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Política Nacional de Humanização Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os princípios da Política Nacional de Humanização. � Identificar a relação entre a Política Nacional de Humanização e a atuação do profissional da estética. � Discutir aspectos da humanização relacionados à estética. Introdução O conceito de humanização na saúde norteia as práticas na área, a fim de proporcionar melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde e para os seus pacientes. Esse movimento busca um aprimora- mento ético das relações profissionais e uma maior participação política na busca do atendimento das reivindicações da área. Visando a atender a esses objetivos, em 2003, foi criada a Política Nacional de Humanização, apresentando aspectos importantes que norteiam também a atuação profissional na estética como agente promotor da saúde. Neste capítulo, você conhecerá os princípios da Política Nacional de Humanização, sua aplicação e os aspectos de humanização importantes na área da estética. Princípios da Política Nacional de Humanização A Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada em 2003 (BRASIL, 2019) para concretizar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando U N I D A D E 1 a realização de trocas de forma solidária entre gestores, trabalhadores e usuários desse sistema, bem como a construção de processos coletivos de enfrentamento de relações de poder, trabalho e afeto, que, muitas vezes, produzem atitudes e práticas desumanizadoras, fatores inibidores de autonomia e corresponsabilidade dos profissionais de saúde em seu trabalho e dos usuários no cuidado de si. De forma simples, a Política Nacional de Humanização, também conhecida como HumanizaSUS, defende a inclusão de trabalhadores, usuários e gestores na produção e na gestão do cuidado e dos processos de trabalho (BRASIL, 2019). Nesse contexto, é necessário que você entenda primeiramente que humanizar se manifesta como inclusão das diferenças nos processos de gestão e de cuidado por meio de mudanças construídas não por uma pessoa ou grupo isolado, mas sim de forma coletiva e compartilhada. Ou seja, é necessário incluir todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente no processo para desenvolver novos modos de cuidar e novas formas de organizar o trabalho. Além disso, a humanização do SUS permeia o mapeamento e a interação com as demandas sociais, coletivas e subjetivas de saúde; o reconhecimento da diversidade do povo brasileiro e a entrega a todos da mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, raça/cor, origem, gênero e orientação sexual; proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais reso- lutivo; compromisso com a qualificação do ambiente, melhorando as condições de trabalho e de atendimento; compromisso com a articulação dos processos de formação com os serviços e as práticas de saúde; e, por fim, a luta por um SUS mais humano, construído com a participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um. A PNH foi estruturada a partir de princípios, métodos, diretrizes e dispo- sitivos (BRASIL, 2019), partindo-se de um conceito de humanização centrado em três pilares: ética, estética e política. Busca-se, assim, essa associação para singularizar as experiências humanas, em vez de generalizá-las, por meio de um compromisso social e político agregado à realidade, a partir da escuta das diferenças entre os sujeitos. O princípio abrange a causa ou força à ação, acionando um determinado movimento no plano das políticas públicas. Como método, caracteriza-se como a condução de um processo ou o seu modo de caminhar (meta = fim; hodos = caminho). Quanto às diretrizes, determinam as orientações gerais de determinada política. E, por dispositivos, percebe-se a atualização das dire- trizes de uma política em ações visando à melhora nos processos de trabalho. Entendendo os três pilares, podemos dizer que cada um deles está rela- cionado a diferentes aspectos sociais, como apresentados a seguir, de acordo com Verdi, Finkler e Matias (2015). Política Nacional de Humanização14 � Ética: compromisso de reconhecimento do outro, acolhendo-o em suas diferenças, dores, alegrias, modos de ver, sentir e estar na vida. � Estética: invenção de estratégias, nas relações e no cotidiano, signifi- cando a vida e o viver na construção da própria humanidade. � Política: compromisso coletivo em envolver-se no contexto de saúde. Assim, a dimensão ética é assinalada pela escuta e a transformação que pro- voca em cada pessoa, permitindo outros modos de ser, os quais são conectados com a afirmação da vida como multiplicidade e abertura para diálogo e mudança de atitudes. Já a dimensão estética é aplicada na invenção de diferentes modos de fazer, determinando novas formas de subjetivação, em um compromisso com o movimento contínuo e com o fluxo criativo. Nesse contexto, a vida é apreen- dida como “obra de arte”, na reinvenção do ser, do estar e do sentir, maneiras mais efetivas de se produzir saúde. A dimensão política problematiza e critica a realidade, é vislumbrada nas relações de poder e na democratização institucional, a partir do princípio de protagonismo dos diferentes sujeitos da própria PNH. O paradigma científico retrata a produção de conhecimento e a formação em saúde, desafios enfrentados pela PNH, desde o entendimento de sua proposta até sua efetivação no SUS. Nesse campo, incluem-se os esforços na formação de apoiadores institucionais (MARTINS, 2001). Assim, na PNH, há três princípios a partir dos quais se desdobra enquanto política pública de saúde, conforme listados a seguir. � Transversalidade ao reconhecer que as diferentes especialidades e práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele que é assistido e, juntos, esses saberes produzam a saúde de forma mais corresponsável. Esse princípio permite a transformação das relações de trabalho a partir da ampliação do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e os grupos, minimizando o isolamento e as relações de poder hierarquizadas (BRASIL, 2019). � Indissociabilidade entre atenção e gestão — trabalhadores e usuários participam ativamente do processo de tomada de decisão nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. O cuidado e a assistência em saúde não se restringem às responsabilidades da equipe de saúde, pois o usuário e sua rede sociofamiliar devem também se responsabilizar pelo cuidado de si nos tratamentos, assumindo posição protagonista com relação à sua saúde e à daqueles que lhes são caros. Com isso, é possível determinar a alteração dos modos de cuidar inseparáveis da alteração dos modos de gerir e de se apropriar do trabalho; a inseparabilidade entre clínica e 15Política Nacional de Humanização política, entre produção de saúde e produção de sujeitos; a integralidade do cuidado e a integração dos processos de trabalho (BRASIL, 2019). � Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e dos cole- tivos — gestão e atenção construídas com a ampliação da autonomia e da vontade das pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades. Assim, os usuários não são só pacientes e os trabalhadores não só cumprem ordens, o que faz as mudanças ocorrerem de acordo com o reconhecimento do papel de cada um, reforçando o trabalhar na produção de si e na produção do mundo, das diferentes realidades sociais, ou seja, econômicas, políticas, institucionais e culturais (BRASIL, 2019). Então, é possível perceber, por meio dessas diretrizes, que um SUS huma- nizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos, valorizando e incentivando sua atuação na produção de saúde. Como diretrizes, estabelece-se: � acolhimento; � gestão participativa e cogestão; � ambiência;� clínica ampliada e compartilhada; � valorização do trabalhador; � defesa dos direitos dos usuários. Os métodos da PNH, por sua vez, buscam a inclusão nos processos de produção de saúde e de seus diferentes agentes, caracterizando um “método de tríplice inclusão” (HECKERT; NEVES, 2010): � inclusão dos diferentes sujeitos (gestores, trabalhadores e usuários) — produção de autonomia, protagonismo e corresponsabilidade; � inclusão dos analisadores sociais ou dos fenômenos que desestabilizam os modelos tradicionais de atenção e de gestão, acolhendo e potencia- lizando os processos de mudança; � inclusão do coletivo, seja como movimento social organizado, seja como experiência singular sensível (mudança dos perceptos e dos afetos) dos trabalhadores de saúde quando em trabalho em grupo. No caso das diretrizes da PNH, o método da inclusão destaca: clínica ampliada, cogestão, acolhimento, valorização do trabalho e do trabalhador, defesa dos direitos do usuário, fomento das grupalidades, dos coletivos e das redes e a construção da memória do SUS que dá certo. Política Nacional de Humanização16 Como dispositivos, envolvendo coletivos e visando a propiciar as mudanças nos modelos de atenção e de gestão, foram criados grupos, setores e projetos, listados a seguir. � Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) e Câmara Técnica de Hu- manização (CTH). � Colegiado Gestor. � Contrato de Gestão. � Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde: gerência de “porta aberta”; ouvidorias; grupos focais e pesquisas de satisfação, etc. � Visita aberta e direito a acompanhante. � Programa de Formação em Saúde do Trabalhador (PFST) e Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP). � Equipe transdisciplinar de referência e de apoio matricial. � Projetos cogeridos de ambiência. � Acolhimento com classificação de riscos. � Projeto Terapêutico Singular e Projeto de Saúde Coletiva. � Projeto Memória do SUS que dá certo. Todos os dispositivos e referências sobre a Política Nacional de Humanização podem ser encontrados de forma detalhada em cartilhas, textos, artigos e documentos específicos de referência, disponibilizados nas publicações e no site da PNH, disponível no link ou código a seguir. https://qrgo.page.link/qBfDg Como você deve ter percebido, incluir os trabalhadores na gestão torna- -se essencial como uma ferramenta para que eles reinventem seus processos de trabalho e sejam agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. Já a inclusão de usuários e suas redes sociofamiliares nos processos de cuidado representa um importante recurso para a ampliação da corresponsabilização no cuidado de si mesmo. E tudo isso é realizado por meio de rodas de conversa, pelo incentivo às redes e aos movimentos sociais e pela gestão dos conflitos 17Política Nacional de Humanização https://qrgo.page.link/qBfDg gerados pela inclusão das diferenças, ferramentas experimentadas nos serviços de saúde (HOSPITAL SANTA MARCELINA, 2019). A seguir, você poderá identificar a relação entre a PNH e a atuação do profissional da estética, bem como os aspectos da humanização relacionados à estética. Política Nacional de Humanização e a atuação do profissional da estética Para que você entenda como a PNH está relacionada com a atuação do profis- sional de estética, é necessário que resgate as principais responsabilidades e busque a inter-relação com suas diretrizes e princípios. Antes de tudo, muito além do que cuidar da beleza, o profissional de estética desempenha um papel fundamental na promoção do bem-estar das pessoas, uma vez que a busca pela qualidade de vida está intimamente ligada e até condicionada à aceitação da autoimagem, bem como de suas boas condições físicas e emocionais. A insatisfação com a aparência é responsável pelo desencadeamento de vários transtornos, assim como impede que as pessoas desenvolvam a ca- pacidade de suportar problemas simples do dia a dia, causando frustração, tristeza e depressão. Refletindo sobre esse assunto, você pode compreender o contexto no qual a atuação do esteticista está inserido e como ele deve ser capacitado para as atividades às quais se propõe a realizar, pois pode interferir positivamente ou não na vida do paciente, permitindo uma relação pacífica tanto com sua autoestima como a promoção de seu bem-estar geral . Então, mesmo intimamente vinculada ao conceito de beleza, a estética tem relação direta com a saúde e o bem-estar, reconhecida tanto pelo Ministério da Educação quanto pelo Ministério do Trabalho como uma profissão catalogada no eixo da saúde, integrando-se, dessa forma, à área de saúde, não da beleza. Logo, essa caracterização gera muito mais que segurança para o profissional e para o paciente, mas também a responsabilidade desse profissional como agente promotor de saúde e bem-estar. Por esses motivos, é importante que a atuação do profissional na estética tenha uma visão humanizada e holística de seu paciente/cliente, atentando-se não somente para os aspectos físico e estético, mas também para saúde e a beleza emocional. Cabe ressaltar também que, com o avanço da tecnologia e a constante demanda por técnicas e produtos inovadores, a área de estética e cosmetologia recebe constante atenção, desenvolvendo-se de uma forma sólida, consistente Política Nacional de Humanização18 e segura, recebendo não somente a confiança dos clientes, como também um aumento constante na procura pelos procedimentos e uma parcela cada vez maior de pessoas que migram ou se formam na área. E é aí que entra um importante alerta: a responsabilidade, a ética e a humanização devem estar antes da postura desmedida de ganhar dinheiro acima de qualquer coisa, sem se importar com resultados e com o ser humano. Pensando nesses conceitos de humanização da PNH, há situações impres- cindíveis, como: � manter o local de trabalho extremamente higienizado e impecável, inclusive seus materiais; � equipamento e materiais devem ser descartáveis e/ou esterilizados, conforme suas particularidades, a fim de não causar nenhum dano ou prejuízo físico e emocional aos clientes; � utilização de aparelhos em perfeitas condições de uso; � equipamentos e cosméticos utilizados no tratamento devem estar de acordo com as normas do Ministério da Saúde (Anvisa); � entender a fisiologia do organismo humano e correlacioná-la com os efeitos fisiológicos de cada técnica, equipamento ou cosmético aplicado; � atualizar-se sempre, por meio de treinamentos constantes às adapta- ções do mercado, bem como produtos e técnicas aperfeiçoadas para os tratamentos; � trabalhar com equipes multidisciplinares, respeitando os limites de sua atuação profissional; � dever e ética profissional, sem promessas aos clientes de resultados que não podem ser alcançados, buscando sua corresponsabilidade no tratamento; � analisar cada caso, definindo sessões e procedimentos necessários para alcançar o resultado eficaz nos tratamentos; � recomendações e explicações sobre cuidados e procedimentos exter- nos diários que potenciarão e/ou contribuirão para os resultados dos tratamentos; � exercer sua profissão com honestidade, zelo, respeito à saúde humana, sendo ético e sigiloso com os tratamentos realizados em determinado cliente; � prestar assistência sem distinção, beneficiando a saúde e a higiene a qualquer indivíduo, independentemente da sua razão social, racial ou religiosa; 19Política Nacional de Humanização � realizar anamnese e avaliação estética prévia do cliente antes de qualquer procedimento, entendendo as particularidades de sua pele e as limita- ções de cada organismo, a fim de indicar quais serão os procedimentos desenvolvidos, quais alterações serão causadas na pele, o que o cliente precisa fazer e o que não pode fazer durante o tratamento; � domínio na utilização dos equipamentos aplicados à tecnologia estética, agilidade, coordenação motora, atenção, percepção e hábitos de higiene. Assim,quando se trata de saúde, é possível interligar a estrutura da PNH com a atuação do profissional de estética por meio de seus princípios, métodos, diretrizes e dispositivos, partindo de um conceito de humanização centrado nos três pilares: a ética, a estética e a política (Quadro 1). PNH Aplicação na área da estética Princípios Transversalidade Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade. Indissociabilidade entre atenção e gestão O cuidado e a assistência em saúde não se restringem apenas às responsabilidades do profissional de estética, pois o cliente também deve se responsabilizar pelo cuidado de si nos tratamentos e pode propor alternativas. Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e dos coletivos Ampliação da autonomia e da vontade das pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades no tratamento estético, e responsabilidade do profissional em se atualizar e se aprimorar, a fim de se tornar um ser ativo no desempenho de suas atividades, sempre produzindo e inovando. Método Produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho O profissional como ser ativo de seu desenvolvimento e da gestão de suas atividades. Quadro 1. Como aplicar a PNH à atuação do profissional de estética Política Nacional de Humanização20 Diretrizes Acolhimento Escuta qualificada, compromisso, vínculo. Gestão participativa e cogestão Rodas de conversas, discussão de casos e situações para produção de novas alternativas de protocolos, workshops e compartilhamento de técnicas e conhecimentos, estar aberto a escutar sugestões, reclamações e elogios dos clientes e demais profissionais envolvidos, como ferramenta de desenvolvimento e implantação de novas alternativas. Clínica ampliada e cogestão Afeto nas relações (empatia), qualificação do diálogo, decisões compartilhadas. Ambiência Espaços saudáveis, limpos, seguros, acolhedores e confortáveis, respeitando a privacidade dos clientes, e espaços que incentivem o processo de trabalho e o encontro/boa convivência das pessoas. Valorização do trabalhador Valorizar a experiência de cada trabalhador, visando à sua inclusão na tomada de decisões e incentivando/desenvolvendo sua capacidade de analisar, definir e qualificar os processos de trabalho. Defesa dos direitos dos usuários Respeitar os direitos garantidos por lei dos usuários e incentivá-los quanto ao conhecimento destes, assegurando que sejam cumpridos sem distinção. Atenção especializada Garantir o atendimento e os horários dos serviços que se propôs a prestar. Articular a multidisciplinaridade para ações diagnósticas e terapêuticas (médicos, educadores físicos, nutricionistas, psicólogos, etc.). Definir atendimentos estéticos personalizados, sem intervenção desnecessária e respeitando a individualidade de cada um. Quadro 1. Como aplicar a PNH à atuação do profissional de estética 21Política Nacional de Humanização Aspectos da humanização relacionados à estética Há algum tempo, a indústria da beleza e a movimentação econômica incentivam o consumismo desenfreado, acarretando a banalização dos atendimentos pelos profissionais de saúde estética, que, muitas vezes, não têm a capacitação nem a for- mação mínima para execução desses procedimentos. Essa atitude de massificação da estética reduz o ser humano a meramente um objeto de ganho financeiro, e não é esta a proposta da estética, cujo objetivo do profissional é proporcionar saúde e bem-estar a quem o procura. Por esses motivos, há um movimento constante pela conscientização de uma estética humanizada, personalizada, que extermine o hábito de pacotes fechados, compras coletivas de tratamentos e protocolos padrões, bem como o trabalho sem habilitação mínima para exercer os procedimentos estéticos. Assim, quando se fala em “estética humanizada”, fala-se do resgate do real significado da palavra “estética” e do papel do profissional da área, que deve proporcionar ao paciente um atendimento personalizado conforme suas necessidades e particularidades, de maneira ética, responsável e com com- promisso e respeito pela vida, valorizando-o acima de tudo como pessoa. A estética humanizada também engloba outros aspectos essenciais, como a atenção adequada a públicos que já estão passando por momentos de maior sensibilidade e requerem cuidados específicos para sua situação, como pacien- tes submetidos a tratamentos oncológicos, gestantes, pessoas em depressão e com transtornos de ansiedade; pessoas que não podem ser excluídas da estética, mas que, ao mesmo tempo, necessitam de acompanhamento multiprofissional e muito conhecimento e habilidade por parte do profissional. Pensando em humanização, esses aspectos iniciam na vivência do dia a dia nos atendimentos estéticos, abrangendo todo tipo de público, nos mais diferentes tratamentos, e exigindo o conhecimento técnico e a habilidade do profissional para proporcionar saúde e beleza. Humanismo e humanização apontam o ser humano como ponto central do trabalho, reconhecendo seus sentimentos, angústias e emoções, bem como se relacionam à estética como uma busca da felicidade, bem-estar, saúde, qualidade de vida e autoestima, o que valoriza a estética como um reforço aos cuidados e à atenção, desde a segurança na escolha das técnicas até os produtos utilizados. Política Nacional de Humanização22 Os aspectos de humanização na estética incluem todo tipo de atendimento, como o daquele adolescente incomodado com a acne que interfere em suas relações emocionais e sociais; a gestante em momento especial e delicado de sua vida; a melhor idade, com expectativas de vida saudável cada vez maiores; as mulheres expostas a alterações hormonais e endócrinas; os homens, conquis- tando cada vez mais os espaços de estética e beleza; adolescentes desesperadas com suas estrias. Todos esses públicos confiam no profissional de estética, que estabelece um vínculo de acolhimento, transparência e compromisso em compartilhar a busca pela melhora de seu bem-estar. Nesse sentido, destaca-se a escolha de produtos cosméticos que não inter- firam ou prejudiquem sua saúde. Outro ponto importante a ser observado é o atendimento em si. O interesse, a atenção, o cuidado e o respeito à vida do outro como ser único, independentemente de quem seja e do momento em que esteja vivendo, são essenciais para o acolhimento tão defendido pela PNH no SUS e na saúde privada. A excelência e a eficácia técnica no atendimento, com bons resultados, perde-se sem humanização. E, nesse momento, destaca-se a avaliação robótica e o preenchimento da ficha de anamnese do paciente, que deve ser realizada com empatia e consideração pelo ser humano, não sendo simplesmente um ato de preencher dados básicos e de saúde. O profissional precisa ter a visão holística do ser humano, atentando-se para suas necessidades únicas, conhecer e conversar sobre suas expectativas, sua relação atual com seu corpo, seu organismo e com as alterações que o incomodam, buscar as causas, entendendo sua fisiologia e compartilhando-a de maneira simples e de fácil entendimento com seu cliente, indo além das questões estéticas, da genética e da interferência do meio e dos hábitos que o cercam. Humanizar vai além de chamar o paciente pelo nome ou mostrar um sorriso no rosto. Aborda um acompanhamento capaz de atender suas necessidades e orientá-lo quanto ao seu estado e às condições abordadas no atendimento, compreendendo seus medos, incertezas e angústias. Condições adequadas de trabalho, com espaços confortáveis, respeitando a individualidade, o atendimento personalizado e a especialização do profis- sional são fatores essenciais para a humanização dos atendimentos estéticos, o que retira o profissional de estética da condição de “aplicador de cosméti- cos”, colocando-o com agente ativo do processo de saúde, tendo importância dentro de um contexto maior e usando seus conhecimentos para desenvolvertratamentos exclusivos a quem lhe procura. A relação de ética e honestidade são critérios que permitem a atuação com segurança na aplicação dos tratamentos, na atenção quanto à biossegurança e na escolha dos produtos e materiais utilizados. Deve-se observar a composição 23Política Nacional de Humanização dos cosméticos utilizados, e não a marca de preferência ou que lhe oferece maiores benefícios financeiros, entender os rótulos, buscar produtos apropria- dos à saúde e à pele de cada cliente, visando a resultados eficazes e seguros. Outro aspecto importante é a comunicação entre os profissionais da mesma área e aqueles que complementam a estética, em busca de atualiza- ção, compartilhando informações e experiências em prol da excelência e da humanização. Esse aspecto também inclui a atenção e o encaminhamento de queixas, reclamações e sugestões dos clientes, inclusive as de cunho emotivo, no entendimento do indivíduo como um ser emocionalmente estável que pode colaborar melhor com o tratamento. Assim, é necessária uma comunicação com transparência das informações e sem rodeios, sem levantar dúvidas sobre a eficácia dos tratamentos e do serviço prestado. O profissional deve transmitir segurança e confiança antes, durante e depois do tratamento, gerando conforto, principalmente quando o cliente estiver à espera de procedimentos ou estiver inseguro quanto a determinadas técnicas. Por fim, oriente seu cliente de maneira personalizada, compreendendo suas preferências e aversões, em vez de apenas lhe dizer o que deve ou não fazer. Ao elaborar seu plano de tratamento personalizado, lembre-se dos aspectos de humanização, das boas condições de trabalho, da satisfação e da assistência adequadas. Promova o diálogo, respeite posicionamentos diferentes e reconheça não apenas as limitações dos outros, mas as suas também. Trate as pessoas que trabalham com você e/ou fornecedores como deseja que seus pacientes sejam tratados, proporcionando um ambiente de trabalho mais humanizado. Incentive comportamentos que geram relações profissionais de confiança, aumento de produtividade e queda da rotatividade dos funcionários, refletindo também quanto aos tratamentos ofertados. O processo de humanização bem direcionado e aplicado promove uma evolução satisfatória no quadro clínico do indivíduo, visando à qualidade e à eficiência dos resultados. Política Nacional de Humanização24 1� A respeito da humanização em saúde, analise as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa correta. I. Humanizar a atenção à saúde é reconhecer o ser humano em sua dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e de gestão no SUS. II. É valorizar os direitos do cidadão, considerando as questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e o respeito às populações específicas. III. É estabelecer vínculos solidários e de participação coletiva, por meio da gestão participativa, com os trabalhadores e os usuários. a) Apenas II está correta. b) Apenas I e II estão corretas. c) I, II e III estão corretas. d) Apenas III está correta. e) Apenas I e III estão corretas. 2� Em 2003, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL, 2003) para concretizar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando a realização de trocas de forma solidária entre gestores, trabalhadores e usuários desse sistema. Sobre as finalidades da PNH da atenção à saúde, analise as afirmativas a seguir e depois assinale a alternativa correta. A. A fragmentação dos processos de trabalho desmotiva as relações solidárias entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários. B. Reversão de quadros de autoritarismo e mecanicismo do processo de trabalho a partir do investimento na construção de um novo tipo de interação entre os diferentes públicos envolvidos na produção de saúde. C. Incentivo à participação coletiva no processo de gestão, com vistas ao desenvolvimento de protagonismos e corresponsabilidades, ao estabelecimento de vínculos solidários, à indissociabilidade entre atenção e gestão e ao fortalecimento do SUS. a) Apenas A está correta. b) Apenas A e C estão corretas. c) Apenas C está correta. d) Apenas B e C estão corretas. e) A, B e C estão corretas. 3� Em relação ao modelo proposto na PNH que vem se consolidando no setor da saúde, seus valores humanitários e adoção de novas estratégias estão previstos nas diretrizes de acolhimento, vínculo/ responsabilização, autonomização e reorganização dos processos de trabalho. Identifique a alternativa que melhor responde ao conceito de vínculo/responsabilização. a) Possibilidade de universalizar o acesso, abrindo as portas da Unidade a todos os usuários que dela necessitarem, utilizando a escuta qualificada no atendimento, visando à resolução dos seus problemas com respostas positivas e encaminhamentos adequados. 25Política Nacional de Humanização b) Baseia-se no estabelecimento de referências dos usuários a uma dada equipe de trabalhadores e na responsabilização destes para com aqueles, no que diz respeito à produção de cuidados. c) Revisão de novas práticas profissionais ancoradas na comunicação entre a equipe de multiprofissionais a partir de seus conceitos de trabalho e poder. d) Caracteriza-se como a ferramenta de alcance de resultados esperados da produção do cuidado, por meio do ganho de autonomia do usuário para “viver a vida”. e) Fortalecimento da equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinaridade e a grupalidade. 4� A Clínica Ampliada e Compartilhada é uma das diretrizes da PNH, sendo muito importante para a atuação do profissional de estética, por representar uma das possibilidades de humanização de seus serviços. Identifique, entre as afirmativas a seguir, aquela(s) que melhor define(m) a Clínica Ampliada e Compartilhada. A. Assumir um compromisso ético. B. Reconhecer os limites do conhecimento da sua atuação profissional e das tecnologias empregadas. C. Um protocolo padrão para todos os clientes, sem identificar suas particularidades. D. Ampliar a clínica é aumentar a autonomia do usuário do serviço de saúde, da família e da comunidade no seu processo de saúde. a) Apenas A é verdadeira. b) A, C e D são verdadeiras. c) A, B e D são verdadeiras. d) Apenas C é verdadeira. e) A, B, C e D são verdadeiras. 5� A PNH estimula a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários para construir processos de enfrentamento de relações de poder, trabalho e afeto que, muitas vezes, produzem atitudes e práticas desumanizadoras que inibem a autonomia e a corresponsabilidade dos profissionais de saúde em seu trabalho e dos usuários no cuidado de si. Sobre essa política, marque a alternativa correta. a) O usuário deve ser o único responsável pelos seus tratamentos. b) Reconhece que a participação ativa dos trabalhadores e dos usuários no processo de tomada de decisão nas organizações de saúde interfere de maneira negativa nos planejamentos e nas atividades diárias. c) Constitui uma ferramenta de administração colaborativa entre os coordenadores das ações e serviços do SUS, baseada na troca de experiências vividas pelos usuários, permitindo, assim, maior qualificação na gestão participativa do SUS. d) Defende a fragmentação dos processos de trabalho, incentivando a separação das relações pessoais entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários. e) Representa uma política de construção colaborativa da saúde entre os usuários das ações e dos serviços do SUS e visa à troca de experiências vividas por esses usuários, permitindo, assim, maior qualificação na gestão participativa do SUS. Política Nacional de Humanização26 BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: sobre o programa. Disponível em: http:// www.saude.gov.br/acoes-e-programas/humanizasus/sobre-o-programa.Acesso em: 10 jun. 2019. HECKERT, A. L. C.; NEVES, C. A. B. Modos de formar e modos de intervir: quando a formação se faz potência de produção de coletivo. In: PASSOS, E. (org.). Cadernos te- máticos PNH: formação em humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Cadernos HumanizaSUS: formação e intervenção, 1). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/cadernos_humanizaSUS.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019. HOSPITAL SANTA MARCELINA. Política Nacional de Humanização (PNH). Disponível em: https://santamarcelina.org/projetos-sociais/projetos-e-acoes/. Acesso em: 10 jun. 2019. MARTINS, M. C. F. N. Humanização das relações assistenciais: a formação do profissional de saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. VERDI, M.; FINKLER, M.; MATIAS, M. C. S. A dimensão ético-estético-política da Huma- nização do SUS. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 24, n. 3, p. 363–372, jul./set. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ress/v24n3/2237-9622-ress-24-03-00363.pdf. Acesso em: 10 jun. 2019. 27Política Nacional de Humanização http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/humanizasus/sobre-o-programa http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/humanizasus/sobre-o-programa http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_humanizaSUS.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_humanizaSUS.pdf https://santamarcelina.org/projetos-sociais/projetos-e-acoes/ http://www.scielo.br/pdf/ress/v24n3/2237-9622-ress-24-03-00363.pdf
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