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MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Capacitação a distância Direitos da Pessoa Idosa Realização Patrocínio SECRETARIA NACIONAL DE PROMOÇÃO E DEFESA DOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA Apoio Capacitação a Distância – Direitos da Pessoa Idosa MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Copyright 2019: Instituto brasileiro de Administração Municipal – IBAM Ficha Catalográfica elaborada por Cinthia Pestana Viana CRB-7/6431 - Biblioteca do IBAM CENSO EXPERIMENTAL 2019 I59 Instituto Brasileiro de Administração Municipal Capacitação a distância: direitos da pessoa idosa. / IBAM/SNPDDPI; [conteudistas] Louise Storni e Rosimere de Souza. [Colaboração: Ricardo Cesar Figueiredo de Moraes] – Rio de Janeiro: IBAM, 2019. 4 v. Inclusão e Diversidade Humana; Modulo. 1 Princípios e marcos normativos dos direitos da pessoa idosa; Modulo. 2 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa; Modulo 3 Políticas públicas e a pessoa idosa; Modulo. 4 1. Idosos. Cuidado e tratamento. Manuais, guias, etc.. 2. Idosos. Estatuto legal, leis, etc.. Brasil. 3. Envelhecimento. Brasil. 4. Saúde pública. Brasil. I. Storni, Louise. II. Souza, Rosimere de III. Instituto Brasileiro de Administração Municipal. IV. Brasil. Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, V. Título. CDU 613.98 Página | 2 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa República Federativa do Brasil Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Presidente da República Jair Messias Bolsonaro Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves Secretário Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa Antônio Costa Secretário Adjunto de Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa Paulo Fernando Melo da Costa Coordenadora-Geral do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso Eunice da Silva Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM Escola Nacional de Serviços Urbanos – ENSUR Superintendente Geral Paulo Timm Diretora da ENSUR Tereza Cristina B. Baratta Coordenação de Ensino Márcia Costa Alves da Silva Gestão Acadêmica Silvia Kelly Leão Silva de Freitas Administrativo e Financeiro Andréia Azevedo Silva Anderson da Silva e Silva Normalização Bibliográfica Cinthia Pestana Capacitação à Distância - Direitos da Pessoa Idosa Supervisão Técnica Tereza Cristina B. Baratta Coordenação Pedagógica Márcia Costa Alves da Silva Gestão Acadêmica Silvia Kelly Leão Silva de Freitas Colaboração: Andréia Azevedo Silva e Tito Ricardo de Almeida Tortori Profissional de TI Roberto da Silva Gonçalves Assistente Administrativa Selma Rodrigues de Lacerda Teixeira Comunicação Ewerton da Silva Antunes Conteudistas Louise Lima Storni Rocha Rosimere de Souza Colaboração: Ricardo Moraes Página | 3 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo(a) ao Módulo 3! Neste módulo, você aprenderá sobre o conceito de desenho universal e o direito à acessibilidade que abrange o acesso a bens, produtos e serviços com equiparação de oportunidades, de forma a promover autonomia e qualidade de vida para a pessoa idosa. OBJETIVO Ao final deste módulo, espera-se que você seja capaz de: definir acessibilidade; identificar os marcos legais que tratam da acessibilidade no Brasil; definir desenho universal; diferenciar os conceitos de autonomia e independência; reconhecer os fatores de risco e prevenção de quedas; compreender o papel do cuidador de idosos. Página | 4 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 3 OBJETIVO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 - Conceito de Acessibilidade e Políticas Públicas............................ 5 1.1. Histórico e conceito de acessibilidade?? ....................................................5 1.2. Conceito de desenho universal? .................................................................8 1.3. Tipos de acessibilidade .................................................................................9 1.4. Marcos legais de acessibilidade no Brasil ............................................... 11 UNIDADE 2 - Cuidados com a Pessoa Idosa e sua Autonomia ........................ 14 2.1. Autonomia e independência do idoso .................................................... 14 2.2. Cuidados com quedas ............................................................................... 17 2.3. O papel do cuidador .................................................................................. 19 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 23 Página | 5 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa UNIDADE 1 Conceito de Acessibilidade e Políticas Públicas A Política Nacional do Idoso (Lei nº 8842/1994) tem como objetivo assegurar à pessoa idosa seus direitos sociais, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Reconhece a questão da velhice como prioritária no contexto das políticas sociais e propõe criar condições para promover a longevidade com qualidade, colocando em prática ações voltadas não apenas para os que são idosos, mas também para aqueles que estão em processo de envelhecimento ou que vão envelhecer no futuro, isto é, todos nós. Há, no cenário brasileiro, uma gama de leis destinadas a proteger os direitos das pessoas idosas e das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, que se complementam. Para a inclusão das pessoas idosas na sociedade, é necessário que lhes sejam dadas garantias de atendimento prioritário, como também condições de utilizar plenamente os ambientes, objetos e serviços necessários à sua existência, com autonomia, independência e segurança, da mesma forma que para aquelas com deficiência. Ao longo desta unidade, veremos a importância das leis gerais de acessibilidade que foram criadas para amparar as pessoas idosas evitando que estas tenham seu direito à prioridade no atendimento violado, bem como não sofram com a imposição de barreiras arquitetônicas, urbanísticas e nos transportes que as impeçam de circular livremente, de maneira segura e autônoma. 1.1. Histórico e conceito de acessibilidade?? Quando falamos em acessibilidade, é comum relacionarmos esse conceito apenas às necessidades das pessoas com deficiência. Contudo, devemos lembrar que as leis gerais de acessibilidade foram criadas para amparar também pessoas idosas, além de outras com necessidades especiais, mesmo que temporárias, como gestantes, lactantes, pessoas obesas, e outros grupos com restrição à mobilidade. Página | 6 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Saiba mais! Conheça algumas leis que tratam de acessibilidade: Lei nº 10.048 - Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica e outras providências; Lei nº 10.098 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências; Decreto nº 5.296 - Regulamenta as Leis nº 10.048, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e nº 10.098, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas comdeficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. O Brasil segue a tendência mundial segundo a qual, à medida que a medicina e a tecnologia evoluem, a expectativa de vida está aumentando, provocando um envelhecimento da população. No que tange à mobilidade, é preciso que as cidades criem formas de garantir maior autonomia e segurança à pessoa idosa. Pensemos, por exemplo, no cotidiano de um transeunte da cidade. Superar rampas íngremes, degraus e outros tipos de obstáculos pode parecer algo simples para quem está em plena forma física, porém, pode significar um grave limitador para pessoas acima dos 60 ou 70 anos, além do risco de quedas ou torções. Em uma sociedade plural, a acessibilidade é um direito fundamental que tem sido objeto de discussões nas últimas décadas, resultado das conquistas de movimentos sociais e da evolução de marcos jurídicos, como, por exemplo, a aprovação do Estatuto do Idoso, no caso brasileiro. É preciso pensar no planejamento dos espaços construídos e no design de produtos e serviços de forma que pessoas idosas sejam seus usuários legítimos e dignos, sem precisarem vivenciar situações diárias de violação de direitos humanos, inclusive com doses de constrangimento e exposição. Pausa para refletir Você já parou para pensar o que é exatamente a acessibilidade? Segundo a arquiteta e urbanista Adriana R. Prado (2010), para melhor entender a acessibilidade é importante observar conceitos como impedimento e equiparação de oportunidades, definidos no Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência da ONU, do qual o Brasil é signatário, e que contextualizam a sua importância e valor. Veja a definição desses conceitos a seguir: Página | 7 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Impedimento: situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em consequência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de um papel que é normal em seu caso, em função de idade, sexo e fatores sociais e culturais. O impedimento ocorre em função da relação entre as pessoas incapacitadas e o seu ambiente. Equiparação de oportunidades: é o processo mediante o qual o sistema geral da sociedade – como o meio físico e cultural, moradia e transporte, serviços sociais e de saúde, oportunidades de educação e de trabalho, vida cultural e social, inclusive instalações desportivas e de lazer – se torna acessível a todos (Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, 1982, p.13). Podemos entender que o impedimento não está no individuo, mas sim na sua relação com o ambiente. Ambientes com barreiras intimidam as pessoas, inibem a expressão das habilidades e oferecem poucas oportunidades para o desenvolvimento de seus potenciais (PRADO, 2010). De acordo com a NBR 9050 da ABNT, a acessibilidade é definida como a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. O termo “acessibilidade” tomou impulso ainda no século passado. Segundo o autor Romeu Kazumi Sassaki (2009), a origem do uso desse termo para designar a condição de acesso das pessoas com deficiência está no surgimento dos serviços de reabilitação física e profissional no final da década de 1940. Na década de 1950, com a prática da reintegração de adultos reabilitados ocorrida na própria família, no mercado de trabalho e na comunidade em geral, profissionais de reabilitação constatavam que essa prática era dificultada e até impedida pela existência de barreiras arquitetônicas nos edifícios e residências, no meio urbano e nos meios de transporte coletivo. Já na década de 1960, com o retorno dos mutilados da Guerra do Vietnã, ganhou força o movimento pela vida independente nas cidades norte-americanas – embrião dos Centros de Vida Independente atualmente espalhados por diversos países, inclusive no Brasil –, período em que algumas universidades estadunidenses iniciaram as primeiras experiências de eliminação de barreiras arquitetônicas existentes em suas áreas externas, estacionamentos, salas de aula, laboratórios, bibliotecas e lanchonetes, entre outros espaços. Página | 8 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Segundo Romeu Kazumi Sassaki em Conceito de Acessibilidade (2009): Uma chave para a inclusão social, no desenho adaptável, a preocupação é no sentido de adaptar os ambientes obstrutivos. Já pelo desenho acessível, a preocupação está em exigir que os arquitetos, engenheiros, urbanistas e desenhistas industriais não incorporem elementos obstrutivos nos projetos de construção de ambientes e utensílios. Mais recentemente, na década de 1990, começou a ficar cada vez mais claro que a acessibilidade deveria seguir o paradigma do “desenho universal”, segundo o qual os ambientes, os meios de transporte, os utensílios e os outros produtos e serviços deveriam ser projetados ergonometricamente para uso de todos os tipos humanos e, portanto, não apenas para pessoas com deficiência. Passou- se a entender, também, que a acessibilidade não é apenas arquitetônica ou urbanística, já que existem barreiras de vários tipos também em outros contextos, como por exemplo barreiras de comunicação, como falaremos mais adiante. A gerontologia ambiental, área da gerontologia que se concentra na descrição, explicação e modificação das relações entre idosos e seus contextos socioespaciais, surge como pedra fundamental para a tarefa de identificar as necessidades dos idosos em relação ao ambiente construído e também ao ambiente urbano. Por isso, a integração entre a Engenharia e a Arquitetura com o enfoque multidisciplinar gerontológico, incluindo fisioterapeutas, sociólogos, antropólogos e outros profissionais se faz necessária para pensar soluções (MESSIAS et al., 2016). 1.2. Conceito de desenho universal? O conceito de desenho universal é bastante amplo e pode ser aplicado em diversos produtos e utensílios que utilizamos cotidianamente, nos espaços públicos que frequentamos, nas moradias e nos meios de transporte, nos locais de trabalho e nos meios de comunicação, ratificando a diversidade humana. O termo foi usado pela primeira vez pelo arquiteto americano Ronald Mace, em 1985, segundo o site do Núcleo de Pesquisas, Ensino e Projeto sobre Acessibilidade e Desenho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Núcleo Pró- Acesso). Mace começou a questionar por que não se desenvolviam produtos e serviços que atendessem a todos e se envolveu com a proposta de criar ambientes que fossem acessíveis à maior parte possível das pessoas, independentemente da idade, habilidade, estatura ou condição física e sensorial. A ideia seria criar um novo padrão que pudesse atender a todos os tipos de necessidades. Assim, surgiu o que hoje conhecemos como desenho universal. Podemos entender então que desenho universal é o desenho de produtos e ambientes utilizáveis por todas as pessoas, no limite do possível, sem necessidade de adaptação ou de desenho especializado. Página | 9 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa De acordo com esse estudo, existem sete princípios do desenho universal. Veja a seguir. (WRIGHT, 2001, p.55): 1. Uso equitativo O desenho é útil e pode ser vendido a pessoas com habilidades diversas. 2. Flexibilidade no uso O desenho acomoda uma gama ampla de preferências individuais e habilidades. 3. Uso simples e intuitivo O uso do desenho é fácil de entender, independentemente da experiência do usuário ou de seu conhecimento, proficiência linguística ou nível atual de concentração. 4. Informação perceptível Odesenho comunica informação necessária eficazmente ao usuário, independentemente das condições do ambiente ou das habilidades sensoriais do usuário. 5. Tolerância de erros O desenho minimiza o perigo e as consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais. 6. Pouco esforço físico O desenho pode ser usado eficiente e confortavelmente, com fadiga mínima. 7. Tamanho e espaço para aproximação e uso Provêm-se tamanho e espaço apropriados para aproximação, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho do usuário, sua postura ou mobilidade. Dessa maneira, podemos dizer que o desenho universal é uma qualidade intrínseca da acessibilidade. 1.3. Tipos de acessibilidade A presença de acessibilidade no meio urbano é uma exigência constitucional. O objetivo deve ser permitir ganhos de autonomia e de mobilidade a um maior número de pessoas, incluindo aquelas que tenham dificuldades de locomoção, para que possam usufruir os espaços urbanos com mais segurança, confiança e comodidade. Romeu Kazumi Sassaki (2009) explicita de forma bastante didática os seis contextos de acessibilidade. Veja: Página | 10 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa 1. Acessibilidade arquitetônica Sem barreiras ambientais físicas, nas residências, nos edifícios, nos espaços urbanos, nos equipamentos urbanos, nos meios de transporte individual ou coletivo. 2. Acessibilidade comunicacional Sem barreiras na comunicação interpessoal (face a face, língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta, apostila), incluindo textos em braile, uso do computador portátil, virtual (acessibilidade digital). 3. Acessibilidade metodológica Sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de ação comunitária (social, cultural, artística etc.), de educação dos filhos (familiar). 4. Acessibilidade instrumental Sem barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de lazer e recreação (comunitária, turística, esportiva etc.). 5. Acessibilidade programática Sem barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas (leis, decretos, portarias etc.), normas e regulamentos (institucionais, empresariais etc.) 6. Acessibilidade atitudinal Sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações com as pessoas. Para o especialista o aspecto tecnológico permeia todas as acessibilidades, com exceção da atitudinal. Há inúmeras situações no cotidiano em que a acessibilidade não é garantida e muitos exemplos nos quais é negada, mesmo que sem intenção. Como se sabe, existem vários obstáculos que pessoas idosas têm de superar todos os dias no transporte, nos serviços prestados, bem como nos aeroportos, hospitais, shoppings e outros espaços de entretenimento. Página | 11 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Além do espaço público, é fundamental preparar o espaço privado de forma acessível. O processo de envelhecimento contribui para a falta de equilíbrio, para o enfraquecimento dos músculos e para a diminuição ou perda da visão e audição, entre outros. As quedas são responsáveis por 70% das mortes acidentais de pessoas acima de 75 anos e são a sexta maior causa de óbito entre a população acima de 65 anos. Quedas podem acontecer em calçadas desniveladas, em escadas ou até mesmo dentro de casa, tomando banho. Se devido a ela fraturas forem ocasionadas, pode haver sequelas severas no corpo e na vida dessas pessoas e, por consequência, de suas famílias, que precisam cuidar e prestar suporte. Existe, portanto, uma necessidade de preparação dos espaços públicos e privados para que os idosos possam sair de casa com conforto e segurança, além da adaptação das residências. Saiba mais! O livro Diretrizes do Desenho Universal na Habitação de Interesse Social no Estado de São Paulo, desenvolvido em 2010 pela Secretaria de Estado da Habitação em conjunto com a Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência, orienta prefeituras, órgãos públicos, construtores, arquitetos e a comunidade acadêmica sobre a implantação dos princípios do desenho universal nos projetos de moradias, incluindo os espaços privativos dos imóveis e as áreas de uso público. Para baixar a publicação, acesse: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/manual-desenho- universal.pdf Em 2003, o IBAM produziu o Manual para acessibilidade aos prédios residenciais da cidade do Rio de Janeiro, uma parceria entre a Prefeitura do Rio de Janeiro e profissionais do Centro de Vida Independente (CVI-Rio). Para baixar o manual, acesse: http://www.ibam.org.br/media/arquivos/estudos/manual_acess_rj.pdf 1.4. Marcos legais de acessibilidade no Brasil A presença de acessibilidade no meio urbano é uma exigência constitucional cujo objetivo é permitir ganhos de autonomia e de mobilidade à população, fundamentalmente àquelas pessoas que apresentam dificuldades de locomoção, como os idosos. O Brasil conta hoje com o Decreto nº 5.296/2004, que regulamenta as leis federais da acessibilidade e que dá prioridade de atendimento a pessoas com http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/manual-desenho-universal.pdf http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/manual-desenho-universal.pdf http://www.ibam.org.br/media/arquivos/estudos/manual_acess_rj.pdf Página | 12 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa deficiência, idosos, gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas por crianças de colo. O Decreto nº 5.296/2004, juntamente com o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001), o Plano Diretor Municipal e o Plano de Mobilidade Urbana, compõem um conjunto de instrumentos urbanísticos que orientam os segmentos públicos e privados envolvidos na produção das cidades. A norma técnica de acessibilidade da ABNT, a NBR 9050, trata de critérios e padrões de acessibilidade para edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos e teve sua primeira edição lançada em 1994, sofrendo a primeira atualização em 2004. Em 2015 ocorreu a segunda revisão e edição da norma. A Constituição Federal enuncia que a política urbana executada pelo poder público municipal, conforme o artigo 182 e sua regulamentação pela Lei Federal nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade –, deve ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, tendo como instrumento básico o Plano Diretor. As premissas em acessibilidade enunciam que a equiparação de oportunidades é fazer acessível a todos os habitantes a oportunidade de viver na cidade com qualidade. Na comparação, a função social da cidade e a equiparação de oportunidades são convergentes e têm sentido equivalente, confirmando a acessibilidade como atributo da qualidade de vida e pressuposto da sustentabilidade ambiental urbana (MORAES, 2010). A Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU –, instituída pela Lei nº 12.587/2012, cumpre o papel de orientar, instituir diretrizes para a legislação local e regulamentar a política de mobilidade urbana no país. Acompanhando os avanços mundiais do setor de trânsito e de transportes diante dos impactos negativos causados pelas formas de locomoção nas cidades (e, em especial, nas metrópoles) e pela adoção da primazia do modelo veicular particular, propõe-se a mudança desse paradigma, com a ampliação conceitual do setor e o reconhecimento de suas vinculações às políticas de uso e ocupação do solo, sob a égide mais ampla da mobilidade. Enfatiza-se mais o transporte coletivo em todas as suas modalidades e a locomoção ativa (isto é, por meios não motorizados) dos cidadãos. Assim, a acessibilidade é um atributo da mobilidade. A Política Nacional de Mobilidade Urbana está fundamentada nos seguintes princípios: Acessibilidade Universal Desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais Equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo Eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano Página | 13 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Gestão democrática e controle social do planejamento e da avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana Segurança nos deslocamentos das pessoas Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros Eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana É fundamental que o poder público realize estudos sobre acessibilidade no intuito de identificar problemas e demandas para propor soluções que promovam a inclusão de todos, principalmente os que apresentam alguma deficiência ou mobilidade reduzida. Nesse último caso se enquadram as pessoas idosas. Fique atento! Exclusividade x prioridade - Ao falarmos de vagas exclusivas, é importante esclarecer as diferenças entre o que é exclusivo e o que é obrigatório quando se trata de acessibilidade. Vagas exclusivas para carros - a Resolução 304 do Denatran, de 18 de dezembro de 2008, dispõe sobre vagas de estacionamento destinadas exclusivamente a veículos que transportem pessoas com deficiência e com dificuldades de locomoção. Sendo assim, não é permitido estacionar, em qualquer situação, nessas vagas caso não se esteja nas duas situações descritas Filas ou assentos preferenciais – são destinados a pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos ou gestantes, sendo que o direito de um não se sobrepõe ao do outro, ou seja, todos nessas categorias têm o mesmo direito. As filas ou assentos podem ser usados por outras pessoas quando estão livres, como é o caso de bancos, metrôs e ônibus. Entretanto, as pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida, os idosos e as gestantes não são obrigados a usar apenas essas filas e assentos, podendo optar por usar outra fila ou outros assentos, mas sem a obrigatoriedade de atendimento preferencial. Página | 14 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa UNIDADE 2 Cuidados com a pessoa idosa e sua autonomia O aumento da expectativa de vida do brasileiro representa um grande desafio para os governos, bem como para a sociedade civil. O implemento das políticas públicas e a efetiva garantia dos direitos sociais da pessoa idosa certamente contribuem para assegurar um envelhecimento saudável e digno. Promover a autonomia das pessoas idosas, mantendo a sua dignidade, integridade e liberdade de escolha, é fundamental para a promoção da capacidade funcional e sua qualidade de vida. Para isso, diferentes cuidados devem ser tomados nessa fase da vida. Abordaremos nesta unidade a importância desses cuidados, bem como o trabalho dos cuidadores de idosos em toda a complexidade de suas ações e a responsabilidade assumida junto a outros profissionais de saúde e familiares na manutenção da integridade física e mental das pessoas idosas que buscam segurança e qualidade de vida. 2.1. Autonomia e independência do idoso Propiciar o envelhecimento ativo e saudável significa prevenir a perda da capacidade funcional da população idosa, através da preservação da sua independência física e psíquica, promovendo o bem-estar físico, mental e social. A autonomia é uma vertente central do envelhecimento saudável. Promover a autonomia das pessoas idosas, o direito à sua autodeterminação, mantendo- lhes a dignidade, integridade e liberdade de escolha, é fundamental para a promoção da capacidade funcional e qualidade de vida. De forma geral, define-se como capacidade funcional a habilidade de executar tarefas cotidianas, simples ou complexas, necessárias para uma vida independente e autônoma na sociedade. Um idoso com boa capacidade funcional se mantém independente e capaz de desfrutar da sua vida social até uma idade mais avançada. No entanto, o envelhecimento está coberto de preconceitos e estereótipos, que em muito influenciam o cuidado direcionado aos idosos. Em muitas situações do cotidiano, observa-se que as pessoas menosprezam a capacidade de decisão do idoso, adotando uma postura paternalista, impedindo-o de exercer a autonomia para decidir sobre o que acha melhor para seu cuidado. Página | 15 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Embora pareçam similares, os significados de independência e autonomia possuem diferenças na prática da manutenção da qualidade de vida dos idosos: AUTONOMIA INDEPENDÊNCIA capacidade de se gerenciar, tomar decisões e planejar seus objetivos. Tem relação direta com a aptidão mental da pessoa. capacidade de fazer suas atividades do dia a dia sem precisar da ajuda de terceiros. Tem relação com a habilidade física. A pessoa idosa pode ser autônoma e independente, mas também pode ser apenas uma ou outra coisa. A pessoa autônoma sente-se mais valorizada e com a dignidade preservada; e, para ela, a falta de respeito à sua autonomia reflete diretamente na sua qualidade de vida. Mesmo que haja algum tipo de dependência, a autonomia pode ser vivenciada no cotidiano da pessoa idosa a partir do momento em que os profissionais e familiares consideram suas escolhas e lhe dão liberdade para agir. As atividades diárias do idoso são divididas em atividades básicas, que são as relacionadas ao autocuidado (banho, alimentação, continência, vestir-se, deambular etc.), e em atividades instrumentais, que se relacionam às tarefas mais práticas do nosso dia a dia (usar o telefone, fazer compras, preparar refeições, cuidar da casa, utilização de transportes, controle financeiro). A autonomia é a capacidade que a pessoa possui de tomar decisões e gerenciar a própria vida. Às vezes, mesmo estando dependente em algumas atividades diárias, necessitando de ajuda de terceiros para alimentação e banho, por exemplo, o idoso é autônomo, pois está apto a tomar decisões sobre a própria vida. É importante diferenciar esses termos e reforçar que essas condições são independentes entre si. Para avaliar a capacidade funcional do idoso, os profissionais da área da saúde utilizam ferramentas que auxiliam na identificação de possíveis perdas funcionais. São testes de rastreio cognitivo, rastreio para risco de depressão, testes de mobilidade e equilíbrio, escalas de avaliação de atividades básicas e instrumentais de vida diária, levantamento de dados nutricionais e de alimentação, queixas relacionadas à fala e à comunicação, investigação de suporte familiar e social, dentre outras (GOLDSTEIN, 2003). A avaliação da capacidade funcional permite atender às demandas específicas do indivíduo idoso, norteando seu plano de cuidados, identificando riscos e prevenindo prejuízos na qualidade de vida. Essa prática requer um olhar interdisciplinar e exige do avaliador treinamento específico para o uso das ferramentas e a interpretação dos resultados (GOLDSTEIN, 2003). Os profissionais da geriatra e gerontologia são categóricos em aconselhar: a família precisa aprender a separar bem as necessidades do idoso de acordo com sua capacidade de autonomia e independência. É muito importante para a autonomia e independência do idoso a avaliação das atividades de vida diária. Não se deve retirar dele as tarefas do cotidiano para que ele continue se sentindo parte do ambiente doméstico e familiar. Página | 16 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Podemos situar essa discussão por meio do seguinte esquema: Fonte: Moraes; Marino e Santos, 2010. 1. Incentivar a prática de exercícios físicos Atividades físicas apresentam uma infinidade de benefícios aos idosos. Elas previnem doenças como depressão, ajudam a combater e reduzir a perda da habilidade cognitiva, auxiliam o metabolismo e aliviam sintomas de certas enfermidades. Não se pode esquecer que elas devem sempreser feitas com acompanhamento médico. 2. Deixar o idoso fazer suas tarefas Em vez de tratar o idoso como incapaz, que tal dar um voto de confiança e a chance de ele fazer algumas ações do dia a dia, como tomar banho sozinho e cozinhar? Essa pequena mudança de atitude é muito importante para melhorar a autoestima e preservar a autonomia do idoso. 3. Promover uma alimentação saudável Para fazer exercícios físicos, cumprir as tarefas diárias e manter a saúde em dia, a alimentação deve ser sempre balanceada. Idosos que não se alimentam apropriadamente estão mais sujeitos ao risco de morte prematura e à perda de peso, comum na terceira idade, afetando sua independência e qualidade de vida. 4. Incentivar a socialização A solidão é um dos males que mais acometem os idosos, sendo responsável muitas vezes pelo desenvolvimento de doenças como depressão e demência, pela ansiedade e até mesmo pelo declínio da habilidade cognitiva na terceira idade. Por isso, é fundamental que os idosos não deixem de interagir com família e também com amigos e vizinhos. Atividades em grupo, como hidroginástica, ioga, clubes de tricô ou mesmo idas a cafeterias, praias, museus e outros ambientes, ajudam a evitar problemas, reforçam a Página | 17 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa autonomia do idoso e também fazem com que eles cuidem melhor uns dos outros, criando um senso de comunidade e independência. 5. Considerar as vontades do idoso Não adianta incentivar o idoso a cumprir todos os outros itens sem que seja mantido o verdadeiro respeito à sua autonomia. É imprescindível que o idoso seja considerado, ouvido e respeitado. Lembre-se de que a autonomia está relacionada à capacidade de tomada de decisões, que devem ser ditadas por aquele que será afetado por elas, e não às condições de locomoção ou ao nível de coordenação motora de cada pessoa. Percebemos, portanto, a importância de se compreender o processo de envelhecimento como uma mudança dentro do desenvolvimento humano e de não vitimizar o idoso com atitudes paternalistas, mas sim de potencializar suas capacidades e respeitar suas limitações. O exercício da autonomia se faz mister no processo de envelhecimento por se respeitar a capacidade da pessoa idosa de escolher, dentro da sua singularidade e da sua experiência de vida. Saiba mais! Tendo como ponto de referência o Guia Global: Cidade Amiga do Idoso, da OMS, foram escolhidas em 2018 quatro cidades brasileiras para receber a certificação internacional de Cidade e Comunidades Amigáveis à Pessoa Idosa. Foram os municípios de Pato Branco, no estado do Paraná, Esteio, em Porto Alegre, e Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Conheça o guia em: https://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese.pdf?ua=1 2.2. Cuidados com quedas Dentre as diversas preocupações que surgem com o envelhecimento estudadas pela gerontologia, as mais significativas e graves, são aquelas relacionadas às quedas. Em qualquer fase da vida, estamos sujeitos a esses eventos. Contudo, com o avanço da idade, as probabilidades de cair aumentam, já que o corpo passa a responder de forma diferente, alterando a visão, o equilíbrio, a força muscular etc. Estudos estatísticos indicam que, a cada ano, pelo menos 30% de pessoas idosas caem, aumentando para 40% no grupo com idade igual ou superior a 80 anos. Sabe-se também que mulheres caem com maior frequência do que homens e que 70% das quedas acontecem em casa. Outro dado relevante é que, dos idosos que caem, 2,5% necessitam de hospitalização e, após um ano, apenas metade sobreviverá. As consequências são múltiplas, incluindo fraturas, lesões, perda da autonomia e até mesmo a morte. Identificar previamente os fatores de risco pode contribuir para a prevenção, evitando futuros problemas. Os fatores ou causas relacionadas a quedas podem https://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese.pdf?ua=1 Página | 18 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa ser divididos em: 1) intrínsecos (que se relacionam com as transformações fisiológicas do envelhecimento, patologias específicas ou mesmo uso de medicamentos), 2) extrínsecos (que correspondem ao ambiente de interação do idoso). A seguir, alguns exemplos Fatores intrínsecos Fatores extrínsecos postura inadequada; doenças como osteoporose, doença de Parkinson, mal de Alzheimer, labirintite etc.; uso de alguns medicamentos; ansiedade e depressão. superfícies escorregadias; calçados não adaptados; iluminação inadequada; escadas sem corrimões; banheiros não adaptados. Fonte: Manual do cuidador: prevenção de quedas em idosos no domicílio Tomar consciência da gravidade de uma queda para a pessoa idosa e suas consequências para o bem-estar já é um primeiro passo para reduzirmos a possibilidade de esse evento ocorrer. A prevenção das quedas pode ser feita com algumas modificações na vida cotidiana. Em geral, idosos passam a maior parte do tempo em suas casas e, mesmo que sejam locais conhecidos, podem apresentar inúmeras possibilidades de risco. Medidas simples podem prevenir problemas tanto para eles como para seus familiares e cuidadores, como as relacionadas a seguir: Fonte: Adaptado de O Estado de S. Paulo, 2013 Segundo o Manual de prevenção de quedas da pessoa idosa, há outras medidas de prevenção que podem contribuir no cuidado com quedas das Página | 19 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa pessoas idosas e, consequentemente, para ter uma vida mais feliz e segura, como: consultar regularmente o geriatra; fazer exames oftalmológicos e clínicos anualmente; participar de programas de atividades físicas que promovam agilidade, equilíbrio, força e coordenação motora; reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas; tomar os medicamentos de forma correta e como foi indicado pelo médico. Saiba mais! Para ver a lista completa de dicas de prevenção de quedas de idosos, consulte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/184queda_idosos.html O Projeto Casa Segura, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, mostra que não é necessário grandes gastos ou modificações para compor um ambiente seguro para pessoas idosas. Clique aqui para conhecer a iniciativa. 2.3. O papel do cuidador O cuidado dirigido à pessoa idosa que vive com algum grau de dependência tradicionalmente cabia à família, e, em geral, essa função era exercida pela mulher, de maneira informal, gratuita e invisível, sendo confundida como parte do ofício doméstico. Uma série de transformações possibilitou que o trabalho do cuidador se tornasse uma ocupação formal, expandindo-se, depois, no mercado de serviços. Destacamos a seguir duas dessas razões: a primeira refere-se ao crescimento da população idosa, que, no Brasil, vem acontecendo de forma acelerada e se deve, sobretudo, ao aumento da expectativa de vida (estudos indicam que a faixa etária acima dos 60 anos é a que mais tem se ampliado nos países em desenvolvimento) e à diminuição da taxa de natalidade; a segunda razão significativa tem a ver com a expressiva entrada das mulheres no mercado de trabalho nas últimas décadas, além de mudanças referentes à estrutura familiar tradicional (famílias pouco numerosas, idosos morando sozinhos etc.) (PAVARINI et al., 2005). http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/184queda_idosos.html http://www2.ibam.org.br/downloadibam/casa_segura_para_idoso.pdf Página | 20 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Essas mudanças acabaram por demandar respostas por parte das famílias e do Estado, transformando uma tarefa restrita à esfera privada em trabalho formal e suas consequências: formação profissional, salário, carreira etc. (HIRATA, 2016). Evidentemente que para cada problema uma solução se apresenta, e a falta de recursos financeiros, por exemplo, pode deixar que o cuidado ainda fique restrito ao ambiente doméstico,sob a responsabilidade da mulher ou de um parente próximo. A categoria “cuidador de idosos” é recente no Brasil, como observam Debert e Oliveira (2015), visto que o termo mais comum para caracterizar as pessoas que auxiliavam os idosos em suas atividades e, para isso, recebiam algum tipo de remuneração era “acompanhante”. “Mais recentemente, a imagem do cuidador ganhou força, se constituindo em um novo ator político e, por consequência, objeto de propostas de ações e intervenções governamentais e legislativas para sua atuação (DEBERT; OLIVEIRA, 2015). Podemos citar alguns marcos históricos regulatórios sobre o tema dos cuidadores formais no Brasil. Segundo Batista et al. (2014), a Política Nacional de Saúde do Idoso, no ano de 1999, introduziu a definição de cuidador e, nessa mesma ocasião, foi estabelecida a Portaria Interministerial nº 5.153/99, criando o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos, que procurou qualificar a atenção ao idoso em âmbito nacional. Em 2002, a categoria cuidador entra para a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e, atualmente, ela é classificada pela CBO sob o código 5162-10. A função é definida como aqueles que cuidam “a partir de objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida”. Essa classificação é importante para a categoria de cuidador de idosos, pois assegura que a atividade seja comprovada nos órgãos oficiais, sendo um reforço para sua regulamentação (RAVAGNI, 2008). Saiba mais! Para uma descrição completa desta ocupação, consultar o site a seguir: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo.jsf No que tange às tarefas do cuidador formal, é importante ressaltar que não cabem a ele nem afazeres domésticos, nem atividades relacionadas a um profissional de saúde, no caso, um enfermeiro. Sua ocupação é cuidar do idoso, acompanhando-o e auxiliando-o no cuidado consigo mesmo, desempenhando para o idoso apenas aquilo que ele não consegue fazer sozinho (BRASIL, 2008). Veja, a seguir, alguns exemplos de tarefas que cabem ao cuidador de idosos: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTitulo.jsf Página | 21 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa Frente ao aumento do envelhecimento populacional e às transformações no contexto do cuidado informal, a figura do cuidador formal adquire centralidade, caracterizando-se como um dos pilares no que se refere ao cuidado das pessoas idosas. Dentre as diversas funções, capacidades como empatia, paciência, acolhimento, escuta, respeito à privacidade também são fundamentais. Página | 22 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa CONCLUSÃO Neste módulo, você estudou que a inclusão das pessoas idosas se relaciona fortemente com as garantias das condições de utilização plena dos ambientes, objetos e serviços. A garantia da acessibilidade pode minimizar as vulnerabilidades e riscos para a pessoa idosa, além de planejar a organização dos serviços para atender às demandas específicas desse público. Você viu que essa questão é tão séria que existe quadro legal garantindo o direito da pessoa idosa à mobilidade e acessibilidade. Instrumentos jurídicos como o Estatuto do Idoso, a Lei da Acessibilidade e a Política Nacional de Mobilidade Urbana – PNMU – são alguns dos documentos que norteiam esse debate. Os índices de queda são alarmantes. Elas são responsáveis por 70% das mortes acidentais de pessoas acima de 75 anos, e a sexta maior causa de óbito entre a população acima de 65 anos. Essas quedas podem acontecer em calçadas desniveladas, em escadas, ou até mesmo dentro de casa, tomando banho. Você também estudou os principais fatores de riscos e as diferentes formas de prevenção de quedas e acidentes cotidianos que provocam lesões e dificultem ainda mais a mobilidade dos idosos. O papel do cuidador também foi abordado neste módulo, indicando que a ocupação ganhou notoriedade do final da década de 1990, sendo formalizada como profissão e regulamentada em suas funções, propiciando novos campos de trabalho e maior controle sobre a atividade. Por fim, você pôde constatar que desde a relação do idoso com seu cuidador, que é baseada na preservação da sua autonomia, até criação e execução dos mecanismos de acessibilidade, que garantem mobilidade e segurança nas ruas, transportes e residências, a garantia da autonomia da pessoa idosa é fundamental para um envelhecimento saudável e para a construção de uma sociedade inclusiva. Página | 23 MÓDULO 3 Acessibilidade e autonomia da pessoa idosa REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCÂNTARA. Alexandre de Oliveira; CAMARANO, Ana Amélia; GIACOMIN, Karla Cristina (Orgs.). Política Nacional do Idoso: velhas e novas questões. Rio de Janeiro: IPEA, 2016. PRADO, A. R. A. A arte de bem morar na velhice. In: PACHECO, Jaime Lisandro; SÁ, Jeanete Liasch Martins de; PY, Ligia; GOLDMAN, Sara Nigri. (Org.). Tempo: rio que arrebata. Holambra/SP: Editora Setembro, 2005. p. 27- 43. (Conversas em tempo de envelhecer). BATISTA, M. P. P. et al. 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