Felipe Aleixo Isadora de Castro Penholato Maiara Andréa Alves Rodrigo Ferreira Daverni Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Renato de Oliveira Violin Tamires Botta Murakami Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Centro Universitário Claretiano Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretiano.edu.br SUMÁRIO PLANO DE ENSINO APRESENTAÇÃO1 .................................................................................................. 9 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA2 ........................................................................... 11 CONSIDERAÇÕES GERAIS3 ................................................................................... 12 BIBLIOGRAFIA BÁSICA4 ........................................................................................ 13 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR5 ........................................................................ 14 CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO INTRODUÇÃO1 ..................................................................................................... 15 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA2 ................................................. 16 REVELAÇÃO BÍBLICUNIDADE 1 ! A OBJETIVOS1 .......................................................................................................... 53 CONTEÚDOS2 ....................................................................................................... 53 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 .................................................... 54 INTRODUÇÃO À UNIDADE 4 ................................................................................. 54 QUESTÕES INTRODUTÓRIAS5 .............................................................................. 55 REVELAÇÃO DE DEUS COMO PAI DE JESUS6 ........................................................ 61 JESUS REVELA"SE7 ................................................................................................ 65 FILHO ENCARNADO PELA AÇÃO DO ESPÍRITO8 .................................................... 66 JESUS UNGIDO NO ESPÍRITO SANTO9 .................................................................. 67 REVELAÇÃO TRINITÁRIA NO EVENTO DA MORTE DE JESUS10 ............................... 73 RESSURREIÇÃO DE JESUS E A REVELAÇÃO DA TRINDADE11 .................................. 78 ESPÍRITO DO FILHO ENVIADO AOS NOSSOS CORAÇÕES 12 ................................... 82 O DOM DO ESPÍRITO13 .......................................................................................... 84 A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO14 ............................................................ 90 DIVINDADE DO FILHO E DO ESPÍRITO15 ................................................................ 91 TEXTOS TRIÁDICOS16 ............................................................................................. 92 ANTIGO TESTAMENTO17 ........................................................................................ 96 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS18 ............................................................................ 99 CONSIDERAÇÕES19 ................................................................................................ 100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS20 .......................................................................... 101 TEOLOGIA E DOGMA TRINITÁRIO NA IGREJA ANTIGUNIDADE 2 ! A OBJETIVOS1 .......................................................................................................... 103 CONTEÚDOS2 ....................................................................................................... 103 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 .................................................... 104 INTRODUÇÃO4 ..................................................................................................... 104 PADRES APOSTÓLICOS5 ........................................................................................ 106 APOLOGETAS6 ...................................................................................................... 108 FINAL DO SÉCULO E INÍCIO DO SÉCULO 117 6 CRISE ARIANA E O CONCÍLIO DE NICÉIA8 ............................................................. 137 PADRES CAPADÓCIOS9 ......................................................................................... 158 CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA I !31710 1 CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA II !51711 4 CONCÍLIOS MEDIEVAIS12 ....................................................................................... 177 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS13 ............................................................................ 179 CONSIDERAÇÕES14 ................................................................................................ 180 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS15 .......................................................................... 181 VIDA INTERNA DE DEUUNIDADE 3 " S OBJETIVOS1.......................................................................................................... 183 CONTEÚDOS2 ....................................................................................................... 183 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 .................................................... 184 INTRODUÇÃO4 ..................................................................................................... 184 DA ECONOMIA À TEOLOGIA5 ............................................................................... 185 MISSÕES ECONÔMICAS6 ...................................................................................... 195 PROCESSÕES IMANENTES7 .................................................................................. 198 ANALOGIA DA MENTE HUMANA: 8 SANTO AGOSTINHO E SANTO TOMÁS DE AQUINO ............................................ 200 ANALOGIA DO AMOR INTERPESSOAL: RICARDO DE SÃO VÍTOR9 ........................ 207 RELAÇÕES DIVINAS10 ............................................................................................. 210 PESSOAS DIVINAS11 ............................................................................................... 215 NOÇÕES, PROPRIEDADES E APROPRIAÇÕES12 ...................................................... 222 PERICHORESIS OU CIRCUMINCESSIO 13 ................................................................ 226 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS14 ............................................................................ 229 CONSIDERAÇÕES15 ................................................................................................ 230 E#REFERÊNCIAS16 .................................................................................................. 231 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS17 .......................................................................... 231 FÉ TRINITÁRIA E VIDA CRISTUNIDADE 4 � à OBJETIVOS1 .......................................................................................................... 233 CONTEÚDOS2 ....................................................................................................... 233 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 ..................................................... 234 INTRODUÇÃO4 ..................................................................................................... 234 TRINDADE E TRANSCENDÊNCIA HUMANA5 ......................................................... 234 PAI/MÃE, HOMEM E MULHER6 ........................................................................... 237 DIVINIZAÇÃO, JUSTIFICAÇÃO E FILIAÇÃO7 ........................................................... 239 SOFRIMENTO DE DEUS8 ....................................................................................... 241 ESSÊNCIA, RELAÇÃO E INABITAÇÃO9 ................................................................... 243 MISSÃO DIVINA E MISSÃO DA IGREJA10 ................................................................ 246 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA11 ............................................................................... 249 CONSIDERAÇÕES FINAIS12 ..................................................................................... 249 E�REFERÊNCIAS13 .................................................................................................. 250 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS14 .......................................................................... 250 1 Plano de Ensino APRESENTAÇÃO1. Seja muito bem-vindo(a)! Você está prestes a iniciar o estu- do da disciplina Teologia Trinitária, que compõe o curso de Bacha- relado em Teologia na modalidade EAD. A teologia trinitária é a tentativa de entender e interpretar o mistério central cristão de um só Deus em três Pessoas iguais e distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28,19; 2Cor 13,13). Como você já está se habituando nesta nova disciplina, saiba que não fará este percurso sozinho. Percorreremos, juntos, a reve- lação bíblica do adorável mistério trinitário, visitaremos as etapas mais importantes da formação do dogma trinitário e, num esforço de aprofundamento pessoal e de atualização, procuraremos refle- tir sobre o significado e a pertinência do mistério para a vida cristã e para a vida social. Ao longo do curso de Bacharelado em Teologia, você já teve oportunidade de entrar em contato com muitas disciplinas que lhe PE © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 10 deram uma ideia global do mistério cristão de Deus e da salvação que o Pai, o Filho e o Espírito Santo querem comunicar a nós. Ora, nesta disciplina, nos voltamos não para as verdades re- veladas, mas, sim, para a própria Verdade que se revela. Todas as verdades reveladas aos seres humanos para sua salvação estão subordinadas a Deus, que tem prioridade absoluta sobre todos os temas da Teologia. Ao mesmo tempo, todos os temas teológicos, à sua maneira, nos aproximam do mistério de Deus. Se isto se verificou em todas as disciplinas estudadas até agora, com muito mais razão verificar- se-á na disciplina do Deus Trino. Quando o caminho a ser trilhado não é conhecido, neces- sitamos de um guia. Ele normalmente segue à nossa frente e nos indica o caminho. Mas, em algumas ocasiões, ele simplesmente fornece alguns sinais indicativos e nos deixa viajar sozinhos. Assim será o percurso desta disciplina. O Caderno de Referência de Conteúdo será um instrumento para "abrir caminho": pretende ajudá-lo a se embrenhar nesta lu- minosa e imensa floresta do mistério de Deus. Em alguns momentos, porém, você será convidado e instado a "fazer seu próprio caminho". Com efeito, às vezes, a estrada cos- tumeira torna-se impraticável: mudou-se o contexto cultural em que a fé sempre se exprimiu; mudaram-se as urgências; mudaram- se os interlocutores. Este é o momento de arriscar uma nova ver- balização criativa do mistério eterno. Para isso, é importante que você siga o guia, mas, ao mesmo tempo, estabeleça com ele uma relação de respeitosa e crítica au- tonomia, procurando, também, outros autores e outras leituras, abrindo-se às urgências da realidade em que você vive e confron- tando-as com o adorável mistério trinitário. © Plano de Ensino 11 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA2. Ementa Os principais textos do Novo Testamento. Os inícios da ela- boração do dogma trinitário no período patrístico. As definições do Magistério da Igreja. Os debates da Teologia atual. Os mode- los trinitários. A analogia psicológica de Agostinho e Tomás de Aquino. Analogia do amor interpessoal de Ricardo de São Vitor. O significado salvador do mistério trinitário para o cristão e para o mundo contemporâneo. Objetivo geral Os alunos da disciplina Teologia Trinitária do curso de Ba- charelado em Teologia na modalidade EAD do Claretiano, dado o Sistema Gerenciador de Aprendizagem e suas ferramentas, serão capazes de interpretar os dados bíblicos da tradição teológica tri- nitária para confrontá-los com as urgências e as questões atuais da Igreja e do mundo. Com esse intuito, os alunos contarão com recursos técnico- pedagógicos facilitadores de aprendizagem, como Material Didá- tico Mediacional, bibliotecas físicas e virtuais, ambiente virtual, acompanhamento do professor responsável, do tutor a distância e tutor presencial complementado por debates no Fórum. Ao final desta disciplina, de acordo com a proposta orien- tada pelo professor responsável e tutor a distância, terão condi- ções de interagir com argumentos contundentes, além de disser- tar com comparações e demonstrações sobre o tema estudado nesta disciplina, elaborar um resumo, ou uma síntese, entre ou- tras atividades. Para esse fim, levarão em consideração as ideias debatidas na Sala de Aula Virtual, por meio de suas ferramentas, bem como o que produziram durante o estudo. © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 12 Competências, habilidades e atitudes Ao finaldeste estudo, os alunos do curso de Bacharelado em Teologia contarão com uma sólida base teórica para fundamen- tar criticamente sua prática profissional. Adquirirão não somente as habilidades necessárias para cumprir seu papel nesta área do saber, mas também estarão capacitados para agir com ética e res- ponsabilidade social, contribuindo, assim, para a formação inte- gral do ser humano. Modalidade ( ) Presencial ( X ) A distância Duração e carga horária A carga horária da disciplina Teologia Trinitária é de 30 ho- ras. O conteúdo programático para o estudo das quatro unidades que a compõe está desenvolvido no Caderno de Referência de Conteúdo, anexo a este Plano de Ensino, e os exercícios propostos constam no Caderno de Atividades e Interatividades. É importante que você releia no Guia Acadêmico do seu curso as informações referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da disciplina Teologia Trinitária, descritas pelo tutor na ferramen- ta “cronograma” na Sala de Aula Virtual – SAV. CONSIDERAÇÕES GERAIS3. Este Plano de Ensino serve como um mapa que, normal- mente, você consulta antes de iniciar uma viagem rumo a um novo lugar. Evidentemente, o mapa não substitui a viagem: de nada adiantaria ter um excelente mapa, cheio de informações precisas e de detalhes minuciosos se você não se decidir a em- preender a viagem. © Plano de Ensino 13 Como todo mapa, o Plano de Ensino só será útil para ajuda se for consultado antes e durante a viagem. Como um rio caudaloso e longo, a disciplina que estudaremos tem uma infinidade de afluen- tes que possuem, também, seus afluentes. Para não se perder na viagem e chegar ao seu destino, é pre- ciso que o mapa indique com clareza o ponto de partida, o percur- so e o ponto de chegada. Certamente, você sentirá, às vezes, a tentação de se internar num dos afluentes. Mas por mais belos e sedutores que sejam, é preciso não se desviar do destino final: o mistério fascinante e tremendo de Deus Uno e Trino. Por isso, este Plano de Ensino apresenta os conteúdos da dis- ciplina, organiza em unidades as etapas do estudo e indica a biblio- grafia, na qual você poderá se aprofundar nos temas apresentados no Caderno de Referência de Conteúdo de maneira sucinta. Nossa viagem, porém, não é a de um "cavaleiro solitário": ela será feita com outros estudantes e com a ajuda do tutor. Viajar em boa companhia e com a ajuda de um guia torna a viagem mais agradável e encorajadora. Assim, as atividades do Caderno de Atividades e Interativi- dades não têm o objetivo de se tornar obstáculos. Pelo contrário, a realização de tais atividades, bem como sua participação ativa e bem preparada, são ações que vão ajudá-lo a reter melhor os conceitos na memória, a entender com mais clareza os conteúdos e a guardar com mais afeto e amor o adorável mistério que rece- bemos na fé e que celebramos na liturgia e na oração. Que bom que você se decidiu por fazer esta fascinante viagem! BIBLIOGRAFIA BÁSICA4. BINGEMER, M.; FELLER. V. Deus Trindade: a vida no coração do mundo. Valencia: Siquem, 2002. FEINER, J.; LÖRER, M. (Org.). Mysterium Salutis, vol. II/1. Petrópolis: Vozes, 1978. LADARIA, L. O Deus vivo e verdadeiro. São Paulo: Loyola, 2005. © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 14 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR5. BENTO XVI. Carta Encíclica "Deus é amor". São Paulo: Paulus / Loyola, 2005. BOFF, L. A Trindade e a sociedade. Petrópolis: Vozes, 1987. ______. O Pai-nosso. A oração da libertação integral. Petrópolis: Vozes, 1980. CODA, P. O evento pascal. Trindade e história. São Paulo: Cidade Nova, 1987. COMBLIN, J. O Espírito no mundo. Petrópolis: Vozes, 1978. DE HALLEUX, A. «Dieu le Père tout-puissant», RThL 8 (1977) 401-422. DURRWELL, F. O Pai: Deus em seu mistério. São Paulo: Paulinas, 1990. FORTE, B. A Trindade como história. São Paulo: Paulinas, 1987. ______. Trindade para ateus. São Paulo: Paulinas, 1998. GALVÃO, A. M. A Santíssima Trindade. O mistério de três pessoas e um só Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2000. GESCHÉ, A. Deus. São Paulo: Paulinas, 2004. KASPER, W. El Dios de Jesucristo. Salmanca: Sigueme, 1990. KLOPPENBURG, B. Trindade. Petrópolis, Vozes, 2000. LIBÂNIO, J. Deus Espírito Santo. São Paulo: Paulinas, 2000. LIBÂNIO, J. Deus Pai. São Paulo: Paulinas, 2000. LOHFINK, N. Deus. Politeísmo e monoteísmo na linguagem sobre Deus no Antigo Testamento. In: ID. Grandes manchetes de ontem e de hoje. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 151-170. LORENZEN, L. Introdução à Trindade. São Paulo: Paulus, 2002. MOLTMANN, J. Trindade e Reino de Deus. Petrópolis: Vozes, 2000. O’DONNELL, J. Il mistero della Trinità. Casale Monferrato: Piemme, 1989. PASTOR, F. Semântica do Mistério. São Paulo: Loyola, 1982. PATFOORT, A. O mistério do Deus vivo. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1983. PIKASA, X.; SILANES, N. Dicionário Teológico o Deus cristão. São Paulo: Paulus, 1988. QUEIRUGA, A. T. Creio em Deus Pai. O Deus de Jesus como afirmação plena do humano. São Paulo: Paulinas, 1993. RAHNER, K. Algumas observações sobre o tratado dogmático De Trinitate. In: ID. O dogma repensado. São Paulo: Paulinas, 1970, p. 217-253. SCHEEBEN, M. A Santíssima Trindade, São Paulo: Paulus, 1999. SCHNEIDER, T. H. (Org.), Manual de dogmática (vol. II), Petrópolis: Vozes, 2001. SESBOÜÉ, B. (Org.) História dos dogmas (tom. I: O Deus da salvação. A tradição, a regra de fé e os Símbolos; a economia da salvação; o desenvolvimento dos dogmas trinitários e cristológicos). São Paulo: Loyola, 2002. SIMONETTI, M. La crisi ariana nel IV secolo. Roma: 1975. SMAIL, T. A pessoa do Espírito Santo. São Paulo: Loyola, 1998. SPIDIK, T. Nós na Trindade. Breve ensaio sobre a Trindade. São Paulo: Paulinas, 2004. STUDER, B. Dios Salvador en los padres de la Iglesia. Salamanca: Secretariado Trinitario, 1993. VVAA. O Espírito Santo na Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1988 (Cadernos Bíblicos 45). CRC Caderno de Referência de Conteúdo INTRODUÇÃO1. Seja bem-vindo(a) ao estudo da disciplina Teologia Trinitária, dis- ponibilizada para você em ambiente virtual (Educação a Distância). Como você poderá constatar, nesta parte, denominada Ca- derno de Referência de Conteúdo, encontra-se o conteúdo básico das quatro unidades em que se organiza a presente disciplina. O estudo que agora vamos iniciar tem como assunto princi- pal o que a revelação cristã nos propõe como o mistério da nossa salvação: Deus é uno e trino. A fé é a resposta obediente do ser humano ao Deus que se revela como realmente é: como Pai, Filho e Espírito Santo. Como "explicar" esse mistério de que os Três são um só Deus? Como "dar razões" de nossa fé num só Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo? Inicialmente, voltaremos nossa atenção para a própria reve- lação bíblica. Recolhendo os dados bíblicos, veremos como a uni- © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 16 dade divina não é um dado prévio à revelação cristã. A própria revelação mostra que não há unidade divina sem trindade e vice- versa. Assim, a doutrina da unidade de Deus recebe da revelação trinitária um sentido novo e muito mais profundo. A unidade di- vina que a fé cristã afirma é a unidade na Trindade, enquanto que não se pode entender a Trindade sem levar em conta a unidade divina, Trindade na unidade. A fé na Trindade entendeu-se, sem- pre, como a forma mais elevada da fé em um só Deus. Prosseguiremos nosso estudo recolhendo os dados da tradi- ção teológica da Igreja. Essa tradição teológica transmitiu a termi- nologia bíblica, mas também cunhou outra nova, mais adaptada à cultura e à filosofia na qual os cristãos deviam exprimir, também racionalmente, sua fé trinitária. Estudaremos expressões técnicas teológicas em sua gênese e evolução até sua plena significação ad- quirida na atualidade. Com o auxílio desse aparato técnico e da compreensão a ele ligado, teremos condições de fazer uma reflexão sistemática sobre o método teológico que decorre do axioma fundamental sobre a vida interna deDeus Trino e sua relação com a vida cristã. Esperamos que este programa atenda às suas expectativas em relação ao tema desta disciplina. Bom estudo! ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA2. Abordagem Geral da Disciplina Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es- tudado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. No entanto, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa cons- 17© Caderno de Referência de Conteúdo truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos co- meçar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princí- pios básicos que fundamentam esta disciplina. Iniciemos com uma pergunta: o que é e como estudar a te- ologia trinitária? Teologia trinitária é um esforço e uma tentativa para se en- tender e se interpretar o mistério central cristão de um só Deus em três Pessoas iguais e distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 1) Teologia trinitária é, inicialmente, esforço e tentativa. Es- forço indica trabalho mental, ânimo e coragem em um empreen- dimento. De fato, a teologia exige não somente mobilização das energias da razão e da vontade, mas também o desejo e a esperan- ça de conhecer e de aprender. A teologia é, além disso, tentativa, ou seja, relaciona-se com a experiência. Não é somente penetra- ção intelectual e trabalho teórico, mas, especialmente, experiên- cia, sabedoria e prática. 2) É um esforço e uma tentativa finalizados a entender e a interpretar o mistério central cristão. Se, de um lado, a teologia existe porque a razão procura e ama entender, de outro, o teólogo deve se aproximar do mistério cristão com algumas "atitudes me- todológicas" que o guiam ao longo de todo o processo de seu falar sobre Deus. Vejamos algumas dessas atitudes: A primeira atitude é a a) humildade intelectual. Diante do mistério inefável, devemos proceder com modéstia: ex- perimentamos, logo “de cara”, a pobreza e a inadequa- ção de nossas palavras para exprimir o que é indizível e descrever o mistério absoluto de Deus. Este, de fato, supera todas as nossas categorias. Sobre Deus, podemos dizer mais o que ele não é do que realmente ele é. Humildade intelectual não significa, porém, medo e ti-b) midez. Apesar da precariedade de nossas categorias e nossas palavras, podemos afirmar diversas verdades re- © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 18 lativas ao Deus que se revelou mediante Jesus Cristo e o dom do Espírito. Evidentemente, mesmo depois da au- torrevelação e da autocomunicação divina, Deus perma- nece mistério primordial. Deus não é somente mistério por causa da limitação de nossa inteligência, Ele o é em si mesmo e assim se revela. Mesmo levando em conta que o mistério de Deus é inexaurí- vel, o trabalho teológico pode e deve recolher dados históricos dos fatos narrados pela Bíblia e transmitidos pela tradição. A teologia pode fazer afirmações sobre Deus sempre, po- rém, nos limites impostos por sua inefabilidade. Santo Agostinho exprimiu bem essa tensão entre o discurso sobre Deus e sua ine- fabilidade: Tudo pode ser dito de Deus, mas nada é dito que seja digno de Deus. Nada mais amplo do que esta pobreza. Procuras um nome conveniente e não o encontras; procuras exprimir-te de qualquer modo e todas as palavras servem (AGOSTINHO, Tract. 13,5 CCL 36,133). A inefabilidade afirma, paradoxalmente, a possibilidade de um discurso sobre Deus; ela nega, somente, a possibilidade de es- gotar e de se apoderar do mistério. De fato, o conhecimento de Deus reveste-se desse caráter paradoxal porque o ser racional pode conhecer a existência de Deus, mas, ao mesmo tempo, não pode compreendê-lo. Deus faz- se conhecer com suficiente evidência a todos, mas somente o ne- cessário para que o homem deseje possuí-lo mais ardentemente e se esforce em procurá-lo. O ser humano não poderia buscar enten- der algo que desconhecesse completamente e, ao mesmo tempo, não buscaria algo que já conhecesse perfeitamente. Assim, o véu do mistério não revela nem vela, completamente, a verdade. Na dialética de busca e de descoberta, o próprio fato de sa- ber que Deus é o Incompreensível já é um conhecimento impor- tante, porque, ao ser assim “compreendido”, Deus revela-se como mistério que supera aquilo que o homem começou a compreen- 19© Caderno de Referência de Conteúdo der, alargando a capacidade e o desejo do coração humano para lançá-lo a uma nova etapa dessa busca. A inteligência da fé não dissolve o mistério; pelo contrário, a cada descoberta, o "compre- ende" como incompreensível. Ao falar de Deus Trino, a teologia recorre à c) analogia. Falamos de Deus Trindade apenas por evocações, sím- bolos, alusões. A analogia orienta a mente para o abis- mo insondável, para a luz inacessível, para a realidade inefável. A analogia consiste no uso de termos comuns para designar realidades que são semelhantes e desse- melhantes ao mesmo tempo. Por exemplo: Dizemos que Deus é bom. O homem é bom. Entre bondade de Deus e a bondade humana, há semelhança numa maior e sem- pre dessemelhança. A analogia regula nosso modo de falar de Deus em termos humanos e indica que nenhu- ma informação sobre Deus viola o mistério divino. Finalmente, uma atitude indispensável para estudar a d) Trindade é a conversão. Somente quando amamos pode- mos conhecer Deus, que é amor por essência. Somente quando vivemos em comunhão podemos ser acolhidos na Koinonia – Comunhão divina. Somente quando faze- mos a experiência do Mistério do Deus Amor podemos falar algo de significativo sobre o Mistério da Trindade. Nesse sentido, continua atual a advertência de S. Boa- ventura: Ninguém pense que lhe baste a leitura sem unção, a especulação sem a devoção, a busca sem o assombro, a observação sem a exul- tação, a atividade sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteli- gência sem a humildade, o estudo sem a graça divina, a investigação sem a sabedoria da inspiração divina (Itinerarium mentis in Deum, Prol. n. 4: Opera ominia, tomus V [Ad Claras Aquas 1891], 296). Qual é a questão fundamental da teologia trinitária? A teologia procura entender e interpretar o mistério cristão de um só Deus em três pessoas iguais e distintas. Este é o assunto principal da teologia trinitária. Como manter em equilíbrio unida- de (um só Deus) e trindade (três pessoas) de Deus? Deus, de fato, não é menos uno pelo fato de ter se revelado trino nas pessoas. A trindade de pessoas não atenua a unidade divina; não há outra uni- © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 20 dade que não seja trina. Mostrar que a trindade e a unidade não se contradizem é a questão teológica que atravessa os séculos, desde o início da Igreja até os dias de hoje. Durante dois milênios de reflexão teológica, foram dadas três respostas erradas a essa questão. Triteísmo• : o triteísmo afirma que há três deuses bem dis- tintos, cada qual eterno e infinito. Além do erro de natu- reza filosófica, essa posição afirma a pluralidade em detri- mento da unidade. Modalismo• : o modalismo acentua a unidade divina, que nega a distinção pessoal do Pai, do Filho e do Espírito San- to. As pessoas seriam assim somente três manifestações ou modos com os quais o único Deus se revela e age na criação e na redenção. Em outras palavras: Deus é um só e aparece, às vezes, a modo de Pai, outras, a modo de Filho e, ainda, a modo de Espírito Santo. Subordinacionismo• : tanto acentua a distinção das Pesso- as divinas que chega a negar a igualdade divina dessas mesmas Pessoas. Segundo essa heresia, há um só Deus − o Pai. O Filho distingue-se do Pai porque é inferior e não é Deus como o Pai. O Espírito distingue-se, realmente, do Paie do Filho porque é inferior e subordinado aos dois. O Filho, assim, é reduzido a um tipo de semideus ou, então, à mera criatura. Nesse mesmo senso descendente, o Es- pírito ocupa o terceiro lugar na hierarquia. Como você pode ver, essas tendências erradas não conse- guem manter em equilíbrio unidade e trindade. A afirmação de um dos termos significa, ao mesmo tempo, a negação do outro. Todo esforço da teologia trinitária consiste em afirmar tanto a unidade quanto a trindade, tanto a distinção pessoal quanto a igualdade (consubstancialidade) das pessoas divinas. Como se organiza a teologia trinitária? A teologia trinitária procura entender e interpretar o misté- rio de um só Deus em três Pessoas iguais e distintas. Pai, Filho e Es- 21© Caderno de Referência de Conteúdo pírito Santo não são, apenas, nomes vazios, mas remetem o fiel às pessoas divinas, mais exatamente a Jesus, que revela Deus como Abbá, o Pai e, consequentemente, revela-se como Filho. Além de revelar Deus como o Pai e a si mesmo como Filho, Jesus promete o outro Paráclito, o Espírito Santo. É sobre essa revelação realizada por Jesus Cristo que a teologia trinitária constrói sua reflexão. O dogma trinitário não é o resultado da razão humana e não é uma criação da Igreja. Pelo contrário, para falar da Trindade, é preciso partir do que Deus revelou de si mesmo mediante a vinda de Cristo e o dom do Espírito em nossos corações. A intimidade do ser mesmo de Deus só é acessível a nós porque o Pai nos enviou o Filho e o Espírito Santo. Esse princípio é importante e orienta a teologia trinitária como tal. Não partimos de um conceito abstrato de Deus para depois falar, dedutivamente, da Trindade. O ponto de partida da teologia trinitária é o fato de que Jesus nos revelou o Pai e nos prometeu o Espírito. A teologia trinitária, inicialmente, tem uma atitude receptiva. É aquilo que chamamos de auditus fidei (ouvir da fé). Recolhe os dados do AT e do NT nos quais encontra o teste- munho da fé trinitária. A teologia trinitária, em sua trajetória atual, prefere, por- tanto, ater-se mais à linguagem e à maneira do Novo Testamento de anunciar a verdade fundamental da Trindade, sem enveredar, inicialmente, pelas especulações de tipo filosófico-escolástico. O foco da questão é Jesus Cristo, e, a partir de sua pregação, prática e pessoal compreende-se a Deus. É o Jesus histórico, dos Evange- lhos, quem permite que avancemos na compreensão de Deus. Ainda faz parte da atitude receptiva da teologia trinitária o es- tudo da história da reflexão teológica. Não somos os primeiros a re- fletir sobre a Trindade. Antes de nós, há dois milênios de diálogo, de debate, de polêmica e de tomada de posição. As gerações que nos antecederam fizeram um verdadeiro trabalho de inculturação da fé © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 22 cristã. Durante os séculos, as gerações anteriores realizaram esse trabalho imenso de exprimir e de expor a fé trinitária em diversas categorias culturais, assumindo e criando uma linguagem técnica muito elaborada. De fato, a fé trinitária foi traduzida, primeiro, nas categorias da cultura semita e, depois, na helênica, medieval e mo- derna. Para conhecer esse imenso trabalho de inculturação da fé, a teologia trinitária tem uma parte histórica, na qual serão estudados os autores mais importantes e as tomadas de posição mais significa- tivas do magistério em relação a fé trinitária. Conhecer o passado ajuda-nos a assumir a tarefa atual de também procurar exprimir e expor a fé trinitária para os interlocu- tores atuais. A Igreja é uma comunidade que fala, mas ela precisa falar de modo compreensível e significativo para as pessoas da atu- alidade. Assim, depois de ter ouvido a fé (depois do auditus fidei), é preciso passar para o intellectus fidei (inteligência ou o compre- ender da fé). Esta é a parte sistemática da teologia trinitária, que consiste em tentar expor de maneira coerente e rigorosa a fé na Trindade, o mistério supremo de um só Deus e de três Pessoas. A teologia trinitária olha para o passado para enfrentar e responder aos desafios do presente e para se lançar no futuro. A tarefa que a teologia trinitária procura cumprir nessa parte sistemática é a de mostrar o mistério da Trindade como o modelo máximo e insupe- rável de toda verdadeira comunidade humana, especialmente da Igreja. O mistério trinitário não é somente uma teoria desligada de nossa vida e realidade. Pelo contrário, ele julga, inspira e guia to- dos os planos de nossa vida: a vida familiar, social e eclesial; o cui- dado com a ecologia e nossa relação com o cosmo. Em todos esses níveis, a Trindade é de altíssima e poderosa inspiração. Em todos esses níveis, podemos viver ou não, na Terra e com os irmãos, o mistério da adorável comunhão do céu. Quais são os principais temas da teologia trinitária? O tema principal da teologia trinitária não pode ser outro senão o tema do Pai, do Filho e do Espírito. Vejamos, primeiro, o tema do Pai e do Filho e, depois, o do Espírito Santo. 23© Caderno de Referência de Conteúdo O Pai e o Filho Jesus revela que Deus é Pai. Mais exatamente, que Deus é o seu Pai. Entre eles, há uma relação originalíssima, que não se repe- te. Por isso, quando falamos de paternidade divina, é preciso levar em conta a diferença qualitativa que há entre a paternidade que Jesus de Nazaré revela e a paternidade humana. Sem negar a se- melhança entre essas duas paternidades, a palavra "Pai" só pode indicar a Primeira Pessoa Divina se reconhecermos a distância in- finita que existe entre a paternidade humana e a divina. De fato, no ser humano, a paternidade é uma condição ou uma qualidade em que o homem ingressa ao gerar e ao educar sua prole. Desse modo, podemos dizer que natureza humana e a relação paterna não coincidem, uma vez que o homem não nasce pai. Ele não é pai por natureza, mas deve se tornar pai. Um homem não deixa de ser homem por não ser pai. A paternidade é uma relação que se "acrescenta" a uma natureza constituída anteriormente. Primeiro é preciso existir, ou seja, ser homem, para depois poder ser pai. A paternidade divina é diferente porque Deus não se tor- na Pai. Ele o é desde sempre. Desde a eternidade, Deus existe como o Pai que gera o Filho. A relação que Deus tem com o Filho é totalmente paterna. Assim, a Pessoa do Pai identifica-se com sua relação com o Filho. Quem ele é se define por sua relação. No ser humano, a relação não é subsistente, ou seja, o ser humano não é sua relação. Em Deus, a relação é subsistente, ou seja, a relação da paternidade identifica-se com a Pessoa do Pai; a paternidade é o Pai da mesma maneira como a relação filial é o Filho. Deus não tem relações, Ele é pluralidade de relações. Outra diferença entre paternidade humana e divina é que a paternidade humana exige a maternidade e é completada pela maternidade: é próprio do ser humano nascer de um pai e de uma mãe. Deus, no entanto, é o único autor (a única fonte, a única ori- gem) do Filho. Nesse sentido, a paternidade divina ultrapassa as diferenças de sexo e integra em si a riqueza da maternidade. É por © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 24 isso que a Escritura também fala de Deus em termos maternais. João Paulo II chegou, até mesmo, a dizer que Deus é, também, mãe, ou melhor, é mais mãe do que pai. Reforcemos: Deus não se torna pai. A paternidade é o que constitui o mistério do ser pessoal do Pai, e, por isso, o nome "Pai" lhe pertence em modo pleno e perfeito. Ninguém é pai como o Pai. Portanto, o Pai é fonte de toda paternidade humana. Tudo o que o Pai é, tudo o que Ele faz, se caracteriza pela paternidade. O Pai é totalmente Pai, e só Pai. Nada nele contradiz ou nega sua paterni- dade. Foi exatamente essa paternidade que o Filho veio revelar. Correspondente a essa paternidade, Jesus revela-se como o Filho. Uma vez que a paternidade divina é perfeita, também o é a filiação.Jesus de Nazaré não só falou do Pai, mas, especialmente, viveu como filho e se relacionou com Deus como seu Pai. Nesse sentido, é de importância decisiva a experiência humana que Jesus faz. Experiência essa que se exprime, principalmente, na invoca- ção "Abba". Preste atenção: Jesus não ensina sobre a paternidade divina. Não encontramos, em sua pregação, uma doutrina sobre a paternidade. Mas temos, em Jesus, algo muito mais importante: Jesus de Nazaré vive nessa relação, comporta-se como filho ama- do, invoca Deus chamando-o de seu Pai e deseja que participemos dessa sua relação. Quando lemos o evangelho, podemos notar que tudo que Jesus faz é em obediência ao Pai. Toda sua vida e pregação decor- rem dessa relação especialíssima que ele tem com seu Pai. Veja- mos alguns exemplos: Jesus sempre se coloca em oração antes de tomar decisões importantes − reza antes de escolher os 12 após- tolos; no momento da transfiguração e antes de ser preso no Get- sêmani. Ele reza e invoca Deus chamando-o “Pai”. Na cruz, ele reza pedindo o perdão do Pai aos seus algozes. Em Cesaréia de Filipe, reconhece, na confissão de fé de Pedro, a inspiração divina: "não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu" (Mt 16,17). 25© Caderno de Referência de Conteúdo Esses são somente alguns exemplos. Valeria a pena fazer uma leitura dos evangelhos com esse filtro: procurar identificar e estu- dar todas as passagens em que Jesus exprime sua consciência de ser Filho. De fato, Jesus faz uma experiência singular e original de sua filiação e, portanto, revela, plenamente, a paternidade divina. É por isso que só podemos conhecer o Pai se o Filho nos revelar. Veja bem: nós conhecemos o Pai não porque o Filho falou do Pai, mas porque Jesus viveu, comportou-se e rezou como o Filho. A revelação não é doutrina, mas comunicação vital, partilha de uma experiência, apelo para entrar numa relação interpessoal. É a partir daquilo que Jesus viveu e experimentou que se che- gou à fé na divindade do Filho. O homem Jesus é, também, Deus. Jesus, ao revelar Deus-Pai, coloca-nos, necessariamente, diante da questão de sua identidade. Ele é somente um profeta, um eleito de Deus? Ou será que ele é Deus como o Pai? A filiação de Jesus é algo que se dá só no tempo ou é realidade desde sempre? A humanidade de Jesus, para os primeiros cristãos, era algo indubitável. Mas o modo como viveu em relação a Deus levou os pri- meiros cristãos a se perguntar sobre a identidade divina de Jesus. Nesse sentido, o prólogo do Evangelho de João representa a resposta madura da Igreja apostólica sobre a identidade de Jesus. Jesus é Deus porque é o Verbo de Deus encarnado. Em outras pa- lavras: também o Filho não se tornou filho. Ele é Filho desde sem- pre, pois o Verbo preexiste à sua encarnação. O Filho manifestou sua filiação no tempo porque se encarnou, mas ele é Filho desde sempre. O fato de ter manifestado no tempo sua filiação não signi- fica que ela tenha começado no tempo. Vejamos, então, um pouco mais profundamente, a relação eterna que há entre Pai e Filho. O Pai é a origem do Filho. Isto significa que o Pai dá ao Filho tudo o que é. Ele comunica ao Filho toda sua divindade, sua eter- nidade, sua glória, sua majestade, seu poder etc. Por sua parte, o Filho recebe tudo do Pai. © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 26 Quem é superior: o Pai que dá ou o Filho que recebe? Segun- do nosso modo de pensar, poderíamos dizer que o Pai é superior porque ele dá, enquanto o Filho só recebe. Mas, na Trindade, o fato de dar não implica a inferioridade de quem recebe. Pelo contrário, o Filho é igual ao Pai em divindade, eternidade, glória, majestade e poder exatamente porque tudo isto ele recebe do Pai. Ao mesmo tempo em que reconhecemos a igualdade divina entre Pai e Filho, é preciso aceitar, também, que há, entre eles, dis- tinção real. Pai e Filho não são nomes vazios, mas são duas Pessoas que se distinguem realmente. Mais do que isto, a distinção entre eles é infinita. Por exemplo, cada ser humano é original e irrepetível. Não houve, não há nem haverá duas pessoas repetidas ou iguais. Mes- mo que possamos clonar uma pessoa, o resultado da clonagem vai gerar outra pessoa original. Assim, cada um de nós se distingue dos outros. Se isto é verdade em relação às pessoas humanas, com mui- to mais razão ainda, as Pessoas do Pai e do Filho. A distinção entre eles é, de fato, máxima. Como podemos exprimir essa distinção? O Pai e o Filho não se distinguem em divindade, em eternidade, em poder ou em ma- jestade porque o Pai dá tudo ao Filho, exceto o ser Pai. O Filho re- cebe tudo por ser Filho. Observe que, na comunicação total entre Pai e Filho, há, somente, uma coisa que não é comunicável. Essa realidade incomunicável é, exatamente, a Pessoa. A Pessoa divi- na é incomunicável: o Pai não comunica sua paternidade; o que é próprio só do Filho é sua Filiação. Se o Pai pudesse comunicar sua paternidade, o Filho não seria Filho e o Pai deixaria de ser Pai. A Igreja exprimiu esse mistério no símbolo niceno-constan- tinopolitano. O Pai é Deus. O Filho é Deus de Deus, ou seja, Deus que nasce de Deus. O Pai é só Luz, o Filho é Luz da Luz, isto é, Luz que procede da Luz. O Pai é Deus verdadeiro. O Filho é Deus verda- deiro de Deus verdadeiro, em outras palavras, é Deus verdadeiro 27© Caderno de Referência de Conteúdo que é gerado por Deus verdadeiro. Assim, o Pai, considerado em si mesmo, é Luz da mesma forma como o Filho é Luz; em si mesmo, o Pai é Deus, como o Filho em si mesmo é Deus. Juntos eles são uma só Luz e um só Deus. Mas quando consideramos o Pai e o Filho em sua relação, a distinção aparece, pois o Filho é Deus gerado de Deus e luz que vem da Luz. O Espírito Santo Falemos, agora, um pouco do Espírito Santo. Conhecemos o Espírito Santo porque ele nos foi prometido por Jesus e porque foi derramado em nossos corações. Prestando atenção na atuação do Espírito em Jesus e nos fiéis, chegamos a conhecer quem ele é na eternidade divina. Isto é fundamental para a revelação do Espírito: a partir do modo como ele age em Jesus e nos fiéis, a Igreja foi levada a reconhecer que o Espírito é, também, Deus. Vejamos, rapidamente, como o NT fala da atuação do Espíri- to em Jesus e, depois, nos fiéis. Em relação a Jesus, são importantes os eventos da encar- nação, do batismo e da glorificação de Jesus. Na encarnação, o Espírito desce sobre Maria para que o Verbo possa se encarnar. No batismo, o Espírito desce e permanece sobre Jesus para ungi-lo e torná-lo apto para a missão messiânica. Na cruz, Jesus entrega o Espírito. Em todos esses acontecimentos, o Espírito não age como mera força divina. Ele conduz Jesus em todo seu percurso terres- tre, mas a ação do Espírito se caracteriza por ser ação de uma pes- soa, não de uma mera força impessoal. Nos fiéis, depois de Pentecostes, também o Espírito age. Mas, aqui, há uma novidade. Ele se revela não só como Espírito de Deus, mas como Espírito de Jesus. Os cristãos recebem o mesmo Espírito que agiu em Jesus e, por isso, eles podem confessar que Jesus é o Cristo. Quando lemos o NT, vemos que o Espírito está na base de todo testemunho que os cristãos dão de Jesus. © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 28 Foi a partir dessa ação do Espírito em Jesus e nos fiéis que a Igreja chegou a confessar a divindade do Espírito e, também, que ele é pessoa distinta do Pai e do Filho. Partindo do que diz o NT, podemos afirmar que o Espírito é o Espírito do Pai que age em Jesus e é o Espírito de Jesus que age nos cristãos. Não são dois espíritos, mas o mesmo e o único Espí- rito Santo. No entanto, devemos levar a sério o fato de que ele é o Espírito do Pai e de Jesus. Assim, ele se revelou, por isso ele é na eternidade da Trindade. A Igreja exprime essa particularidade pessoal do Espírito confessando que ele procede do Pai e do Filho. Nessa afirmação, reconhece-se, inicialmente, queo Espírito Santo é pessoa distinta das pessoas do Pai e do Filho: o Espírito não é o Pai porque dele procede e não é o Filho porque o Filho é gerado enquanto que o Espírito procede. A geração é própria do Filho e de nenhum outro. A processão é própria do Espírito e de nenhum outro. Em segundo lugar, na processão do Espírito, há uma partici- pação do Filho. O Espírito procede do Pai e do Filho. Como enten- der isto? Dissemos anteriormente que o Pai é princípio, fonte e autor do Filho pela geração. Da mesma maneira, o Pai é fonte e origem do Espírito Santo pela processão. Na geração do Filho, porém, o Pai comunica ao Filho também o ser fonte e origem do Espírito. As- sim, o Espírito que procede dos dois é Espírito do Pai e do Filho. Outra maneira de falar do Espírito é a partir de 1Jo 4,16: "Deus é Amor". Deus é amor em seu ser mais profundo. Foi a par- tir de sua atuação na história da salvação e pelo fato singularíssimo de nos ter enviado seu Filho e o Espírito Santo é que descobrimos que Ele é amor em si mesmo. Uma vez que ele se revelou amor para nós, chegamos à fé de que ele é amor em si mesmo. 29© Caderno de Referência de Conteúdo Uma vez que o Espírito é Espírito do Pai e do Filho, podemos também dizer que ele é amor dos dois, ou melhor, Ele é Amor- Pessoa, amor que procede do amor do Pai e do Filho. Amando-se reciprocamente, o Pai e o Filho fazem surgir um terceiro, que é amor consubstancial dos dois. O amor entre Pai e Filho é de tal ordem que eles não só estão unidos, mas são um só. E é o Espírito Santo de Amor que une Pai e Filho nessa comunhão inefável. Deus é amor, mas cada uma das Pessoas é amor a modo pró- prio. O Pai é amor gratuito e altruísta, como origem e fonte que se comunica ao Filho e ao Espírito. O Filho é amor que recebe agra- decido para entregar, gratuitamente, a um outro. O Espírito Santo é amor como alegria da comunhão pura do amante e do amado que estão unidos entre si. O Pai é só amor gratuito; o Filho é amor agradecido e gratuito; o Espírito é amor de comunhão entre aman- te e amado. Conclusão Para concluir, tentemos sintetizar, em poucas palavras, algu- mas inspirações que a reflexão trinitária pode dar para a vida na Igreja e no mundo. O mistério trinitário mostra-nos que a diferença não é um obstáculo para a comunhão. Nós temos a tendência de ver na dife- rença uma dificuldade para a plena comunhão; pensamos que isto só é possível na medida em que diminuímos ou suprimimos a dife- rença. Na Trindade, a diferença, ou melhor, a alteridade ou distin- ção pessoal, não impede a comunhão. Pelo contrário, na Trindade, o que distingue é, também, o que une. O fato de o Pai ser distinto do Filho e do Espírito Santo não os separa, mas os une. Também o inverso é verdadeiro. O fato de Pai, o Filho e o Espírito serem um só não suprime as diferenças pessoais deles. O fato de ser um só não se dá em detrimento da distinção entre os Três divinos. Creio que isto é muito inspirador para a vida em sociedade, especial- mente no contexto atual de pluralismo cultural, religioso. A Trin- © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 30 dade ajuda-nos a ver, em nossas diferenças culturais e religiosas, uma possibilidade para viver a comunhão e de viver a comunhão não como empobrecimento das diferenças, mas como plena afir- mação delas. Para o desfecho desta conclusão, citemos um texto de Santo Anselmo, no qual ele encoraja as pessoas a buscar Deus, indican- do, ao mesmo tempo, o modo dessa busca. Vamos, coragem, pobre homem! Foge um pouco de tuas ocupa- ções [...]. Põe de parte os cuidados que te absorvem [...]. Dá um pouco de tempo a Deus e repousa nele [...]. Olhai-me, Senhor, ouvi-nos, mostrai-vos a nós. Dai-nos novamente a vossa presença para sermos felizes, pois sem vós somos tão infe- lizes! Tende piedade dos rudes esforços que fazemos para alcançar- vos, nós que nada podemos sem vós. Ensinai-me a vos procurar, e mostrai-vos quando vos procuro; pois não posso procurar-vos se não me ensinais nem vos encontrar se não vos mostrais. Que desejando eu vos procure, procurando vos deseje, amando vos encontre, e encontrando vos ame (ANSELMO, Prológion, I,97-100). Glossário de Conceitos Este Glossário permite a você uma consulta rápida e preci- sa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados na disciplina Teologia Trinitária. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta dis- ciplina: Adocianismo1) : heresia espanhola do século 8º, segundo a qual Cristo, enquanto Deus, era verdadeiro Filho de Deus por natureza, mas enquanto homem, era somente filho adotivo de Deus (cf. DS 595; 610-615; FIC 4.075; 4.079). Os expoentes principais foram: Elipando (aprox. 718-802), arcebispo de Toledo, e Félix (= 818), bispo de Urgel. A dominação islâmica de Toledo, naquele tempo capital da Espanha, e a teologia islâmica, em que um dos princípios fundamentais é de que Deus não pode ter filhos, foram o terreno propício para essa heresia que 31© Caderno de Referência de Conteúdo tinha precedentes no ebionismo e no monarquianismo dinâmico que foram associados ao adocianismo nos es- tudos de Adolf von Harnack (1851-1930) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 12). Adoração2) : o supremo ato de homenagem que é dirigido somente a Deus (Ex 20,1-4; Jo 4,23), nosso criador, re- dentor e santificador. Somente ele "é adorado e glorifi- cado" (Símbolo de Nicéia). Os fiéis adoram Deus através de várias imagens (por exemplo, a cruz); adoram Cristo presente na Eucaristia (cf. DS 600-601; FIC 7.336-7.337) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 12). Ágape (Amor)3) : termo característico usado no NT, espe- cialmente no Evangelho de João, nas cartas de Paulo e de João, para designar o amor de Deus (ou de Cristo) em relação a nós e, por derivação, o nosso amor em relação a Deus e entre nós (por exemplo, Jo 15,12-17; 1Jo 4,16; 1Cor 13). Este termo se aplica também à refeição que o cristianismo primitivo tomava em comum em conexão com a Eucaristia (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 13). Amor4) : comportamento livre, autotranscendente, vivifi- cante e unificante que tem sua fonte e seu modelo na Santíssima Trindade. O AT repetidamente confessa Deus como o parceiro fiel e terno da Aliança do povo por ele escolhido. Este é chamado a responder amando a Deus (Dt 6,5) e ao próximo (Lv 19,18). Jesus uniu estes dois mandamentos de base (Mc 12,29-31), e ensinou que o nosso amor deve estender-se de modo particular aos inimigos e àqueles que se encontram em dificuldade (Mt 5,43-48; 25,31-46; Lc 10,29-37). Enquanto novo (Jo 13,13.34; cf. 1Cor 12,31-13,13) e maior mandamento, o amor pode também incluir o morrer pelos outros, como fez Jesus (Jo 15,13; 1Jo 3,16). A iniciativa do amor de Deus em relação a nós pecadores torna possível a nossa resposta de amor (Lc 15,3-32; Jo 3,16; Rm 5,6-8; 8,31- 39; 1Jo 4,19). O Espírito de amor nos é dado (Rm 5,5); somos chamados à nova comunidade de amor (Ef 5,25- 26.29); somos convidados a participar do amor divino que é a vida íntima da Trindade (Jo 17,26) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 16-17). © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 32 Analogia5) : é o uso de um termo comum para designar realidades que são semelhantes e dessemelhantes sob o mesmo aspecto (por exemplo, "amor", predicado de Deus e dos seres humanos). O termo análogo é distinto: dos termos equívocos: estes se dão quando se usa a) uma mesma palavra para indicar realidades diferen- tes (por exemplo, cão, animal e cão, constelação); e dos termos unívocos, ou termos perfeitamente si-b) nônimos: trata-se, neste caso, de termos diferentes que indicam uma mesma e idêntica realidade (por exemplo, o rei e o soberano para indicar o chefe su- premo de um reino) (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 18). Analogia da fé: 6) é uma expressão tirada de Rm 12,6 e que é usada na teologia católica para recordar que umapassagem da Escritura ou um dado da fé é interpretado no contexto da única, inteira e indivisível fé da Igreja (DS 3016, 3283; FIC 1.081, 2.019). Karl Barth (1886-1968) usou esta expressão para indicar a semelhança e a des- semelhança que existem contemporaneamente entre a decisão humana de crer e a decisão divina de doar a gra- ça (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 19). Analogia do ente: 7) em teologia, a analogia regula o nosso falar de Deus em termos humanos e indica que nenhuma informação que nos seja comunicada deste modo viola o absoluto mistério de Deus. Como diz o Concílio Late- ranense IV, qualquer semelhança entre o Criador e as criaturas é caracterizada por uma dessemelhança ainda maior (cf. DS 806; FIC 6.067). Existe uma diferença infini- ta entre a afirmação "Deus é" e a afirmação "as criaturas são" (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 19). Anomitas (Gr. “dessemelhantes”) ou anomianos ou ae-8) cianos: chamam-se assim os arianos extremistas de se- gunda geração, que tinham como chefe Aécio (= aprox. 370) e Eunômio (= aprox. 394), segundo os quais o Filho era somente a primeira criatura e era diferente, quanto à essência, do Pai. Além disso, Eunômio sustentava que o Espírito era simplesmente a mais excelsa criatura produ- zida pelo Filho. Consequentemente, os seus discípulos 33© Caderno de Referência de Conteúdo batizavam somente ”no nome do Senhor” (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 22). Antropomorfismo9) : atribuir a Deus características huma- nas tanto físicas (por exemplo, o rosto, a boca, as mãos), quanto emocionais (por exemplo, o desagrado, a alegria, a ira) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 25). Apolinarismo10) : heresia cristológica sustentada pelo Bis- po de Laodicéia, Apolinário (aprox. 310 − aprox. 390). Preocupado em defender a plena divindade de Cristo contra os Arianos, Apolinário negou a sua plena humani- dade ao sustentar que Cristo não tinha espírito, ou seja, alma racional, enquanto esta era substituída pelo Logos divino (cf. DS 146, 149, 151; FIC 4.023; 4.034). O seu inte- resse principal era assim o de estabelecer uma rigorosa unidade em Cristo como aparece na fórmula: “a única natureza encarnada do Logos” (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 25-26). Apropriação11) : atribuir a uma pessoa divina uma ação ou um atributo que na realidade é comum às três Pessoas divinas. Assim, a criação é atribuída por apropriação ao Pai, a redenção ao Filho e a santificação ao Espírito San- to. De fato, todas as obras ad extra (Lat. “as ações exter- nas”) são comuns às três Pessoas divinas (cf. DS 545-546; 1330; FIC 6.072) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 28). Argumento ontológico12) : este modo de “demonstrar” a existência de Deus foi desenvolvido por Santo Anselmo (aprox. 1033-1109). Uma vez que aquilo que nós enten- demos por “Deus” é id quo nihil maius cogitari possit (Lat. "o ser do qual não se pode pensar algo maior"), a própria ideia de Deus exige a existência objetiva de Deus. Caso contrário, cairíamos numa contradição, enquanto tería- mos a capacidade de imaginar algo maior do que Deus, e precisamente um Deus que existe. Santo Tomás de Aquino (aprox. 1225-1274), Emanuel Kant (1724-1804) e outros rejeitaram este argumento enquanto passa indevidamente, segundo eles, do nível do pensamento puro àquele da existência efetiva. Outros filósofos, pelo contrário, defenderam este argumento ainda que de maneiras diferentes: Renè Descartes (1596-1650), Baruc © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 34 Spinoza (1632-1677), Leibniz (1646-1716), Hegel (1770- 1831). Mais recentemente, alguns sustentaram que o argumento ontológico em vez de ser uma “prova” é um forma de explicar o conhecimento implícito que temos de Deus (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 29). Argumento teleológico (Gr. “estudo dos fins e dos es-13) copos”): é o argumento que parte da ordem que se constata no mundo para afirmar a existência de Deus como Ordenador e Causa final de todas as coisas. De modos diversos, Aristóteles (384-322 a.C.), Santo To- más de Aquino (aprox. 1225-1274) e muitos outros in- terpretaram o universo como revelador de finalidade inteligente e indicador de Deus como fim último de to- das as coisas. David Hume (1711-1776) colocou em dis- cussão a causalidade trans-empírica em geral; Emanuel Kant (1724-1804) contestou a possibilidade de provas, em particular da existência de Deus. O argumento te- leológico teve que enfrentar ulteriores objeções quan- to ao que Charles Darwin (1809-1882) explicou sobre o desígnio biológico que é a sobrevivência do mais idôneo. As teorias mecanicistas da ordem do mundo como simples resultado de operações casuais das for- ças naturais duraram muito tempo. Porém, os recentes progressos em astronomia, biologia, física e em outras ciências têm mostrado quão vasta e ampla é a ordem de um mundo que, aparentemente, existe somente por um tempo relativamente curto. As probabilidades contrárias a uma ordem tão impressionante que tives- se surgido do puro acaso dão uma nova plausibilidade ao argumento que postula um Ordenador inteligente (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 29-30). Arianismo: 14) heresia condenada no Concílio de Nicéia I (325). O seu fautor foi um padre de Alexandria, Ário (aprox. 250-336), o qual sustentava que o Filho de Deus não tinha existido desde sempre e que por isso não era de natureza divina, mas somente a primeira criatura (cf. DS 125-126, 130; FIC 0.503-0.504). Depois de ter per- turbado seriamente a paz da Igreja até fins de 381, o 35© Caderno de Referência de Conteúdo Arianismo sobreviveu de forma mitigada durante vários séculos entre as tribos germânicas (O'COLLINS & FARRU- GIA, 1995, p. 30). Aristotelismo15) : orientação filosófica que teve sua origem com Aristóteles (348-322 a.C.), caracterizada por um maior realismo do que a precedente e muitas vezes rival escola platônica. Depois de ter sido desprezado e comba- tido por alguns Padres da Igreja, o aristotelismo com sua ética, lógica, teoria da causalidade (com suas quatro cau- sas: eficaz, final, formal e material) e concepção da alma humana como forma do corpo (e não prisioneira do corpo como ensinava o platonismo) se afirmou na Idade Média por causa da influência dos filósofos árabes, de Moisés Maimonides (1135-1204) e de Santo Tomás de Aquino (aprox. 1225-1274). Santo Tomás elaborou as suas provas da existência de Deus sobre uma base aristotélica, mas defendeu a imortalidade da alma, negada, ao que parece, por Aristóteles (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 30-31). Ateísmo16) : negação da existência de Deus em teoria ou na prática. As múltiplas formas de ateísmo vão desde uma indiferença tolerante até um comportamento mili- tante, que varia de acordo com o conceito de Deus que é rejeitado e com o ambiente sócio-eclesial no qual se dá o conflito. Por um período mais ou menos longo, é possível ser ateu de boa fé, mas o refuto consciente do problema da existência de Deus é irresponsável e digno de reprovação (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 34). Atributos de Deus17) : propriedades proclamadas de Deus em base ao pensamento filosófico (por exemplo, a imu- tabilidade) e/ou à revelação divina (por exemplo, a fideli- dade). Eles exprimem, nos limites da analogia, a essência inefável de Deus, da qual, em última análise, não se distin- guem realmente (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 34). Autocomunicação18) : termo usado pelos idealistas alemães (Hegel, por exemplo) e depois adaptado pelos teólogos (K. Rahner, por exemplo) e pelo Vaticano II (DV 6) para designar a automanifestação e autodoação de Deus na obra da reve- lação e da graça (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 35). © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 36 Caridade19) : é a terceira virtude teologal; pressupõe as ou- tras duas (fé e esperança) e dá a todas as virtudes. O seu objeto primário é Deus; secundariamente, é dirigida a nós e a outros seres humanos (cf. Dt 6,5; Jo 13,34; 1Jo 4,7-5,4; 1Cor 13,1) (O'COLLINS & FARRUGIA,1995, p. 47). Causalidade20) : é o influxo exercitado por um ser ou de uma parte dele sobre um outro ser. A causa eficiente produz os seus efeitos sobre um ser que já existe ou leva a um outro ser. A causa material é a "matéria" com que é feita uma coisa. A causa formal forma e organiza algo, tornando-a aquilo que é. A causa final é o fim para o qual uma coisa é feita. A causa exemplar serve de modelo que é imitado na produção de um ser. Para indicar que a atividade divina e a humana estão situadas em planos diferentes, Deus é chamado Causa primeira, no senso de que todas as outras realidades dependem dEle para vir à existência, para con- tinuar a ser e para agir. As criaturas são chamadas causas secundárias, enquanto é somente em sua radical depen- dência de Deus que podem influir umas sobre as outras (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 50). Cinco vias21) : cinco argumentos para a existência de Deus que se encontram na Summa Theologiae de Santo To- más de Aquino (aprox. 1225-1274). Do fato da mudança (movimento) no mundo, a Primeira Via deduz a existên- cia de um Primeiro Motor Imóvel. A Segunda via provém da nossa experiência das causas que produzem efeitos até uma Causa última não causada. A Terceira Via obser- va a contingência do nosso universo e presume a neces- sidade de uma Causa Necessária. A Quarta Via começa com os graus limitados de perfeição que se encontram no universo e chega a uma primeira Causa Ilimitada. A Quinta Via observa o modelo ordenado do mundo que se pode explicar unicamente mediante a atividade fi- nalizada de um divino Ordenador. As Cinco Vias foram fortemente contestadas por David Hume (1711-1776), Emanuel Kant (1724-1804) e por outros filósofos, mas oferecem, contudo, perspectivas válidas para nosso co- nhecimento (limitado) de Deus (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 57-58). 37© Caderno de Referência de Conteúdo Deísmo22) : termo genérico para indicar as teorias de mui- tos escritores ingleses, europeus e americanos dos sé- culos XVII e XVIII os quais, em várias maneiras, sublinha- vam o papel da razão no fato de religião e negavam a revelação, os milagres e qualquer ação providencial na natureza e na história dos homens (O'COLLINS & FARRU- GIA, 1995, p. 103). Ebionitas23) (hebr. “homens pobres”): um grupo ascético de judeu-cristãos dos séc. I e II. Acreditavam que Jesus era o filho natural de Maria e de José, um simples ho- mem sobre o qual o Espírito Santo desceu no batismo. Insistiam na sua adesão à lei de Moisés e, por isso, rejei- tavam S. Paulo (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 119). Economia24) : é o plano de salvação de Deus para a huma- nidade. Esse plano foi revelado através da criação e, so- bretudo, através da redenção realizada em Jesus Cristo (Ef 1,10; 3,9). Na teologia oriental, o termo "economia" indica também certas concessões feitas pela Igreja, que, levando em conta a fraqueza humana, dispensa, em al- guns casos, das prescrições canônicas (O'COLLINS & FAR- RUGIA, 1995, p. 121). Espírito Santo25) : é a terceira Pessoa da Trindade, adorada e glorificada com o Pai e o Filho, enquanto uno na natu- reza e igual em dignidade pessoal com o Pai e o Filho. O Concílio de Braga (675), ou possivelmente o terceiro Sínodo de Toledo (589), acrescentou ao Símbolo Cons- tantinopolitano, que dizia que o Espírito Santo procede do Pai, "e do Filho" (Filioque). As primeiras formulações orientais estavam de acordo em julgar que o Espírito Santo não era gerado como o Filho, mas procede do Pai "através do Filho" (per Filium). A obra da santificação, comum às três Pessoas divinas, é atribuída "por apro- priação" ao Espírito Santo, enquanto ela comporta a autodoação do Espírito (Jo 20,22; Rm 5,5). Tanto Ata- násio de Alexandria (aprox. 296-373) quanto S. Cirilo de Alexandria (|444) sustentaram a divindade do Espírito Santo exatamente pelo fato de que o Espírito nos torna semelhantes a Deus ao nos divinizar ou nos santificar. A divindade do Espírito Santo foi afirmada no Concílio © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 38 Constantinopolitano I em 381 (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 356). Expiração26) : termo técnico tomado de Jo 3,8 e usado na doutrina trinitária para indicar a maneira com que o Es- pírito Santo procede do Pai e do Filho. O NT chama o Espírito Santo de "Espírito do Pai" (Mt 10,20) e de "Es- pírito do Filho" (Gl 4,6). A teologia latina acrescenta que o Espírito é "expirado" por ambos (cf. DS 850, 1300; FCC 6.069-6.070), distinguindo a expiração ativa da passiva. A expiração ativa, sendo comum ao Pai e ao Filho, não constitui outra pessoa, enquanto a expiração passiva é um outro nome para indicar o Espírito Santo que é "ex- pirado", mas não "expira". Dessa maneira, a Igreja latina distingue entre a expiração pelo Pai, que é princípio sem princípio e origem sem origem, e a expiração pelo Filho, que é princípio originado de um outro princípio, ou seja, do Pai. A maioria dos teólogos da Igreja grega nega, po- rém, a participação do Filho como origem na processão do Espírito Santo enquanto ameaçaria a "monarquia" (Gr. "único princípio") ou origem sem origem do Pai. Os Concílios de Lião II (1274) e de Florença (1439) precisa- ram que o Espírito Santo é expirado pelo Pai e pelo Filho como de um único princípio (DS 850, 1300; FCC 6.069- 6.070) (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 355-356). Filioque27) (Lat. “e do Filho”): palavra que foi acrescenta- da ao Símbolo Niceno-Constantinopolitano no IV Sínodo de Braga, Portugal (675). O seu acréscimo no III Sínodo de Toledo (589) parece ter sido uma interpolação (cf. DS 470; FCC 6.024). Essa palavra quer afirmar: que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho;a) que as três Pessoas da Trindade são perfeitamente b) iguais. No ano 1013, o imperador Henrique II ordenou que a Igreja latina acrescentasse o Filioque na profissão de fé. A Igreja ortodoxa grega repugnou fortemente essa inser- ção no Símbolo. A partir do Patriarca Fócio de Constanti- nopla (aprox. 810-895), o Filioque foi, muitas vezes, con- siderado o ponto mais grave de divergência entre Oriente e Ocidente. O concílio de Florença (1439) não pretendeu 39© Caderno de Referência de Conteúdo que os Gregos aceitassem o acréscimo do Filioque, mas se contentou que reconhecessem a verdade subjacente nele (DS 1301-1303; FCC 6.070-6.71), o que eles fizeram (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 143-144). Geração28) : trata-se do ensinamento do Concílio de Nicéia (325) ("gerado não criado") sobre o modo em que o Fi- lho tem origem, desde a eternidade, do Pai sem ser por ele criado (cf. DS 125; FCC 0.503) (O'COLLINS & FARRU- GIA, 1995, p. 151). Hipóstase29) : a natureza substancial ou a realidade que está sob algo (cf. Hb 1,3). O termo criou problemas nas controvérsias cristológicas e trinitárias dos sécs. IV e V, quando começou a significar uma "realidade concreta e singular", ou uma "existência distinta pessoal". Por fim, o ensino oficial da Igreja falou de Deus como Três "hi- póstases" que compartilham a única substância ou na- tureza, e de Cristo como duas naturezas e uma "única hipóstase" ou pessoa (cf. DS 125-126; 300-303; 421; FCC 0.503-0.504; 4.012-4.013). Na teologia trinitária, usa-se o termo para sublinhar que as pessoas divinas são reais e não apenas aparentes (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 182). Mistério30) : não é algo simplesmente obscuro ou inexplicá- vel (por exemplo, um assassinato "misterioso"), mas é o plano amoroso de Deus para a salvação da humanidade que agora foi revelado por meio de Cristo (Rm 16,25; Ef 1,9; 3,9; Cl 1,26-27; 2,2; 4,3). Enquanto foi revelada de- finitivamente em Cristo, a realidade misteriosa de Deus transcende a razão e a compreensão humana. A men- te humana não pode aferrar Deus; é a majestade divina que nos aferra. A teologia protestante seguiu o tema lu- terano do Deus revelatus sed absconditus (Lat. "Deus re- velado mas ainda escondido"). Os ortodoxos cultivaram a teologia apofática que sublinha a inacessibilidadede Deus. No séc. XIX, o Concílio Vaticano I (DS 3015-3020; FCC 1.080-1.085), Matthias Scheebem (1835-1888) e ou- tros falaram dos mistérios revelados ou verdades sobre Deus (no plural). A teologia recente e o ensinamento ofi- cial acentuaram a unidade da aut0o-revelação de Deus. © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 40 Karl Rahner (1904-1984), o Concílio Vaticano II e as encí- clicas de João Paulo II favorecem a linguagem do "Misté- rio", em vez daquela dos "mistérios" divinos (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 224). Modalismo (Lat. “aspecto”)31) : essa heresia acentuava tanto a unidade divina que chegava a negar a distinção pessoal do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Eles seriam somente três manifestações ou modos com que o úni- co Deus se revelaria e agiria na criação e na redenção. Iniciado na Ásia Menor com Noeto (aprox. 200), o mo- dalismo se propagou no Ocidente com Práxeas (aprox. 200), Sabélio (início do séc. III), Fotino (séc. IV) e, até cer- to ponto, Marcelino de Ancira (| 374 aprox.) (cf. DS 151, 284; FCC 6.023) (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 226). Monarquianismo (Gr. "um só princípio")32) : termo cunha- do por Tertuliano (aprox. 160-220) para designar a teoria herética que acentuava tanto a unidade de Deus que ne- gava um Filho verdadeiramente divino com uma existên- cia pessoal distinta. Alguns monarquianos sustentavam que Jesus era divino somente no senso de um dynamis (Gr. "potência") de Deus que tinha vindo sobre ele e o tinha adotado. Os monarquianos modalistas reduziam a Trindade a modos diversos nos quais Deus se manifesta e age (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 228). Monofisismo33) : heresia atribuída aos que não aceitaram o ensinamento do Concílio de Calcedônia (451) segundo o qual existem "duas naturezas em uma só pessoa" (DS 300-303; FCC 4.012-4.013), e se separaram do Patriar- cado de Constantinopla. Nenhuma das partes, porém, sustentava claramente uma versão integral do monofi- sismo, isto é, que a encarnação significasse a fusão da divindade e da humanidade de Cristo em uma terceira natureza, ou que comportasse na absorção da natureza humana pela divina como uma gota no oceano. A dife- rença com Calcedônia parece que tenha sido, ao menos em parte, terminológica. Entre os dissidentes, Timóteo Erulo (= 477) tornou-se o patriarca “monofisista” de Ale- xandria, e Pedro Fulone (= 488) patriarca de Antioquia. As Igrejas "monofisistas" foram organizadas por Severo 41© Caderno de Referência de Conteúdo de Antioquia (aprox. 465-538), deposto do patriarcado de Antioquia em 518. As Igrejas "monofisistas" são hoje chamadas genericamente de Igrejas não calcedônias (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 230-231). Ousía34) : é o termo usado no Concílio de Nicéia I (325) para indicar a única natureza divina possuída pelo Pai e Filho (DS 125-126; FCC 0.503-0.504). O Concílio de Constanti- nopla I (381) afirmou a divindade do Espírito Santo (DS 150-151; FCC 4.019). O Concílio de Constantinopla III (553) explicitou que as três Pessoas divinas possuem a mesma "ousía” (DS 421; FCC 0.509). Em latim, “ousía" foi traduzido não somente por "essentia" ("essência"), mas também "substantia" (substância"), termo que é muito facilmente associado à palavra grega que indica "persona” (“hypostasis”) (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 257). Natureza – Essência – Substância35) : em sua significação mais comum e conhecida, natureza indica o conjunto das coisas que formam o mundo, antes da intervenção humana com sua ação consciente e livre. Na filosofia e teologia indica o núcleo essencial de uma coisa ou pes- soa. Enquanto a essência designa o núcleo fundamen- tal do ponto de vista estático, a natureza o assinala do ponto de vista dinâmico. É neste sentido que costuma ser usado na teologia trinitária e vale como sinônimo de essência ou de substância, mas sempre com especial relação à ação. A natureza é aquilo que as três Pessoas têm como integralmente em comum e que define sua unidade. Esta essência indica o princípio de modifica- ção e de atividade (natureza, do latim nasci, nascer). A razão última da atividade reside na essência própria do ser e a razão próxima na faculdade e nas forças que lhe são inerentes. Daí o axioma "o agir segue ao ser" (age- re sequitur esse). Essência indica a razão íntima do ser, pelo qual um ser é propriamente aquilo que é. Aplica- se o termo a tudo quanto é, de algum modo, um ente real ou possível, existente em si ou de algum modo, um ente real ou possível, existente em si ou em outro. Na doutrina trinitária a palavra é usada para indicar o ele- © Teologia Trinitária Centro Universitário Claretiano 42 mento substancial comum às três pessoas divinas. Não se trata, porém, de uma essência universal, possuída de modo distinto das três pessoas (como, por exemplo, a racionalidade para o ser humano), mas de uma realida- de perfeitamente individualizada, única e idêntica para as três Pessoas da Trindade. Segundo a clássica definição que recebeu por Aristóteles, a substância é aquilo que é em si mesmo e não no outro. Substância é uma realida- de dotada de próprio ser, que tem em si sua consistência ontológica. É o contrário de acidente, que não existe em si mas no sujeito. Costumamos distinguir duas espécies de substâncias: uma que é a essência universal, e outra que é este indivíduo singular e concreto. Assim, uma é a substância da humanidade, outra é a esta substância em João ou Maria. Na teologia trinitária o termo é emprega- do, analogamente, no sentido de substância individual ou singular. É usado para exprimir aquilo que é comum à três Pessoas e que, portanto, é a base de sua unidade. Dizemos que Deus é uno na substância e trino nas Pes- soas (KLOPPENBURG, 2000, p. 115-116). Patripassianismo (Lat. “sofrimento do Pai”)36) : termo cunhado por Tertuliano (aprox. 160-220) para designar a forma de Monarquianismo ou Modalismo sustentado por Práxeas (aprox. 200). Tertuliano o ridicularizou dizen- do que ele tinha expulsado o Espírito e crucificado o Pai. Outro modalista, Noeto (aprox. 200), afirmava que o Pai tinha nascido e depois morrido na cruz (O’COLLINS; FAR- RUGIA, 1995, p. (O’COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 272). Pessoa (Lat. "máscara de um autor")37) : termo usado originalmente para indicar o papel representado por alguém no palco ou na vida. Boécio (aprox. 480-524) definiu classicamente pessoa como “rationalis naturae individua substantia" (Lat. "uma substância individual de natureza racional"). Ao longo dos séculos, foram explici- tados ou acrescentados vários aspectos do que é uma pessoa: relação, incomunicabilidade, autoconsciência, liberdade, deveres, direitos e dignidade inalienável. Para Kant (1724-1804), a pessoa humana é um absoluto que não pode ser nunca usado como meio, mas deve sempre 43© Caderno de Referência de Conteúdo ser respeitada como fim moral em si. Hoje, sublinha-se muito o fato de que as pessoas estão sempre em rela- ção, que se constituem através das relações com os ou- tros e com o ambiente (O'COLLINS; FARRUGIA, 1995, p. 278-279). Pessoas da Trindade38) : são o Pai, o Filho e o Espírito San- to que possuem a única natureza divina e subsistem em relação entre si. Ao falar das Pessoas divinas, os Padres Gregos preferiam a palavra "hipóstase" (Gr. "indivíduo subsistente") à "prósopon" (Gr. "vulto, rosto"), que po- deria insinuar puro modalismo ("três rostos de Deus"). Tinham dificuldade de aceitar a palavra latina persona, mesmo que Tertuliano (aprox. 160-225) tivesse introdu- zido esse termo exatamente para combater o modalismo de Práxeas. Por sua vez, os teólogos ocidentais temiam e combatiam as tendências triteístas ("três deuses") ao falar da Trindade (O'COLLINS & FARRUGIA, 1995, p. 279- 280). Pneumatologia39) : chama-se assim o setor da teologia que estuda o Espírito Santo. As cartas de S. Paulo atestam o papel do Espírito na revelação de Deus, no conduzir à fé, no inspirar a oração, no habitar na Igreja, no prover a co-
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