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1 ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA, UM DIREITO DE TODOS MÓDULO 2 ANA PAULA ARAÚJO DE HOLANDA ANDRINE OLIVEIRA NUNES RealizaçãoApoio Controle Social das Contas Públicas 2 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro André Avelino de Azevedo Gerente-Geral Marcos Tardin Gerente Editorial Lia Leite Gerente de Marketing e Design Andréa Araújo Gerente de Audiovisual Chico Marinho Gerente de Criação de Projetos Raymundo Netto Analistas de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analista de Contas Narcez Bessa UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Educacional Deglaucy Jorge Coordenadora Pedagógica Jôsy Braga Cavalcante Coordenadora de Cursos e Secretária Escolar Marisa Ferreira Desenvolvedora Front-End Isabela Marques 3 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO CEARÁ (TCE) Presidente José Valdomiro Távora de Castro Júnior Vice-Presidente Edilberto Carlos Pontes Lima Corregedora Patrícia Lúcia Mendes Saboya Ouvidor Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Conselheiros Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa Soraia Thomaz Dias Victor Rholden Botelho de Queiroz Conselheiros Substitutos Itacir Todero Paulo César de Souza David Santos Matos Fernando Antônio Costa Lima Uchôa Júnior Manassés Pedrosa Cavalcante Ministério Público junto ao TCE/CE Procurador-Geral de Contas Leilyanne Brandão Feitosa Procuradores de Contas Gleydson Antônio Pinheiro Alexandre Eduardo de Sousa Lemos José Aécio Vasconcelos Filho Júlio César Rola Saraiva Cláudia Patrícia Rodrigues Alves Cristino Diretor-presidente do Instituto Plácido Castelo Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Diretor Geral do Instituto Plácido Castelo Luis Eduardo de Menezes Lima TCE - Educação e Cidadania Concepção e Coordenador Geral Cliff Villar Coordenadora de Operações Vanessa Fugi Coordenadora de Projetos e Relacionamento Larissa Viegas Coordenador de Conteúdo Daniel Oiticica Coordenadora Editorial Lia Leite Revisora May Freitas Projeto Gráfico e Editora de Design Andréa Araújo Designer Gráfico Welton Travassos Ilustrador Carlus Campos Analista de Projetos Hérica Paula Morais T249 TCE Educação e Cidadania / vários autores ; ilustrado por Carlus Campos. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2023. 372 p. : il. ; 1080px x 1920px. – (TCE Educação e Cidadania ; 10 v.) Inclui índice e bibliografia. ISBN: 978-65-5383-094-3 1. Administração pública. 2. Prestação de contas. 3. Orçamento público. I. Campos, Carlus. II. Título. III. Série. CDD 350 2023-2807 CDU 35 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1. Administração pública 350 2. Administração pública 35 5 1. Introdução ............................................................ 6 2. Recorte histórico ................................................ 8 3. O conceito de transparência .........................14 4. Visão geral sobre a Lei de Acesso à Informação ........................................................ 22 5. Criando uma cultura de acesso à informação .................................................... 32 6. O que é e o que não é informação pública ........................................ 38 7. Os direitos de quem solicita informação ..........................................44 8. Caminhos para acessar a informação pública no TCE Ceará .................................... 46 Perfil das autoras ............................................47 Bibliografia ........................................................ 48 Glossário .............................................................52 SUMÁRIO 6 1. INTRODUÇÃO O acesso à informação pública como um direito de todos é uma das grandes conquistas desta Era. E o exercício da cidadania em uma sociedade democrática não se restringe ao ato de votar. Ele passa também pelo conhecimento do funcionamento dos mecanismos de controle social que você está aprendendo neste curso. Ao longo deste módulo, você vai aprender que a transparência e o compartilhamento das ações de uma gestão pública são ferramentas essenciais no fortalecimento de um regime democrático. Auxilia também na elaboração de mecanismos para o combate à corrupção. Você vai entender por que esse compartilhamento estimula cada vez mais os gestores públicos a agirem com mais responsabilidade e eficiência com os recursos públicos, impulsionando a participação cidadã e o fortalecimento do controle social. Você vai ver como o Brasil teve avanços significativos na transparência da gestão pública e que o Ceará, por exemplo, é um estado pioneiro na execução de plataformas de canais entre o setor público e o cidadão. 7 Você vai conhecer os portais da transparência, que devem oferecer facilidades de acesso aos cidadãos, com ferramenta de busca e navegação por temas. Além da função de controle, eles propiciam um ambiente colaborativo para troca de ideias e discussões sobre as prestações de contas dos serviços públicos. Que essa jornada seja enriquecedora rumo ao aprimoramento da gestão pública e à construção de uma relação sólida e confiável entre os gestores e a sociedade a que eles servem. Boa leitura! 8 2. RECORTE HISTÓRICO A preocupação com a gestão dos recursos públicos é crescente na sociedade brasileira. Ao longo dos anos, o Brasil conseguiu se destacar na viabilização da transparência da administração pública, por meio da elaboração de leis. São as leis que regulam a prática da transparência de todo ato administrativo. Mas o que é um ato administrativo? É a manifestação da vontade dos órgãos e agentes públicos que visam produzir efeitos jurídicos, regulando as relações entre o Estado e os administrados, ou seja, toda a sociedade. Os atos administrativos são fundamentais para o funcionamento e organização do Estado, pois permitem que a Administração exerça suas atribuições e regule as relações com os cidadãos e outras entidades. Por este motivo, é muito importante regular a transparência dos atos administrativos. Foi a regulação dos atos administrativos, ou seja, as leis, que permitiram (e permitem) que o país evoluísse e se tornasse modelo de referência na oferta de acesso à informação ao cidadão. Cada lei relacionada ao tema da transparência foi um passo a mais para a conquista de uma posição de destaque. Além disso, o apoio no combate à corrupção e o acesso à informação em tempo real foram primordiais para permitir o avanço e a evolução de plataformas de acesso à informação junto ao cidadão comum. 9 Tratar a importância da transparência ao longo dos anos é refletir sobre como a gestão pode ser eficaz com a publicidade de seus atos e, consequentemente, com o conhecimento público do que é realizado. Somente com seriedade e transparência nos serviços prestados à população é que ocorrerá a efetividade da gestão. A sociedade civil está cada vez mais preocupada com o destino dos recursos públicos e sua adequação para atender aos mais diversos interesses da população. Por isso, ela mesma deve atuar como controladora da gestão pública. Controlar como e o quê? Em primeiro lugar, a sociedade deve conhecer a administração pública. Precisa entender como os órgãos e entidades que compõem o Estado, como estrutura organizacional, estão trabalhando, e se estes atuam dentro dos limites legais. Estes limites estão basicamente determinados pela Constituição Federal, principalmente no que tange aos princípios básicos da administração. E quais são estes princípios? A legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. 10 PARA ENTENDER MELHOR Controle das contas públicas, uma preocupação global Esta preocupação não ocorre apenas no Brasil. A postura de controle das contas e atos públicos é uma referência mundial. Tanto é assim que, em 2003, a Assembleia Geral das NaçõesUnidas (ONU) promulgou a Convenção das Nações Unidas contra a corrupção. Observe que seus artigos 10 e 13 tratam sobre a informação pública e a participação da sociedade no acesso à informação. De acordo com Resende e Teodósio (2008), o governo necessita aprender a gerenciar, compartilhando o poder. As organizações da sociedade civil, por sua vez, devem cada vez mais superar diferenças, avançar em suas práticas de gestão e, também, no próprio controle social sobre suas atividades. Só assim podem atuar no espaço público local e alcançar os resultados esperados de sua gestão. https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/corrupcao/convencao.html 11 No Brasil, essa preocupação e tentativa de realizar uma democracia participativa, com fortalecimento na transparência dos atos da gestão pública, existe antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988. O princípio da publicidade, descrito no artigo 37 da nossa Constituição, remonta aos primórdios da administração organizacional do século XVIII e XIX, ainda sobre os auspícios do Estado Absolutista. Apesar de a elaboração normativa daquela época não se basear em princípios constitucionais próprios, algumas regras esparsas já norteavam os conceitos que hoje caracterizam os direitos constitucionais e administrativos. A separação dos poderes, por exemplo, foi o elemento propulsor das bases do direito constitucional e administrativo. Visou dar à legalidade caráter de maior segurança para as relações privadas e, consequentemente, para as relações do povo com o Estado, isto é, as relações públicas. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/2186546/artigo-37-da-constituicao-federal-de-1988 12 Avançando no tempo, podemos dizer que todo o período de redemocratização que antecedeu a Constituição de 1988 foi importante para a formação da conscientização de participação popular na realização dos serviços públicos e no pleno desenvolvimento de um Estado Democrático de Direito. Neste período, foram redimensionados valores e redistribuídas tarefas entre os entes federativos com base nos princípios da Administração Pública. Vamos aprender então um pouco mais sobre os princípios da Administração Pública. A legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência, contidos no artigo 37 da Constituição Federal de 1988, são a referência para o gestor público nortear sua atuação. 13 PARA ENTENDER MELHOR Princípios constitucionais dos atos administrativos O ato administrativo deve ser legal, tipicamente normatizado para trazer segurança jurídica à sociedade; Impessoal, para que o administrador realize sua conduta com um fim legal em si mesmo, isto é, imputado o ato ao ente ou órgão da administração e destinado, sem privilégios individuais, à coletividade; Moral, para estipular o cumprimento da norma em parâmetro com o interesse público social, de modo reto e objetivo; Publicitado, para informar à população com transparência o atuar da administração e que esta, conhecendo-os, possa agir como controle externo dos atos da gestão pública; Eficiente, para trazer no menor tempo a maior qualidade de ação, ou seja, a obtenção do melhor resultado com o uso racional dos meios. 14 3. O CONCEITO DE TRANSPARÊNCIA O que é transparência? Qual é a razão da transparência? E qual é a consequência da transparência? Estes questionamentos são de extrema importância para o desenvolvimento de uma administração pública séria e sustentável. Para você poder entender e responder estas perguntas, precisamos antes analisar alguns aspectos que norteiam a transparência, principalmente em relação à gestão pública e ao controle dos custos e contas do Estado. Estes aspectos estão diretamente ligados ao Direito Administrativo. O estudo do Direito Administrativo, no Brasil, até hoje não foi codificado. Tem-se, na realidade, uma legislação esparsa. Por isso os princípios são de vital importância na ausência deste sistema legal codificado. 15 ENTENDENDO A DIFERENÇA Princípios e Regras Os princípios jurídicos são normas de hierarquia superior as das regras. Os princípios são a base, o alicerce, o que sustenta todo edifício jurídico, uma autêntica bússola. São as diretrizes e os vetores a serem seguidos, servem como método interpretativo, definem a lógica, a racionalidade. Diferenciam-se das regras por serem mais abrangentes, pois traduzem valores a serem seguidos. Nos princípios, há alto nível de abstração. Nas regras, o nível de abstração é baixo. Elas são mais diretas e especificadoras de condutas administrativas operacionais em si. Os princípios criam a necessária uniformidade para o funcionamento das administrações, o que facilita o relacionamento do administrado com o Estado brasileiro. As regras a serem acatadas terão como fundamento exatamente esses princípios. 16 Violar um princípio é muito mais grave do que violar o artigo de determinada lei. Quem transgride, infringe e violenta um princípio está cometendo conduta de Improbidade Administrativa. Em outras palavras, está praticando ato ilegal ou contrário aos princípios básicos da Administração Pública no Brasil, durante o exercício de função pública ou decorrente desta. Bem compreendida a questão dos princípios e como eles norteiam a atuação do gestor público, você vai aprender agora um pouco mais sobre o princípio da Publicidade. Ele é um fundamento para o Estado Democrático de Direito, o principal instrumento por meio do qual as ilegalidades são levadas a público e devidamente impugnadas e desfeitas. A publicidade é, portanto, um desdobramento dos princípios republicano e democrático. No âmbito dos processos, a publicidade tem a função de viabilizar a participação das partes, bem como um controle, por parte da opinião pública, da função de julgar. Se o princípio da publicidade não fosse assim, como você poderia saber se determinado prefeito está agindo corretamente? É somente pela publicidade que se pode controlar os atos dos gestores públicos. Assim, o administrador público que cultiva o sigilo indevido, ofende frontalmente o princípio democrático. Daí, pode-se dizer que, na Publicidade, a palavra- chave é a transparência. A Publicidade visa proteger a transparência, para que o controle sobre a Administração Pública possa ser exercido. 17 PARA ENTENDER MELHOR Casa de vidro Metaforicamente, a Administração deve ser vista como uma casa de vidro onde a coletividade poderá enxergar o que está sendo realizado no seu interior. Assim, a transparência é exatamente a postura vislumbrada na norma que não resta dúvida à sua efetividade e validade, por ser clara e objetiva. EM RESUMO O princípio da Publicidade A Publicidade é um dos princípios da Administração Pública, explícitos na Constituição Federal de 1988. Estabelece que a Administração está obrigada a dar conhecimento ao público, pelos mais variados meios de comunicação previstos em lei, de todos os seus atos, decisões e atividades. Isso permite o controle interno, realizado pelas Corregedorias, Ministério Público e demais organismos de fiscalização. Também permite o controle externo, que deve ser feito pelo Poder Legislativo e pelos Tribunais de Contas, além do controle social, exercido pela sociedade civil. Fica claro, portanto, que, pelo princípio da Publicidade, torna-se obrigatória a divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo legal, quando a própria Publicidade pode causar lesão à finalidade do interesse público a ser atendido. 18 A conduta da gestão pública deve ser transparente para que a população compreenda sua atuação, não restando dúvidas sobre a integridade dos atos administrativos, e que eles obedeçam aos elementos legais, dentro dos poderes da administração pública e com foco nos pressupostos de existência, validade e eficácia do ato. DEFINIÇÕES Transparência Possibilitando maiorcontrole social das ações do governo, a transparência contribui no combate à corrupção, na apuração de condutas ilegais, como suborno e prevaricação, além de possibilitar o aumento da confiança na Administração Pública. A transparência é um instrumento essencial para o fortalecimento da democracia e incremento da legitimidade governamental. Ela se dá através da garantia do acesso às informações, do conhecimento da motivação das ações da Administração Pública e da participação popular, tanto nas definições das políticas públicas como nas tomadas de decisão. A transparência no agir administrativo propicia o controle social, colabora para a moralidade, impessoalidade e para a legalidade e, assim, contribui para a diminuição da judicialização exacerbada. (ARRUDA, 2019, p. 43-44) 19 PARA ENTENDER MELHOR Exemplo prático Um servidor pede a exoneração de seu cargo, a contar do dia 20 de abril. Só que, chegando em casa, depois de protocolar esse pedido na Administração, ele se arrepende, não quer mais ser exonerado. O servidor pode se arrepender? Ele pode evitar a exoneração, nessa situação? Considerando-se que a exoneração ainda não tenha sido publicada, ele poderá retratar-se. Diferentemente se o ato já se encontrar publicado no Diário Oficial. Neste caso, mesmo que o servidor manifeste seu desejo de desistência, esta já não pode ser concretizada porque se o ato foi publicado, já produziu sua eficácia. Em regra, todos os atos administrativos são publicados, porque pública é a Administração que os realiza, exceto os que a lei ou o regulamento excluam dessa imposição. Atos administrativos podem ser excluídos da imposição de publicação em razão de segurança nacional, investigação criminal ou interesse público. Mas isso exige prévia declaração e motivação em processo regular. Assim, a Constituição restringe a publicidade dos atos processuais, por exemplo, quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem ou ante possível escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem. 20 É muito importante você entender que a mera veiculação da notícia, pela imprensa falada, escrita ou televisada, do ato praticado pela Administração Pública não atinge a essência do princípio da Publicidade. Mesmo que a divulgação do ato ocorra em programas dedicados a noticiar, especificamente, assuntos relativos ao dia a dia administrativo. Nos casos dos atos individuais (atos com destinatários certos), a publicação só vale se for feita pessoalmente, como é o caso de intimação pessoal para quem responde a processo administrativo disciplinar, bem como aprovação em concursos públicos. Tudo o que você aprendeu até aqui está relacionado com a constante preocupação social sobre o destino e aplicabilidade dos recursos públicos. 21 Para fortalecer e normatizar esta preocupação, foi criada a Lei de Acesso à Informação, sancionada em 18 de novembro de 2011. Ela regulamenta o direito constitucional de acesso dos cidadãos às informações públicas. É aplicável aos três poderes da União, aos estados-membros, ao Distrito Federal e aos municípios. Esta lei representou um importante passo para a consolidação do regime democrático brasileiro e para o fortalecimento das políticas de transparência pública, possibilitando ao cidadão ter melhores condições de conhecer e acessar outros direitos essenciais, como saúde, educação e benefícios sociais. Respondendo então às perguntas do início desta seção, podemos dizer que a transparência é um princípio implícito da administração pública que permite à sociedade compreender os atos administrativos praticados pela gestão pública na consecução do bem comum por meio dos objetivos estatais. A transparência deve existir como mecanismo de controle externo da população sobre as condutas administrativas, tornando-as medidas de combate e prevenção à corrupção política. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm 22 4. AS LEIS E O ACESSO À INFORMAÇÃO C omo vimos anteriormente, o acesso à informação da gestão pública no Brasil está atrelado diretamente com o princípio da Publicidade, estabelecido no artigo 37 da Constituição Federal de 1988. Esse artigo proporcionou uma geração de fluxo de informações acessível a todos os interessados como os Tribunais de Contas, iniciativa privada e sociedade civil. O objetivo da Publicidade é a proteção da transparência que tem como objetivo proporcionar ao cidadão verificar e avaliar as ações de governo. Este princípio não só atua na divulgação dos atos administrativos, como também auxilia no conhecimento da conduta interna dos agentes públicos. Isto mostra que todos os atos administrativos dos agentes não devem ser sigilosos. 23 A Constituição Federal, nossa lei suprema, estabelece que todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral. Elas devem ser prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Outra lei que colabora com o acesso à informação no Brasil é a Lei Complementar nº 101/2004, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Junto à Constituição Federal, estabelece as normas gerais de finanças públicas. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm 24 O sistema de informações trazido pela LRF atende à demanda de informações perante a obrigação legal de emissão de relatórios de acompanhamentos. Em seus artigos, a LRF determina planejamento, controle, responsabilização e transparência. Em relação à transparência da gestão pública, a LRF mostra a necessidade do incentivo da participação popular, com a realização de audiências públicas. Estas audiências devem ser realizadas durante a elaboração dos projetos de políticas públicas e no curso da discussão dos planos plurianuais, da lei de diretrizes orçamentárias e dos orçamentos públicos. DICA DE ESTUDO Para saber mais sobre os Orçamentos Públicos, consulte o Módulo 1 (Os diferentes Orçamentos Públicos). Quais são os instrumentos de transparência considerados pela LRF? Os planos, os orçamentos e a lei de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e seu respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e a sua versão simplificada; o Relatório de Gestão Fiscal e a sua versão simplificada. Estes instrumentos, descritos no artigo 48 da LRF, auxiliam na definição mais objetiva sobre a transparência da gestão fiscal. 25 PARA ENTENDER MELHOR A transparência na LRF O parágrafo 1 do artigo 48 da LRF estabelece que a transparência será assegurada também mediante: I – Incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II - Liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; III – Adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A. 26 Outra Lei, a de nº 131/2009 veio ratificar o artigo 48 da LRF, inovando com a divulgação em tempo real da execução orçamentária, financeira e patrimonial. DICA DE ESTUDO Para saber mais sobre como a tecnologia auxilia o controle social das contas públicas, consulte o Módulo 5 (A tecnologia que facilita o controle social). E finalmente, foi com a promulgação da Lei de Acesso à Informação (LAI) que o Brasil consolidou a questão da transparência na gestão pública. A LAI permite uma maior participação popular e o controle social das ações governamentais. Ela fortalece as políticas de transparência pública, proporcionando uma melhoria na gestão pública.A LAI também define os mecanismos, prazos e procedimentos para a entrega das informações solicitadas pelos cidadãos à administração pública, possibilitando a efetividade do direito ao acesso já existente. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm 27 DEFINIÇÕES Mais sobre a LAI A LAI dá ao cidadão o direito de requisitar dos poderes públicos informações de seu interesse particular ou geral, que deverão ser fornecidas de maneira rápida, sob pena de responsabilização dos Poderes Públicos. Com essa lei, busca-se alcançar mais ainda a transparência. Ela permite ao cidadão, verdadeiro dono da coisa pública, a obtenção de informações a respeito da política e dos gastos públicos, com o fim de controlar a atividade estatal. A regra geral da LAI é a plena transparência, de modo que apenas a exceção deve ser motivada. Com isso, tenta-se romper com a cultura do segredo, impregnada na Administração Pública. É que, na era da informação em que vivemos, com a internet transformando o mundo, ao criar, inclusive, novas perspectivas para o direito, não se poderia deixar de aceitar as novas formas de publicidade, que geram transparência e tornam possível a própria igualdade. Até porque, sem informação não há como se falar em igualdade. (LEITE, 2022, p. 78) 28 A regulamentação do direito de acesso a informações tem como objetivo o desenvolvimento de uma cultura de transparência e de controle social da administração pública. Ela torna indispensável a divulgação e acessibilidade de informações de interesse público a qualquer pessoa. Logo, o princípio da Publicidade, como você já aprendeu, exige que a Administração aja não apenas com a publicidade de seus atos, mas, sobretudo, com transparência. A mais ampla divulgação das ações governamentais contribui não apenas para o fortalecimento da democracia, mas prestigia e desenvolve noções de cidadania, estimulando o controle por parte da sociedade. Assim, se a sociedade tem o poder de eleger seus representantes para gerenciar e administrar os recursos públicos, esses representantes devem apresentar a essa mesma sociedade informações que lhe permitam conhecer e avaliar como está sendo aplicado o dinheiro público arrecadado. Um governo transparente facilita aos cidadãos o acesso às informações de interesse público, divulgando seus atos de forma espontânea, e, sempre que possível, numa linguagem clara e de fácil entendimento, possibilitando a participação popular e o controle social. 29 EM RESUMO Transparência e acesso à informação A transparência e o acesso à informação são fundamentais para a consolidação da democracia e para a boa gestão pública. Além disso, são medidas preventivas contra a corrupção, pois incentivam os agentes públicos a agir com mais responsabilidade e eficiência. A transparência pública refere-se à obrigação imposta ao gestor público de divulgar e promover o conhecimento e a prestação de contas de sua atuação perante a população. Isso é feito com a publicização dos atos, ou seja, publicizando o que faz, quando faz, como faz, em quanto tempo faz, por que faz, onde faz, quanto custa o que faz, e qual é o planejamento de suas ações. 30 ENTENDENDO A DIFERENÇA Transparência Ativa e Transparência Passiva Na transparência ativa, o conjunto de informações mínimas que o Poder Público disponibiliza ocorre por iniciativa própria, independentemente de qualquer solicitação privada. São aquelas informações de relevante interesse público e coletivo produzidas ou mantidas por entidades públicas ou que utilizam recursos públicos. Na transparência passiva, a divulgação decorre da solicitação do cidadão ou interessado. Passados 12 anos da promulgação da LAI, houve uma nítida mudança de cultura em relação à transparência. Em que aspectos? No sentimento de sigilo eterno da coisa pública, no excesso de dificuldades para se ter acesso ao que é do interesse de todos, nos fluxos de funcionamento do Estado e de veiculação das informações, assim como na estruturação do sistema. Para facilitar o acesso às informações públicas pelo cidadão foram criados os sites do Portal da Transparência nas esferas federal, estadual e municipal. Seu objetivo é garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis e manter atualizadas as informações disponíveis para acesso. Se a coisa é do povo (res/pública) não há que se falar em governo do povo sem que este conheça a verdade, sem que este tenha informação real, pois não existe democracia sem verdade. 31 EM RESUMO A importância da tecnologia Os sites e portais institucionais, sejam municipais, estaduais ou federais, podem ser considerados um avanço. Eles possibilitam uma aproximação maior da sociedade com a gestão dos recursos públicos. Prestam informações e serviços a um custo bem menor de tempo e recursos para o cidadão. Para que sejam efetivos, a usabilidade do site é tão importante quanto seu conteúdo e serviços. A acessibilidade é outro aspecto muito importante nos sites e portais públicos institucionais, já que exclusão digital é um dos fatores que impedem a efetivação da cidadania. BODART, TORRES e SILVA (2015) O governo eletrônico não pode ser entendido apenas como a disponibilização online de serviços prestados aos cidadãos, mas sim como uma estrutura que possibilita a maior interação entre sociedade e governo. Da mesma forma que uma maior participação social na gestão e prestação das contas públicas. 32 5. O QUE É E O QUE NÃO É INFORMAÇÃO PÚBLICA N a tentativa de compreender a posição política brasileira no contexto contemporâneo, no que se refere a direitos humanos, de modo geral, e o acesso à informação pública, de modo específico, a Lei de Acesso à Informação não conceituou o que se entende por informação pública. Esta conceituação ficou a cargo da doutrina. DEFINIÇÕES Informação Pública Informação pública é um bem público, tangível ou intangível, com forma de expressão gráfica, sonora e/ou iconográfica, que consiste num patrimônio cultural de uso comum da sociedade e de propriedade das entidades/instituições públicas da administração centralizada, das autarquias e das fundações públicas. A informação pública pode ser produzida pela administração pública ou, simplesmente, estar em poder dela, sem o status de sigilo para que esteja disponível ao interesse público/coletivo da sociedade. Quando acessível à sociedade, a informação pública tem o poder de afetar elementos do ambiente, reconfigurando a estrutura social. (BATISTA, 2010, p.40) 33 Portanto, a informação pode ser produzida, guardada ou gerenciada pelo Estado em nome da sociedade, sendo alçada à condição de bem público. O seu acesso deve ser restringido apenas nas exceções previstas em lei. Logo, é possível solicitar, informações sobre: atividades exercidas pelos órgãos e entidades; utilização de recursos públicos, licitação e contratos administrativos; programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas; resultados das ações realizadas pelos órgãos de controle. 34 PARA ENTENDER MELHOR Alcances da LAI A principal diretriz da LAI é a observância da publicidade como preceito geral, e sigilo como exceção. Em outras palavras, a administração pública deve divulgar as informações de interesse coletivo ou geral, restringindo, somente, aquelas cuja segurança da sociedade ou do Estado assim a justifiquem. Nesse contexto, a LAI define os graus de sigilo da informação, estabelecendo prazos máximos para restrição de acesso. Esses prazos vigoram a partir da data da produção da informação, considerando, ainda, a gravidade do risco à segurança nacional e utilizando o critério menos restritivo possível. Dessa forma, a LAI restringe os casos em que a informação poderá ser sigilosa, como, por exemplo, pôr em riscoa vida, a segurança ou a saúde da população, ou prejudicar planos ou operações estratégicas das Forças Armadas. O Brasil segue as normas internacionais que determinam que as hipóteses de restrição de acesso à informação devem ser limitadas e definidas, basicamente referindo-se a ameaças à segurança nacional das democracias, não podendo basear-se na proteção aos atos ilegítimos dos governantes. (AGUIAR, 2018) 35 O acesso à informação detém limites, em situações nas quais entra em rota de colisão com direitos fundamentais ou previsões constitucionais de sigilo de informações estatais. Fica claro que existem situações em que o segredo é imprescindível, como em casos de estratégias de desenvolvimento de política comercial, planos de fiscalização, dados sobre investigação e prejuízo ou risco à sociedade. Mas o avanço efetivo na luta pelo direito de acesso à informação pública ocorrerá quando os órgãos da administração pública organizarem seus arquivos, tanto em meio físico como no virtual. Esse avanço também terá lugar quando possibilitarem à sociedade a apropriação de todos esses recursos. (BATISTA, 2012). Podemos dizer que ainda existe uma deficiência dos critérios oficiais de avaliação da transparência. Mesmo com a tentativa corriqueira de mudanças, o Estado continua marcado pela centralização e pelo autoritarismo, apesar de deter nichos isolados de modernização sem ser completamente moderno nem automaticamente republicano. Coexiste em seu interior diferentes princípios de estruturação: o patrimonial e o democrático, o que configura uma situação em que o Estado não controla a si mesmo, o que se expressa na fragilidade da maior parte de suas estruturas e recursos informacionais e na ausência de políticas de informação. Por outro lado, em consequência, a sociedade, que deveria exercer o controle social, não controla o Estado, pois são escassas as possibilidades de acesso à informação governamental. 36 Por tudo que você já aprendeu, fica claro que um Estado contemporâneo com pressupostos de modernidade requer visibilidade social. Essa visibilidade se consegue com a implementação de instrumentos gerenciais de controle social, por meio de informações claras e concisas veiculadas pelo próprio Estado para a população, produzindo acesso às informações de ação da gestão pública. Não significa dispor do mero dado, ao contrário, é dispor de modo pleno e compreensível à sociedade dos atos administrativos realizados, no intuito de o cidadão ser copartícipe no controle, na construção e na manutenção do Estado de Direito. 37 ENTENDENDO A DIFERENÇA Dados e Informação Dados são quaisquer elementos identificados em sua forma bruta que, por si só, não conduzem a uma compreensão de determinado fato ou situação. São uma sequência de símbolos ou valores, produzidos como resultado de um processo natural ou artificial. Já a informação é um dado contextualizado, capaz de transmitir uma mensagem e conhecimento. Pode ser apresentada em qualquer meio, suporte ou formato. Dados e informações podem estar armazenados em sistemas, banco de dados ou registrados em documentos, que são os denominados “suportes”. 38 6. CRIANDO UMA CULTURA DE ACESSO À INFORMAÇÃO C riar uma cultura de acesso à informação perpassa pelo pertencimento social de partícipe na construção e manutenção do estado social e da conjuntura política estatal. Hoje e para as gerações futuras. Deste modo, a legislação foi fundamental para proteger e incentivar a cultura de acesso à informação, pois regula a conduta do agente público e resguarda o interesse de todos a este acesso. 39 Nos primeiros anos da legislação de acesso à informação, a transparência foi truncada, em razão de uma prática conhecida como “transparência de mão dupla”. O que significa isso? Para se obter determinadas informações eram precisos informes dos solicitantes, o que dificultava o acesso às consultas. Era difícil até mesmo obter informação sobre a remuneração de servidores públicos, por exemplo. Este tipo de exigência deixou de ser usual em 2016, mas só a partir de 2018, por meio de uma plataforma específica, qualquer cidadão passou a poder solicitar informações sem precisar sequer se identificar. Ao longo dos anos, têm sido criadas ferramentas para a ampliação do acesso à informação no país. Para Sousa, Barbosa, Cabral e Santos (2018), a criação de vários portais na internet associados a programas de governo eletrônico apresenta-se como um estímulo para a ampliação do processo de prestação de contas públicas. 40 Com o objetivo de viabilizar a promoção da transparência pública e estimular a participação da sociedade no acompanhamento da gestão pública, a Controladoria Geral da União (CGU), promoveu em 2012 um marco histórico. A 1ª Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (1ª Consocial) foi um processo nacional coordenado que buscou acompanhar as ações da gestão pública numa conferência que envolveu 2.750 municípios – incluindo todas as capitais – de todos os estados e do Distrito Federal. Mobilizou quase 1 milhão de pessoas e contou com a participação direta nos debates de mais de 153 mil pessoas. De acordo com o relatório final desenvolvido pela 1ª Consocial, a conferência foi responsável pelo desenvolvimento de uma estratégia para incentivar a convocação de etapas preparatórias para o acompanhamento da gestão pública pelo poder local e pela sociedade civil. 41 Dessa maneira, o Estado do Ceará se destacou com a implantação de uma rede de ouvidorias, criada como ferramenta de gestão e controle social. De acordo com o portal Ceará Transparente, essa rede é composta pelas ouvidorias setoriais dos órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual, a quem cabe atuar na apuração e resposta das manifestações apresentadas pelo cidadão. É pautada nos princípios da horizontalidade e descentralização dos processos, exercendo a função de intermediadora dos cidadãos junto às instituições em que atuam, viabilizando um canal de comunicação. Esse modelo de gestão de ouvidorias em rede garante a uniformidade na gestão dos processos e de procedimentos, por meio de atuação integrada e do compartilhamento de informações e de boas práticas. Contribui com a implementação e o aperfeiçoamento das políticas públicas e a avaliação dos serviços prestados. Este compromisso com o acesso à informação rendeu ao Estado do Ceará, em 2018, o Prêmio Transparência e Fiscalização Pública 2018. O Ceará também recebeu o prêmio internacional iF Design Award 2018, na categoria Design de Serviços/UX para Governos e Instituições, com a plataforma Ceará Transparente. Esta nova plataforma estabeleceu um novo padrão de relacionamento entre o cidadão e o governo do Estado do Ceará. Seu objetivo é ser uma ferramenta completa, que obedeça a padrões internacionais, de forma inclusiva e de fácil navegação. https://cearatransparente.ce.gov.br/ 42 O Ceará também tem sido referência como um dos estados mais transparentes, alcançando lugares de destaque na Escala Brasil Transparente, promovida pelo Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), e no Ranking da Transparência, coordenado pelo Ministério Público Federal (MPF). No ano de 2020, o Ceará foi destaque mais uma vez na transparência em gestão pública, liderando o ranking de transparência de contratos emergenciais na pandemia, de acordo com a Organização Não Governamental Transparência Internacional. Em um levantamento de atuação dos governos estaduais, o Ceará ocupou o topo da lista em transparência na divulgação de seus recursos. Neste estudo, foram avaliados vários critérios: a disponibilidade de forma clara, completa e organizada na internet; a facilidade no acesso; o formato dos dados; se são facilmente encontrados por robôs de programação usados por especialistas e acadêmicos para análise; e canais de comunicação entre entes públicos e a população.https://cearatransparente.ce.gov.br/ 43 Estas práticas e ferramentas deixam evidente que a vontade política é um propulsor claro da aplicabilidade do princípio da transparência. Mesmo assim, apesar do salto civilizatório trazido pela LAI, ainda existem ameaças e obstáculos à efetividade da transparência. Entre estas ameaças podemos citar a não regulamentação regional ou local das normas; a forma de aplicação da norma pelos mais diversos municípios; a ausência de alimentação das plataformas de informações pelos entes federativos; as informações desencontradas, com falta de uniformidade; a falta de previsão orçamentária para a capacitação dos servidores públicos; a desorganização estrutural do ente/órgão/ gestão; e a inexistência de interesse político na efetivação da transparência dos dados. EM RESUMO Sem transparência não se cria cultura Criar uma cultura de acesso à informação perpassa também pela transparência das ações dos agentes públicos, seu planejamento de gestão, sua política de governo e seu olhar de estado. É preciso criar consciência de que a informação pública é pública, de propriedade de todos os cidadãos. Cabe ao Estado disponibilizá-la e atender aos anseios sociais de forma eficaz. 44 7. OS DIREITOS DE QUEM SOLICITA INFORMAÇÃO V ocê já aprendeu que todos os cidadãos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral. Essas informações devem ser prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade. Não se esqueça de que existem ressalvas, como para aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Portanto, podem pedir informações pessoas de qualquer idade e nacionalidade, além de empresas e organizações. O acesso à informação é um direito de todos e um dever do Estado. Ninguém precisa justificar um pedido de acesso à informação. Além disso, as informações são fornecidas gratuitamente, com exceção de eventuais custos de reprodução de documentos. É válido frisar que a Lei de Acesso à Informação deve ser aplicada para os três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive para os Tribunais de Contas e Ministério Público. Entidades privadas sem fins lucrativos também são obrigadas a dar publicidade a informações referentes ao recebimento e à destinação dos recursos públicos por elas recebidos. 45 PARA ENTENDER MELHOR O acesso é para todos Com base na Lei de Acesso à Informação qualquer pessoa pode solicitar informações públicas aos órgãos públicos, como por exemplo, ao Governo do Estado, à Assembleia Legislativa, à Prefeitura, à Câmara Municipal, ao Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE Ceará). O pedido não precisa ser justificado. Deve apenas conter a identificação do que se pretende obter (que tipo de informação se busca), e o contato do requerente para que lhe sejam prestadas as informações. A prestação de informações é gratuita, podendo ser cobrado apenas o custo pela reprodução (por exemplo, serviço de cópia, mídia magnética CD ou DVD para gravar os dados). O acesso à informação deve ser imediato, mas, se isso não for possível, a resposta deve ser fornecida em prazo máximo estipulado por norma. Esse prazo poderá ser prorrogado, devendo ser expressamente justificado. Somente haverá restrições ao acesso à informação se esta for classificada como sigilosa pelas autoridades competentes, na forma da Lei. Ou caso se trate de informações pessoais, relativas à intimidade da pessoa, ou à vida privada, honra e imagem. Caso as informações requisitadas não sejam fornecidas, isto é, se ocorrer o indeferimento do pedido formulado, ou se forem desrespeitados procedimentos como prazo de resposta, por exemplo, o interessado poderá interpor recurso contra a decisão no prazo de 10 dias a contar da sua ciência. O recurso será dirigido à autoridade hierarquicamente superior à que registrou a decisão impugnada, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias. 46 8. CAMINHOS PARA ACESSAR A INFORMAÇÃO PÚBLICA NO TCE CEARÁ A cessar informação junto ao TCE Ceará pode ocorrer pelo simples acesso ao seu site ou pelos canais de atendimento do TCE Ceará, dentre eles o Portal da Transparência. No portal, é possível consultar os dados dos municípios do Estado do Ceará ou do próprio TCE Ceará, por meio do exercício financeiro ou outros dados de escolha aleatória, como receitas, despesas, fornecedores, estrutura administrativa, licitações, agentes públicos etc. O Portal das Licitações do TCE Ceará possibilita a publicidade, a transparência e o controle social dos procedimentos licitatórios, garantindo a lisura e a eficiência, com a disposição dos editais e demais documentos. Além disso, o TCE disponibiliza à população uma Ouvidoria, instância de representação do cidadão junto ao TCE Ceará, onde há a permissão de participação social nas políticas e nos serviços públicos, promovendo uma relação com base no equilíbrio, no respeito e na ética. https://www.tce.ce.gov.br/portal https://municipios-licitacoes.tce.ce.gov.br/ 47 PERFIL DAS AUTORAS Ana Paula Araújo de Holanda Conselheira Federal da OAB/CE, Professora Universitária, Doutora e Mestre em Direito. Especialista em Direito Público. Presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ), Comissão Ceará. Vice-Presidente do Instituto dos Advogados do Ceará (IAC). Integrante do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e da Coalizão Nacional de Mulheres (CNM). Autora de livros, artigos científicos e diversos capítulos de livros. Andrine Oliveira Nunes Advogada e Professora Universitária. Consultora de Organismos Internacionais para Educação Superior e Políticas Públicas. Doutora e Mestre em Direito Constitucional. Especialista em Direito e Processo Tributário. Especialista em Direito e Processo Civil. Autora de diversos artigos científicos e capítulos de livros. Integrante da Diretoria Geral da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ); da Comissão Ceará; do Instituto dos Advogados do Ceará (IAC); da Academia Cearense de Direito (ACED), sendo neste ainda Diretora de Mulheres; da Coalizão Nacional de Mulheres (CNM), sendo também Coordenadora Geral no Estado do Ceará. Integrante do Instituto Empoderar e do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB). 48 BIBLIOGRAFIA AGUIAR, Leonardo Serra. Lei de acesso à informação e o desenvolvimento da cultura de transparência. 2018. 23f. TCC. (Especialização em Gestão Pública) – ENAP – Escola Nacional de Administração Pública. Brasília, 2018. ARRUDA, Carmen Silvia Lima de. O princípio da transparência. São Paulo: Quartier Latin, 2019. BARRETT, P. 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Impessoalidade: refere-se sempre à ação de se abster da sua pessoa perante a situação coletiva. Ou seja, o servidor público tem o dever de evitar a promoção ou o uso da imagem como um indivíduo importante no processo de administração para não influenciar ou se autopromover por conta do cargo que ocupa. Isonomia: refere-se ao princípio da igualdade previsto no art. 5º, “caput”, da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Legalidade: qualidade ou estado do que é legal, do que está conforme com ou é governado por uma ou mais leis. Moralidade: relaciona-se com a atuação dos agentes públicos de acordo com valores como probidade (honestidade administrativa), necessidade de agir, lealdade, boa-fé, honestidade. Também pretende evitar ações que visem confundir, dificultar ou minimizar direitos dos cidadãos e cidadãs. Realização _GoBack
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