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UNIDADE 4. TAT (Teste de Apercepção Temática) Jefferson Muniz Nogueira OBJETIVOS DA UNIDADE • bullet Apresentar o Teste de Apercepção Temática; • bullet Descrever a aplicação do TAT; • bullet Interpretação. TÓPICOS DE ESTUDO Clique nos botões para saber mais Fundamentação teórica sobre o Teste de Apercepção Temática – // Personologia de Murray // Características do TAT Aplicação do TAT – // Correção do TAT // Análise interpretativa do TAT O conteúdo apresentado refere-se à aplicação, correção e interpretação do Teste de Apercepção Temática (TAT), sendo baseado no manual de aplicação do mesmo. Contudo, a utilização dos testes só pode ser realizada com o uso do referido manual. Este conteúdo possui fins meramente didáticos, como complemento da disciplina “Psicologia: Entrevistas e Testes Projetivos” e não substitui o material original. Fundamentação teórica sobre o Teste de Apercepção Temática Seção 2 de 3 As técnicas projetivas permitem uma investigação na forma como o indivíduo percebe e interpreta a si e ao seu ambiente como um todo, tratando-se de uma manifestação da realidade subjetiva do indivíduo e como ele a percebe a partir de suas crenças, interesses, hábitos, cultura, etc. Tal percepção interpretativa da realidade e de seu funcionamento psicodinâmico denomina-se apercepção. O Teste de Apercepção Temática (TAT) é um instrumento desenvolvido por Henry A. Murray e Christiana D. Morgan nos Estados Unidos, na década de 1930, sendo que a sua forma definitiva foi publicada por Murray em 1943 (SILVA, 1989). A proposta inicial era a de fazer um estudo aprofundado sobre a personalidade dos indivíduos, para tanto, foram desenvolvidos uma série de cartões com figuras, as quais solicitava que o paciente criasse uma história referente a cada lâmina a ele apresentada e desta forma seria possível observar as projeções fantasiosas inseridas nas histórias do paciente. De acordo com Hutz, Bandeira e Trentini (2018), Murray enxergava o processo perceptivo como algo limitado ao reconhecimento consciente de impressões sensoriais, enquanto que, por outro lado, enxergava o processo aperceptivo como um processo em que, independentemente dos antecedentes, os significados são atribuídos a estímulos físicos. Em outras palavras, a apercepção é caracterizada como o processo no qual o indivíduo interpreta suas percepções a partir das experiências já vivenciadas. Conforme Silva (1989), há um continuum ao que se refere ao ato perceptivo e que, em teoria, varia entre uma percepção objetiva da realidade vivenciada até uma distorção aperceptiva extrema, implicando na perda de contato com a realidade. CURIOSIDADE Christiana Drummond Morgan foi uma médica estadunidense ligada à corrente psicanalítica de Carl G. Jung. Na década de 1920, Christiana conheceu Henry Murray e sua esposa, passando a se relacionar amorosamente com ele. Curiosamente, Christiana Morgan e Henry Murray foram analisados por Jung, que incentivou que os dois mantivessem o seu relacionamento. Segundo Silva (1989) o material selecionado por Murray reproduz situações dramáticas, de contornos imprecisos e de difusa impressão e tema explícito, em que o avaliado inconscientemente cria identificação com algum dos personagens à sua escolha. Desse modo, o avaliado comunica-se, de forma livre, através da história por ele produzida e com toda a sua experiência perceptiva, mnêmica, imaginativa e emocional. De acordo com Cunha (2007), para o manejo do TAT é necessário rever conceitos como a consideração de que as vivências infantis constituem fatores determinantes decisivos para a conduta do indivíduo, do mesmo modo que ocorre na psicanálise. Outro ponto em comum com a psicanálise freudiana está na importância atribuída às motivações inconscientes e no interesse profundo na verbalização do indivíduo, incluindo as produzidas por sua imaginação. PERSONOLOGIA DE MURRAY A proposta de Murray e Morgan desenvolve um instrumento capaz de produzir as apercepções baseando-se na interpretação de situações sociais e, dessa forma, acabar falando sobre si mesmo. Para eles, o passado do indivíduo é tão importante quanto o seu presente e o seu ambiente. Conforme Cunha (2007) o TAT relaciona- se com a personologia: A Personologia de Murray procura considerar o indivíduo naquilo que tem de mais próprio na sua relação consigo e com o mundo. Essa singularidade é o que o TAT procura revelar. Trata-se, pois, de um teste projetivo. A personologia trata-se da teoria desenvolvida por Henry A. Murray e que integra os aspectos conscientes e inconscientes, relacionando- as com as influências advindas das experiências passadas, presentes e futuras do indivíduo, assim como os impactos que os fatores fisiológicos e sociais provocam. Para Murray, há semelhanças na personalidade de todos os indivíduos, embora cada pessoa receba influências singulares de seus ambientes e/ou de suas próprias necessidades. A personologia segue alguns princípios básicos, expostos no Quadro 1. Quadro 1. Princípios da personologia. Como destacam Hutz, Bandeira e Trentini (2018), desde o início da década de 1930, Murray faz experimentos sobre os fatores internos que influenciam a percepção, estudando os aspectos físicos e psíquicos que a afetam, assim como as interpretações e as avaliações que os indivíduos fazem sobre os objetos e sobre os impactos em si mesmo das situações ambientais. Em sua teoria, a personologia considera as necessidades e pulsões como elementos centrais, os quais entendem como conceito de necessidade a força motriz que organiza as percepções do indivíduo, do mesmo modo que as apercepções, transformadas em direção ou em um norte, levam o indivíduo à satisfação. As necessidades geram um estado de tensão que deve ser resolvido de forma a alcançar a satisfação e restabelecer o equilíbrio, sendo que a existência das necessidades pode ser identificada a partir do Quadro 2. Quadro 2. Manifestações de necessidades. CARACTERÍSTICAS DO TAT O Teste de Apercepção Temática (TAT) é um teste projetivo composto por 31 lâminas, com 30 lâminas ilustradas com gravuras de situações humanas comuns e uma lâmina toda branca. A maior parte das lâminas que compõem o TAT apresenta uma representação de personagens com idades adultas, porém joviais (SILVA, 1989). As lâminas do TAT possuem em seu verso numerações que variam de acordo com o gênero e a idade do indivíduo avaliado, de modo a facilitar a seleção das lâminas que são utilizadas no processo de aplicação do teste. Cada lâmina contém um significado distinto e busca explorar questões específicas da personalidade do indivíduo, sendo que, das 30 lâminas, 11 podem ser consideradas como lâminas universais e aplicáveis a todos os indivíduos — no caso as lâminas 1, 2, 4, 5, 10, 11, 14, 15, 16, 19 e 20. De acordo com Cunha (2007), durante a administração do TAT é possível acrescentar as lâminas apresentadas no Quadro 3. Quadro 3. Tipos de lâminas do TAT. Fonte: CUNHA, 2007, p. 400. (Adaptado). As siglas H – F – R – M representam, na versão brasileira do TAT, as siglas expostas no Quadro 4. Quadro 4. Siglas das lâminas do TAT. Fonte: SILVA, 1989, p. 6. (Adaptado). EXPLICANDO As siglas podem ter representações diferentes de acordo com o país no qual o manual é desenvolvido. Por exemplo, na Argentina, as siglas são representadas pelas letras H, M, V e N, enquanto, nos Estados Unidos, pelas letras M, F, B e G. Por isso, é importante que o psicólogo se atente ao modelo de manual que possui em mãos. Dessa maneira, o TAT administrado a uma mulher adulta, a contar todas as lâminas universais e obrigatórias, somadas às lâminas em que aparece uma representaçãoda letra F sozinha ou em conjunto com alguma outra letra, pode chegar a um total de 20 lâminas (SILVA, 1989). É preciso lembrar, porém, que esse teste de aplicação individual é indicado para pessoas dos 14 aos 40 anos de idade. Ao somar as lâminas obrigatórias com as lâminas específicas ao tipo de avaliado, totalizam-se 20 lâminas, que podem ser aplicadas em duas sessões, seguindo a respectiva indicação: Clique nos botões para saber mais 1ª Sessão — Lâminas 1 a 15: – a) Homens (H) e Rapazes (R) → 1, 2, 3RH, 4, 5, 6RH, 7RH, 8RH, 9RH, 10; b) Mulheres (F) e Moças (M) → 1, 2, 3MF, 4, 5, 6MF, 7MF, 8MF, 9MF, 10. 2ª Sessão — Lâminas 16 a 31: – a) Homens (H) → 11, 12H, 13HF, 14, 15, 16, 17RH, 18RH, 19, 20; b) Rapazes (R) → 11, 12RM, 13R, 14, 15, 16, 17RH, 18RH, 19, 20; c) Mulheres (F) → 11, 12F, 13HF, 14, 15, 16, 17MF, 18MF, 19, 20; d) Moças (M) → 11, 12RM, 13M, 14, 15, 16, 17MF, 18MF, 19, 20. // Descrição das lâminas As lâminas que compõem o TAT são divididas em universais, masculinas e femininas, sendo descritas de acordo com Silva (1989) como: Lâmina 1 O menino e o violino (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de um rapaz que está admirando um violino disposto sobre a mesa à sua frente. Para níveis de correção, essa lâmina explora aspectos relacionados às atitudes frente a situações de dever, imagem das figuras paternas, ambições, ideal do ego, fantasias e desejos; Lâmina 2 A estudante no campo (Universal) → Esta lâmina apresenta uma menina com livros em seus braços, e ao fundo vê-se a imagem de um homem trabalhando no campo enquanto uma mulher idosa o observa. Para níveis de correção, essa lâmina explora os conflitos adaptativos intrafamiliares, conflitos com a feminilidade, conflitos com a forma de vida, atitudes frente às figuras paternas; Lâmina 3 Curvado(a) sobre o divã (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de um rapaz sentado no chão, encostado em um sofá, com a cabeça apoiada em seu braço direito e, ao seu lado, há um revólver no chão. Para níveis de correção, essa lâmina explora frustrações, sentimentos de depressão e suicídio; A jovem na porta (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma menina de pé, aparentemente triste e encobrindo o seu rosto com a mão direita, enquanto o seu braço esquerdo está estendido, apoiando-se a uma porta de madeira. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de abandono, culpa e fracasso; Lâmina 4 A mulher que retém o homem (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma mulher retendo um homem em que o seu corpo e o seu rosto estando se desviando dela, na tentativa de desviar-se ou afastá-la. Para níveis de correção, essa lâmina explora conflitos de relacionamento, sentimentos de abandono, ciúmes, atitudes frente a figuras do mesmo gênero ou do gênero oposto; Lâmina 5 A senhora na porta (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma mulher mais velha de pé na brecha de uma porta entreaberta ao olhar para dentro de um quarto. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de proteção, castração e ansiedades paranoides; Lâmina 6 O filho de partida (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma mulher mais velha e acima do peso, de pé e de costas para um rapaz que olha para baixo com uma expressão desatinada. Para níveis de correção, essa lâmina explora atitudes frente a figuras maternas, sentimentos de conflito entre independência e dependência, sentimentos de abandono; Mulher surpreendida (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma jovem mulher que está sentada a beira de um sofá olhando por cima de seus ombros para trás. A mulher está olhando para um homem mais velho, com um cachimbo em sua boca e que aparentemente está lhe dizendo algo. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos relacionados à expectativa, temor e suspeita; Lâmina 7 Pai e filho (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de um homem mais velho que está olhando um jovem, enquanto este contempla o espaço com o rosto fechado, mal-humorado. Para níveis de correção, essa lâmina explora atitudes frente à figura paterna, sentimentos de submissão, necessidade de acolhimento e homossexualidade; Menina e boneca (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma senhora idosa sentada em um sofá e próxima a uma menina que segura uma boneca no colo com o olhar distante. Para níveis de correção, essa lâmina explora a imagem materna e as atitudes frente à maternidade; Lâmina 8 A intervenção cirúrgica (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de um jovem que está com o seu olhar voltado diretamente para fora do quadro. Ao lado, é aparente a visão de um cano de uma arma de fogo, e ao fundo vê-se uma cena enigmática de uma cirurgia. Para níveis de correção, essa lâmina explora a imagem paterna, sentimentos de medo da morte e de morrer; Mulher pensativa (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma jovem que está sentada, apoiando o seu queixo sobre a mão e com os seus olhos aparentemente distantes. Para níveis de correção, essa lâmina explora problemas da vida atual e fantasias; Lâmina 9 Grupo de vagabundos (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de quatro homens vestidos de macacão e deitados sobre um lugar gramado enquanto repousam. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de trabalho e descanso, relacionamentos com pessoas do mesmo gênero e homossexualidade; Duas mulheres na praia (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma jovem que carrega consigo uma revista e uma bolsa na mão enquanto espia, por trás de uma árvore, outra mulher, que está vestida de forma elegante, ao correr por uma praia. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de competição, rivalidade, culpa e perseguição; Lâmina 10 O abraço (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma mulher com a cabeça recostada sobre o ombro de um homem. Para níveis de correção, essa lâmina explora atitudes frente à separação e conflitos no relacionamento; Lâmina 11 Paisagem primitiva de pedra (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma estrada que beira um desfiladeiro com grandes declives e a presença distante de figuras de difícil compreensão. De um lado da encosta de pedras, manifesta-se o pescoço e a cabeça de um dragão. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de ansiedade frente a situações de perigo e sentimentos de angústia frente aos próprios instintos; Lâmina 12 O hipnotizador (Homens) → Esta lâmina apresenta a imagem de um jovem com os olhos fechados deitado no sofá, enquanto um homem idoso e esguio está debruçado sobre ele, com a mão estendida para o rosto. Para níveis de correção, essa lâmina explora situações transferenciais e homossexualidade; Mulher jovem e velha (Feminina) → Esta lâmina apresenta o retrato de uma mulher aparentemente jovem, e ao fundo uma senhora idosa e misteriosa com um xale sobre a cabeça a fazer caretas. Para níveis de correção, essa lâmina explora relacionamento entre mãe e filha; Bote abandonado (Crianças) → Esta lâmina apresenta a imagem de um barco e um remo parado a margem de um rio que corre entre as árvores de uma floresta. Nesta lâmina não há a presença de figuras humanas. Para níveis de correção, essa lâmina explora fantasias e desejos; Lâmina 13 Mulher na cama (Adultos) → Esta lâmina apresenta a imagem de um jovem de pé e com a sua cabeça reclinada e encoberta por seu braço, enquanto vê-se atrás dele a imagem de uma mulher deitada sobre uma cama. Para níveis de correção, essa lâmina explora atitudes frente a relacionamentos e sentimento de culpa; Menino sentado na soleira (Rapazes) → Esta lâmina apresenta a imagem de um menino sentado na soleira da porta de uma cabana de madeira. Para níveis de correção, essa lâminaexplora sentimentos de carência, solidão e abandono; Menina subindo as escadas (Meninas) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma jovem subindo uma escada em formato de espiral. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de carência, solidão e expectativas; Lâmina 14 Homem na janela (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma silhueta, que pode ser tanto de um homem quanto de uma mulher, em direção contrária a uma janela iluminada. Todo o restante da lâmina apresenta uma cor negra. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de fantasia, expectativas e evasão; Lâmina 15 No cemitério (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de um homem negro de pé dentre as sepulturas do cemitério com as mãos unidas. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de morte e culpa; Lâmina 16 Em branco (Universal) → Esta lâmina apresenta-se totalmente em branco. Para níveis de correção, essa lâmina explora relações transferenciais e o ideal do ego; Lâmina 17 O acrobata (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de um homem nu que está suspenso por uma corda, subindo-a ou descendo-a. Para níveis de correção, essa lâmina explora o exibicionismo, o narcisismo e aspectos relacionados à masturbação; A ponte (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma jovem debruçada sobre o parapeito de uma ponte sobre a água. Ao fundo, vê-se a imagem de prédios e pequenas imagens de homens. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de frustração, depressão e suicídio; Lâmina 18 Atacado por trás (Masculina) → Esta lâmina apresenta a imagem de um homem sendo agarrado por trás por três mãos, mas não é possível ver de quem são essas mãos. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de ansiedade, culpa, ideias paranoides e homossexualidade; Mulher que estrangula (Feminina) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma mulher que está apertando o pescoço de uma outra mulher, enquanto aparentemente a empurra pelo corrimão de uma escada. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de agressividade e de apoio; Lâmina 19 Cabana na neve (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de uma formação assustadora de nuvens sobre uma cabana coberta por neve. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de carência ou conforto, frustração ou segurança, vazio ou preenchimento; Lâmina 20 Sozinho sob a luz (Universal) → Esta lâmina apresenta a imagem de um homem ou de uma mulher iluminado de forma suave, enquanto apoia-se sobre um poste em uma noite escura. Para níveis de correção, essa lâmina explora sentimentos de preocupação, abandono e culpa. Silva (1989) discorre sobre o fato de que a literatura indica uma semelhança excessiva entre os personagens apresentados no TAT e o avaliado, o que pode proporcionar um aumento das defesas, comprometendo o nível das projeções feitas, em especial nos casos em que ocorre uma semelhança referente a características físicas, sociais ou pessoalmente indesejáveis. Aplicação do TAT De acordo com o TAT: aplicação e interpretação do Teste de Apercepção Temática, escrito por Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva e publicado em 1989, ocorrem duas tendências principais para processo de análise do TAT, conforme as instruções de Murray e de Vica Shentoub que, por sua vez, implicam nos procedimentos para a aplicação do teste. EXPLICANDO Vica Shentoub pertence à Escola Francesa de psicanálise, sendo responsável por desenvolver um dos modelos teóricos de aplicação do Teste de Apercepção Temática que enfatiza os aspectos narrativos mais que os conteúdos em si, por considerar que a forma em como se constrói as narrações remetem-se aos mecanismos de defesa do ego. No que se refere à aplicação do TAT, Silva (1989) indica que: I. Para Murray A ênfase da análise encontra-se no conteúdo das respostas do avaliado ao estímulo das lâminas. Para tanto, Murray sugere as seguintes etapas: a) Especificar ao avaliado o que ocorre na sessão, indicando a apresentação de uma sequência de lâminas contendo imagens diversas; b) Solicitar que o avaliado crie uma história para cada lâmina apresentada; c) Solicitar que o avaliado expresse o que está acontecendo em cada imagem apresentada a ele, dizendo o que os personagens estão sentindo ou pensando, assim como quais os acontecimentos que ocasionam tal situação e o que deve ocorrer depois. d) O avaliador deve explicar que todas as respostas das perguntas feitas por ele são anotadas, porém, cabe aqui o adendo de solicitar que as respostas sejam lentas em razão das anotações; e) Antes de apresentar a lâmina em branco, é preciso pedir para que o avaliado imagine alguma cena ali representada, sem esquecer da descrição e da história da cena. Silva (1989) ainda destaca que as instruções podem ser repetidas ao longo da aplicação do TAT, caso seja identificada esta necessidade, e que elas devem ser adaptadas à idade e ao nível intelectual ou cultural do avaliado. // Sobre o inquérito para Murray, conforme Silva (1989) O inquérito para Murray é constituído por perguntas, realizadas pelo psicólogo ao fim da resposta emitida pelo avaliado, referentes à lâmina apresentada. O objetivo do inquérito é de servir como complemento à história e também abordar as questões não tão bem elaboradas na resposta do avaliado. As perguntas devem ser universais e abrangentes para evitar a possibilidade de respostas objetivas como “sim” e “não”. O psicólogo pode explorar no inquérito aspectos relacionados aos pensamentos e aos sentimentos dos personagens representados nas lâminas, mas precisa atentar-se à estrutura da história narrada pelo avaliado e, caso ela contemple todos os pontos essenciais, não há a necessidade de realizar o inquérito. O psicólogo não deve fazer com que o avaliado se sinta pressionado, de modo a não desestruturar as suas defesas ou aumentar a sua ansiedade. Por isso, o psicólogo deve se ater aos aspectos relacionados à história inicialmente narrada pelo avaliado para não o afastar das projeções manifestadas. Caso o avaliado se afaste ou omita alguma parte de sua história, o psicólogo não deve questioná-lo, por se tratar de um aspecto singular do avaliado e que deve ser visto como um dado a ser analisado depois. II. Para Vica Shentoub A ênfase da análise se encontra no aspecto formal, na maneira como o avaliado desenvolve a narração de sua história. Nessa perspectiva, o psicólogo interfere o mínimo possível para não alterar a forma espontânea de formulação de respostas do avaliado, bem como para garantir coerência entre a natureza do material aplicado com as instruções dadas e a figura do psicólogo. Para tanto, Vica Shentoub sugere a seguinte regra de aplicação: a) Solicitar que o avaliado imagine uma história a partir da lâmina apresentada. De acordo com Silva (1989) esta instrução pode ser repetida ao longo de toda a aplicação do TAT, sempre após a apresentação do estímulo da lâmina. // Sobre o inquérito para Vica Shentoub, conforme Silva (1989) O inquérito para Vica Shentoub não existe, em conformidade com sua proposta de interferir o mínimo possível no desenvolvimento narrativo do avaliado. Por essa razão, ao seguir este modelo de aplicação, o psicólogo aceita as respostas espontâneas do avaliado, independentemente de seu conteúdo. Contudo, alguns profissionais realizam o inquérito posterior às respostas aos estímulos das lâminas, com perguntas restritas aos aspectos mais relevantes a cada situação apresentada, embora tal fato possa apresentar uma desvantagem por acontecer numa etapa separada da provocada inicialmente pela apresentação do estímulo da lâmina. Esta estratégia provoca duas situações: a primeira é o ganho de conteúdo para análise, e a segunda é a perda daespontaneidade no modo como o avaliado lida com a sua ansiedade e as reações provocadas pelo estímulo da lâmina. // Sobre a coleta de dados O psicólogo deve anotar de forma fiel todas as verbalizações do avaliado, assim como deve registrar possíveis pausas e/ou as suas próprias intervenções. Durante a coleta de dados, o psicólogo deve fazer uso de um cronômetro para registrar o tempo de intervalo entre a apresentação do estímulo da lâmina e o início da primeira fala do avaliado. O tempo total entre a apresentação do estímulo da lâmina e o final da história contada pelo avaliado também deve ser cronometrado. Durante a coleta de dados, o psicólogo deve manter-se atento aos comportamentos emitidos pelo avaliado, sejam verbais ou não verbais. Uma mudança no comportamento como as alterações corporais, na voz ou sinais de ansiedade, são indicadores do tipo de impacto provocado no avaliado pelas lâminas a ele apresentadas, como também o seu grau de envolvimento com as situações representadas pela figura, etc (SILVA, 1989). CORREÇÃO DO TAT Para fazer o manejo do TAT, conforme explica Cunha (2007), é necessário compreender que o seu manejo clínico ou a sua elaboração denota um processo que demanda uma análise, uma interpretação, uma síntese dinâmica e um diagnóstico. I. Análise ↓ A análise do discurso do avaliado, a partir da apresentação dos estímulos presentes nas lâminas, possibilita que o psicólogo acesse os mecanismos de defesa do ego e obtenha as informações acerca dos aspectos que envolvem as diferentes organizações que formam a personalidade do avaliado. Para realizar a análise busca- se: a) Identificar o herói da história, caracterizado como o personagem principal, ou seja, que causa identificação com o avaliado; b) Identificar a motivação do herói, que pode ser caracterizado como as necessidades do herói, como impulsos, desejos, intenções, e que é a fonte impulsora da história; c) Identificar os sentimentos do herói, caracterizado como o estado interior do herói e que se relaciona aos tipos de afetos manifestados, a forma como são manifestados e a direção em que estão sendo manifestados; d) Identificar as pressões do ambiente, caracterizado como a percepção do herói acerca das pressões ambientais e o efeito que tais pressões provocam; e) Identificar o desfecho da história, caracterizado como a forma como o herói resolve as situações apresentadas na história, desde as situações e conflitos internos quanto à forma como ele enfrenta as pressões ambientais; II. Interpretação ↓ A interpretação do TAT é possível graças à identificação dos pontos buscados durante a fase de análise. Esse é o momento em que o psicólogo faz a tradução das questões encontradas nos relatos do avaliado em decorrência da apresentação dos estímulos das lâminas. A interpretação abrange fatores internos e externos que circulam a personalidade do avaliado; III. Síntese dinâmica ↓ A síntese é o momento no qual o psicólogo elabora, a partir de suas observações, uma tradução da psicodinâmica do avaliado. Para a síntese dinâmica, também se faz importante abordar as questões ambientais e os problemas externos, assim como os relacionamentos, relações sociais, sexualidade, figuras parentais, entre outros fatores; IV. Diagnóstico ↓ Por se tratar de um teste utilizado para avaliação psicodinâmica, o seu uso torna-se secundário quando o foco é a classificação nosológica. O diagnóstico em decorrência da aplicação do TAT abrange o avaliado como um todo e abrange desta forma os aspectos de seu mundo interno de forma mais ampla. ANÁLISE INTERPRETATIVA DO TAT Depois de realizada a(s) sessão(s) de aplicação do TAT, começa a fase de análise interpretativa dos dados coletados pelo psicólogo avaliador. Essa fase começa pelo desenvolvimento de uma síntese para organizar e perceber como cada aspecto avaliado se apresenta, além da forma como tais aspectos se conectam e se complementam dentro do contexto avaliativo. Para interpretar o conteúdo manifesto pelas histórias narradas pelo avaliado, o psicólogo pode utilizar um esquema interpretativo que visa a identificação de determinados aspectos dentro da história e que são essenciais para o processo. Conforme Silva (1989), o esquema interpretativo da análise do conteúdo pode ser descrito de acordo com o Quadro 5. Quadro 5. Esquema interpretativo da análise. Fonte: SILVA, 1989, p. 25-30. (Adaptado). Ao identificar o herói da história, observam-se a sua idade, o gênero e as suas características físicas e de personalidade, além do modo como ele se relaciona com as situações presentes na lâmina e os seus pontos de interesse, qual o estado emocional do herói, como ele se sente, sem esquecer do estado emocional dos demais personagens e de como eles se sentem. As características do herói (físicas e de personalidade) devem ser comparadas às características dos demais personagens e como se relacionam entre si, considerando as interações entre personagens do mesmo gênero e do gênero oposto. Os sinais e expressões do avaliado aos estímulos das lâminas são considerados a níveis de interpretação, observando as expressões verbais e corporais, de alegria, desgosto, medo, surpresa, nojo, repulsa, entre outras. A forma como o avaliado retira da narrativa dos elementos existentes na lâmina ou a forma como ele representa tais elementos, distorcendo-os, também deve ser observado e investigado a nível interpretativo. O psicólogo também considera na análise interpretativa aspectos comportamentais expostos no Quadro 6. Quadro 6. Aspectos comportamentais na análise. // O tipo de linguagem escolhida Outro fator importante e considerado pela análise interpretativa está no tipo de linguagem utilizada pelo avaliado ao narrar as suas histórias. A falta de vocabulário ou o uso de uma linguagem pobre, a escolha de palavras rebuscadas ou o uso constante de tempos verbais únicos, raciocínio ilógico ou surrealista e desconexo, o neologismo e invenção de palavras ou expressões, estereótipos, contradições, etc. // O relatório final O relatório final em decorrência da aplicação do Teste de Apercepção Temática é composto por informações que abrangem os aspectos descritos no Quadro 7. Quadro 7. Informações relevantes para o relatório final. Vica Shentoub acrescenta à análise interpretativa do TAT a observação e a compreensão de determinados modos interativos entre o consciente e o inconsciente, elaborando assim uma série de agrupamentos, definidos por Silva (1989) conforme o Quadro 8. Quadro 8. Agrupamento de interações entre consciente e inconsciente. Fonte: SILVA, 1989, p. 42-43. (Adaptado). Agora a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Nesta unidade, é delineado o TAT, um teste projetivo desenvolvido por Henry Murray e Christiana Morgan na década de 1930, com a ideia de criar um material que estuda, de forma aprofundada, a personalidade dos indivíduos a partir das projeções feitas a partir de estímulos visuais presentes em diversas lâminas. As situações presentes nas lâminas representam cenas dramáticas do cotidiano em que, inconscientemente, o indivíduo cria uma identificação com alguns dos personagens presentes. O teste proposto por Murray e Morgan carrega uma similaridade com a psicanálise freudiana pela ênfase nas motivações inconscientes e no interesse pela verbalização do indivíduo, assim como no seu imaginário. Outro ponto importante está no estudo da personologia, a teoria que engloba os aspectos conscientes e inconscientes e os relacionam às experiências adquiridas pelo indivíduo no tempo passado, presentee futuro. A personologia considera as necessidades e as pulsões como elementos centrais, sendo a necessidade aquela que organiza as percepções do indivíduo, impulsionando-o para as suas realizações. Para a personologia, a necessidade cria um estado de tensão no indivíduo que é resolvido e, assim, se alcança a satisfação que restabelece o seu equilíbrio. Desse modo, as necessidades podem ser identificadas por aspectos como o efeito provocado pelo comportamento emitido, o padrão de comportamento, o tipo de resposta, entre outros. Como estudado, o TAT é composto por 31 lâminas, sendo que uma delas é totalmente em branco. Para a sua aplicação, é utilizado um total de 20 lâminas, de acordo com o indivíduo avaliado. As lâminas possuem numerações e siglas que facilitam o reconhecimento na hora de selecioná-los para a aplicação. Dentre as lâminas, algumas são consideradas obrigatórias a todos os públicos, sendo elas as lâminas 1, 2, 4, 5, 10, 11, 14, 15, 16, 19 e 20. Cada lâmina possui uma figura diferente e, para critérios de aplicação, o psicólogo solicita que o avaliado conte uma história a partir do estímulo apresentado nas lâminas. Devido ao número extenso de lâminas e pela liberdade de tempo para que o avaliado narre suas histórias, a aplicação do TAT pode ser dividida em duas sessões. O psicólogo também deve se ater à realização de um inquérito posterior para coletar as informações não contempladas na narrativa do avaliado. Para a interpretação do TAT é preciso observar se a história contém um herói e se ele possui uma motivação, seus sentimentos e dos outros personagens, o ambiente da história e qual o desfecho. Todos esses pontos carregam uma gama de aspectos que precisam ser desmembrados durante a análise interpretativa.
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