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Título do Tema Sempre Dentro do Triângulo Verde (máximo 4 linhas) Nome do Autor no Triângulo INTRODUÇÃO AO DIREITO MARÍLIA RODRIGUES MAZZOLA Unidade 6 – Noções Gerais de Direito Comercial 2 Introdução As relações comerciais e empresariais são importantes relações sociais. Dada a sua utilização e necessidade na vida contemporânea, o Direito possui diversas normas que cuidam dessas relações. Nesta unidade, falaremos sobre alguns temas relevantes para o direito empresarial e comercial. Objetivos da Aprendizagem Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: • Conceituar e compreender a atividade empresarial. • Conhecer os principais tipos societários. • Conhecer os principais títulos de crédito. 3 Atividade Empresarial A atividade empresarial é entendida como um conjunto de atividades que visam a produção ou comercialização de bens e serviços sempre com o objetivo de obter lucro. Desde a Antiguidade, por meio das trocas de mercadorias, a atividade comercial foi fundamental para o desenvolvimento econômico da humanidade. Vamos analisar como isso ocorreu em uma realidade mais próxima a nossa. No Brasil o primeiro regramento a tratar da atividade comercial foi o Código Comercial de 1850, ainda em vigor (frise-se que a maioria de seus dispositivos foram revogados com a aplicação dos artigos do Código Civil de 2002, que falam sobre o direito de empresa, de modo que do Código Comercial só seguem aplicáveis os dispositivos relacionados ao comércio marítimo). No Código Comercial de 1850 a atividade empresarial era entendida como a atividade comercial, que incluía a compra e a venda de mercadorias. Já na atualidade, a atividade empresarial é entendida de forma mais ampla, incluindo também atividades industriais e de prestação de serviços. Comerciante no Código Comercial de 1850, a atividade comercial era regulamentada por meio da figura do comerciante, que era considerado como a pessoa física ou jurídica que exercia a atividade comercial de forma habitual e com finalidade lucrativa. Já no Código Civil atual, a atividade empresarial é regulamentada de forma mais ampla, incluindo tanto as atividades comerciais quanto as industriais e de prestação de serviços. Vamos agora entender o que é a figura do comerciante. A nomenclatura “comerciante” foi substituída no Código Civil por “empresário”. Segundo o artigo 966 do Código Civil, empresário é entendido como quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Isso significa que o empresário tem como caraterísticas: 4 Características do empresário Desejo de obtenção de lucro Conhecimento de técnicas de produção das mercadorias ou dos serviços e das qualidades exigidas para essa atividade. Pessoalidade, profissiona- lidade e habitualidade Fonte: elaborado pela autora (2023). Segundo o Código Civil, não é considerado empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Como exemplo, podemos citar artistas, escritores, advogados e cientistas. Nada impede, entretanto, que esses profissionais profissionalizem suas atividades e criem atividades empresariais, desde que devidamente registradas. A definição jurídica de empresário Fonte: Plataforma Freepik (2023). #pratodosverem: imagem de um homem e uma mulher vestidos de maneira formal, simbolizando empresários. Os produtores rurais não registrados na Junta Comercial exercem atividade meramente civil. Caso queiram sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM – Junta Comercial), eles ficarão equiparados, para todos os efeitos, aos empresários registrados (conforme consta no art. 971 do Código Civil). 5 Obrigações e Prerrogativas do Comerciante Os empresários têm obrigações como: manter registros contábeis e fiscais, cumprir as regulamentações e normas do setor em que atuam, além de seguir as regras de conduta ética e de proteção ao consumidor (Código de Defesa do Consumidor) (BRASIL, 1990). Entre as suas obrigações de registro, é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede antes do início de sua atividade. Elementos básicos para a inscrição do empresário no registro público (Junta Comercial ou Registro Civil) Nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, regime de bens Firma – é a assinatura (que pode ser física ou digital) Objeto social – descreve as atividades empresariais que serão exercidas Capital social – quantifica os valores das atividades empresariais Sede – o endereço Fonte: Elaborado pela autora (2023). Os empresários individuais, como pessoas físicas, assumem o risco do empreendimento com todo o seu patrimônio, nele incluídos não apenas os bens usados na atividade empresarial desenvolvida, mas também os bens particulares de uso pessoal. A constituição de uma pessoa jurídica depende de contrato Fonte: Plataforma Freepik (2023). #pratodosverem: imagem de um homem com uma caneta, assinando um contrato. 6 Os empresários também têm prerrogativas, como o direito de propriedade sobre as mercadorias e os bens adquiridos, além de poderem realizar operações comerciais como compra e venda. Comerciantes são empresários Fonte: Plataforma Freepik (2023). #pratodosverem: imagem de um comerciante em frente a uma loja com placa de estamos abertos. 7 Cabe lembrar que todo empresário é empreendedor, mas nem todo empreendedor é empresário. Para que seja considerado empresário, é necessário a configuração dos elementos descritos no Código Civil, no artigo 966 (BRASIL, 2002). Sociedades As sociedades podem ser uma das formas jurídicas utilizadas para a realização de atividades empresariais. Segundo De Plácido e Silva (1993, p. 248-249), define-se sociedade como uma [...] organização constituída por duas ou mais pessoas, por meio de um contrato, ou convenção, tendo o objetivo de realizar certas e determinadas atividades, conduzidas ou empreendidas em benefício e em interesse comum. Constituindo-se de uma pessoa jurídica, formada por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados, podendo haver um ou mais negócios, conforme dita o art. 981 do Código Civil. O contrato social ou estatuto é o documento de ajuste para composição de uma sociedade (atos constitutivos). E os órgãos de registro são as juntas comerciais estaduais. Havendo estabelecimento de uma empresa em diversos estados, é necessário o registro em cada um deles. Sociedades geram vínculos e criam uma pessoa: a pessoa jurídica Fonte: Plataforma Freepik (2023) #pratodosverem: imagem de duas mãos se apertando, simbolizando uma sociedade. 8 Uma sociedade adquire personalidade jurídica quando faz a inscrição de seus atos constitutivos em registro próprio. Enquanto não houver essa inscrição, as sociedades serão consideradas não personificadas, aplicando-se a elas as regras das sociedades simples. Elementos básicos do contrato social de uma sociedade empresarial Nome – qual será o nome empresarial que contém sua denominação ou firma Sede – o endereço Objeto social – descreve as atividades empresariais que serão exercidas Capital social – quantifica os valores das cotas/ações da sociedade Administração – aponta quem serão seus administradores e responsáveis por quais funções Regime tributário – aponta qual o regime tributário que a sociedade seguirá (simples, lucro pre- sumido, lucro real) Fonte: elaborado pela autora (2023). Cada tipo de sociedade possui características e regras específicas, como o número de sócios, a responsabilidade pelas dívidas e a forma de administração. A classificação das sociedades pode ser feita sob diferentes critérios, sendo os três mais importantes:responsabilização dos sócios, regime de constituição e dissolução; e quanto a sua composição. As necessidades da contemporaneidade permitiram o desenvolvimento de um tipo societário de uma única pessoa, a sociedade individual de responsabilidade limitada. Trata-se de uma sociedade de responsabilidade limitada (LTDA.), na qual há separação do patrimônio empresarial do patrimônio pessoal da pessoa física. É uma forma de modernizar e simplificar certos negócios, por meio de delimitação de responsabilidades, objetivos e simplificação de registros de um tipo societário muito comum na sociedade brasileira. Curiosidade Os tipos mais comuns e utilizados no Brasil são a sociedade simples, a sociedade limitada e a sociedade anônima. 9 Com base no tipo de sociedade que se deseja, a escolha do sócio ideal para ela se torna mais fácil e evita decepções no futuro. A identificação das características de um sócio deve se basear no tipo de sociedade que se espera formar e nas expectativas de um sócio para com o outro na atividade que irão se desenvolver. Assim, questões éticas e outras, como disponibilidade de tempo, recursos financeiros, experiência, conhecimento e entendimento profissional, devem ser avaliadas. Atenção Entretanto, existem outros tipos societários, como as sociedades de propósito específico, podendo ainda haver coligação entre sociedades, conforme ditam os artigos 1097 a 1101 do Código Civil (BRASIL, 2002). Tipos societários Sociedade em comum Sociedade em conta de participação Sociedade simples Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade limitada Sociedade anônima Fonte: elaborado pela autora (2023). É importante compreendermos as principais características e as diferenças entre as sociedades limitadas e anônimas. Sociedades limitadas são sociedades intuitu persona (a figura do sócio é muito importante, a entrada de estranhos ao quadro social depende do consentimento dos demais sócios). É uma sociedade contratual (criada mediante contrato social), com capital social mediante quotas. 10 Responsabilidade dos sócios é limitada ao correspondente a suas quotas. Dissolvem-se em conformidade com as disposições do Código Civil. Suas regras se encontram nos artigos 1052 a 1087. Sociedades anônimas são sociedades intuitu pecuniae (o importante é tão somente o capital investido pelo sócio, a entrada de pessoas estranhas ao quadro social independe do consentimento dos demais sócios). É uma sociedade institucional (criada mediante estatuto), com capital social mediante ações, podendo ser de capital aberto ou fechado. Dissolução ocorre segundo os ditames da Lei 6.404/1976 (Lei das sociedades por ações). Regras se encontram nos artigos 1088 e 1089 do Código Civil e na Lei 6.404/1976 (Lei das sociedades por ações). Uma vez que apresentamos essa diferenciação, abordaremos o conceito de títulos de crédito. Títulos de Crédito Os títulos de crédito são instrumentos financeiros, por isso permitem a circulação de riquezas. Por serem facilmente negociáveis e executáveis, podem representar dívidas de uma empresa ou entidade pública, por exemplo, ou, ainda, serem emitidos com o objetivo de captar recursos para financiar atividades empresariais e projetos. Vejamos a definição apresentada por De Plácido e Silva (1993, p. 379-380): Designação, de natureza genérica, dada a todo documento, ou escrito, em que se firma um direito creditório, ou uma obrigação de receber certo valor, ou certa prestação, que se estima pecuniariamente, ou que tenha por objeto coisa de valor certo. [...] Para Otávio Mendes, o título de crédito é aquele “que é entregue pelo devedor ao credor, representativo da relação de direito estabelecida entre eles”. 11 Existem diversos tipos de títulos de crédito, sendo as letras de câmbio, notas promissórias e duplicatas comumente mais utilizadas. Cheque é um título de crédito Fonte: Plataforma Freepik (2023). #pratodosverem: imagem de um cheque de um banco dos Estados Unidos. As disposições gerais referentes aos títulos de crédito se encontram no Código Civil, dos artigos 887 a 926 (BRASIL, 2002). Eles, ainda, têm leis próprias, além de convenções internacionais que os regulam. É importante conhecermos as características dos títulos de crédito, pois elas os definem. Cartularidade ninguém pode exercer o direito mencionado no título de crédito se não estiver na posse da cartula. Por exemplo, para propor uma execução judicial, o credor deve apresentar, com a petição inicial, o título de crédito original (CC, art. 223, parágrafo único). Quem possui a cártula em mãos detém todos os direitos descritos. Literalidade apenas os atos que constam do teor literal dos títulos de crédito produzem efeitos jurídicos cambiais. O que não está expresso na cártula, não pode ser pleiteado. Por exemplo: se a quitação não constar no próprio título, o ato não produzirá efeitos jurídicos 12 Autonomia as obrigações representadas em um mesmo título de crédito são autônomas e independentes umas das outras. Se uma estiver viciada, não compromete a eficácia das outras. Cada assinatura no título faz surgir uma obrigação autônoma. O que circula é o título e não o direito que nele contém. Cada título de crédito possui figuras e elementos específicos, dos quais destacamos: Glossário dos títulos de crédito Sacador: é o devedor do título de crédito. Sacado: é o credor do título de crédito. Saque: é um ato de criação de título de crédito, sua emissão. Com ele, o beneficiário (chamado de tomador) pode procurar o sacado para receber a quantia referida no título. É uma ordem de pagamento que vincula o sacador ao pagamento. Aceite: ato por meio do qual o sacado se compromete a cumprir a ordem dada pelo sacador. O aceite gera uma vinculação entre as partes do título de crédito (sacado se torna responsável principal pelo pagamento da importância no dia designado para o vencimento). É feito por meio de assinatura do sacado no anverso (frente). Endosso: Meio pelo qual se transfere a propriedade de um título de crédito. O endossante é quem transfere o título, tornando-se garantidor do pagamento, e o endossatário é quem recebe o título e é o novo credor. Endossante (quem transmitiu), em regra, fica coobrigado solidário da obri- gação. É um ato escrito, apresentado no verso ou anverso, não podendo ser feito parcialmente nem condicionalmente. O endosso pode acontecer por mandato (endosso impróprio ou endosso procuração). Aval: É uma garantia prestada para o pagamento de um título de crédito, de natureza pessoal e dada por um terceiro. Suas figuras são o avalista, que garante o pagamento de um título em favor do devedor principal ou de um coobrigado e o avalizado devedor em favor de quem foi garantido o pagamento. O aval não atribui propriedade do título ao avalista. Protesto: É um ato solene e extrajudicial que comprova que o devedor não cumpriu com sua obrigação (inadimplência) do título de crédito. Trata-se de uma apresentação pública do título ao devedor para o aceite ou para o pagamento, e é cabível em relação ao devedor principal ou coobrigado no primeiro dia útil seguinte a esses atos (falta de aceite ou de pagamento). Fonte: elaborado pela autora (2023). Títulos de crédito são úteis a diversos negócios na sociedade, por isso são muito utilizados por pessoas físicas e jurídicas. 13 Conclusão O desenvolvimento econômico da sociedade depende de regras bem delimitadas para o comércio, a indústria e os serviços. Esse é o papel do direito empresarial e comercial. Ao longo desta unidade, pudemos estudar os principais institutos relacionados a essas atividades, como estabelecimento, empresário, sociedades e títulos de crédito. 14 Referências BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406compilada.htm. Acesso em: 13 jan.2023. BRASIL. Lei no 8.078, de 11de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/L8078compilado.htm. Acesso em: 13 jan. 2023. RAMOS, A. L. S. C. Direito Empresarial Esquematizado. 5. ed. rev. atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015. SILVA, D. P. e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1993.
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