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Crimes em Espécie 02

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CRIMES EM ESPÉCIE
UNIDADE 1 - CRIMES CONTRA A VIDA E O
TRIBUNAL DO JÚRI
Ronaldo Félix Moreira Júnior
Introdução
O atual Código Penal inaugura sua parte especial ao tratar dos crimes contra a pessoa, porém,
abordando especificamente os crimes contra a vida. Tendo em vista que o direito penal, ao buscar
proteger os bens jurídicos mais relevantes à sociedade, demonstra claramente que a vida é um dos bens
jurídicos mais importantes, ou até mesmo o bem jurídico mais importante a ser tutelado.
O presente capítulo é fundamental para que o aluno possa compreender não apenas como o direito
penal organiza sistematicamente os eventuais delitos a serem punidos, mas também para entender
quais são as consequências processuais de uma conduta delituosa.
O presente estudo é essencial para que se possa responder à relevantes indagações, como essa: quais
elementos diferenciam o homicídio em sua forma padrão do feminicídio?
Além disso, o capítulo também é responsável por abordar questões processuais, principalmente aquelas
relacionadas ao tribunal do júri, para que se possa deixar claro suas hipóteses de funcionamento,
respondendo outras questões, como, por exemplo: toda forma de homicídio acarretará necessariamente
um julgamento pelo tribunal do júri?
Curioso para saber? As respostas e outros pontos muito importantes estão na sequência do conteúdo.
Portanto, leia com atenção. Boa leitura!
1.1 Crimes contra a vida e feminicídio
O primeiro delito apresentado ao operador do direito no Código Penal, a conduta do homicídio,
apresenta-se de forma simples no art. 121 de nosso Código Penal: “Art. 121. Matar alguém: Pena –
reclusão, de seis a vinte anos”. É necessário afirmar, contudo, que o delito em questão apresenta
inúmeras situações que podem alterar de forma drástica a pena aplicada, ou mesmo fazer com que ela
deixe de ser aplicada. O feminicídio, objeto central de nosso estudo, trata-se de uma modalidade de
homicídio, conforme demonstrado.
O homicídio simples é o primeiro a ser tratado nesse capítulo, uma vez que será por meio de suas
características que surgirá a possibilidade de melhor compreender as demais espécies e diferenciá-las
conforme o caso concreto.
Quadro 1 - As espécies gerais de homicídios apresentadas pelo atual Código Penal, bem como o parágrafo
que trata de cada um desses elementos. Cada um desses elementos, por sua vez, possui suas próprias
espécies.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 99.
1.1.1 Homicídio simples
Conforme previsto no caput do art. 121 do Código Penal, o homicídio simples possui como pena a
reclusão do indivíduo por um período entre seis a vinte anos. Conforme Gonçalves (2018), o delito pode
ser definido como a eliminação da vida extrauterina de um ser humano, desde que essa eliminação
tenha sido causada por outra pessoa. É necessário que a morte tenha ocorrido em decorrência da
atuação do sujeito ativo do delito.
Clique nas abas a seguir e conheça mais sobre este tipo de homicídio.
Requisito
Importa dizer que não é um requisito para o crime, a ação direta do agente, tendo
em vista que ele pode ser praticado de forma indireta, como no caso em que o
agente se utiliza de uma outra pessoa (ao pedir, por exemplo, que alguém
entregue uma bebida envenenada ao sujeito passivo do delito).
Objeto
jurídico
Conforme mencionado, trata-se da vida extrauterina de um ser humano. Esse
elemento é essencial para que se possa diferenciar o crime de homicídio do
crime de aborto. Uma vez que a vida é o único bem jurídico da conduta estudada,
pode-se classificar o homicídio como um crime simples. Gonçalves (2018) nos
lembra que até mesmo um homicídio qualificado constitui um crime simples,
tendo em vista que o bem jurídico afetado é uno (a vida). Não se pode, portanto,
confundir as expressões “homicídio simples” e “crime simples”.
Crime de
dano
Também é importante ressaltar que se trata de crime de dano, uma vez que para
poder ser efetivamente configurado é necessária lesão real ao bem jurídico
tutelado. O desfecho morte é, assim, um requisito para sua consumação.
Ação livre
Quanto ao meio de execução, não há um rol taxativo de formas pelo qual o delito
pode ser praticado. Estefam (2016) aponta para o fato de que é admitido
qualquer meio capaz de causar o evento morte (seja por disparos de arma de
fogo, atropelamento, envenenamento etc.). Essa ampla possibilidade de
execuções torna o homicídio um delito de ação livre, que pode ser praticado por
uma ação ou por omissão.
Crime
comum
O homicídio está enquadrado dentro do conceito de crime comum, uma vez que
pode ser praticado por qualquer indivíduo, não havendo requisitos legais de
caráter subjetivo para sua realização.
Sujeito
passivo
No que diz respeito ao sujeito passivo, qualquer indivíduo (desde que tenha
nascido com vida, requisito essencial) poderá ser vítima do crime de homicídio.
Importa dizer que para o Direito Penal, considera-se a gravidez iniciada com a
nidação, motivo pelo qual não será possível a ocorrência de aborto antes desse
período.
1.1.2 Homicídio privilegiado
O primeiro parágrafo do art. 121 do Código Penal, estipula que o juiz poderá reduzir a pena de um sexto a
um terço, caso o agente tenha cometido o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou quando o fizer sob o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima. Trata-se
de hipótese chamada de “homicídio privilegiado”, pela doutrina penal.
A natureza jurídica da hipótese mencionada é de causa de diminuição de pena (uma vez que não há
cominação de nova pena menor que a prevista pelo caput, mas a previsão de redução de um
determinado montante).
Vale lembrar que, conforme Busato (2017), apesar de a lei prever que o juiz poderá diminuir a pena, essa
redução é obrigatória, caso haja o reconhecimento do privilégio pelo júri, em conformidade com o art.
483, IV, do Código de Processo Penal. O artigo em questão menciona que as causas de diminuição de
pena devem ser apreciadas pelos jurados e, no caso de votação favorável, a redução deverá ser aplicada
pelo juiz, em obediência ao princípio da soberania dos vereditos (previsto no art. 5º, XXXVIII, c, da
Constituição Federal).
Dolo e
tentativa
Ressalta-se ainda que, no que diz respeito ao tipo subjetivo, o homicídio requer a
presença de dolo (seja ele direito ou eventual) ou incorrerá na hipótese de
homicídio culposo (art. 121, §3º, CP). Já no tocante à tentativa, ela é plenamente
possível (quando o crime não puder ser consumado devido a circunstâncias
alheias à vontade do agente), sendo que o crime restará consumado apenas com
a morte do agente. 
Importante mencionar que o que é colocado como “injusta provocação da vítima”, se diferencia
completamente da legítima defesa, que pressupõe uso de meios moderados e necessários para repelir
uma agressão injusta. Esses requisitos não se encontram no caso da injusta provocação que pode
ocorrer, por exemplo, na hipótese em que um indivíduo desafia e ameaça outro, responsável por matá-lo
posteriormente. Ressalta-se que o ato homicida deve ocorrer, em conformidade com o §1º, do art. 121,
logo após tal provocação.
1.1.3 Homicídio qualificado
O crime de homicídio terá pena de doze a trinta anos nas hipóteses elencadas no §2º do art. 121 (incisos
I a VII). É importante lembrar que, além de qualificado, tais hipóteses fazem com que o crime tenha
natureza hedionda, alterando, assim, o regime de cumprimento de pena (Gonçalves, 2018).
CASO
A doutrina diferencia o relevante valor social (quando a motivação do agente, de
certa forma, beneficia uma coletividade), do relevante valor moral (ligado ao
sentimento pessoal do agente).
Um caso de homicídio por relevante valor social, pode ocorrer quando um
indivíduo acaba por assassinar um verdadeiro “assassino serial”, que se preparava
para cometer mais crimes na proximidade de uma cidade.
Já em relação ao homicídio por relevante valor moral, é possível utilizar como
exemplo a eutanásia, que ocorre quando o agente tira a vida da vítima para acabar
com grave sofrimento que possa decorrer de algumaenfermidade. Nesse caso, é
plenamente possível que os jurados reconheçam o relevante valor moral na
situação em que uma pessoa desligue os aparelhos que mantém vivo um segundo
indivíduo, que se encontre em estado vegetativo ou grave, sem qualquer hipótese
de recuperação futura.
Diferente da causa de aumento de pena, a qualificadora estipula um quantum maior do que a pena
prevista no caput. Não se trata, portanto, de um mero aumento da pena aplicada ao caso concreto, mas
de uma estipulação nova em abstrato.
Quadro 2 - Os incisos que descrevem as figuras qualificadas do homicídio estão agrupados conforme suas
características em comum.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 117.
Muito tem se discutido a respeito do tema feminicídio, contudo, apesar do senso comum ainda enxergar
essa hipótese como delito autônomo, ela está, em verdade, elencada como uma das modalidades de
homicídio qualificado, conforme o art. 121, §2º, VI, CP. 
Vamos conhecer mais sobre esse tema clicando a seguir.
Figura 1 - Conforme o art. 121, §2º, III, CP, a utilização de veneno configura homicídio qualificado, com
pena entre doze a trinta anos de reclusão.
Fonte: kanusommer, Shutterstock, 2019.
Homicídio qualificado 
Estipula o sexto inciso do segundo parágrafo do art. 121, que o homicídio será qualificado,
caso cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
A definição de violência doméstica e familiar, entretanto, não se encontra no Código Penal, mas na Lei
11.340/06 (Lei Maria da Penha) em seu art. 5º, que define tal violência como qualquer ação, ou mesmo
omissão baseada no gênero, causando “morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral e patrimonial”, desde que seja em âmbito de unidade doméstica familiar ou em qualquer outra
relação íntima de afeto.
Motivação como condição
Essa modalidade está prevista no atual código desde a Lei 13.104/2015 e se trata de uma
verdadeira qualificadora de caráter subjetivo, tendo em vista que não basta a condição de
mulher no polo passivo, há também a necessidade que o delito, conforme Busato (2017),
seja realizado por motivação relacionada à condição do sexo feminino da vítima.
Condições para o crime
O próprio Código Penal, por meio da Lei 13.104/15, inseriu um novo parágrafo (§2º-A), no
qual há explicações sobre o que são razões de condição do sexo feminino. Conforme o
parágrafo, essas condições existirão quando o crime envolver: I – violência doméstica e
familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição da mulher.
Não se pode esquecer que a modalidade em questão dessa qualificadora do crime de homicídio, não diz
respeito à vítima próxima ao agente, mas a qualquer mulher, por força do inciso II, ao trazer a expressão
“menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
Dessa forma, também é importante ressaltar, conforme o entendimento de Gonçalves (2018), que
somente mulheres podem ser sujeito passivo do crime em questão. O autor salienta que homens,
homossexuais ou até travestis, não podem figurar no polo passivo, podendo, entretanto, haver a
qualificação por motivo torpe (como no caso da morte de um travesti, devido a sua própria condição).
Por fim, é necessário mencionar as causas de aumento de pena previstas no sétimo parágrafo do art.
121, todas relacionadas ao feminicídio. Conforme o parágrafo em questão, há três hipóteses de aumento
de pena (de um terço até a metade). Clique nos ícones abaixo para conhecê-las.
1) Crime cometido durante a gestação ou nos
três meses posteriores ao parto.
2) Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60
anos ou com qualquer tipo de deficiência física
ou mental.
3) Na presença de descendente ou de
ascendente da vítima.
VOCÊ QUER LER?
O livro “Feminicídio – Uma análise sociojurídica da violência contra a mulher no
Brasil”, escrito por Adriana Ramos de Mello, discute a problemática mundial no
feminicídio, com foco em casos brasileiros. Além de abordar questões jurídicas
relevantes a respeito do tema, a obra também conta com importante estudo
sociológico e análise de casos reais de mulheres vítimas de violência.
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•
•
Vale ressaltar, de maneira geral, sobre as qualificadoras, que caso os jurados reconheçam duas ou mais
delas na mesma situação, no momento da aplicação da pena, o juiz deverá utilizar a primeira delas para
fixar a pena base (dentro dos limites estabelecidos pelo código: doze a trinta anos) e, posteriormente,
utilizar as demais como circunstancias agravantes, em conformidade com o art. 61, II, alíneas a até d, do
Código Penal (ESTEFAM, 2016).
1.1.4 Demais crimes contra a vida: induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio e infanticídio
É de extrema importância salientar que o delito de homicídio (art. 121, CP) é seguido das hipóteses
delitivas previstas nos arts. 122 (induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio) e 123 (infanticídio),
também inseridos no rol de crimes contra a vida, julgados necessariamente pelo tribunal do júri.
Como previsto no art. 122, também conhecido como participação em suicídio, o ato de induzir, instigar
ou prestar auxílio para que alguém se suicide pode ser punido com reclusão, de dois a seis anos, caso
ocorra efetivamente o suicídio, ou de um a três anos, se da tentativa ocorre lesão corporal de natureza
grave.
Ressalta-se que o ato de induzir diz respeito a fazer surgir a ideia do suicídio na vítima, algo não antes
existente. A instigação, por outro lado, trata-se do reforço de uma ideia já existente. O auxílio, por sua
vez, é a colaboração de alguma forma no suicídio, como no caso da pessoa que empresta veneno a
outra para que ela dê fim à própria vida (ESTEFAM, 2016).
Nos termos da classificação doutrinária (GONÇALVES, 2018), trata-se de um delito simples e de dano,
tendo em vista que requer a ocorrência de um resultado naturalístico (a morte ou lesão grave) para que
possa ser consumado. Apesar disso, também é hipótese de crime comum, tendo em vista que não há
qualquer requerimento especial quanto ao sujeito ativo. Admite-se, portanto, concurso eventual quanto
ao sujeito ativo.
Também se trata de crime de ação livre e múltipla, de modo que a realização de uma ou mais condutas
previstas no caput ensejaram na ocorrência de crime único. Assim, um indivíduo que instiga e também
auxilia outrem à prática do suicídio responderá apenas por um delito.
Por fim, vale lembrar que se trata de um crime doloso (quanto ao elemento subjetivo) e que não admite
tentativa (GONÇALVES, 2018), uma vez que será o fato atípico nos casos em que não ocorrer o resultado
morte ou lesão grave.
O parágrafo único do mesmo dispositivo traz hipóteses em que a pena é duplicada. Clique nos ícones a
seguir.
I – Nos casos em que o delito for praticado por
motivo egoístico.
II – Quando a vítima for menor ou ter diminuída
sua capacidade de resistência por qualquer
causa.
O delito de infanticídio está previsto no art. 123 e consiste em matar, sob a influência do estado
puerperal, o próprio filho durante ou logo após o parto. A pena prevista é a de detenção de dois a seis
anos.
•
•
Trata-se de uma hipótese especial de assassínio, prevista em delito próprio, tendo em vista suas
especificidades. O estado puerperal se trata, em verdade, de um fenômeno no parto ocorrido em razão
de uma intensa dor que é provocada, além da perda de sangue e do esforço necessário à gestante, o que
favorece a ocorrência de uma grande alteração hormonal capaz de levar a uma alteração psíquica,
acarretando, em determinadas vezes, em uma forte rejeição pela mãe do produto da gestação.
No que diz respeito a sua classificação doutrinária, trata-se de um crime simples e de dano (quanto à
objetividade jurídica), havendo a necessidade do resultado morte. É também crime próprio e de concurso
eventual quanto ao sujeito ativo. Importante lembrar, quanto a esse aspecto da classificação, que o delito
admite coautoria, uma hipótese em que tanto a mãe da criança quanto o coautor responderão pelo
mesmo por força do art. 30, do Código Penal, que estabelece que as circunstâncias de caráter pessoal
apenas secomunicarão entre os agentes quando forem elementares de um delito (GONÇALVES, 2018).
Ainda quanto à classificação, é um delito de ação livre (podendo ser praticado tanto por ação ou
omissão), material e instantâneo, quanto ao momento da consumação, além de ser doloso quanto ao
seu elemento subjetivo.
1.2 Crime de aborto e hipóteses permissivas
O aborto nada mais é que a interrupção da gravidez que resulta na morte do feto, produto da concepção.
O delito pode ser praticado a partir do momento em que a gravidez se inicia. Controvertida, contudo, é a
questão a respeito de quando se inicia a gravidez.
Gonçalves (2018) menciona que parte da doutrina entende que o início da gravidez ocorre com a
fecundação, enquanto outros estipulam que a nidação (implantação do óvulo fecundado no útero) é o
marco inicial. Prevalece, entretanto, o entendimento de que é com a nidação que ocorre o início da
gravidez (o que torna atípico, por exemplo, o uso da pílula do dia seguinte, que impede a ocorrência da
nidação).
Importante ressaltar que se trata de um crime cujo tipo subjetivo é o dolo, não havendo a possibilidade
de responsabilização penal, se o aborto decorre de causas naturais ou de acidentes.
O aborto pode ocorrer, portanto, de forma natural, acidental, criminosa ou até legal. Importa para o
presente estudo apenas as formas criminosas ou legais, analisadas a seguir.
Quadro 3 - As formas puníveis de aborto, conforme estipuladas pelo atual Código Penal, sejam elas
provocadas pela própria gestante ou mesmo por terceiro – com ou sem sua anuência.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 180.
1.2.1 Hipóteses criminosas de aborto 
É preciso que se analise com cuidado os elementos base das formas criminosas de aborto, haja visto
que, apesar das similaridades, as consequências para o agente (ou os agentes) são diversas.
A primeira hipótese se encontra prevista no art. 124, consistente na provocação em si mesma ou do
consentimento para que outrem provoque o ato. A pena prevista é de detenção de um a três anos.
O artigo traz duas modalidades distintas. Vamos conhecer todas as modalidades de aborto clicando a
seguir.
A primeira, o autoaborto, pode ser encontrada na primeira parte do delito, pela provocação em
si mesma, do aborto. Nesse caso, é a gestante a responsável pelas manobras abortivas. Como
um delito de ação livre, pode ocorrer pelas mais diversas formas, como por ingestão de
remédios ou até esforços excessivos. 
No autoaborto, é certo que a qualidade de gestante é indispensável para sua prática, tratando-se
de crime próprio. Essa, porém, não é a única característica relevante desse delito, que também
pode ser considerado de mão própria, por não admitir coautoria. Uma outra pessoa que auxiliar a
gestante a provocar aborto em si mesma, não responderá, portanto, pelo caput do art. 124, mas
por provocação de aborto com o consentimento da gestante, conforme será demonstrado.
Entende-se que a participação é possível, por exemplo, nos casos dos que incentivam
verbalmente a ingestão pela gestante de medicamento abortivo. (ESTEFAM, 2016)
O produto da concepção é o sujeito passivo da conduta estudada. Autores como Júlio Mirabete,
compreendem que o feto não é o verdadeiro titular do bem jurídico, sendo o Estado e a
comunidade os verdadeiros sujeitos passivos do crime. Nesse caso, não seria sequer hipótese de
crime contra a pessoa. 
A segunda modalidade criminosa ainda se encontra no art. 124, na parte em que estipula
“consentir que outrem lhe provoque”. Nesse caso, não há prática do ato pela gestante, mas
apenas sua anuência para que outra pessoa nela realize o procedimento abortivo. Um caso
comum é o da gestante que vai até uma clínica abortiva.
Trata-se aqui de uma verdadeira exceção à teoria monista do crime (pela qual autor e coautor
respondem pelo mesmo delito), já que a gestante responde pelo crime na forma do art. 124,
enquanto o responsável pelo aborto responde pelo delito insculpido no art. 126, CP.
Tal delito também admite a figura da participação, conforme mencionado por Gonçalves (2018).
Exemplo comum é o da pessoa que fornece dinheiro para a gestante procurar alguém para nela
realizar a conduta abortiva.
•
•
•
O autoaborto
Aborto provocado por outro de maneira consentida
Aborto com consentimento da gestante
Menciona-se que há um tema comum para todas as modalidades de aborto criminoso: todos os crimes
possuem como objeto jurídico a vida humana intrauterina e se consumam com a efetiva morte do feto,
tratando-se, portanto, de crime material.
A tentativa é possível em todas as figuras do aborto criminoso, bastando que a conduta direcionada à
provocação do aborto seja interrompida por motivos alheios à vontade do agente.
Não se pode deixar de ressaltar as causas de aumento de pena previstas no art. 127, CP. Consta que: “as
penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provoca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e
são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte”.
Nota-se que tais hipóteses são aplicadas ao terceiro, que realiza o aborto com ou sem o consentimento
da gestante (tendo em vista que o art. 127 refere-se exclusivamente aos arts. 125 e 126). Certamente,
não há sentido em haver uma causa de aumento de pena à gestante que, por sua própria ação, causa
lesão grave a si mesmo durante o processo de abortamento. Tratam-se também de casos
necessariamente preterdolosos – dolo no delito de aborto e culpa no resultado, diz Busato (2017) – que
podem ser reconhecidos quando a morte ou a lesão grave forem consequências culposas do aborto.
1.2.2 Hipóteses de aborto legal
A terceira modalidade diz respeito à provocação do aborto com o consentimento da gestante,
conforme previsão do art. 126: “Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena –
reclusão de um a quatro anos”. O artigo também prevê, em seu parágrafo único que: “aplica-se
a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental, ou se o consentimento é obtido com emprego de fraude, grave ameaça ou violência”.
Nota-se que o principal fator diferenciador das duas últimas modalidades será justamente a
existência, ou não, do consentimento da gestante. No primeiro caso (art. 126), deve ocorrer de
forma livre e espontânea, motivo pelo qual o parágrafo único estipula pena mais grave para
situações em que esse consentimento ocorre de maneira viciada.
A presente hipótese se trata de crime comum, uma vez que qualquer pessoa poderá realizar a
conduta (não é necessário que o indivíduo seja médico ou enfermeiro). É plenamente possível,
para esse caso, a associação de três ou mais pessoas para a montagem clandestina de clínica de
aborto, caracterizando também o delito de associação criminosa do art. 288, CP.
A última modalidade de aborto criminoso consta no art. 125: “Provocar aborto, sem o
consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos”. (GONÇALVES, 2018)
Trata-se da modalidade mais grave do delito de aborto, podendo ocorrer em duas diferentes
hipóteses: a) quando não há qualquer autorização por parte da gestante. Ocorre em situações
como em agressão física com o objetivo de fazer uma mulher grávida abortar; b) quando ocorre a
autorização, mas ela não possui qualquer valor jurídico em razão do que dispõe o parágrafo único
do art. 126, CP.
•
Aborto sem consentimento da gestante
Não se pode estudar o delito de aborto sem compreender as hipóteses legais de aborto. Isso quer dizer
que existem casos em que o direito se exime de punir o abortamento praticado sob determinadas
circunstâncias.
Conforme o art. 128, CP, o aborto não será punido quando: a) não houver outro meio para salvar a vida da
gestante; b) se a gravidez resultar de estupro e o aborto subsequente for precedido de consentimento da
gestante, ou de seu representante legal, quando ela for incapaz.
O primeiro caso diz respeito ao chamado aborto necessário ou terapêutico, conforme estipuladono
inciso I. Ocorre quando não há outra maneira de salvar a vida da gestante (já em risco), a não ser por
meio da realização do aborto, como nos casos da gravidez tubária (em que o óvulo fecundado não se
implanta no útero, mas em uma das trompas, acarretando possível hemorragia interna).
Conforme Gonçalves (2018), não é necessário que haja risco atual ou iminente para a gestante (nesses
casos, existe a excludente de ilicitude do estado de necessidade), basta que se constate nos primeiros
meses de gestação, que poderá ocorrer risco com a continuidade da gravidez.
Importante dizer que, em qualquer das hipóteses permissivas, é imperativo que o aborto seja praticado
por médico.
Nos casos em que a gravidez resulta de estupro, trata-se do que se chama de aborto sentimental ou
humanitário, tendo em vista que uma gravidez indesejada ocorreu decorrente de ato sexual forçado.
Busato (2017) menciona que qualquer que seja a hipótese, também é importante que haja o
consentimento da gestante, ou de seu representante legal, no caso de comprovada incapacidade da
gestora. Contudo, não há necessidade de autorização judicial, nem mesmo prévia condenação do
estuprador (no caso do aborto humanitário). Basta que o médico se convença da ocorrência de uma
violência sexual (não é necessário, inclusive, a existência de boletim de ocorrência).
VOCÊ SABIA?
Há o aborto nos casos de anencefalia, configurada pela constatação médica da
ausência dos hemisférios cerebrais e do cerebelo no feto, tornando impossível
sua vida extrauterina. O Plenário do STF, em 2012, julgou procedente a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (n. 54), que foi ajuizada
pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), declarando,
por fim, a constitucionalidade da interrupção da gravidez nos casos de
gestação de feto anencefálico. Conforme a Resolução 1.989/12 do Conselho
Federal de Medicina, em seu art. 1º, no caso de constatação inequívoca de
anencefalia, o médico pode realizar o aborto, desde que a pedido da gestante,
sendo desnecessária qualquer autorização estatal.
1.3 Hipóteses de condutas para o julgamento pelo tribunal
do júri e seu procedimento
O júri é reconhecido pela nossa Constituição Federal como uma garantia do indivíduo, presente no art.
5º, XXXVIII. Atribui-se a esse tribunal a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Constitui cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV, CF) e não pode essa competência ser suprimida nem mesmo
por emenda constitucional.
É possível conceituar, conforme Gonçalves e Reis (2018), o tribunal do júri como um órgão jurisdicional
de primeiro grau da Justiça Comum Estadual e Federal, formado exclusivamente por cidadãos
escolhidos por meio de sorteio, temporariamente investidos de jurisdição, acompanhados de um juiz de
direito.
São considerados crimes dolosos contra a vida aqueles previstos no Capítulo I, do Título I da Parte
Especial do Código Penal. Admite-se o julgamento de suas formas consumadas ou tentadas (art. 74,
§1º, CPP). Estão, portanto, excluídos da apreciação pelo tribunal do júri, os delitos que incluem o
resultado morte de forma dolosa, mas que não estão listados no título mencionado (como o latrocínio,
julgado por juiz singular, conforme estipulação da Súmula 603, STF).
Figura 2 - Diferente do direito consuetudinário norte-americano, onde o tribunal do júri é presente na
maioria dos julgamentos, o direito brasileiro admite sua competência apenas nos casos de crimes dolosos
contra a vida e crimes conexos no caso concreto (como ocultação de cadáver).
Fonte: Shutterstock, 2019.
Importante ressaltar, conforme Lopes Júnior (2015), que a prerrogativa por foro será observada em
detrimento do próprio tribunal do júri, mas apenas caso tal prerrogativa estiver prevista na Constituição
Federal, em consonância com a Súmula Vinculante n. 45 do STF, que dispõe que a competência do
tribunal do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa que for estabelecido apenas em constituição
estadual.
1.3.1 Primeira fase do júri
Também chamada de iuditio acusationis, ou mesmo de juízo de acusação, a primeira fase do júri tem
início com o oferecimento da denúncia ou da queixa-crime (apenas nos casos de ação penal privada
subsidiária da pública nos termos do art. 29, CPP). A denúncia, conforme Oliveira (2016), pode ser
rejeitada ou recebida pelo juiz, sendo que da decisão proferida que receba a denúncia, não é cabível
qualquer tipo de recurso. O que não impede, entretanto, habeas corpus (uma vez que não se trata de um
recurso, mas um remédio constitucional). Após a denúncia, o réu deverá ser citado para apresentar
resposta à acusação em 10 dias.
Havendo rejeição da denúncia pelo magistrado, é cabível a interposição de recurso em sentido estrito
pelo Ministério Público. Essa possibilidade decorre do próprio Código de Processo ao dispor no art. 581,
I: “Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I – que não receber a denúncia
ou a queixa”.
Uma vez que a defesa foi apresentada, deverá também o Ministério Público se manifestar sobre os
documentos apresentados no prazo de cinco dias.
Indaga-se, nesse momento, a respeito de ser ou não possível a absolvição sumária (prevista no art. 397,
CPP) no âmbito da competência do júri – nas hipóteses legais de: I) existência manifesta de causa
excludente de ilicitude; II) existência manifesta de excludente de culpabilidade; III) não constituição de
delito (o fato narrado); ou IV) extinção de punibilidade.
VOCÊ O CONHECE?
Aury Lopes Júnior é um processualista brasileiro graduado pela Fundação
Universidade Federal do Rio Grande, no ano de 1991 Especializou-se e doutorou-se
em Direito Processual Penal pela Universidade Complutense de Madrid, no ano de
1999. Atualmente, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Criminais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, estuda e
escreve a respeito de importantes questões referentes ao direito processual penal,
como seu manual de Direito Processual Penal (2015).
Dispõe o art. 394, §4º, CPP que as disposições dos arts. 395 a 398 (enquadrando-se aí o art. 397) são
aplicadas a todos os procedimentos penais de primeiro grau, de modo que é possível, portanto, a
absolvição sumária na primeira fase do júri. É importante destacar que a doutrina não é pacífica nesse
ponto. Reis e Gonçalves (2018) compreendem não haver lugar no procedimento do júri para a aplicação
do art. 297, tendo em vista que a lei prevê oportunidade diversa para a absolvição sumária nos
processos de competência do júri. Também decidiu pela negação da aplicação do artigo em questão,
uma decisão da Quinta Turma do STJ no Recurso Ordinário Constitucional no HC n. 52.086/MG, de
relatoria do Ministro Jorge Mussi. Havendo, contudo, absolvição sumária do réu, nada impedirá eventual
apelação por parte do Ministério Público.
Não havendo absolvição sumária, deverá ser designada a audiência de instrução e julgamento, onde
serão ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, não sendo permitido mais que oito testemunhas
para cada parte. Também ocorre nesse momento os esclarecimentos de peritos e assistentes técnicos.
O réu será, ao final, interrogado.
Conforme Oliveira (2016), as razões finais são feitas normalmente de forma oral, havendo prazo máximo
de vinte minutos para cada parte (prorrogáveis apenas por mais dez minutos). Menciona-se, entretanto, o
art. 394, §5º, do CPP, em sua previsão sobre a possibilidade de aplicação subsidiária das disposições do
rito comum ordinário em rito especial. Cabe, assim, a possibilidade de apresentação de razões finais por
escrito no prazo máximo de cinco dias.
Tourinho Filho (2018) bem menciona as quatro possíveis decisões que podem ser tomadas pelo juiz
após a apresentação das razões finais. Clique a seguir para conhecê-las.
VOCÊ QUER VER?
O documentário A influência da mídia no tribunal do júri (2016), é uma interessante
obra, que conta com entrevistas e análises do papel midiático na sociedade,
demonstrando como o tribunal do júri pode sofrer influênciasexternas. O vídeo
parte da entrevista de diversos operadores do direito (como defensores públicos e
juízes) e também com jornalistas e jurados. Clique no link
<https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
(https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU)> para ter mais informações.
Você vai gostar!
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
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Entendendo o juiz que se trata de caso de pronúncia, ocorrerá, finalmente, a segunda fase do júri.
1.3.2 Segunda fase do júri
A segunda fase do tribunal do júri também recebe o nome de judicium causae. Ocorre apenas com o
trânsito em julgado da decisão de pronúncia. Inicia-se com a intimação do réu nos termos do art. 420,
CPP. Apesar da regra da intimação pessoal, será possível a intimação por edital nas hipóteses em que o
réu não for encontrado.
Navegue no recurso abaixo e conheça como acontece essa segunda fase.
Impronúncia
Absolvição sumária
Desclassificação
Conforme previsão do art. 414, CPP, ocorrerá a impronúncia
quando não houver qualquer comprovação de materialidade ou
indícios de autoria do investigado. Importante lembrar que o fato
de ter ocorrido a impronúncia não gera coisa julgada, de modo
que é possível haver o oferecimento nessa denúncia em
momento posterior. Da decisão de impronúncia cabe apelação
nos termos do art. 416, CPP.
Ocorre quando houver provas da inexistência do crime ou de que
o réu não o praticou. Também ocorre quando se prova que o fato
investigado não for crime ou caso haja qualquer excludente de
culpabilidade ou ilicitude, em consonância com o art. 415, CPP.
Também é possível a apelação nos ditamos do art. 416, CPP.
Acontece nas hipóteses em que o magistrado compreende que
há crime no caso contrato, mas tal crime investigado não é de
competência do júri, devendo o processo ser remetido ao juízo
competente nos termos do art. 419, CPP. Um clássico exemplo,
mencionado por TOURINHO FILHO (2018), é da verificação da
prática de homicídio culposo (saindo, portanto, da seara dos
crimes dolosos contra a vida).
Da desclassificação não cabe apelação, mas recurso em sentido
estrito, conforme o art. 581, II, CPP.
Após a intimação, as partes (réu e Ministério Público) terão cada uma o prazo de cinco dias
para apresentar a lista de testemunhas para depor em plenário. O número máximo de
testemunha é de cinco e, nesse momento, poderão ainda ser juntados documentos ou
requerida qualquer diligência.
É na deliberação judicial (art. 423, CPP) que o magistrado fará o relatório processual,
deferindo provas e marcando a data do plenário. Importante mencionar que poderá ocorrer o
desaforamento, deslocando-se a competência territorial do júri para a comarca mais
próxima.
Ele pode ocorrer nos casos de interesse de ordem pública, dúvida sobre a imparcialidade do
próprio júri ou mesmo em questões relacionadas à segurança do réu, em conformidade com
o ar. 427, CPP. Para Lopes Júnior (2015), o desaforamento é uma medida extrema,
representando até mesmo uma violação da competência em razão do lugar, existindo
apenas sua possibilidade na segunda fase do júri. É necessário, para o desaforamento, uma
audiência da defesa, em consonância com a Súmula 712, do STF.
Não havendo hipótese para desaforamento, serão convocados vinte e cinco jurados para o
momento do julgamento. Um mínimo de 15 jurados deve comparecer sob pena de nulidade
do procedimento (art. 564, III, i, CPP). Serão sorteados, dos jurados que comparecerem, um
total de sete para compor o conselho de sentença. 
Ressalta-se dois pontos relevantes: 1) tanto a defesa quanto a acusação, pode recusar até
três jurados, conforme critérios técnicos ou até mesmo íntimos; 2) os atos da sessão
plenária seguirão a mesma ordem da audiência de instrução anterior, com a oitiva da vítima,
inquirição de testemunhas de acusação e posteriormente de defesa, peritos, assistentes
técnicos e eventuais requerimentos e, ao final, o interrogatório).
Ocorrem, posteriormente, os debates orais, fase em que a acusação e defesa tentarão
persuadir os jurados, cada qual com seus argumentos (art. 476, CPP).
O prazo para cada parte, conforme lembra Reis e Gonçalves (2018), é de meia hora. Caso o
Ministério Público opte pela réplica, haverá um prazo de mais uma hora para fazê-lo
(possibilitando, assim, a tréplica pela defesa por igual período de tempo).
Indaga-se: o prazo é o mesmo em casos em que há mais de um réu sendo acusado? Nessa
hipótese, será acrescida uma hora para cada um de tais prazos.
Uma vez sendo encerrada a votação e tendo sido assinado o termo referente às respostas dos quesitos,
deverá o juiz proferir a sentença. Menciona Tourinho Filho (2018) que no caso de absolvição, o juiz
deverá colocar o réu imediatamente em liberdade (exceto nos casos de prisão por outro motivo). Na
hipótese de condenação, o juiz fixará a pena-base levando em consideração as circunstâncias
agravantes e atenuantes, bem como causas de aumento e diminuição de pena, enviando o réu à prisão
em que se encontra, havendo requisitos para a prisão preventiva.
Os jurados (caso não haja nenhuma dúvida por parte deles a ser sanada) serão, então,
chamados para a sala secreta, não podendo haver a presença de nenhuma pessoa além
deles, do juiz de direito, do Ministério Público e da defesa. Trata-se do momento da votação,
previsto nos arts. 482 a 491, CPP.
Cada um dos jurados receberá uma cédula com os dizer “sim” e outra com o dizer “não”, para
a votação em cada um dos seguintes quesitos legais e nesta determinada sequência: 1)
Materialidade; 2) Autoria; 3) Absolvição do réu; 4) Análise da tese de defesa; 5) Análise da
tese de acusação.
1.4 Os princípios da plenitude de defesa; sigilo das
votações; e soberania dos vereditos
Embora seja atribuição do Código de Processo Penal, regulamentar a organização do júri, a Constituição
Federal estabeleceu importantes diretrizes para sua boa instituição e funcionamento. Tais diretrizes são
expressas por meio dos princípios básicos que você conhece clicando a seguir. 
No júri é cabível a utilização de argumentos de cunho moral, ou até mesmo religioso. para a
íntima convicção do julgador. A plenitude de defesa, conforme Tourinho Filho (2018), trata-se
da possibilidade do réu se beneficiar dessa forma de julgamento. Assim, é plenamente
possível que informações que não constem nos autos, podem influenciar a decisão de um
jurado. Importante ressaltar que essa defesa não substituiu o contraditório e nem funciona
como uma carta branca às provas ilegais para o réu, mas um modo para garantir a paridade de
armas na relação processual. Também diz respeito à plenitude de defesa, o fato de que o juiz
pode declarar o réu indefeso e dissolver o Conselho de Sentença, caso entenda que o
desempenho de seu defensor é insuficiente (conforme o art. 487, V, CPP).
Tem como objetivo principal a manutenção dos jurados a salvo de qualquer forma de ameaça
ou constrangimento. Reis e Gonçalves (2018) mencionam que não há qualquer forma de
incompatibilidade entre o princípio do sigilo das votações e a publicidade dos julgamentos
(previstos, respectivamente, nos arts. 5º, XXXVIII e 93, IX, CF). O art. 487, do Código de
•
•
Plenitude de defesa
Sigilo das votações
Antes que se possa discutir o funcionamento do tribunal do júri, é importante mencionar suas principais
características expostas pela doutrina (GONÇALVES; REIS, 2018). São elas:
Temporariedade: O tribunal do júri é um órgão jurisdicional, mas
sem caráter permanente, sendo constituído apenas em
determinados momentos para a apreciação de causas de sua
competência, sendo dissolvido posteriormente.
Colegiado: Trata-se de órgão integrado por diversos membros,
não apenas um juiz singular.
Heterogeneidade: O tribunal é composto por diferentes
membros, quais sejam: um juiz de direito (juiz presidente) e vinte e
cinco jurados (juízes leigos). Dentro dos jurados, sete são
sorteados a cada julgamento para a formação do conselho de
sentença.
Decisão majoritária: As decisões do júri são tomadas apenas por
meio da maioria simples dosvotos proferidos.
Processo penal foi alterado pela Lei 11.689/08, de modo que não é mais necessário constar o
número de votos que foram dados na forma negativa ou afirmativa aos quesitos, sendo assim
respeitado o sigilo das votações e a soberania dos vereditos.
Trata-se de impossibilidade de a decisão proferida pelo tribunal do júri ser substituída por
órgãos jurisdicionais de instância superior em relação à improcedência ou procedência da
pretensão punitiva. Esse princípio, porém, não diz respeito aos casos em que os tribunais de
segundo grau ou superiores anulam um veredito devido à ocorrência de vício processual.
Também não impede, conforme mencionado por OLIVEIRA (2016), que um veredito seja
cassado por ser manifestamente contrário à prova dos autos. Nesse caso, deve o julgador
determinar que o acusado seja submetido a novo julgamento pelo júri, conforme entendimento
já consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF, HC 134.412, 2ª Turma, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 07/06/16, publicado em: 16/06/16).
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Síntese
O capítulo chega ao seu fim, tendo sido abordados os principais temas relacionados aos crimes dolosos
contra a vida, incluindo o procedimento do julgamento de tais delitos pelo tribunal do júri.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
Soberania dos vereditos
compreender os crimes contra a vida (dolosos e culposos) e seu
processamento;
distinguir as diferentes formas de homicídio (simples, qualificado
e privilegiado);
reconhecer as hipóteses legais do crime de aborto;
analisar os princípios fundamentais do júri;
estudar as diferentes fases presentes no tribunal do júri, nas
hipóteses possíveis de sua competência.
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Bibliografia
BRITO, D. V. [et. al.] A influência da Mídia no Tribunal do júri. 2016. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU (https://www.youtube.com/watch?
v=y9zouXAc6FU)>. Acesso em: 05/07/2019.
BUSATO, P. C. Direito Penal: Parte especial: 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
ESTEFAM, A. [et. al.] Direito Penal Aplicado: Parte Especial do Código Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2016. 
GONÇALVES, V. E. R. Direito Penal Esquematizado: 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
GONÇALVES, V. E. R; REIS, A. C. A. Direito processual penal esquematizado: 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2018.
LOPES, J. A. Direito processual penal: 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MIRABETE, J. F. Manual de direito penal: parte especial. Rio de Janeiro: Atlas, 2018.
MELLO, A. R. Feminicídio: uma análise sociojurídica da violência contra a mulher no Brasil. São Paulo:
Editora GZ, 2016.
OLIVEIRA, E. P. Curso de processo penal. 20. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2016. 
TOURINHO, F. C. F. Manual de Processo Penal: 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU

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