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Título do Tema Sempre Dentro do Triângulo Verde (máximo 4 linhas) NOME DO AUTOR NO TRIÂNGULO INTRODUÇÃO AO DIREITO MARÍLIA RODRIGUES MAZZOLA Unidade 2 – Introdução ao Direito Constitucional 2 Introdução As mais diversas relações e acontecimentos exigem normas que permitam a convivência harmônica da sociedade. O direito constitucional é um ramo do direito que fundamenta os direitos e deveres dos cidadãos e organiza o Estado, regulamentando os mais diversos temas. Nesta unidade, trataremos dos principais preceitos de estruturação jurídica do Brasil e falaremos sobre direitos e deveres fundamentais. Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você possa: • Apresentar os conceitos gerais do direito constitucional. • Entender a estrutura jurídica do Brasil e os seus setores organizacionais. • Conhecer os direitos e garantias fundamentais. • Apresentar os direitos sociais. 3 Direito Constitucional As constituições, de uma forma geral, são formas de organizar normas jurídicas, que garantem direitos aos cidadãos e falam de seus deveres. Um sistema normativo baseado em uma Constituição, que conduz o Estado, ditando suas regras e objetivando a prevalência dos interesses de seus cidadãos é chamado de constitucionalismo. De Placido e Silva (1993, p. 527) nos apresenta a definição de Constituição: [...] designa o conjunto de regras e preceitos, que se dizem fundamentais, estabelecidos pela soberania de um povo, para servir de base à sua organização política e firmar os direitos e deveres de cada um de seus componentes. Desse modo, assinala ou determina a lei constitucional, que se evidencia a Lei Magna de um povo, politicamente organizado, desde que nela se assentam todas as bases do regime escolhido, fixando as relações reciprocas entre governantes e governados. O seu surgimento remonta à Antiguidade, e está ligado, por exemplo, à democracia grega e ao constitucionalismo hebreu. Podemos destacar algumas Constituições que foram marcos para a humanidade: Magna Carta, de 1215, Petition of Rights, de 1628, Bill of Rights de 1689, e Declaration of Rights, de 1776. 4 A Constituição é a lei suprema Fonte: Freepik (2023) #pratodosverem: foto de um livro e um malhete, simbolizando uma Constituição. A Constituição Brasileira atual foi aprovada em 1988. Ela tem importância histórica e cultural. O Brasil teve outras constituições anteriormente, sendo a primeira de 1824. Curiosidade As Constituições refletem diversos momentos históricos do Brasil, desde a Independência, Proclamação da República, Estado Novo, período da ditadura militar e a redemocratização. 5 Elas refletem, ainda, inspirações de movimentos sociais ao redor do mundo, como as influências iluministas e liberais e a expansão de direitos do voto feminino. Constituições refletem a história dos países Fonte: Freepik (2023) #pratodosverem: imagem de livros, um tinteiro, um pergaminho e uma caneta de pena, simbolizando a escrita da história dos países por meio de Constituições. A Constituição de 1988 tem enorme impacto não só no ordenamento jurídico brasileiro, mas também em sua sociedade devido seu caráter democrático e liberal, por trazer valores como a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça em uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional com a solução pacífica das controvérsias. Ela ainda tem como fundamentos a cidadania, a soberania, a dignidade da pessoa humana, o pluralismo político e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 6 Trata-se de uma Constituição escrita, rígida, promulgada, formal, analítica, dogmática, reduzida, eclética, principiológica e garantista. Vamos compreender a tipologia (classificação) da Constituição Federal de 1988? Escrita a CF/88 é um documento escrito, ao contrário de algumas constituições, que são costumeiras, ou seja, baseadas em usos, costumes, jurisprudências e textos esparsos pelo ordenamento jurídico. Rígida a CF/88 não pode ser facilmente alterada. Para que isso aconteça, é necessário um processo legislativo mais rígido, solene e dificultoso do que a aprovação de normas não constitucionais. Promulgada a CF/88 é democrática, pois foi fruto de uma Assembleia Constituinte eleita pelo povo e que atuou em nome do povo Formal os artigos da CF/88 não tratam somente de normas de estruturação do Estado, mas também de diversas regras de conduta. Tudo o que está inserido na Constituição Federal é considerado de caráter constitucional. Analítica a CF/88 aborda todos os assuntos que o povo entende como fundamentais. Não sendo um documento enxuto, com princípios fundamentais e estruturais do Estado somente. Dogmática a CF/88 traz os dogmas estruturais, fundamentais e ideologias da sociedade. Reduzida pois sintetiza em um único documento a sistemática de regras constitucionais. 7 Eclética traz ideologias conciliatórias, de uma sociedade plural, diversa e complexa. Principiológica a CF/88 tem normas de alto grau de abstração, princípios que norteiam e trazem valores. Garantista a CF/88 reflete diversos direitos e garantias aos cidadãos. A Constituição Federal é base para diversos microssistemas de normas jurídicas brasileiras, como o Estatuto do Idoso, o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Direitos Autorais, entre outros. Organização e Funcionamento do Estado O direito Constitucional também é o ramo do direito que estuda a organização e o funcionamento do Estado. Estado é uma estrutura organizada que pode ser capaz de emanar ordem e ter eficácia por ser reconhecido pela sociedade e pelo Poder Público. Quando a emanação de ordem vem das normas jurídicas, em razão da sua estrutura (bilateralidade, generalidade, abstração, coerção), está-se diante do Estado de Direito. Atenção A Constituição é o documento que delimita as competências dos Poderes, impõe regras às instituições, bem como restrições à atuação de seus agentes. Vejamos agora como é feita essa estruturação. O Estado brasileiro adotou como forma de governo a federação, dividindo-se em União Federal, Distrito Federal, estados e municípios. 8 Organização da República Federativa do Brasil Fonte: Freepik (2023) #pratodosverem: imagem da bandeira brasileira, que é composta por um retângulo verde, um losango amarelo, um círculo azul, 27 estrelas brancas e uma faixa branca com a inscrição “Ordem e Progresso” em letras na cor verde. Em razão do sistema federativo, cada uma dessas entidades tem autonomia para arrecadação, gestão, administração e representação. A Constituição dita ainda que cada um desses entes federativos pode fazer determinadas coisas e fazer leis sobre determinados temas (competências). As competências materiais relacionam-se à execução administrativa, de serviços e políticas públicas. Podem ser exclusivas da União ou comuns entre os entes federativos. As competências legislativas dizem respeito ao poder de criar leis e regular determinados temas. A competência é privativa quando só cabe à União Federal, mas pode haver ainda competência concorrente (para estados e Distrito Federal em face de inércia da União Federal) e residual (para municípios em assuntos de interesse local ou para suplementar a legislação federal e a estadual no que couber). Leia os artigos 18 a 32 da Constituição Federal e identifique as competências materiais e legislativas. Atenção A organização dos Poderes é estruturada em um tripé: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. 9 Divisão orgânica dos Poderes Poder Legislativo Poder Executivo Poder Judiciário - Legislar. - Fiscalizar (contas, finanças, orçamento, patrimônio). - Praticar atos de chefia do Estado. - Executar atos da Administração Pública. - Julgar, dizer o direito. - Dirimir conflitos. - Aplicar as leis. Fonte: adaptado deLenza (2009, p. 339). Os Poderes exercem suas funções típicas, que são predominantes. Mas para que haja harmonia no sistema de Poderes, impedindo desequilíbrios e permitindo a devida fiscalização dos poderes e pleno exercício e funcionamento do Estado, eles podem exercer funções atípicas (somente mediante previsão expressa na Constituição Federal), que são da natureza dos outros Poderes. Funções dos Poderes: Legislativo pode julgar o presidente da República. Judiciário pode fazer atos administrativos para a contratação de pessoal. Executivo pode fazer leis ao editar medidas provisórias Percebe-se que os Poderes se instrumentaram por meio de órgãos e entidades para exercer as funções que são trazidas na Constituição. A jurisdição é uma função do Poder Judiciário, como nos explica Lenza (2099, p. 496): [...] uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada). 10 A jurisdição segue os ditames das leis (legalidade) e é exercida mediante provocação da parte interessada (ou seja, uma de suas principais características é a inércia) através de instrumentos jurídicos adequados (a lide, também conhecido como processo) e, após o esgotamento dos recursos, a decisão proferida ter caráter definitivo (gera coisa julgada, demonstrado seu caráter de definitividade). Ao longo da história brasileira, a estruturação do Poder Judiciário tem mudado em busca de melhorar a eficácia e efetividade dado ao grande volume de processos existentes. Nesse sentido, destacamos a Reforma do Judiciário, que ocorreu por meio da aprovação da Emenda Constitucional 45/2004. Curiosidade A estrutura do Poder Judiciário, resumidamente, separa-se em tribunais superiores (STF e STJ) e inferiores; justiça comum (Justiça Federal, Estadual) e especial (Justiça do Trabalho, Eleitoral, Militar) e juizados especiais. Fóruns são os prédios onde se localizam o Poder Judiciário. Fonte: Freepik (2023) #pratodosverem: imagem de um prédio com colunas altas, representando um fórum. 11 Direitos e Garantias Fundamentais O direito constitucional influencia em diversos campos das relações sociais. Como já vimos anteriormente, a Constituição é um documento essencial para um povo por trazer restrições e garantias necessárias a serem adotadas, ou seja, ela regula direitos e garantias fundamentais. Vamos agora falar sobre eles. Primeiramente, é preciso entender o que são os direitos fundamentais. Eles são norteadores de garantias fundamentais dos cidadãos, são dispositivos constitucionais que evitam que atos discriminatórios os contrariem ou violem. Tratam de bens, vantagens e instrumentos que garantem aos cidadãos o exercício do que está prescrito nos ditames constitucionais. São válidos para todos os indivíduos, irrenunciáveis, imprescritíveis (sempre podem ser exercidos) podem ser cumulativos, mas não são absolutos (pode haver conflito de interesses entre os direitos fundamentais) e valem para as relações entre Estado e particulares e particulares com particulares. Os direitos fundamentais podem ser classificados em dimensões. Vamos conhecer as dimensões de direitos fundamentais? 1ª dimensão diz respeito aos direitos negativos (Estado não deve atuar sobre eles) e garantem direitos civis e políticos aos cidadãos, tais como voto, liberdade, privacidade. 2ª dimensão diz respeito aos direitos sociais, nos quais se faz necessária a atuação estatal para sua obtenção, como direito de igualdade, culturais e econômicos. 3ª dimensão busca a garantia de direitos homogêneos da coletividade, como o meio ambiente. 12 4ª e 5ª dimensão para alguns doutrinadores, existe ainda a 4ª e a 5ª dimensão de direitos, que são relativos às mudanças sociais contemporâneas, como a biogenética e a necessidade de convivência harmônica das nações em um mundo globalizado. Dessa forma, podemos delimitar os seguintes direitos fundamentais: Exemplos de direitos fundamentais Locomoção (ir e vir) Liberdade (expressão, religiosa) Privacidade, intimidade, sigilo de correspondência, Inviolabilidade do lar Defesa (inclui assistência judiciária gratuita, gratuidade de habeas corpus e habeas data) e cele- ridade processual Publicidade dos atos processuais, motivação das decisões judiciais, proibição de provas ilícitas, direito de petição Direito de herança Fonte: elaborado pela autora (2023). A Constituição brasileira tem alguns grupos de direitos fundamentais: individuais, coletivos, sociais, de nacionalidade, políticos e de filiação a partidos políticos. Cláusulas pétreas são dispositivos da Constituição Federal que representam valores essenciais, e que, por isso, não podem ser alterados (somente mediante a convocação de uma nova Assembleia Constituinte). Eles são a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais, conforme dispõe o art. 60, § 4º, CF/88). Atenção 13 Voto secreto é uma cláusula pétrea Fonte: Freepik (2023). #pratodosverem: Imagem de uma urna e diversas mãos inserindo papéis nela, simbolizando o voto secreto. Os direitos individuais podem ser encontrados no art. 5º; os sociais no art. 6º; coletivos no art. 7º a 11; de nacionalidade no art. 12; político no art. 14 a 16; e de filiação a partidos políticos no art. 17. 14 Conclusão A convivência harmônica da sociedade depende de regras de conduta e de organização bem definidas. Podemos encontrar essas regras na Constituição Federal, documento responsável pela organização do Estado e pela garantia de direitos fundamentais e deveres dos cidadãos. Podemos dizer que a Constituição é a lei suprema, a lei das leis, pois regulamenta diversos temas importantes à sociedade, representando a vontade soberana de um povo. 15 Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 16 dez. 2022. DE PLACIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1993. GUSMÃO, P. D. Introdução à ciência do direito. 6. ed. reestruturada. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 1973. LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 13. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. 16
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