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17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18 ARQUEOLOGIA AULA 1 Prof.ª Ana Luíza Berredo 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18 CONVERSA INICIAL A arqueologia é uma área de estudos que chama muito atenção do público, pois povoa o imaginário das pessoas em virtude dos filmes, livros, histórias em quadrinhos e narrativas que insistem em perpetuar uma aura misteriosa, remetendo aos extraterrestres ou a busca por um tesouro perdido em alguma ilha do planeta. Outro equívoco muito frequente é a associação da arqueologia com o estudo dos dinossauros ou vinculá-la apenas ao estudo das múmias egípcias. Nesse sentido, cabe o questionamento: afinal, o que estuda a arqueologia? Essa é a pergunta que motivou esta aula, que tem como objetivo definir conceitos e exemplificar quais os objetos de estudo ligados a esse campo de pesquisa. Serão apresentadas as principais áreas de estudo, os sítios arqueológicos e seus materiais, a fim de compreender como as pessoas utilizavam e transformavam o seu ambiente e objetos. TEMA 1 – RELAÇÃO DA HISTÓRIA COM A ARQUEOLOGIA A história que se consome tornou-se recurso terapêutico para preencher os vazios, para romper o isolamento dos subúrbios de passado sem memória. O historiador desempenha então o papel de conservador: ele tranquiliza. (François Dosse) 1.1 O PAPEL DO HISTORIADOR E A AS CIÊNCIAS HUMANAS O historiador em uma sociedade se faz importante principalmente na falta de um presente que entusiasme e perante um futuro inquietante. O passado é visto como lugar de investimento de uma identidade imaginária que pode ser perdida. Assim, o papel do historiador é garantir que essa perda não ocorra. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18 Entretanto, é interessante ressaltar que, dentro das ciências humanas, também existem profissionais, como arqueólogos, que estudam o comportamento humano procurando preservar e contar as histórias de grupos do passado e do presente. Durante muito tempo, estivemos acostumados a estudar as sociedades a partir dos textos escritos, sobretudo quando se trata de sociedades europeias, como gregas e romanas. Nesse cenário, os historiadores analisam especialmente os documentos escritos, enquanto sociólogos e antropólogos privilegiam a observação direta e os testemunhos orais (Prous, 2007). No entanto, para conhecer as sociedades com ou sem escrita, é necessário voltar a atenção a outros aspectos presentes entre os seres humanos: os objetos. 1.2. A PESQUISA DA CULTURA MATERIAL Os objetos produzidos no decorrer de toda a história da humanidade correspondem à materialidade estudada pelos arqueólogos. Nela, inclui-se a construção de paisagem (física e cultural), influência de hábitos e costumes, expressão do modo de vida e relações sociais, além do modo de sentir o mundo (Pereira, 2017). Nesse sentido, os arqueólogos buscam compreender o mundo do passado e contemporâneo por meio da cultura material. Conforme ressalta Gaspar (2000), a arqueologia é a ciência que estuda as culturas a partir dos seus aspectos materiais, construindo suas interpretações pela análise dos artefatos e remanescentes biológicos, seus arranjos espaciais e sua implantação na paisagem. Incorpora desde informações advindas de documentos escritos e da tradição oral e, principalmente, provenientes da cultura material, construindo uma interpretação que desvenda interessantes aspectos dos segmentos sociais estudados. Ulpiano Bezerra de Menezes (1983) destaca que o estudo do artefato como documento fornece informações quanto à matéria-prima do objeto, tecnologia utilizada na sua confecção, morfologia e funções, além de demonstrar a carga de significação do objeto e as possíveis formas de organização da sociedade que os produziu. Desse modo, Menezes (1983, p. 112) ressalta que a cultura material pode ser entendida como um meio físico que é socialmente apropriada pelas sociedades e que por apropriação social convém pressupor que o ser humano intervém, modela, dá forma a elementos do meio físico, segundo 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/18 propósitos e normas culturais, abrangendo tanto artefatos, estruturas e modificações da paisagem quanto coisas animadas e também o próprio corpo, à medida que ele é passível de manipulações e de arranjos espaciais. TEMA 2 – ARQUEOLOGIA VERSUS PALEONTOLOGIA Conforme já mencionado, é frequente a confusão das pessoas em relacionar os estudos da arqueologia com os da paleontologia. Mas, afinal, qual é a diferença entre essas duas ciências? 2.1 ARQUEOLOGIA É o estudo da humanidade que investiga aspectos culturais, biológicos e sociais. É o estudo das sociedades do passado e do presente pela sua relação com a materialidade e com a paisagem. Trabalha com uma equipe multidisciplinar, incluindo arqueólogos, historiadores, antropólogos, geólogos, biólogos, fotógrafos, químicos etc., que busca estudar a cultura material, incluindo ossos humanos ou de animais – encontrados em sítios arqueológicos –, cerâmicas, vidros, fibras, carvões, artefatos líticos, arte rupestres etc. Ou seja, qualquer coisa relacionada à existência da humanidade. Cabe destacar que o arqueólogo não trabalha com fósseis, uma vez que estes designam materiais muito mais antigos do que a origem dos seres humanos. Figura 1 - Escavação arqueológica, onde está sendo evidenciada um esqueleto humano 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/18 Créditos: Microgen/Shutterstock. 2.2 PALEONTOLOGIA A paleontologia é a ciência que estuda os remanescentes dos seres vivos preservados no período da origem da vida na Terra. Trabalha juntamente com a Biologia e a Geologia, analisando vestígios botânicos, como plantas, e vestígios zoológicos, como animais – esses materiais são chamados de fósseis. Os paleontólogos buscam entender a evolução das espécies e como os ambientes do planeta se transformaram ao longo da história geológica . Nesse sentido, é nessa área que se insere os estudos dos dinossauros e dos fósseis. Figura 2 – Paleontólogos escavando um fóssil de dinossauro [1] 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/18 Créditos: Gorodenkoff/Shutterstock. TEMA 3 – OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Correspondem a qualquer localidade que apresenta evidência de presença anterior ou influência de seres humanos. Os estudos dos sítios arqueológicos servem para entendermos o mundo em que vivemos, refletir sobre nossas identidades, bem como entender o desenvolvimento social e econômico das sociedades. De acordo com Meneses (1984, p. 34), “sítios arqueológicos são compreendidos como um espaço de concentração de vestígios arqueológicos, mas constituindo ele próprio um "artefato" e não somente o depósito de "achados" arqueológicos”. 3.1 PRINCIPAIS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS De acordo com o Anne Rapp Py-Daniel (2017, p. 18-20), existem alguns tipos de sítios arqueológicos identificados. Áreas residenciais: onde as pessoas moravam e realizavam as atividades do dia a dia, desde preparar alimentos até fabricar suas ferramentas. Áreas de enterramento: marcadas pela presença de sepultamentos humanos e locais identificados como cemitérios, que também podem ocorrer em área aberta ou cavernas. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/18 Geoglifos: estruturas de terra de tamanho monumental cujas formas geométricas remetem a retângulos, quadrados, círculos e hexágonos. São formados por valas e montes de terras acumulados e os indícios desse tipo de sítio são frequentes na Amazônia (Acre, Rondônia, Amazonas) e também na Bolívia e no Peru. Figura 3 – Geoglifo em Nazca, Peru Créditos: Daniel Prudek/Adobe Stock Photos. Megalíticos: blocos de pedras grandes erguidos na vertical que criam monumentos. O mais famoso é de Stonehenge (Inglaterra) e os Moais, na Ilha de Páscoa.No Brasil, há um exemplar de megalítico na Amazônia, em Calçoene, no estado do Amapá. Figura 4 – Stonehenge 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/18 Créditos: Mr Nai/Shutterstock Arte rupestre: desenhos pintados e gravados sobre rochas. Representam o conhecimento dos povos antigos que pintaram pessoas, animais e atividades dos seus cotidianos. A arte rupestre está presente em vários ambientes, como em paredões a céu aberto, sob abrigos e cavernas. Figura 5 – Painel de pinturas do Rio Santa Cruz “Cueva de las manos” – Argentina 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/18 Créditos: Dante Petrone/Shutterstock Sambaqui: palavra de origem tupi que significa amontoado de conchas. Localizados em praticamente todo o litoral brasileiro ou em áreas fluviais, foram intencionalmente construídos pelos humanos do passado e são caracterizados por sua grande quantidade de conchas, ossos de peixes, fragmentos de carvões e principalmente pela presença de sepultamentos humanos, sendo identificados, na maioria das vezes, como sítios-cemitérios, com raras exceções. Seus exemplares em Santa Catarina chegaram a alcançar até 70 metros de altura, ganhando a alcunha de monumento arqueológico na paisagem litorânea, o que lhes rendeu o título, de acordo com a arqueóloga Maria Dulce Gaspar, de “os soberanos da costa brasileira”. Figura 6 – Exemplar de sambaqui presente no litoral brasileiro, cuja principal característica é o acúmulo de conchas em formato monticular. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/18 Créditos: Luciana Tancredo/Shutterstock Cerritos: são estruturas arqueológicas monticulares constituídas predominantemente de terra e materiais como ossos de animais, instrumentos líticos e cerâmicos, além de apresentarem estruturas de fogueiras e enterramentos humanos. Estão localizados no sul da América do Sul, distribuídos nas porções leste e norte do Uruguai, Sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e porção Nordeste da Argentina (Milheira et al., 2016). Acampamentos: moradias temporárias de grupos que se deslocavam em busca de alimentos e matérias-primas para ferramentas. Existem sítios de acampamento a céu aberto, sob abrigos e cavernas. Sítios históricos: referentes ao período colonial e pós-colonial brasileiro. Os arqueólogos dispõem de variadas fontes de pesquisas como a documentação escrita, iconografias e cartografias. As evidências arqueológicas de sítios históricos incluem estruturas de construções antigas como fazendas, casas de engenho, senzalas, moedas, cerâmicas, faianças, porcelanas, metais, vidros, plástico etc. Terra Preta Indígena: designada como “ampla extensão de solos que resultam de ocupações indígenas pré-coloniais. São solos muito férteis e estáveis, correlacionados à deposição de 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/18 matéria orgânica, maior espessura do refugo ocupacional e maior densidade de cerâmica que indicam áreas de atividades constituídas ao longo do tempo por diferentes processos de ocupação humana no passado da Amazônia” (Amorim Costa et al., 2015, p. 52). 3.2 PRINCIPAIS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS NO BRASIL O Brasil é um país riquíssimo em termos de paisagens naturais e modificadas e, por isso, o número de exemplares de sítios arqueológicos é extenso. Em se tratando de sítios de arte rupestre, temos os paredões da Toca do Boqueirão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí), considerado pela Unesco um Patrimônio Cultural da Humanidade, onde aparecem cenas de caças de animais e outros momentos do cotidiano da população da região. Figura 7 – Arte Rupestre na Toca do Boqueirão da Pedra Furada. Parque Nacional da Serra da Capivara Créditos: Marcio Isensee e Sá/Adobe Stock Photos. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/18 Outro sítio arqueológico muito conhecido por causa de um esqueleto encontrado é o sítio Lapa Vermelha IV, na região de Lagoa Santa (Minas Gerais), onde foi encontrado o primeiro crânio identificado como pertencente ao sexo feminino e que recebeu a denominação de Luzia. O crânio foi descoberto em meados da década de 1970 a partir da missão arqueológica franco- brasileira, coordenada por Annette Laming-Emperaire em um abrigo sob rocha no município de Pedro Leopoldo e tem datação entre 12500 e 13000 anos, considerado o mais antigo crânio do continente americano e parte da sua história se imbrica com o modo de povoamento das Américas (Feathers et al., 2010). Um exemplar de sítio histórico a ser destacado no Brasil é o antigo Cais do Valongo, situado no centro da cidade do Rio de Janeiro. Corresponde ao local onde desembarcaram centenas de milhares de africanos que chegaram ao Brasil para serem escravizados, cujo funcionamento remete à data de 1811 (Lima, 2013b). O Cais do Valongo foi considerado Patrimônio Mundial da Unesco, em 2017, por ser um importante exemplar material do principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas. De acordo com o proposto pelo IPHAN, tal reconhecimento demonstra o seu valor como memória da violência contra a humanidade representada pela escravidão e de resistência, liberdade e herança, fortalecendo as responsabilidades históricas do Brasil e de outros países membros da Unesco . Figura 8 – Cais do Valongo, Rio de Janeiro [2] 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/18 Créditos: Rodrigo S Coelho/Shutterstock. TEMA 4 – AS DEFINIÇÕES DE ARQUEOLOGIA “PRÉ-HISTÓRICA” E HISTÓRICA A arqueologia pode ser dividida em duas vertentes: pré-histórica, também chamada de pré- colonial no Brasil, marcada pelo estudo dos objetos com datações mais antigas que 1500; e histórica, onde aos estudos dos objetos e seus contextos são acrescentadas novas fontes, como a documentação escrita. 4.1 ARQUEOLOGIA “PRÉ-HISTÓRICA” O termo pré-história precisa ser refletido na atualidade. Originalmente designava o período da vida humana anterior ao surgimento dos primeiros documentos escritos. Porém, o fato de povos antigos não serem letrados não significa que não tinham história, pelo contrário, a descoberta dos sítios arqueológicos mostra a existência de sociedades complexas e que tinham modos de vida e de relações que vão além das documentações escritas. Os povos ágrafos – sem escrita – têm o próprio contexto arqueológico como fonte de dados para a pesquisa. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/18 Cabe destacar que os primeiros estudos da arqueologia se deram no continente Europeu e, por isso, a visão de pré-história desses pesquisadores não leva em conta a realidade brasileira. Assim, é comum que o período anteriormente designado de pré-história brasileira também seja chamado de período pré-colonial. De acordo com Funari e Noelli (2012), a pré-história brasileira inicia-se com a ocupação do território por meio de migrações de populações advindas da transposição do Estreito de Bering em torno de 10 mil anos AP . Os autores chamam a atenção também para a nomenclatura paleoíndio brasileiro, quando se referem ao primeiro esqueleto das Américas: o crânio de Luzia. 4.2 ARQUEOLOGIA HISTÓRICA De acordo com Orser Junior (1992), a arqueologia histórica abarca o estudo dos artefatos, estruturas, documentos escritos, mapas, pinturas, desenhos, iconografias, histórias e testemunhos orais, além das transformações na paisagem. Para as pesquisadoras Rosana Najjar e Maria Cristina Coelho Duarte (2002, p. 8), no Brasil, a arqueologia histórica se estabeleceu na década de 1960, quando foram realizados os primeiros estudos sistemáticos de ruínas do século XIX, de aldeias espanholas e missões jesuíticas. Segundo as autoras, a partir desse momento, sítios históricos de naturezas diversas foram despertando a atenção dos pesquisadores brasileiros, que acabaram exaltando aspectos ligados aos contatos interétnicos e ligados aos monumentosedificados. TEMA 5 – DATAÇÕES ARQUEOLÓGICAS Um ponto importante a se destacar é o modo como os arqueólogos trabalham com as datações dos sítios arqueológicos. Para os sítios históricos, é possível inferir as datas das construções, das manufaturas dos objetos e dos documentos escritos. No entanto, para os materiais dos povos ágrafos, foi necessário a busca por outras formas de datações que foram divididas em datação relativa e absoluta. 5.1 DATAÇÃO RELATIVA [3] 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/18 As datações relativas correspondem a um método aplicado para organizar artefatos arqueológicos em ordem do mais antigo para o mais recente, baseando-se em tecnologias, formas e/ ou estilos que mudam ao longo do tempo (Rapp Py-Daniel, 2017, p. 35). Podem ser aplicadas em campo, especialmente em se tratando de sítios históricos, comparando com a sobreposição das camadas arqueológicas em que os objetos foram encontrados. No entanto, esse tipo de datação está em desuso e não é indicado para todos os tipos de sítios arqueológicos, pois alguns deles, como os sambaquis, possuem camadas monticulares que se imbricam, dificultando a aplicação da datação relativa. 5.2 DATAÇÃO ABSOLUTA – RADIOCARBÔNICA As informações cronológicas de objetos antigos foram recuperadas a partir da descoberta de uma forma de datar que investigava a presença de carbono no material. Tal descoberta ocorreu na década de 1950, quando os pesquisadores identificaram o elemento químico carbono como um indicativo da idade dos componentes orgânicos. De acordo com Rapp Py-Daniel (2017), o carbono é um dos elementos essenciais para a vida na terra e está presente nos animais, plantas e seres humanos. Quando um arqueólogo encontra ossos, conchas, carvões, madeiras, cerâmicas etc., é possível identificar a quantidade de carbono que ainda restaram nos materiais e, a partir disso, obter a datação. Cabe destacar que o método de datação radiocarbônica apresenta variações e, por isso, todas as datas são expressas com o símbolo ±. A forma com que os arqueólogos escrevem as datações também deve ser elucidado, pois, como trabalham com espaços temporais muito amplos, foi necessário estabelecerem convenções para expressar as datas. De modo geral, utiliza-se A.C para acontecimentos “Antes de Cristo” e D.C. para “Depois de Cristo”. No entanto, dentro do campo de estudos da arqueologia, surge uma nova sigla que é A.P., que significa “Antes do Presente”. De acordo com Gaspar (2000, p. 8), “antes do presente” significa antes de 1950, remetendo à época da descoberta da técnica de datação pelo Carbono 14, que se deu em 1952. Para exemplificar, se temos um sítio arqueológico datado em 6500 anos A.P., significa que o evento ocorreu 6500 anos antes de 1950, o que equivale a 4550 anos a.C. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/18 NA PRÁTICA A escolha da profissão de arqueólogo implica em primeiramente desconstruir a visão de que a arqueologia trabalha com “desvendar mistérios”, caças ao tesouro ou relacionadas aos estudos dos dinossauros. Na prática, trabalhar com arqueologia significa ter uma equipe multidisciplinar que incluem historiadores, antropólogos, biólogos, químicos, físicos, geólogos, geógrafos etc., que desenvolverão as pesquisas em conjuntos para uma interpretação dos resultados que levem em consideração o estudo da cultura material e do contexto em que foram encontradas, incluindo a paisagem modificada pela ação humana. O arqueólogo trabalha com a materialidade que foi transformada pela ação humana e, por isso, a proposta de atividade é refletir sobre a cultura material presente em nossas vidas. Para a realização do exercício, será necessário escolher um objeto e realizar pesquisa escrevendo sobre: 1. Qual é o ano de fabricação? 2. Qual é o material de confecção? 3. Para que serve? Ainda é utilizado nos dias de hoje? 4. Qual é a relação pessoal/familiar que você tem com o objeto escolhido? A partir da atividade, você poderá colocar em prática a pesquisa da materialidade presente em sua própria vivência. FINALIZANDO Esta aula pretendeu trazer os conceitos iniciais de definição da arqueologia como a ciência que estuda as ações humanas a partir da cultura material e da paisagem transformada. É fundamental não confundir com o objeto de estudos da paleontologia e também saber identificar os tipos de sítios arqueológicos existem no mundo e, em especial, no Brasil, onde foi encontrado o mais antigo crânio das Américas. A problematização do termo pré-história deve ser levado em consideração, uma vez que povos sem escritas também possuíam história, como podem ser visualizados nos paredões de pinturas rupestres, nos sambaquis e nos sítios de terra de preta da Amazônia, cujos exemplares de cultura material mostram que eles utilizavam dos recursos da paisagem atestando a complexidade das sociedades do passado. 17/04/23, 09:31 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/18 REFERÊNCIAS AMORIM COSTA, J. et al. Caracterização de solos com Terra Preta: estudo de caso em um sítio Tupi-Guarani pré-colonial da Amazônia Oriental. Revista de Arqueologia, [S. L.], v. 28, n. 1, p. 52–81, 2015. FEATHERS, J. et al. 2010. How old is Luzia? Luminescence dating and stratigrafic integrity at Lapa Vermelha, Lagoa Santa, Brazil. Geoarchaeology, 25 (4), 395-436 FUNARI, P. P.; NOELLI, F. Pré-História do Brasil: as origens do homem brasileiro – o Brasil antes de Cabral: descobertas arqueológicas recentes. São Paulo: Contexto, 2002. 110p. GASPAR, M. D. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2000. 92 p. LIMA, T. A. Arqueologia como ação sociopolítica: o caso do cais do Valongo, Rio de Janeiro, século XIX. Vestígios, Revista Latinoamericana de Arqueologia Histórica, Belo Horizonte, v.1, n.7, p.177-204, 2013b. MENEZES, U. B. A Cultura material no estudo das sociedades antigas. Revista De História, São Paulo: USP. N.15, P. 103-117, 1983. (Nova Série) MENESES. U. B. Identidade cultural e arqueologia. Revista do patrimônio histórico e artístico nacional, n. 20, 33-36, 1984. MILHEIRA, R. G. et al. Arqueologia dos Cerritos na Laguna dos Patos, Sul do Brasil: uma síntese da ocupação regional. 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