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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO MATÉRIA: NUTRIÇÃO E DIETÉTICA NO CICLO DE VIDA I PROFESSORA: Dra. Geania de Sousa Paz Lima ALUNA: Maria Clara Gomes de Oliveira Orientações durante a gravidez: medidas de intervenção As alterações fisiológicas que ocorrem durante a gestação são principalmente influenciadas por fatores hormonais e mecânicos. É importante entender que os ajustes no organismo da mulher durante esse período são considerados normais, embora possam causar alguns sintomas que afetam sua saúde. A seguir, encontram-se algumas intervenções para alguns sintomas recorrentes durante tal período: 1. Náuseas com ou sem vômitos: No 1ª trimestre é frequente o aparecimento de náuseas e vômitos (50 a 90% das gestantes), levando, em geral, à anorexia, embora uma quantidade equivalente de mulheres relatam melhora no apetite e parcela considerável admita “desejos” por certos alimentos. A base fisiológica das náuseas, habitualmente matinais, é desconhecida, embora possa estar relacionada com níveis crescentes de gonadotrofina coriônica humana (hCG) e de estrogênios, hormônios que ajudam a manter a gravidez. Com o surgimento de tal sintomas recomenda-se a gestante à: - Comer porções mais pequenas porém, frequentes ao longo do dia; - Evitar alimentos gordurosos e picantes; - Manter-se hidratada, bebendo líquidos entre as refeições. 2. Sialorréia ou Ptialismo (Salivação excessiva): Dentre as principais causas da salivação excessiva durante a gravidez encontram-se o estímulo dos ramos dos trigêmeos, a hipertonia vagal ou causas psicológicas. Sendo assim, recomenda-se no presente caso: - Manter lenços de papel por perto para secar a boca quando necessário. 3. Azia ou Pirose: Durante a gravidez ocorre a diminuição do tônus, motilidade e hipotonia do sistema gastrointestinal devido a ação circulante da progesterona. Uma consequência imediata é a alta incidência de pirose em que deve se intervir da seguinte forma: - Evitar alimentos condimentados, ácidos e fritos; - Mantenha-se em posição ereta após as refeições; - Em casos de muito incômodo, usar antiácidos prescritos por um médico, seguros para gestantes. 4. Fraqueza, Tontura e Desmaio: A partir de 20 semanas de gestação, o útero gravídico impede o retorno venoso ao coração, quando a gestante assume a posição supina. Muitas mulheres experimentam, em consequência, a chamada síndrome de hipotensão supina, às vezes apresentando fraqueza, tontura e até perda da consciência. Nesse caso, recomenda-se: - Levantar devagar para evitar tonturas; - Ao se levantar da cama, primeiro sente-se por algum tempo e somente depois levante; - Manter-se bem hidratada e coma regularmente para manter os níveis de açúcar no sangue. 5. Constipação intestinal e flatulência: O sistema gastrintestinal (esôfago, estômago, vesícula, intestino) permanece atônico durante toda a gestação. Os fatores determinantes são hormonais, os mesmos que relaxam a musculatura de artérias, veias e ureteres. Uma consequência imediata é a alta incidência de pirose, combinação do relaxamento do esfíncter gastroesofágico ao aumento de pressão intra-abdominal, essa condicionada pela presença do útero gravídico. A atonia do cólon explica a grande frequência da constipação intestinal e flatulências. Nesse caso, o mais recomendável a gestante é: - Consumir alimentos ricos em fibras solúveis, como frutas, legumes e grãos integrais; - Beber bastante água; - Praticar exercícios leves e movimentar-se regularmente para ajudar na digestão. 6. Hemorróidas: A atonia do cólon durante a gravidez resulta na dificuldade da evacuação explicando a grande frequência da constipação intestinal e consequentemente a ocorrência de hemorróidas. Neste caso, recomenda-se: - Evitar a constipação seguindo uma dieta rica em fibras; - Usar almofadas de banho mornas para aliviar o desconforto; - Uso de supositórios prescritos por médico. 7. Dor lombar: A postura da gestante se altera, precedendo mesmo a expansão de volume do útero gestante. Quando, porém, a matriz, evadida da pelve, apoia-se à parede abdominal, e as mamas, dilatadas e engrandecidas, pesam no tórax, o centro de gravidade se desvia para frente, e todo o corpo, em compensação, projeta-se para trás. A atitude adotada então é, de modo involuntário, a de quem carrega objeto pesado, mantendo-o, com as duas mãos, na frente do abdome. Grupamentos musculares que ordinariamente não têm função nítida ou constante passam a atuar, estirando-se e contraindo-se, e sua fadiga responde pelas dores cervicais e lombares, queixa comum. Em casos de desconfortos na região lombar, recomenda-se: - Manter uma postura correta ao sentar, levantar e dormir; - Realizar exercícios de fortalecimento muscular recomendados pelo médico ou fisioterapeuta. 8. Dor nas mamas: Durante a gravidez um sintoma bastante comum é a mastalgia, ou seja, o desconforto das mamas devido ao desenvolvimento dos ductos mamários para o transporte do leite. No caso de tal desconforto na área mamária, recomenda-se: - Usar sutiãs de suporte adequados; - Aplicar compressas mornas para aliviar o desconforto. 9. Dispnéia (falta de ar e dificuldade para respirar): Alterações marcantes na caixa torácica e no diafragma caracterizam a gravidez. Com o relaxamento dos ligamentos das costelas. Os diâmetros ântero posterior e transverso do tórax aumentam. A complacência da parede torácica, todavia, diminui com o evoluir da gestação, aumentando o trabalho da respiração e podendo ocasionar sintomas como falta de ar. Nesse caso, recomenda-se: - Descanse quando necessário; - Evite atividades extenuantes. 10. Câimbras nas pernas: A cãibra na gravidez é causada por contrações involuntárias dos músculos devido a uma incapacidade momentânea de ressintetizar energia (ATP), que atrapalham a recaptação do cálcio no corpo da gestante. Geralmente são seguidas de dor intensa. Ela pode ocorrer ao longo das 40 semanas e suas chances aumentam nos últimos meses, quando a barriga está maior e o bebê utiliza o estoque materno de cálcio para o desenvolvimento final do sistema ósseo. Ademais, uma outra causa da cãibra é a desidratação, que tem como consequência uma alteração hidroeletrolítica, um desequilíbrio na ingestão de alguns micronutrientes, como sódio e potássio. Desse modo, caso surja tal sintoma é recomendável: - Manter-se hidratada; - Fazer alongamentos suaves antes de dormir; - Intervenções orais (magnésio, cálcio, vitamina D com cálcio, vitamina B ou vitamina C). 11. Edema dos pés e tornozelos e varizes: A pressão venosa nos membros inferiores aumenta cerca de três vezes, em virtude da compressão que o útero determina nas veias pélvicas, em particular na posição de pé, parada, quando há maior aprisionamento de sangue nas pernas e nas coxas. Há, na gravidez, tendência à hipotensão, lipotimia, ortostática, edema dos membros inferiores, varicosidades e hemorróidas. Nesse caso, recomenda-se: - Manter-se ativa com caminhadas regulares; - Elevar as pernas sempre que possível; - Usar meias de compressão conforme recomendado pelo médico. 12. Corrimento vaginal: Sob a influência dos estrogênios, o epitélio vaginal se espessa durante a gravidez e há aumento da sua descamação, o que resulta em maior secreção vaginal. Essa secreção tem pH mais ácido do que o existente na mulher não gestante (4,5 a 5,0), para proteger contra a infecção ascendente. A vagina também aumenta a sua vascularização com a gravidez. Alterações na cor, cheiro ou consistência do corrimento vaginal podem indicar uma infecção, portanto, preste atenção durante a gravidez. - Usar roupas íntimas de algodão; - Evitar duchas vaginais; - Consultar o médico se houver odor desagradável, coceira ou irritação. 13. Dor abdominal: As articulações apresentam maior mobilidade durante a gestação, notadamente as sacroilíacas e a sínfise pubiana. Atribui-se à relaxina, secretada pela placenta, a frouxidão dos ligamentos, especialmente da sínfisepubiana, que pode alargar cerca de 4 mm nas primíparas e 4,5 mm nas multíparas. A principal resultante dessas modificações é o aumento da capacidade pélvica, favorecendo a disjunção sinfisária e os movimentos de nutação do sacro. Durante a motilidade pode ocorrer dores na região abdominal, como também as mesmas podem ser ocasionadas pelas modificações feitas no sistema gastrointestinal. Dessa forma, recomenda-se: - Descansar e evitar atividades desgastantes; - Mantenha uma dieta leve e fácil de digerir; - Consulte o médico se a dor for intensa ou persistente. 14. Cólica: Na gravidez, há imediato amolecimento na região correspondente ao local da implantação no útero, progredindo por todo o órgão e pelas outras estruturas pélvicas. É a diminuição da consistência subordinada à embebição gravídica e à redução do tônus, precocemente notadas especialmente no istmo, determinando o sinal de Hegar. Simultaneamente o órgão aumenta, inicialmente de modo desigual, mais acentuada a expansão na zona de implantação, o que lhe impõe forma assimétrica (sinal de Piskacek). Durante tais transformações ocorridas no útero, é comum o surgimento de desconfortos e dores nessa região. Dessa forma, recomenda-se no surgimento de tal sintoma: - Descansar e aplicar calor na região abdominal; - Tomar banhos mornos para aliviar a dor; - Consulte o médico se houver sangramento vaginal ou febre. 15. Queixas urinárias: No sistema urinário inferior, a anatomia da bexiga está distorcida pela compressão direta do útero gravídico. A bexiga é deslocada anteriormente, com expansão lateral, pari passu com a compressão do útero aumentado na cúpula vesical. Além disso, os níveis circulantes elevados de estrogénios determinam hiperemia e a maior necessidade de urinar em curto tempo devido a pressão exercida. Além disso, o aumento do fluxo sanguíneo renal em 60 a 80 % ocasiona uma maior remoção de resíduos tanto maternos como fetais, ou seja, aumentando a frequência urinária. Nesse caso, recomenda-se: - Urinar sempre que sentir vontade, não segurar. - Evitar bebidas que irritem a bexiga, como café e refrigerantes com cafeína. 16. Picamalácia (Desejos alimentares excêntricos): Várias mulheres relatam melhora no apetite e parcela considerável admite “desejos” por certos alimentos durante a gravidez. As causas da picamalácia são pouco conhecidas, mas há estudos que relacionam esse costume com a carência de ferro no corpo e com os desconfortos digestivos, dois aspectos também comuns na gravidez. No caso do surgimento de tal sintoma, recomenda-se: - Em geral, desejos alimentares são inofensivos, mas modere o consumo de alimentos pouco saudáveis. - Mantenha uma dieta equilibrada, mas permita-se pequenas indulgências ocasionalmente. 17. Direitos e deveres trabalhistas: Conheça seus direitos legais relacionados à licença-maternidade, folgas médicas e condições de trabalho seguras para gestantes. Quando necessário, comunique-se com o empregador sobre quaisquer necessidades específicas relacionadas à gravidez. Para tais necessidades consulte o Artigo 392 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): - Licença-maternidade de 120 dias (a partir do 8º mês de gestação), sem prejuízo do emprego e do salário, que será integral; - Dois descansos diários de 30 minutos para amamentação, até a criança completar seis meses de vida; - Estabilidade no emprego: da confirmação da gravidez até cinco meses após o parto a gestante não poderá ser demitida sem justa causa; - A gestação não pode ser motivo de negativa de admissão em emprego; - Ser dispensada no horário de trabalho para a realização de pelo menos seis consultas médicas e demais exames complementares; - Mudar de função ou setor de acordo com o estado de saúde e ter assegurada a retomada da antiga posição. 18. Alimentação saudável: As alterações no metabolismo materno são necessárias para suprir as exigências suscitadas pelo rápido crescimento e desenvolvimento do concepto durante a gravidez. Ocorrem grandes modificações no metabolismo de energia e na necessidade nutricional tanto em macro e micronutrientes. A partir disso, a gestante deve estar atenta: - Consumir uma variedade de alimentos ricos em nutrientes e refeições balanceados, com frutas, vegetais, proteínas magras e grãos integrais; - Evitar alimentos processados e ricos em açúcar; - Consultar um nutricionista para orientações personalizadas, se necessário. 19. Alimentos que devem ser evitados e porque: - Evite alimentos crus ou mal cozidos, como carnes, ovos e peixes, para reduzir o risco de infecções alimentares. - Limite a ingestão de cafeína, pois o consumo excessivo pode estar associado a complicações na gravidez. - Evite álcool e tabaco, pois podem causar danos ao feto. Referências Bibliográficas ACCIOLY, E., SAUNDERS, C. LACERDA, E. M. A. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Rio de Janeiro: 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho: aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1943. MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. R. Rezende Obstetrícia Fundamental. 13. ed. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2014.
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