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1 CULTURA E SABERES DOCENTES 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3 OS SABERES DOCENTES COMO CAMPO DE PESQUISA ............. 7 SABERES DOCENTES E SABER ESCOLAR ............................... 12 FORMAÇÃO CULTURAL DE PROFESSORES ............................ 16 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO A atuação profissional docente é constituída por elementos de ordem prática e teórica que são continuamente apropriados, interpretados, reinventados e construídos pelos sujeitos ao longo de suas trajetórias. Por isso, o ser professor não se constitui de um só golpe e tampouco tem uma forma acabada, mas, ao contrário, ele se faz num processo contínuo que se inicia muito antes e vai sempre além de sua vida universitária. Passa não só pelos cursos de formação e pela formação continuada em serviço, como também pelas interações sócio históricas e culturais que o constroem como ser social. A particularidade de sua atuação profissional cotidiana não é, assim, simplesmente a somatória das condições materiais e intelectuais presentes no processo de ensino-aprendizagem. Ela é, antes, a síntese singular de sua condição genérica humana. Como ser particular, o profissional da educação (como toda humanidade passada e presente) produz, reproduz, transforma e aperfeiçoa as condições de sua existência material e teórica por meio de uma ação consciente sobre o mundo, uma atividade teleológica entendida como ação e pensamento a um só tempo e que alguns tentam definir como práxis. Tomada deste ponto de vista, essa atividade unicamente humana não se refere a nenhum fenômeno individual ou reduzido a apenas uma dimensão, pois para realizar-se coloca em ação práticas singulares da espécie humana tais como as materiais (técnicas e instrumentos), as sociais (as relações interpessoais e institucionais) e as simbólicas (os valores e as visões de mundo). Toda ontologia baseada na antropologia pode comprovar esses fatos. Quando consideramos as informações provenientes da paleoantropologia (por exemplo, LEAKEY, 1995; STANDFORD, 2004), é possível perceber como o longo processo de hominização e humanização da espécie humana foi, concomitantemente, um avanço biológico, material, racional e social. Na luta pela sobrevivência, nossos ancestrais se aperfeiçoaram simultaneamente nos mais diferentes aspectos da vida propriamente humana, tais como o andar bípede, a confecção de instrumentos, a organização social, a aquisição da fala e do pensamento simbólico etc. Não de maneira isolada ou privilegiada, 4 estes foram os passos decisivos para se constituir uma humanidade oposta à animalidade. A partir daí, enquanto os animais permaneceriam em mundos fechados por continuarem a ter uma relação biologicamente fixa com o meio, a humanidade se abriria porque teria a condição de humanizar a natureza, transformando-a e nomeando-a, usando-a e representando-a, e por este processo, o homem humanizaria a si mesmo. Quando a antropologia no século XIX pela primeira vez faz uso científico do conceito de cultura, ela o usava também na tentativa de marcar essa distinção básica entre a humanidade genérica e a animalidade, ou mais simplesmente, entre natureza e cultura. A respeito disso se expressou Geertz (1978, p. 61) “[...] somos animais incompletos e inacabados que nos completamos e acabamos através da cultura [...]”. Aprendida e apreendida, a cultura, princípio da humanização do homem, foi usada nesta primeira antropologia para fazer referência a um conjunto de procedimentos ou normas de pensar, agir e relacionar-se compartilhados e reconhecidos pelos sujeitos. Assim, enquanto os animais permaneceram imersos no universo biológico e natural, os homens criaram todo um mundo não biológico, artificial, do qual são produtores e produtos a um só tempo. É neste sentido que o conceito de cultura foi primeiramente identificado como todos os produtos resultantes do esforço conjugado das atividades materiais, sociais e simbólicas da existência humana; em uma palavra: o supra orgânico, tal como se expressou Kroeber (1952), ou tudo aquilo que o homem adquire enquanto membro de uma sociedade, como escreveu Tylor (1871). Nesse contexto, a escola, de forma tradicional, foi entendida como o espaço formal da educação e transmissão do corpo de conhecimentos, valores, ações, instrumentos, relações e interações exigidas pela vida em sociedade e que a antropologia, por muito tempo, deu o nome de cultura. Porém, tal qual se metamorfoseou o entendimento do papel ou função da escola, o conceito de cultura também se transformou no seu uso científico, possibilitando o vislumbre de novas relações entre a escola, a ação pedagógica e a cultura. Aquela primeira definição genérica de cultura, cunhada na antropologia do século XIX, serviu de base para entender a marca distintiva de toda e qualquer vida social humana (a humanidade oposta à animalidade), mas, ao 5 longo do tempo, deixou de ser operacional para se pensar a diversidade interna à própria humanidade. Quando as tendências evolucionistas e etnocêntricas do século XIX sucumbiram aos esforços que ao longo do século XX se empreenderam para compreender a lógica interna das culturas, a identidade européia, até então definida em contraste a uma suposta barbárie ou selvageria de todos os outros povos foi também questionada. Antes, povos atrasados ou primitivos. Agora, povos cujos padrões de comportamento, ação e pensamento fazem sentidos e que, mediante procedimentos antropológicos, podem ser traduzidos para membros de outras culturas. Ao penetrar no universo dos sentidos e dos significados subjacentes e imanentes a quaisquer culturas, a antropologia adentrava, então, numa nova forma de pensar a cultura, a identidade e a diversidade. Desde a escola francesa de antropologia (Durkheim, Mauss e Lévi- Strauss), que primeiramente entendeu cultura como sendo primordialmente um código simbólico, esse conceito passou a ser interpretado como o conjunto de representações, sentidos e significados que cada grupo de seres humanos elabora e reelabora ao longo de sua história. Fenômeno unicamente humano, a cultura se refere, pois, à capacidade que os seres humanos têm de dar sentido e significado ao mundo, à natureza, à sociedade, a si, aos outros povos etc. E, como a realidade dos fatos nos mostra, cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, deu sentidos e significados diferentes a eventos e passagens da vida aparentemente semelhantes (THOMAZ, 1995), criando, nessecaminho, a identidade compartilhada e a diversidade. Posto nesses termos, à antropologia cabe, portanto, a interpretação dos diferentes códigos simbólicos que constituem as diversas identidades e culturas. É de se ressaltar, no entanto, que essa transformação no conceito de cultura foi impulsionada em face do fracasso das pretensões das teorias da aculturação, quando imaginaram que o capitalismo global traria o fim das culturas. Contra essa sentença de morte, hoje já se sabe que as diferentes culturas são capazes de se apropriarem de elementos da sociedade envolvente, ressignificando-os a partir da lógica cultural pré-existente. Nisto há o que Sahlins (1990) chamou de uma “prática da estrutura”, uma ordenação cultural da história. Porém, em um segundo momento, e isso que é importante na argumentação, 6 essa prática da estrutura permite constituir-se numa “estrutura da prática”, na qual intervêm interesses muitas vezes conflitantes entre os agentes sociais envolvidos, permitindo não mais a reprodução da estrutura, mas a sua transformação, ao dar condições para os sujeitos reelaborarem os sentidos e significados do mundo e de suas ações. Por isso, de acordo com as referências de uma antropologia atual, a identidade e a cultura não são compostas por essências metafísicas ou entidades naturais históricas, mas sim pelos aspectos contextuais, históricos e dinâmicos. Dessa forma, a antropologia considera que há neste jogo de significar e ressignificar não só uma dinâmica interna capaz de absorver e dirigir os rumos da mudança cultural, mas também um jogo de espelhos no qual o repertório de símbolos e, portanto, dos sentidos atribuídos ao real, estão sempre na condição de serem ressignificados pelo exercício das possibilidades do real. Seria isso, provavelmente, um elemento daquilo que Castells (2008) chamou de “identidade de projeto”, a reorganização do mundo, de suas relações e das relações do homem com o mundo e consigo mesmo, por meio dos processos de reelaboração e invenção de novas modalidades de percepção, significação e ação. Ao considerar a função social da escola na transmissão do conhecimento historicamente acumulados, a inserção de um novo conjunto material de ensino - como as novas tecnologias, ou tecnologias digitais - desafia os sujeitos escolares a modificar as práticas pedagógicas. Nessa dinâmica, observa-se que o ambiente escolar é permeado por incertezas, principalmente no que diz respeito ao desconhecimento das técnicas de utilização dos novos dispositivos tecnológicos; por resistências, no que se refere a ausência de proposições de novas metodologias que contribuam com o processo de ensino e aprendizagem; e ainda, por falta de estrutura adequada para acomodar os suportes digitais na escola. A escola tem-se constituído na estreita relação entre o novo e o velho, entre a mudança e a permanência. Como assinalam Dussel e Quevedo (2010, p. 13), historicamente as mudanças tecnológicas nas sociedades passam por períodos de instabilidade, de “flexibilidade interpretativa”. É nesses períodos que os diferentes sujeitos sociais procuram construir o novo sentido para o artefato 7 tecnológico, até que a definição dos significados se converta em um novo sentido comum. De acordo com os autores, podemos dizer que nos encontramos nesse período de “flexibilidade interpretativa” do uso das novas tecnologias no interior da escola. Os sujeitos escolares estão procurando dar um sentido comum às tecnologias digitais no processo de ensino aprendizagem, como outros objetos escolares já o encontraram em outras épocas. Examinar a cultura material da escola é conhecer as finalidades do processo educativo, bem como, as transformações pelas quais as instituições de ensino formal têm sofrido ao longo de sua existência, verificando as permanências e as rupturas da sua estrutura. O estudo da materialidade da escola, em especial das novas tecnologias educacionais, possibilita refletir sobre o pensamento social e cultural contemporâneo, o qual sinaliza para a necessidade de ações políticas e educacionais capazes de implementar, ou não, mudanças significativas, nos modos de ensinar e aprender. OS SABERES DOCENTES COMO CAMPO DE PESQUISA A relação entre os professores e os saberes que ensinam foi compreendida de formas diferenciadas, expressando concepções teóricas distintas sobre o que é ser professor e sobre os saberes que são ensinados. Durante muito tempo foi focalizada, nas pesquisas educacionais, pelo ângulo das características pessoais e naturais dos docentes. O foco sobre os saberes é uma perspectiva relativamente recente Assim, por exemplo, os programas de pesquisa desenvolvidos nas décadas de 1950 e 1960, associavam eficiência do ensino a certos traços de personalidade do professor, buscando identificar esses atributos, característicos de personalidade ou de comportamento – interesse, entusiasmo, imparcialidade, capacidade para acolher os alunos, etc; outros, que buscavam avaliar o rendimento dos métodos utilizados, “se revelaram inoperantes porque não conseguiram relacionar, de maneira inequívoca, um comportamento específico do professor ao desempenho escolar” (Medley, 1979 apud Gauthier,1998,p.47). Confundiam-se os efeitos do método com as diferenças existentes entre os professores. Esses programas podem ser incluídos dentro de uma concepção 8 da profissão docente como um “ofício sem saberes” e que inclui perspectivas que valorizam a vocação, o talento, a intuição, a experiência, a cultura ou o domínio dos conteúdos. (Gauthier, 1998, 20-25) Foram realizados, também, estudos de natureza sociológica, que enfatizaram a ideia de que o ensino não era uma variável importante para explicar o desempenho dos alunos e sim a influência do meio social. Nos anos sessenta, pesquisas voltaram suas atenções para a investigação sobre a aprendizagem, sob influência de Piaget e do behaviorismo, deixando, ambas as perspectivas de abordagem, de considerar o papel do professor no sentido de propiciar a aprendizagem. (Gauthier et alii, 1998, 43-55) A partir dos anos setenta, começaram a se desenvolver pesquisas voltadas para a análise do desempenho do professor, entre eles o programa “processo-produto”, que procurava estabelecer uma correlação entre as performances no ensino, os “processos”, e as diferenças de aprendizagem dos alunos, os “produtos”. O principal objetivo era identificar a eficiência do professor e a eficácia do ensino. Nesse programa de pesquisa, o professor era visto como um gestor de comportamentos que devia organizar para a aprendizagem dos alunos. Ele gerenciava saberes, seus saberes não eram investigados. De acordo com o paradigma da racionalidade técnica, que orientava esta concepção, o professor era considerado um “técnico” responsável pela transmissão de saberes produzidos por outros – os cientistas, os pesquisadores. Cabia a ele dominar técnicas e recursos que viabilizassem a realização dessa transmissão com a maior eficiência e eficácia possíveis. Conhecimentos de psicologia, de sociologia e de fundamentos filosóficos da educação, na verdade rudimentos selecionados numa perspectiva aplicacionista bastante pragmática, complementavam o conjunto de saberes necessários para sua boa atuação. (Gómez,1995) Esse programa de pesquisa que se voltava, primordialmente, para a análise do que os professores fazem e não daquilo que eles sabem, deu origem a outros: “academic learning time” e o “students mediation, que representam variações da abordagem processo-produto com diferentes contribuições da psicologia. O primeiro voltava-se para as interações em aula para avaliar os 9 efeitos do ensino. Já o “students mediation” centrava-se no conhecimento dos alunos a partir da ação dos professores. Configurava-se como intermediário entre as primeiras abordagenscitadas e as estratégias qualitativas, que passaram a predominar a partir dos anos oitenta, com influências da sociolinguística e da antropologia, na busca de instrumentos para analisar as mediações entre o social e o cognitivo e melhorar a aprendizagem dos alunos. (Borges, 2001, 64) Dentro da classificação de Gauthier, o programa processo-produto, e seus desdobramentos, era orientado pela concepção da profissão docente como a “manipulação de saberes sem ofício”. (Gauthier, 1998, 25-27) No entanto, a crise social e cultural que se desenvolveu a partir do final dos anos sessenta, e que incluiu, entre outros fatores, a crise dos paradigmas que caracteriza os tempos pós-modernos, de uma maneira geral, bem como as transformações econômicas e sociais que provocaram um processo de urbanização acelerada com os problemas dela decorrentes, começaram a revelar a incapacidade da escola e dos professores, formados dentro do modelo da racionalidade técnica, em lidar com essa nova realidade. Um novo instrumental teórico passava a ser exigido para a compreensão da sua complexidade e para superação das visões daqueles que, ao responsabilizar os professores pelo fracasso da escola, permaneciam paralisados frente aos novos problemas educacionais. Buscando alternativas, o programa de pesquisas “classroom ecology”, por exemplo, começou a investigar o sentido que os atores – professores e alunos - dão `as suas ações. A questão não era mais eficiência ou eficácia, mas a problematização e/ou a crítica do ensino. “A sala de aula, inserida em um contexto mais amplo, por exemplo, a comunidade, é vista como um ecossistema, um espaço organizado social e culturalmente, um lugar de comunicação e interações construídas cotidianamente.” (Borges, 2001,65) Posteriormente, a partir dos anos setenta, um outro programa de pesquisas mudou o foco de abordagem que deixou de ser “o que fazem os docentes” para se voltar, efetivamente, para “o que sabem os docentes”: O professor passou a ser visto como um profissional dotado de razão, que toma 10 decisões, faz julgamentos, no complexo contexto da sala de aula, um autor que pensa, julga. As pesquisas voltaram-se para os processos cognitivos do professor nos diferentes momentos de sua atuação: planejamento, ação, avaliação, reflexão na e sobre a prática. O programa de pesquisas, conhecido como knowledge base, teve origem nos anos oitenta, de um projeto norte-americano que tinha o objetivo de identificar um repertório de conhecimentos do ensino que serviriam para a elaboração de programas de formação de professores. Assim, antes de se constituir propriamente num problema teórico, o knowledge base assumiu a forma de uma solicitação social: era preciso melhorar a formação dos docentes e favorecer sua profissionalização para melhorar a educação. Pode-se perceber aqui o deslocamento do enfoque: da pesquisa sobre desempenho, eficiência e eficácia, passava-se para a investigação dos saberes dos professores, saberes especializados, próprios, como em outras profissões. A questão dos saberes passava a se apresentar vinculada à profissionalização. Além de cumprir um papel estratégico na formação de professores serviria, também, para a constituição de um núcleo de saberes profissionais que facilitaria a socialização profissional. (Gauthier,1998,60) Desenvolveu-se, então, nos Estados Unidos, um amplo movimento de pesquisa sobre a knowledge base, o “repertório de conhecimentos”, ou seja, o conjunto de saberes, conhecimentos, habilidades e de atitudes de que um professor necessita para realizar seu trabalho num determinado contexto de ensino. (Gauthier, 1998, 61) Schulman(1987) ao fazer uma avaliação do programa knowledge-base comenta que a tendência predominante, no início de suas atividades, tinha por base a ideia de que está knowledge-base era constituída de habilidades, conhecimentos das disciplinas e habilidades pedagógicas gerais, o que, no seu entendimento, trivializava o ensino, ignorava sua complexidade e reduzia suas demandas. Ele desenvolveu, então, um programa de pesquisas voltado para a investigação das operações realizadas pelos professores no processo de ensino onde a mobilização dos saberes a serem ensinados ocupa um lugar central, contribuindo para consolidar a corrente do knowledge base, numa perspectiva 11 compreensiva dos conhecimentos e ações dos docentes. Ele criou o conceito de “conteúdo pedagogizado” que expressa essa criação específica e própria dos saberes dos professores e que permanecia como o “missing paradigm” nas pesquisas educacionais. (Shulman,1986, 1987) As pesquisas sobre os saberes dos professores mereceram grande atenção também no Canadá, França, Inglaterra, Portugal sendo que os trabalhos de, Perrenoud (1993, 1996,1999a,1999b), Tardif, Lessard e Lahaye(1991), Gauthier (1998); Tardif (1999), Nóvoa (1992,1995,1995), entre outros, focalizaram os saberes considerando a profissionalização em perspectiva fenomenológica. No Brasil, essas novas orientações tornaram-se mais presentes na segunda metade dos anos noventa, tendo os primeiros estudos e análises articulando essas proposições com a realidade brasileira surgido em teses, congressos e publicações. (Therrien,1995; Lelis,1996; Ludke,1997,1998,2001; Fiorentini et alii,1998). FIGURA 1: Saber docente 12 SABERES DOCENTES E SABER ESCOLAR Para analisar a relação dos professores com os saberes que ensinam, o conceito de saber docente revela-se uma ferramenta teórica de grande potencial por trazer, como pressuposto, o reconhecimento da existência de saberes próprios dos professores, ou seja, de que os docentes são sujeitos, com uma história de vida e profissional, e que produzem e mobilizam saberes na sua prática profissional onde a dimensão educativa representa uma dimensão estratégica e fundamental. Estes saberes são possíveis de serem identificados, mas são saberes sobre os quais os professores encontram, muitas vezes, dificuldades para explicar, teorizar. Discordo daqueles que afirmam que os saberes docentes são saberes tácitos, que emergem nas situações da prática, de forma quase inconsciente.(Schon,1995) Se isso (ainda) acontece com grande parte dos professores, que assim reproduzem práticas introjetadas a partir dos modelos de seus professores e experiências enquanto alunos, é porque a formação de professores tem sido realizada de forma muito precária, insuficiente, conforme afirma Shulman (1987,12), fato este confirmado pelos professores participantes da pesquisa. Acredito que mais pesquisas precisam ser realizadas para que possamos melhor conhecer os processos em curso nas atividades de ensino, pesquisas em que as categorias de análise articulem referenciais do campo educacional com aqueles dos campos disciplinares envolvidos, e que reconheçam a especificidade dos saberes docentes. Como afirma Shulman, “ensinar exige um tipo especial de “expertise” ou arte, para a qual explicar e demonstrar são características centrais. Saber explicar porque faz o que faz é condição essencial para a profissionalização da docência e melhoria da qualidade do trabalho realizado. As proposições de Tardif, Lessard e Lahaye (1991) de que os saberes dos docentes são plurais, estratégicos, desvalorizados, temporais, personalizados podem ser percebidas nos depoimentos, que confirmam também o grande valor que atribuem ̀ a experiência, ao saber nela constituído, experiência esta que filtra e organiza os demais saberes. 13 Mas a contribuição desse autores, extremamente significativa, se revelou insuficiente para a análise que era meu objetivo realizar: como os professores de história mobilizam os saberes que dominam para ensinar os saberes que ensinam. Nesse sentido, identifiquei em Shulman(1986,1987) o autor que oferece a contribuição pertinente, pois estudaos diferentes tipos e modalidades de conhecimento que os professores dominam, configurando uma epistemologia própria. Sua contribuição é importante, em meu entender, porque traz de volta ao centro da discussão a questão do conhecimento que os professores têm dos conteúdos de ensino e do modo como estes conteúdos se transformam no ensino, destacando o papel estruturante da dimensão educativa neste processo. Ele afirma que a atual separação entre conteúdos de ensino e conteúdos pedagógicos é um desenvolvimento recente na área da educação, e que tem levado docentes e pesquisadores a valorizar em seus trabalhos muito mais os aspectos de ordem psicológica e/ou metodológica, deixando de lado a relação orgânica com o conhecimento de referência, e que é a fonte de exemplos, explicações e formas de lidar com os erros e mal entendidos dos alunos. Identificando essa questão como o “missing paradigm”, ele investigou o que sabem os professores sobre os conteúdos de ensino, onde e quando adquiriram os conteúdos, como e porque se transformam no período de formação e como são utilizados na sala de aula. No seu artigo de 1986, o autor distingue três categorias de conhecimento de conteúdos que se desenvolvem nas mentes dos professores: 1.Conhecimento do conteúdo da matéria ensinada - refere-se à quantidade e organização do conhecimento por si mesmo na mente do professor. Mas, ele destaca, para bem conhecer os conteúdos é preciso ir além do conhecimento dos fatos e conceitos, sendo necessário compreender os processos de sua produção, representação e validação, um domínio de natureza epistemológica. Mais do que saber, é preciso compreender a matéria que vai ser ensinada para se poder criar formas para o seu ensino. Além disso, a maneira como essa compreensão é comunicada, faz os alunos perceberem o que é essencial e o que é periférico de tudo aquilo que é ensinado, o que é verdadeiro e válido no campo, bem como expressa um conjunto de atitudes e valores que influenciam 14 a compreensão dos alunos. “Quem sabe faz, quem compreende ensina.” (Shulman, 1986) 2. Conhecimento dos conteúdos pedagogizados - é um segundo tipo de conhecimento de conteúdo que vai além do conhecimento da matéria do assunto por si mesma, para a dimensão do conhecimento da matéria do assunto para ensinar. Inclui as formas mais comuns de representação das ideias, as analogias mais poderosas, as ilustrações, os exemplos, explicações e demonstrações, ou seja, os modos de representar e formular o assunto de forma a torná-lo compreensível para os outros. Inclui também aquilo que faz a aprendizagem de um determinado assunto fácil ou difícil, possível. 3. Conhecimento curricular - conhecimento sobre o currículo que " é o conjunto de programas elaborados para o ensino de assuntos específicos e tópicos em um nível dado, a variedade de materiais instrucionais disponíveis relacionados a estes programas " (1986,9 e 10) Esse trecho nos permite perceber que, para Shulman, saber acadêmico e saber escolar são expressões de um mesmo saber. Ele não utiliza o conceito de transposição didática, cuja formulação é contemporânea ao seu texto, nem trabalha com a concepção nele subjacente. O conceito de conhecimento escolar conforme Chevallard (1991), Develay(1992,1995), Forquin (1992,1993) com epistemologia diferente daquela do saber de referência, não é mencionado e, portanto, ele não problematiza a historicidade do conhecimento curricular. Este é citado como conhecimento que os professores precisam dominar para ensinar, da mesma forma que um médico precisa conhecer os remédios disponíveis para serem receitados. Seria como que uma seleção feita do saber de referência para definir o que precisa ser ensinado. Entre os saberes docentes ele menciona os conteúdos pedagogizados que não são técnicas de ensino, mas construções cuja elaboração para o ensino necessita de um domínio do campo disciplinar em perspectiva epistemológica. Embora ele não utilize o conceito de saber escolar, pode-se concluir que ele identifica uma construção original nesta criação sendo que sua abordagem se enriquece ao incorporar a participação do professor no processo, revelando-se a mais pertinente para meu objetivo de pesquisa. 15 Em artigo de 1987, Shulman aprofunda a análise da ação do professor na elaboração do conteúdo pedagogizado, quando um processo de racionalização pedagógica inclui diferentes momentos: compreensão, transformação, instrução, avaliação, reflexão e nova compreensão. (Shulman,1987, 15-19) O primeiro e segundos momentos são fundamentais. Para Shulman, “ensinar é antes de tudo compreender”. O professor precisa compreender como uma ideia se relaciona a outras ideias da mesma matéria de ensino, e com ideias de outras matérias também. E mais, além de compreender o conjunto de ideias a ser ensinado, é preciso compreender os objetivos educacionais envolvidos em sua ação. Mas não é só compreender conteúdos e objetivos. O que distingue a knowledge base para o ensino “é a interseção de conteúdo e pedagogia, a capacidade do professor de transformar o conhecimento de conteúdo que possui em formas que são pedagogicamente poderosas e adaptadas `as variações de habilidades e conhecimentos prévios de seus alunos.” (Shulman, 1987,15) É importante destacar, portanto, que Shulman, ao valorizar o momento e o ato da “compreensão” do professor, início e fim do processo, reconhece que o saber a ser ensinado não é um dado objetivado, pronto e acabado. O processo de ensino começa quando o professor se aproxima do objeto a ser ensinado e se apropria dele, o que vai gerar sua compreensão. É a partir dela que ele vai elaborar e desenvolver o ensino. Considerar a ação do professor distingue e possibilita um avanço em relação ao conceito de saber escolar, ferramenta importante para a pesquisa do ensino ao reconhecer a existência desta construção específica da cultura escolar e que é orientada pela dimensão educacional. Ao levar em conta o papel do professor, o conceito de conteúdo pedagogizado, de Shulman, se revela uma ferramenta teórica mais refinada porque considera a presença e ação do professor como elemento estruturante de sua construção, reconhecendo aspectos relacionados à sua subjetividade e ao seu fazer na mobilização dos saberes a serem ensinados. 16 FIGURA 2: Saber docente e escolar. FORMAÇÃO CULTURAL DE PROFESSORES As questões que fecham a segunda parte deste texto nos conduzem a Bourdieu e Passeron (1975), autores cujos estudos indicam que competências culturais e linguísticas próprias de dada classe social determinam o desempenho escolar. Com base neste pressuposto, e também no que afirma Vygotsky acerca das relações entre experiência e imaginação criativa, é possível supor que quanto maior e mais variado for o repertório cultural dos professores, mais numerosas e apropriadas serão as escolhas possíveis para mediar a construção de conhecimentos escolares. Com a virada cultural dos anos 80, a cultura passa a ser tema relevante para os estudos em educação e central na teorização curricular. Ao discutir as relações entre currículo escolar e cultura, Tomás Tadeu da Silva (1999) ressalta está como campo de disputa simbólica pela afirmação de significados. Dado o esmaecimento dos limites que antes demarcavam claramente as distinções entre conhecimento acadêmico e escolar e conhecimento cotidiano e da cultura de massa, Silva (1999) entende a pedagogia como cultura e a cultura como pedagogia. A pedagogia é cultura porque os conteúdos escolares são parte da cultura; a cultura é pedagogia porque outras instituições, além da escola, também educam ─ ainda que não pretendam, de forma explícita, ensinar, 17 transmitem várias formas de conhecimento que contribuem para a formação de identidades e subjetividades. Tal pensamento expressao de autores representativos dos estudos culturais, tal como Stuart Hall, para quem a cultura perpassa tudo o que acontece em nossas vidas, bem como todas as representações dos acontecimentos que nela vivemos. Para este autor a cultura tem papel central na formação das identidades sociais: O que denominamos “nossas identidades” poderia provavelmente ser melhor conceituado como as sedimentações através do tempo daquelas diferentes identificações ou posições que adotamos e procuramos “viver”, como se viessem de dentro, mas que, sem dúvida, são ocasionadas por um conjunto especial de circunstâncias, sentimentos, histórias e experiências únicas e peculiarmente nossas, como sujeitos individuais. Nossas identidades são, em resumo, formadas culturalmente (HALL, 1997, p. 26). Ao enfatizar a “centralidade da cultura”3 no mundo contemporâneo Hall reconhece a necessidade de se considerarem as ações e experiências dos indivíduos nas análises dos fenômenos sociais. Assim, se nossas identidades são culturalmente formadas, como afirma Hall (1997), cabe perguntar: qual formação cultural constitui as identidades de professores? Que contribuições essa formação cultural traz para as suas práticas pedagógicas? Subjazem à mediação que realizam com o objetivo de promover a aprendizagem discente? Enquanto sujeitos sócio históricos, professores têm visões de mundo, valores, sentimentos, comportamentos e hábitos próprios, constituídos por um conjunto de experiências vivenciadas nos mais diferentes espaços sociais. Assim, estudos sobre as relações de docentes com a cultura são de grande relevância, porque permitem compreender dimensões da vida social que atuam de forma determinante nas suas práticas pedagógicas. Esta parece ser uma das preocupações de Tardif (2002, p. 9): “Quais são os saberes que servem de base ao ofício de professor? [...] Como esses saberes são adquiridos?”. Para este autor, os saberes docentes provêm de várias fontes: da formação escolar, do contato com colegas mais experientes e de experiências pessoais vividas nos mais diferentes espaços sociais. Diante desta afirmação de Tardif, podemos 18 perguntar: entre as experiências pessoais dos professores brasileiros que atuam na educação básica, estariam contempladas práticas de leitura, o hábito de frequentar museus e exposições de arte, salas de concerto, teatro e cinema, enfim, experiências que mobilizem a imaginação e a fantasia? Se a subjetividade do professor se constitui, também, no contexto sociocultural, há que se considerar a dimensão estética desse contexto, pois, conforme Vygotsky (2004), o sensível e o artístico não podem ser desprezados quando se busca compreender os processos de constituição do ser humano. Ainda que muitos estudos destaquem os vínculos entre cultura e educação, poucos são os autores que, ao discutirem a problemática da formação de professores, apontam a importância das experiências estéticas para os processos de subjetivação e para a constituição da profissionalidade docente. Dentre eles, Imbernón (1994, p. 53) entende caber às instituições formadoras “[...] incorporar o interesse pela cultura em suas diversas manifestações e formas artísticas.”. Na mesma direção aponta Kincheloe (1997, p. 72): [...] arte e literatura imaginativa oferecem uma epistemologia alternativa, uma forma de conhecer que transcende as declarativas formas de conhecimento; os textos literários, de drama, de música e de pintura fortalecem o poder dos indivíduos para ver e ouvir além do nível superficial da vista e do som. Dentre os autores brasileiros, Regina Garcia e Sônia Kramer são as que mais têm escrito sobre a importância das artes para a formação dos professores. Garcia (2000) discute a necessidade de se superar uma falsa dicotomia entre arte e conhecimento, enquanto Kramer (1998) lembra que, embora muitos educadores fundamentem-se em Vygotsky, a maioria desconhece ser a arte tema central em sua teoria. Também defende uma política de formação cultural que assegure aos professores o acesso às mais variadas formas de expressão artística ─ literatura, teatro, cinema, música –, por entender que a formação cultural “[...] é parte do processo de construção da cidadania, é direito de todos [...]” (KRAMER, 1998, p. 21). Informações sobre práticas culturais de professores 19 da educação básica foram recolhidas em recente pesquisa sobre o perfil dos docentes brasileiros. Nela os pesquisadores argumentam: [...] se a escola é concebida como centro de formação, é esperado que as atividades ligadas à cultura, como música, literatura, teatro, cinema, entre outras, sejam partes importantes do processo educativo. A prática educativa pode estar voltada não apenas para o trabalho, mas também para a formação da pessoa no sentido mais amplo, o que inclui a estética e o ético, entre outras dimensões da vida. Desse modo, além das análises sobre o consumo cultural dos professores, mais recentemente tem-se percebido a importância de se conhecer suas preferências e atividades culturais (UNESCO, 2004, p. 89). FIGURA 3: Formação do professor. 20 RELAÇÕES ENTRE IMAGINAÇÃO E CULTURA A partir das ideias apresentadas na primeira parte deste trabalho e na perspectiva de concepções histórico-culturais do desenvolvimento humano, propomos análises e reflexões sobre as intrínsecas relações entre imaginação e cultura. Por um espaço significativo de tempo, concepções racionalistas sobre a atividade psíquica da imaginação deixaram marcas nos estudos da mente humana, opondo imaginação à razão. Entretanto, razão e imaginação complementam-se e são necessárias à constituição da realidade. O pensamento científico ─ racional e consciente ─ banha-se na imaginação para avançar no que produz, e a imaginação se faz presente em todas as atividades criadoras, não apenas nas artísticas, mas também nas científicas e tecnológicas e como “fantasia cristalizada” nas atividades da vida cotidiana (VYGOTSKY, 1982). Nenhum pensamento racional é possível sem a colaboração da imaginação, e esta, por sua vez, não prescinde de um pensamento realista. Ainda que não se confundam, “os dois agem como uma unidade”, diz Vygotsky (1982). Na perspectiva da psicologia histórico-cultural de Vygotsky a imaginação refere-se ao manejo de imagens e experiências armazenadas na memória para (re)criar ou (re)produzir algo que já existe, a fim de transformar a realidade e modificar o presente, projetando o ser humano para o futuro. A natureza da imaginação é, portanto, fundamentalmente social e a cultura, produto da imaginação e da criação humana. A função psicológica da imaginação, conforme Vygotsky (1982), estabelece vínculos com a realidade de quatro diferentes formas. A primeira é a relação que toda elucubração estabelece com elementos extraídos da realidade e de experiências anteriores. Neste caso, a imaginação mantém relação direta com a experiência, donde podemos concluir que quanto mais ampla, variada e rica for a experiência acumulada, maior a criatividade. A segunda forma de vínculo da função imaginativa com a realidade é a que ocorre indiretamente, quando a imaginação se pauta em produtos da fantasia ou em experiências históricas, sociais ou de outros indivíduos, o que 21 amplia as possibilidades para imaginar, vez que o indivíduo não fica restrito a um repertório de experiências diretas. A terceira forma de relação entre imaginação e realidade é a determinada por aspectos emocionais. Ou seja, o estado emocional presente nos processos criadores seleciona e combina determinados elementos da realidade para atender ao nosso estado interior de ânimo. O que, entretanto, não significa que a fantasia resulte exclusivamente de nossos sentimentos, ou que sentimentos provocados por ela possamser “[...] efetivamente vivenciados pelo homem que os experimenta.” (VYGOTSKY, 1982, p. 24). Por fim, o quarto modo de relação entre imaginação e realidade decorre do fato de que o produto da imaginação passa a existir no mundo e a exercer influência na realidade já existente. O que resulta da fantasia “[...] passa a existir realmente no mundo e a influir sobre os demais objetos.” (VYGOTSKY, 1982, p. 24). Ou seja, a imaginação retira da realidade elementos que, reelaborados, convertem-se em produtos materializados que retornam à realidade. E ao retornarem a ela “[...] trazem já consigo uma força ativa, nova, capaz de modificar essa mesma realidade, fechando-se deste modo o círculo da atividade criadora da imaginação humana.” Ou seja, a atividade criadora “[...] tem sempre longa história atrás de si. Ao que chamamos criação não costuma ser mais que um catastrófico parto, consequência de uma longa gestação.” (VYGOTSKY, 1982, p. 27 e 31). Para a psicologia histórico-cultural, o produto criado pela imaginação resulta da inadaptação dos seres humanos à realidade existente. Tal inadaptação funciona como força motriz para dinamizar a atividade criadora responsável por materializar o que foi imaginado. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que aqueles que estão adaptados à realidade e em relação harmônica com o mundo nada podem criar. Ou seja, nós, humanos, necessitamos, para criar, de condições materiais, psicológicas, e de um meio social propício ao processo de criação. A esse respeite diz Vygotsky (1982, p. 37-38): Todo inventor, por genial que seja, é sempre produto de sua época e de seu ambiente. Sua obra criadora partirá dos níveis alcançados com anterioridade e se apoiará nas possibilidades que existem também fora dele. Por isso notamos estrita sequência no desenvolvimento histórico 22 da ciência e da técnica. Nenhum descobrimento, nenhuma invenção científica aparecem antes que se criem as condições materiais e psicológicas necessárias para seu surgimento. [...]. Isso mesmo explica a distribuição desproporcionada de inventores e inovadores nas diversas classes sociais. As classes privilegiadas têm dado uma porcentagem consideravelmente maior de criadores científicos, técnicos e artísticos por ter em suas mãos precisamente todas as condições necessárias para criar. FIGURA 4: Cultura. 23 REFERÊNCIAS Educação e Filosofia Uberlândia, v. 25, n. 50, p. 539-556, jul./dez. 2011. ISSN 0102-6801 ALMEIDA, C. M. C. et al. 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