Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DE GESTÃO DE PROCESSOS E DA QUALIDADE Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Reginaldo Alves Nogueira Reginaldo Otto Nau CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Revisão de Conteúdo: Jorge Hilário Bertoldi Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2017 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.562015195 N778f Nogueira, Reginaldo Alves Fundamentos da gestão de processos e da qualidade / Reginaldo Alves Nogueira; Reginaldo Otto Nau. Indaial : UNIASSELVI, 2017. 283 p. : il. ISBN 978-85-69910-67-1 1. Gestão de Qualidade – Métodos Estatísticos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Reginaldo Alves Nogueira Economista e mestre em engenharia de processos industriais, com experiência há mais de 20 anos de atuação em organizações privada e pública; vivência nas mais dinâmicas performances, resultando em amplo conhecimento e trabalhos organizacionais desenvolvidos no campo da Gestão da Produção & Processos, Gestão Administrativa; Planejamento e Controle da Produção e Material (PCP&M); Pesquisa; e, Planejamento Administrativo/Orçamentário. Com formação universitária em Ciências Econômicas pela UFAM (2003), especialista com MBA Executivo em Finanças Corporativas (2008) e Gestão Empresarial (2009) pela UGF. Mestrado em Engenharia elétrica com ênfase em Processos Industriais pela UFPA (2011), com vários artigos publicados. No campo acadêmico possui interesse nas temáticas: Economia ambiental, Sustentabilidade, Produtividade, Orçamento, PCP, Tecnologia de manufatura, Simulação computacional, Processos industriais, Ensino à Distância (EAD). Reginaldo Otto Nau Iniciou o Mestrado em Engenharia de Produção em 2017 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), possui especialização em Engenharia de Produção (2010), e Gestão Estratégica Empresarial (2008), graduado em Engenharia de Produção pela UNIDAVI (2007). Atualmente é bolsista/pesquisador na área de Gestão de Operações na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com foco de estudo em Lean Manufacturing, onde participa de seminários e congressos de nível internacional. Possui experiência de mercado atuando com consultoria e treinamento especializado a mais de 5 anos na área de melhoria de processos e controle de produção, onde tem vasta experiência em criar soluções empresariais com o uso do Microsoft Excel. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................01 CAPÍTULO 1 Introdução ao Estudo da Gestão de Processos....................09 CAPÍTULO 2 Aplicabilidade do Gerenciamento de Processos ...................53 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 Ferramentas e Técnicas para Mapeamento e Modelagem de Processos ...............................................................................81 Melhorias e Gerenciamento de Processos ...........................135 Conceitos e Terminologias da Qualidade ..............................197 Visão Sistêmica e Abordagem de Processos .........................221 Sistema de Gestão da Qualidade .............................................243 Programa 5S ..............................................................................263 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a)! Novos desafios nos são propostos a cada fase da vida. Isso acontece porque o mundo ao nosso redor mudou e essa mudança ocorre numa velocidade cada vez maior nos dias atuais, causando uma série de transformações nas empresas existentes, e elas precisam se adequar a essas mudanças, para serem capazes de responder com maior eficácia, velocidade e flexibilidade. Nesse contexto, surgem assuntos novos que vão influenciar consideravelmente a direção que uma empresa deverá seguir para continuar existindo. Temas como aplicação de recursos, geração de lucro, concorrência, qualidade dos produtos ou serviços, clientes, profissionais comprometidos, se tornaram fundamentais para o bom andamento da empresa. Quando há falha em uma ou mais dessas áreas, as consequências podem ser irreparáveis para a continuidade da empresa. Uma solução para as atuais organizações é a Gestão de Processos, haja vista que as organizações são formadas por processos. O objetivo da Gestão de Processos é possibilitar uma integração geral na empresa, com parâmetros pré-definidos de custo, qualidade e resultados com maior eficiência, eficácia e efetividade; sempre alinhados aos objetivos estratégicos organizacionais. Em relação à qualidade, há muito tempo o tema é discutido e esteve sempre associado somente às atividades operacionais das organizações, ou seja, setores ligados à produção. Nas últimas décadas, devido a reestruturação das empresas gerada pela globalização dos mercados, o assunto qualidade tomou novo rumo e começou a ser visto também como fator importante em setores estratégicos das empresas. A qualidade tornou-se primordial na busca pela competitividade, e vem sendo implantada em diversos setores econômicos, sejam eles, industrial, comercial ou serviços. Devido os estes fatores é dada a importância do estudo desta disciplina. Sendo assim, a disciplina tratará no Capítulo 1 dos principais conceitos relacionados à Gestão de Processos, sua contextualização e evolução histórica, dentre outros aspectos, para que você possa se situar e conhecer as principais características da gestão de processos. O Capítulo 2 terá como foco os Componentes de Processo, incluindo ainda a questão dos Registros e Classificação dos Processos, com ênfase nos Processos Críticos de Negócios e as Relações Cliente versus Fornecedor. Já o Capítulo 3 vai apresentar as principais Ferramentas e Técnicas de Mapeamento e Modelagem de Processos, para que você fique a par das ferramentas de apoio à decisão gerencial. O Capítulo 4, se voltará para as questões de melhorias nos processos organizacionais, nos conceitos de Gestão da Qualidade dos Processos e busca compreender as funções e interrelações da Cadeia de Valor, da Reengenharia, da Gestão de Processos de Negócios e do Gerenciamento de Processos com BSC. Agora, adentrando ao tema Qualidade, o Capítulo 5 objetiva fazer um resgate histórico sobre a evolução do conceito da qualidade. Assim, você verá porque é tão difícil encontrar uma definição exata para o termo e quais são os fatores que influenciaram para a evolução do conceito. Neste capítulo você também terá a oportunidade de conhecer os Gurus da Qualidade. O Capítulo 6 demonstrará como ter uma visão sistêmica, muito importante para conseguirmos resultados acima do esperado com qualidade. Entenderemos a influência da produtividade em busca da competitividade. Entenderemos também o que é eficiência e eficácia. Aprenderemos também aqui o que são indicadores de desempenho e a sua importância para a produtividade. No Capítulo 7 conheceremos a norma ISO, e algumas ferramentas que nos auxiliam na resolução de problemas e na melhoria de processos. Também nos auxiliam na tomada de decisões e melhoramentos dos processos internos. Por fim, no Capítulo 8 compreenderemoso conceito do programa 5S, entenderemos os 5 sensos e conheceremos sua metodologia de implantação e monitoramento. E não se esqueça, este material é tão somente um recurso para o seu aprendizado. Seu crescimento e aprimoramento profissional estão diretamente ligados à sua dedicação aos estudos da área que escolheu. É um ciclo que para ser completo necessita de sua busca constante e aprofundamento nas leituras complementares, exercícios propostos e, principalmente, com a prática na lida diária organizacional. Bons Estudos! Prof. Reginaldo Alves Nogueira. Prof. Reginaldo Otto Nau. CAPÍTULO 1 Introdução ao Estudo da Gestão de Processos ProF. Reginaldo AlVes Nogueira. Na perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Identifi car os principais conceitos relacionados à gestão de processos. Compreender a concepção da gerência de processos e sua respectiva fi nalidade, identifi cando suas funções e características relevantes em uma organização. Realizar a descrição teórica/pragmática da temática abordada, com indicação de sua relevância na aplicação correta nas organizações. Aplicar conhecimentos integrados em gestão de processos. 10 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade 11 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 ConteXtualiZação Neste capítulo, abordaremos os principais conceitos relacionados à gestão de processos, apresentando a temática da gerência de processos, sua fi nalidade e di- mensão, bem como a contextualização e os aspectos da evolução histórica. Iden- tifi caremos ainda as funções e as características relevantes presentes em uma or- ganização. E, ao fi nal, trataremos da importância de uma organização desenvolver uma visão sistêmica - transversal. Vamos lá!? O Que é Gestão de Processos? É uma pergunta que deve ser respondida sem pestanejar por você, que é gestor, especialista, consultor, analista ou responsável por administrar ou controlar algum processo numa organização, não é mesmo? Mas a realidade nos diz que nem sempre é fácil ou rápido assim. Digo isso porque gestão de processos é uma questão abrangente e com múltiplas peculiaridades, tanto para um indivíduo como para uma empresa. Sendo mais específi co ainda, a forma como se desenvolve a gestão de processos é crucial para a sobrevivência - sucesso ou fracasso de uma organização. Entender e gerenciar processos inter-relacionados como um sistema contribui para a efi cácia e a efi ciência da organização em atingir seus resultados pretendidos. Essa abordagem habil- ita a organização a controlar as inter-relações e interdependên- cias entre processos do sistema, de modo que o desempen- ho global da organização possa ser elevado (NBR ISO 9001, 2015, s.p.). Processo: título dado a uma série de atividades/objetos, transformando entradas (inputs) em saídas/produtos (outputs), de modo a atribuir determinado grau (tangível) de agregação de valor. Um processo deve necessariamente começar e terminar em outro processo ou em um dos seus clientes externos. Fonte: JUNIOR, O. P.; SCUCUGLIA, R. Mapeamento e gestão por processos: BPM. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda., 2011. 12 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade NBR ISO: a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fundada em 1940, é responsável pela elaboração das Normas Brasileiras (ABNT-NBR), e é membro fundador da International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização - ISO). Fonte: Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 20 abr. 2017. Em nossa vida cotidiana, e em qualquer lugar, afi rmamos que a todo instante participamos ou gerenciamos - como autores ou coautores - inúmeros processos diariamente, sejam em ações, tarefas sequenciadas ou valores de forma repetitiva ou nova. Veja estes exemplos: 1) Carro/moto: a) desativar alarme/entrar; b) sentar/colocar cinto de segu- rança; c) ligar/partida; d) ajustar comandos; e) dirigir; f) local destino/esta- cionar; g) desligar/sair; h) ativar alarme. 2) Celular/smartphone/tablet: a) carregar bateria; b) ligar/ativar funções; c) fazer ligação/receber dados (whatsApp); d) tirar fotos/selfi es; e) desligar/ stand by. 3) Trabalho/serviço: a) início expediente/registrar ponto/entrar; b) local das atividades/desenvolver funções; c) refeições/reuniões; d) fi nal expedi- ente/registrar ponto/sair. É importante compreender ainda que todo processo pode ser simples ou complexo, e envolve ações visíveis ou não visualizáveis, início e fi m (ligar/ desligar; entrar/sair). Vejamos isso de forma mais detalhada, usando dois dos exemplos anteriores: 1) Carro/moto: dirigir um carro ou moto é um processo simples, mas fab- ricá-los é um processo complexo. Conseguimos visualizar as ações perceptíveis (processos) listadas, mas o nível de estresse, a postura ou efi ciência dos motoristas não estão mapeadas ou modeladas neste pro- cesso - são imperceptíveis. 13 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 2) Celular/smartphone/tablet: utilizar estes equipamentos é um processo simples, mas fabricá-los é um processo complexo. Neste caso, a opera- cionalidade/manuseio do equipamento é clara - visível. No entanto, quan- to ao desempenho das ações do usuário, seus sentimentos/emoções, por exemplo, não são. Logo, são imperceptíveis. De antemão, podemos compreender que o processo está asso- ciado a todo acontecimento, visível ou não, simples ou complexo, com certa sequência de ações e valores intrínsecos que serão moldados ou transformados em prol da satisfação de um resultado. Vale lembrar que, além das atividades de cada processo, está também subtendido o controle de tempos e medidas, quando necessário, para atingir o resultado fi nal almejado. Ressaltamos ainda que um processo nunca deve ser considerado como defi nitivo ou es- tático, tendo em vista a possibilidade de ocorrer alterações, como pa- dronização, informatização ou nova tecnologia, objetivando melhorias da qualidade e rentabilidade. Processo está associado a todo acontecimento, visível ou não, simples ou complexo, com certa sequência de ações e valores intrínsecos que serão moldados ou transformados em prol da satisfação de um resultado. DeFinindo Gestão e Processos O termo gestão está relacionado às ações de planejar, organizar, dirigir e controlar uma organização (NBR ISO 9001, 2015). Veja mais esta defi nição: Gestão signifi ca gerenciamento, administração, onde existe uma instituição, uma empresa, uma entidade social de pessoas, a ser gerida ou administrada. Fonte: Disponível em: <https://www.signifi cados.com.br/?s=gest% C3%A3o>. Acesso em: 20 abr. 2017 14 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade O Dicionário Aurélio (2016) apresenta o signifi cado de gestão como: “Gerência; administração”. Logo, são sinônimos, então poderemos aplicá-los de forma semelhante. Pieritz Netto (2010) afi rma que a gestão está intrinsecamente ligada ao ser humano, e que desde os tempos mais remotos, as pessoas sentiram necessidade de gerir toda e qualquer atividade, seja no processo de caça, para cercar um animal, seja nos seus afazeres de agricultura e cultivo. Afi rma ainda que o processo de gestão teve seu momento de decolagem com a Revolução Industrial, encaminhando-o a níveis mais ousados e elevados para seu crescimento e alcance nas recém-criadas organizações. Também não podemos tratar da gestão sem fazermos referên- cia a Fayol, a Taylor, a Mayo, à experiência de Hawthorn, a Peter Drucker, a Mintzberg, ao sistema Toyota de fabricação (lean manufacturing), cujas contribuições para a gestão estão presentes no dia a dia de nossas organizações, tantopela for- ma de liderarmos quanto pelos sistemas de controle de resul- tados que utilizamos. Conforme Nóbrega (2004), a gestão é a maior inovação do século XX, porém o autor alerta que ainda é muito mal assimilada. A verdade é que gerimos as pessoas, os recursos e os resultados de forma complexa dentro das nossas organizações (PIERITZ NETTO, 2010, p. 81). E processo, o que é isso? Processos: “do latim Processus, projeção, derivado de PRO, para frente, e CEDERE, ir. Aplica-se este termo aos tecidos ou órgãos que se projetam”. Fonte: Disponível em: <http://www.dicionarioetimologico. com.br>. Acesso em: 20 abr. 2017. Vamos ampliar um pouco mais o signifi cado de processo. Conforme estabelecido no Dicionário do Aurélio (2016), a seguir: 15 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Processo: 1) Método, sistema, modo de fazer uma coisa. 2) Conjunto de manipulações para obter um resultado. 3) O conjunto dos papéis relativos a um negócio. 4) Conjunto dos autos e mais documentos escritos numa causa civil ou criminal. 5) Processamento. Fonte: Disponível em: <http://dicionariodoaurelio.com>. Acesso em: 20 abr. 2017. Um processo é uma atividade organizada, com início, meio e fi m, projetada para gerar um resultado, já preestabelecido por alguém, ao fi nal. Em qualquer organização, os processos estão presentes e são o alicerce para conduzir e melhorar os resultados (produto, serviços etc.). Organização (1): “companhia, corporação, fi rma, órgão, instituição, empresa ou uma unidade dessas; sociedade anônima, limitada ou com outra forma estatutária, que tem funções e estruturas administrativas próprias ou autônomas, no setor público ou privado, com ou sem fi nalidade de lucro, de portes pequeno, médio ou grande”. Fonte: FNQ - Fundação Nacional da Qualidade (2010, p. 103). Organização (2): “toda organização é uma entidade social, por ser constituída por pessoas que interagem entre si para alcançar objetivos específi cos. [...] denota todo empreendimento humano moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos. Toda organização é dirigida por objetivos, uma vez que é desenhada para alcançar resultados [...] é deliberadamente estruturada, pois o trabalho é dividido e seu desempenho é atribuído aos seus membros”. Fonte: Chiavenato (2007, p. 190). 16 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Na Figura 1, podemos visualizar uma representação gráfi ca desta defi nição. Figura 1 - Representação gráfi ca de processo Fonte: Marshall Junior et al. (2012). A palavra processo tem origem no latim procedere (e processus - derivado), signifi cando: “método, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo. A palavra processo tem origem no latim procedere (e processus - derivado), signifi cando: “método, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo. Relativamente à sua etimologia, processo é uma palavra relacionada a percurso, e signifi ca avançar ou caminhar para a frente. “As 10 melhores defi nições de gestão de processos”, frases e comentários de profi ssionais consagrados no mercado. Disponível em:<http://www.venki.com.br/blog/definicao-gestao-processos/>. Acesso em: 6 jun. 2017. “Sem gestão não há solução”, ABNT NBR ISO 37001:2017.Disponível em: <http://www. abnt.org.br/images/boletim/Boletim__mar_abr_2017.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2017. 17 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Ao tratar da temática de processo, a norma brasileira NBR ISO 9001 (2015, p. 9) informa que “a abordagem de processo envolve a defi nição e a gestão sistemáticas de processos e suas interações para alcançar os resultados pretendidos de acordo com a política da qualidade e com o direcionamento estratégico da organização”. Em outras palavras, a gestão dos processos e de todo o sistema estão vinculados à aplicação do ciclo PDCA, com ênfase na chamada "mentalidade de risco”, que são as ações preventivas para que se obtenha um melhor aproveitamento das oportunidades e tentar evitar ao máximo resultados indesejáveis na organização. A aplicação da abordagem de processo em um sistema de gestão da qualidade proporciona: a) Entendimento e consistência no atendimento a requisitos; b) A consideração de processos em termos de valor agregado; c) O atingimento de desempenho efi caz de processo; d) Melhoria de processos baseada na avaliação de dados e informação (NBR ISO 9001, 2015, p. 9). O Ciclo PDCA - também chamado de Ciclo de Deming ou Ciclo de Shewhart - é uma ferramenta de gestão que tem como objetivo promover a melhoria contínua dos processos por meio de um circuito de quatro ações: planejar (plan), fazer (do), checar (check) e agir (act). O intuito é ajudar a entender não só como um problema surge, mas também como deve ser solucionado, focando na causa e não nas consequências. Uma vez identifi cada a oportunidade de melhoria, é hora de colocar em ação atitudes para promover a mudança nec essária e, então, atingir os resultados desejados com mais qualidade e efi ciência. Fonte: Disponível em: <http://www.projectbuilder.com.br/blog-home/entry/pratica/ciclo- pdca-uma-ferramenta-imprescindivel-ao-gerente-de-projetos>. Acesso em: 20 abr. 2017. 18 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Maiores detalhes dessa abordagem estão na Figura 2, a seguir. Observamos a existência de uma representação esquemática de qualquer processo, bem como de suas interações elementares. “Os pontos de monitoramento e medição necessários para controle são específi cos de cada processo” e são modifi cados conforme os riscos associados (NBR ISO 9001, 2015, p. 10). Figura 2 - Representação esquemática de um processo Fonte: NBR ISO 9001 (2015). Na concepção do BPM CBOK®, o processo está relacionado ao conjunto de atividades ou comportamentos desenvolvidos por humanos ou sistemas em prol de resultados. Processo é um conjunto de atividades interdependentes, ordenadas no tempo e espaço de forma encadeada, que ocor- rem como resposta a eventos e que possui um objetivo, início, fi m, entradas e saídas bem defi nidos. Essas atividades são geralmente interfuncionais ou interorganizacionais, que tra- balham juntas para criar um produto ou serviço fi nal. Atividades são apresentadas no contexto da sua relação entre si para pro- porcionar uma visão da sequência e do fl uxo. Isso inclui um conjunto defi nido de atividades ou comportamentos realizados por humanos, sistemas ou uma combinação dos dois e têm um ou mais resultados que podem levar ao fi m do processo ou uma entrega (handoff) a outro processo (BPM CBOK, 2013, p. 444, grifo nosso). Processo está relacionado ao conjunto de atividades ou comportamentos desenvolvidos por humanos ou sistemas em prol de resultados 19 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Business Process Management Commom Body of Knowledge (BPM CBOK®), sigla que em português signifi ca “Corpo Comum de Conhecimentos em Gerenciamento de Processos de Negócio”. Trata- se de um documento mantido pela Association of Business Process Management Professionals (ABPMP), que gerencia um repositório de melhores práticas em Gestão por Processos em nível internacional, dedicada à promoção dos conceitos e práticas de BPM. Fonte: Disponível em: <http://www.abmp-br.org/>. Acesso em: 20 abr. 2017. Silva (2015, p. 8) entende que “processo é uma sequência lógica de operações, atividades ou tarefas, que aplica recursos organizacionais para a geração de um produto ou serviço que atenda às necessidades de um cliente ou consumidor”. A Figura 3 sintetiza essa conceituação. Figura 3 - Ilustração do conceito de processose seus aspectos Fonte: Silva (2015). Ainda sobre o signifi cado de gestão de processos, atente-se às ideias seguintes, com outras defi nições literárias de processo no Quadro 1. 20 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Quadro 1 - Defi nição de processos Defi nição Autoria da Defi nição Agregação de atividades e comportamentos exe- cutados por humanos ou máquinas para alcançar um ou mais resultados. ABPMP BPM CBOK™ v 3.0 (Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio Corpo Comum de Conheci- mento) Qualquer conjunto de atividades realizadas por uma organização que transforma insumos em produtos, idealmente de maior valor para a empresa do que os insumos originais. F. Robert Jacobs; Richard B. Chase (Administração de Operações e da Cadeia de Suprimentos) Conjunto de atividades inter-relacionadas ou intera- tivas que transforma insumos (entradas) em produ- tos (saídas). Norma NBR ISO 9000:2000 Conjunto de atividades, funções ou tarefas identifi - cadas que ocorrem em um período de tempo e que produzem algum resultado. Integration Defi nition for Modeling of Process (IDEFO) Reunião de tarefas ou atividades isoladas. Grupo organizado de atividades relacionadas, que juntas criam um resultado de valor para o cliente. Michael Hammer (The Reengeniring Revolu- tion Handbook) Conjunto de atividades estruturadas e medidas destinadas a resultar em um produto especifi cado para um determinado cliente ou mercado. Ordenação específi ca das atividades de trabalho, no tempo e no espaço, com um começo, um fi m, e inputs e outputs claramente identifi cados. Thomas H. Davenport (Re- engenharia de Processos) São sequências de atividades que são necessárias para realizar as transações e prestar o serviço. Rohit Ramaswamy (Designer and Management of Service Processes) Uma sequência de passos, tarefas ou atividades que convertem entradas de fornecedores em uma saída. Um processo de trabalho adiciona valor às entradas, transformando-as ou usando-as para produzir alguma coisa nova. Dianne Galloway (Mapping Work Processes) Uma série de etapas criadas para produzir um serviço ou produto. Geary A. Rummler e Alan P. Brache (Melhores Desem- penhos das Empresas) Fonte: Adaptado de Ferreira (2013). É possível identifi carmos diversas defi nições de processo, e ainda fazermos correlação de seus signifi cados. Neste aspecto, houve predominância em citar algo relacionado ao sequenciamento lógico das tarefas e atividades com foco na obtenção de resultados. Esta análise é relevante porque os processos, em uma organização, devem sempre agregar valor e proporcionar resultados tangíveis. Assim, já podemos ter uma visão mais ampla desta temática. A prática leva à perfeição, portanto, vamos praticar um pouco o que aprendemos até aqui? Os processos, em uma organização, devem sempre agregar valor e proporcionar resultados tangíveis 21 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Atividades de Estudos: 1) Com suas palavras, defi na o que é “processo”. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Exemplifi que um tipo de processo de seu cotidiano. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ DimensÕes e FunçÕes da Gerência de Procesos Uma das maiores alterações que ocorreu nas organizações foi a visão sobre as pessoas e sua importância para o pleno desenvolvimento dos processos organizacionais. A abordagem de processos não se limita apenas a aspectos puramente formais ou técnicos (entenda-se rotinas padronizadas de fl uxogramas). Defi nitivamente, os processos são "atividades coordenadas que envolvem um complexo de pessoas, procedimentos, recursos, informações e tecnologias” (FERREIRA, 2014, p. 36). As organizações são constituídas por servidores de silício, os computadores, e de carbono, seres humanos. Contudo, apenas os seres humanos são capazes de mudar ativamente a organi- zação, nomeadamente o estado dos recursos empresariais, e por isso o conhecimento das pessoas é o principal foco deste conceito. Só os servidores de carbono podem ser responsabili- zados por qualquer mudança que ocorra na organização, uma vez que qualquer recurso utilizado por esta terá obrigatoriamente que ter um agente ativo como fonte elementar de mudança (TRI- BOLET, 2012 apud QUINTAS, 2016, p. 30). 22 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Ferreira (2014) considera relevante que a política das organizações não fi que tão somente limitada à questão dos recursos materiais, que geram produtos e serviços fi ns. Se tal organização segue nesse caminho, dissociando aquisição de equipamentos modernos do desenvolvimento de seus componentes humanos, o insucesso lhe bate à porta. Por isso, compatibilizar os anseios e os objetivos dos indivídu- os com a política, objetivos e metas da organização é fator essencial para garantir a satisfação plena dos clientes internos e externos. Planejar a melhoria da organização, ou de seus processos e produtos, implica, portanto, considerar o papel e a importância estratégica que os indivíduos desempenham nesse processo. A organização que deseja um excelente pa- drão de qualidade necessita dar a máxima importância a atrib- utos como motivação, criatividade e ousadia, investindo sig- nifi cativamente na melhoria e valorização do desempenho de seus funcionários (FERREIRA, 2014, p. 36). Uma organização pode sobreviver por um bom tempo às intempéries da falta de recursos materiais, mas nunca sobreviverá com êxito se não tiver em seu quadro pessoas comprometidas com seus objetivos. Uma organização pode sobreviver por um bom tempo às intempéries da falta de recursos materiais, mas nunca sobreviverá com êxito se não tiver em seu quadro pessoas comprometidas com seus objetivos. A ImportÂncia do Trabalho em EQuipe Para os Processos Um fato que mais percebemos atualmente é que as organizações, de um modo geral, estão fazendo uso de sistemas de trabalho voltados para a criação de equipes e na formação de parcerias com os colaboradores e dirigentes - e isso acontece de forma muito mais contínua. Deste modo, para que o trabalho em equipe se desenvolva de modo efi caz, é necessário passar pelo crivo de novas competências (conhecimentos - adquirir o saber; habilidades - saber fazer; e atitudes - querer fazer; que alguns autores chamam de "CHA"). Isso exige certo nível “de um processo de aprendizado permanente” (FERREIRA, 2014, p. 37). Para aqueles que desejarem saber um pouquinho mais sobre o “CHA”, recomendamos a leitura do seguinte livro: CHAMON, Edna Maria Querido de Oliveira. Gestão integrada de organizações. São Paulo: Brasport, 2008 23 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 A integração das equipes é peça fundamental ao sucesso das organizações - são elas que dão o tom ao desenrolar da efi ciência e efetividade nos processos organizacionais. Isso compreende não só integração em temos relacionais, com alternativas e soluções adequadas para os confl itos, mas, sobretudo, integração em relação aos fundamentos da orga- nização (missão, visão, objetivos e desafi os). Equipes mobili- zadas para o alto desempenho, além de autodeterminação, po- dem contribuir signifi cativamente para os saltosde qualidade da organização (FERREIRA, 2014, p. 36-37). E nessa dinâmica de mobilização, quem ganha destaque são os gerentes. Têm papel relevante e estratégico, haja vista que são eles que têm o apoio/ incentivo para desenvolver ações como procedimentos de: Incentivar dentro da equipe o conhecimento da missão organizacional. Defi nir claramente a missão da equipe. Defi nir os papéis e as regras de funcionamento da equipe. Construir ou consolidar o relacionamento entre os membros da equipe. Utilizar métodos adequados. Realizar reuniões efi cazes. No Quadro 2, identifi camos os principais tipos e características de uma equipe em qualquer organização. Quadro 2 - Características e tipos de equipe Principais características de uma equipe Tipos de equipes Unidades de desempenho compostas por, pelo menos, três indivíduos. As atividades que desempenham são complementares. Possuem e identifi cam um objetivo específi co que é comum a todos os membros. Mantêm relações de interação e interdependência dinâmicas e complexas. • Círculos de controle de qualidade: são grupos de pessoas que buscam formas de aumentar a efi ciência e a efi cácia de seus processos de trabalho pelo alcance da maior produtividade e da melhoria de sua qualidade. • Equipes de melhoria: são equipes de resolução de problemas constituídas para lidar temporariamente com questões que cruzam funções ou linhas de autoridade e têm sua vida restrita a uma tarefa. 24 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Identifi cam-se e são identifi cados por outros membros da organização como integrantes de uma equipe. São elementos importantes na implementação da melhoria dos processos organizacionais. • Equipes de projeto: são organizadas para trabalhar especifi camente em um projeto, como no caso do desenvolvimento de novo produto, implantação em novo serviço ou programa. Da mesma forma que as equipes de melhoria, sua vida restringe- se ao projeto para qual foram criadas. Fonte: Adaptado de Ferreira (2014). Finalidade da Gerência de Processos Para Slack et al. (2008), o gerenciamento de processos está associado a qualquer tipo de negócio. Enfatiza ainda que tudo na empresa movimenta-se por meio de processos e que o gestor deve ser responsável por gerenciar o seu processo através de aspectos técnicos próprios. Exemplifi cando: a) Gerente de marketing: é gerente de processo na perspectiva interna do escopo do marketing, e produz planos de marketing/previsão de vendas. b) Gerente de contabilidade: é um gerente de processo no escopo das ciências contábeis, e produz orçamentos. Esta abordagem é interessante porque apresenta um aspecto acerca de processos que traz a ideia de “gestão”. Processos precisam ser gerenciados. E gerenciar processos “é gerenciar performance, é gerenciar entrega, mas de processos. Pode parecer irreal, mas não é incomum alguns gestores não saberem de fato o que entregam para as empresas - ou, ao menos, o que deveriam entregar” (SILVA, 2015, p. 20). A prática me fez presenciar situações interessantes. Quando os famosos “SLAs”, os Service Level Agreements ou Acordos de Nível de Serviço (algumas empresas usam a sigla em por- tuguês também, ANS), começaram a ser estabelecidos, pude verifi car que alguns gestores não sabiam de fato o que en- tregavam, qual era realmente a missão da área na empresa. Consequentemente, não sabiam como medir o próprio desem- penho. O mesmo ocorre no caso dos KPIs - Key Performance Indicators -, indicadores-chave de performance. E o “curioso” é quando se inicia o processo de medição e os números iniciais apurados são abaixo do esperado. Fica a pergunta: “o que se gerencia aqui, senhor gestor?” (SILVA, 2015, p. 20). Tudo na empresa movimenta-se por meio de processos e que o gestor deve ser responsável por gerenciar o seu processo através de aspectos técnicos próprios 25 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Em geral, o processo de gestão compreende quatro funções principais, combinadas e não estanques: DIREÇÃO: estabelece metas. GERÊNCIA: atinge metas, treina supervisão, detecta e elimina anomalias crônicas, apoia a supervisão no trata- mento das anomalias. SUPERVISÃO: verifi ca o cumprimento dos padrões de tra- balho, treina operação, registra anomalias, conduz análise de causas. OPERAÇÃO: cumpre padrões de trabalho, relata anoma- lias (FERREIRA, 2014, p. 39). Apesar de haver particularidades de identifi cação das organizações e o nível de complexidade de seus processos, não há muita diferença na atuação e responsabilidades dos gerentes de processos. Essencialmente esses profi ssionais alocam recursos, ajustam prioridades, coordenam interações com usuários e fornecedores e, sobretudo, gerenciam equipes de trabalho. Em verdade, essa é a principal característica do papel desses gerentes: devem ser bons articuladores e mobilizadores de equipes. Cabe a ele man- ter a equipe responsável pelo projeto concentrada nos objetivos e nas metas. Ele também deve estabelecer práticas que garan- tam a integridade e a qualidade dos resultados pretendidos ou perseguidos pela equipe (FERREIRA, 2014, p. 21). Podemos entender então que as funções relacionadas ao trabalho de um gerente por processos compreendem: Planejar o processo: determinação de metas e expectativas, estabelec- imento de planos e orçamentos, promoção dos recursos, mobilização do pessoal e implementação do processo. Executar o processo: gerenciamento das entradas, saídas e feedbacks. Controlar o processo: monitoramento, reforço do sucesso, diagnóstico dos desvios e tomada de ações corretivas. Um bom gerente agirá de forma completa nessas funções como parte de suas atividades na organização. 26 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Atividades de Estudos: Vamos exercitar para continuarmos mais forte no conhecimento?! 1) Defi na com suas palavras “gestão de processo”. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) A “gestão de processo” tem alguma importância para as organizações? Justifi que. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ HistÓrico da Gestão de Processos A investigação acerca da trajetória de processos não é de agora. Esse conjunto de atividades, denominado de função produtiva, que proporciona a transformação de um bem tangível em um outro com maior utilidade, ou, como dizemos atualmente, com valor agregado, vem desde a origem do homem. De acordo com Martins e Laugeni (2005), quando algumas pessoas, já na época medieval, procuraram desenvolver suas habilidades para a produção de bens de consumo específi cos, fi zeram surgir a fi gura dos artesãos e a forma de produção organizada. Com a dinâmica da sociedade, paulatinamente, o advento da Revolução Industrial fez com que esse modelo de produção artesanal entrasse em declínio, permitindo o aparecimento das primeiras fábricas, que eram formadas por grandes artesãos que antes detinham todo o conhecimento e laboravam em suas ofi cinas particulares. 27 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 EVolução HistÓrica Vamos viajar um pouco no tempo? A história nos relata que os processos de manufatura tiveram sua origem na Inglaterra entre o período de1765 a 1815, com a Revolução Industrial, e está ligada ao resultado do surgimento de novas tecnologias associadas às habilidades dos artesãos daquela época. A princípio, a produção de bens manufaturados surgiu do artesanato produzido pelos artesãos na Era Medieval europeia, como sapatos, utensílios e carroças. Eram os grandes empresários da época, pois eram “os donos do negócio” - detinham tanto o poder de projeto, como o de compra, venda e confecção dos produtos de toda a produção. Nesse contexto, com ideias eminentemente centralizadoras, o artesanato permaneceu inalterado como a principal forma de produção até o advento da Revolução Industrial e tinha como características fundamentais: mão de obra qualifi cada, baixo volume de produção e qualidade variável. A princípio, a produção de bens manufaturados surgiu do artesanato produzido pelos artesãos na Era Medieval europeia, como sapatos, utensílios e carroças. Para aqueles que desejarem saber um pouquinho mais sobre “manufatura”, recomendamos a leitura do Capítulo 4 do livro Inovação e empreendedorismo: administração, de John Bessant, Joe Tidd. O Quadro 3 nos mostra um resumo da história da manufatura em suas diferentes fases. Quadro 3 - Evolução dos processos de manufatura nos últimos 200 anos ANO FASE FILOSOFIA BÁSICA BASE DE COMPETIÇÃO ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL 1800 – 1850 A idade do capitalismo técnico Poder e controle Substituição das importações Dono próximo da operação e domínio da tecnologia Capataz cuida da produção 1850 – 1890 Introdução da produção em massa Intercabialidade de componentes Baixo custo Dono preocupado com a tecnologia e investimentos Encarregado cuida da produção 28 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade 1890 – 1920 Administração científi ca “One Best Way” Efi ciência A administração toma o poder do encarregado sobre a produção 1920 – 1960 Os anos dourados da manufatura Curva de aprendizado Volume Automatização da mão de obra 1960 – 1990 Declínio da manufatura americana Entrada dos novos competidores no cenário internacional Técnicas numéricas e computacionais versus Os modelos simplifi cados e descentralizados Automação e Base Eletrônica Qualidade e variedade Automatização da mão de obra indireta Descentralizações das decisões 1990 em diante Manufatura como arma competitiva Um tipo de produção para cada estratégia de negócio Qualidade, Variedade e Velocidade Fábrica focalizada; trabalhos em equipes Lançamento de novos produtos Customização em massa Fonte: Paiva (2004). Apesar de ter sua origem localmente na Inglaterra, os processos de manufatura correram mundo e ganharam novos ares em sua trajetória, como detalhado no Quadro 4. Quadro 4 - Evolução dos processos de manufatura em décadas: desde 1950 Estados Unidos: a manufatura encontrou terra fértil para se desenvolver, onde “a história de seu desenvolvimento nos EUA é a própria história da manufatura mundial, até a entrada dos países orientais no cenário internacional, por volta da década de 1960”. Brasil: a história da manufatura está inter-relacionada com a indústria automobilística, e que, a partir da década de 1920 (início da chegada das multinacionais) até a atualidade podemos visualizar várias fases da qual foi vivenciada pela indústria nacional, como: Década de 1950 Com o advento da Segunda Guerra houve a substituição nas importações de autopeças, proporcionando expansão neste setor até meados do fi nal destes anos Década de 1960 Período marcado pela estagnação até o golpe militar 29 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Década de 1970 É concebido o “milagre econômico” Década de 1980 O desdobramento da política brasileira desse período foi desastroso, sendo conhecida como a “década perdida” Década de 1990 A abertura do mercado e a chegada do modelo japonês proporcionam novo impulso à indústria brasileira, mas ainda se encontra com necessidade de uma visão de longo prazo e de melhoramentos à inserção internacional Década de 2000 (e o futuro) Período com forte demanda por “qualidade, produtividade e fl exibilidade” para atingir o padrão internacional. Os anseios por vantagem competitiva passam a exigir da indústria brasileira nova estratégias de produção para poder participar de um ambiente que estava nascendo denominada de “Nova Economia” a qual está “remodelando todos os setores da economia mundial”, onde existe uma “euforia associada à utilização de tecnologias de ponta” Fonte: Adaptado de Paiva (2004). Principais Mudanças Nos Processos de Produção Desde 1790, foi introduzido o conceito de padronização de componentes por Eli Whitney, um inventor nascido nos Estados Unidos, em 1765. Entre seus inventos mecânicos mais relevantes está a criação de espingardas, ou mosquetões, que usavam peças intercambiáveis, proporcionando benefícios operacionais aos exércitos; surgia “a função de projeto de produto, de processos, de instalações, de equipamentos”, entre outros. Entretanto, foi somente com Frederick W. Taylor, pai da administração científi ca, que a sistematização da defi nição de produtividade passou a existir, ou seja, “a procura incessante por melhores métodos de trabalho e processos de produção, com o objetivo de se obter melhoria da produtividade com o menor custo possível”, tendo como objetivo principal mensurar o sucesso ou o fracasso das organizações até hoje (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 2). Através de Henry Ford, em 1910, são criadas as linhas de montagens seriadas, surgindo o conceito de produção em massa, diferenciada por apresentar volumes de produtos extremamente padronizados, com técnica defi nida pela engenharia industrial. Começaram assim os conceitos de linha de montagem, posto de trabalho, estoques intermediários, monotonia do trabalho, arranjo físico, balanceamento de linha, produtos em processo, motivação, sindicatos, manutenção preventiva, controle estatístico da qualidade e fl uxogramas de processo, entre outros. Foi somente com Frederick W. Taylor, pai da administração científi ca, que a sistematização da defi nição de produtividade passou a existir. 30 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Martins e Laugeni (2005) ressaltam que esse ambiente predominou nas fábricas até 1960, quando então foi sendo substituído por uma nova técnica denominada de produção enxuta. Surgiram a partir daí novos conceitos de just- in-time (JIT), engenharia simultânea, tecnologia de grupo, consórcio modular, células de produção, desdobramento da função qualidade (quality function deployment - QFD), comakership, sistemas fl exíveis de manufatura (fl exible manufacturing systems - FMS), manufatura integrada por computador (computer integrated manufacturing - CIM), benchmarking. Algum tempo depois, nesse ambiente dinâmico e sempre alterável, o consumidor passou a ser, de forma mais clara, o grande protagonista do cenário produtivo, “levando as empresas a se atualizarem com novas técnicas de produção cada vez mais efi cazes, efi cientes e de alta produtividade”, como através de uma produção customizada (personalizado, fl exível), com uma incessante procura por melhoria contínua, almejando o grupo seleto de uma empresa de classe mundial (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 4). Assista aos vídeos para maior entendimento das mudanças ocorridas com os avanços tecnológicos nos séculos XIX e XX, disponíveis em: <https://www.youtube.com/watch?v=aU0E4FSAqw4>. <https://www.youtube.com/watch?v=TtDgBoky3fo>. <https://www.youtube.com/watch?v=meSQG 6bNvOM&spfreload=1>. <https://www.youtube.com/watch?v=G7k9hX_KEPw>.Martins e Laugeni (2005) afi rmam ainda que o processo de automação industrial gerou a expressão “fábrica do futuro”, caracterizada pelo alto grau de automação, organizada tecnologicamente com aplicação de ferramentas como CAD, CAM, CIM, MRP II, ERP, EDI, proporcionando, dentre outros fatores, um alto nível de produtividade; havendo colaboradores com elevado conhecimento e aplicação da inteligência no processo (utilizando menos esforço físico), denominados de knowledge worker. 31 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Recomendamos a leitura do Capítulo 2 do livro Thoughtworks antologia Brasil: histórias de aprendizado e inovação, editado por Paulo Caroli, para maiores esclarecimentos sobre knowledge worker. Mudanças signifi cativas ocorreram através das inovações que foram e ainda continuam sendo implantadas nas organizações. Desde o início do século passado, estudos de Taylor e da Administração Científi ca introduziram os conceitos de efi ciência, especialização e medição do processo nas organizações. Segundo Netto (2008), existe uma corrida de investimentos na especialização de atividades e na formação de profi ssionais como especialistas em processos de negócio em vários ramos do mercado. Mais Mudanças e Melhorias A gestão de processo, segundo Ferreira (2013, p. 52), “tem avançado e vem alcançando importância há algum tempo, tendo como base a implementação de ferramentas e técnicas na busca de melhorias de processos”. A autora comenta ainda que essas transformações ao longo dos anos têm alterado também os conceitos de gestão de processo. A Figura 4 revela mais detalhes. Figura 4 - Evolução dos conceitos Fonte: Ferreira (2013). 32 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade As temáticas principais, no início das tentativas de processos, se resumem em: a) inspeção na fonte; b) poka-yoke ou a prova de falhas; c) feedback; d) ação imediata. Para Ghinato (1995 apud FERREIRA, 2013, 53, grifo nosso), “este paradigma tem como base a evolução e a melhoria das operações (centradas em pessoa/posto/tarefa) e é considerado o precursor para a melhoria de processos que teve início na Toyota nas décadas de 1970 e 1980”. Já o segundo paradigma teve sua origem dos “Sistemas Toyota de Produção; Teoria das Restrições; Sistemas da Qualidade e a Reengenharia de Processos”. Em que todos esses sistemas se espelharam na melhoria de processos para as organizações. Essa segunda visão avança da melhoria das operações para o paradigma Gestão de Processos. Começam então a surgir as grandes questões, tendo em vista que a incorporação de ferramentas e a sistematização de tarefas para gerir processos são fundamentais para essa mudança. No entanto, há impli- cações, como deslocamento de modelo mental de gestores, de modo que o foco seria nos resultados globais do processo e não mais nos locais funcionais de sua responsabilidade; risco de investimentos em novas tecnologias de altos custos com a incerteza de retorno; falta de pessoal qualifi cado para operar essa nova tecnologia. Esses são alguns dos entraves que difi - cultaram a consolidação da gestão de processo naquela época (PAIM et al., 2009 apud FERREIRA, 2013, p. 53). São notórias as modifi cações ocorridas na Reengenharia de Processos, desde o fi nal da década de 1990 e início do século XXI, e agora se consolida como modelo de Melhoria de Processos. E, através deste novo modelo, há o suporte de um novo conjunto de tecnologias, dando às organizações condições de gerar resultados diretos, ou partir de outras nuances processuais, tais como: 1. Adoção de sistemas integrados de gestão tipo Enterprise Resource Planning ERP. 2. Defi nição de indicadores de desempenho global. 3. Defi nição de estrutura organizacional baseada em processo. 4. Gestão de competência baseada em processo. 5. Criação de modelo de referências baseado em processo. 6. Ampliação das práticas de benchmarking. 7. Ampliação de colaboração entre empresas. 8. Outros desdobramentos (FERREIRA, 2013, p. 54). Certos autores comentam ainda que alguns desses itens ainda encontram muita difi culdade para serem implementados, em razão da especialização, de deslocamento do modelo mental dos gestores e do domínio sobre as inovações tecnológicas necessárias à execução das inovações de melhoria de processos. São notórias as modifi cações ocorridas na Reengenharia de Processos, desde o fi nal da década de 1990 e início do século XXI, e agora se consolida como modelo de Melhoria de Processos. 33 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Podemos dizer que há autores que têm nas fi guras de Hammer e Champy (1994) como os responsáveis pelo início do movimento de melhoria de processos, baseada numa mudança radical no processo ao longo da organização, conquistando com isso algumas melhorias no desempenho. Eles descrevem como “o repensar fundamental e o redesenhar radical de processos de negócio para alcançar melhorias dramáticas em medições-chave e contemporâneas de desempenho, tais como custo, qualidade, serviço e velocidade” (FERREIRA, 2013, p. 54). O método de melhorias de processos, que se baseia em princípios de reengenharia, propõe o redesenhar do processo, sugerindo uma alteração tipo “ponta a ponta", a fi m de que sejam realizados os processos em andamento. Esse movimento não ofereceu em si técnicas para a melhoria de processos. Nele haviam mudanças radicais que deveriam ser adotadas independente dos processos vigentes, tanto que muitas organizações que adotaram essa iniciativa de forma voluntária e pouco fundamentadas foram frustradas. Pensa-se que isso contribuiu para que se criasse uma resistência ao dis- curso de processos de um modo geral, o que provocou um recuo ao uso de tecnologias voltadas a processo como lógica ou paradigma gerencial (FERREIRA, 2013, p. 54). Atualmente, temos uma nova visão de gestão por processo de negócio, conhecida como BPM (Business Process Management) e tem foco no processo global. Essa visão está relacionada aos conceitos de Gestão, Tecnologia e Técnica, os quais estão sendo implementados internacionalmente, por meio de associações nos diversos países, do qual o Brasil já faz parte. Veremos mais detalhes desta abordagem nos Capítulos 3 e 4. Atualmente, temos uma nova visão de gestão por processo de negócio, conhecida como BPM (Business Process Management) e tem foco no processo global. BPM é uma disciplina gerencial que integra estratégias e objetivos de uma organização, expectativas e necessidades de clientes, por meio do foco em processos ponta a ponta. BPM é uma nova forma de articular e aplicar de modo integrado abordagens, metodologias, estruturas de trabalho, práticas, técnicas e ferramentas para processos que muitas vezes são aplicadas de maneira isolada. Fonte: ABPMP BRAZIL. BPM CBOK: guia para o gerenciamento de processos de negócio corpo comum de conhecimento. 1. ed. Brasil, 2013. Disponível em: <http://c.ymcdn.com/sites/www.abpmp.org/resource/resmgr/Docs/ ABPMP_CBOK_Guide__Portuguese.pdf>. Acesso em: 6 jun. 2017. 34 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Wolf e Harmon (2012), que realizaram pesquisa acerca da utilização de BPM, concluíram que existe grande interesse por parte das organizações em continuar investindo recursos em projetos de processo, principalmente os relacionados à coordenação e ao gerenciamento para intensifi car os esforços quanto à gestão de processos na organização como um todo. Em síntese, é possível compreender a relevância histórica da gestão nos processos produtivos, visto que suas atividades refl etem diretamente na dinâmica existencial da organização - de forma positiva ou negativa - no resultado fi nal. O processo deevolução tecnológica e cultural, relacionados à modernização dos processos, tem proporcionado resultados signifi cativos nos sistemas produtivos tanto no aspecto quantitativo, quanto qualitativo. A tomada de decisão, aliada a recursos tecnológicos e novas estratégias têm favorecido um padrão aceitável - mais produtivo e otimizado -, constituindo-se como peça-chave para que a administração dos processos alcance êxito. A prática leva à perfeição, portanto, vamos praticar um pouco o que aprendemos até aqui? Atividade de Estudos: 1) Que aspectos você considerou interessante na trajetória histórica dos processos para entendimento do assunto? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Gestão de Processo ou Por Processo: FunçÕes ou Processos? Estes dois conceitos, aparentemente iguais, causam certa estranheza na mente de algumas pessoas em uma primeira leitura. Parecem tão próximos e, ao mesmo tempo, são tão diferentes, isto é, são dois modelos de estruturas com formas de gestão distintas. 35 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Vejamos as diferenças e particularidades desta temática! a) Estrutura por funções - gestão de processo: funcional. A base é a divisão hierárquica; e, departamentalização (silos). - Modelo tradicional, onde as organizações geralmente estão constituídas em conjunto de unidades funcionais verticalizadas - isoladas, sem ou pou- ca interação. Visão compartimentada de uma abordagem funcional. b) Estrutura por processos - gestão por processo. Recursos e fl uxos na perspectiva dos processos estratégicos. - A lógica é a dinâmica da organização em prol de resultados efetivos. A estrutura de processos bem defi nida possibilita à organização operar como uma rede de serviços, com poucos níveis hierárquicos, maior rentabilidade e agregando valor ao cliente. Na Figura 5, são mostrados, de forma resumida, os dois conceitos. Figura 5 - Organização Tradicional x Gestão por Processos 36 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Fonte: Adaptado de UNICAMP (2003). As principais particularidades desses dois tipos de gestão são as elencadas no Quadro 5, a seguir: Quadro 5 - Características da Gestão: Tradicional versus Por Processo Gestão Tradicional Gestão por Processos • Compartimentação (silos). • Subotimização do todo. • Impede o contato interdepartamental e interfuncional. • Gestão lenta e pesada (não consegue acompanhar o novo ritmo tecnológico e gerencial). • Estruturas verticalizadas. • Estruturas gerenciais e processos de trabalho desenhados há décadas. • Esforços centrados para tarefas, pessoas ou estruturas. • Divisão do trabalho. • Responsabilização. • Estruturas horizontalizadas. • Tomada de decisão compartilhada. • Visão integrada dos processos (ultrapassam os limites das unidades funcionais). • Agrupamento de atividades. • Redução de fl uxos (efi ciência). • Relações de alianças, parcerias, participação e acordos. • Baseada em objetivos, políticas e estratégias comuns. • Trabalho em equipe. • Solução de confl itos pela negociação ou eliminação das causas. • Foco em resultados. 37 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 A gestão “Por Processos” difere da gestão “Tradicional” nos aspectos Emprega objetivos externos. Funcionários e recursos são agregados de forma a produzir um produto ou serviço completo. Informação segue diretamente para onde é necessária, sem o fi ltro da hierarquia. Membros da equipe asseguram que o trabalho seja realizado, estabelecem padrões para avaliação da performance da equipe e incentivam toda a equipe para a superação dos objetivos. Líderes da equipe (process owners) não são defi nidos por sua posição hierárquica, portanto necessitam negociar com os membros da equipe e exercer infl uência. Tal estrutura demanda grande esforço de colaboração. Fonte: Adaptado de Ferreira (2014). Na gestão funcional (tradicional), conforme Paim et al. (2009), acontece um fenômeno de pouca ou inexpressiva coordenação, com a consequente redução no entendimento dos processos, especialmente aqueles desconhecidos. Os autores complementam que na perspectiva funcional, a organização fi ca desconectada consigo mesma, tendo que encarar certos entraves, como: Existe baixa orientação para o mercado ao qual a organização atende. Os objetivos são prioritariamente departamentais. Lógicas de avaliação de desempenho são localmente defi nidas. Competências dos indivíduos não ultrapassam fronteiras funcionais. Remuneração, reconhecimento e premiação são departamentais. Orçamento defi nido e aplicado, desconsiderando processos transversais. Inexistem unidades organizacionais responsáveis pelos processos como um todo. Na perspectiva funcional, a organização fi ca desconectada consigo mesma, tendo que encarar certos entraves De Processo ou Por Processo Os dois conceitos correm por linhas paralelas em todos os meios. Na concepção de Sordi (2008 apud FERREIRA, 2014), não há rivalidade ou exclusão entre os dois conceitos; o que se faz necessário é a medição da distância entre a gestão tradicional da gestão por processos. Afi rma que para facilitar a compreensão, podemos relacionar a gestão de processos com o esforço de estabelecer sistemas de trabalho submetidos a descrições, mensurações e controles das atividades em função do que foi planejado. Destaca também que: 38 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Gerir processos é, portanto, monitorá-los para manter a con- formidade e os resultados pretendidos. Esse monitoramento ocorre nas diversas áreas que constituem uma organização de acordo com suas especifi cidades: a área de gestão de pes- soas, a área de suprimentos, a área de tecnologia e assim por diante. Todas essas áreas têm os seus processos e eles pre- cisam, obviamente, ser monitorados de forma efi ciente. No entanto, quando nos referimos à gestão por processos, a perspectiva é mais global ou mais sistêmica: ela envolve o conjunto da organização. A gestão por processo signifi ca gerir a organização considerando a interação entre os processos e entre esses e o ambiente. Em outras palavras, a gestão de processos é uma abordagem administrativa e se apresenta com uma abrangência muito reduzida em comparação com a gestão por processos, que é um estilo de gerenciamento da própria organização (FERREIRA, 2014, p. 21). Caso queira saber mais desta temática, leia o artigo “As Empresas São Grandes Coleções de Processos”, de José Ernesto Lima Gonçalves, publicado na RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 40, n. 1, jan./mar. 2000 - FGV/EAESP. Disponível em: <http://rae.fgv.br/rae/vol40-num1-2000/empresas-sao-grandes- colecoes-processos>. Acesso em: 6 jun. 2017. Agora observe o Quadro 6, desenvolvido por Sordi (2008), que mostra as características de uma abordagem administrativa, diferenciando a gestão funcional da gestão por processos. Quadro 6 - Principais diferenças entre a gestão por processos e a gestão funcional CARACTERÍSTICAS ANALISADAS GESTÃO FUNCIONAL GESTÃO POR PROCESSOS Alocação de pessoas Agrupados junto a seus pares em áreas funcionais Times de processos envolvendo diferentes perfi s e habilidades Autonomia operacional Tarefas executadas sob rígida supervisão hierárquica Fortalece a individualidade dando autoridade para a tomada de decisões Avaliação de desempenho Centrada no desempenho funcionaldo indivíduo Centrada no resultado dos processos de negócios Cadeia de comando Forte supervisão de níveis hierárquicos superpostos Fundamentada na negociação e colaboração 39 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Capacitação dos indivíduos Voltadas ao ajuste da função que desempenham/ especialização Dirigido às múltiplas competências da multifuncionalidade requerida Escala de valores da organização Metas exclusivas de áreas geram desconfi ança e competição entre as áreas Comunicação e transparência no trabalho, gerando clima de colaboração mútua Estrutura organizacional Estrutura hierárquica, departamentalização/vertical Fundamentada em equipes de processos/horizontal Medidas de desempenho Foco no desempenho de trabalhos fragmentados das áreas funcionais Visão integrada do processo de forma a manter uma linha de agregação constante de valor Natureza do trabalho Repetitivo e com escopo bastante restrito/mecanicista Bastante diversifi cado, voltado ao conhecimento/ evolutivo-adaptativo Organização do trabalho Em procedimentos de áreas funcionais/mais linear Por meio de processos multifuncionais/ mais sistêmico Relacionamento externo Pouco direcionado, maior concentração no âmbito interno Forte incentivo por meio de processos colaborativos de parcerias Utilização da tecnologia Sistemas de informação com foco em áreas funcionais Integração e "orquestração dos sistemas de informação” Fonte: Sordi (2008). Ainda de acordo Ferreira (2014), como se refere a uma abordagem mais estratégica, é necessário que a organização cumpra alguns requisitos mínimos para atendimento pela gestão por processos, que são: 1. clareza de sua missão e objetivos (para que a organização exista); 2. identifi cação e defi nição dos processos críticos (aqueles que impactam sua razão de ser e objetivos estratégicos); 3. defi nição dos serviços e/ou produtos que pretendem oferecer em função de um público determinado (cliente ou usuários); 4. disponibilidade dos recursos necessários para gerar os serviços ou produtos pretendidos; 5. capacidade para gerenciar o fl uxo de informações e as atividades necessárias para atingir os resultados pretendi- dos e a satisfação dos clientes ou usuários (FERREIRA, 2014, p. 23, grifo nosso). 40 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Acesse o link a seguir, e veja mais sobre esta temática: <https:// gaussconsulting.com.br/blog/o-tombamento-da-gestao-empresarial- por-meio-de-processos/>. Acesso em: 6 jun. 2017. Como falamos antes, Gestão de Processo e Gestão Por Processo são conceitos distintos, que estão consolidados em perspectivas diferentes, mas não são excludentes. Ferreira (2014, p. 23) afi rma que “a organização orientada por processos precisa, necessariamente, de processos bem monitorados, caso contrário inviabiliza a possibilidade de tê-los funcionando efi cientemente em rede ou de forma sistêmica”. E complementa: Não obstante, é possível apontar algumas vantagens da gestão por processos, sobretudo quando o contexto exige or- ganizações mais versáteis e dinâmicas: a organização desenvolve-se além do seu desempenho básico; direciona os esforços para resultados, por meio da melho- ria efetiva dos processos essenciais; mudança cultural (de visão por função para visão do todo); facilita a gestão do conhecimento organizacional; permite a compreensão de como as coisas são feitas na organização, revelando problemas, estrangulamento e in- efi ciências; redução de custos (retrabalho e problemas logísticos, por exemplo) e confl itos; aumento da satisfação dos clientes ou usuários (cidadãos e colaboradores); concentra o foco no que realmente interessa; facilita a gestão das competências; proporciona fl exibilidade organizacional (descentralização, organização em rede, alianças estratégicas entre organi- zações) (FERREIRA, 2014, p. 22). Na Figura 6, visualizamos o nível de maturidade de cada tipo de estrutura organizacional. É possível identifi car as possibilidades de migração de um estágio intermediário de gestão por processos, em detrimento da opção plena. Gestão de Processo e Gestão Por Processo são conceitos distintos, que estão consolidados em perspectivas diferentes, mas não são excludentes. 41 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Figura 6 - Estruturas Organizacionais: a transversalidade de um processo Fonte: Maranhão e Macieira (2004). O que podemos entender é que cada organização tem a sua estratégia, pela qual traduzirá sua missão, visão e valor. Isso será a essência de sua existência, e geralmente difere do status quo das outras. Status Quo ou Statu quo é uma expressão do latim que signifi ca “estado atual”. Está relacionado ao estado dos fatos, das situações e das coisas, independente do momento. O termo status quo é geralmente acompanhado por outras palavras, como manter, defender, mudar etc. O conceito inicial do status quo tem origem na expressão diplomática latina “in statu quo res erant ante bellum”, que pode ser traduzido por “no estado como as coisas eram antes da guerra”. Fonte: Disponível em: <http://www.signifi cados.com.br>. Acesso em: 20 abr. 2017. Outra constatação após tudo isso é que, apesar de todos os avanços que temos visto ou ouvido, não são todas as empresas que estão preparadas para encarar uma gestão por processos. É uma decisão muito particular de cada uma, e que exige uma análise cuidadosa da real situação e caracterização de cada organização. 42 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Estratégia VERSUS Processos O termo estratégia, que vem da palavra grega estrategos, tem sua origem nos meios militares, nas campanhas para guerra, e originalmente se referia ao líder maior de uma tropa. “Seu uso já era conhecido há 500 a.C., e com as mudanças advindas com o tempo, a palavra passou a ser usada também no ambiente empresarial, como uma habilidade gerencial" (RIBEIRO, 2008, p. 10). Nos dias atuais, podemos dizer que o termo estratégia ganhou evidência a partir da década de 1960, com a introdução de ferramentas de medição de desempenho. A estratégia descreve os caminhos a serem trilhados pelas organizações, com seus objetivos básicos de longo prazo e as ações a serem implementadas, visando ao atingimento de suas metas e objetivos. "Essa defi nição demanda um alinhamento organizacional, principalmente entre estratégia e estrutura, mas já indica que a estratégia e os processos também devem estar alinhados entre si" (PAIM et al., 2009, p. 54). Isso levou a uma mudança de comportamento, pois as organizações começaram a ser vistas como um conjunto integrado de elementos. Surgem também ferramentas que unem estratégia e processos. O ponto crucial da estratégia é a tarefa de alinhar os trabalhos gerenciais e operacionais numa única vertente nas ações e decisões para que se alcance o fi m pretendido. Na aplicação da gestão por processos, é preciso ter foco, saber onde se quer chegar e que produto ou serviço é necessário gerar para atingir os objetivos propostos na realização da missão da organização, pois se torna um círculo, que se repete constantemente. Vejamos a Figura 7 para mais entendimento. O termo estratégia, que vem da palavra grega estrategos, tem sua origem nos meios militares, nas campanhas para guerra, e originalmente se referia ao líder maior de uma tropa. Figura 7 - Ciclo da gestão por processos Fonte: IPHAN (2015). 43 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 “Em qualquer forma de entendimento da estratégia, há relação com oconceito de processo”, afi rmam Paim et al. (2009, p. 56). Os autores ressaltam que existem cinco defi nições formais instituídas acerca de estratégia, que são: Estratégia como Plano. Estratégia como Manipulação ou Manobra. Estratégia como Padrão Realizado. Estratégia como Posição. Estratégia como Perspectiva. Estratégia como Perspectiva: “A palavra alemã weltanschauung (visão do mundo) é a que mais se aproxima desse tipo de estratégia: signifi ca a intuição coletiva sobre como o mundo funciona, englobando aspectos como culturas, ideologias, paradigmas. Essa defi nição relaciona mais a noção de cultura da organização para compartilhar valor que priorize a atuação na melhoria, na coordenação e no aprendizado organizacional orientada pelo conceito de PROCESSOS” (PAIM ET AL., 2009, p. 57). Fonte: PAIM, R. et al. Gestão de processos: pensar, agir e aprender. Porto Alegre: Bookman, 2009. Não esqueça! É importantíssimo que os processos sempre estejam inter-relacionados à estratégia da organização. Assim, torna-se fundamental que cada organização conheça ou comece a conhecer bem seus próprios processos, para poder dar prioridade e prosseguimento a eles, concentrar os esforços em seus usuários diretos e indiretos, e decidir estrategicamente qual estrutura organizacional é apropriada para atingir os objetivos propostos e lograr resultados exponenciais. Não esqueça! É importantíssimo que os processos sempre estejam inter-relacionados à estratégia da organização. 44 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Atividade de Estudos: 1) Assista ao vídeo disponível em <https://www.youtube.com/ watch?v=yBlhPBoW7kk> e responda: Que aspectos da Gestão de Processos e Gestão por Processos são considerados no vídeo? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Visão Sistêmica das OrganiZaçÕes A expressão sistemas envolve inúmeras concepções, mas a essência de seu conceito é que se refere a um todo, total, completo. Quando pensamos, por exemplo, em sistema circulatório, sistema fi nanceiro, sistema educacional, sistema bancário, pensamos em um conjunto de componentes ou fatores que os compõem. Podemos compreender melhor uma visão sistêmica quando entendemos a forma do pensar sistêmico. De acordo com Teixeira, Salomão e Teixeira (2015, p. 81, grifo nosso): “A visão sistêmica melhora o entendimento e a explicação sobre relacionamento entre as partes de um conjunto e desse conjunto com seu meio. Ela teve sua origem na biologia, uma das matrizes da medicina”. Esse tipo de pensamento pressupõe criar uma forma de anal- isar e uma linguagem para descrever e compreender as forças e inter-relações que modelam o comportamento dos sistemas. A essência do pensamento sistêmico é a mudança de mentali- dade. O pensamento sistêmico parte do conceito de feedback, que revela como as ações podem se neutralizar uma às outras. O pensamento sistêmico simplifi ca a vida, por ajudar a enxer- gar padrões mais profundos. Foi introduzido nas organizações baseando-se na obra de Senge (2009), A Quinta Disciplina, publicada em 1990 (FERREIRA, 2013, p. 47). Quando pensamos na organização levando em conta todas as suas inter- relações envolvidas, estamos pensando sistemicamente. 45 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 Da Visão CientÍFica Para a Visão Geral do Conhecimento TransVersal A importância da criação de uma visão geral do conhecimento está na “necessidade de passar da mecânica da estratégia de negócios” para uma visão mais global nas organizações - transversal. “Incutir a visão implica comunicar a visão organizacional até que os membros comecem a executá-la” (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 129). Os autores comentam que, quando a administração consegue transmitir sua visão de conhecimento às pessoas de forma efi caz, está, na realidade, contribuindo para a formação de microcomunidades internas, tornando o nivelamento transversal do conhecimento possível e real. As visões do conhecimento podem também possibilitar a criação de conceitos e a construção de protótipos. Elas têm menor impacto no compartilhamento do conhecimento tácito dentro de uma microcomunidade, mas o processo de incutir uma visão de conhecimento depende, fi nalmente, da liberação do conhecimento tácito para que este impulsione a inovação. No mínimo, a visão deve levar em conta o fato de que nem todo conhecimento organizacional se manifesta de maneira explícita (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 129). Esse entendimento nos leva a pensar nos processos transversais com mais concretude. "Embora alguns processos sejam inteiramente realizados dentro de uma unidade funcional, a maioria dos processos importantes das empresas [...] atravessa as fronteiras das áreas funcionais. Por isso mesmo, são conhecidos como processos transversais" (GUERRINI, 2014, p. 49). A ilustração da Figura 8 procura mostrar o seguinte raciocínio: “se processos transversais são defi nidos e entendidos, pode ocorrer a defi nição de indicadores que estejam orientados pelos processos, e não só pelas unidades organizacionais” (PAIM et al., 2009, p. 74). “Incutir a visão implica comunicar a visão organizacional até que os membros comecem a executá-la” 46 Fundamentos de Gestão de Processos e da Qualidade Figura 8 - Indicadores de desempenho a partir de uma visão por processos Fonte: Paim (2009). Visão por processos: “privilegia a análise das atividades transversais à empresa, permitindo o entendimento e a melhoria da UN como um todo em função de seu objetivo fi nal. Ao se decidir o que precisa ser feito, tem-se em mente as atividades que agregarão valor para a UN sem se preocupar em saber, inicialmente, qual será o departamento que as executará”. Fonte: NEUMANN, C. Gestão de sistemas de produção e operações: produtividade, lucratividade e competitividade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Quando ocorre o entendimento dos processos transversais, a organização tem uma alternativa para autoavaliação, e começará a ter condições de se posicionar de forma mais consciente de sua própria atuação no meio em que está inserida. CompleXidade de Atributos do Processo Paim et al. (2009, p. 105) analisam a complexidade de atributo do processo e comentam que: Complexidade de atributos utilizados para complementar a descrição do processo na forma de modelos que representam mais do que atividades, recursos e objetos em fl uxo. Esses atrib- utos podem incluir nível de detalhamento, objetivo, cliente e out- 47 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA GESTÃO DE PROCESSOS Capítulo 1 ras formas de se escrever os processos. Quanto mais atributos forem necessários para explicar o processo, mais complexa é a sua gestão e execução, mas por outro lado, melhor defi nido e entendido estará o processo. A complexidade varia em função da natureza das atividades predominantes em um processo. Pelo Quadro 7, podemos visualizar alguns exemplos da natureza das atividades. Quadro 7 - Natureza das atividades Avaliação Atividades nas quais o executor, a partir de um conjunto de alternativas, deve julgar aquelas que mais se adapta à situação colocada. Negocial Atividades marcadas pela existência de vários atores, com interesses e níveis de poder distintos no qual se deve chegar a um resultado pelo consenso. Aprovatória Atividades nas quais há aprovação por um ou mais executores que, em geral, são fundamentais como eventos que disparam outras atividades. Consultiva Atividades com
Compartilhar