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Logística Integrada Autores: Prof. Jair Aparecido Ártico Prof. José Humberto Ataulo Nunes Colaboradoras: Profa. Angela Maria Pizzo Profa. Christiane Mazur Doi Professores conteudistas: Jair Aparecido Ártico / José Humberto Ataulo Nunes Jair Aparecido Ártico É mestre em Administração de Empresas pela Universidade Cidade de São Paulo (2005), especialista em Docência do Ensino Superior pelo Centro Metropolitano de São Paulo (2009) e graduado em Administração de Empresas também pela Universidade Cidade de São Paulo (1997). Na UNIP, é professor desde 2006, coordenador de pós-graduação desde 2011 e é conteudista de livros-textos. Além disso, tem mais de 29 anos de experiência profissional adquirida em diversas empresas, dentre elas o Grupo Ultra, a Volkswagen e a Ford, e é coautor de várias obras publicadas, tais como Marketing para cursos superiores; Gestão 4.0: em tempos de disrupção; Gestão 4.0: disrupção e pandemia. José Humberto Ataulo Nunes É doutor em Integração da América Latina (2016) e mestre em Ciências Sociais, ambos os títulos obtidos na Universidade de São Paulo - USP (2012); já seu bacharelado em Ciências Econômicas foi alcançado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP (2002). É docente na Universidade Paulista (UNIP) desde 2007, lecionando nas áreas de logística integrada, logística para importação e exportação e administração de operações produtivas. Atuou em empresas de grande porte, como Basf, Akzo, Cromos e Arinos, em cargos de liderança nas áreas de logística, produção, PCP e materiais. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A787 Ártico, Jair Aparecido Logística integrada / Jair Aparecido Ártico - São Paulo: Editora Sol, 2022. 152 p., il. Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Administração 2. Logística 3. Produção e comércio I. Título CDU 658.78 U514.07 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Amanda Casale Vitor Andrade Del Mastro Giovanna Oliveira Sumário Logística Integrada APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO PARA ATENDER AO COMÉRCIO ..........................................................11 1.1 Logística integrada .............................................................................................................................. 13 1.1.1 Conceitos-chave em logística integrada ....................................................................................... 13 1.1.2 Integração da cadeia de suprimento ............................................................................................. 18 1.2 Eixos de abrangência do SCM ......................................................................................................... 21 1.2.1 Gerenciamento da cadeia de suprimento como vantagem diferencial competitiva no mercado ................................................................................................................................. 22 1.2.2 Elementos da cadeia de abastecimento integrada e a integração das funções de marketing, produção, materiais, distribuição e logística ............................................................. 22 1.3 Níveis da cadeia de suprimentos ................................................................................................... 28 1.3.1 Cadeia de suprimentos total ............................................................................................................. 28 1.3.2 Cadeia de suprimentos imediata ..................................................................................................... 29 1.3.3 Cadeia de suprimentos local ............................................................................................................. 29 1.3.4 Planejamento e as configurações das redes logísticas ............................................................ 32 2 LOGÍSTICA REVERSA E A ECONOMIA CIRCULAR ................................................................................ 36 2.1 Conceitos ................................................................................................................................................. 36 2.2 Etapas do processo de reciclagem ................................................................................................. 41 2.2.1 Classificação da logística reversa pós-vendas ............................................................................ 41 2.2.2 A classificação reversa de pós-consumo ....................................................................................... 44 2.3 Questão legal ......................................................................................................................................... 46 2.3.1 Fatores de influência na organização das cadeias reversas .................................................. 46 2.3.2 Condições essenciais de organização e implementação da logística reversa em um canal reverso ........................................................................................................................................ 47 2.3.3 Fatores necessários para a organização de um canal de distribuição reverso de pós-consumo (CDR) .................................................................................................................................... 48 2.3.4 Fatores modificadores da organização de um canal de distribuição reverso (CDR) .............49 2.3.5 Revalorização legal dos bens de pós-consumo .......................................................................... 50 2.4 Questão ambiental ............................................................................................................................... 51 2.5 Questão estratégica ............................................................................................................................. 54 2.5.1 Economia circular ...................................................................................................................................56 Unidade II 3 GESTÃO DA PRODUÇÃO ............................................................................................................................... 61 3.1 Evolução da produção para atender a demanda .................................................................... 61 3.2 Classificações dos sistemas de produção ................................................................................... 62 3.3 Tipos de automação ............................................................................................................................63 3.3.1 Automação fixa ....................................................................................................................................... 63 3.3.2 Automação programável ..................................................................................................................... 63 3.3.3 Automação flexível ................................................................................................................................ 64 3.3.4 Automação integrada ........................................................................................................................... 64 3.4 Tecnologias aplicadas à produção ................................................................................................. 64 3.4.1 Sistemas automatizados de montagem ........................................................................................ 65 3.4.2 Sistemas flexíveis de manufatura .................................................................................................... 65 3.4.3 Sistemas automatizados de armazenamento e recuperação ............................................... 67 3.4.4 Contribuição japonesa aos sistemas de produção .................................................................... 67 3.5 Arranjo físico e fluxo ........................................................................................................................... 70 3.5.1 Conceito e aplicação ............................................................................................................................. 70 3.5.2 Tipos de arranjo físico ........................................................................................................................... 71 3.5.3 O arranjo físico em relação às dimensões volume/variedade............................................... 75 4 NOVOS MODELOS DE ARRANJOS PRODUTIVOS ................................................................................. 76 4.1 Clusters/APL – arranjo produtivo local ....................................................................................... 76 4.1.1 Condomínio Industrial ......................................................................................................................... 77 4.1.2 Consórcio modular ................................................................................................................................ 77 4.1.3 Contract manufacturing ...................................................................................................................... 77 4.1.4 In plant representatives ....................................................................................................................... 78 4.1.5 Early Suppy Involvement (ESI)........................................................................................................... 78 Unidade III 5 PCP: A INTERFACE COM A ENGENHARIA DE PRODUÇÃO .............................................................. 83 5.1 O que é planejamento e controle? ................................................................................................ 83 5.2 Tarefas de planejamento e controle ............................................................................................. 84 5.2.1 Funções de longo prazo do PCP ....................................................................................................... 85 5.2.2 Funções de médio prazo ...................................................................................................................... 85 5.2.3 Funções de curto prazo ........................................................................................................................ 85 5.3 Natureza da demanda e do fornecimento ................................................................................. 86 5.3.1 MRP I e MRP II (árvore de produto/plano-mestre de produção) ........................................ 86 5.4 Demanda versus capacidade de produção ................................................................................ 87 5.4.1 Restrições de capacidade .................................................................................................................... 88 5.4.2 Sazonalidade da demanda .................................................................................................................. 90 5.4.3 Métodos de previsão da demanda ................................................................................................... 90 6 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE ........................................................................................................ 91 6.1 CRM ........................................................................................................................................................... 91 6.2 Classificação e codificação de materiais ..................................................................................... 92 6.3 Identificação por radiofrequência ................................................................................................. 97 6.4 Eletronic Data Interchange (EDI) ................................................................................................... 99 6.5 Efficient Consumer Response (ECR) ...........................................................................................102 6.6 Rastreamento de frotas ...................................................................................................................103 6.7 O produto da cadeia de suprimentos/logística ......................................................................106 6.7.1 Natureza do produto logístico .......................................................................................................106 6.7.2 Classificando produtos .......................................................................................................................107 6.7.3 Produtos de consumo .........................................................................................................................107 6.7.4 Produtos de conveniência .................................................................................................................107 6.7.5 Produtos de concorrência .................................................................................................................108 6.7.6 Produtos de especialidade ................................................................................................................109 6.7.7 Produtos industriais ............................................................................................................................. 110 6.7.8 O ciclo de vida dos produtos .............................................................................................................111 6.7.9 A curva 80-20 ........................................................................................................................................113 Unidade IV 7 COMÉRCIO ....................................................................................................................................................... 118 7.1 Abordagem sistêmica de produção, comércio e logística.................................................. 118 7.1.1 Quem manda: marketing ou logística?........................................................................................119 7.1.2 Transporte ............................................................................................................................................... 120 7.2 Sincronização produção, comércio e logística .......................................................................121 7.3 Atividades logísticas relacionadas ao comércio.....................................................................122 7.4 Atividades logísticas relacionadas ao comércio eletrônico ...............................................122 7.4.1 Organograma e fluxograma de uma operação de e-commerce ......................................126 7.4.2 Logística de recebimento e processamento .............................................................................. 127 7.4.3 Logística de entrega .......................................................................................................................... 128 7.4.4 Logística reversa: devoluções e trocas ....................................................................................... 129 7.4.5 Dropshipping ......................................................................................................................................... 130 7.4.6 Sistemas de informação para monitoramento: do recebimento do pedido até a entrega ao consumidor final .......................................................................................................... 130 8 NOVO MERCADO CONSUMIDOR ............................................................................................................131 8.1 Necessidade da resiliência cibernética ......................................................................................131 8.2 Novas ondas de inovação atingem a logística integrada ..................................................132 8.3 Processo de conquista do cliente ................................................................................................133 8.3.1 Realidade estendida ............................................................................................................................ 133 8.3.2 Automatizar a confiança .................................................................................................................. 134 8.3.3 Interfaces imersivas ............................................................................................................................ 135 8.3.4 Autonomia de trabalho ..................................................................................................................... 136 8.3.5 Reflexão digital ..................................................................................................................................... 136 8.3.6 Redes hiperconectadas ...................................................................................................................... 136 9 APRESENTAÇÃO Por meio do conhecimento da logística integrada, você terá a oportunidade de conhecer como as empresas utilizam essa ferramenta de forma estratégica e como é realizada a integração com as outras áreas da empresa, principalmente com a área comercial. O desenvolvimento tecnológico tem acarretado inúmeras transformações na sociedade contemporânea, especialmente nos últimos anos. A sociedade tem se beneficiado desse progresso, usufruindo dos recursos tecnológicos muitas vezes sem ter consciência de seus usos e da sua importância em seu cotidiano. Com o aprimoramento da tecnologia, a logística pôde melhorar sua administração, tanto no controle de estoque, armazenamento e distribuição, como em outros aspectos: o maior beneficiado com isso foi o consumidor, que hoje pode contar com os produtos entregues em sua casa, com precisão e qualidade. Com o aprendizado adquirido em logística, você terá condições de entender melhor a dinâmica da logística e, principalmente, poderá analisar todas as etapas necessárias para que o produto siga à casa do consumidor da melhor forma possível. O objetivo desta disciplina é mostrar que o ponto forte da logística é a integração com a produção e o comércio, procurando sempre atender na hora certa, sem necessidade de excesso de estoques e nunca deixando faltar qualquer item, procurando dar o máximo de atendimento ao cliente. Também buscaremos entender como funcionam o processo logístico, a cadeia produtiva e a gestão de operações, considerando uma visão sistêmica das empresas comerciais, industriais e de serviços. INTRODUÇÃO No mundo moderno e em constante evolução, as empresas travam batalhas ferrenhas para conquistar maiores espaços, aumentar seus clientes, além de melhor atendê-los. Por mais que as empresas atinjam esses objetivos, elas sempre vão encontrar empresas que façam mais, e é por isso que a busca pela excelência deve ser algo corriqueiro e comum dentro das organizações. A logística, hoje, é considerada por diversos autores e pelo mercado empresarial como estratégica para os objetivos empresariais. Na última década, as mudanças foram diversas, principalmente nas exigências dos consumidores, que estão cada vez mais ativos e na expectativa de produtos mais modernos e inovadores; as redes de suprimentos se alternam entre mercado doméstico e internacional, a tecnologia da informação alterou a velocidade decisória e a internet trouxe as informações de mercado para o momento – real time. Por mais que a logística seja importante para os anseios empresariais, ela não consegue fazer nada sozinha, pois os consumidores não enxergam a empresa pelos departamentos e áreas separadas e sim por sua totalidade. O erro percebido pelo consumidor atinge a empresa como um todo. Neste livro-texto, você terá a oportunidade de estudar a logística integrada com outras áreas da empresa, principalmente marketing e produção. A logística é um assunto de grande relevância no setor empresarial, já que, se bem aplicada, possibilita o aumento do nível de serviço ao cliente e a redução de custos. 10 Unidade I 10 Você também terá a oportunidade de entender como as diversas tecnologias são aplicadas ao sistema de produção e de conhecer os novos modelos de arranjos produtivos (com ênfase no modelo clusters), bem como o planejamento e o controle do processo na fabricação de mercadorias e a utilização dos recursos necessários para essa produção. Além disso, faremos uma análise da logística no cenário comercial físico e eletrônico e conheceremos a estratégia dropshipping, além de verificar como funciona o novo mercador consumidor. Este livro-texto abre as portas a um conhecimento inovador em logística, produção, marketing e a novas tecnologias inseridas no mercado empresarial logístico, tais como: resiliência cibernética, realidade estendida, interfaces imersivas, redes hiperconectadas, consórcio modular, logística reversa e a economia circular, entre outras tecnologias e sistemas. Aproveite a leitura! 11 LOGÍSTICA INTEGRADA Unidade I 1 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO PARA ATENDER AO COMÉRCIO Imagine como era fabricar e entregar produtos nas épocas mais antigas da história da humanidade. As mercadorias mais necessárias não eram produzidas próximas aos lugares nos quais eram mais consumidas e nem estavam disponíveis nas épocas de maior procura. Alimentos e outras commodities eram espalhados pelas regiões mais distantes, sendo abundantes e acessíveis apenas em determinadas ocasiões do ano. O homem primitivo, para poder sobreviver e atender às suas necessidades, consumia as suas mercadorias nos locais de origem. Naquela época, não existia um sistema de logística que pudesse movimentar e armazenar as mercadorias e levá-las aos consumidores. Por causa do problema da inexistência de um sistema de transporte e armazenamento, as pessoas eram obrigadas a viver próximas aos locais das fontes de produção, limitando, assim, o consumo. Após algumas centenas de anos, muitas mudanças ocorreram no segmento de transporte e armazenagem. Uma das ferramentas mais importantes nesse processo de mudança foi a tecnologia. A logística empresarial é um campo relativamente novo no estudo da gestão integrada, como finanças, marketing e produção. Como visto anteriormente, a atividade logística ocorria somente por meio das pessoas. Neste livro-texto, você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a área de logística, especificamente sobre a integração com produção e comércio. Nas últimas décadas, o papel logístico dentro das organizações tornou-se fator decisivo e de vantagem competitiva. Atualmente, ter a gestão da logística nas empresas modernas aliada à visão de negócio é fundamental para sua sobrevivência e posicionamento.O papel da logística no negócio aumentou tanto em escopo, quanto em importância estratégica. Conforme Ballou (1993, p. 27), “a logística empresarial é um campo fascinante e em expansão, com potencial para a alta administração”. Para Severo Filho (2006, p. 20), “a logística é a organização do fluxo dos materiais, desde o fornecedor até o cliente final”. Segundo o autor, o processo envolve todas as funções de compras, planejamento e controle da produção — PCP, além de distribuição, efetivo de informações e uma estrita conformação com as necessidades dos clientes. Perceba que a logística é a grande responsável por buscar a matéria-prima, levá-la e movimentá-la para a indústria dentro da organização, relacionando as funções de compras, planejamento e controle da produção e chegar até o cliente final, conforme figura a seguir. Aparentemente, isso é simples, mas quando verificamos que é necessário pensar de que forma transportar grandes materiais, em que locais serão estocados (matérias-primas, semiacabados ou acabados), como esse arranjo deve ser realizado 12 Unidade I de forma segura e em quantidades suficientes e que faça que a organização consiga se antecipar às necessidades dos seus clientes, percebe-se, então, a força da logística e sua importância. Logística de abastecimento • Sistema • Transporte • etc. Logística interna • PCP • Estoque • etc. Logística de abastecimento • Sistema • Transporte • etc. Logística integrada Nova visão da logística Figura 1 – Logística empresarial A logística também está em sua vida pessoal, está em sua casa. Quando realizamos uma compra no supermercado, compramos os produtos necessários para o consumo e, mesmo sem o conhecimento da administração de estoque, compramos produtos para serem consumidos no mesmo dia por serem altamente perecíveis, como pães e bolos, produtos menos perecíveis a serem consumidos em uma semana, como frutas e legumes, e produtos que poderão ser consumidos em um mês. É interessante perceber que praticamos o cálculo da quantidade para cada grupo de alimento, de acordo com a quantidade a ser consumida e prazo de validade, conforme a perecibilidade, a fim de evitar os desperdícios com a perda de alimentos, bem como um impacto negativo na área financeira da casa. Se o tomate estiver numa promoção imperdível, por exemplo, devemos investir na compra, porém, na quantidade certa, porque se a quantidade for superior ao necessário para o consumo, haverá prejuízo. Após a compra desses produtos, realizamos o transporte até a casa, da melhor forma possível. Exemplo: os produtos frágeis, como ovos, pães e biscoitos são acondicionados no porta-malas por último e por cima de outros alimentos. Ao chegar a casa, faz-se o descarregamento dos produtos e seu armazenamento. Normalmente, para armazenar os produtos, primeiramente retiramos aqueles que estão com o prazo de vencimento menor e os colocamos para serem consumidos antes. Alguns produtos são armazenados na geladeira, para obter maior durabilidade, enquanto outros são armazenados próximos ao fogão, pois são de uso diário. Há também os produtos que são armazenados em banheiros, pois são de higiene pessoal e assim por diante. Perceba que o conceito de logística está sendo aplicado em sua vida. Tudo isso é feito pelo hábito. Em uma empresa, a área de logística funciona de maneira similar, em que os produtos são os insumos, como matéria-prima, suprimentos e outros. Porém, na organização, essa administração ocorre de forma estratégica, pois a empresa atua em um cenário competitivo em que a sobrevivência não depende apenas da administração interna, mas sim de um conjunto de fatores, principalmente do comércio. 13 LOGÍSTICA INTEGRADA Você já deve ter observado em sua casa que, às vezes, mesmo fazendo a compra e o armazenamento dos produtos adequadamente, muitos deles estragam e perde-se dinheiro. Por que ocorre isso? Geralmente, por causa de uma má gestão da real necessidade daquele produto. Por exemplo: você imaginou que naquele mês usaria três quilos de açúcar, mas na hora da compra esqueceu que você faria uma viagem e não seria necessário comprar tal quantidade. Você pode comentar que a validade do açúcar não acaba em um mês, mas, se analisarmos outros aspectos, veremos que o adequado não foi feito. Você investiu um dinheiro que poderia ser utilizado para a compra de outros produtos, ou para investimentos que lhe trouxessem algum retorno, sem contar que a qualidade do produto não seria a mesma. O ideal é que os produtos comprados sejam suficientes para o seu consumo. A lógica é ter o produto certo, na hora certa e na quantidade certa. 1.1 Logística integrada 1.1.1 Conceitos-chave em logística integrada Para melhor entendimento da logística integrada, simulemos a preparação de uma feijoada para venda. A feijoada, uma paixão nacional, exige diversos processos administrativos e logísticos, como: estimativa de demanda (que irá variar em função do número de pessoas), compra de ingredientes (linguiça, feijão preto, paio, rabo de porco etc.); armazenagem dos ingredientes (pois alguns deles devem ser tratados de forma especial), tempo de preparação, distribuição do produto e retroalimentação – quando os consumidores emitem opiniões, favoráveis ou não, relacionadas diretamente à qualidade da feijoada, acomodação, ambiente e outros. Perceba, então, que existe uma relação muito grande entre os diversos parceiros. E as áreas também devem estar relacionadas para que seja feita uma ótima feijoada. Os parceiros são os fornecedores e a escolha será sempre pela qualidade. Podemos considerar a área da empresa como as pessoas que irão preparar a feijoada: a tia, a mãe, a esposa, enfim, uma pessoa que tenha preparo para isso. Note, também, que a compra dos ingredientes pode ocorrer em diversos fornecedores ou em um único fornecedor, desde que os ingredientes sejam adequados à preparação; do outro lado, as pessoas envolvidas geralmente são divididas em grupos, como: financiamento da feijoada, compra dos ingredientes, armazenamento do produto, seu preparo e organização da mesa e outros afazeres. No desenvolvimento deste livro-texto, você entenderá melhor todo esse processo necessário para se ter uma excelente logística. Figura 2 – A preparação de uma feijoada exige diversos processos logísticos Disponível em: https://bit.ly/3o0OKV5. Acesso em: 5 nov. 2021. 14 Unidade I A administração da logística integrada exige que todas as etapas do processo da fabricação sejam cumpridas, quer sejam internas ou externas. O importante é que a feijoada seja apreciada por todos, pois o objetivo principal é satisfazer o meu consumidor. O desafio não é apenas possuir uma boa cozinheira para o preparo da feijoada, mas também se atentar em como esses materiais chegaram para sua realização, a quantidade que chegou, se está adequada, bem como a qualidade do material. Perceba que existe uma logística importante no processo de fabricação da feijoada. Atenta-se à preparação de todo o material necessário (nem mais nem menos, mas na quantia exata). Outro elemento importante nessa análise é o marketing responsável por divulgar a venda da feijoada. Se não houver integração dessas áreas, certamente ocorrerão problemas. Por exemplo: Se foi realizada uma pequena divulgação sobrará feijoada na hora do almoço. Isso resultará em prejuízo, uma vez que esse alimento é perecível. Se vierem muitos consumidores, a feijoada acabará, e, consequentemente, não atenderá a todos; o consumidor ficará frustrado e não voltará mais. Esse exemplo demonstra que apesar do preparo da feijoada ser fácil exige-se muito conhecimento de mercado e de logística. Para que haja um excelente resultado da logística, é necessário, e fundamental, que ela se relacione com outras áreas, como apresentado a seguir. O movimento na logística integrada se manifesta assim: 1. O movimento de dados e decisões que orienta a empresa. 2. A pesquisa de transações pessoais, bem como a pesquisa de mercado(verificação do porte do mercado em que a empresa está envolvida), impulsiona a participação da empresa no mercado, além de ser parâmetro sequencial para o plano de entregas aos clientes. 3. O plano de entregas aos clientes tem feedback com faturas, ordens e dados de vendas, planejamento de estoque, além de ser parâmetro sequencial do processo de armazenagem de produtos finais, bem como planejamento de transportes e, principalmente para o plano de produção. 4. O plano de produção tem feedback do planejamento de estoque, além de servir como parâmetro sequencial do processo de armazenagem de produtos finais, bem como planejamento de transportes e, principalmente, para o MRP — Material Requirement Planning. 5. O MRP serve de parâmetro sequencial para o processo de armazenagem de materiais e planejamento de transportes, para o planejamento de inventários e, principalmente, para o plano de suprimentos. 6. O plano de suprimentos tem feedback do planejamento de inventários e também tem os fornecedores representados pelas ordens e especificações de uso, as faturas e os dados dos fornecedores, além de servir como parâmetro sequencial para o processo de armazenagem de materiais e planejamento de transportes. 15 LOGÍSTICA INTEGRADA 7. A sequência do processo físico e operacional possui a seguinte ordem: estoque de recebimentos, produção, armazenagem e entrega ao cliente. Possui feedback do plano de entregas aos clientes, e o estoque do cliente resulta no movimento de logística integrada. Para verificar a entrega ao cliente, é necessário ter em mente, ainda no movimento de logística integrada, o sistema integrado de logística, que se manifesta da seguinte forma: 1. A previsão de vendas auxilia com informações o planejamento e controle de produção (PCP). 2. O PCP provê informações ao abastecimento e a montagem, e também possui feedback do depósito de acabados. 3. Os fornecedores provêm informações ao estoque de material, que, por sua vez, provê informações ao planejamento e controle de produção e a fabricação de componentes. 4. A produção de componentes fornece informações ao estoque de componentes que, por sua vez, provê informações à montagem. 5. A montagem fornece informações ao depósito de acabados e aos clientes e também as recebe do abastecimento. Todo esse processo logístico evidencia três conceitos importantes na logística: 1. Sistema é um conjunto de grupos de atividades, as quais parecem não ser dependentes, mas que, agindo de forma interrelacionada, possibilitam a conclusão de um objetivo. 2. Os grupos de atividades são subsistemas especialistas; apesar de todas as atividades estarem otimizadas, elas não garantem a otimização do sistema. 3. As interfaces são fronteiras tênues e ficam entre grupos de atividades que possibilitam o fluxo de informações e materiais em sincronia. Como relatado no exemplo da feijoada, há uma mera simplicidade em seu preparo. Na verdade, é necessário pensar em determinadas atividades até se chegar ao produto final. Alguns termos tratados até aqui como o PCP e o MRP serão esclarecidos no decorrer deste livro-texto. A logística vem se aperfeiçoando e modificando sua forma de atuação. Hoje, o conceito de logística mudou, pois não está mais limitado à obtenção e movimentação de materiais e à distribuição de produtos. Agora, a logística é integrada e é muito mais atuante. Esta provê uma visão mais ampla: envolve fornecedor, empresa e clientes, compreendendo tanto o suprimento físico de matéria-prima como também a distribuição física do produto. Segundo Ballou (1993), ela está associada ao estudo e administração de fluxos de bens e serviços, juntamente com a informação que os movimenta. 16 Unidade I De acordo com Jacobsen (2003), a logística integrada busca a aproximação não só do cliente (consumidor final) mas também de fornecedores. É um trabalho conjunto na promoção da qualidade, seja no produto que está vendendo, seja no atendimento que está recebendo. “Há uma corrida em andamento para a integralização da cadeia logística. Está se tornando evidente a necessidade de estender a lógica da integração para fora das fronteiras da empresa para incluir fornecedores e clientes” (CHING, 1999). Novaes (2015) explica que a moderna logística procura incorporar: prazos previamente acertados e cumpridos integralmente; integração efetiva e sistêmica entre todos os setores da empresa; estreita parceria com fornecedores e clientes; busca da otimização global, envolvendo os processos e a redução de custos; e satisfação plena do cliente. Marketing Produção Logística Logística integrada Figura 3 – Logística integrada Conforme ilustra a figura anterior, há uma integração entre a logística e as outras áreas, principalmente entre os departamentos de marketing e produção. De acordo com a situação de mercado (números de clientes, pedidos, preço etc.), existe uma possibilidade maior de consumo. Dependendo do mercado, esse consumo pode ser maior ou menor. A empresa depende de uma expectativa do mercado para fazer o seu planejamento logístico, isto é, para realizá-lo, é necessário possuir conhecimento de marketing e esse conhecimento tem que ser o mais correto possível. Conforme a situação de mercado, o gestor pode administrar: o material que será utilizado na fabricação do produto; quais tipos de materiais deve comprar; como organizar e entregar o estoque; qual o menor prazo possível e assim por diante. Sabemos que a empresa quer satisfazer o cliente, porém, enfrenta concorrência acirrada pela disputa do mercado. O cliente de hoje tem muitas informações e também possui poder absoluto para decidir a melhor empresa para atender aos seus interesses; essa nova ordem transformou, drasticamente, as relações comerciais entre clientes e empresas. Pensar de forma estratégica para todos os envolvidos no processo de comercialização dos produtos e bens, uma vez que os serviços que agregam valor ao cliente se tornaram um elemento a mais a ser oferecido (como garantias), o serviço de pós-venda já não é mais o diferencial, e também passou a ser item obrigatório para as empresas atuantes. Daí o porquê da logística se caracterizar como área 17 LOGÍSTICA INTEGRADA responsável por manter a empresa com fôlego para enfrentar a concorrência, pois é preciso que toda a organização esteja em constante troca de informações tanto interna como com parceiros comerciais. Agora, é importante discutir com fornecedores e prestadores de serviços a perfeita sincronia no atendimento à demanda. A empresa tem que atender seu cliente de forma rápida, precisa, com os melhores produtos, no prazo certo e, ainda, ser competitiva no preço. Esse novo cenário torna a logística uma área estratégica da empresa. É importante relatar que a empresa não tem condições de atuar sozinha para atender às exigências dos clientes, e também que é necessário que todas as empresas que são responsáveis pelos produtos – desde a matéria-prima até a entrega final ao cliente – se unam e trabalhem da forma mais eficaz possível. Para Bornia e Lorandi (2011), essa união e essa evolução passaram a representar a dinâmica de redes de organizações que compõem as relações de processos de negócios, que produzem valor através do fluxo de produtos, serviços, informação e recursos financeiros ao longo do canal, desde os fornecedores de primeira linha até o consumidor final, bem como o destino do produto após o seu uso. Quando a Ford iniciou as suas operações, pretendia ter o controle de todo o processo de fabricação do automóvel. A empresa chegou a produzir os tecidos dos bancos e os pneus de seus automóveis. Com o tempo, percebeu que não poderia deter o conhecimento de diversos segmentos e produzir sempre o melhor material. Pouco a pouco, a empresa foi se conscientizando da importância de ter parceiros para realização do seu produto, o automóvel. O resultado está hoje no mercado. Apesar de não estar mais no Brasil, a Ford trata ainda exclusivamente da montagem dosautomóveis, e possui centenas de fornecedores que produzem matérias-primas cada vez mais adequadas ao mercado e, consequentemente, para melhor atender seus clientes. A linha de produção em larga escala de automóveis com preços acessíveis foi lançada por Ransom Olds, em sua fábrica Oldsmobile, em 1902. Esse conceito foi amplamente expandido por Henry Ford, com início em 1914. Como resultado, os carros da Ford saíam da linha em quinze intervalos (de 1 minuto cada), o que era muito mais rápido do que métodos anteriores, representava um aumento de oito vezes na produtividade anterior (a mudança foi de 12,5 horas-homem para 1 hora e 33 minutos) e ainda utilizava menos recursos humanos. Isso foi tão bem-sucedido que a pintura tornou-se um gargalo. Somente a cor “negro japonês” secava rápido o suficiente, forçando a empresa a deixar cair a variedade de cores disponíveis antes de 1914, até quando o verniz Duco, de secagem rápida, foi desenvolvido, em 1926. Essa é a fonte da observação da Ford: “qualquer cor, desde que seja preto”. Em 1914, um trabalhador de linha de montagem poderia comprar um modelo T com o pagamento de quatro meses. O que a Ford quis inserir dentro de sua organização era um controle total de todas as matérias-primas necessárias para realização de um produto (que no caso era o carro). Hoje, percebe-se com maior 18 Unidade I clareza que esse modelo não tinha como dar certo. Não é possível uma empresa ter competência em todos os segmentos. Atualmente, a ideia é focar no principal segmento da empresa e contar com parceiros para a realização de seu negócio. Por isso, é muito importante estudar as cadeias e suprimento, e isso será nosso próximo assunto. 1.1.2 Integração da cadeia de suprimento Até agora você verificou a importância da logística no processo de levar o produto até o consumidor. Autores como Balou, Jacobsen, Ching e Novaes, além de muitos outros, dizem que a logística não pode ficar somente com foco na movimentação de materiais, mas sim ter o aspecto de integração entre os departamentos, fornecedores e clientes, sem deixar de lado o fluxo de informação. Para atender a todos esses requisitos, a logística foi ampliada à cadeia de suprimentos. De acordo com Bertaglia (2009, p. 5), a cadeia de abastecimento ou suprimento (supply chain management) corresponde ao conjunto de processos requeridos para obter materiais e agregar-lhes valor de acordo com a concepção dos clientes e consumidores, bem como disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os clientes e consumidores desejarem. Segundo o dicionário da Apics, uma cadeia de suprimentos pode ser definida como: • Os processos que envolvem fornecedores-clientes e ligam empresas (desde a fonte inicial de matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado). • As funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor possa fazer e providenciar produtos e serviços aos clientes. O processo de implantação do conceito de supply chain management — SCM passa, invariavelmente, por sete fases ou processos-chaves, conforme descreve Fleury, Wanke e Figueiredo (2000, p. 45): • 1ª fase – Relacionamento com os clientes. • 2ª fase – Serviço aos clientes. • 3ª fase – Administração da demanda. • 4ª fase – Atendimento de pedidos. • 5ª fase – Administração do fluxo de produção. • 6ª fase – Compras/suprimento. • 7ª fase – Desenvolvimento de novos produtos. 19 LOGÍSTICA INTEGRADA A figura seguinte mostra a cadeia de suprimentos de uma empresa. Verifique como é complexa a administração de todo o processo por uma única instituição. A empresa não tem condições de controlar integralmente seu canal de fluxo de produtos da fonte da matéria-prima até os pontos de consumo. Cada uma fica responsável por sua logística, gerenciando os canais físicos imediatos de suprimentos e distribuição. Gestão da cadeia de suprimentos e logística integrada Logística de abastecimento Logística interna Logística de distribuição FábricaFornecedorFornecedor Cliente imediato/distribuidor Cliente final Vender e atender ao cliente Produzir Figura 4 – Cadeia de suprimentos Atualmente, os consumidores estão mais exigentes e querem produtos cada vez melhores, com entrega no prazo e sempre que precisarem. Os consumidores, muitas vezes, não entendem como funciona uma rede de distribuição (RD) e muitos deles não querem saber como funciona, eles desejam, na verdade, que o produto esteja à sua disposição. Mas, afinal, quais são os elementos envolvidos para que as necessidades de uma cadeia de suprimentos seja bem-sucedida? Vários são os elementos obrigatórios para a implantação bem sucedida, porém, frequentemente, todos estão sobrepostos e dependentes entre si. Confiança Permite que os fornecedores participem e contribuam para o ciclo de desenvolvimento de novos produtos. Sem confiança, nenhum dos demais elementos é possível. Relações de longo prazo Permitem visão estratégica compartilhada. O termo, frequentemente utilizado para o estabelecimento dessas relações, é “contratos perenes”, que implica na renovação automática dos contratos com os fornecedores e em quando seu desempenho está de acordo com o contratado. 20 Unidade I Observação A equipe da empresa Motorola visita a fábrica de seus fornecedores a cada 2 anos para avaliá-los e assim manter a relação contratual. Compartilhamento de informações Entre fornecedores e clientes. Essas informações poderão incluir questões desde as especificações de projeto de novos produtos até o planejamento e a programação da capacidade, ou o acesso a uma base de dados completa do cliente (entenda mais por meio da ferramenta CRM). Forças individuais da organização Uma empresa inicia uma relação de longo prazo com um fornecedor, então, passa a ser importante para ela que seu fornecedor permaneça no mercado por bastante tempo. Dessa forma, um bom cliente irá trabalhar com seu fornecedor para garantir que ele seja lucrativo e mantenha-se bem financeiramente. Para que o produto esteja nas mãos dos consumidores e atenda as suas expectativas, é necessário que haja um gerenciamento dessa cadeia. Na logística, o termo utilizado para esse gerenciamento é supply chain management. A ideia do SCM é captar a essência da logística integrada, bem como destacar as interações logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma empresa, e dessas mesmas interações entre as empresas legalmente separadas no âmbito do canal de fluxo de produtos. Não existe qualquer literatura que define corretamente o surgimento da expressão supply chain management. Alguns autores dizem que o termo surgiu no começo dos anos 1980, outros afirmam que ele já era utilizado na década de 1970, e que representava a integração entre os departamentos de almoxarifado e transporte nos processos de distribuição. No mundo acadêmico, apenas nos últimos anos esse termo foi reconhecido oficialmente na gestão de operações. Sobre esse reconhecimento a partir dos anos 1990, Lummus e Voturka (1999) apresentam três razões principais que podemos sintetizar da seguinte forma: 1. As empresas estão cada vez menos verticalizadas, mais especializadas e procurando fornecedores que possam abastecê-las com componentes de alta qualidade e a um baixo preço. 2. O crescimento da competição no contexto doméstico e internacional. 3. O entendimento de que a maximização do desempenho de um elo do SCM está distante de garantir seu melhor desempenho. 21 LOGÍSTICA INTEGRADA 1.2 Eixos de abrangência do SCM Por sua característica abrangente e contemporânea, o SCM é notadamente uma área multifuncional e ainda é difícil de ser classificada. Entretanto, podemos considerar que seu escopo possui ao menos três grandes eixos de atuação, conforme esboçado na figura: Processos de negócios Tecnologia, iniciativas, práticas e sistemas Organização e pessoas Figura 5 – Os três eixos de atuação do SCM Fonte: Pires (2004). 1. Processosde negócios: contempla os processos de negócios que devem ser executados de modo efetivo ao longo do SCM. Esse eixo representa o porquê da existência e a finalidade principal do SCM. 2. Tecnologia, iniciativas, práticas e sistemas: representam os meios atuais e inovadores que viabilizam a execução dos processos de negócios-chave no SCM. 3. Organização e pessoas: contempla a estrutura organizacional e a capacitação institucional e pessoal capaz de viabilizar um efetivo SCM. Representa as transformações em termos de estrutura organizacional e de capacitação da empresa, e também de seus colaboradores para que o modelo gerencial de SCM possa ser, de fato, entendido, viabilizado e implementado. Hora de refletir Imagine você administrar uma empresa que faz parte desse processo de logística integrada e, que nesse processo, é aplicado o supply chain management. O que muda para a empresa e para o consumidor? Resposta: se você respondeu que as empresas estão obtendo sucesso no compartilhamento de informação com fornecedores, reduzindo níveis de estoques, entendendo como funciona cada parte do processo do produto e promovendo melhoria dos custos ou serviços aos consumidores e produtos, 22 Unidade I está de parabéns, pois percebeu o porquê de gerenciar uma cadeia de suprimentos. Note: com o gerenciamento adequado, todos ganham, empresas e consumidores. E se sua resposta não foi essa, não se preocupe! Temos muito mais informações sobre o SCM, e elas certamente trarão muitos esclarecimentos sobre o assunto.. 1.2.1 Gerenciamento da cadeia de suprimento como vantagem diferencial competitiva no mercado De acordo com Fleury, Wanke e Figueiredo (2012), o conceito de gerenciamento da cadeia de suprimentos está baseado no fato de que nenhuma empresa existe isoladamente no mercado. Uma complexa e interligada cadeia de fornecedores e clientes na qual fluem matérias-primas, produtos intermediários, produtos acabados, informações e dinheiro é responsável pela viabilidade do abastecimento dos mercados consumidores. Com as enormes pressões competitivas existentes atualmente, a atividade de gerenciar a cadeia de suprimentos tem tido cada vez mais espaço nas relações de negócios. Propõe-se que a competição no mercado ocorre, de fato, no nível das cadeias produtivas e não apenas no nível das unidades de negócios isoladas. Os comentários dos autores mencionados demonstram como a concorrência mudou nos últimos anos; aquela ideia de que o concorrente da empresa é somente a outra empresa já não é totalmente verdade, pois agora o que está em jogo é que inúmeras empresas que compõem uma cadeia de suprimentos estão concorrendo com muitas outras que compõem a outra cadeia. Um ponto que é considerado uma vantagem competitiva para as organizações (que realmente compreendem o seu papel estratégico) é o perfeito entendimento da cadeia de abastecimento integrada. Lembrete O consumidor tem se tornado cada vez mais exigente, ainda mais hoje em dia, com o acesso às redes sociais. Isso vem obrigando as organizações a se preocuparem cada vez mais com preço, qualidade e nível de serviço. 1.2.2 Elementos da cadeia de abastecimento integrada e a integração das funções de marketing, produção, materiais, distribuição e logística De acordo com Bertaglia (2009), os elementos da cadeia de abastecimento podem ser divididos em: • planejamento; • compras; 23 LOGÍSTICA INTEGRADA • produção; • distribuição. Planejamento Para que toda cadeia de abastecimento tenha sucesso, é necessário que as empresas concentrem seus esforços em algumas atividades que afetarão seu desempenho como: • Desenvolvimento de canais. • O planejamento de estoque, produção e distribuição envolvendo transporte. • A estimativa de vendas e o planejamento da demanda. • O lançamento de produtos. • Promoções. Se cada elemento ou departamento da cadeia de abastecimento desenvolver o seu próprio plano sem considerar as características dos outros elementos, não haverá possibilidade de se integrar as duas pontas do processo, ou seja, a demanda e o abastecimento. Essa visão de planejamento extrapola os limites da empresa, afetando fornecedores de materiais e compradores de bens ou serviços. Conceitos novos têm surgido na área de planejamento organizacional, e eles serão estudados mais adiante neste livro-texto. Compras De acordo com Bertaglia (2009, p. 30), comprar é o conceito utilizado na indústria com a finalidade de obter materiais, componentes, acessórios ou serviços. É o processo de aquisição, que também inclui a seleção de fornecedores, os contratos de negociação e as decisões que envolvem compras locais ou centrais. A aquisição compreende a elaboração e colocação de um pedido de compra com um fornecedor já selecionado, bem como a monitoração contínua desse pedido, a fim de evitar atrasos no processo. Hoje, o setor de compras não está mais limitado apenas ao processo de comprar e monitorar; os profissionais dessas áreas precisam ter um entendimento global de negócios e tecnologia. O comprador, em função da tecnologia, é muito mais um analista de suprimentos e um negociador do que propriamente um operador de transações, que faz pedidos e os monitora. As organizações modernas estão se conscientizando cada vez mais da necessidade de manter alianças com fornecedores ao invés de manter uma relação puramente de compra e venda, apresentando animosidade na maioria das circunstâncias. Estão também reduzindo a quantidade de 24 Unidade I fornecedores, mantendo um relacionamento de longo prazo com altos volumes e maior flexibilidade. Esse relacionamento tem o nome de B2B — business-to-business, que significa negócios entre empresas. As alianças entre as organizações se fortaleceram com a utilização do marketplace. O marketplace no Brasil aconteceu de forma mais significativa a partir de 2006, mas foi com a pandemia de 2020 que ficou mais evidente. Esse novo modelo de negócio tem muitas vantagens para o consumidor, pois é uma espécie de shopping center virtual. A vantagem é reunir em um único lugar diversas marcas e lojas, facilitando, assim, a pesquisa pelo melhor produto e preço. Algumas empresas que utilizam marketplace são: Americanas, Walmart, Mercado Livre, OLX etc. A empresa Magazine Luiza, conhecida como Magalu, entre os meses de abril e junho de 2020, atingiu vendas totais de 8,6 bilhões de reais, e seu marketplace tem papel de destaque nisso, pois teve um crescimento de 214% (MAGAZINE LUIZA, 2020). É importante ressaltar que muitos fornecedores são os responsáveis por monitorar o estoque de cliente empresarial, que é o PDV — ponto de venda. É o caso de alguns supermercados, nos quais o controle de alguns produtos é realizado pelo fornecedor que verifica em qual momento é melhor solicitar uma nova remessa de produtos para aquele supermercado. Quem ganha com isso? Todos! O fornecedor que poderá controlar o seu estoque de uma maneira precisa, o supermercado que poderá oferecer ao seu cliente um produto com uma qualidade melhor e o cliente que terá opções para escolher o melhor produto. E no modelo marketplace não é diferente, o fornecedor também é o parceiro da organização e o responsável por esse estoque, que muitas vezes fica em sua própria. E no modelo marketplace não é diferente, o fornecedor também é o parceiro da organização e o responsável por esse estoque, que muitas vezes fica em sua própria empresa. Figura 6 – Estoque no PDV Disponível em: https://bit.ly/3qBZ7S2. Acesso em: 11 nov. 2021 25 LOGÍSTICA INTEGRADA Produção De acordo com Bertaglia (2009, p. 31), a produção refere-se ao elemento cujo processo fundamental é composto por operações que convertem um conjunto de matérias em um produto acabado ou semiacabado. A estratégia básica de produção e estoque adotada pela organização afeta, significativamente, o comportamento da cadeia de abastecimento. O processo de manufatura ou fabricação pode suportar as variações descritas a seguir: • Produção para atenderníveis de estoque: também chamado de sistema de produção contínua ou produção repetitiva, esse sistema de fabricação ocorre para atender às previsões de vendas, acontecendo antes que um pedido seja recebido. O tempo de entrega do produto ao cliente é minimizado. Exemplos: cremes dentais, sorvetes, margarinas, bebidas etc. A produção divide-se em dois segmentos industriais: – Indústria discreta: os lotes de materiais são facilmente identificados – refrigerador, televisor etc. – Indústria de processo: é representada pelos derivados de petróleo. Como ocorre uma mistura dos ingredientes, os lotes de materiais apresentam maior dificuldade para serem identificados. Figura 7 – Refinaria de petróleo Disponível em: https://bit.ly/3okrHop. Acesso em: 11 nov. 2021. Uma refinaria é como uma grande fábrica, cheia de equipamentos complexos e diversificados, pelos quais o petróleo vai sendo submetido a diversos processos para a obtenção de muitos derivados. Refinar esse óleo mineral é, portanto, separar suas frações, processá-lo, transformando-o em produtos de grande utilidade: os derivados de petróleo. A instalação de uma refinaria segue diversos fatores técnicos, dos quais se destacam a sua localização nas proximidades de uma região em que haja grande consumo de derivados e/ou nas proximidades das áreas produtoras de petróleo. O Brasil possui uma das maiores empresas de refinaria, a Petrobras, estrategicamente localizada do norte ao sul do país. 26 Unidade I • Produção para atender um pedido específico: essa é uma estratégia de manufatura em que a produção se inicia a partir do momento em que um cliente faz um pedido. Normalmente, os componentes e acessórios se encontram armazenados, e uma vez que o pedido é recebido, ele é produzido conforme a solicitação. Esse sistema envolve a obtenção de materiais, a fabricação e a montagem do produto. Um exemplo bem conhecido nosso é a fabricação de pizzas, conforme mostra a figura seguinte. Os materiais ficam armazenados aguardando o pedido do cliente. Esse pedido pode ser feito pessoalmente, por telefone ou por redes sociais. É claro que existe uma previsão de demanda de determinados tipos de pizzas. Assim, a utilização do estoque é realizada de forma a ter uma eficiência maior em sua produção. Figura 8 – Produção de pizzas Disponível em: https://bit.ly/3oilfy9. Acesso em: 11 nov. 2021. • Montagem: um exemplo clássico desse sistema de produção é a indústria automobilística, que ao receber o pedido de uma concessionária, monta os veículos de acordo com as opções determinadas pelo cliente como: ar condicionado, cor, sistema de som etc. Nesse tipo de sistema, o fabricante monta uma quantidade bem diversificada de produtos finais com diferentes características e poucos componentes ou elementos já montados. Figura 9 – Sistema de produção por montagem Disponível em: https://bit.ly/3C76L9a. Acesso em: 11 nov. 2021. 27 LOGÍSTICA INTEGRADA • Projetos sob medida: É um sistema que envolve desenho, projeto, obtenção de materiais e componentes, fabricação e montagem. As especificações são, normalmente, estabelecidas pelo cliente em função da necessidade do produto. Em geral, isso é um processo de longa duração, muitas vezes durando anos e envolvendo uma quantidade muito grande de pessoas e empresas. Exemplos: aviões, edifícios, estradas etc. • Combinação de sistemas de produção: os sistemas anteriores podem sofrer variações. As combinações são utilizadas principalmente nos sistemas de produção para estoque. A manutenção de estoque sugere um custo adicional, onerando, assim, a cadeia de abastecimento. Algumas organizações adotam certas estratégias nas quais alguns produtos são produzidos a partir do recebimento do pedido, mantendo em estoque aqueles itens ou materiais mais críticos de se obter. Distribuição Conforme Bertaglia (2009, p. 33), a distribuição é um processo que está normalmente associado ao movimento de material de um ponto de produção ou armazenagem até o cliente. É uma atividade que envolve as funções de: • Gestão e controle de estoque. • Manuseio de materiais ou produtos acabados. • Transporte. • Armazenagem. • Administração de pedidos. • Análises de locais e redes de distribuição etc. O Brasil tem evoluído muito no aspecto de distribuição com empresas extremamente profissionais tanto na armazenagem como no transporte. No entanto, nossa infraestrutura para transporte e distribuição contínua ainda é extremamente centralizada nas rodovias, apresentando leitos bem críticos, aumentando os custos de transporte pela necessidade de manutenção de veículos que transitam por elas. Os países desenvolvidos usam meios alternativos e combinados para efetuar a distribuição dos produtos por via marítima, rodoviária, ferroviária e aérea. Todas as empresas envolvidas na cadeia de suprimentos têm que entender que constituem uma única empresa. Caso contrário, todos perdem. Alguns, mais ou menos, porém, todos perdem. Para exemplificar essa ideia, consideremos o relato por mim presenciado: certo dia estava dirigindo o meu automóvel e parei por causa do farol aguardava o semáforo abrir observei uma situação no mínimo lamentável: dois rapazes estavam tentando colocar um colchão na carroceria de um carro utilitário, tipo pickup. O problema surgiu porque o colchão era um pouco maior que a carroceria do automóvel. Eles não tiveram dúvida, pegaram o colchão e o colocaram sob o 28 Unidade I automóvel, mas o colchão não ficou totalmente acomodado na carroceria. Diante desse impasse, os dois rapazes cerraram o punho e começaram a dar socos no colchão até que ele ficasse acomodado na carroceria. Fiquei indignado com tal situação, mas, em decorrência da abertura do semáforo, fui obrigado a seguir o meu caminho, no entanto, refletia sobre a imagem do soco. Pensei: quando compro um produto e ele vem com defeito, será que é mesmo defeito de fábrica ou de funcionários e empresas que compõem a cadeia de suprimento e não estão preparadas para satisfazer o cliente? Você já passou por alguma situação assim antes? Veja como é importante ter uma cadeia de suprimentos toda direcionada para a satisfação do cliente. A resposta que tenho para isso é simples: depende de como a empresa lida com a sua cadeia de suprimentos. É claro que há muitas empresas sérias e que almejam o melhor para o cliente, mas há aquelas que querem somente obter lucro e sabe-se que será por pouco tempo, pois o consumidor perceberá que foi enganado e acabará optando por uma concorrente. Saiba mais Se você quiser saber mais sobre os aspectos de planejamento e estratégias no gerenciamento da cadeia de suprimentos, leia o livro: CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operações. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2011. 1.3 Níveis da cadeia de suprimentos Slack (1993) divide a cadeia de suprimentos (SC) em três níveis (conforme mostra a figura a seguir): • cadeia interna; • cadeia imediata; • cadeia total. 1.3.1 Cadeia de suprimentos total Envolve todas as relações cliente-fornecedor, desde a extração da matéria-prima, até a compra do produto pelo consumidor final. A empresa que efetivamente colocará a marca em seu produto e chegará ao cliente é a grande responsável por gerenciar essa cadeia. No fim do processo, quando o cliente for utilizar o produto, ele enxerga somente sua marca. Ele não entende que o problema pode ter ocorrido por falhas no transporte, na armazenagem, no fornecedor. Por isso, a empresa detentora da marca ficará responsável por gerenciar esse sistema e controlar todas as atividades, para que tudo saia de acordo com as exigências de seu cliente. 29 LOGÍSTICA INTEGRADA Transporte Fábrica Armazenagem Fornecedor/Planta Armazenagem ClientesTransporte Transporte Transporte Fluxo de informações Figura 10 – Cadeia de suprimentos total 1.3.2 Cadeia de suprimentos imediata Representa todos os fornecedores e consumidores com os quais a empresa faz negóciodiretamente. Perceba que a relação é mais próxima e, às vezes, sendo diária. O conhecimento, nesse caso, é maior. É possível entender melhor essa relação e realizar melhores trabalhos. 1.3.3 Cadeia de suprimentos local Corresponde aos fluxos internos de materiais e informações entre departamentos, células ou setores da operação. Até que o produto chegue a seu destino final (para o cliente) são realizados inúmeros transportes internos em relação ao material e informação. Nesse caso, é importante conhecer, também, os clientes internos que são os funcionários. É importante entender qual a relevância do material para o outro departamento, como armazená-lo e quais são os seus prazos. Exemplo: quando é executada uma venda de um determinado produto, é necessário que ele esteja no estoque para ser entregue ao cliente; ao mesmo tempo, deve-se informar e pedir ao departamento financeiro para providenciar o pagamento, bem como informar o departamento de transporte para que a entrega do produto seja feita. Se houver qualquer problema de fluxo de material e informação, isso poderá prejudicar a qualidade do produto, como: qualidade e prazo de entrega. 30 Unidade I Financeiro/ Contábil RecebimentoPagamento Situação financeira Co nt as a pa ga r Pedido de MP Previsão Prev isão Histórico de vendas Faturam ento An ál ise d e cr éd ito Re ce bim en to do s p ed ido s Altera sta tus do pedido Situa ção d os pe didos Soli cita ção de cort es Necessidade de MP Estoque atual Pro gra ma ção das bo bin as Atualiza estoques Programação dos cortes Crédito Direção Compras PCP Produção de bobinas Bobinas de estoque Vendas Armazenagem Recebimento Fornecedores Produção cortadeira Expedição Figura 11 – Macro fluxo de material e informação Adaptada de: Baker e Germane (1957, p. 650). Você observou os níveis de cadeia de suprimentos por etapas para ter um melhor entendimento de como é sua atuação dependendo do local de atuação. A figura a seguir mostra os níveis da cadeia de suprimentos: Cadeia de suprimentos total Cadeia de suprimentos mediana Cadeia de suprimentos local Figura 12 – Níveis da cadeia de suprimentos Adptada de: Slack (1993 31 LOGÍSTICA INTEGRADA A tecnologia de informação se tornou um ponto essencial na gestão da cadeia de suprimentos e, por isso, há a necessidade da utilização de sistemas que ajudam a gerir as informações provenientes, desde as fontes primárias de recursos até os consumidores finais. Segundo Nazário (1999), o fluxo de informações é um elemento de grande importância nas operações logísticas. Pedidos de clientes e de ressuprimento, necessidades de estoque, movimentações nos armazéns, documentação de transporte e faturas são algumas das formas mais comuns de informações logísticas. Ainda, de acordo com o mesmo autor, os sistemas de informações logísticas funcionam como elos que unem as atividades logísticas em um processo integrado, combinando hardware e software para medir, controlar e gerenciar as operações logísticas. Essas operações ocorrem dentro de uma empresa específica, bem como ao longo de toda cadeia de suprimentos. Sistemas adequados são essenciais para a eficiente colaboração na cadeia de suprimentos. Para Pires (2004), quando se fala em colaboração na cadeia de suprimento fala-se também em relacionamentos de longo prazo na busca de objetivos comuns. Sabe-se que a cadeia de suprimento torna-se competitiva na medida em que as alianças estratégicas aumentam a criação do valor por meio da integração de processos. Logo, pode-se afirmar que as iniciativas projetadas para melhoria do planejamento e gestão colaborativa na cadeia de suprimentos refletem diretamente no potencial competitivo dessas cadeias. No quadro a seguir são citadas algumas tecnologias utilizadas atualmente fundamentais como ferramentas de apoio ao SCM. Quadro 1 – Tecnologias utilizadas na logística Tecnologias Objetivos Código de barras Tecnologia aplicada para melhorar a precisão e a velocidade da transmissão dos dados, sendo útil em todo o processo de negócio, na gestão de inventário ou atividades relacionadas e, principalmente, no setor varejista. Desenho assistido por computador – CAD Objetiva reduzir os tempos para desenvolvimento de produto, criar desenhos de melhor qualidade, melhorar a comunicação com os parceiros na cadeia etc. Inteligência empresarial – BI Conjunto de aplicações projetado para organizar e estruturar dados de transação de uma empresa, de forma que possam ser analisados, a fim de beneficiar as operações e o suporte a suas decisões. Intercâmbio eletrônico de dados – EDI Movimentação eletrônica de documentação padrão de negócios especialmente formatados, como pedidos trocados entre parceiros de negócios. É um sistema que automatiza o processo de compras, dá suporte ao reabastecimento de estoque automático e reaproxima a relação entre compradores e fornecedores. Programas de reposição contínua – CRP Prática que busca o atendimento de quatro processos: promoções, reposições de estoques, sortimentos dos estoques e introdução dos novos produtos, que mostram os níveis de estoques nas lojas dos varejistas. Estoque gerenciado pelo fornecedor – VMI Prática baseada numa relação de parceria e confiança mútua, na qual o fornecedor tem a responsabilidade de gerenciar o seu estoque no cliente, incluindo o processo de reposição. Resposta eficiente ao consumidor – ECR Busca a melhoria da qualidade, a simplificação de rotinas e procedimentos, bem como a padronização e racionalização dos processos de distribuição. Rastreamento de frotas Método baseado em tecnologias de rastreamento e monitoramento de veículos, que ajudam a gerenciar frotas de veículos por meio do controle de registros sobre os trajetos e os tempos. 32 Unidade I Tecnologias Objetivos Sistema de automação de qualidade – AQC Ajuda a monitorar os processos de garantia da qualidade. Sistema de execução de manufatura – MES Monitora, acompanha e controla a matéria-prima, mão de obra, equipamento, instruções e instalações de produção. Sistema de gerenciamento de transporte – TMS Controle de transportes de carga, ajudando as empresas a atender os requisitos do transporte de cargas. Sistema de gestão de armazém – WMS Rastreia e controla o movimento do inventário dentro do depósito. Sistema de gestão do relacionamento com os clientes – CRM Unifica as informações sobre clientes, criando uma visão única, centraliza as interações com os clientes e antecipa as suas necessidades. Sistema de gestão de dados de produtos – PDM Gerencia todas as informações relacionadas ao produto. Identificação por radiofrequência – RFID Ferramenta de suporte que automatiza processos e melhora a gestão de operações, eliminando, assim, falhas humanas. Além disso, disponibiliza informações essenciais sobre a situação do produto. Sistema de planejamento de cadeia de suprimentos – SCP Oferece meios para planejar, executar e medir os processos de gestão da cadeia de suprimentos de uma organização. Sistema de previsão de demanda – DFS Sistema que utiliza métodos diversos para tentar prever a demanda por produtos ou serviços, normalmente integrando outros sistemas, como o ERP e o SCP. Sistema de informação baseado na internet – WIS Conjunto de aplicações que facilitam os processos internos e externos das empresas, integrando uma grande quantidade de sistemas empresariais de informação. Sistema integrado de gestão – ERP Sistema centralizado capaz de integrar todos os departamentos e funções das empresas em um sistema unificado de informações. Planejamento, previsão e reposição colaborativa – CPFR Ferramenta que visa facilitar o relacionamento entre empresas, principalmente no que se refere à elaboração do conjunto da previsão de vendas e planejamento do ressuprimento. Adaptado de: Feldens (2005) e Pires (2004). 1.3.4 Planejamento e as configurações das redes logísticas Pereira, Oliveira eLeal Júnior (2016) comentam que o planejamento de rede logística é uma decisão estratégica e determina a localização, a quantidade de instalações e o seu tamanho. Você pode supor que seja fácil determinar as configurações das redes logísticas considerando que basta verificar onde estão os clientes mais comuns e pronto. Contudo, não é bem assim: exigem-se decisões complexas, realizadas por meio de avaliações financeiras. A partir de agora você terá a oportunidade de conhecer alguns métodos utilizados para esse planejamento. Ballou (2009) afirmou que uma rede logística é avaliada, sobretudo, pelo seu custo. E a ideia é reduzi-lo ao máximo. Uma das atividades que têm um grande impacto na composição do custo das redes logísticas é o transporte e, de acordo com Alves et al. (2013), pode chegar a 60% do custo total. 33 LOGÍSTICA INTEGRADA Lembrete Para ter um conhecimento mais preciso em redes de distribuição logísticas, é necessário ter uma boa noção prévia sobre cadeia de suprimento. Se ainda restar alguma dúvida com relação a esse assunto, revise a parte deste livro-texto que aborda a integração da cadeia de suprimento. Para Sandhusen (2010), a rede de distribuição (RD) é um emaranhado de “nós” que resultam em um sistema não isolado pertencente uma atividade comercial ou produtiva cujas partes funcionam interconectadas. Logo, uma RD visa conectar o produtor ao cliente, podendo contar com diferentes segmentos nas distribuições (armazéns, centros de distribuição ou varejo). Veja, sobre isso, a figura a seguir: Rede de distribuição Produção Fabricante Armazéns Logística Cadeia de suprimentos Transporte com carga fracionada Transporte com carga completa Devolução (processos e estrutura física) (gestão) Varejo Cliente Transformação Centros de distribuição Lojista Consumidor final Transferência Distribuição Demanda Figura 13 – Fluxo de rede de distribuição 34 Unidade I Para desfazer esse nó são necessárias decisões com abordagens qualitativa e quantitativa, isto é, a decisão estratégica deve levar em conta os aspectos qualitativos. Kouvelis et al. (2000) citam três níveis de tomada de decisão: • estratético; • tático; • operacional. Falaremos de cada um deles na sequência. Análise qualitativa O nível estratégico envolve: determinação do número, tamanho e localização de fábricas e depósitos. A parte estratégica engloba analisar o número de participantes da RD e onde estão localizadas as fábricas e os depósitos. É necessário analisar vários fatores que podem afetar a RD, como políticas de atendimento a clientes e até mesmo campanhas de marketing. Isso porque estudos dessa natureza, dada sua abrangência, podem apontar os limites da estrutura física, ou seja, o que, de fato, pode ser considerado essencial; quanto esforço (custos, investimentos, contratações etc.) será necessário para suportar certas políticas de atendimento; ou qual o tipo de parceiro necessário para o sucesso da operação. O nível tático envolve a definição da alocação dos clientes aos centros de distribuição e dos centros de distribuição às fábricas; Na análise tática, é necessário avaliar onde estarão localizados os CDs e os seus clientes e também a distribuição às fábricas. Por fim, o nível operacional engloba a elaboração de planos de contingência, nos quais, por exemplo, se pretende realocar de forma ótima os clientes num caso como a parada de uma linha de produção em uma fábrica. Aqui na parte operacional é importante ter um plano “B” no caso de acontecer algum tipo de problema com a RD, que pode ser uma greve de caminhoneiros, por exemplo. Agora que você tomou ciência de algumas decisões necessárias para uma boa análise qualitativa da implementação da RD, vamos conhecer a abordagem quantitativa, com a qual é possível ter uma maior precisão na tomada de decisão. 35 LOGÍSTICA INTEGRADA Análise quantitativa Um exemplo de análise quantitativa que deve ser feita é a distância percorrida entre as instalações – sabendo que a medida que a distância aumenta, a efetividade cai. O estoque é um outro item que gera um custo agregado muito alto e pode impactar o sucesso da RD. Observação O custo de transporte é um item importantíssimo nesta análise. As previsões de demanda ou vendas representam a base estratégica de qualquer organização, e é a partir desse elemento que decisões são tomadas. A análise qualitativa e quantitativa traz grandes informações no processo de decisão, porém pode ter desvantagens, dependendo do tamanho do problema a ser resolvido. Nesse caso, são necessários longos tempos de processamento, às vezes longos a ponto de tornar inviável a resolução do problema que se tem. E uma estratégia que pode ser utilizada é a simulação. De acordo com Saliby (1989), as ferramentas baseadas na simulação levam em conta a dinâmica do sistema e, portanto, são capazes de caracterizar o desempenho do sistema para um dado projeto. Assim, cabe ao usuário suprir o modelo de simulação com várias alternativas de projeto, como, por exemplo, padrão de pedidos individual e políticas de estoque específicas, dentre outros. Para Fiuza et al. (2003), a principal limitação do uso da simulação é a necessidade de um projeto de rede logística pré-especificado. Os autores comentam que dada uma configuração específica de centros de distribuição, varejistas, fábricas e clientes, um modelo de simulação pode ser usado para ajudar a estimar os custos associados à operação dessa configuração. Se uma configuração diferente for considerada (por exemplo, alguns clientes que devem ser servidos por um depósito diferente), o modelo terá de ser reexecutado. Desse modo, a simulação se apresenta como uma ferramenta de grande utilidade para a caracterização do desempenho de uma configuração específica, mas não para escolher uma configuração eficaz a partir de um grande conjunto de configurações potenciais – ou seja, não é um método otimizante. Corroborando com Fiuza, Ballou (2006) comenta que um grande problema com os simuladores de localização é que o usuário pode não saber quão perto as configurações escolhidas estão do ponto ótimo. Sempre que um número razoável de configurações escolhidas com prudência tiver sido avaliado, pode-se alcançar um alto grau de confiança de que uma solução satisfatória foi encontrada. 36 Unidade I O ideal seria um ponto médio entre fatores qualitativos e quantitativos, no qual a empresa possa obter o máximo possível de vantagens competitivas e também oferecer uma boa opção de ocupação aos seus empregados. Saiba mais Agora que você já conhece como tomar uma decisão pelos métodos qualitativos, quantitativos e por simulação, entre no artigo a seguir e veja como é tomar uma decisão utilizando o custo de transporte: PEREIRA, A. A. Custo de transporte e alocação da demanda: análise da rede logística de uma produtora brasileira de fertilizantes nitrogenados. Journal of Transport Literature, v. 10, n. 4, dez. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3D5HL3x. Acesso em: 9 nov. 2 LOGÍSTICA REVERSA E A ECONOMIA CIRCULAR 2.1 Conceitos A logística reversa é entendida como: A área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2003). A figura a seguir demonstra como funciona o complexo fluxo da logística reversa: 37 LOGÍSTICA INTEGRADA Comércio Indústria Bem de pós-venda Resíduos industriais Garantia/ qualidade Comerciais Substituição de componentes Conserto reforma Validade de produtosEstoques Retorno ao ciclo de negócios Mercado secundário de bens Mercado secundário de matérias-primas Mercado secundário de componentes Disposição final Reciclagem Remanufaturada Componentes Desmanche Retorno ao ciclo
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