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09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 1/16 PSICOLOGIA: PROCESSOS, APRENDIZAGEM EPSICOLOGIA: PROCESSOS, APRENDIZAGEM E INTELIGÊNCIAINTELIGÊNCIA ENTENDENDO A MEMÓRIA HUMANAENTENDENDO A MEMÓRIA HUMANA Anna Cláudia HaskelAnna Cláudia Haskel 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 2/16 OLÁ! Você está na unidade Entendendo a memória humana. Conheça aqui o que é memória, quais os processos de codi�icação, armazenamento e recuperação de informações. Entenda, também, o que é o esquecimento e quais os tipos e subtipos de memória e suas caracterı́sticas. Além disso, veja quais as bases biológicas da memória e como ela pode ser comprometida ou aperfeiçoada. Qual é o seu nome? Que dia é hoje? Quando você nasceu? Quem escreveu Romeu e Julieta? Se você foi capaz de responder à maior parte destas perguntas, é porque é capaz de evocar sua memória, esse processo cognitivo tão complexo que vem fascinando a humanidade há séculos. Bons estudos! 1 O que é memória? Você já parou para pensar como seria a sua vida se você fosse incapaz de evocar sua memória? Como seria a sociedade? E as relações? Imagine você chegar ao �inal do dia e esquecer tudo aquilo que aconteceu no dia anterior. Parece perturbador, não é mesmo?! De todos os processos cognitivos, a memória talvez seja um dos que desempenhou maior papel em nossa evolução. Então, a partir de agora vamos conhecer um pouco mais sobre esse assunto, tão fundamental em nossas vidas. Nossa identidade está intimamente ligada àquilo que podemos recordar a respeito de nós mesmos e de nossas vidas. Não há uma percepção do “eu” ou de “minha vida” sem a possibilidade de lembranças. Como citado por Izquierdo (2010, p. 7), “cada um de nós é quem é porque tem suas próprias memórias”. Essa passagem traz uma re�lexão importante a respeito aplicação da memória. A identidade, personalidade, en�im, tudo o que entendemos por valores e até quem somos somente é possı́vel pois somos capazes de lembrar e recordar. A nossa capacidade individual de adquirir, reter e resgatar informações permite que possamos utilizá-las como dados para a tomada de decisão (FUENTES, 2014). E� por meio de experiências passadas armazenadas que podemos evocá-las em nosso presente. 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 3/16 #PraCegoVer: a �igura mostra duas mãos de uma pessoa aparentemente idosa, segurando uma fotogra�ia. As mãos estão sob diversas fotos que retratam viagens e locais, como a Torre Eiffel, em Paris. Quando pensamos no termo “memória” é possı́vel encontrar diferentes sentidos em várias áreas do conhecimento: na informática, história, educação, por exemplo. O que é memória em um computador, por exemplo, é diferente do conceito de memória para um historiador. Na área cognitiva, em que a psicologia se encontra, a memória pode ser compreendida como o processo de codi�icação, armazenamento e recuperação de informações (GLEITMAN et al., 2003; STERNBERG, 2010). A memória se difere da aprendizagem pois diz respeito apenas ao processo de aquisição das informações que serão armazenadas e evocadas (LENT, 2001), não se relacionando com habilidades ou correlações entre informações, como no caso da aprendizagem. Cada um desses processos ocorre de distintas maneiras e, por mais que sejam categorizados, eles ocorrem de maneira interligada com outros processos cognitivos. Agora, vamos compreender mais sobre esses três grandes processos da memória. Figura 1 - Lembranças Fonte: Protasov AN, Shutterstock, 2020. A codi�icação é o primeiro estágio, e refere-se à transformação de um estı́mulo ou mensagem sensorial (auditiva, visual, olfativa etc.) em uma representação, que futuramente pode ser evocada pelo indivı́duo. Por exemplo, quando alguém com quem você convive fala algo, você percebe os estı́mulos auditivos especı́�icos daquela pessoa e transforma em um código, como “este é o timbre de voz da minha mãe”, por exemplo. Esse processo de codi�icação pode ocorrer de forma racional ou afetiva (GLEITMAN et al., 2003; STERNBERG, 2008). Após transformar o estı́mulo em um código, é hora de armazená-lo. O armazenamento é um processo em que determinados eventos, após codi�icados, �icam disponı́veis por algum tempo para serem evocados (lembrados) posteriormente (LENT, 2001). Existem, Clique para abrir a imagem no tamanho original Codificação Armazenamento 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 4/16 E� importante ressaltar que nossa capacidade de armazenamento é limitada, por isso, mesmo depois de armazenada, uma memória pode ser “descartada” por falta de uso, por exemplo. Complementando o entendimento sobre a memória, vamos compreender agora um processo fundamental para a memória: o esquecimento. com relação a isso, diferentes classi�icações para a memória de acordo com o tempo em que �icam armazenadas em nosso cérebro. A recuperação, também chamada de lembrança, recordação ou evocação, é o último processo, em que o evento armazenado é trazido à consciência. E� nesse processo que, dentre diversos traços mnésicos, um desses está relacionado à nossa consciência. 1.1 Esquecimento De maneira sucinta, o esquecimento ocorre quando uma memória, anteriormente armazenada em longo prazo, não é mais recuperada. Sabemos que a capacidade de retenção de informações é limitada, e pode variar conforme cada indivı́duo (LENT, 2001). E por que esquecemos? O esquecimento é um processo natural da memória (LENT, 2001), e esquecemos, em parte, pois os mecanismos de evocação da memória são �initos e não podemos fazê-los funcionar constante e simultaneamente, e obrigando nosso cérebro a perder, naturalmente, memórias preexistentes (IZQUIERDO, 2010). Assista aí Recuperação 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 5/16 1.2 As falsas memórias Você já passou pela situação de recordar algo que, na verdade, não ocorreu como lembrava? Esse tipo de situação é bastante comum para os seres humanos, e acontece pois somos capazes de criar, involuntariamente, falsas memórias. Uma memória é uma experiência cognitiva, em que o indivı́duo entende como uma representação verdadeira sobre um evento passado (STERNBERG, 2008). A falsa memória é uma distorção dessa experiência, que ocorre com relação a fatos com maior ou menor relevância (por exemplo, esquecer onde guardou o caderno ou distorcer uma memória relacionada a um crime). Assista aí 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 6/16 2 Tipos de memória e suas características Primeiramente, é fundamental que você compreenda que não há exatamente um consenso entre diversos pesquisadores e escolas de psicologia acerca dos tipos de memória. Diferentes autores propõem distintas divisões, e, como se trata de um processo cognitivo de difı́cil estudo, há também divergência sobre essas classi�icações. Apresentaremos, aqui, as divisões descritas por Lent (2001), com base em diversos teóricos da Psicologia e outras neurociências. Neste caso, as divisões e subdivisões partem do tempo de retenção da informação ou da natureza do conteúdo. E� importante reforçar que essas divisões são relevantes em pesquisas e entendimento das memórias, porém,não devem ser levadas ao pé da letra, pois diversas vezes nossas lembranças são misturadas com vários tipos de memórias (IZQUIERDO, 2002). 2.1 Tipos de memória conforme tempo de retenção As memórias não têm a mesma duração, algumas duram algumas horas (ou segundos) e outras perpassam nossas vidas até a morte. Esse tempo de retenção apresenta funções especı́�icas, para diferentes �inalidades (algo momentâneo ou não). A partir do tempo de duração de uma memória, é possı́vel classi�icá-la em memória imediata (ou ultrarrapida), memória de curto prazo e memória de longo prazo (LENT, 2001). A seguir veremos cada uma dessas classi�icações. A memória ultrarrapida (ou imediata) apresenta uma capacidade muito limitada quando ao armazenamento de informações. A retenção dura apenas alguns segundos (LENT, 2001) e está relacionada com o armazenamento sensorial da informação. Caso as informações não passem para a memória de curto prazo, elas serão perdidas. O que é conhecido sobre esse tipo de processamento é que há uma prevalência de memórias icônicas e ecoicas. A memória de curto prazo, por sua vez, é o tipo de memória que dura alguns segundos ou horas, e serve para dar continuidade ao nosso momento presente (LENT, 2001). Segundo o modelo Atkinson-Shiffrin, o armazenamento de curto prazo é capaz de guardar apenas poucos itens, além disso, apresenta alguns processos de controle que visam a regular o �luxo de informações “de e para” a memória de longo prazo (STERNBERG, 2008). Mas quantas informações somos capazes de armazenar por um curto período? Segundo Miler (1956 apud STERNBERG, 2008), para uma gama de informações (por exemplo, uma lista) nossa capacidade de memória é de 7 mais ou menos 2 itens. Ou seja, se alguém lhe apresentar uma lista de compras agora, com 15 itens, a probabilidade é que você consiga memorizar por alguns minutos uma média de 5 a 9 itens. Dois tipos muito estudados de memória imediata são a icônica e ecoica. A memória icônica (visual) é a que retém informações recebidas por meio de estıḿulos sensoriais visuais. Esse nome vem do fato de as informações serem brevemente armazenadas em forma de ıćones, ou seja, representações visuais (STERNBERG, 2008). A memória ecoica (auditiva) corresponde às informações retidas por meio de estıḿulos sensoriais auditivos. 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 7/16 Na prática, devido a essa capacidade limitada de memorização é interessante que busquemos separar listas em blocos menores. Por exemplo, os números de telefone, frequentemente são apresentados em blocos: (12)3456-7890 em vez de 1234567890. Essa separação contribui para a retenção na memória de curto prazo, justamente pela nossa capacidade limitada da memória de curto prazo. Outro tipo de memória classi�icada ao tempo de retenção é a memória de longo prazo. Essa é aquela que estabelece lembranças duradouras, podendo se estender por dias, semanas, anos ou até para sempre (LENT, 2001). Utilizamos constantemente esse tipo de memória em nossas atividades cotidianas: o nome das pessoas, onde guardamos as coisas, como organizamos nosso tempo (STERNBERG, 2008). Apesar de sua relevância, ainda não há estudos conclusivos sobre a capacidade e o tempo de retenção desse tipo de memória. 2.2 Tipos de memória conforme natureza do conteúdo As memórias que utilizamos para guardar informações sobre nomes, locais ou até para lógica- matemática não são as mesmas que utilizamos para recordar eventos da infância. Diante dessa diversidade na natureza do conteúdo, as memórias podem, ainda, ser classi�icadas em explícita, implícita e operacional (LENT, 2001), que, ainda, são divididas em outros subtipos. Para compreender melhor, na �igura a seguir, veremos as divisões da memória, conforme a natureza de seu conteúdo. #PraCegoVer: a �igura mostra um infográ�ico explicativo com as sı́nteses dos tipos de memória. No nı́vel 1 (superior) está a memória. No nı́vel 2 (ao lado do nı́vel 1), estão as memórias explı́cita, implı́cita e operacional. No nı́vel 3 (ao lado do nı́vel 2), estão as memórias episódica e semântica Figura 2 - Divisão dos tipos de memória conforme natureza do conteúdo Fonte: Elaborada pela autora, 2020. 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 8/16 (conectadas à memória explı́cita) e as memórias perceptual, procedimento, associativas e não associativas conectadas à memória implı́cita. Veremos a seguir cada um desses tipos de memórias, divididas pela natureza de seu conteúdo. A Memória explícita (ou declarativa) reúne aquilo que conseguimos declarar por meio de palavras ou sı́mbolos (imagens, por exemplo, LENT, 2001). Tem como caracterı́stica a capacidade de arquivar e recuperar, de forma consciente, informações relacionadas com experiências de vida ou, ainda, que foram adquiridas pela pessoa (ULLMAN, 2004 apud FUENTES et al., 2014). Para compreender esse tipo de memória, você deve buscar “o que aconteceu?”. Por exemplo, se alguém lhe perguntar “O que aconteceu de importante na sua rua semana passada?” você responde “houve uma manifestação pró-direito dos animais”. Repare que há um fato “o que = manifestação”, desta forma, você resume uma série de acontecimentos em uma experiência. A memória explicita pode ser dividida, ainda, em outros dois tipos: a episódica e a semântica (TULVING, 1972 apud FUENTES, 2014). A Memória implícita (ou não declarativa se difere da explicita por não necessariamente ser possı́vel de descrever com palavras (LENT, 2001). Ela está relacionada com a aquisição de habilidades perceptomotoras ou cognitivas, mas que não necessariamente requerem resgate e a Memória episódica Está relacionada a informações vivenciada pelo indivı́duo; às experiências pessoais (aniversários, viagens, discussões importantes). E� nela que temos os dados contextuais e ou temporais (lembrar o que aconteceu e o contexto, ou quando), ou seja, episódios que ocorreram em determinado lugar e em determinado momento (EYSENCK, 2017). Esta memória, em geral, é avaliada por testes como o RAVLT - Rey Auditory Verbal Learning Test de Rey (1958 apud FUENTES et al., 2014). Memória semântica Esse tipo de memória pode ser de�inido como uma “enciclopédia mental”, em que são armazenadas as informações necessárias para a linguagem (TULVING, 1972 apud FUENTES, 2014), ainda lógicas para se chegar a outros fatores, conceitos gerais sobre o mundo (STERNBERG, 2008; EYSENCK, 2017). E� por causa dessa memória que conseguimos recordar que a capital da Argentina é Buenos Aires ou ainda que 2 + 2 é igual a 4. Ao contrário da episódica, esse tipo de memória tem como caracterı́stica a perda de contextos espaciais (onde) e temporais (quando) (FUENTES et al., 2014). Semantização da memória episódica Há a possibilidade de que aquilo que no inıćio são memórias episódicas, com o tempo podem se transformar em memórias semânticas. Por exemplo, imagine alguém que passa férias na infância em uma fazenda e formou memórias episódicas, a partir das experiências vividas naquele lugar, cheio de montanhas ao redor. Atualmente, quando a pessoa recorda da visita à fazenda, não recorda o nome da fazenda, quando esteve lá ou qualquer outra experiência do local. Assim, o que era uma memória episódica, se transformou em memória semântica. Essa mudança é conhecida como a semantização da memória episódica e indica que não há uma divisão clara entre as memórias episódica e semântica (EYSENCK, 2017). 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~…9/16 habilidade consciente ou intencional da experiencia (SCHACTER, 1987 apud FUENTES, 2014). Essa memória pode ser dividida, ainda em quatro subtipos: representação perceptual, procedimento; associativa e não associativa (LENT, 2001). Vamos conferir, a seguir, sobre cada um desses subtipos. O último tipo de memória classi�icada com relação à natureza do conteúdo é memória operacional. Ela é responsável por arquivar as informações de maneira temporária, durando o perı́odo em que se está trabalhando com elas. E� útil para o raciocı́nio imediato e utilização destas informações em um futuro muito breve. Por exemplo, lembrar onde o carro foi guardado (após retirar o carro, essa informação não é mais útil, logo, não será arquivada). Esse tipo de memória não deixa traços e não produz arquivos permanentes. Memória de representação perceptual E� o tipo de memória que corresponde à imagem de um evento, objetivo, mesmo que não tenhamos compreensão do seu signi�icado (LENT, 2001). Dessa forma, não há um registro padronizado, e a memória é adquirida por meio de priming (dicas). Memória de procedimento E� o tipo de memória que diz respeito a hábitos, habilidades e regras em geral que utilizamos na nossa rotina (LENT, 2001), neste caso, não necessariamente precisamos descrevê-los verbalmente. Por exemplo, nadar, dirigir um carro, costurar. Memória associativa Também conhecida como “condicionamento respondente”, descoberta pelo �isiologista Ivan Pavlov, ocorre quando associamos um estı́mulo com outro, e sua resposta gera a aquisição de uma memória associativa (por meio de associação de estı́mulos). Por exemplo, ao sentir o odor de uma comida que você gosta, é natural que comece a salivar. Isso ocorre pois você associa um estı́mulo (odor) à comida que você gosta e seu corpo reage com a salivação, em função da capacidade de reter (memorizar) essas informações (a memória do cheiro do manjericão fresco está relacionada à pizza favorita, por exemplo). Memória não associativa Este tipo é o oposto da memória associativa, e ocorre quando “ignoramos” um estı́mulo em função de sua repetição. Quando uma informação que parece nociva – como o latido de um cão – por exemplo, é repetida diversas vezes, sem nos apresente perigo real, é comum que passemos a ignorar essa informação. Ou seja, depois de certo tempo, seu cérebro passa a não associar o latido do cão à perigo. 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 10/16 The Baker/baker paradox O paradoxo de Baker/baker, descrito por Gillian Cohen propõe, em suma, que temos mais propensão a lembrar de palavras das quais já temos conexões cerebrais ou eventos conectados a ela. E� o exemplo de Baker (um sobrenome) e baker (a pro�issão “padeiro” em inglês). Uma forma, então, de memorizar melhor é fazer links das palavras com outras que façam sentido no seu contexto. Por exemplo, associar o sobrenome Baker com baker, ou em português, Rosa com rosa, por exemplo. Esse tipo de associação ajuda no processo de memorização, pois faz um link com outras memórias já consolidadas. 2.3 Outras possibilidades de memórias No que tange pesquisa na área, quando falamos em mensurar a memória, é comum que os pesquisadores utilizem tarefas de recordação ou reconhecimento com os participantes (STERNBERG, 2008). Os tipos de memória que vimos até aqui dizem respeito a eventos passados, relacionados a memória retrospectiva. Mas há, ainda um tipo de memória que se refere a planejamento, a memória prospectiva. Memória prospectiva é de�inida como “a função cognitiva que usamos para formular planos e promessas, para retê-los e para relembrá-los posteriormente, no momento certo ou na ocorrência de pistas apropriadas” (GRAF, 2012, p. 7-8 apud EYSENCK, 2017 p. 330). Em outras palavras, essa memória guarda aquilo que ainda vai acontecer. Por exemplo, lembrar que você tem de devolver um livro na biblioteca, lembrar de uma reunião que terá na semana que vem. E� importante sabermos, também, que nossas memórias são capazes de reter uma variedade incontável de informações, em tipos e formas variadas. Porém, há um tipo de memória que guarda nossas experiências pessoais e informações que apresentam um signi�icado especial, as memórias autobiográ�icas. Em suma, memória autobiográ�ica é uma memória de longo prazo que recorda para eventos da vida de uma pessoa (EYSENCK, 2017). Recordação E� quando o indivı́duo lembra de um fato, imagem ou outro estı́mulo, sem a presença dele. Por exemplo, em uma questão de completar, ou quando é perguntado “quem escreveu Harry Potter?”. Neste caso, o indivı́duo precisa buscar em sua memória a informação, sem outro estı́mulo (STERNBERG, 2008). Reconhecimento Diferentemente da recordação, no processo de reconhecimento o participante se depara com vários itens (fotos, por exemplo) e necessita, dentro do que foi exposto, lembrar da informação solicitada, assim, recorda a partir de itens já conhecidos anteriormente (STERNBERG, 2008). Por exemplo, ao apresentar um vı́deo com a autora de Harry Potter, e, posteriormente, dentre cinco fotos de autoras, perguntamos aos participantes “dentre essas fotos, identi�ique quem escreveu Harry Potter”. O participante deve utilizar a lista para apontar. Esse tipo de memória é muito utilizado na área forense, no reconhecimento de infratores, por exemplo. 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps~… 11/16 Qual a diferença, ou até mesmo, relação, entre a memória autobiográ�ica e a episódica? Uma semelhança entre esses dois tipos de memória é que ambos se relacionam a experiências pessoais (EYSENCK, 2017). A memória autobiográ�ica geralmente lida com recordações complexas selecionadas de uma imensa diversidade de experiências pessoais e, em alguns aspectos, envolvem a memória semântica. Já a memória episódica, tem abrangência muito mais limitada. Alguns pacientes com lesão cerebral com pouca ou nenhuma memória episódica conseguem, mesmo assim, recordar informações a respeito da própria personalidade, por exemplo (KLEIN; LAX, 2010 apud EYSENCK, 2017). Por que passamos boa parte de nosso tempo recordando memórias autobiográ�icas de nosso passado? Essa é uma pergunta para a qual os pesquisadores (BLUCK; ALEA, 2009 apud EYSENCK, 2017) identi�icaram três respostas: 1. Manutenção dos vı́nculos sociais (por exemplo, memórias compartilhadas com a famı́lia). 2. Direcionamento de comportamentos futuros: usando o passado como um repertório para o futuro. 3. Criação de uma noção de autocontinuidade ao longo do tempo. Assista aí 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 12/16 3 Bases biológicas da memória A memória, apesar de nos apresentar representações tão intangíveis e complexas, somente existe, pois somos biologicamente capazes de adquirir, reter e evocar informações. Em outras palavras, só há memória se houver uma base biológica que a suporte. Vamos, agora, compreender, de maneira breve, aspectos anatômicos e �isiológicos por trás da memória. 3. 1 Anatomia da memória O hipocampo, uma região �ilogeneticamente antiga do córtex temporal, que apresenta várias funções, mas a principal é formar e evocar memórias, induzindo o restante do córtex cerebral a fazer o mesmo (IZQUIERDO, 2010). A amígdala cerebral (não confunda com a amı́gdala em nossas gargantas), localizada no lobo temporal, é um conjunto de células nervosas agrupadas em forma de cacho, e se denomina assim, pois se assemelha a uma pequena amêndoa. Atua como um importante núcleo modelador dos aspectos emocionais das memórias(IZQUIERDO, 2010). O córtex entorrinal é interligado ao resto do córtex cerebral, por meio de diversas �ibras nervosas, conexões “de ida e volta” com o córtex, a amı́gdala e o hipocampo (IZQUIERDO, 2010). 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 13/16 #PraCegoVer: a �igura mostra a imagem do cérebro em corte transversal que mostra a localização do hipocampo (na parte mais interior), logo ao lado, a amı́gdala cerebral. Figura 3 - O cérebro em secção transversal mostrando amı́gdala e hipocampo Fonte: Blamb, Shutterstock, 2020 (Adaptada). 3.2 Sinapses As sinapses são conexões entre os neurônios, consistem na ligação entre os axônios e dendritos (IZQUIERDO, 2010). Os axônios são responsáveis por levar, às suas extremidades, potenciais elétricos que se originam no corpo celular. Entre um neurônio e outro, a terminação do axônio libera substâncias quı́micas, denominadas neurotransmissores, que se dirigem pela fenda sinápticas até o neurônio seguinte, �ixando proteı́nas nos chamados receptores. Os neurotransmissores podem ser divididos em excitatórios, quando atuam estimulando a célula seguinte a também produzindo sinais elétricos, e inibitórios, quando impedem ou di�iculta a geração desses potenciais (IZQUIERDO, 2010). O tipo de neurotransmissor apresenta uma relevância fundamental no nosso corpo e humor. 3.3 Uso e desuso das sinapses 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 14/16 Quando deixamos de fazer uso de algumas conexões cerebrais, ou seja, o desuso das sinapses, pode acontecer o esquecimento (IZQUIERDO, 2010). Segundo pesquisa realizada por John Eccles (1903-1997 apud IZQUIERDO, 2010) foi possı́vel demonstrar que o desuso das sinapses ocasiona sua atro�ia, e, por consequência, a perda de suas funções. O oposto também é verdadeiro: o uso constante das sinapses causa seu crescimento e sua melhora funcional. 4 Comprometimento e aperfeiçoamento Nossas memórias podem sofrer depreciação, seja por lesões ou por envelhecimento. Há doenças neurológicas associadas diretamente com a memória, como o Alzheimer. Assim como a memória pode ser prejudicada, há casos de memórias excepcionais, em que a capacidade de memorização do indivı́duo está acima da média. Abordaremos, agora, essas duas óticas: o comprometimento e a potencialidade da memória, para que possamos compreender alguns casos em que esse processo destoa do que entendemos como aceitável. 4.1 A memória comprometida O comprometimento da memória tem causa em uma série de fatores e ainda é objeto de estudo para a ciência. A memória pode ser comprometida por inúmeros fatores, sejam �isiológicos ou até mesmo psicológicos (um trauma, por exemplo). Agora, vamos compreender dois tipos de comprometimento da memória bastante conhecidos em nossa sociedade: a amnésia e a doença de Alzheimer. A amnésia pode ser entendida como uma patologia que tem como caracterı́stica a perda de memória parcial ou completa (FUENTES, 2014), causada por uma lesão cerebral (EYSENCK, 2017). Há diferentes tipos de amnésia, dentre os quais os mais comuns são a anterógrada e a retrógrada. A amnésia anterógrada ocorre quando a habilidade de recordar informações é reduzida após o inı́cio da amnésia. Já na amnésia retrógrada ocorre o oposto: a habilidade de memorização é reduzida, com relação a eventos que ocorreram antes do inı́cio da amnésia (EYSENCK, 2017). 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 15/16 A doença de Alzheimer foi identi�icada em 1907 por Alois Alzheimer. E� uma doença neurodegenerativa, associada à perda da função intelectual na vida cotidiana, muito relacionada à perda da memória. A doença de Alzheimer costuma aparecer em adultos com idade mais avançada, em que a perda da memória pode ser vista em tomogra�ias cerebrais comparativas entre indivı́duos (com e sem a doença, STERNBERG, 2008). Dentre os sintomas, pode haver prejuı́zos na memória episódica, inicialmente. Com a evolução da doença, os indivı́duos passam a ter a memória semântica prejudicada também. A incidência da doença de Alzheimer aumenta exponencialmente com a idade (KENSINGER; CORKIN, 2003 apud STERNBERG, 2008 ). Entre as idades de 70 e 75 anos, a incidência é de 1% ao ano, entre 80 e 85, aumenta para mais de 6%. Aos 70 anos, 30 a 50% dos adultos têm sintomas de Alzheimer, e após os 90 anos a percentagem é superior a 50% (STERNBERG, 2008). Um fator sobre essa doença é atinge com menor impacto pessoas com instrução superior do que com educação primária incompleta (IZQUIERDO, 2010). O caso H. M. Um caso clássico e de grande repercussão na literatura das neurociências é o do canadense Henry Molaison – conhecido pelas iniciais HM – falecido em 2008. HM era portador de epilepsia grave desde sua adolescência e essa condição o levou a buscar o neurocientista William Scoville. HM foi submetido a uma cirurgia cerebral, realizada em 1953, quando tinha 27 anos, que implicou na remoção da região dos focos epilépticos, localizados no setor medial do lobo temporal (onde �ica o hipocampo). Logo após a operação, houve uma melhora no quadro epiléptico de HM, porém, o paciente apresentou um grave distúrbio de memória, sendo incapaz de produzir qualquer memória nova, fora as que diziam respeito a algumas habilidades manuais ou perceptivas. Além disso, ele apresentou perda de memória referente aos fatos ocorridos nas semanas anteriores à operação. HM era capaz de lembrar até o �im de seus dias de sua infância e de sua juventude, mas foi incapaz de aprender o caminho de seu quarto até o banheiro, ou lembrar o rosto de alguém com quem esteve conversando algumas horas antes (LENT, 2001; IZQUIERDO, 2010). Segundo IZQUIERDO (2010, p. 83), H. M. foi submetido a estudos de imagens cerebrais na década de 1980, e os exames revelaram que sua lesão cirúrgica envolvia aproximadamente os dois terços anteriores do hipocampo, a quase totalidade do córtex entorrinal (a região do córtex mais próxima ao hipocampo e mais interligada a este) e boa parte do núcleo da amıǵdala de ambos os lados. Essas observações morfológicas revelaram que é mais apropriado atribuir os dé�icits de memória de longa duração de H. M. não só à lesão do hipocampo, mas também à do córtex entorrinal e talvez em parte à lesão bilateral da amıǵdala. Esse caso foi fundamental para estudos da memória, em que se pode relacionar o envolvimento de outras regiões cerebrais, além do hipocampo, na formação de diferentes memórias. 4.2 Memória de mais Assim como a memória pode apresentar dé�icits, há também pessoas dotadas de uma capacidade mnemônica acima da média. A síndrome hipertimésica consiste justamente na habilidade excepcional de um indivı́duo em recordar eventos de sua própria vida (EYSENCK, 2017). O 09/05/2023, 16:15 Inicialização LTI https://sereduc.blackboard.com/ultra/courses/_149155_1/outline/lti/launchFrame?toolHref=https:~2F~2Fsereduc.blackboard.com~2Fwebapps… 16/16 neurologista Aleksandr Luria acompanhou nos anos de 1920 o jovem repórter Solomon Sherashevski, um caso real de sı́ndrome hipertimésica. Ele apresentava a capacidade de memorizar listas de 70 a 100 itens (palavras e números, especialmente), repetindo-os em qualquer ordem. Em contrapartida, não conseguia esquecer as listas já memorizadas, e, como participava de concursos, cada vez �icava mais difı́cil diferenciar uma lista da outra. Além disso, Solomon apresentava uma capacidade de pensar limitada, pois não conseguia ignorar detalhes para generalizar um fato. É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: compreendero conceito e a relevância a memória humana entender o que é esquecimento e por que é tão importante para a memória compreender o conceito das falsas memórias e como pode ter implicações jurídicas entender a divisão da memória de acordo com seu tempo de retenção; compreender os diferentes tipos de memória de longo prazo, de acordo com sua natureza; entender a diferente das memórias de recordação e reconhecimento; ampliar o entendimento da relação entre emoções e memória; compreender o que é memória prospectiva e sua diferença para a memória retroativa; conhecer o que é a memória autobiográfica; ampliar o conhecimento sobre as principais bases biológicas da memória; conhecer dois tipos de déficits de memória bastante comuns; entender o que é a síndrome hipertimésica. REFERÊNCIAS COTTA, M. F. et al. O teste de aprendizagem auditivo-verbal de rey (RAVLT) no diagnóstico diferencial do envelhecimento cognitivo normal e patológico. Contextos Clínic., São Leopoldo , v. 5, n. 1, p. 10-25, jul. 2012 . Disponı́vel em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983- 34822012000100003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 mai. 2020. EYSENCK, M.W. Manual de psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2017. FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. São Paulo: McGraw-Hill, 2007. FUENTES, D. et al. (Org.). Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2014. GLEITMAN, H.; FRIDLUND, A. J.; REISBERG, D. Psicologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002. ______. A arte de esquecer. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2010. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais da neurociência. São Paulo: Editora Atheneus, 2001. STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2008. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822012000100003&lng=pt&nrm=iso
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