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TEORIA DA LITERATURA I 2017 Elaine Hoffmann Tenfen Tiago Hermano Breunig GABARITO DAS AUTOATIVIDADES 2 TEORIA DA LITERATURA I UNIDADE 1 TÓPICO 1 1 Leia o texto a seguir: Sabemos que o reino das palavras é farto. Elas brotam de nosso pensamento de maneira natural, não temos a preocupação de elaborar o que dizemos ou até mesmo escrevemos. As palavras, contudo, podem ultrapassar seus limites de significação. Podendo, assim, conquistar novos espaços e passar novas possibilidades de perceber a realidade. O caminho que a literatura percorre é este. O artista sente, escolhe e manipula as palavras, as organiza para que produzam um efeito que vá além da sua significação objetiva, procurando aproximá-las do imaginário (DANTAS, 2017). Com base nesse texto, podemos afirmar que: a) ( ) A literatura é pautada sempre na realidade. b) (x) No texto literário, o sentido – a interpretação construída –, diferentemente dos textos não literários, é subjetiva, conta com a imaginação do escritor e leitor. c) ( ) O texto literário afasta-se da realidade, não busca nela inspiração, pois assim seria tomado por simplório. d) ( ) O texto literário geralmente tem caráter objetivo e sai do pensamento do seu criador de forma espontânea, sem uma preocupação com a forma de sua elaboração. TÓPICO 2 1 O conceito de arte está ligado ao trabalho humano que provoca admiração, seja por sua beleza ou criatividade. Há uma corrente que defende que, apesar de ser fruto do trabalho humano, a arte tem uma finalidade em si mesma enquanto objeto artístico e, portanto, não pode comparar-se a um utensílio. Não há uma definição conclusiva sobre o que é arte, logo, a mesma está sujeita às condições de aceitação da crítica e do público. Observamos que, às vezes, o nome do artista ganha renome e logo tudo que venha da ação dele acaba sendo considerado arte, ou seja, acontece com a arte o mesmo que acontece com quaisquer produtos de consumo em massa: a marca do sabão em pó, da calça jeans, do tênis etc. Dessa forma, muitas 3 TEORIA DA LITERATURA I vezes, o nome do artista ou o espaço em que se localiza determinado objeto simplesmente acaba por defini-lo como arte, mas essa é uma questão que gera muita discussão. Sobre isso, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para cada uma das alternativas a seguir. (F) Qualquer objeto deslocado do seu espaço original para um espaço artístico torna-se arte e ninguém discute isso. (V) Segundo o que estudamos, a arte, assim como a roupa ou outros produtos, estão sujeitos a ter no nome do seu autor um efeito de marca, grife. (V) Para Adorno, a arte em si não tem utilidade, logo não se pode comparar com um utensílio. (V) Geralmente, um objeto é determinado como arte por um grupo de pessoas que o aceitam como tal, mas não é possível dar um conceito fechado sobre o que é ou não é arte. A sequência correta é: a) ( ) V – V – V – V. b) ( ) F – F – F – F. c) ( ) F – V – F – V. d) (x) F – V – V – V. TÓPICO 3 1 A literatura é conhecida como a arte da palavra e, como tal, funciona como instrumento de comunicação e interação social. Há uma concepção de que o papel primordial da literatura é estético, porém observamos que ela vai além da mera contemplação e assume outras funções, como o lazer e o entretenimento, informação, reflexão, conhecimento, cultura, ou ainda, traz questionamentos políticos e denúncia de fatos sociais. Com base nesse contexto, relacione as colunas de forma a indicar as características adequadas a cada função da literatura. I- Função estética II- Função cognitiva III- Função político-social ou engajada IV- Função pragmática V- Função catártica VI- Função lúdica 4 TEORIA DA LITERATURA I (VI) Comumente é representada por textos em que há um diálogo explícito entre escritor e leitor. São textos em que o prazer do autor no ato da escrita é perceptível. (V) Provoca no leitor o sentimento de libertação de uma emoção ou sentimento reprimido, causando a purificação, alívio das tensões. (IV) A literatura, de acordo com essa função, tem um caráter utilitário. Deve ir além da arte e, por vezes, pode mesmo trabalhar a favor de determinadas ideologias. (III) Trata de problemáticas de determinado contexto social, ou seja, traz uma discussão sobre fatos políticos e sociais. (II) Descreve o conhecimento de forma particular, pessoal, fundindo razão e emoção, ou seja, tem caráter informativo, mas apresenta uma visão emotiva e particular. (I) Está no fundamento daquilo que se considera arte e tem o sentido de fenômeno do belo e da produção artística. As características de cada função da linguagem são apontadas corretamente na seguinte ordem: a) (x) VI, V, IV, III, II, I b) ( ) V, VI, IV, III, II, I c) ( ) I, II, III, IV, V, VI d) ( ) VI, I, V, II, IV, III 2 Leia os poemas seguir e responda qual função da literatura está mais presente em cada um deles. POEMA 1 Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, 5 TEORIA DA LITERATURA I Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Augusto dos Anjos a) ( ) Função estética b) ( ) Função Cognitiva c) ( ) Função Político-social ou Engajada d) ( ) Função Pragmática e) (x) Função Catártica f) ( ) Função Lúdica POEMA 2 Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. Oswald de Andrade a) ( ) Função estética b) ( ) Função Cognitiva c) ( ) Função Político-social ou Engajada d) ( ) Função Pragmática e) ( ) Função Catártica f) (x) Função Lúdica POEMA 3 “Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram. Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio. Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta”. Carlos Drummond de Andrade 6 TEORIA DA LITERATURA I a) ( ) Função estética b) (x) Função Cognitiva c) ( ) Função Político-social ou Engajada d) ( ) Função Pragmática e) ( ) Função Catártica f) ( ) Função Lúdica TÓPICO 4 1 Mesmo entre os críticos de literatura não há consenso sobre o que se considera uma boa obra ou não. Exemplo disso é que Márcia de Abreu (2006), ao falar sobre Jorge Amado, conversa com dois doutores em literatura da Unicamp e, enquanto um deles critica a obra de Amado, definindo-o como um “autor com deficiências”, outra comenta que o autor seria merecedor do Nobel de Literatura. Sobre isso, assinale V (verdadeiro) ou F (falso). (F) Os dois doutores em Teoria da Literatura consultados por Márcia de Abreu, Marisa Lajolo e Paulo Franchetti, afirmam que a obra de Jorge Amado perde em qualidade estética pelo anseio de tornar-se muito populista. (V) Enquanto Marisa Lajolo considera Jorge Amado digno do Prêmio Nobel de Literatura, Paulo Franchetti o considera um autor com deficiências. (F) Regina Zilberman, também entrevistada por Márcia de Abreu, como vimos no texto acima, considera Jorge Amado um autor populista, por isso sua obra perde em qualidade, com o objetivo de alcançar um público em massa. (V) Márcia de Abreu entrevista dois doutores em Literatura da Unicamp. Paulo Franchetti define as obras de Amado como murais coloridos, mas sem profundidade. Já Marisa Lajolo defende que graças a este autor o nosso povo aprendeu a ler literatura brasileira, e aponta ainda a sua produção como importante paraa cultura nacional e que graças a suas características tornou-se conhecido em todo o mundo. Sobre as afirmações acima, podemos considerar correta a seguinte ordem: a) ( ) V, V, V,V b) ( ) F, F, F,F c) ( ) F, V, V, F d) (x) F, V, F, V 7 TEORIA DA LITERATURA I TÓPICO 5 1 Dentre os textos do gênero lírico que estudamos, como podemos classificar o poema a seguir? Soneto 23 Como no palco o ator que é imperfeito Faz mal o seu papel só por temor, Ou quem, por ter repleto de ódio o peito Vê o coração quebrar-se num tremor, Em mim, por timidez, fica omitido O rito mais solene da paixão; E o meu amor eu vejo enfraquecido, Vergado pela própria dimensão. Seja meu livro então minha eloquência, Arauto mudo do que diz meu peito, Que implora amor e busca recompensa Mais que a língua que mais o tenha feito. Saiba ler o que escreve o amor calado: Ouvir com os olhos é do amor o fado. William Shakespeare a) ( ) Elegia b) (x) Soneto c) ( ) Écogla 2 Como observamos, os gêneros conto, romance e novela têm caraterísticas semelhantes, visto que narram uma história real. Porém, há alguns elementos que assemelham entre esses gêneros e outros que os distanciam. Dessa forma, assinale V (verdadeiro) ou F (falso). (V) O romance, assim como a novela, é constituído por vários núcleos narrativos, sendo um deles o núcleo principal e os outros núcleos secundários que a ele se interligam. (V) O conto geralmente tem apenas um núcleo narrativo, por isso é mais breve e apresenta um recorte temporal menor. (F) O clímax é o momento de maior tensão da narrativa, mas não está presente no conto. (V) A estrutura do conto é composta por enredo, conflito, clímax e desfecho. 8 TEORIA DA LITERATURA I UNIDADE 2 TÓPICO 1 Você leu neste tópico o “Poema tirado de uma notícia de jornal”, de Manuel Bandeira. O poema, como sugere o título, foi, de fato, “tirado de uma notícia de jornal”, veiculada no jornal Beira-Mar de 25 de dezembro de 1925. Reflita sobre a especificidade da linguagem do poema e da notícia de jornal de onde o poema foi tirado: Assinale a ordem correta: a) (x) V – V – F – V. b) ( ) F – F – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) V – V – V – F. 9 TEORIA DA LITERATURA I TÓPICO 2 Você leu, no decorrer do tópico, o poema “Primeira lição”, de Ana Cristina Cesar. Considerando que o poema se intitula “Primeira lição”, reflita, com base nas discussões a respeito do lirismo, sobre os sentidos do poema, retomando os assuntos abordados anteriormente, tais como gênero, forma e subjetividade. Em seguida, leia a citação abaixo e disserte suas conclusões. Temos uma imitação de um “mau” texto didático. Mas há um elemento irônico que se instaura a partir da contradição entre o tema tratado (o lirismo associado à morte) e o tratamento dado ao tema. Nada mais anti-lírico e impessoal do que uma série de definições que podem ser traduzidas numa abstrata sentença matemática: x é y. Nada mais anti-lírico que um conjunto de assertivas que se organiza segundo a lógica classificatória que parte do geral para o particular, em subdivisões sucessivas e marcadas rigidamente por itens, a, b, c, apresentados, contudo, como “poesia”. Mas tal efeito irônico introduz um rasgo de verdade: a tensão entre a forma e o sentido acentua a distância entre a matéria lírica que deseja uma forma e a confissão informe próxima do grito. E a forma se faz exatamente no insistente retorno da proposição assertiva, que constrói um ritmo geral monótono, quase uma ladainha. Nela, o tema da morte, insistentemente tratado nas sucessivas escolhas, para concluir com a ambiguidade entre vida e morte nos dois últimos versos, aponta para a morte do próprio lirismo sufocada na “Lição”. Ou seja, a primeira lição de lirismo é uma anti-lição: mostra onde não está o lirismo (CAMARGO, 2003, p. 249). R.: Espera-se que o acadêmico perceba a contradição entre a ideia de subjetividade associada com a poesia e o lirismo e a falta de subjetividade do poema que se oferece como uma lição de poesia, reduzido a anotações objetivas sobre a poesia, envolvendo o tema dos gêneros e formas de poemas. R.: Espera-se que o acadêmico perceba, a partir de uma reflexão livre e pelo confronto dos textos de gêneros e esferas diferentes, que a compreensão ou aceitação do texto como literário (a sua literariedade) depende do contexto de publicação e de circulação, do suporte do texto, do consenso a seu respeito, entre outros fatores que contribuem para a convenção da literatura. Podendo perceber ainda, no contexto da discussão sobre os gêneros literários, que a apropriação do texto jornalístico pela literatura produz um sentido de planificação de valores, ao romper as regras prescritas pela antiga poética, como a separação de gêneros, desierarquizando o que se considera alto ou eterno e baixo ou efêmero na antiga tradição dos gêneros literários. 10 TEORIA DA LITERATURA I O acadêmico pode concluir que: a) o poema confirma a ideia de lirismo como despersonalização estudada na unidade, ou que b) há uma tensão entre forma e sentido, ou c) ambas as conclusões. Caso o aluno não chegue às conclusões esperadas ou a conclusão nenhuma, terá a oportunidade de repensar o poema a partir da análise exposta no fragmento de Camargo (2003). TÓPICO 3 Você leu acima um fragmento de um poema do cordelista Leandro Gomes de Barros chamado “As misérias da época”: Se eu soubesse que esse mundo Estava tão corrompido... Retome a leitura do fragmento do poema ou pesquise e leia o poema integral e reflita sobre a atualidade do tema abordado pelo cordelista brasileiro nos primeiros anos do século XX. R.: Espera-se que o aluno perceba que, apesar de o poema ter mais de um século, o seu assunto é ainda atual: a corrupção. E que, fazendo parte de um assunto cotidiano e de cunho social, reforce as características temáticas do cordel estudadas na unidade, como a transmissão de uma opinião sobre um tema social ou cotidiano, criticando a realidade e as condições de vida do povo. UNIDADE 3 TÓPICO 1 1 Assista ao filme Terra estrangeira (1996), dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, e reflita sobre a permanência intertextual de elementos narrativos, tais como motivos, imagens e temas provenientes das epopeias, como as viagens, o retorno para casa, os navios como metáforas das nações, a expansão imperial, a colonização e a exploração e assim por diante. Qual o significado de tais elementos a partir de sua perspectiva? R.: Espera-se que o acadêmico perceba e compreenda, a partir de uma perspectiva particular e subjetiva, elementos narrativos atemporais, tais como 11 TEORIA DA LITERATURA I a viagem e o retorno para casa, relacionados, no filme ambientado nos anos 1990, com os reflexos da colonização do Brasil por Portugal, decorrente da expansão imperial portuguesa tematizada na epopeia de Camões, em conformidade com as epopeias antigas. 2 “A poesia épica deve girar em torno de assunto ilustre, sublime, solene, especialmente vinculado a cometimentos bélicos; deve prender-se a acontecimentos históricos, ocorridos há muito tempo, para que o lendário se forme ou/e permita que o poeta lhe acrescente com liberdade o produto da sua fantasia; o protagonista da ação há de ser um herói de superior força física e psíquica, embora de constituição simples, instintivo, natural; o amor pode inserir-se na trama heroica, mas em forma de episódios isolados; e, sendo terno e magnânimo, complementar harmonicamente as façanhas de guerra” (MOISÉS, 1999, p. 184). Considerando as explicações do texto acima, avalie os fragmentos a seguir que se configuram como poesia épica: I- Musa, as causas me aponta, o ofenso nume,/ Ou por que mágoa a soberana deia/ Compeliu na piedade o herói famoso/ A lances tais passar, volver tais casos./ Pois tantas iras em celestes peitos! II- Eu agora — que desfecho! / Já nem penso mais em ti… / Mas será que nunca deixo/ De lembrar que te esqueci? III- Canta, ó Musa, ovarão que astucioso,/ Rasa Ílion santa, errou de clima em clima,/ Viu de muitas nações costumes vários. IV- Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. V- As armas e os Barões assinalados/ Que da Ocidental praia Lusitana/ Por mares nunca de antes navegados/ Passaram ainda além da Taprobana,/ Em perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana,/ E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram. São poemas épicos os fragmentos em: a) ( ) I e II b) ( ) II e IV c) (x) I, III e V d) ( ) II, IV e V e) ( ) III e IV 12 TEORIA DA LITERATURA I TÓPICO 2 1 Qual foi a última narrativa que você leu? Foi um romance, uma novela ou um conto? Retome-a e analise-a a partir dos conhecimentos sobre o gênero narrativo que você aprendeu neste tópico. Para tanto, divida o enredo, classifique os personagens, observe o tempo e o espaço, classifique o narrador e observe o foco narrativo. R.: Espera-se que o estudante seja capaz de identificar a última narrativa que leu e aplicar os conhecimentos sobre enredo, de modo a ter uma compreensão mais profunda do texto lido. 2 Leia os dois textos a seguir e depois proceda conforme a instrução. Texto 1 Esta imensa campina, que se dilata por horizontes infindos, é o sertão de minha terra natal. Aí campeia o destemido vaqueiro cearense, que à unha de cavalo acossa o touro indômito no cerrado mais espesso, e o derriba pela cauda com admirável destreza. Aí, ao morrer do dia, reboa entre os mugidos das reses, a voz saudosa e plangente do rapaz que aboia o gado para o recolher aos currais no tempo da ferra. Quando te tornarei a ver, sertão da minha terra, que atravessei há muitos anos na aurora serena e feliz da minha infância? Quando tornarei a respirar tuas auras impregnadas de perfumes agrestes, nas quais o homem comunga a seiva dessa natureza possante? FONTE: ALENCAR, José de. O sertanejo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/bv000140.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017. Texto 2 – NONADA. TIROS QUE O SENHOR ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu –; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas... Olhe: 13 TEORIA DA LITERATURA I quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte. FONTE: ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Nova Aguilar, 1994, p. 3-4. Considerando os textos 1 e 2, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema: O lugar de enunciação na narração Em seu texto, você deverá traçar um paralelo entre o narrador nos romances de José de Alencar e de Guimarães Rosa. R.: Espera-se que se observe a diferença entre a narração distanciada do sertão e do sertanejo no romance de José de Alencar e a narração em primeira pessoa, enunciada pelo sertanejo, no sertão, no romance de Guimarães Rosa. No primeiro caso, o narrador se revela como uma pessoa da cidade, da costa, que olha para o sertão com distanciamento e sem relação direta com o sertanejo, enquanto no segundo caso é o sertanejo que narra sua história para a pessoa da cidade, que apenas escuta sem intervir na narração. TÓPICO 3 1 Leia o conto “O arquivo”, do escritor brasileiro Victor Giudice (1934- 1997), para quem “a ficção parece absurda porque é a realidade despojada de todas as mentiras”, e reflita sobre as relações entre a literatura e a realidade, a literatura e a sociedade. O conto é verossímil? É realista? O que e como ele representa e significa a nossa realidade? R.: Espera-se que se perceba que o conto não é verossímil nem realista, mas que é justamente a falta de realismo (o personagem João se transformar em um arquivo de metal) que transmite a realidade das relações abusivas em ambientes organizacionais de trabalho. 14 TEORIA DA LITERATURA I 2 “O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário - e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde”. FONTE: RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 89. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. Considerando o texto acima, assinale a opção correta: a) ( ) O narrador é homodiegético, narrando as agruras da seca no sertão brasileiro em primeira pessoa. b) ( ) Na passagem “A seca aparecia-lhe como um fato necessário”, o autor emprega o discurso indireto livre. c) ( ) No trecho “tinha o coração grosso”, o “coração grosso” se refere ao coração do pirralho que Fabiano desejou matar. d) (x) O excerto, narrado em terceira pessoa, trata dos sentimentos de Fabiano em relação a seu filho. e) ( ) O autor acredita que a seca é um fato necessário.
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