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Indaial – 2023 Microbiologia Prof. Jean Carlos Fernando Besson Prof.a Sara Macente Boni 2a Edição Elaboração: Prof. Jean Carlos Fernando Besson Prof.a Sara Macente Boni Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. BESSON, Jean Carlos Fernando; BONI, Sara Macente Microbiologia. Jean Carlos Fernando Besson e Sara Macente Boni. Florianópo- lis - SC: Arqué, 2023. 224p. ISBN 978-65-6083-417-0 ISBN Digital 978-65-6083-418-7 “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Microbiologia 3. Imunologia CDD 560 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Nossos mecanismos de defesa são capazes de criar diferentes estratégias que impossibilitam que infecções bacterianas, fúngicas e virais possam causar enormes danos em nosso organismo. Nesse cenário, a microbiologia possibilita estudar os dife- rentes tipos de microrganismos existentes, a importância deles na indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica. Além disso, algumas espécies desses microrganismos apre- sentam relevância clínica, devido a sua capacidade de causar doenças com diferentes perfis, desde as mais simples até as mais drásticas e potencialmente fatais. Um clássico exemplo da importância da íntima relação da microbiologia e a imunologia foi a pande- mia da doença do novo coronavírus (Covid-19), causada pelo coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda severa (SARS-CoV-2). Você sabe como o vírus infecta o tecido do hospedeiro saudável? Como o sistema imune reage contra os vírus? O vírus SARS-Cov-2 é potencialmente fatal para o organismo humano quando infecta o trato respiratório, causando a síndrome respiratória aguda severa (SARS) em casos mais graves. Trata-se de um vírus de RNA fita simples positiva, da família coronavírus, sendo transmitido por hospedeiros intermediários, como os morcegos. Para combater o vírus, o sistema imunológico dispõe de mecanismos efetores inatos e adaptativos celulares e humorais. Além disso, uma pequena concentração de linfó- citos vai armazenar informações genéticas do vírus, criando a “memória imunológica” nos órgãos linfoides. Em outro momento, caso o mesmo indivíduo seja contaminado novamente pelo mesmo tipo de vírus ou por linhagens mutantes do mesmo vírus ori- ginal, a memória imunológica será evocada, e o vírus, eliminado. No caso da vacina para o novo SARS-CoV-2, são utilizadas partes da estrutura do vírus, como uma prote- ína, por exemplo, ou o próprio material genético. Mesmo imunizado, o indivíduo poderá ser infectado com o vírus. Entretanto poderá ser assintomático e desenvolver sinais mais brandos e menos graves da doença. Em que outros momentos o sistema imunológico atua em nosso organismo combatendo os antígenos bacterianos, fúngicos ou virais? Propomos que você pesqui- se uma dessas outras situações. Como o sistema imunológico atua eliminando bacté- rias ingeridas a partir do consumo de alimentos contaminados? Pesquise e analise os principais pontos de como esse sistema funciona. Anote as informações a respeito, pois esse será um dos temas abordados neste material. Como o sistema imunológico funciona? Por meio da pesquisa foi possível com- preender a atuação dele nesses casos? O sistema imunológico dispõe de várias linha- gens de células fagocitárias, que englobam especialmente as bactérias Gram-negativas ou positivas e os bacilos álcool-ácidos resistentes (BAAR). Quando internalizados, esses microrganismos que são digeridos enzimaticamente e os restos celulares são elimina- dos por ação do sistema linfático. Existem receptores de reconhecimento de padrões localizados na superfície de células fagocíticas, e neles se ligam as bactérias patogê- nicas que serão eliminadas pelo sistema imunológico e possibilitam a eliminação dos corpos estranhos, conhecidos como antígenos. APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare- se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Neste livro, você terá a oportunidade de conhecer os seguintes assuntos da Microbiologia: caracterização geral das bactérias; caracterização geral dos fungos; ca- racterização geral dos vírus; técnicas de diagnóstico e de esterilização frente aos mi- crorganismos; imunologia – órgãos linfoides; respostas imunes inatas e adaptativas; marcadores celulares; estudo das classes e subclasses de anticorpos; atividade hemolí- tica do soro por meio de frações e subfrações das proteínas do complemento; hipersen- sibilidades tipo I, II, III e IV; imunopatologia das infecções; imunopatologia das respostas imunossupressoras; imunopatologias e doenças autoimunes; estudos clínicos labora- toriais de imunopatologias; tolerância imunológica e transplantes; imunopatologia das neoplasias; e vacinas e imunoterapias. Acadêmico, fique tranquilo, pois esses temas relacionados aos aspectos microbioló- gicos e imunológicos são muito importantes para a sua atuação profissional, especialmente no entendimento dos mecanismos de infecção inerente aos diferentes tipos de microrganis- mos, facilitando o entendimento do diagnóstico e tratamento de diversas patologias. Ao final da disciplina, você irá entender, com muita profundidade e de forma integradora e clara, os novos temas estudados. Então, respire fundo, pegue o seu ca- derno, coloque uma música agradável e vamos aos estudos! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. QR CODE ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesseo QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS, FUNGOS E VÍRUS ................................. 1 TÓPICO 1 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS ....................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS ...................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................47 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS VÍRUS ......................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................72 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................73 UNIDADE 2 — MICRORGANISMOS, RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA E RII ...... 75 TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO E DE ESTERILIZAÇÃO FRENTE AOS MICRORGANISMOS .............................................................................................................. 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 - RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA ..................................................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 112 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 113 TÓPICO 3 - RESPOSTA IMUNE INATA (RII) ....................................................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 137 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................139 UNIDADE 3 — RIA, IMUNOLOGIA E IMUNOPATOLOGIAS ..................................................... 141 TÓPICO 1 — RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA (RIA) .........................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................169 TÓPICO 2 - TÓPICOS ESPECIAIS EM IMUNOLOGIA ..........................................................171 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................194 TÓPICO 3 - IMUNOPATOLOGIAS: CURIOSIDADES, DIAGNÓSTICO E PESQUISA ........... 197 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 217 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................219 1 UNIDADE 1 - PLANO DE ESTUDOS A cada tópico desta unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS TÓPICO 2 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS TÓPICO 3 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS VÍRUS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS, FUNGOS E VÍRUS 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, discutiremos a classificação geral das bactérias, abordando suas estruturas, morfologia, nutrição, metabolismo e reprodução. Além disso, entenderemos os princípios básicos que podem levar as bactérias a causarem doenças e as principais diferenças estruturais desses seres procariontes. Esses conceitos permeiam a base da bacteriologia clínica, proporcionando nosso raciocínio frente a situações da atividade biomédica. O conhecimento adquirido será de fundamental importância para o estudo, diagnóstico e tratamento das doenças bacterianas, bem como para entender os benefícios que esses microrganismos podem gerar para o homem e o meio ambiente. Você já se perguntou sobre a diversidade de seres microscópicos que existem ao nosso redor? Quais os efeitos desses seres minúsculos no nosso cotidiano e no meio ambiente em que vivemos? E, ainda, como era a medicina antes da descoberta dos microrganismos, especialmente das bactérias? Atualmente, torna-se muito simples pensarmos na existência delas, mas você sabe como as utilizamos no nosso dia a dia? Desde nossa infância, somos apresentados aos microrganismos e à microbiologia por meio de nossas mães. Quantas vezes você foi repreendido para não tocar em coisas sujas, para não levar à boca algo que estava no chão, ou que você deveria lavar as mãos antes das refeições? Ela não somente o alertava sobre a existência de um mundo de seres “invisíveis” que poderiam lhe causar doenças, mas também lhe ensinava a evitá-los. Podemos nos deparar constantemente, em nosso cotidiano, com a formação de uma acne em nosso rosto, com uma laranja apodrecendo na fruteira,com um pote de iogurte na geladeira ou com um bolo fofinho que acabou de sair do forno. Você sabe o que essas cenas têm em comum? Todas têm o envolvimento da ação das bactérias para que aconteçam. Estamos constantemente rodeados por bactérias, seja na indústria alimentícia, com a produção de produtos lácteos, vinagres e temperos, seja na formulação de medicamentos, na síntese de vitaminas, na fabricação de vacinas, na reciclagem contínua do meio ambiente por meio da decomposição ou habitando nosso próprio corpo. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Apesar de quase sempre associarmos a presença de bactérias com algo maléfico, somente 3% dos microrganismos conhecidos são capazes de causar doenças . Para que você possa mensurar como a grande maioria das bactérias vivem em harmonia com os humanos nos proporcionando benefícios, estima-se que há 10 vezes mais microrganismos em nossos corpos do que nossas próprias células humanas, ou seja, somos constituídos por 90% de microrganismos e apenas 10% de nossas células. Isso equivale a cerca de 1 kg do peso de um adulto (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Para entendermos melhor como acontece todo este processo de interação com as bactérias, precisamos nos aprofundar na aprendizagem de sua estrutura, morfologia, nutrição, metabolismo e reprodução. Vamos lá? Para percebermos o quanto as bactérias nos rodeiam, sugiro uma atividade prática. Vamos desenvolver um meio de cultura simples, utilizando gelatina incolor, para verificarmos os microrganismos que habitam em nosso corpo? Dissolva um pacote de gelatina incolor em água, conforme instruções do pacote, e misture uma xícara de caldo de carne (pode ser do cozimento da carne ou em cubinho). Despeje o líquido em duas tampas de margarina bem lavadas e/ou fervidas ou dois potinhos rasos até que seu fundo seja coberto e aguarde solidificar em geladeira para a finalização do seu meio de cultura. Passe um cotonete limpo entre os dentes, entre os dedos dos pés (de preferência após ficarem por um bom tempo fechados dentro dos tênis) ou dentro do nariz, e esfregue o cotonete levemente sobre o meio de cultura para contaminá- lo. Envolva as tampas de margarina com filme plástico. Marque o local de retirada da bactéria (nariz, pés, ou dentes) e leve à geladeira, observando as mudanças na sua aparência a cada três dias. Busque na internet por um vídeo ou texto que explique os benefícios e malefícios que a microbiota humana desempenha em nosso organismo e tente descrever em seu Diário de Bordo os principais pontos. Sugerimos o vídeo que você encontra no QR Code: DICAS Ao analisar a alteração que os crescimentos dos microrganismos causaram em seu meio de cultura e refletir que eles estavam no seu corpo sem causar doença ou incômodos, pense como as bactérias podem viver em simbiose com os seres humanos, lhes proporcionando benefícios. O que era invisível a olho nu, ao encontrar um ambiente capaz de fornecer nutrientes e condições para o desenvolvimento, vai sofrer uma aceleração da sua multiplicação e aparecer. 5 Você sabia que desde que somos gerados e, principalmente, após o parto, somos habitados por diversas bactérias, às quais chamamos de microbiota? Geralmente, essa microbiota nos traz proteção e equilíbrio para diversas atividades de nosso organismo, mas nem sempre funciona assim. Anote suas reflexões no diário de bordo. Segundo os cientistas, as doenças infecciosas existem nos seres humanos desde que habitamos o planeta Terra. De acordo com estudos realizados em múmias e com registros históricos, a primeira epidemia registrada foi em torno do ano 3180 a.C. Nessa época, e há relativamente pouco tempo, a população não tinha conhecimento da origem das doenças e de como evitá-las. Apesar das bactérias terem sido os primeiros microrganismos observados nos humanos, foram necessários cerca de 200 anos após sua descoberta para que fosse correlacionada sua presença com as causas de doenças (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Os antibióticos representam mais do que um progresso científico: eles revolucionaram a medicina. Contudo a des- coberta dos antibióticos deu à humanidade a ilusão de que podemos controlar doenças e dominar a natureza. Assista ao documentário “A Aventura do antibiótico” e entenda por que essa é uma guerra que as bactérias estão ganhando. DICAS Durante os últimos 400 anos, muitos pesquisadores desvendaram e contribuíram para o conhecimento que temos sobre os microrganismos, mas tivemos três microbiologistas que proporcionaram grande avanço no início das descobertas. Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) é considerado o “pai da Microbiologia” por ter sido a primeira pessoa a observar bactérias e protozoários vivos, as quais chamou de “animálculos” (Figura 1), através de lentes confeccionadas por ele e que proporcionaram aumentos de visualização de 200 a 300 vezes do tamanho real, algo nunca visto antes. Leeuwenhoek era um grande curioso e utilizava seu microscópio para examinar quase tudo o que podia. Apesar de sua descoberta, da existência de bactérias e protozoários, ele nunca questionou a origem desses microrganismos e nem sua associação à causa das doenças (DAVIS, 1973 apud MORATO et al., 1998; BLACK, 2002; ENGELKIRK; DUBEN- ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). 6 Figura 1 – Desenho de “animálculos” da boca humana feito por Leeuwenhoek. A maioria dos microrganis- mos desenhados são agora referidos como organismos unicelulares. O pesquisador ainda indicou a motilida- de desses seres com uma linha tracejada Fonte: adaptada de Morato et al. (1998). Por mais de 200 anos (1650-1850) foi estudado e debatido que a vida poderia surgir espontaneamente de material não vivo, o que se denominou teoria da geração espontânea. Foi Louis Pasteur (1822-1895) quem conseguiu comprovar que essa teoria não era verdadeira, e pôde provar que a vida só pode surgir a partir de vida preexistente, com seu famoso experimento de frasco com “pescoço de cisne” (Figura 2). A nova teoria aceita pela comunidade científica foi denominada biogênese. Além desse feito, Pasteur, por meio de seus experimentos, descobriu a existência de seres que sobrevivem na ausência de oxigênio (anaeróbicos); desenvolveu o processo de pasteurização; ofereceu significativas contribuições para a teoria germinal das doenças (que defende que microrganismos específicos causam doenças específicas); defendeu mudanças de hábitos de higiene em ambientes hospitalares; desenvolveu a vacina contra cólera aviária, antraz e erisipela suína, além de uma vacina para prevenir a raiva em cães e para tratar a raiva humana. 7 Figura 2 – Experimentos de Pasteur que refutaram a teoria da geração espontânea Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: ilustração colorida do experimento feito por Louis Pasteur em três passos. O primeiro passo está do lado direito da imagem. Na parte superior da imagem, há o número 1 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Pasteur primeiramente despejou caldo de carne bovina em um frasco de pescoço comprido”. Abaixo, há o desenho de um frasco de béquer com um líquido marrom dentro, inclinado para baixo, e o líquido caindo no frasco de pescoço comprido localizado abaixo. Desse frasco de pescoço comprido sai uma seta indicando um círculo, e dentro dele há o desenho de estruturas cilíndricas e compridas de cor marrom, representando as bactérias. Abaixo desse círculo, está escrito: “Os microrganismos estavam presentes no caldo”. O segundo passo está na imagem central. Na parte superior, há o número 2 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e o curvou em formato de S; então, ele ferveu o caldo por vários minutos”. Abaixo há o desenho de um frasco com um pescoço em formato de S, esse frasco está sobre um suporte com três pernas na cor prata, e abaixo desse suporte, há o desenho de um bico de bunsen de cor marrom, de onde sai uma chama que aquece o frasco.Da ponta do frasco sai uma fumaça de cor marrom. Uma seta sai do frasco indicando um círculo vazio. Abaixo, está escrito: “Os microrganismos não estavam presentes no caldo após a fervura”. Abaixo, há uma foto pequena onde há uma mulher branca, cabelo curto e loiro, vestindo um jaleco, suas mãos estão dentro de uma cabine e seguram uma placa de petri. O último passo está do lado direito da imagem. Na parte superior, há o número 3 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Os microrganismos não aparecem na solução resfriada, mesmo após bastante tempo”. Abaixo, há o desenho do frasco com pescoço em S. Na parte superior do pescoço, está escrito: “A curvatura impediu que os micróbios entrassem no frasco). Da base do frasco, sai uma seta indicando um círculo vazio. Abaixo desse círculo, está escrito: “Os microrganismos 1 Pasteur primeiramente despejou caldo de carne bovina em um frasco de pescoço comprido. 2 Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e o curvou em formato de S; então, ele ferveu o caldo por vários minutos. 3 Os microrganismos não apareceram na solução resfriada, mesmo após bastante tempo. Os microrganismos estavam presentes no caldo. Os microrganismos não estavam presentes no caldo após a fervura. A curvatura impediu que os micróbios entrassem no frasco. Os microrganismos não estavam presentes mesmo após bastante tempo. Alguns destes frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram selados, mas não apresentam nenhum sinal de contaminação mais de 100 anos depois. 8 não estavam presentes, mesmo após bastante tempo”, e abaixo, está escrito: “Alguns desses frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram selados, mas não apresentaram nenhum sinal de contaminação mais de 100 anos depois”. Robert Koch (1843-1910) é o terceiro grande microbiologista que você conhecerá hoje. Trata-se de um médico alemão, que proporcionou grandes contribuições para o entendimento que temos hoje sobre as doenças infecciosas. Ele provou que o bacilo antraz é a verdadeira causa da doença antraz; desenvolveu métodos de fixar, corar e fotografar bactérias, bem como métodos para cultivar bactérias em meio sólido; descobriu as bactérias que causam a tuberculose e a cólera e a base para o teste diagnóstico da tuberculose. Com os estudos realizados, Robert Koch et al. postularam os critérios necessários para comprovação da etiologia bacteriana de qualquer doença: a bactéria deve ser encontrada em todos os casos da doença e não devem ser encontrados em animais e humanos saudáveis; a bactéria deve ser isolada de um paciente doente e crescer em culturas puras; ao inoculá-la em animais experimentais saudáveis e suscetíveis, a bactéria deve produzir a mesma doença que causou no homem; a mesma bactéria deve ser isolada dos animais experimentais infectados e crescer novamente em cultura pura. Estes postulados são aceitos até hoje e comprovam que todas as doenças infecciosas e intoxicações microbianas são causadas por microrganismos (JORGE, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Apesar dos danos que as bactérias podem causar em nosso organismo, sua presença é essencial em muitos quesitos da saúde humana e nos esforços para manutenção do meio que nos circunda. Utilizamos produtos das reações bioquímicas realizadas pelos microrganismos na indústria de alimentos, de medicamentos, na contenção de vazamento de óleos e para a despoluição ambiental. À medida que avançamos para o futuro, com o desenvolvimento de manipulação benéfica dos microrganismos, esses processos terão um papel cada vez mais importante em muitos aspectos que envolvem os seres humanos, sejam médicos, ambientais ou econômicos. Vários organismos marinhos são considerados fontes alimentares e energéticas que fornecem vários elementos e compostos para o crescimento de inúmeras formas de vida; vários micróbios, vegetais e animais do mar são explorados e destinados para esses fins. As algas marinhas, em especial, fornecem três ficocoloides importantes para diversos objetivos. Entre esses ficocoloides, podem ser destacados: ágar, carragenina e algina. Em especial, a partir do ágar, é possível produzir um gel que é muito importante para o crescimento de vários microrganismos. Esse gel, denominado ágar-ágar, possibilita a realização de estudos e a obtenção de produtos para os setores alimentício e farmacêutico (CAPILLO et al., 2017). INTERESSANTE 9 Para que possamos construir o conhecimento acerca das estruturas das bactérias, precisamos relembrar que a unidade fundamental dos seres vivos é a célula e que, de acordo com suas estruturas, as células podem ser classificadas como procariontes e eucariontes. As células procariontes, das quais as bactérias fazem parte, são mais rudimentares, não apresentam membrana nuclear separando citoplasma e núcleo, não possuem organelas celulares delimitadas por membranas e possuem cromossomo diferente dos cromossomos humanos (JORGE, 2010; LEVINSON, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Como identificar e caracterizar os diferentes tipos de bactérias e como as estruturas são importantes para o funcionamento desses microrganismos? PERGUNTA Em termos estruturais, as bactérias são muito simples e, mesmo assim, são capazes de realizar os processos necessários à vida. As bactérias são seres unicelulares e estão entre os menores organismos existentes. A maioria mede de 0,5 a 2,0 µm (micrômetros) de diâmetro, sendo em torno de 10 vezes menores que as células humanas. Existem vários parâmetros que permitem classificar as bactérias, levando em consideração as suas características micro e macroscópicas e, entre elas, podemos listar variáveis como forma, arranjo, estruturas e metabolismo. Utilizando os primeiros critérios de classificação, geralmente, as bactérias apresentam três formas básicas, podendo ser encontradas, especialmente, na forma de cocos, bacilos e espiroquetas, ou apresentando outros formatos menos comuns (Figura 3). Os cocos são células esféricas ou ovais que podem se apresentar isoladamente ou em arranjos típicos, dependendo do plano e do número de divisões a partir das quais as bactérias continuam unidas, sendo denominadas de diplococos (dois cocos unidos), tétrade (quatro cocos unidos), estreptococos (cocos dispostos em cadeia formando “colar de contas”) ou estafilococos (agrupamento de cocos dispostos em cachos). Os bacilos são bactérias que apresentam formato de bastão ou cilindro, de tamanho curto ou longo, e podem formar arranjo de células, sendo chamados de estreptobacilos. Por fim, existem, as bactérias espiraladas, ou seja, com formato espiral, que são classificadas como espirilos (possuem formato de espiral, com corpo rígido e locomoção mediada por flagelos) e espiroquetas (possuem formato espiral e são altamente flexíveis, a sua locomoção é mediada por suas contrações citoplasmáticas) (BLACK, 2002; JORGE, 2010; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; MADIGAN et al., 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 10 Figura 3 – A diferença morfológica das bactérias Fonte: adaptada de Madigan et al. (2016). Descrição da Imagem: há 12 figuras, sendo seis ilustrações e seis fotomicrografias, representando as diferenças morfológicas das bactérias. As figuras estão dispostas em quatro colunas com três figuras em cada. Na primeira coluna do lado esquerdo, a primeira figura é um círculo de cor laranja, abaixo está escrito “Coco”. A segunda figura abaixo é um bastão deitado de cor verde, abaixo está escrito “Bacilo”. A terceira figura abaixo é um bastão deitado, contorcido, de cor bege, abaixo está escrito “Espirilo”. Na segunda coluna, há três fotomicrografias de contraste das estruturas representadas na primeira coluna, Coco, Bacilo e Espirilo, em preto e branco. Na terceira coluna, a primeira figura é uma estrutura fina, comprida e helicoidal de cor vermelha, abaixo está escrito “Espiroqueta”. A segunda figura, abaixo, mostra duas ilustrações,uma estrutura que parece um grão de feijão de cor azul, com um braço, uma seta sai desse braço indicando a palavra “Talo”, e outra que é uma estrutura de cor amarela, que é redonda e possui um braço de onde sai uma seta indicando a palavra “Hifa”, abaixo está escrito “Brotamento e bactéria apendiculada”. A terceira figura abaixo mostra a ilustração de cinco estrutura finas e compridas curvadas de cor bege, abaixo está escrito “Bactéria Filamentosa”. Na quarta e última coluna, do lado direito da imagem, há três fotomicrografias de contraste das estruturas representadas na terceira coluna, Espiroqueta, Brotamento e Bactéria Apendiculada e Bactéria Filamentosa. Estruturalmente, as células bacterianas são constituídas de citoplasma, onde estão os cromossomos, ribossomos e grânulos e/ou vesículas citoplasmáticas, que é revestido por uma membrana celular, geralmente envolta pela parede celular, e algumas vezes por uma cápsula. Dependendo da espécie da bactéria, pode-se observar estruturas externas, tais como flagelos e pili (Figura 4). Para seu melhor entendimento, estudaremos cada estrutura detalhadamente. A imagem a seguir ilustra uma célula procariótica, que é composta por citoplasma, membrana plasmática, parede celular, cápsula, plasmídeo, fímbrias, nucleoide contendo RNA e ribossomos. As estruturas marcadas em vermelho são encontradas em todas as bactérias. Coco Espiroqueta Talo Hifa Brotamento e bactéria apendiculada Bactéria filamentosa Bacilo Espirilo 11 Figura 4 – Identificação da estrutura de uma bactéria Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: ilustração das estruturas comuns que podem ser encontradas em uma bactéria. Ao lado direito do desenho das células existe uma fotomicrografia de contraste de fase demonstrando essas estruturas. O desenho e a micrografia mostram a bactéria seccionada transversalmente para revelar a composição interna. A imagem apresenta-se como um bastão, contendo diversos apêndices ao seu redor e setado como fímbrias; três camadas levemente levantadas no contorno do bastão setadas como cápsula, parede celular e membrana plasmática; na extremidade superior do bastão tem um apêndice maior e mais espesso setado como pilus; e na extremidade inferior, três filamentos alongados helicoidais setados como flagelos. No interior do bastão, existe uma estrutura oval que está setada como inclusão; várias estruturas ovais pequenas setadas como ribossomos; um fio emaranhado setado como nucleoide contendo DNA; e uma estrutura de fio formando um círculo setado como plasmídeo. O citoplasma da célula bacteriana é uma substância semifluida que é composta por água, enzimas, carboidratos, lipídeos e uma variedade de íons inorgânicos. É nesse ambiente que ocorrem muitas reações químicas das bactérias. Quando analisado em microscopia eletrônica, o citoplasma das células procariontes pode ser dividido em duas áreas distintas: uma matriz amorfa que contém ribossomos, grânulos de nutrientes, metabólitos e plasmídeos, e uma região nucleoide interna composta pelo DNA cromossomal (BLACK, 2002; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Assim como nas células eucariontes, os ribossomos bacterianos são os locais onde ocorre a síntese de proteínas, mas são diferentes quanto ao seu tamanho e sua composição química. Enquanto os ribossomos bacterianos apresentam tamanho de 70S, com as subunidades 50S e 30S, os ribossomos eucarióticos exibem tamanho 80S, com as subunidades 60S e 40S. Alguns antibióticos ligam-se especificamente Inclusão Pilus Cápsula Parede celular Plasmídeo Flagelos Citoplasma Ribossomos Membrana plasmática Nucleiode contendo DNA Cápsula Fímbrias Parede celular Membrana plasmática 12 aos ribossomos 70S e interrompem a síntese proteica. Pelo fato de não se ligarem aos ribossomos 80S, eles matam as bactérias sem prejudicar as células hospedeiras (LEVINSON, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). A resistência a antibióticos tem se tornado cada vez mais comum na comunidade. Você já parou para pensar como ela pode ser transmitida de uma bactéria para outra, inviabilizando os medicamentos hoje utilizados? PERGUNTA Conforme já mencionado nesta unidade, uma das principais características na diferenciação das células eucarióticas e procarióticas é a ausência de um núcleo envolto por membrana nuclear. No lugar do núcleo, as bactérias têm uma região nuclear, chamada de nucleoide, que significa falso núcleo. Essa região é composta, principalmente, por DNA, que está disposto em um cromossomo único, longo, superenovelado e circular. Vale destacar, também, a ausência de proteínas do tipo histonas, que enovelam o material genético, além da presença de plasmídeos, que são estruturas menores do que a molécula de DNA circular. Essas moléculas têm como função conferir resistência aos antibióticos e são capazes de se replicar de forma independente do cromossomo bacteriano. Resistance é um documentário, disponível na Netflix, que aborda um tema de relevância pública: as bactérias super-resistentes. Um estudo aponta que, em média, um quinto das infecções pós cirúrgicas são causadas por bactérias com essa característica. Em meio a esse cenário, o documentário mostra como surgiram os antibióticos e como o seu uso descontrolado levou ao aparecimento de organismos resistentes a qualquer medicamento presente no mercado. DICAS O citoplasma é revestido pela membrana celular. Essa membrana é formada por uma bicamada de fosfolipídeos com proteínas embutidas ou associadas à superfície. A arquitetura geral da membrana citoplasmática ilustrada é semelhante em procariotos e eucariotos, embora existam diferenças químicas (Figura 5). A principal diferença é 13 Figura 5 – Estrutura da membrana plasmática Fonte: adaptada de Madigan et al. (2016). a ausência de esteróis. Tem, como principal função, ser seletivamente permeável, controlando as substâncias que entram e saem de dentro da célula, além de ser a responsável pela geração de energia por meio de fosforilação oxidativa, síntese de precursores da parede celular e secreção de enzimas e toxinas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; MADIGAN et al., 2016). Descrição da Imagem: ilustração colorida representando a membrana plasmática das bactérias. No formato de esferas azuis associadas a dois filamentos helicoidais estão representados os fosfolipídios. Os filamentos amarelos ligam-se a outros filamentos amarelos de outros fosfolipídeos, formando uma bicama dessas estruturas. Intercaladas a elas, possuem estruturas que estão representando as proteínas. No canto superior esquerdo, temos a medida da espessura da membrana (6-8 nm). No canto inferior direito, temos um retângulo com a estrutura representando uma molécula fosfolipídica (dois filamentos associados a uma esfera). Externamente à membrana celular, encontra-se a parede celular. É essa estrutura semirrígida que confere forma às bactérias e que nos permite classificá- las em dois grandes grupos: Gram-positivas e Gram-negativas. Inicialmente, acho interessante você saber que todas as bactérias possuem parede celular, com exceção ao grupo dos micoplasmas. A parede celular é constituída basicamente de uma macromolécula chamada de peptideoglicano (mureína), que, por sua vez, é formada por múltiplas cadeias polissacarídicas constituídas de N-acetil-glicosamina (NAG) e ácido N-acetil-murâmico (NAM) ligadas por pequenas cadeias peptídicas (proteínas) (Figura 6). A parede celular equivale a 25% do peso seco das bactérias, tem função de proteção e, além disso, é suporte para antígenos somáticos bacterianos (BLACK, 2002; JORGE, 2010; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Grupos hidrofílicos Fosfolipídios Grupos hidrofóbicos In 6-8 nm Proteínas integrais de membrana Molécula fosfolipídica 14 Figura 6 - A estrutura do peptideoglicano da parede celular de bactérias Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017).Descrição da Imagem: do lado direito da imagem, temos a ilustração de três cilindros dispostos paralelamente. Cada cilindro é formado por 2 NAM (cor rosa) e 3 NAG (cor marrom) de forma intercalada. Ligando um cilindro ao outro, temos esferas azuis que representam as pontes cruzadas de aminoácido e esferas verdes representando cadeias laterais de tetrapeptídeos. No canto inferior esquerdo, temos uma parte dessa estrutura em destaque, e podemos ver um cilindro formado por NAM e NAG, uma ponte cruzada peptídica, uma cadeia lateral tetrapeptídica e as ligações peptídicas. Acima desse destaque, temos uma legenda indicando o que representa cada estrutura, cilindros marrom e rosa e as esferas azul e verde. A espessura da parede celular e sua exata composição química variam de acordo com a espécie bacteriana. Na parede celular das bactérias Gram-positivas, a camada de peptideoglicano é espessa, de múltiplas camadas (60 a 90% da parede celular), além da presença de fibras de ácido teicoico e lipoteicoicos que se projetam para fora do peptideoglicano. Essa estrutura possibilita a sobrevivência e a replicação da célula em diversos tipos de ambientes. A parede celular das bactérias Gram-negativas é mais complexa, apresenta uma camada muito mais fina de peptideoglicano (10 a 20% da parede celular), mas é revestida por uma outra membrana complexa, denominada de membrana externa, sendo esta exclusiva das células Gram-negativas (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). A membrana externa é de natureza fosfolipídica e pode conter lipopolissacarídeo (LPS), lipoproteínas e porinas. O espaço entre a membrana citoplasmática e a membrana externa chama-se espaço periplasmático, onde está situada a camada de peptideoglicano. O LPS, também chamado e endotoxina, pode ser utilizado na identificação das bactérias e, como integrante da membrana externa, não é liberado até que a parede celular da bactéria morta seja decomposta. O lipídio A do LPS é responsável pelas propriedades tóxicas causadas por bactérias Gram-negativas no organismo humano, como febre e choque (BLACK, 2002; JORGE, 2010; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). N-acetiglicosamina (NAG) Ácido N-acetilmurâmico Cadeia lateral de aminoácido Ponte cruzada de aminoácido Ligação peptídica Esqueleto de carboidrato Cadeia lateral tetrapeptídica Ponte cruzada peptídica 15 A principal diferença das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas está na composição de sua parede celular. Além das Gram-positivas possuírem uma parede celular de peptideoglicano mais espessa, as Gram-negativas contêm uma camada de lipopolissacarídeo em uma membrana externa como parte de sua parede celular. Essas diferenças nos permitem diferenciar essas bactérias por meio da coloração de Gram, um dos procedimentos de coloração mais úteis utilizados na microbiologia. Existe, ainda, uma outra constituição de parede celular, que deriva de uma modificação na estrutura da parede Gram-positiva, chamada de parede álcool- ácido resistente. Esta possui grande quantidade de lipídios, constituída de ácidos micólicos. Essas propriedades da parede celular bacteriana resultam em diferentes reações às colorações, nos permitindo classificá-las laboratorialmente de acordo com sua estrutura (JORGE, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Para facilitar a sua locomoção, as bactérias apresentam os flagelos, que funcionam como “hélice”. Eles são compostos por flagelina, e o seu número pode variar entre as espécies. Outra importante característica estrutural bacteriana é a presença de fímbrias, formadas por proteínas chamadas pilinas, que se assemelham a pelos. As fímbrias estão localizadas nas superfícies externas das bactérias e a sua função é manter a adesão na interface bactéria-bactéria. O mundo dos microrganismos é realmente fantástico. É possível, por meio do perfil celular, dos tipos de estruturas e do formato da célula, classificar as bactérias em diferentes grupos. Para identificá-las e classificá-las, devemos levar em consideração pequenos detalhes, como a expressão de uma proteína ou de um lipídio, ou mesmo a mudança de um aminoácido. Essa diversidade na distinção das características morfológicas e estruturais faz com que esses seres habitem diferentes regiões em todo o globo. Entretanto, ainda não sabemos os aspectos nutricionais necessários para a sobrevivência desses micróbios, para que possamos compreender seu metabolismo e reprodução. Vamos a mais esse desafio? As funções vitais das bactérias constituem-se, essencialmente, na construção do protoplasma, divisão celular e transporte de substâncias através da membrana celular. Para o seu crescimento, as bactérias necessitam, no mínimo, de uma fonte de energia, de carbono, de nitrogênio, de enxofre, de fósforo, vitaminas e nutrientes adicionais. Aquelas substâncias que os organismos são incapazes de sintetizar, mas que são necessárias para sua sobrevivência, devem ser continuamente fornecidas. Esses nutrientes variam de espécie para espécie e, algumas vezes, servem como importante quesito para identificação da bactéria em questão. Não podemos esquecer, ainda, que ao suprir suas necessidades nutricionais, as bactérias também auxiliam na reciclagem de elementos no meio ambiente. 16 Além dos quesitos nutricionais, outros fatores podem influenciar no crescimento das bactérias, como o pH, temperatura, concentração de oxigênio, umidade, entre outros. Uma vez que diferentes espécies demonstram condições favoráveis diferentes para o seu desenvolvimento, essa também pode ser uma forma de classificação dos microrganismos. Vamos entender um pouco mais esse tipo de classificação? Para iniciarmos, quero lhe contar uma curiosidade. Você sabia que a escala de pH, hoje amplamente utilizada na química para mensurar acidez e alcalinidade de uma solução, foi, originalmente, inventada para definir os limites do crescimento de microrganismos em vários meios? O pH ótimo para o crescimento dos microrganismos, ou seja, no qual eles crescem melhor, geralmente é próximo da neutralidade (pH 7), principalmente para aquelas bactérias que causam doenças nos seres humanos. De acordo com sua tolerância à acidez ou alcalinidade, as bactérias podem ser classificadas em acidófilas (organismos que têm afinidade por meios ácidos – pH entre 0,1 e 5,4), neutrófilas (pH entre 5,4 e 8,5) e alcalófilas (bactérias que gostam de ambientes alcalinos – pH entre 7 e 11,5). Entretanto, existem espécies de bactérias que conseguem tolerar grandes desvios de seu pH ótimo e crescer em ambientes hostis (BLACK, 2002). A temperatura de crescimento é outro fator de extrema importância para a viabilidade de crescimento dos microrganismos, uma vez que a velocidade das reações bioquímicas é diretamente proporcional à temperatura. A maioria das espécies bacterianas se desenvolve em faixa de temperatura superior a 30 °C, mas as temperaturas máximas e mínimas de crescimento podem variar de acordo com seu habitat natural. Com base nas temperaturas mínimas, máximas e ótimas de crescimento, as bactérias são classificadas em psicrófilas (faixa de temperatura entre 0 e 20 °C), mesófilas (faixa de temperatura entre 15 e 45 °C) e termófilas (faixa de temperatura entre 42 e 97 °C). Estas últimas podem ser subclassificadas em termófilas típicas e termófilas extremas, dependendo das altas temperaturas se sua preferência (BLACK, 2002). Observe a superposição dos intervalos de temperatura nos quais estes organismos podem sobreviver. As taxas de crescimento são bem mais baixas nas extremidades dos intervalos. INTERESSANTE 17 Figura 7 – Taxas de crescimento de bactérias psicrófilas, mesófilas e termófilas Fonte: Black (2002). Descrição da Imagem: gráfico que mostra quatro curvas em formato de sino. O eixo das abscissas (eixo x) representa a temperatura, em graus célsius, em que as bactérias crescem. Essa temperatura é descrita em escala a cada 10 ºC, iniciando em zero e terminando em 100. Oeixo das ordenadas (eixo y) representa a geração por horas do crescimento bacteriano e está demonstrado em escala de 0,1; 0,3; 0,6; 1,0; 2,0 e 3,0. A primeira curva, da esquerda para a direita, se refere aos microrganismos psicrófilos típicos, e se inicia no cruzamento dos eixos, seu ápice ocorre entre 0,6 e 1,0 hora e a 15 ºC e termina em 20 ºC. A segunda curva é das bactérias mesófilas típicas, tendo início em 15 ºC e 0,1 hora, ápice próximo a 2 horas e a 37 °C e finaliza em 45 ºC. A terceira curva é das bactérias termófilas típicas, tendo início em 42 ºC e 0,1 hora, ápice em 3 horas e a 60 °C e finaliza em 75 ºC. Por fim, a quarta curva refere-se às bactérias termófilas extremas, tendo início próximo a 70 °C e 0,1 hora, ápice entre 2 e 3 horas e a 90 °C e finaliza em temperatura próxima a 100 ºC. As curvas se superpõem no início e no final de cada uma. Precisamos ter claro em nossa mente que a maioria das bactérias não tolera completamente todo o intervalo de temperatura de sua categoria. Com isso, podemos identificar três temperaturas críticas: as temperaturas mínima, ótima e máxima de crescimento. Além do favorecimento do crescimento bacteriano, a temperatura também pode ser utilizada para controlarmos seu desenvolvimento. Altas temperaturas são mais injuriosas aos microrganismos, podendo levá-los à morte, enquanto as baixas temperaturas são mais utilizadas para preservação e retardo de seu crescimento. Talvez, a classificação mais conhecida das bactérias quanto a sua nutrição e metabolismo esteja relacionada com a concentração de oxigênio na qual ela consegue se desenvolver. Assim, podemos encontrar bactérias que são aeróbias, que necessitam de oxigênio para se desenvolver, e anaeróbias, que morrem na presença do oxigênio. Entre estes dois extremos, existem as bactérias microaerófilas, G er aç õe s p or h or a Psicró�lo típico (Flavobacterium) Mesó�lo típico (Escherichia) Termó�lo típico (Termus) Termó�lo extremo (Thermococcus) Temperatura, ºC 3,0 2,0 1,0 0,6 0,3 0,1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 18 as anaeróbias facultativas e as anaeróbias aerotolerantes. As microaerófilas requerem oxigênio para se desenvolverem, porém em quantidade menor do que a concentração normal; as anaeróbias facultativas crescem na presença ou ausência de oxigênio; e, por fim, as anaeróbias aerotolerantes são capazes de crescer em ambiente contendo oxigênio, mas se desenvolvem melhor em anaerobiose, pois não fazem uso dele em seu metabolismo. Na Figura 8, temos diferentes organismos incubados por 24 horas em tubos de caldo nutritivo e acumulados em regiões diferentes, de acordo com sua necessidade ou sensibilidade em relação ao oxigênio (BLACK, 2002; JORGE, 2010; LEVINSON, 2010; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Figura 8 – Padrões de uso de oxigênio Fonte: Black (2002). Descrição da Imagem: quatro tubos de ensaio transparentes contendo meio de cultura amarelo com tampa de rosca preta. O crescimento das bactérias está ilustrado por pontilhados amarelos em fundo branco. Da esquerda para a direita, no primeiro tubo, identificado como aeróbio obrigatório, o crescimento está na superfície do meio de cultura. No segundo tubo, o crescimento bacteriano está no fundo, coberto com uma camada grossa de meio de cultura, e está identificado como anaeróbio obrigatório. No tubo seguinte, identificado como microerófilo, o crescimento da bactéria está logo abaixo da superfície do meio de cultura. Por fim, no quarto tubo, há crescimento bacteriano em todo meio de cultura e está identificado como anaeróbio facultativo. Crescimento bacteriano Aeróbio obrigatório Anaeróbio obrigatório Microaerófilo Anaeróbio facultativo 19 Com relação ao metabolismo, utilizamos o termo em diversos momentos no nosso dia a dia, mas você sabe seu real significado? Todas as células necessitam de fontes constantes de energia para sobreviver. Essa energia, normalmente na forma de trifosfato de adenosina (ATP), é produzida a partir dos processos controlados de degradação de substratos orgânicos, como os carboidratos, os lipídios e as proteínas. Em resumo, podemos imaginar que, quando esses substratos mencionados são quebrados em pequenas moléculas, eles são convertidos em energia, e esse processo é denominado “catabolismo”. A energia liberada, na forma de ATP, é, então, direcionada para a síntese de elementos pertinentes à manutenção bacteriana, por exemplo, a construção de parede celular bacteriana, ou, até mesmo, a síntese de ácidos graxos ou nucleicos, bem como a manutenção da síntese proteica. Esse processo é chamado de “anabolismo”. Em conjunto, esses dois processos são denominados metabolismo intermediário (Figura 9) (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Figura 9 – Síntese do metabolismo intermediário Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017) Descrição da Imagem: esquema que contém escrita e setas coloridas direcionando a ordem de acontecimento dos fatos informados. O ciclo inicia na parte superior esquerda da imagem com a palavra glicose seguida de uma seta amarela direcionada à direita e, ao final da seta, está escrito CO2 e H2O. Acima dessa seta está escrito “O catabolismo libera energia pela oxidação das moléculas”. Ligada à seta inicial, existe uma outra seta curvada para baixo, no sentido da esquerda para a direita, e em seu início está escrito “energia é armazenada em moléculas de ATP” e as palavras ADP+Pi; no local onde as setas se encontram está escrito “energia”, e ao final dessa seta, “ATP” e, também, “energia é liberada por hidrólise do ATP”. Da mesma forma, logo após a palavra ATP, existe uma seta curvada como a de cima, mas esta está curvada para cima, no sentido da direita para a esquerda, formando um ciclo entre o ADP+Pi e o ATP. No centro dessa última seta está escrito “energia”. Logo abaixo do ciclo, há uma seta direcionada à esquerda. No início da seta está escrito “aminoácidos”, e no final, “proteínas”. Abaixo dessa seta está escrito “O anabolismo utiliza energia para sintetizar as macromoléculas que compõem as células”. As duas últimas setas se tocam em suas porções centrais. 20 Imagine que um processo metabólico bacteriano tem início quando uma molécula de grande porte, chamada de macromolécula, sofre um processo de hidrólise controlado por enzimas. As moléculas menores ou de baixo peso molecular são levadas do compartimento extracelular, passam pelas membranas e, assim, chegam ao citoplasma por transporte ativo ou passivo. No citoplasma, essas moléculas podem ser direcionadas em diferentes vias, com o intuito de formar uma molécula intermediária comum, chamada de ácido pirúvico. O objetivo desse processo metabólico é fornecer fontes de carbono que serão utilizadas para produzir ATP ou, também, possibilitar a síntese de novas moléculas de ácidos nucleicos, aminoácidos, carboidratos, lipídios ou proteínas. Estudaremos, a partir desse momento, as rotas metabólicas que envolvem glicose para a produção de energia ou de outros tipos de substratos necessários ao metabolismo bacteriano. A glicose é o “alimento” ou nutriente fornecedor de energia mais comum utilizado pelas células. As bactérias utilizam diferentes etapas para quebrar glicose e liberar energia, podendo ocorrer por respiração anaeróbica, ou seja, por processos fermentativos, utilizando dois ou três compostos de carbono, ou por respiração aeróbica, onde ocorre a conversão dos seis carbonos da glicose em água e CO2 mais energia. As bactérias podem apresentar três vias disponíveis para o catabolismo da glicose. A principal via comum, entre todas elas, é a via glicolítica ou via de Embden-Meyerhof-Parnas (EMP), cujo principal objetivo é converter glicose em piruvato, em condições aeróbicas ou anaeróbicas, visando à formação de glicose-6- fosfato (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). O processo de obtenção de energia a partir da quebrade glicose é chamado de glicólise e ocorre no citoplasma das células. No final do processo, a molécula de glicose (contendo seis carbonos) é degradada em duas moléculas de três carbonos, o piruvato. Quimicamente, um grupamento fosfato, altamente energizado e proveniente de um intermediário da via (piruvato), é destinado para a produção de ATP. O processo é controlado por uma enzima “quinase”, utilizando um ADP (difosfato de adenosina) em uma reação de fosforilação a nível de substrato (principal forma de produzir energia na ausência de oxigênio). Além de ATP, são produzidos NADH (nicotinamida-adenina dinucleotídeo reduzido) e piruvato. Um detalhe importante, nesse cenário, ocorre pelo destino do NADH, que é capaz de, em processos oxidativos, ser convertido em ATP. O piruvato pode ser direcionado para o ciclo do ácido cítrico ou para a fermentação. Vale lembrar que as reações de fermentação não envolvem oxigênio, portanto ocorreram em anaerobiose. A reação de fermentação é a conversão do piruvato em um produto, que pode variar dependendo do organismo específico envolvido. As bactérias não costumam realizar fermentação alcoólica. Elas usualmente convertem ácido pirúvico em láctico, por exemplo, quando o leite se transforma em iogurte. Algumas bactérias podem realizar outras vias de fermentação mais complexas e produzem, além de ácidos e álcoois, alguns gases com odores fétidos, como no processo de manutenção de uma ferida aberta, ou, até mesmo, na caracterização de queijos e vinhos. 21 Na segunda via, que ocorre em processo aeróbicos, o piruvato resultante da glicólise é convertido em moléculas e acetil coenzima A (acetil-CoA) que entram no ciclo do ácido tricarboxílico (Ciclo de Krebs) sendo liberados água e CO2 e produzindo energia adicional. Esse processo ocorre na superfície interna da membrana celular das bactérias. Nesse ciclo, é possível, também, a produção de ATP pela cadeia transportadora de elétrons, utilizando NADH e FADH. É importante salientar que os seres anaeróbios apresentam baixa eficiência na produção de energia quando comparados aos organismos aeróbicos (18 vezes menos energia). Vale ressaltar que nesse ciclo, os esqueletos carbônicos podem ser utilizados de duas maneiras: para a síntese de energia ou para formar outros precursores biossintéticos necessários à síntese de aminoácidos, bases nitrogenadas e lipídios, ou seja, trata-se de um ciclo anfibólico, pois atua na síntese e degradação de moléculas (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). A última via de interesse relacionada ao metabolismo da glicose é a via das pentoses-fosfato, que apresenta, como funções, a produção de ácidos nucleicos e o potencial redutor da forma nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (forma reduzida) (NADPH), para a utilização em processos de biossíntese ou para serem novamente utilizados em vias glicolíticas, visando à produção de energia. Veja a seguir: Figura 10 – Metabolismo aeróbico e anaeróbico das bactérias Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). A glicólise produz ATP e reduz NAD+ a NADH, enquanto oxida a glicose a ácido pirúvico. Na respiração, o ácido pirúvico é convertido no primeiro reagente do ciclo de Krebs, o acetil-CoA. Na fermentação, o aceptor final é uma molécula produzida na célula. Na fermentação, o ácido pirúvico e os elétrons carreados pelo NADH da glicólise são incorporados nos produtos finais da fermentação. O ciclo de Krebs produz algum ATP pela fosforilação a nível de substrato, reduz os carreadores de elétrons NAD+ e FAD e libera CO². Os carreadores da glicólise e do ciclo de Krebs doam elétrons para a cadeia de transporte de elétrons. Na cadeia de transporte de elétrons, a energia dos elétrons é utilizada para produzir uma grande quantidade de ATP por fosforilação oxidativa. Na respiração, o aceptor final de elétrons é uma molécula produzida fora da célula. 1 2 3 Para produzir energia a partir da glicose, os microrganismos utilizam dois processos gerais: respiração e fermentação. Ambos normalmente se iniciam com a glicólise, porém seguem vias seguintes distintas, dependendo da disponibilidade de oxigênio. CONCEITOS-CHAVE Glicólise Glicose Ácido pirúvico Acetil-CoA Ácido pirúvico (ou derivado) Formação de produtos finais da fermentação Levedura de cerveja Cadeira de transporte de elétrons e quimiosmose Ciclo de Krebs CO2 ATP ATP ATP O2 H2O NADH NADH NADH FADH2 DADH e FADH2 Elétrons RESPIRAÇÃO FERMENTAÇÃO 22 Finalizamos, aqui, as descrições das vias metabólicas importantes para o entendimento do crescimento bacteriano. Agora, você entende a importância da glicose para o crescimento dos microrganismos em diferentes situações. Não é à toa que devemos armazenar de forma correta os alimentos quando não estão sendo consumidos, e que aqueles deixados fora da refrigeração estragam de forma mais rápida. Quanto mais condições ideais dermos ao crescimento das bactérias, mais elas se reproduzirão. Você já se perguntou como isso acontece? O termo crescimento, usualmente, é designado para o aumento de tamanho. Apesar de as bactérias também aumentarem o conteúdo do seu protoplasma pela síntese de todas suas estruturas de uma maneira coordenada, logo que a célula tenha dobrado de tamanho e duplicado seu conteúdo, ela se divide em duas células-filhas. Esse processo é denominado fissão binária. Portanto, o crescimento bacteriano é definido pelo aumento do número de células por meio da divisão celular, e não pelo aumento do tamanho celular. A divisão celular nas bactérias tem início na replicação do cromossomo ancorado na membrana celular. Ocorre a síntese dos componentes bacterianos e, à medida que a membrana bacteriana cresce, os cromossomos-filhos vão se separando. O início da replicação do cromossomo também inicia o processo de divisão celular, que pode ser visualizada pelo início da formação de um septo entre as células-filhas. O septo começa a ser formado no meio da célula que se dividirá e, especificamente na região que origina tal processo, ela será constituída por proteínas ligadas a um tipo de anel com filamentos proteicos presentes no interior da membrana citoplasmática. Esse septo se desenvolve em extremidades opostas, seguindo em direção à região central da célula, resultando, ao final do processo, em clivagem e separação das células-filhas. Algumas bactérias Gram-positivas são capazes de formar esporos que contêm uma cópia completa do cromossomo bacteriano e proteínas necessárias para a reprodução bacteriana. Os esporos protegem esse material genético e possibilitam a replicação bacteriana (Figura 10). Na imagem, temos a divisão por fissão binária, um tipo de reprodução assexuada que ocorre em organismos unicelulares, como as bactérias. Perceba, na imagem apresentada, que uma única célula-mãe sofre mitose e cada uma das células-filhas apresentará o mesmo genoma da célula-mãe (BLACK, 2002; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). 23 Figura 11 – Processo de divisão bacteriana por fissão binária Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-molecular-biology/mitosis/a/bacterial-binary- -fission. Acesso em: 28 out. 2021. Descrição da Imagem: processo de fissão binária, no qual, de forma assexuada, uma célula-mãe se divide em duas. No início da figura está escrito “fissão binária”. Abaixo, uma bactéria é representada por uma estrutura ovalada única com um círculo em seu interior, representando o cromossomo. A imagem abaixo representa o início da divisão do cromossomo, e mais abaixo aparece uma com uma única estrutura oval com dois círculos em seu interior. Logo após, aparece a imagem de duas estruturas ovaladas grudadas, mas separadas por um septo central. Cada cromossomo já se encontra em lados opostos do septo. Por fim, na última imagem, aparecem duas estruturas ovaladas adjacentes, mas separadas, contendo cada uma umcromossomo. Fissão binária Cromossomo bacteriano Origem de replicação Organização da "origem de replicação" do DNA bacteriano A origem de replicação move-se em direção à célula e ao DNA conforme é copiado O septo se forma no meio da célula Septo Célula se divide em duas novas células Alongamento da célula 24 O tempo de duplicação (geração) das bactérias varia de 20 minutos a mais de 24 horas, dependendo da espécie envolvida. O crescimento exponencial e o tempo curto de duplicação de alguns organismos resultam na rápida geração de grande número de bactérias. Quando a bactéria é introduzida em um meio fresco e nutritivo e encontra condições favoráveis, o ciclo de crescimento bacteriano apresenta quatro fases: fase lag, fase log, fase estacionária e fase de declínio (Figura 12) (LEVINSON, 2010; BROOKS et al., 2014). Figura 12 – Curva de crescimento bacteriano Fonte: Brooks et al. (2014). Descrição da Imagem: gráfico que mostra uma curva em formato de sino. O eixo das abscissas (eixo x) representa o tempo que demora em cada fase do crescimento bacteriano, e o eixo das ordenadas (eixo y) representa a concentração (quantidade) de bactérias em cada fase. A curva tem início na fase lag, em uma linha horizontal da esquerda para a direita. Após essa linha, há uma linha na diagonal para cima, com ângulo de quase 90°, que representa a fase log. Então, volta a ter uma linha na horizontal direcionada à direita, fase estacionária e, por fim, uma linha na diagonal para baixo, em maior angulação, que representa a fase de declínio. A fase lag compreende o momento em que ocorre intensa atividade metabólica, mas as células ainda não estão em divisão. As células aumentam em tamanho, mas não em número. Podemos dizer que é uma fase de adaptação das bactérias ao meio e condições em que irão começar a se multiplicar, podendo durar de alguns minutos a dias. Na fase log, ocorre rápida divisão celular, com intervalo de tempo regular, chamado de tempo de geração. A população bacteriana dobra em cada tempo de geração durante essa fase. A fase estacionária acontece quando a depleção de nutrientes ou os produtos tóxicos provocam uma diminuição Lo g da c on ce nt ra çã o ce lu la r Tempo Fase de latência (fase lag) Fase log ou de crescimento exponencial Fase estacionária Fase de morte ou fase logarítmica de declínio 25 no crescimento bacteriano a um ponto em que novas células são produzidas na mesma velocidade com que as células antigas morrem. Por fim, a fase de declínio é caracterizada por uma diminuição no número de células viáveis devido às condições desfavoráveis do meio para a divisão celular. Nessa fase, o número de células vivas decresce em velocidade logarítmica e ocorre principalmente pelo acúmulo excessivo de produtos tóxicos e escassez de nutrientes. Outra forma de reprodução das bactérias que é importante você conhecer é a conjugação. Trata-se de uma reprodução sexuada que resulta da transferência de um plasmídeo a partir de uma célula doadora a uma receptora, através do pili sexual (Fímbria F). A maior relevância dessa transferência é que, geralmente, esses plasmídeos carregam genes de resistência a antibióticos. A conjugação ocorre em vários gêneros bacterianos, como Escherichia, Salmonella, Pseudomonas, Serratia, Shigella e Streptococcus. IMPORTANTE Título: Microbiota Gastrintestinal – Evidências da sua Influência na Saúde e na Doença Autor: Alessandra Barbosa Ferreira Machado et al. Editora: Rubio Sinopse: o livro aborda de maneira abrangente, cuidadosa e detalhada um dos temas mais atuais e palpitantes da Biologia. A visão do organismo animal isoladamente não é mais aceitável diante das evidências científicas da interdependência dos macro e microrganismos. Todo o conhecimento acumulado de Ecologia tem sido revisto para acomodar a noção de que organismos ditos superiores são, na realidade, sistemas intrinsecamente dependentes de microrganismos que com eles coevoluíram no curso de milhões de anos. DICAS Chegamos ao fim deste tema de aprendizagem! Esperamos que esse “novo mundo’’ apresentado tenha sido muito interessante e possibilitado integrar os seus conhecimentos, adquiridos ao longo de sua vida, e alinhá-los com detalhes técnicos muito importantes para a formação dos profissionais em saúde e da área ambiental. É fundamental conhecermos as principais características que possibilitam a identificação das diferentes estruturas das bactérias, entender que todas essas estruturas possibilitam que elas se adaptem, desenvolvam e se reproduzam em determinado ambiente, em um período específico. 26 Venha conhecer um capítulo sombrio da humanidade e da microbiologia. Contamos um pouco sobre a história, patogenia e epidemiologia da Peste Negra. Este é o nome pelo qual ficou conhecida a doença infecciosa que mais matou na história, eliminando 2/3 da população europeia e quase metade da população mundial da época. Espero que você goste do conteúdo. DICAS No decorrer deste tema, você estudou os principais quesitos do desenvolvimento de uma bactéria, desde sua reprodução até a sua morte. Afinal, qual a importância desse conhecimento para sua vida profissional? Quando analisamos o exercício profissional de um microbiologista, sua função pode ser no diagnóstico, na biotecnologia, no meio ambiente ou na indústria de alimentos. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento inerente das bactérias é fundamental. A morfologia e estruturas bacterianas nos permite entender os fatores que podem favorecer o surgimento de doenças. Além disso, sua identificação auxilia no diagnóstico definitivo destas. Quando nos aprofundamos no conhecimento das estruturas e na genética bacteriana, podemos utilizar o artifício da engenharia genética, fazendo modificações em seu DNA que proporcionarão a utilização de bactérias de forma benéfica, ou ainda as utilizar como vetores para genes, proteínas e enzimas que queremos produzir. Como exemplo disso, você sabia que bactérias modificadas geneticamente são utilizadas na produção do índigo escuro, usado na coloração do jeans, sem causar os danos ambientais causados por corantes químicos? É fundamental o conhecimento da nutrição e metabolismo das bactérias para que seja possível cultivá-las em laboratório, nos dando a base para diagnosticar doenças bacterianas. Além disso, seu metabolismo em muito contribui na produção alimentícia. A fermentação feita no metabolismo bacteriano é utilizada na produção de produtos lácteos, queijos, vinhos, pães, entre outros. 27 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Os principais quesitos do desenvolvimento de uma bactéria, desde sua reprodução até a sua morte. • Quando analisamos o exercício profissional de um microbiologista, sua função pode ser no diagnóstico, na biotecnologia, no meio ambiente ou na indústria de alimentos. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento inerente das bactérias é fundamental. • A morfologia e as estruturas bacterianas nos permitem entender os fatores que podem favorecer o surgimento de doenças. Além disso, sua identificação auxilia no diagnóstico definitivo destas. • Quando nos aprofundamos no conhecimento das estruturas e na genética bacteriana, podemos utilizar o artifício da engenharia genética, fazendo modificações em seu DNA que proporcionarão a utilização de bactérias de forma benéfica, ou ainda as utilizar como vetores para genes, proteínas e enzimas que queremos produzir. Por exemplo, as bactérias modificadas geneticamente são utilizadas na produção do índigo escuro, usado na coloração do jeans, sem causar os danos ambientais dos corantes químicos. • É fundamental o conhecimento da nutrição e metabolismo das bactérias para que seja possível cultivá-las em laboratório, nos dando a base para diagnosticar doenças bacterianas. Além disso, seu metabolismo em muito contribui na produção alimentícia. • A fermentação, feita no metabolismo bacteriano, é utilizada na produção deprodutos lácteos, queijos, vinhos, pães, entre outros. 28 AUTOATIVIDADE 1 Louis Pasteur (1822-1895) contribuiu de forma decisiva com ciência, mais especificamente, com microbiologia. Pasteur derrubou a “teoria da geração espontânea”. Descreva o experimento que introduziu a “teoria germinal das doenças”. 2 Leia e analise as afirmativas a seguir: I- As bactérias possuem apenas um material genético, DNA ou RNA. II- O cromossomo bacteriano está enovelado em torno de uma proteína histona. III- As bactérias possuem apenas um cromossomo, que é circular, e algumas apresentam um material genético denominado plasmídeo, que está disperso no citoplasma. IV- Pelo processo de transdução, muitas bactérias trocam material genético com outras bactérias. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. b) ( ) Somente a afirmativa III é verdadeira. c) ( ) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. d) ( ) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. e) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 3 As bactérias, devido às suas características estruturais, principalmente ao arranjo de sua parede celular, podem ser classificadas em dois grupos complexos. Com base nessas informações, assinale quais são os referidos grupos: a) ( ) Capsídeo e micobactérias. b) ( ) Leveduras e Gram-positivas. c) ( ) Leveduras e Gram-negativas. d) ( ) Gram-positivas e Gram-negativas. e) ( ) Micobactérias e leveduras. 29 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS 1 INTRODUÇÃO No Tópico 2, você será apresentado a uma visão geral da classificação, estrutura e reprodução dos fungos. Discutiremos os aspectos básicos de sua organização celular, sua morfologia, assim como a classificação de acordo com a forma de reprodução. Vamos abordar as utilidades dos fungos para os seres humanos e o meio ambiente. O conhecimento adquirido será de fundamental importância para o estudo, diagnóstico e tratamento das doenças fúngicas. Você sabe do que é feito o fermento que colocamos em pães e bolos e por que a massa cresce? Como ocorre a produção das cervejas e dos vinhos? Você conhece alguém que tem ou já teve micose nas unhas? Por que é tão difícil tratá-la? E o “sapinho” na boca, quem é seu principal causador? Os cogumelos que são utilizados na culinária, como o shitake e champignon, podem fazer mal, já que são fungos? Quais as importâncias ambientais e econômicas dos fungos? Você já havia pensado sobre algumas dessas questões? Apesar de não parecer, os fungos fazem parte da vida e rotina da maioria de nós, estando presentes em medicamentos, no nosso próprio organismo e, principalmente, em nossa alimentação. Você já teve dor de garganta e precisou tomar antibiótico? Você sabia que muitos antibióticos são feitos a partir dos produtos do metabolismo dos fungos? Quem não gosta de um pão quentinho e fofinho no café da manhã ou de uma pizza aos finais de semana? Para o preparo de pães e massas de pizza, é utilizada uma espécie de fungo. Ela é responsável pelo processo de fermentação, uma reação química que ocorre quando o microrganismo utiliza o açúcar contido na massa, fermentando-a. Nesse processo, o gás carbônico é eliminado gerando gases na massa que vão se acumulando, fazendo com que ela aumente de tamanho e, consequentemente, deixando o pão e a massa fofinhos (MORAES; PAES; HOLANDA, 2009). Os fungos também estão presentes em queijos, dando sabores e cores característicos, e ainda possuem algumas variedades que são comestíveis como, por exemplo, o shimeji. Além de serem muito utilizados para fins nutricionais, os fungos também são úteis para outros meios, como a agricultura, em que espécies são utilizadas no controle biológico de besouros e outros organismos que causam danos às plantações. Contudo, nem tudo são flores. Os fungos estão associados a doenças, como micoses de unha e pele, pano branco, candidíase, entre outras. Estão presentes em processos de apodrecimento de alimentos, podem parasitar outros animais ou UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 30 acabar com uma plantação inteira. Sua presença pode ser observada em qualquer tipo de ambiente. Normalmente, esses microrganismos são vistos como vilões, entretanto eles proporcionam muitos benefícios a nossa saúde e desempenham funções que são vitais para o equilíbrio dos ecossistemas. Para observarmos a presença de fungos no ambiente, sugiro uma atividade prática. Use um meio de cultura preparado com um copo de água e uma colher de sopa de amido de milho ou fubá, leve ao fogo para que engrosse. Despeje o líquido em duas tampas de margarina bem lavadas e/ou fervidas ou dois potinhos rasos até que seu fundo seja coberto e leve um à geladeira. O outro deverá permanecer na bancada da cozinha, a temperatura ambiente. Você deverá observar as mudanças na sua aparência a cada três dias. Após seis dias, ou seja, duas observações, coloque o pote que estava em temperatura ambiente por outros quatro dias na geladeira. Na sequência, exponha-o novamente em temperatura ambiente por mais três dias. Utilize o diário de bordo para anotar suas observações. Caso queira, tire uma foto de ambos os potes e compare-os. Após a análise de ambos os potes, o que foi para a geladeira e o que ficou a temperatura ambiente, pense nas diferenças de condições que cada um recebeu. Lembre-se de que, no início do experimento, o seu meio de cultura estava estéril, pois foi levado ao fogo, e, também, da diferença de temperatura, ao deixarmos um dos potes em contato com o ar do ambiente e com os esporos de fungos que ficam suspensos no ar e o outro na geladeira. Você consegue imaginar um mundo sem os fungos? Os fungos são imprescindíveis para a evolução e o bom funcionamento da natureza. Sem eles, e as suas contínuas contribuições ecológicas, a natureza conforme a conhecemos ruiria. Sem o processo de decomposição feito pelos fungos, os rios seriam intermináveis correntes de entulho biológico; as florestas seriam impenetráveis devido ao acúmulo de matéria orgânica vegetal morta. Na verdade, essas florestas nem existiriam. Sabe-se que os fungos possuem origens muito antigas, com evidências, por meio da descoberta de fósseis, de sua existência há pelo menos 1 bilhão de anos (LORON et al., 2019). Embora fungos fósseis sejam especialmente difíceis de serem encontrados, devido à sua estrutura perecível e não mineralizada, descobertas recentes ajudam a elucidar melhor a história evolutiva do grupo, entre elas, a de um cogumelo fossilizado encontrado aqui no Brasil, mais precisamente na Chapada do Araripe, no Ceará (TAYLOR, 2015). Outra descoberta importante foram os diversos fósseis preservados que datam de aproximadamente 400 milhões de anos. Seu conteúdo nos mostra pequenos fungos associados a algumas das primeiras plantas terrestres conhecidas (TAYLOR, 2015). Isso evidencia o papel essencial que o Reino Fungi teve, e continua tendo, na colonização do ambiente terrestre. Os cogumelos foram citados pela primeira vez nas obras de Eurípedes (480-406 a.C.), e o filósofo grego Teofrasto de Eresos (371-288 a.C.) talvez tenha sido o primeiro a tentar classificar as plantas: os cogumelos foram considerados plantas com a ausência de certos órgãos. Durante a Idade Média, houve pouco avanço no conhecimento sobre fungos (BENCHIMOL; SÁ, 2004). 31 Figura 1 – Raymond Jacques Adrien Sabouraud Fonte: Neufeld (2018). Descrição da Imagem: trata-se de uma foto em preto e branco que apresenta um homem de meia idade, aparentemente calvo, com bigode e cavanhaque brancos. Ele olha para o fotógrafo. Ele veste uma boina escura na cabeça, um terno escuro e camisa com gravata. Louis Pasteur contribuiu de modo significativo para as indústrias de vinho com seus estudos sobre os microrganismos, pois ele descobriu que as leveduras cuidadosamente selecionadas produziam um bom vinho, mas que misturas de outros microrganismos competiam com a levedura pelo açúcar e tornavam o vinho oleoso ou com sabor azedo. Para combater esse problema,Pasteur desenvolveu a técnica de pasteurização para matar os microrganismos indesejáveis (BLACK, 2020). Raymond Jacques Adrien Sabouraud (1864-1838) foi um médico dermatologista cuja contribuição aos estudos dos fungos foi inestimável. No ano de 1892, Sabouraud desenvolveu um meio de cultura padrão para isolamento e identificação de fungos dermatófitos e outros fungos patogênicos, que ficou mundialmente conhecido como ágar de Sabouraud, e cuja formulação inclui, até os dias atuais, peptona, glicose, ágar- -ágar e água (NEUFELD, 2018). Outro grande marco na microbiologia envolvendo os fungos foi o desenvolvimento dos antibióticos. Em 1928, Alexander Fleming observou que uma colônia do bolor Penicillium, que estava contaminando uma cultura de bactérias do gênero Staphylococus, tinha impedido o crescimento das bactérias adjacentes a ele. À substância purificada extraída desse fungo se deu o nome de penicilina. Até mesmo o mar forneceu antibióticos, particularmente a partir do fungo Cephalosporium 32 acremonium. O microbiologista italiano Giuseppe Brotzu observou a ausência de organismos causadores de doenças na água do mar nos locais de saída de esgoto, e ele deduziu que deveria haver algum antibiótico presente. Subsequentemente, a cefalosporina foi purificada, e vários derivados dela estão, hoje, disponíveis para o tratamento de doenças em seres humanos (BLACK, 2020). Os fungos têm sido historicamente negligenciados do ponto de vista científico, uma vez que foram tradicionalmente investigados por botânicos. Há apenas 40 anos, os fungos foram separados em um reino próprio: o Reino Fungi (SCHÜNEMANN; REGIO, 2021). Apesar da histórica relação dos botânicos com a micologia (estudo dos fungos), o Reino Fungi é, na verdade, evolutivamente mais próximo aos animais do que às plantas, pois armazenam glicogênio e possuem quitina em sua parede celular (TRABULSI- ALTERTHUM, 2015). Os fungos, na verdade, apresentam características que conflitam com os aspectos típicos do Reino Vegetalia: não possuem clorofila nem pigmentos fotossintéticos, obtendo sua energia por absorção de nutrientes; não armazenam o amido e não apresentam, com exceção de alguns fungos aquáticos, celulose na parede celular (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Entre todos os seres vivos do planeta Terra, os fungos compõem um dos grupos com maior diversidade. Você já imaginou a variedade de fungos que existem e o quão complexos podem ser? PERGUNTA Acredita-se que existam entre 2,2 e 3,8 milhões de espécies na natureza (HAWKSWORTH; LÜCKING, 2017), das quais apenas 144.000 já foram devidamente descritas e classificadas, sendo que apenas cerca de 200 são patogênicas aos humanos e animais. A incidência das infecções humanas causadas por fungos aumentou em mais de 200% nas duas últimas décadas, especialmente entre indivíduos imunossuprimidos ou hospitalizados com doenças de base grave. Dada a similaridade entre as estruturas celulares observadas em fungos e humanos, a terapia antifúngica é frequentemente associada a efeitos colaterais expressivos e baixa eficiência (PARK et al., 2009; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). 33 No entanto, a presença dos fungos também pode ser benéfica, sendo importante na cadeia alimentar por decompor matéria vegetal morta, reciclando elementos vitais. Quase todas as plantas dependem de simbioses com fungos, micorrizas, que auxiliam as raízes das plantas a absorver minerais e água do solo. Os fungos também são valiosos para os animais. Algumas formigas cultivam fungos para quebrar a celulose e a lignina presentes nas plantas, provendo glicose, que as formigas podem, então, digerir. Os fungos são utilizados pelos homens como alimentos (cogumelos) e para a produção de alimentos (pão e ácido cítrico) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Título: A trama da vida: como os fungos constroem o mundo Autor: Merlin Sheldrake Editora: Fósforo Editora Sinopse: o biólogo e escritor inglês Merlin Sheldrake é apaixonado pelo mundo dos seres invisíveis desde criança. Com o tempo, os fungos dominaram sua curiosidade, e ele mergulhou de cabeça nesse universo singular: ainda na faculdade, fez bebidas alcoólicas a partir de receitas medievais e, depois, se arrastou pelo solo de florestas tropicais coletando espécimes, passou incontáveis horas no laboratório, provou a psilocibina dos cogumelos mágicos, visitou e entrevistou outros pesquisadores e aficcionados. DICAS Por conta de suas características estruturais, os fungos são considerados mais complexos em comparação às bactérias (Figura 2). Eles são eucariontes, ou seja, apresentam núcleo delimitado por carioteca e várias organelas importantes para o metabolismo celular, como o Complexo de Golgi, as mitocôndrias e o retículo endoplasmático. Os fungos podem ser unicelulares ou multicelulares, quando as células são tubulares e denominadas hifas cujo conjunto constitui o micélio (TRABULSI- ALTERTHUM, 2015). São imóveis em sua maioria, não possuem clorofila ou qualquer outro pigmento fotossintético (JORGE, 2010). 34 Parede celular Membrana citoplasmática Nucleoide Citoplasma Plasmídeo Ribossomos Parede celular Membrana citoplasmática Mitocôndria Membrana nuclear Núcleo Ribossomos Retículo endoplasmático Citoplasma Aparelho de Golgi Diagrama de uma célula procariota Diagrama de uma célula eucariota Microgradia eletônica de Heliobacteruim modesticaldum Microgra�a eletonica de uma célula de Saccharomyces cerevisiae Figura 2 – Estruturas de uma célula bacteriana comparada com uma de fungo Fonte: adaptada de Madigan et al. (2016). Descrição da Imagem: quatro ilustrações, sendo duas na primeira linha e duas na segunda. Na primeira linha, temos à esquerda um diagrama de uma célula procariota representada por uma estrutura alongada, cortada longitudinalmente, e na parte interna, temos um contorno representando a parede celular e a membrana citoplasmática. Internamente à parede celular, são demonstrados ribossomos através de pontos, o nucleoide através de uma linha enovelada e espalhada no interior da célula e o plasmídeo através de uma pequena linha em formato de oito. À direita, encontram-se duas micrografias de uma célula bacteriana, uma de formato retangular e a outra como um retângulo arredondado em suas extremidades. Em ambas, são mostradas as mesmas estruturas que na figura já descrita (parede celular, membrana citoplasmática, nucleoide e citoplasma). Na segunda linha, temos, à esquerda, um diagrama de uma célula eucariota representada por uma estrutura arredondada, cortada longitudinalmente, e na parte interna, temos um contorno representando a parede celular e a membrana citoplasmática. Na porção interna, vemos um círculo central representando o núcleo que contém uma membrana nuclear, bastões representando as mitocôndrias, pontos para representar os ribossomos, membranas anexas à membrana citoplasmática, formando zigue-zague dentro do citoplasma da célula para demonstrar o retículo endoplasmático, e a mesma representação, mas saindo da membrana do núcleo, para demonstração do aparelho de Golgi. À direita, encontra-se uma micrografia de uma célula fúngica, tendo um formato redondo, e são mostradas as mesmas estruturas que na figura descrita (parede celular, membrana citoplasmática, núcleo e citoplasma, retículo endoplasmático e aparelho de Golgi). 35 Para compreender melhor sobre esse tipo de célula, vamos estudar suas estruturas e funções. A parede celular fúngica é responsável pela rigidez e forma da célula, sendo composta por polissacarídeos, principalmente de natureza quitínica, e não peptideoglicano, como nas bactérias; dessa forma, antibióticos como a penicilina, que inibem a síntese de peptideoglicano, não têm ação sobre os fungos. Quitina é geralmente encontrada como microfibrilas cristalinas dentro de uma matriz proteica, e é composta por longas cadeias de N-acetilglicosamina. Nas leveduras, ela encontra- se em menor quantidade do que nos bolores (na proporção de 1:3) e estárestrita à área de blastoconidiação. Existem outros polissacarídeos na composição da parede celular fúngica, sendo o β-glicano o de maior importância médica, uma vez que este corresponde ao sítio de ação do fármaco antifúngico, como a caspofungina (LEVINSON, 2011; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Externamente à parede celular, assim como ocorre nas bactérias, alguns fungos possuem uma cápsula mucopolissacarídica que confere maior resistência microbiana por dificultar a fagocitose. Cryptococcus neoformans é um exemplo de fungo encapsulado (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). A membrana plasmática retém o citoplasma no interior da célula e demonstra uma estrutura típica, composta de duas camadas de fosfolipídios revestidas por proteínas e uma bicamada lipídica, além de apresentar uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas. A membrana citoplasmática dos fungos contém ergosterol, diferente da membrana citoplasmática da célula animal, que contém colesterol. O ergosterol é responsável por inúmeras características físicas importantes das membranas, tais como estrutura, permeabilidade e modulação da fluidez. Além disso, sua presença constitui um importante sítio de ação de antifúngicos que atuam em sua síntese, tendo esses antifúngicos toxicidade seletiva para o fungo, como a anfotericina B, fluconazol e cetoconazol (THEVISSEN et al., 2003; LEVINSON, 2011; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). O citoplasma compreende uma porção relativamente menor das células eucarióticas do que das procarióticas, porque grande parte do espaço é ocupado pelo núcleo e por muitas organelas. Este é o local onde ocorrem as sínteses e o metabolismo energético da célula. Além disso, é onde se encontram inclusões de glicogênio, vacúolos de alimentos e gorduras, bem como diversas organelas, como as mitocôndrias, ribossomos, retículo endoplasmático e aparelho de Golgi. Os vacúolos são de vários tamanhos e podem ter a função digestiva ou de reserva, armazenando glicogênio (BLACK, 2020; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Os fungos podem ter um, dois ou mais núcleos, envoltos por uma membrana nuclear (carioteca) que possui uma unidade interna, uma unidade externa e espaço perinuclear. Essas estruturas são unidas por numerosos poros, que possibilitam a entrada e a saída de materiais (Figura 3). No núcleo, encontram-se os cromossomos lineares, compostos de dupla fita de DNA arranjados em hélice, e RNA. Em geral, o genoma dos fungos é, relativamente, pequeno, portanto, eles têm um DNA intermediário entre procariontes e demais eucariontes. Dentro do núcleo, encontra-se o nucléolo, um corpúsculo esférico contendo DNA, RNA e proteínas. 36 Durante a divisão nuclear, observa-se que a membrana desaparece, sendo substituída por um aparato em forma de agulhas (processo mitótico) com numerosos microtúbulos. Após a mitose, a membrana nuclear é novamente sintetizada (GRIFFIN, 1994; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; MADIGAN et al., 2016). Alguns fungos, como as leveduras, são conhecidos pela presença de plasmídeos, os quais podem ser utilizados para clonar genes estranhos em leveduras, uma técnica muito utilizada em engenharia genética (BLACK, 2020). Cromatina Citoplasma Poros Núcleo Figura 3 – Poros através do núcleo da célula Fonte: adaptada de Black (2020). Descrição da Imagem: três ilustrações mostram os poros existentes na parede nuclear dos fungos. A imagem de cima representa uma célula eucariota, cortada transversalmente e com duas setas saindo do seu núcleo, identificando aumento de tamanho da imagem para visualização de detalhes. Abaixo, temos duas micrografias eletrônicas. À esquerda, é possível ver os poros na membrana nuclear, com setas apontando para o citoplasma, poros, cromatina e núcleo. À direita, demonstra-se a presença desses poros em uma imagem tridimensional. Existem três tipos de fungo de acordo com sua morfologia: leveduras, fungos filamentosos (bolores) e cogumelos, que são os fungos macroscópicos, e sua maior importância é ambiental e na culinária. Por isso, não os estudaremos nesta unidade. Leveduras são fungos unicelulares, não filamentosos, tipicamente esféricos ou ovais. Formam colônias redondas que podem variar no seu aspecto (pastosas ou mucoides, quando semeadas em gel ágar). Elas são amplamente distribuídas na natureza: com frequência são encontradas como um pó branco cobrindo frutas e folhas. As leveduras de brotamento, como as Saccharomyces, dividem-se formando células desiguais (LEVINSON, 2011; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 37 Muita gente acha que os cogumelos são vegetais. Mas eles são, na realidade, fungos. Consumidos há milênios na Ásia, onde têm as suas propriedades medicinais mais valorizadas do que os aspectos nutricionais, eles vêm ganhando espaço nas mesas dos brasileiros. Aperte o play e venha saber mais! DICAS Os fungos filamentosos são multicelulares, seu talo (corpo) consiste em filamentos longos de células conectadas denominados hifas, que se alongam em suas extremidades, no processo de extensão apical, podendo crescer até imensas proporções (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). O conjunto de hifas forma o micélio. Na maioria dos fungos filamentosos, as hifas contêm paredes cruzadas denominadas septos, que dividem as hifas em distintas unidades celulares uninucleadas (um único núcleo), e essas hifas são chamadas de hifas septadas. Em algumas poucas classes de fungos, as hifas não contêm septos e se apresentam como células longas e contínuas, com muitos núcleos. Elas são chamadas de hifas cenocíticas (Figura 4) (LEVINSON, 2011; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Mesmo nos fungos com hifas septadas, geralmente existem poros nos septos que permitem a passagem do citoplasma e dos núcleos entre as células adjacentes. Os septos de alguns fungos apresentam tantos poros que parecem peneiras. Esses fungos também são, na verdade, organismos cenocíticos (BLACK, 2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Figura 4 – Características das hifas dos fungos: (a) Hifa septada com parede cruzada, ou septos, dividindo as hifa em unidades tipo célula; (b) A hifa cenocítica não contém septos Fonte: adaptada de Tortora; Funke; Case (2017). Descrição da Imagem: ilustração colorida diferenciando uma hifa septada de uma cenocítica dos fungos. Ambas as estruturas estão desenhadas no formato de galhos, se assemelhando a um cacto. A figura A, à esquerda, tem septos representados por linhas que separam as estruturas 38 únicas de galhos em estrutura de diversas células ligadas entre si. Esses septos possuem poros que estão descritos na imagem a partir de uma seta. Internamente a essas células, temos estruturas ovais, representando o núcleo. Alguns segmentos possuem um núcleo, e outros, dois. Essa imagem representa a hifa septada. A figura à direita (B) é semelhante à já descrita, mas não contém essas linhas de segmentação e está representando a hifa cenocítica. As hifas podem ser classificadas, ainda, como vegetativas, aquelas que obtêm nutrientes, e aéreas ou reprodutivas, hifas envolvidas com a reprodução. As hifas aéreas frequentemente sustentam os esporos reprodutivos, discutidos adiante (TRABULSI- ALTERTHUM, 2015; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). O micélio vegetativo pode também formar estruturas de propagação, de resistência ou de fixação em substratos, sendo o artroconídio ou artrósporo estrutura de propagação; clamidoconídio ou clamidósporo, estruturas de resistência; esclerócio, estruturas de resistência; rizoide, absorção de alimentos; e apressórios, fixação em substratos; entre outras estruturas (TRABULSI- ALTERTHUM, 2015). Diversos fungos de importância médica exibem dimorfismo – duas formas de crescimento. Tais fungos podem crescer tanto na forma de fungos filamentosos quanto na forma de levedura. Apresentam-se como bolores no meio externo, à temperatura ambiente, e como leveduras nos tecidos humanos, à temperatura corporal (LEVINSON, 2011; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Como exemplo de fungo dimorfo, podemoscitar o gênero Paracoccidioides (Paracoco), causador da Paracoccidioidomicose, uma doença que causa inflamação, levando a formação de granulomas no pulmão, fígado, baço, pele e mucosa, resultando na perda da função dos órgãos. A vida secreta dos fungos – vilões ou mocinhos? este é um pequeno documentário que trata desses seres únicos que são os fungos. Fala sobre os tipos, classificação e funções na natureza. Aperte o play e confira! DICAS Até aqui, discutimos as estruturas e a morfologia dos fungos. E a sua nutrição, como será que ocorre? A nutrição dos fungos é heterotrófica, ou seja, feita por meio de absorção. Esses microrganismos possuem um poderoso arsenal enzimático capaz de degradar praticamente todos os tipos de compostos orgânicos (celulose, hemicelulose e outros) para serem absorvidos pelas células fúngicas por osmose ou por mecanismos de transporte especializados (TERÇARIOLI; PALEARI; BAGAGLI, 2010). Todos os fungos têm enzimas lisossômicas, que digerem as células danificadas e ajudam os fungos parasitas a invadir seus hospedeiros. Muitos fungos sintetizam e armazenam grânulos de glicogênio, o nutriente polissacarídico (BLACK, 2020). Além disso, requerem uma fonte orgânica de carbono pré-formada – fato que justifica sua frequente associação à matéria em decomposição (LEVINSON, 2011). 39 Para o seu desenvolvimento, os fungos exigem, preferencialmente, carboidratos simples como a glicose. Entretanto outros açúcares, como sacarose, maltose e fontes de carbono mais complexas como amido e celulose também podem ser utilizados. Substâncias nitrogenadas inorgânicas como sais de amônia ou nitratos, ou orgânicas, como as peptonas, e sais minerais como sulfatos e fosfatos também são necessárias. Oligoelementos como ferro, zinco, manganês, cobre, molibdênio e cálcio são exigidos, porém em pequenas quantidades (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Dependendo da maneira como os fungos obtêm os nutrientes a partir da matéria orgânica, eles podem ser classificados em decompositores, parasitas ou mutualísticos (DANDOLINI, 2013). Apesar de crescer em quase todos os ambientes, as condições mais propícias para o seu desenvolvimento são temperaturas elevadas e umidade. Além destes, outros fatores ambientais influenciam diretamente no desenvolvimento dos fungos, como concentração de O2 e CO2 e pH. Com relação à temperatura, assim como as bactérias, podemos classificar os fungos em psicrófilos, mesófilos e termófilos. A maioria dos fungos de importância médica crescem em temperatura ótima ambiental, ou seja, de 20 a 30 °C, sendo classificados como mesófilos. A presença de água é essencial para o desenvolvimento desses microrganismos, para que consigam absorver os nutrientes do ambiente onde se encontram. Com relação ao pH, os fungos apresentam grande variação de predileção. Dependendo da espécie envolvida, podem ir de 1,5 a 11. Entretanto a maioria possui pH ótimo de crescimento de 5 a 7, sendo classificados como neutrofílicos. A maior parte dos fungos pode ser classificada como aeróbicos ou anaeróbios facultativos, chamados de fermentadores. Em condições aeróbicas, a via de hexose monofosfato é a responsável por 30% da glicólise. Em condições anaeróbicas, a via clássica usada pela maioria das leveduras é a de Embden-Meyerhof, que resulta na formação do piruvato. Algumas leveduras fazem o processo de fermentação. Essa fermentação é usada na fabricação de cerveja e vinho e nos processos de panificação. Espécies de Saccharomyces produzem etanol nas bebidas fermentadas e dióxido de carbono para fermentar a massa do pão (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Por meio do seu metabolismo heterotrófico e do processo de catálise e quebra de moléculas grandes em moléculas menores nutrientes, há produção de metabólitos primários, como o ácido cítrico, o glicerol e o etanol, ou, ainda, metabólitos secundários, como os antibióticos, por exemplo, a penicilina. A umidade relativa do ar ótima para seu desenvolvimento se situa na faixa de 75 a 95%, mas os fungos também suportam uma ampla variação de umidade, conseguindo se desenvolver em ambientes com teores extremamente baixos (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). 40 Um líquen não é um único organismo, mas um bolor e uma levedura que vivem em simbiose com uma cianobactéria ou com uma alga verde. Como não percebemos isso antes? Os membros do trio podem ser separados, e cada um deles irá viver a sua vida normal de modo independente. A maioria dos cientistas concorda que os líquens representam uma relação mutualística, em que cada membro compartilha benefícios. O bolor obtém alimento do organismo fotossintético, enquanto fornece a ele uma estrutura e proteção contra a desidratação (BLACK, 2020). IMPORTANTE Se compararmos com as bactérias, em termos nutricionais e de crescimento, os fungos apresentam multiplicação lenta e, para ocorrer a sua duplicação, no âmbito celular, são necessárias algumas horas, de maneira diferente das bactérias, que levam alguns minutos. A reprodução dos fungos pode ser sexuada ou assexuada. A maioria dos fungos patogênicos não apresenta sexualidade, reproduzindo-se assexuadamente (LEVINSON, 2011; JORGE, 2010). A reprodução assexuada sempre envolve uma divisão celular mitótica que, nas leveduras, ocorre por brotamento ou fissão. A reprodução sexuada ocorre de diversas maneiras. Em uma delas, os gametas haploides unem-se, e os seus citoplasmas se misturam (BLACK, 2020; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). No brotamento, a célula parental forma uma protuberância (broto) na sua superfície externa. À medida que o broto se alonga, o núcleo da célula parental se divide, e um dos núcleos migra para o broto, que recebe o nome de blastoconídio (LEVINSON, 2011). O material da parede celular é então sintetizado entre o broto e a célula parental, e o broto acaba se separando. Algumas leveduras, como a Candida albicans, produzem brotos que não se separam uns dos outros. Esses brotos formam uma pequena cadeia de células denominada pseudo-hifa, estrutura que pode favorecer a invasão e patogenicidade do microrganismo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). As leveduras de fissão, como Schizosaccharomyces, dividem-se produzindo duas novas células iguais. Durante a fissão binária, as células parentais se alongam, seus núcleos se dividem, e duas células-filhas são produzidas (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Como já mencionado, a maioria dos fungos de importância médica propaga-se assexuadamente, por meio da formação de conídios (esporos assexuados), a partir das laterais ou extremidades de estruturas especializadas. A morfologia, a coloração e o arranjo dos conídios auxiliam na identificação dos fungos. Alguns conídios importantes, além do blastoconídio, são: artroconídio, formado pela fragmentação das extremidades das hifas; clamidoconídio, esférico, de parede espessa e bastante resistente; e esporangiósporo, formado no interior de um saco (esporângio) em um pedúnculo. Os conídios são facilmente dispersos pelo ar e servem para disseminar o fungo (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Na Figura 41 5, podemos ver em (A) conídios organizados em cadeias na extremidade de um conidióforo em Aspergillus flavus; (B) a fragmentação da hifa resultando na formação de artroconídios em Coccidioides immitis; (C) os blastoconídios formados a partir de brotos de uma célula parental de Candida albicans; (D) os clamidoconídios, células com paredes espessas no interior das hifas de C. albicans; e (E) os esporangiósporos formados dentro do esporângio (bolsa de esporos) em Rhizopus. A B C D E Conídios Conídióforo Artroconídios Clamidoconídios Esporangiósporos Esporangióforo Blastoconídios Pseudo-hifa Figura 5 – Características dos conídios Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: cinco micrografias coloridas representando a forma dos diferentes esporos assexuais dos fungos, separadasem A, B, C, D, E. A imagem A, localizada na parte superior esquerda da imagem, mostra os conídios, representados por várias estruturas esféricas agrupadas, sustentados pelo conidióforo, estrutura parecida com um “caule”. À direita, ainda na parte superior, temos a imagem B, que contém estruturas que se assemelham a fios grossos, com vários segmentos, como se esses fios estivessem quebrados, os segmentos são os 42 artroconídios. Abaixo, à esquerda, vem a figura C, que mostra estruturas compridas e finas, as pseudo-hifas, contendo brotos em seu ápice, os blastoconídios. À esquerda, está a figura D, que também possui estruturas que se assemelham a fios grossos, mas têm uma estrutura oval em seu ápice, os clamidósporos. Por fim, abaixo de todas, localizada centralmente, temos a figura E, onde os esporangiósporos estão representados por estruturas ovais pequenas agrupadas formando uma grande estrutura oval sustentada por um caule, o esporangióforo. Alguns fungos reproduzem-se sexuadamente por acasalamento e formação de esporos sexuados, que se originam da fusão de estruturas diferenciadas com caráter de sexualidade de duas linhagens opostas de cruzamento de uma mesma espécie do fungo. Os núcleos haploides fundem-se e misturam seus citoplasma, em um processo denominado plasmogamia. Posteriormente, por divisão meiótica, originam-se quatro ou oito núcleos haploides, alguns dos quais se recombinarão geneticamente (TRABULSI- ALTERTHUM, 2015; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020). A reprodução sexuada entre os fungos contribui, por meio da recombinação genética, para a variabilidade necessária ao aperfeiçoamento da espécie. Os esporos sexuais são formados a partir das hifas aéreas de diferentes maneiras, dependendo da espécie. Esporos produzidos na extremidade de uma hifa fértil denominada basídio são denominados basidiósporos, e caracterizam a subdivisão Basidiomycotina, que engloba os cogumelos ou fungos superiores. Esporos produzidos no interior de células especiais, os ascos, são denominados de ascósporos, e caracterizam a subdivisão Ascomycotina (Figura 6). A fase sexuada dos fungos é denominada teleomórfica ou perfeita, e a fase assexuada, anamórfica ou imperfeita (LEVINSON, 2011; TRABULSI- ALTERTHUM, 2015; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Basídio A) B) Figura 6 – Características dos esporos sexuais: (A) basidiósporos sendo sustentados pelo basídio; (B) ascósporos dentro de ascos Fonte: adaptada de https://files.cer comp.ufg.br/weby/up/163/o/Filo_Basidiomycota_-_2014-2_slides_aula. pdf?1412095061; https://www.freeimages.com/pt/premium/asci-and-ascospores-of-the-ascomycete- -fungus-dothiorella-sarment-74426. Acesso em: 26 jul. 2022. 43 Descrição da Imagem: três figuras micrografadas mostrando a forma de um esporo sexual dos fungos. Na imagem à esquerda, podemos ver uma estrutura mais arredondada na base, de onde saem bastões retangulares curtos. A estrutura da base é identificada como sendo o basídio. Ao lado, temos uma estrutura na forma de fio grosso, o basídio, contendo apêndices que sai de sua estrutura, os basidiósporos. Na imagem à direita, é possível ver estruturas ovaladas contendo septos centrais agrupadas, os ascósporos e envoltas por outras estruturas, os ascos. Os fungos são classificados de acordo com a natureza do estágio sexual em seu ciclo de vida. Em geral, os fungos com reprodução sexuada produzem, em determinadas fases de seu ciclo, estruturas assexuadas, os conídios, que asseguram a sua disseminação (Figura 7). Essa característica de mudança de tipo de reprodução reflete-se em características morfológicas diferentes e um mesmo fungo pode receber denominações diferentes. Por exemplo, o fungo leveduriforme Cryptococcus neoformans recebe essa nomenclatura em sua forma assexuada, e em sua fase sexuada ele é denominado Filobasidiella neoformans (BLACK, 2020; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Esporos Ciclo Assexuado Organismos Haploides Gameta - Gameta + Plasmogramia (fusão dos citoplasmas) Célula dicariótica Várias Divisões Mitóticas Organismo dicariítico Cariogamia (fusão dos núcleos)Zigoto (diploide) Meiose Estruturas formadoras de esporos haploides (esporângios) Esporo Ciclo Sexuado N N N N N N N N N 2N N N N N Figura 7 – Ciclo de reprodução sexuada e reprodução assexuada por formação de esporos (conídios) em fungos Fonte: Black (2020, p. 899). 44 Descrição da Imagem: dois esquemas ilustrando os ciclos de reprodução dos fungos. Na parte superior da imagem, temos a representação de um ciclo assexuado. Ele inicia na parte superior da imagem com a palavra “esporo” e a letra “n” seguida de uma seta circular direcionada para baixo à esquerda e, ao final da seta, temos um quadro onde está escrita a letra “n”, abaixo da qual está escrito “organismos haploides”. Da figura de baixo, sai uma nova seta circular a partir desse quadro, mas, dessa vez, está direcionada para cima r à direita, formando um círculo, e no centro temos o texto (Ciclo Assexuado). A figura abaixo representa um ciclo sexuado de reprodução. Ela inicia no quadro com o “n”, já citado no ciclo assexuado, de onde saem duas novas setas direcionadas de forma circular abaixo e à direita, e termina em duas estruturas redondas com “n” dentro delas. Ao lado de uma das estruturas está escrito “gameta -” e da outra, “gameta +”. De ambas, sai uma seta única que termina em uma única estrutura ovalada com os dois gametas (estruturas redondas), representando uma célula dicariótica, e um quadro ao lado onde está escrito “plasmogamia” (união dos citoplasmas). Após a estrutura, saem outras três setas seguidas, fazendo curva abaixo e à esquerda, e está escrito ao seu lado “várias divisões mitóticas”. Terminam em uma estrutura de célula dicariótica mais alongada. Mais uma seta sai terminando em uma estrutura oval com “2n” escrito dentro, representando a cariogamia, fusão dos núcleos. Abaixo da estrutura oval está escrito zigoto (diploide). Desta, sai uma seta acima e à esquerda, onde está escrito meiose, que termina em uma estrutura mais comprida com “4ns” dentro e escrito, ao lado, “estruturas formadoras de esporos (esporângios)”. Dessa figura, sai outra seta, direcionada acima, que termina em um círculo com “n” dentro e que direciona para o quadro inicial do ciclo, formando um círculo em que está escrito “ciclo sexuado”. É importante lembrar que os fungos são utilizados na produção de alimentos importantes como, por exemplo, pães, queijos, vinhos e cervejas, assim como também são responsáveis pela deterioração de certos alimentos, como frutas, grãos, vegetais e compotas (LEVINSON, 2011), bem como de animais e plantas mortas, e, dessa forma, permitem que a matéria orgânica retorne ao ambiente e dê a continuidade ao ciclo de vida (DANDOLINI, 2013). Vale ressaltar, ainda, o valor econômico dos fungos. Esse interesse vem aumentando significativamente na área da biotecnologia, haja vista que inúmeros fungos produzem toxinas que podem ser utilizadas em benefício do ser humano, ou transformadas em diversos produtos de interesse econômico (DANDOLINI, 2013). Aspergillus niger, por exemplo, tem sido usado para produzir ácido cítrico para alimentos e bebidas desde 1914. A levedura Saccharomyces cerevisiae, como já mencionado, é utilizada na produção de pão e vinho. Ela também é geneticamente modificada para produzir várias proteínas, incluindo insulina, anticoagulantes, antígenos contra o vírus da hepatite B e fator de crescimento humano, entre tantos outros produtos. Os fungos também são utilizados para o controle biológico de pragas (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 45 Título: Fungos Fantásticos (Netflix) Ano: 2019 Sinopse: o documentário é uma jornada reveladora de lapso de tempo sobre o mundo mágico, misterioso e medicinal dos fungos e seu poder de curar, sustentar e contribuir para a regeneração da vida na Terra, que começou há 3,5 bilhões de anos. Para elucidar a importânciado Reino Fungi, as imagens são fornecidas através dos olhos de micologistas. DICAS Em contraste com esses efeitos benéficos, os fungos podem ter efeitos indesejáveis para a agricultura devido às suas adaptações nutricionais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Os fungos parasitas de plantas causam doenças como murcha, míldio, mangra e ferrugem, produzindo assim extensos prejuízos nas colheitas e perdas econômicas. As infecções fúngicas de aves e mamíferos domésticos também são responsáveis por grandes perdas econômicas. Os fungos que contaminam o ser humano provocam sofrimento, redução da produtividade e, algumas vezes, gastos médicos em longo prazo, podendo levar a óbito (BLACK, 2020). Algumas toxinas produzidas pelos fungos também podem levar ao adoecimento do ser humano e até ao desenvolvimento de câncer, sem a necessidade da presença do microrganismo. Existem, ainda, os fungos alucinógenos, que são utilizados como drogas (FARIA, 2017). Quando os exploradores levaram pela primeira vez as orquídeas da América do Sul, em seu retorno à Inglaterra durante o século XIX, os ingleses ficaram encantados em ter espécimes tão belos em suas estufas. Entretanto, tiveram uma grande decepção quando as plantas não se desenvolveram, por mais cuidados que fossem dispensados na sua plantação em terra fresca e vasos novos. Foram necessários vários anos de experimentação aos ingleses e, talvez, a feliz importação de algumas orquídeas em seu meio nativo para que aprendessem a cultivar as orquídeas fora do seu ambiente natural. Por fim, foi descoberto que as orquídeas necessitam de determinados fungos para o seu crescimento. Esses fungos formam associações simbióticas com as raízes das orquídeas, e essas associações são denominadas micorrizas. Quando o substrato em que as orquídeas tinham crescido foi utilizado para plantar novos espécimes, as orquídeas e os fungos formaram micorrizas e ambos se desenvolveram. INTERESSANTE 46 Chegamos ao fim da nossa segunda unidade, no qual discutimos inúmeros aspectos relacionados aos fungos. Nesse cenário, você conheceu as principais estruturas, morfologia, nutrição, metabolismo e crescimento desses microrganismos. Levando em consideração o impacto financeiro da presença dos fungos, discutimos que eles podem trazer benefícios e malefícios aos seres humanos e ao ambiente. Esperamos que você tenha gostado do “mundo dos fungos”! Agora finalizarmos, vamos verificar os principais itens que discutimos neste tema e de que forma eles se relacionam. Para isso, propomos a criação de um mapa mental/ diagrama, para que você identifique os principais conceitos, tópicos, formulações e demais itens discutidos. Para ajudá-lo, você pode colocar, como termo central, a palavra “Fungos”. Após isso, especifique as estruturas e suas diferenças para as outras células, morfologia, replicação (tipos), e assim por diante. Existem diversas ferramentas que podem ser utilizadas para criar mapas mentais e diagramas similares. Uma delas é a ferramenta gratuita: https://www.goconqr.com/. Também recomendo a ferramenta: https://app.diagrams.net/. 47 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Os principais aspectos da vida de um fungo, desde suas estruturas até seu impacto benéfico ou maléfico ao meio ambiente e aos seres humanos. • Quando analisamos o exercício profissional de um microbiologista, sua função pode ser no diagnóstico, na biotecnologia, no meio ambiente ou na indústria de alimentos. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento inerente dos fungos é fundamental. • As doenças fúngicas são cada vez mais emergentes na sociedade atual, e um bom profissional deve estar atento às formas de identificação, reprodução e patogenia desses microrganismos para que possa identificá-los laboratorialmente. • Os fungos podem ser utilizados a nosso favor, seja na produção de pães, vinhos, queijos, entre outros, seja no meio ambiente, fazendo decomposição e renovando os nutrientes do solo. Por exemplo, existem fungos modificados geneticamente que conseguem degradar plásticos. • É fundamental o conhecimento da nutrição e metabolismo dos fungos para que seja possível cultivá-los em laboratório, nos dando a base para diagnosticar doenças fúngicas. 48 AUTOATIVIDADE 1 Os fungos são classificados como seres eucariontes que possuem um tipo de parede celular rígida. Considerando a estrutura dos fungos, analise as afirmativas a seguir: I- A parede celular dos fungos é formada por glicana e quitina. II- A membrana plasmática fúngica contém ergosterol. III- Os fungos podem ser uni ou multicelulares. IV- Os fungos apresentam um envelope chamado de capsídeo. V- Os fungos foram, inicialmente, descritos como “agentes filtráveis”. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas I e V estão corretas. b) ( ) Apenas III e IV estão corretas. c) ( ) Apenas IV e V estão corretas. d) ( ) Apenas I, II e III estão corretas. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 2 Os fungos já foram classificados como vegetais e como protistas. Atualmente, são agrupados num reino à parte, chamado Fungi. A célula fúngica é constituída pelos principais componentes encontrados nos organismos eucarióticos. Além disso, podem ser unicelulares ou pluricelulares. Analise as afirmativas a seguir sobre as características dos fungos: I- São organismos heterotróficos que armazenam energia na forma de glicogênio. II- As hifas que ficam imersas no substrato são denominadas de micélio vegetativo. III- A reprodução dos fungos ocorre apenas assexuadamente, por meio da formação de esporos. IV- O esporângio é uma estrutura reprodutiva cuja porção terminal é em forma de uma vesícula ou saco chamado de “esporangióforo” que contém os esporangiosporos. A respeito das características dos fungos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas I está correta. b) ( ) Apenas I e II estão corretas. c) ( ) Apenas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Apenas I, III e IV estão corretas. e) ( ) Apenas II e IV estão corretas. 3 Os fungos são classificados num reino separado das plantas, animais e bactérias. Uma grande diferença é o fato de as células dos fungos terem paredes celulares que contêm quitina, ao contrário das células vegetais, que contêm celulose. Nesse reino, encontramos diferentes formas de vida. Descreva as características fundamentais que distinguem entre si os fungos filamentosos, as leveduras e os fungos dimórficos. 49 TÓPICO 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS VÍRUS 1 INTRODUÇÃO No Tópico 3, abordaremos a estrutura, a replicação e o comportamento dos vírus. No fim do capítulo, você deverá ter uma melhor compreensão e apreciação de um dos grupos de microrganismos de menores dimensões encontrados na natureza, porém extremamente perigosos. Todos nós já tivemos contato inúmeras vezes com os vírus e suas estruturas, seja através de gripes, dor de garganta ou de vacinas tomadas durante nossa vida. Afinal, como são esses vírus? Como se multiplicam? Por que não temos cura para algumas doenças virais? Vírus são organismos absolutamente rudimentares e simples, que nem estrutura de célula possuem. Então, o que são os vírus? São considerados seres vivos ou não? Qual a sua importância e impacto na saúde humana? Sarampo, síndrome da imunodeficiência humana (aids), rubéola, gripe, catapora, caxumba, Covid-19, poliomielite, raiva, dengue, hepatite, febre amarela, papilomavírus humano (HPV), varíola. Você já teve ou sabe de alguém que já teve alguma dessas doenças? Todas as enfermidades citadas são causadas por diferentes vírus e seus sintomas são distintos entre si. Você já se perguntou como adquirimos esses microrganismos? Os vírus podem ser transmitidos durante um aperto de mão (seguido do toque nos olhos, nariz ou boca), por meio da tosse, espirro e gotículas respiratórias contendo o vírus. É verdade que todos estamos suscetíveis a contrair uma doença causada por vírus, mas também podemos nos proteger deles – e não é tão difícil assim. Provavelmente, temospelo menos 10 vezes mais partículas de vírus em nosso corpo do que células humanas (cerca de 37 trilhões). Muitos desses vírus estão envolvidos em processos corporais essenciais, fazendo parte do nosso ecossistema interno. Na verdade, 8% do genoma humano é composto por retrovírus endógenos, DNA viral que passa diretamente entre as células humanas porque estão integradas aos cromossomos. Talvez, possamos até dizer que não sobreviveríamos por muito tempo se todos eles desaparecessem. Suspeita-se que os vírus tenham um papel importante para a conservação de um sistema imunológico saudável pronto para responder a patógenos. Isso não significa negar os efeitos nocivos de alguns vírus e os impactos devastadores que eles podem ter na vida das pessoas. Para entendermos melhor todo esse contexto, precisamos nos aprofundar na aprendizagem da estrutura, morfologia e reprodução dos vírus. Vamos lá? UNIDADE 1 50 Para entendermos a importância da lavagem de mãos para evitar a transmissão das viroses, sugiro uma atividade prática. Para executar essa atividade, você precisará de uma vasilha com água e uma quantidade significativa de orégano nessa água, que irá boiar. Nesse experimento, o orégano representará os vírus. Além disso, você necessitará de uma outra vasilha contendo sabão líquido (detergente, sabonete). Mergulhe seu dedo no líquido da primeira vasilha e veja que sua mão ficará cheia de orégano (vírus) ao tirá-la. Limpe seu dedo e passe seu dedo no sabão líquido antes de inseri-lo novamente na água com orégano. Você poderá perceber que, dessa vez, o orégano será repelido pela presença do sabão. Para a execução dessa atividade, sugiro que você acesse o vídeo no QR Code: DICAS A higienização das mãos é a medida mais antiga, eficaz e barata de prevenção de transmissão de diversas doenças. Essa prática reduz significativamente a transmissão de microrganismos. Dessa forma, manter as mãos limpas evita a infecção e transmissão de vários vírus. A lavagem das mãos deve acontecer de acordo com as superfícies com que a pessoa entra em contato, ser feita com água e sabão e durar pelo menos 1 minuto. Para o álcool 70% em gel ou solução, a orientação é friccionar as mãos pelo menos por 20 segundos. Apesar do fato de conhecermos muito sobre as propriedades moleculares dos vírus, como eles subvertem as atividades celulares para os seus próprios interesses e as doenças causadas por diversos deles, sabemos muito pouco sobre as origens dos vírus. Sabe-se que os vírus surgiram antes do aparecimento do último ancestral universal comum da vida celular (Last Universal Common Ancestor - LUCA) (HOLMES, 2011). Existem vestígios de infecções virais nas formas mais primitivas de vida. O mais provável é que quando as células modernas surgiram (procariótica e eucariótica) os vírus já eram parte do ambiente (KORSMAN et al., 2014). As evidências sobre as infecções virais surgiram desde os primeiros registros de atividades humanas. Desde que os primeiros seres humanos deixaram de ser nômades, os variados contatos intra e interespécies tornaram-se mais frequentes, possibilitando que diversos tipos de patógenos, entre eles, os vírus, fossem transmitidos e mantidos nas populações. As doenças virais começaram a ser registradas nas civilizações egípcias e greco-romanas no ano 1000 a.C. Apesar das leis que descreviam a responsabilidade dos donos de animais domésticos e suas consequentes obrigações, caso esses animais 51 ficassem raivosos, na Mesopotâmia, e de registros da civilização egípcia relatando pessoas com deformidades anatômicas semelhante àquelas causadas pelo vírus da poliomielite, bem como sequelas de varíola na face (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015), nessa época, ainda não havia conhecimento sobre a existência dos vírus. Título: A história da humanidade contada pelos vírus Autor: Stefan Cunha Ujvari Editora: Editora Contexto Sinopse: malária, sífilis, tuberculose, ebola, gripe, aids, sarampo e outros males que atacam a humanidade revelam muito mais da nossa história do que imagina- mos. Os passos do homem ao longo das épocas, pe- los continentes, o início da utilização de vestimentas, a convivência com diversos animais, o encontro com outros seres humanos: tudo isso pode ser desvendado agora com o estudo microscópico de vírus, bactérias e parasitas que cruzaram – e cruzam – o nosso caminho. Por meio do DNA dos microrganismos, podemos saber quando e como as epidemias atuais se iniciaram e de que forma elas condicionaram a existência humana, di- zimando populações, estimulando conflitos, infectando combatentes, promovendo êxodos, propiciando misci- genação, fortalecendo ou enfraquecendo povos. DICAS Antes do estabelecimento da teoria dos germes, acreditava-se que muitas doenças eram causadas por venenos, que em latim é chamado de vírus. Pasteur designava como vírus os agentes causadores de infecções em geral, mesmo as causadas por bactérias. Entretanto, em alguns casos de infecções, os agentes causadores não eram encontrados pela microscopia óptica (BLACK, 2020; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Charles Chamberland, um colaborador de Pasteur, desenvolveu um filtro de porcelana para remover as bactérias da água, mas pesquisadores logo perceberam que alguns filtrados permaneciam infecciosos. Martinus Beijerinck (1851-1931) (Figura 1), microbiologista holandês, estabeleceu a razão pela qual esses filtrados eram infecciosos e, portanto, foi o primeiro a caracterizar os vírus (BLACK, 2020; BROOKS et al., 2014). Todavia, a natureza dos vírus permaneceu obscura até 1935, quando Wendell Stanley, um químico norte-americano, isolou o vírus do mosaico do tabaco, tornando possível, pela primeira vez, o desenvolvimento de estudos químicos e estruturais com um vírus purificado (BLACK, 2020; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 52 Figura 1 – Martinus Beijerinck (1851-1931), primeiro pesquisador a caracterizar os vírus Fonte: Lustig e Levine (1992, p. 4629). As implicações médicas das infecções virais demandaram esforços extraordinários por parte dos pesquisadores, culminando com o desenvolvimento da Biologia Molecular, erradicação de várias doenças e elucidação dos processos celulares, vitais para o funcionamento do organismo vivo (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). Outro marco importante, nesse contexto, foi alcançado em 1946, quando John Enders cultivou um vírus in vitro. Em 1952, os biólogos americanos Alfred Hershey e Martha Chase já tinham demonstrado que o material genético de alguns vírus consistia em outro ácido nucleico, o ácido desoxirribonucleico (DNA), seguido pela determinação da estrutura do DNA por Watson e Crick. Desde a década de 1950, centenas de vírus foram isolados e caracterizados (BLACK, 2020) contribuindo para o desenvolvimento de vacinas, revolucionando o cenário das pandemias e das doenças negligenciadas, em todo o globo. Ao longo da história, as epidemias virais nos levaram a ter uma maior conscientização do impacto que os microrganismos exercem sobre as nossas vidas e sobre o curso da história. Atualmente, são descritas mais de 2 mil espécies de vírus e, desse montante, 650 espécies são capazes de infectar animais e seres humanos. Em humanos, são responsáveis por uma série de infecções benignas, como gripes e verrugas, assim como podem ser causa de doenças graves, como poliomielite, AIDS e até mesmo câncer (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre as doenças infecciosas que afligem o ser humano, cerca de 60% são de etiologia viral (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). Entretanto, é bom salientar que, além de causarem problemas aos seres humanos, os vírus têm servido como ferramentas fundamentais em pesquisas científicas. Mais recentemente, os vírus estão sendo empregados como vetores para introdução de genes em organismos, abrindo as fronteiras da terapia gênica (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Descrição da Imagem: fotografia em preto e branco de um homem de meia idade, com cabelo curto e arrepiado,olhando sério para frente. O homem veste camisa, gravata e paletó. É possível visualizar apenas a parte superior dessa vestimenta. 53 Os vírus específicos de plantas, em sua maioria, entram nas células vegetais através de áreas danificadas da parede celular e se espalham pelas conexões citoplasmáticas. Esses microrganismos podem infectar uma diversidade de plantas, desde cravos e tulipas até batata, tomate e couve-flor. Essas infecções geralmente causam malefícios à agricultura, mas podem também dar características interessantes às flores. As bonitas listras claras nas tulipas são produzidas por uma infecção viral. Infelizmente, a infecção (que pode se disseminar de uma planta para outra) também enfraquece ligeiramente as tulipas. Por essa razão, os criadores de plantas desenvolveram variedades cujas listras são geneticamente produzidas (BLACK, 2020). INTERESSANTE Os vírus não são compostos por células e podem ser definidos como uma pequena associação organizada de macromoléculas dependente de um sistema vivo para se multiplicar, utilizando a maquinaria anabólica da célula hospedeira, sem nenhum metabolismo ativo fora da célula hospedeira. Dessa forma, são considerados verdadeiros parasitas intracelulares obrigatórios (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015; KORSMAN, et al., 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Variam enormemente na sua estrutura, organização e expressão do genoma, bem como nas estratégias de replicação e transmissão. A variedade de hospedeiros para determinado vírus pode ser ampla ou extremamente limitada, podendo infectar tanto células procarióticas quanto eucarióticas (BROOKS et al., 2014). Considerando os seus aspectos estruturais, os vírus podem ser caracterizados como as menores partículas capazes de infectar um hospedeiro. Em média, o seu diâmetro pode variar de 18 até 600 nm. Levando em consideração aquilo que mais se encontra em nosso cotidiano, grande parte dos vírus apresentam tamanho inferior a 200 nm e não podem ser visualizados no microscópio óptico. Basicamente, a estrutura de uma partícula viral completa, ou vírion, é composta por um genoma de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) e uma capa proteica (capsídeo), podendo conter lipídios e açúcares. O conjunto dessas estruturas é chamado de nucleocapsídeo. Uma membrana ou envoltório está presente em alguns vírus, adquirida quando são liberados por brotamento através de membranas das células do hospedeiro, portanto sua composição é idêntica à da membrana celular das células hospedeiras (Figura 2) (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015; KORSMAN et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Eles são mantidos em soluções aquosas e podem ser degradados na presença de ácidos, detergentes e de outros solventes que podem inativar esses componentes (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 54 Figura 2 – Partícula de um vírus (vírion) composta por um genoma de ácido nucleico empacotado numa cobertura proteica (capsídeo) ou numa membrana (envelope) VÍRUS DE CAPSÍDEO DESCOBERTO Nucleocapsídeo RNA ProteínaVÍRUS ENVELOPADO Bicamada lipídica Proteína estrutural Glicoproteína Fonte: adaptada de Murray, Rosenthal e Pfaller (2017). Descrição da Imagem: na margem superior da ilustração, à esquerda, está escrito “vírus de capsídeo descoberto”. Logo abaixo, tem uma figura em formato poliédrico com um DNA desenhado dentro. Mais à direita, tem uma estrutura em forma helicoidal, parecendo uma mola, com pequenas bolas espalhadas em sua haste. Do lado direito, tem uma seta na estrutura helicoidal indicando ser um RNA, e nas bolas indicando que são proteínas. Entre as duas figuras tem a palavra “nucleocapsídeo”, com duas setas, cada uma na direção das imagens. Tanto da estrutura poliédrica como da estrutura helicoidal, sai uma seta direcionada para baixo, para uma estrutura circular seccionada. Podemos ver detalhes de sua camada externa e do seu interior, onde estão inseridas as mesmas imagens (poliédrica e helicoidal), em tamanho menor, envolvidas por esse círculo. A parte interna do círculo está em amarelo, e a mais externa está em azul, sendo indicado que se trata da bicamada lipídica. Inserida nessa bicamada, há desenhado um conjunto de proteínas estruturais e de glicoproteínas que estão representadas na forma de dois bastões adjacentes e um bastão que vai para fora do círculo com uma bola na ponta, respectivamente. Acima dessas duas últimas imagens (círculos) está escrito “vírus envelopado”. 55 As estruturas da superfície do capsídeo e do envelope medeiam a interação do vírus com a célula-alvo por meio de uma proteína de fixação viral (VAP) ou estrutural. A remoção ou o rompimento da parte externa desse pacote inativa o vírus. Alguns vírus codificam e carregam suas próprias enzimas necessárias para a replicação do seu genoma (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015; KORSMAN et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). O ácido nucleico viral contém a informação necessária para programar a célula infectada do hospedeiro para sintetizar macromoléculas específicas do vírus necessárias à produção da progênie viral (BROOKS et al., 2014). Alguns agentes infecciosos apresentam algumas características gerais de vírus, mas, por outro lado, são estruturalmente mais simples. Dois exemplos são os que assumem maior importância atualmente: viroides e príons. Viroides são moléculas pequenas de RNA fita simples, circular, sem nenhuma forma de capsídeo, ou seja, sem nenhuma proteína. Portanto, é completamente dependente das funções celulares para sua replicação. Príons (proteínas infecciosas) são constituídos de apenas um tipo de proteína e não contêm ácido nucleico. Causam doenças neurodegenerativas, fatais, de progressão lenta. Atualmente, esse agente infeccioso se tornou muito conhecido por causar uma epidemia no gado: a síndrome da vaca louca (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Embora alguns vírus sejam variáveis quanto à forma, a maioria tem um formato específico, que é determinado pelos capsômeros ou pelo envelope. Um capsídeo helicoidal é constituído por uma proteína semelhante a uma fita, que forma uma espiral em torno do ácido nucleico e que aparecem como bastões. Os vírus poliédricos têm muitos lados, e uma das formas mais comuns de capsídeo poliédrico é o icosaedro; os vírus icosaédricos apresentam 20 faces triangulares. É uma aproximação de uma esfera montada a partir de subunidades simétricas. Um capsídeo complexo refere-se a uma combinação de formas helicoidais e icosaédrica (bacteriófago), e alguns vírus possuem um capsídeo em forma de bala de revólver. Os vírus envelopados apresentam, em sua maioria, uma forma esférica (Figura 3) (BLACK, 2020; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BROOKS et al., 2014). 56 Figura 3 – Formas virais mais comuns COMPLEXA Bacteriófago ICOSAÉDRICA Sem envelope ICOSAÉDRICA Com envelope HELICOIDAL Com envelope HELICOIDAL Sem envelope 17 - 57 0 ηm 50 - 11 0 ηm 18 - 60 η m 46 - 2200 ηm 60 - 1950 ηm 42 - 20 0 ηm Fonte: http://www.nuepe.ufpr.br/portal/?page_id=10663. Acesso em: 14 fev. 2022. Descrição da Imagem: figura constituída de cinco ilustrações, sendo que na margem superior esquerda está escrito “COMPLEXA – bacteriófago”, estrutura icosaédrica com uma espiral dentro. Conectado à parte inferior, surge um cilindro alongado que termina com estruturas semelhantes a pernas de aranha. No centro da figura, existem dois desenhos: o de cima aparece logo abaixo de “ICOSAÉDRICA sem envelope”, é uma estrutura icosaédrica com uma espiral dentro dela. Abaixo temos “ICOSAÉDRICA com envelope”, seguida de estrutura icosaédrica com uma espiral dentro dela envolta por um círculo com pontas em sua extensão. Nessas três figuras, a estrutura em espiral está sendo mostrada parcialmente e encontra-se recoberta pela estrutura do vírus que reveste seu material genético. Por fim, à direita da figura, temos mais dois desenhos, o de cima aparece logo abaixo (HELICOIDAL sem envelope), estrutura parecida com uma mola. Abaixo,temos “HELICOIDAL com envelope”, estrutura parecida com uma mola envolta por um círculo alongado com pontas em sua extensão. A especificidade viral refere-se aos tipos específicos de células passíveis de serem infectados por um vírus e é determinada, principalmente, pela capacidade ou não de adesão de um vírus a uma célula. A adesão depende da presença de receptores específicos nas superfícies das células hospedeiras e de estruturas específicas de fixação nos capsídeos ou envelopes dos vírus. A especificidade também é afetada pela disponibilidade, no interior da célula, de enzimas apropriadas do hospedeiro e de outras proteínas de que o vírus necessita para a sua replicação. Por fim, a especificidade é afetada pela possibilidade ou não de o vírus replicado ser liberado da célula para disseminar a infecção em outras células (BLACK, 2020). 57 Os vírus podem ser classificados de acordo com sua estrutura, tamanho, tipo de genoma, estratégia de replicação, hospedeiro e doenças causadas. Assim, os vírus podem ser classificados em vírus bacterianos (bacteriófagos), vírus de plantas ou vírus de animais; ou em dermotrópicos, quando infectam a pele, neurotrópicos, quando infectam o tecido nervoso, viscerotrópicos, quando infectam órgãos do sistema digestório, ou pneumotrópicos, quando infectam o sistema respiratório. Além disso, podem ser classificados, também, com base no conteúdo de seu ácido nucleico em vírus de RNA ou de DNA, sendo subdivididos em vírus de RNA de fita simples (fsRNA) ou de fita dupla (fdRNA), e vírus de DNA de fita dupla (fdDNA) e de fita simples (fsDNA) (BLACK, 2020; BROOKS et al., 2014; KORSMAN et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Aproximadamente, no final de dezembro de 2019, uma nova doença desconhecida surgiu em Wuhan, na China, causando pneumonia e se espalhando rapidamente na região. Em pouco tempo, o causador da doença foi identificado: tratava-se do novo coronavírus (nCoV), responsável por causar a síndrome respiratória aguda (SARS-CoV-2), sendo mundialmente conhecida como a doença do coronavírus 2019 (Covid-19). Dados da Organização Mundial de Saúde indicaram que a doença se espalhou rapidamente da China, se alastrando por todo o globo. Os coronavírus podem ser caracterizados como um grupo de vírus de RNA, envelopados e de cadeia simples que, ao infectar o hospedeiro, são capazes de causar alterações entéricas, hepáticas, neurológicas e respiratórias em animais e seres humanos. Considerando os efeitos deletérios em seres humanos, o SARS-CoV-2 é considerado o sétimo membro da família CoV que pode nos infectar. As suas principais manifestações clínicas compreendem fadiga, febre e tosse. Entretanto, as manifestações clínicas podem variar e algumas pessoas podem ser assintomáticas e, em outros casos, o avanço da doença pode ser fatal, devido a graves falhas no sistema respiratório. Alguns sintomas incomuns compreendem dor de cabeça, diarreia, produção de escarro e, em alguns casos, pneumonia (HE; DENG; WEINA, 2020). O novo coronavírus foi descoberto em Wuhan, cidade chinesa com 11 milhões de habitantes, por conta de uma série de casos de pneumonia com origem desconhecida. Depois de algumas pesquisas, foi descoberta a Covid-19, doença causada pelo novo vírus. Assista ao documentário Coronavírus (2020) e conheça um pouco mais essa doença e a pandemia. DICAS 58 O processo de infecção causado pelos vírus pode evoluir rapidamente, pois sua replicação ocorre em aproximadamente 10 horas, originando centenas de vírions no interior daquela célula, e, no decorrer desse processo, a informação genética viral pode ser integrada ao genoma do hospedeiro. A função básica do vírion é carregar o genoma viral para dentro da célula, a fim de ser replicado e amplificado. Essa intensa amplificação explica como os vírus disseminam-se rapidamente de uma célula a outra (LEVINSON, 2011; SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). Os vírus não podem ser cultivados em meio artificial, pois são agentes intracelulares, que requerem metabolismo celular ativo para amplificação de seu material genético e progênie. A curva de produção de um vírus, em cultura de células, é em forma logarítmica na base 10, ao passo que as bactérias se multiplicam de forma binária, pois a reprodução dos vírus ocorre pela montagem dos componentes individuais, em vez de fissão binária. Fora da célula animal, bacteriana ou vegetal viva, um vírus é incapaz de realizar sua replicação (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Mas todos os vírus são iguais e infectam o seu hospedeiro da mesma forma? PERGUNTA A replicação dos vírus exige que uma partícula viral infecte uma célula e programe a maquinaria da célula hospedeira para sintetizar os componentes necessários à montagem de novas partículas virais (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015; BROOKS et al., 2014). Para que isso aconteça, em geral, os vírus passam por nove etapas em seus ciclos de replicação para produzir mais vírions: reconhecimento, adsorção/fixação, penetração, desencapsidação, transcrição, síntese de proteínas, replicação, montagem e, por fim, liberação. A Figura 4 apresenta a sequência dos eventos envolvidos no processo de replicação viral (BLACK, 2020; KORSMAN et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). A célula hospedeira pode produzir centenas a milhares de novos vírus e, na liberação, normalmente, morre (lisa). O dano tecidual em consequência da morte celular responde pelos efeitos destrutivos observados em muitas doenças virais (BROOKS et al., 2014). 59 Reconhecimento1 Fixação2 Penetração3 Replicação7 Síntese de proteína6 Montagem8 Lise e liberação9 Desencapsidação 4 Transcrição 5 2' Fixação 3' Fusão 8' Envelopamento 9' Brotamento e liberação Figura 4 – Passo a passo envolvido no processo de replicação viral Fonte: adaptada de Murray, Rosenthal e Pfaller (2017). Descrição da Imagem: ilustração composta por um grande quadrado com reentrâncias, vesículas projetadas para fora e uma área de descontinuidade na imagem. Iniciando da parte superior esquerda, temos uma estrutura icosaédrica acompanhada do número 1 e da palavra reconhecimento. Uma seta indica que essa estrutura está em direção à borda superior do quadrado, aparecendo outro icosaédrico na borda com outra seta, e a estrutura já em uma reentrância dessa borda, com o número 2’ e a palavra fixação ao lado da última seta. Novamente, há uma seta apontada para uma vesícula interna ao quadrado contendo a imagem icosaédrica em seu interior, acompanhada do número 3 e a palavra penetração. Na borda esquerda do quadro, existem duas outras estruturas, dessa vez, de formato helicoidal. A primeira aparece dentro de uma vesícula externa ligada ao quadrado e seguida do número 2 e da palavra fixação. Abaixo, temos a outra estrutura helicoidal que está em uma vesícula externa já aberta para dentro do quadrado, seguida do número 3’ e da palavra fusão, sugerindo que se trata do mesmo vírus em etapas diferentes da invasão. Retornando à imagem icosaédrica, a estrutura que estava na vesícula foi liberada dentro do quadrado, sendo representada como dois bastões na cor vermelha (DNA) associados ao número 4 e à palavra desencapsidação. Embaixo, saem duas setas, direcionadas de forma diagonal para baixo, apontadas para lados opostos. Abaixo da seta direcionada para a direita, aparecem três bastões na cor azul, o número 5 e a palavra transcrição. Dessas, sai outra seta direcionada na diagonal para baixo, à direita, que termina em uma fita 60 azul na horizontal, com uma série de duplas de bolinhas fixadas nela, uma acima e outra abaixo, com o número 6 e escrito “síntese de proteínas”. Novamente, sai outra seta na diagonal acima que termina na mesma estrutura que estava setada à direita após a desencapsidação. Essa estrutura é composta por três bastões na cor vermelha, com o número 7 e a palavra replicação. Na margem inferior do quadrado, está escrito o número 8 e a palavra montagem, tendo ao ladoalguns pedaços da estrutura icosaédrica dos vírus, mostrando, em sequência, a montagem de um vírus, tendo, ao final, um icosaedro completo contendo fitas de DNA, caracterizando vírus completos. Acima dessas estruturas, tem uma seta apontada para elas que saem dos três bastões vermelhos da replicação. Esses vírus estão saindo da área de descontinuidade do inferior da lateral direita do quadrado. Está escrito o número 9 e as palavras lise e liberação. Ainda dos 3 bastões vermelhos da replicação, sai uma seta apontada para cima que termina no número 8’ e na palavra envelopamento. Acima dessas palavras, tem duas estruturas adjacentes em espiral, e elas estão formando uma vesícula na borda superior do quadrado. Da palavra envelopamento, sai outra seta na diagonal, abaixo e à direita, que mostra as duas estruturas em espiral e a vesícula já formada na lateral direita do quadrado. Acima dessa vesícula está escrito 9’ – brotamento e liberação. Uma única rodada do ciclo de replicação viral pode ser separada em diversas fases. Durante a fase precoce da infecção, o vírus deve reconhecer uma célula-alvo apropriada, fixar-se nela, penetrar a membrana plasmática e ser captado por essa célula, liberar (desencapsidar) o seu genoma dentro do citoplasma e, se necessário, liberar o genoma para o núcleo. A fase tardia começa com o início da replicação do genoma e a síntese macromolecular viral e procede por meio da montagem e da liberação viral. A desencapsidação do genoma a partir do capsídeo ou envelope, durante a fase precoce, abole sua capacidade infecciosa e sua estrutura identificável, iniciando-se, assim, o período de eclipse (BROOKS et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Esse período representa o tempo levado após a penetração até a biossíntese de vírus maduros. O período de eclipse é o período durante o qual nenhum vírus é encontrado no interior da célula, portanto, termina com o aparecimento de novos vírions após a montagem do vírus. O período de latência, durante o qual um vírus infeccioso extracelular não é detectado, inclui o período de eclipse e termina com a liberação de novos vírus, ou seja, representa o tempo desde a penetração até a liberação de vírus maduros (Figura 5). O número de vírus por célula infectada é a produção viral ou tamanho da população liberada. Cada célula infectada pode produzir até 100.000 partículas; contudo, somente 1% a 10% dessas partículas podem ser infecciosas. As partículas não infecciosas resultam de mutações e erros na fabricação e montagem do vírion (KORSMAN et al., 2014; LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). 61 U ni da de s in fe cc io sa s po r c él ul a ho sp ed ei ra 200 150 100 50 5 10 15 20 25 30 Tempo em minutos Período de latência Período de eclipse Ví ru s t ot ais Ví ru s e xt ra ce lu la re s Produção viral Figura 5 – Curva de crescimento de um vírus Fonte: Black (2020, p. 800). Descrição da Imagem: gráfico onde o eixo das abscissas (eixo x), na horizontal, representa o tempo em minutos que demora em cada fase do crescimento viral, em escala 5, de 0 a 30 (5, 10, 15, 20, 25 e 30), e o eixo das ordenadas (eixo y), na vertical, representa as unidades infecciosas por célula hospedeira em escala 50, que vai de 0 a 200 (50, 100, 150 e 200). Esse gráfico contém duas curvas, uma em azul e a outra em verde. A curva em verde tem início no tempo e concentração zero e a partir de, aproximadamente, 8 minutos ela começa a subir, atingindo seu pico máximo de concentração (200) pouco antes dos 20 minutos. A partir daí, ela se mantém em linha horizontal. Ao lado dessa curva, está escrito “vírus totais”. Do tempo zero até o momento que a curva verde começa a subir, está delimitado indicando ser o período de eclipse, e do tempo zero até o tempo em que a curva atinge seu pico máximo está delimitado indicando ser o período de latência. Do mesmo ponto de tempo em que a curva verde atinge seu ápice, inicia-se uma curva azul chegando ao encontro da outra curva no tempo de 30 minutos, aproximadamente. Ao lado da curva azul, está escrito “vírus extracelulares” e existe uma dupla seta do eixo das abscissas até o ápice da curva, indicando produção viral. 62 As primeiras etapas que ocorrem para que a replicação viral aconteça são o reconhecimento e a fixação na célula hospedeira. A ligação das VAPs aos receptores na célula determina quais células podem ser infectadas por um vírus. Os receptores virais encontrados na superfície celular são proteínas que exibem outras funções na vida celular. A estrutura de fixação viral num capsídeo do vírus pode ser parte do capsídeo ou uma proteína que se estende a partir desse capsídeo (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Interações entre múltiplas VAPs e receptores celulares iniciam a penetração do vírus para dentro da célula. O mecanismo de internalização depende da estrutura do vírion e do tipo de célula. A maioria dos vírus não envelopados entra na célula por endocitose mediada por receptor ou por meio de viropexia. Os vírus envelopados fundem suas membranas com as membranas celulares para liberar o nucleocapsídeo ou o genoma diretamente dentro do citoplasma (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). A penetração ocorre com muita rapidez após a adsorção do vírion à membrana plasmática do hospedeiro (BLACK, 2020). Uma vez internalizado, o nucleocapsídeo deve ser transferido para o ponto de replicação dentro da célula, e o capsídeo ou o envelope, removido. O genoma dos vírus de DNA deve ser transferido para o núcleo, enquanto a maioria dos vírus de RNA permanece no citoplasma. O processo de desencapsidação pode ser iniciado por uma fixação ao receptor ou promovido por ambiente ácido ou por proteases encontradas em um endossomo ou lisossomo. Os vírus envelopados são desencapsidados na fusão com as membranas das células (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Uma vez dentro da célula, o genoma deve dirigir a síntese de RNAm viral e de proteínas e gerar cópias idênticas de si próprio. O genoma é inutilizado, a menos que possa ser transcrito em RNAms funcionais capazes de se ligar aos ribossomos e ser traduzidos em proteínas. O maquinário da célula para transcrição e processamento do RNAm é encontrado no núcleo. Os vírus que se replicam no citoplasma devem prover de enzimas que exerçam essas funções ou uma alternativa (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Em geral, o RNAm para proteínas não estruturais é transcrito primeiro (Figura 6). Os produtos precoces do gene (proteínas não estruturais) são frequentemente proteínas de ligação ao DNA e enzimas, incluindo polimerases de vírus codificados. A replicação do genoma usualmente inicia a transição para a transcrição dos produtos de gene tardio. Genes virais tardios codificam proteínas estruturais e outras. Muitas cópias dessas proteínas são requeridas para empacotar o vírus, mas geralmente não são requeridas antes de o genoma estar replicado. Os genomas recém-replicados também provêm novos moldes para amplificar a síntese de RNAm do gene tardio. Os diferentes vírus de DNA e de RNA controlam o tempo e a quantidade de gene viral e a síntese de proteínas de maneiras diferentes (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Quando consideramos a relação da estrutura com a replicação dos vírus, devemos nos atentar às diferenças relacionadas a esse processo (Figura 6). 63 Figura 6 – Replicação de um complexo vírus envelopado de DNA Fonte: adaptada de Murray, Rosenthal e Pfaller (2017). Fixação e penetração por fusão Núcleo RNAm DNA Genoma de DNA Proteína Glicoproteínas imaturas DNA contido no capsídeo descoberto Núcleo Glicoproteínas maduras Precoce imediata Síntese de proteínas Precoce Síntese de proteínas e replicação do genoma Tardia Síntese de proteínas (proteínas estruturais) Exocitose e liberação Lise e liberação RE CG Vírion envelopado maduro Liberação célula-célula Descrição da Imagem: a figura é composta por umgrande retângulo direcionado na vertical, com três vesículas projetadas para fora em sua margem superior e duas reentrâncias e uma área de descontinuidade no inferior de sua margem direita. Dentro dessa imagem, existe um retângulo menor referenciando o núcleo da célula. O conjunto dessas estruturas é dividido em 3 partes horizontais por meio de linhas. Abaixo do grande quadrado, inicia-se outra metade de um grande quadrado, sendo uma célula adjacente. Iniciando da parte superior esquerda, temos uma estrutura icosaédrica, circundada por um círculo, chegando na margem superior do quadrado. Duas imagens a seguir mostram o círculo dessa estrutura se fundindo à margem do quadrado e o icosaedro entrando. No canto superior direito da figura, está escrito “fixação e penetração por fusão”. Logo abaixo dessa escrita, e na mesma altura em que o icosaedro está no quadrado, tem as palavras “Precoce imediata e síntese de proteínas”. Do icosaedro que está dentro do grande quadrado sai uma seta que indica que ele se moveu para a margem do núcleo da célula e, em seguida, liberou seu conteúdo interno (fita em espiral) dentro desse local. Acima dessa fita está escrito “genoma de DNA”. Logo abaixo e à direita, essa mesma linha em espiral aparece, seguida de fitas mais finas descritas como RNAm, e à direita, já fora do núcleo, aparece uma fita de RNAm, com uma série de duplas de bolinhas fixadas nela, uma acima e outra abaixo, escrito “proteínas”. Três estruturas menores das bolinhas aparecem abaixo 64 das proteínas. Abaixo desse conjunto de estruturas, aparece uma linha evidenciando a divisão de etapas. Nessa nova etapa, está escrito “Precoce”, “síntese de proteínas” e “replicação do genoma”. Das três estruturas menores das bolinhas, sai uma seta apontada para baixo da linha de divisão e dentro do núcleo, onde estão fita em espiral e fitas mais finas, com seta para fora do núcleo com uma série de duplas de bolinhas fixadas nela, e destas sai outra seta apontada para as fitas de dentro do núcleo, indicando ser um ciclo de tradução de proteínas e síntese de DNA. Aparece uma nova linha horizontal dividindo fases. Abaixo da linha está escrito fora do grande quadrado, tardia, síntese de proteínas (proteínas estruturais). Nessa nova fase, de dentro do núcleo, aparecem seis sequências, a montagem do icosaedro com a inserção da fita de DNA em seu interior. Ao lado dessa sequência vem escrito DNA contido no capsídeo descoberto. Essa estrutura completa aparece saindo do núcleo e entrando em um grande retângulo oval que tem as letras RE. O nucleocapsídeo passa por dentro da parte inferior do RE, enquanto a parte central possui uma fita de RNAm com as bolinhas saindo e acima estruturas que indicam ser glicoproteínas imaturas. Após sair do RE, o nucleocapsídeo entra em outra estrutura adjacente que é o CG. Nesta, ocorre uma invaginação com a inserção de glicoproteínas maduras vindas do RE. O nucleocapsídeo recoberto por membrana, envelope, então, sai do CG e é encaminhado para a parte inferior do grande quadrado, sendo liberado para fora por meio de uma reentrância e entrando no quadrado adjacente por meio de outra reentrância. Nesse conjunto de eventos, está escrito liberação célula-célula. Voltando para o grande quadrado acima, outro vírus montado que saiu do CG se encaminha para a margem lateral esquerda e são demonstradas duas formas de liberação. Uma por meio da formação de uma invaginação e liberação dos vírus do meio extracelular por exocitose, sem lise celular, e outra rompendo a margem do quadrado, e a liberação ocorrendo com lise celular. De forma geral, a transcrição do genoma do vírus de DNA ocorre no núcleo, usando as polimerases e outras enzimas da célula do hospedeiro para a síntese do RNAm viral (Figura 7). Os diferentes vírus de DNA controlam a duração, o tempo e a quantidade da síntese de gene viral e proteínas de formas diferentes. Além disso, alguns vírus de DNA podem inibir a função de importantes proteínas supressoras de tumor celular. Os genes podem ser transcritos de qualquer fita de DNA do genoma e em direções opostas. As principais limitações para a replicação de um vírus de DNA incluem a disponibilidade de substratos de DNA polimerase e desoxirribonucleotídeos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). 65 Os vírions são liberados.7 6 5 4 3 1 2 Papovavirus DNA Capsídeo Núcleo Citoplasma O vírion se adere à célula hospedeira. Célula hospedeira O vírion penetra na célula e seu DNA é desnudado. DNA viral Proteínas do capsídeo mRNA Vírions maduros. Proteínas do capsídeo Tradução tardia; as proteínas do capsídeo são sintetizadas. O DNA viral é replicado e algumas proteínas virais são sintetizadas. Uma parte de DNA viral é transcrita, produzindo mRNAs que codi�carão as proteínas virais “precoces”. Figura 7 – Ciclo de replicação dos vírus que contêm DNA, usando, como exemplo, um papovavírus Fonte: Tortora, Funke e Case (2017. p. 414). Descrição da Imagem: ilustração em forma de esquema. O ciclo inicia na parte superior da imagem com um vírus em formato icosaédrico e genoma de DNA, da família papovavírus, seguido de uma seta circular direcionada diagonalmente à direita, onde temos uma célula hospedeira, com o vírus ligado a sua membrana plasmática. Acima dessa seta está escrito “1 – o vírion se adere à célula hospedeira”. Dessa imagem, sai uma nova seta circular na diagonal à direita. Temos uma célula contendo DNA viral circular e esferas de proteínas do capsídeo viral em seu interior. Ao lado dessa seta, está escrito “2 – o vírion penetra na célula e seu DNA é desnudado”. Novamente, uma seta sai da imagem, na diagonal inferior para a esquerda, e ao final da seta há uma imagem da célula contendo DNA viral circular e uma fita de mRNA em seu núcleo. Ao lado dessa seta, está escrito “3 – uma parte do DNA viral é transcrita, produzindo mRNAs que codificarão as proteínas virais ‘precoces’’’. Aparece, então, nova seta direcionada para a esquerda, que termina na imagem da célula hospedeira contendo três DNAs circulares e um mRNA no interior do seu núcleo e dois mRNAs saindo do núcleo para o citoplasma. Abaixo dessa imagem está escrito “4 – o DNA viral é replicado e algumas proteínas virais são sintetizadas”. Temos uma nova seta, em diagonal superior à esquerda, indicando a imagem da célula hospedeira contendo os três DNAs circulares em seu núcleo, os três mRNAs e algumas esferas de proteínas do capsídeo em seu citoplasma. Abaixo da imagem está escrito “5 – tradução tardia; as proteínas do capsídeo são sintetizadas”. Por fim, há uma última seta já direcionada à diagonal superior à direita que mostra a célula hospedeira indicando a entrada e saída de proteínas do capsídeo do núcleo da célula, um vírion completo no núcleo e outro vírion sendo liberado da célula. Ao lado da seta, está escrito “6 – vírions maduros” e acima da imagem, “7 – os vírions são liberados”. Essa última imagem se localiza ao lado da primeira, finalizando, assim, um ciclo. 66 A replicação e a transcrição dos vírus de RNA são processos similares, porque os genomas virais são usualmente um RNAm (RNA de fita positiva) ou um molde para o RNAm (RNA de fita negativa). Esses vírus são considerados únicos em suas estratégias replicativas, uma vez que suas enzimas são as únicas na natureza que sintetizam moléculas de RNA a partir de moldes de RNA. Durante a replicação e a transcrição, é formado um intermediário replicativo de RNA de dupla fita. O genoma do vírus de RNA deve codificar RNA polimerases RNA-dependentes (replicases e transcriptases) porque a célula não tem meios de replicar o RNA. Ao contrário dos vírus de DNA, os vírus de RNA também devem fornecer as enzimas para a síntese e processamento do RNAm viral. Os vírus de RNA também devem trazer a maquinaria para esses processos, juntamente com o genoma ou o molde (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). Três estratégias de replicação podemser identificadas nos vírus de RNA. Elas estão relacionadas com a polaridade do RNA genômico e com a presença, na partícula viral, de uma enzima com atividade de DNA polimerase a partir de moldes de RNA. Os genomas virais de RNA de fita positiva ligam-se aos ribossomos e dirigem a síntese de proteína, pois nos vírus de RNA de polaridade positiva o genoma é a própria molécula de RNAm. O genoma viral de RNA de fita positiva livre (fora do capsídeo) é suficiente para iniciar a infecção por si mesmo. O genoma e as enzimas necessárias para a replicação do vírus são montados em um suporte de membrana ou no interior de uma vesícula. A RNA polimerase dependente de RNA codificada pelo vírus produz um molde de RNA de cadeia negativa, e esse molde é usado para gerar mais RNAm e para replicar o genoma (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). Os genomas virais de RNA de fita negativa são os moldes para a produção de RNAm. Portanto, a primeira etapa de replicação desses vírus é sempre a transcrição de RNAm distintos que servem de molde para a síntese das proteínas virais. O genoma de RNA de fita negativa não é infeccioso por si só, e uma polimerase deve ser carreada para dentro da célula associada ao genoma para fazer RNAm individual para as diferentes proteínas virais (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2015). O genoma de duplo sentido possui as sequências (–) adjacentes às sequências (+). Os RNAms precoces do vírus são transcritos a partir da porção de sentido negativo do genoma. Um intermediário replicativo de tamanho total é produzido para gerar um novo genoma e os RNAms tardios do vírus são transcritos a partir da região do intermediário replicativo que é complementar às sequências (+) (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Embora os retrovírus tenham um genoma RNA de fita positiva, o vírus não provê meios para a replicação do RNA no citoplasma. Em vez disso, os retrovírus carregam duas cópias do genoma, duas moléculas de RNA transportador (RNAt) e uma DNA polimerase RNA-dependente (transcriptase reversa) no vírion. O RNAt é usado como um primer para a síntese de uma cópia do DNA complementar circular (DNAc) do genoma. O DNAc é sintetizado no citoplasma, vai para o núcleo 67 e é, então, integrado na cromatina do hospedeiro. O genoma viral torna-se um gene celular. Transcritos de RNA de tamanho total são usados como novos genomas, e RNAms individuais são gerados pelo processamento alternativo desse RNA (Figura 8) (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Figura 8 – Processos de multiplicação e manutenção dos retrovírus Transcriptase reversa Capsídeo Envelope Duas �tas idênticas de RNA positivas O retrovírus penetra por fusão entre as espículas de superfície e os receptores celulares. O processo de desnudamento libera o genoma RNA e as enzimas virais transcriptase reversa, integrase e protease. DNA viral Transcriptase reversa RNA viral A �ta dupla de DNA é sintetizada pela transcriptase reversa a partir do RNA viral. Provírus O novo DNA viral é transportado para o núcleo da célula hospedeira, onde, pela ação da integrase viral, se integra ao DNA celular como um provírus. O provírus pode ser replicado sempre que a célula hospedeira se replicar. Pode ocorrer também a transcrição do provírus, produzindo RNA para novos genomas dos retrovírus e o RNA que codi�ca proteínas do envelope, do capsídeo e as enzimas virais. Fitas idênticas de RNA Proteínas virais As proteínas virais são processadas pela protease viral; algumas das proteínas virais migram para a mambrana citoplasmática da célula hospedeira. O retrovírus maduro deixa a célula hospedeira, adquirindo um envelope com espículas de superfície durante o brotamento. DNA de um dos cromossomos da célula hospedeira Vírus Célula hospedeira 1 2 3 4 5 6 7 Fonte: Tortora, Funke e Case, (2017, p. 418). Descrição da Imagem: ilustração em forma de esquema. O ciclo inicia na parte superior da imagem com uma célula hospedeira, representada por uma estrutura circular contendo em seu interior um núcleo também circular e o seu DNA em forma helicoidal, sendo invadida por um vírus redondo que contém envelope, capsídeo em formato icosaédrico, duas fitas idênticas de RNA positivas e transcriptase reversa em seu interior, seguido de uma seta circular direcionada na diagonal à direita. No início da seta, está escrito “1 – o retrovírus penetra por fusão entre as espículas de superfície e os receptores celulares”, e ao lado, no final da seta, está escrito “2 – o processo de desnudamento libera o genoma RNA e as enzimas virais transcriptase reversa, integrase e protease”. Localizada no final dessa seta, temos a imagem de uma célula 68 eucarionte hospedeira desenhada, mostrando, em seu citoplasma, o RNA e a transcriptase reversa sintetizando DNA viral de fita dupla através da enzima transcriptase reversa. Ao lado da imagem, está escrito “3 – a fita dupla de DNA é sintetizada pela transcriptase reversa a partir do RNA viral”. Novamente, uma seta sai da imagem, na diagonal inferior, e ao final da seta há uma imagem da célula contendo DNA fita dupla viral integrado ao DNA celular, dentro do núcleo da célula hospedeira. Ao lado dessa imagem, está escrito “4 – o novo DNA viral é transportado para o núcleo da célula hospedeira, onde, pela ação da integrase viral, se integra ao DNA celular como um provírus. O provírus pode ser replicado sempre que a célula hospedeira se replicar”. Aparece, então, nova seta direcionada para a esquerda que termina na imagem da célula hospedeira contendo, em seu citoplasma, duas fitas idênticas de RNA viral e proteínas virais, além do DNA viral integrada do DNA celular no núcleo. Ao lado da última seta está escrito “5 – pode ocorrer também a transcrição do provírus, produzindo RNA para novos genomas dos retrovírus e o RNA que codifica proteínas do envelope, do capsídeo e as proteínas virais. Temos uma nova seta, em diagonal superior à esquerda, indicando a imagem da célula hospedeira contendo duas fitas idênticas de RNA viral e proteínas virais processadas, além do DNA viral integrada do DNA celular no núcleo. Ao lado da figura está escrito “6 – as proteínas virais são processadas pela protease viral; algumas das proteínas virais migram para a membrana citoplasmática da célula hospedeira”. Ao final da imagem, surge nova seta, dessa vez direcionada na diagonal superior à direita, demonstrando uma célula hospedeira, com o DNA viral integrado em seu DNA, dentro do núcleo, e um vírus totalmente formado, promovendo a formação de uma vesícula externa para sua saída de dentro da célula. Ao lado dessa imagem, está escrito “7 – o retrovírus maduro deixa a célula hospedeira, adquirindo um envelope com espículas de superfície durante o brotamento. Por fim, há uma última seta já direcionada à diagonal superior à direita, que termina na primeira imagem, do início dessa descrição, caracterizando, assim, a finalização do ciclo. Avanços incríveis foram feitos no desenvolvimento de trata- mentos contra o HIV nas últimas décadas, permitindo diminuir o vírus circulante a ponto de se tornar indetectáveis e sem a capacidade de transmissão. Mesmo diante desse cenário favo- rável, o Brasil permanece com o aumento no número de casos e se encontra entre os piores países das américas no combate à aids. Aperte o play e venha ouvir mais sobre o tema. DICAS A montagem do vírion é semelhante a um quebra-cabeça tridimensional entrelaçado que se arranja como uma caixa. O processo de montagem começa quando as peças necessárias são sintetizadas e a concentração de proteínas estruturais na célula é suficiente para dirigir o processo (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). As partículas virais são montadas pelo empacotamento do ácido nucleico viral no interior das proteínas do capsídeo (LEVINSON, 2011). Nos vírus envelopados, as glicoproteínas virais recém-sintetizadas e processadas são transferidas para a membrana celular pelo transportevesicular. A aquisição de um envelope ocorre após a associação do nucleocapsídeo com regiões que contém glicoproteínas virais das membranas celulares do hospedeiro, em um processo chamado brotamento (Figura 9) (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). 69 Capsídeo viral Membrana plasmática da célula hospedeira Proteína viral Brotamento Brotamento Envelope (a) Liberação por brotamento (b) Alphavirus Figura 9 – Brotamento de um vírus envelopado: (a) ilustração esquemática do processo de brotamento; (b) um vírus de anfíbios brotando das células hospedeiras Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: a figura contém duas imagens identificadas como A e B. A imagem A, localizada à esquerda, representa a liberação de um vírus por brotamento, e é subdivida em uma sequência de quatro eventos. De cima para baixo, no primeiro, existe uma fita azul, identificada como capsídeo viral, em um espaço salmão que é delimitado por uma fita mais grossa de cor amarela, identificada como membrana plasmática da célula hospedeira, que contém algumas bolinhas azuis, que são proteínas virais. No segundo evento, o capsídeo viral encosta na membrana plasmática formando o início de uma vesícula externa, circundando o vírus, que está identificada como brotamento. No terceiro evento, essa vesícula se torna maior e quase inteiramente formada, mas ainda está conectada à membrana citoplasmática. Em seguida, aparece a vesícula para fora da célula e desconectada da membrana plasmática e identificada como envelope. A imagem B, à direita, é a micrografia de um vírus anfíbio brotando de uma célula hospedeira. A foto apresenta a membrana externa de uma célula em sua parte superior, contendo três vesículas em sua parte externa representando o processo de brotamento da direita para a esquerda. É possível ver a progressão da externalização dessas vesículas. A disseminação da infecção ocorre quando o vírus é liberado para o meio extracelular, mas, alternativamente, o vírus, o nucleocapsídeo ou o genoma podem ser transmitidos através das pontes célula-célula, em fusão célula-célula ou verticalmente para as células-filhas (LEVINSON, 2011). Os vírus podem ser liberados das células após a lise celular, por exocitose ou pelo brotamento da membrana plasmática. Os vírus de capsídeo descoberto são geralmente liberados depois da lise celular. A liberação de muitos vírus envelopados ocorre após o brotamento da membrana plasmática, sem matar a célula. A sobrevivência da célula permite a produção e a liberação contínua de vírus a partir dessa fábrica (BROOKS et al., 2014; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017) 70 Finalizamos este tema de aprendizagem, no qual estudamos várias características dos vírus, esses seres tão misteriosos. Nesse contexto, você conheceu as principais estruturas, morfologia e crescimento desses microrganismos. Esperamos que você tenha ficado curioso para se aprofundar no estudo desses seres tão complexos! Título: A gripe Ano: 2013 Sinopse: o filme acontece na cidade de Bundang, na Coreia do Sul, onde se inicia uma epidemia após um imigrante chegar à cidade contaminado por um vírus mutante da gripe aviária. Pouco tempo depois, o cená- rio de caos se inicia, entrando em destaque a atuação governamental para conter a doença. Além de mais uma vez retratar um contexto de pandemia, é possível refletir sobre as dificuldades de se alcançar a cura e o controle da doença em meio ao caos. Tal qual a pande- mia do coronavírus, é essencial que os líderes dos Es- tados se articulem bem para conter o avanço do vírus. DICAS Agora que finalizamos, vamos verificar os principais itens que discutimos nesta unidade e de que forma se relacionam. Para isso, propomos a criação de um mapa mental/diagrama, que identifique os principais conceitos, tópicos, formulações e demais itens discutidos na unidade. Para ajudá-lo, você pode colocar como termo central a palavra “Vírus”. Após isso, especifique as classificações, o material genético, a replicação (tipos e fases), e assim por diante. Você pode utilizar o mapa mental da Unidade 1 como base para a construção desta atividade. Existem diversas ferramentas que podem ser utilizadas para criar mapas mentais e diagramas similares. Uma delas é a ferramenta gratuita: https://www. goconqr.com/. Também recomendo a ferramenta: https://app.diagrams.net/. https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/66-vacina-contra-coronavirus 71 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • O vírus é um microrganismo intracelular obrigatório, que desencadeia vários processos imunológicos no organismo humano, um microbiologista poderá atuar em seu diagnóstico, na pesquisa de novos tratamentos, na produção de vacinas contra doenças virais e na descoberta de novos vírus. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento dos vírus é fundamental. • As estruturas e os tipos de replicação viral nos ajudam a entender por que alguns vírus causam doenças, por que é tão difícil tratá-los e por que alguns simplesmente não têm cura. • Quando nos aprofundamos no conhecimento da virologia, podemos utilizar as estruturas virais a nosso favor, como na produção de vacinas. 72 AUTOATIVIDADE 1 Os vírus são totalmente dependentes da célula do hospedeiro para se replicarem e perpetuarem a sua espécie. Considerando as características do processo de replicação viral, analise as afirmativas a seguir e assinale V para Verdadeiro ou F para Falso: ( ) Cada ciclo do processo de replicação viral ocorre em uma única fase, a qual é dependente de várias proteínas específicas, localizadas no capsídeo viral. ( ) O vírus se fixa na célula do hospedeiro, adentrando por sua membrana plasmática, e libera o seu genoma num processo chamado desenovelamento. ( ) Na fase tardia, o vírus produz as suas moléculas e replica o seu genoma, seguido pelo período de eclipse, que resulta na formação, no aparecimento e na montagem dos vírions. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V, V, F. b) ( ) F, F, V. c) ( ) V, F, V. d) ( ) F, F, F. e) ( ) V, V, V. 2 Seu projeto de pesquisa envolve o estudo de vírus que causam infecções do trato respiratório inferior. Você isolou um vírus a partir da garganta de um paciente e verificou que o genoma consiste em RNA e se trata de um vírus envelopado. Além disso, você verifica que o genoma é RNA fita simples positivo dependente de DNA polimerase viral no interior da célula infectada. Descreva como ocorrerá a replicação deste vírus dentro da célula hospedeira. 3 Em abril de 2009, um surto causado pelo vírus da gripe A (H1N1) matou mais de 100 pessoas no México, e pensava-se existirem mais de 1.500 indivíduos infectados em todo o mundo em 26 de abril de 2009. O Center for Disease Control and Prevention (CDC) nos Estados Unidos avisou que era possível que esse surto desse origem a uma pandemia. No balanço oficial da OMS divulgado no começo da manhã de 8 de maio de 2009, que não inclui o aumento de casos na Europa, América do Norte, América Central e América do Sul, o número de contaminados era de 2.384, com 42 mortes. Ao analisarem mais a fundo esse vírus, biomédicos do CDC constaram que se travam de um subtipo de Influenza vírus A, que se originou por mutação de várias estirpes, incluindo a da gripe espanhola (atualmente extinta), estirpes moderadas de gripe humana e estirpes endêmicas em aves. Eles descobriram também que esse vírus possui RNA de fita sensonegativa como genoma. Explique como ocorre a replicação desse vírus dentro da célula hospedeira. 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São Paulo: Atheneu, 2015. 75 MICRORGANISMOS, RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA E RII UNIDADE 2 — PLANO DE ESTUDOS A cada tópico desta unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO E DE ESTERILIZAÇÃO FRENTE AOS MICRORGANISMOS TÓPICO 2 – RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA TÓPICO 3 – RESPOSTA IMUNE INATA (RII) Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 76 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 77 TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO E DE ESTERILIZAÇÃO FRENTE AOS MICRORGANISMOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, abordaremos assuntos relacionados ao controle do crescimento microbiológico, ou seja, de desinfecção e de esterilização, e você será apresentado a métodos de diagnóstico de bactérias. O conhecimento adquirido será de fundamental importância para sua inserção na microbiologia clínica. Você já comeu charque ou carne de sol? Já pensou que o sal nos alimentos não seja somente para temperar? E a utilização de alvejantes na limpeza de casa, qual é a sua função? Desde a antiguidade, os egípcios secavam alimentos perecíveis para preservá- los. A utilização do calor no processo de conservação do alimento iniciou 50 anos antes do trabalho de Pasteur explicar por que o aquecimento impedia a deterioração dos alimentos. Hoje, utilizamos métodos de controle de microrganismos em nossa rotina sem ao menos perceber o que fazemos. O leite em pó que compramos no mercado tem durabilidade bem maior do que o leite pasteurizado, que, por sua vez, tem validade superior ao leite tirado direto da ordenha da vaca. Sabe por que isso acontece? Porque na mesma substância, o leite, são empregados métodos diferentes de desinfecção. Com o número diminuído de microrganismos no alimento, ele tende a durar mais. Entendendo que existe essa diferença e que ela irá impactar onde for aplicada, vamos nos aprofundar no conteúdo? Em algumas ocasiões, é difícil encontrar um lugar para fazermos a lavagem das mãos adequadamente. Nessas horas, torna-se necessária a utilização de produtos que afirmam ter a capacidade de limpar as mãos utilizando apenas uma pequena quantidade, em vez do antiquado método do sabão e água. Outras vezes, uma pia com água e sabão está facilmente disponível, mas não lavamos as mãos de forma eficiente, pela segurança em passar os produtos já mencionados após a lavagem das mãos. Será que realmente estamos higienizando nossas mãos de forma adequada? A seguir, propomos uma atividade para que possa responder a essa pergunta. 78 Faça um meio de cultura e despeje em quatro tampas de margarina limpas e aguarde solidificar em geladeira. Quando já estiver pronto, comece a experimentação. Inicialmente, passe um cotonete limpo entre os dedos e na palma da mão, sem higienizá-las, e esfregue o cotonete levemente sobre um meio de cultura para contaminá-lo. Envolva a tampa de margarina com filme plástico, marque que se trata de seu experimento zero e leve à geladeira. Após a execução da cultura de suas mãos não higienizadas, lave as mãos com água e sabão conforme faz de costume e repita os passos com o cotonete nos mesmos locais para semeadura em meio de cultura. Essa tampa de margarina deverá ser identificada como experimento 1, e deve ser levada à geladeira. Em seguida, passe álcool 70% em gel nas mãos, espere secar completamente, e faça os mesmos procedimentos, sendo este seu experimento 2. Aguarde em torno de um hora sem lavar as mãos, aplique e repita a operação do experimento 2 (passe álcool 70% em gel nas mãos, espere secar completamente,passe o cotonete entre os dedos e na palma da mão e esfregue no meio do cultura). Este é seu experimento 3. Não se esqueça que as tampas de margarina devem ir à geladeira imediatamente após os procedimentos. Observe as mudanças na aparência dos meios de cultura a cada três dias. Utilize o diário de bordo para anotar suas observações. Quais alterações você notou que ocorreram nos meios de cultura? Ocorreu crescimento de colônias em todos os meios? Após o experimento, você acha que somente passar álcool nas mãos é suficiente? Após realizar o experimento e analisar as alterações que o crescimento dos microrganismos causou em seus meios de culturas, provavelmente você perceberá que tanto a água e o sabão quanto o álcool em gel são importantes para a higienização das mãos. No entanto, lavar bem as mãos com água e sabão continua sendo a medida mais eficiente. O álcool em gel é um aliado para momentos em que não é possível lavar as mãos fora de casa, por exemplo. Mesmo que pareça um procedimento simples e habitual, a boa lavagem das mãos requer alguns cuidados para que se torne 100% eficaz. O ritual completo deve durar de 40 a 60 segundos e seguir o passo a passo recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2022), conforme mostrado no QR Code: DICAS Todos os dias, milhares e milhares de seres vivos estão expostos ao contato ou, até mesmo, às contaminações e infecções leves ou complexas devido à presença dos microrganismos. Para que essa “convivência” seja possível, o avanço da ciência e da tecnologia possibilitou o desenvolvimento de métodos de esterilização, desinfecção e antissepsia. Esses métodos são de fundamental importância para diversos serviços, entre eles, os de natureza alimentícia, laboratorial, farmacêutica, industrial, médica, odontológica e veterinária. 79 Se você pensar, por um instante, nossos ancestrais já desenvolviam essas técnicas de descontaminação, pois utilizavam aquecimento, sal e alguns tipos de derivados dos metais para o tratamento e a cicatrização de feridas, como uma forma de “remover” os agentes infectantes “invisíveis”. Vários métodos físicos e químicos podem ser utilizados na linha de frente contra os microrganismos, atuando como agentes antissépticos, desinfetantes e esterilizantes, em diferentes ambientes sólidos ou líquidos e em superfícies com áreas demarcadas. Para que você possa entender melhor os processos que serão detalhados, faremos a conceituação e diferenciação de alguns termos importantes no processo de controle do crescimento dos microrganismos (BLACK, 2020): • Esterilização: refere-se ao processo em que ocorre a morte ou remoção de todos os microrganismos em um material ou objeto, até mesmo os mais resistentes, ou seja, quando falamos que algo está estéril, significa dizer que não tem nenhum microrganismo no material ou objeto. Por isso, não existem graus de esterilidade. • Desinfecção: é a redução do número de organismos patogênicos em objetos ou materiais, de modo que estes não representem ameaça de doença. Resumindo, ainda existem microrganismos, mas em baixa e controlada quantidade. Portanto, os processos de desinfecção podem ser classificados como de nível elevado, intermediário e baixo. • Desinfecção de alto nível: atua contra grande parte dos patógenos, porém temos uma exceção: os esporos bacterianos, que são considerados estruturas resistentes contra desinfecção e esterilização. • Desinfecção de nível intermediário: atua contra bactérias vegetativas, micobactérias e inúmeros fungos e vírus. Também temos uma exceção: não atuam contra esporos bacterianos e fúngicos. • Desinfecção de baixo nível: atua contra muitas bactérias, vírus envelopados e inúmeros fungos, porém não são efetivos no controle de micobactérias e esporos fúngicos. • Antissépticos X desinfetantes: ambos os termos se referem a agentes químicos utilizados em um processo de desinfecção. Entretanto, os agentes desinfetantes são normalmente aplicados a objetos inanimados, enquanto os agentes antissépticos são aplicados a tecidos vivos. • Antissepsia X assepsia: antissepsia é um processo que visa destruir ou inibir microrganismos em tecidos vivos, por exemplo, a utilização de algum produto para a aplicação na sua pele. Em contrapartida, o processo de assepsia consiste na aplicação de materiais que serão utilizados em ambientes específicos, ou seja, no suprimento de ar aplicado em equipamentos e materiais, eliminando, de maneira controlada, os microrganismos. • Biofilme: é a associação de uma comunidade de microrganismos vivendo em uma mesma superfície, podendo ser de microrganismos da mesma espécie ou de espécies diferentes. Esses organismos secretam uma matriz extracelular que leva a maior resistência aos agentes antimicrobianos. 80 • Antimicrobiano: é um processo ou produto que elimina, de maneira efetiva, os microrganismos. Os antimicrobianos podem ser encontrados na forma de agentes físicos ou químicos, eles combatem bactérias e outros microrganismos causadores de doenças. Acadêmico, considerando esses termos novos, devemos, ainda, distinguir duas novas categorias para facilitar a sua integração de conteúdo. • Agente que apresenta, em sua nomenclatura, o sufixo “cida”: indica atividade letal contra um grupo de microrganismos, ou seja, promove uma esterilização. Exemplo: antimicrobicida, fungicida, praguicida. • Agente que apresenta, em sua nomenclatura, o sufixo “estático”: indica que ele é capaz de inibir o crescimento de um grupo de microrganismos, por exemplo, um agente bacteriostático indica inibição do crescimento bacteriano, enquanto um agente fungistático inibe o crescimento de fungos. É possível esterilizarmos nossa pele com a utilização de agentes químicos, como, por exemplo, o álcool 70° ou um sabão antibacteriano? PERGUNTA A resposta é não! A microbiota de nossas mãos é composta por microrganismos “bons”, chamados de microbiota bacteriana residente, e de microrganismos transitórios, que podem transmitir doenças. Quando higienizamos as mãos, podemos matar os dois tipos de microrganismos, mas os residentes vivem em camadas mais internas da pele e, em questão de minutos, são restabelecidos (HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS, 2017). A única forma de esterilizar nossa pele é queimando-a (BLACK, 2020). Conforme já estudamos, tanto o crescimento quanto a morte natural dos microrganismos ocorrem de forma exponencial, ou seja, em taxas logarítmicas. A taxa de mortalidade dos organismos tratados com agentes antimicrobianos obedece a essa mesma regra. Para melhor entendimento, vamos imaginar essa situação: quando aplicamos um agente biocida em material, a taxa de mortalidade dos organismos presentes no interior ou na superfície desse material continua sendo exponencial, porém é acentuadamente acelerada. Se 15% dos microrganismos morrem no primeiro minuto, 15% dos que permanecem vivos morrerão no segundo minuto, e assim por 81 diante. Se, em uma concentração diferente, 25% morrem no primeiro minuto, outros 25% morrerão no segundo minuto, e assim por diante. Dessa forma, podemos afirmar que uma proporção definida dos organismos morre em determinado intervalo de tempo (BLACK, 2020). É indicado que seja feita a remoção de sujidade dos materiais antes do início do processo de desinfecção/esterilização. O número total de organismos presentes no início da desinfecção afeta o tempo necessário para eliminá-los, ou seja, quanto menor o número de organismos presentes, menor o tempo necessário para obter a esterilização. Além disso, os microrganismos diferem na sua sensibilidade aos agentes antimicrobianos (BLACK, 2020). Para exemplificarmos os principais agentes esterilizantes/desinfetantes, temos que ter em mente que eles podem ser físicos ou químicos, ou uma combinação de ambos, com atividade antimicrobicida/antimicrostática, considerando condições controladas (MCDONNELL, 2020). Alguns exemplos de agentes físicos incluem calor ou luz ultravioleta(UV), já a utilização de álcool, aldeídos e fenóis configura exemplos de agentes químicos. Existem alguns padrões de qualidade que devem ser ofertados por um agente biocida que tenha efetividade, entre eles (BLACK, 2020): • Atividade contra um grande número (ou número total) de microrganismos. • Ação rápida. • Estabilidade. • Oferecer pouca ou nenhuma carcinogenicidade (potencial de causar câncer), irritação, mutagenicidade (capacidade de promover mutações genéticas) ou toxicidade. • Segurança para uso. • Ser compatível para uso e não oferecer danos. • Ser eficaz na presença de contaminantes de natureza orgânica e inorgânica. • Ser seguro para o ambiente. Os agentes químicos variam significativamente quanto à capacidade de matar os microrganismos, e essa capacidade é afetada pelo tempo, temperatura, pH e concentração. Para que você possa entender essa influência, um aumento de 10° C chega a duplicar a taxa de mortalidade dos microrganismos expostos a um agente químico. Além disso, um pH ácido ou alcalino pode aumentar ou diminuir a potência do agente. Por fim, a concentração influencia diretamente nos efeitos da maioria dos agentes antimicrobianos químicos, sendo que em altas concentrações o agente químico pode ser bactericida, enquanto em concentrações mais baixas, pode ser bacteriostático (BLACK, 2020). A exceção a essa regra se dá aos álcoois, que são mais potentes a 70% do que em concentrações mais altas, pois é necessária a presença de um pouco de água para que os álcoois atuem como desinfetantes, fazendo a desnaturação das proteínas dos microrganismos, e para penetrar mais profundamente na maioria dos materiais. 82 Os agentes químicos matam os microrganismos por meio de sua participação em uma ou mais reações químicas que provocam dano aos componentes celulares. De forma geral, eles atuam principalmente por um desses três mecanismos: ruptura da membrana celular contendo lipídios, modificação de proteínas ou modificação do DNA. Cada um dos agentes é classificado em uma das três categorias, embora alguns dos compostos químicos atuem por mais de um mecanismo (LEVINSON, 2011). A modificação da estrutura proteica é denominada desnaturação, na qual ocorre a destruição do formato funcional da molécula de proteína, impedindo que ela possa exercer suas funções normais. Essa desnaturação pode ser temporária ou permanente, dependendo da concentração, temperatura e tempo em que os microrganismos ficam expostos aos agentes antimicrobianos (Figura 1). Em geral, a desnaturação é bactericida quando altera permanentemente a proteína e é bacteriostática quando altera temporariamente a proteína (BLACK, 2020). Sem recon�guração desnaturação permanete Recon�guração desnaturação temporária Proteína ativa Proteína inativa Proteína ativa Proteína inativa Sem recon�guração desnaturação permanete Recon�guração desnaturação temporária Proteína ativa Proteína inativa Proteína ativa Proteína inativa Figura 1 – Representação da desnaturação de proteínas permanente e temporária Fonte: adaptada de Black (2020). Descrição da Imagem: ilustração que apresenta duas estruturas representando proteínas. Na parte superior da imagem, há um cilindro enovelado, com a escrita “proteína ativa”. Uma seta aponta para o lado direito desse mesmo cilindro já em conformação mais linear. Abaixo desse cilindro está escrito “proteína inativa”. Uma seta direciona o cilindro para os dizeres “Sem reconfiguração; desnaturação permanente”, do lado direito. Abaixo, há a mesma sequência, um cilindro enovelado, com a escrita “proteína ativa”, seguido de uma seta que aponta para o lado direito desse mesmo cilindro, já em conformação mais linear. Abaixo desse cilindro, está escrito “proteína inativa”. Outra seta direciona o cilindro para uma imagem de um cilindro enovelado novamente. Abaixo, está escrito “Reconfiguração; desnaturação temporária”. 83 A ruptura da membrana celular contendo lipídios ocorre devido à utilização de agentes surfactantes, ou seja, que dissolvem lipídios, como os sabões e os detergentes que rompem as partículas de gordura na água de lavar pratos. Como as membranas também são constituídas de proteínas, alguns antimicrobianos podem atuam na desnaturação de proteínas e na ruptura da membrana por ação nos lipídios. Outros componentes celulares afetados pelos agentes químicos incluem a modificação do DNA e dos sistemas produtores de energia do organismo, levando a sua morte (BLACK, 2020). O Quadro 1 analisa, brevemente, os mecanismos pelos quais os esterilizantes, desinfetantes e antissépticos mais comuns atuam e a sua utilização. Agentes Ações Utilização Sabões e detergentes Remoção de microrganismos, substâncias oleosas e sujeira; redução da tensão superficial, tornam os microrganismos acessíveis a outros agentes. Lavagem das mãos, lavagem de roupas, sanitização da cozinha e equipamentos da indústria de laticínios. Surfactantes Dissolvem os lipídios, rompem as membranas, provocam desnaturação das proteínas e, em altas concentrações, inativam as enzimas. Utilizados para sanitizar utensílios; para a lavagem de roupas e limpeza de objetos caseiros; algumas vezes usados como antissépticos na pele. Ácidos Reduzem o pH e provocam desnaturação das proteínas. Conservantes alimentares. Álcalis Aumentam o pH e provocam desnaturação das proteínas. Encontrados em sabões. Metais pesados Provocam desnaturação das Proteínas. O nitrato de prata é utilizado na prevenção de infecções gonocócicas, os compostos de mercúrio são usados para desinfetar a pele e os objetos inanimados, o cobre, para inibir o crescimento de algas, e o selênio, para inibir o crescimento de fungos. Halogênios (cloro e iodo) Oxidam os componentes celulares na ausência de matéria orgânica. O cloro é utilizado para matar patógenos na água e para desinfetar utensílios; os com- postos de iodo são utilizados como antissépticos para a pele. Quadro 1 – Propriedades dos agentes antimicrobianos químicos 84 Agentes Ações Utilização Álcoois Provocam desnaturação das proteínas quando misturados com água. O álcool isopropílico é utili- zado para desinfetar a pele; o etilenoglicol e o propileno glicol podem ser utilizados em aerossóis. Fenóis Rompem as membranas, provocam desnaturação das proteínas e inativam as en- zimas; não são prejudicados por matéria orgânica. O fenol é utilizado para de- sinfetar superfícies e des- truir culturas descartadas; o amilfenol destrói organismos vegetativos e inativa os vírus na pele e em objetos inanimados; o gliconato de clorexidina é particularmente efetivo para limpeza cirúrgica. Agentes oxidantes (H2O2, permanganato de potássio ) Rompem as ligações dissulfeto. O peróxido de hidrogênio é utilizado para limpar feridas por punção, e o permangana- to de potássio, para desinfe- tar instrumentos. Agentes alquilantes (formaldeído, glutaraldeído) Rompem a estrutura das pro- teínas e dos ácidos nucleicos. O formaldeído é utilizado para inativar vírus sem destruir as propriedades antigênicas, o glutaraldeído, para esterilizar equipamentos, a betapropiolac- tona, para destruir os vírus da hepatite, e o óxido de etileno, para esterilizar objetos inanima- dos que podem ser danificados por altas temperaturas. Corantes Podem interferir na replica- ção ou bloquear a síntese da parede celular A acridina é utilizada na limpeza de feridas, e o cristal violeta, no tratamento de algumas infecções por proto- zoários e fungos. Fonte: adaptado de Black (2020). É possível mantermos nossas casas seguras dos microrganismos de forma acessível financeiramente? Sim, podemos fazer um esterilizante barato para ser utilizado na limpeza rotineira de toda a casa. Essa fórmula mata até os esporos mais antigos e resistentes das bactérias. Os ingredientes são facilmente encontrados nas residências. Vamos lá? IMPORTANTE 85 Para a produção desse esterilizante, serão utilizados: • 4 litros deágua • 1 xícara de alvejante • 1 xícara de vinagre Misture tudo em local bem ventilado e utilize-o dentro de um prazo de 8 horas. Aplique a solução, deixe agir por 20 minutos e, em seguida, enxague para remover o cloro (BLACK, 2020). Métodos físicos de controle do crescimento microbiano têm sido utilizados durante séculos para a conservação de alimentos, para promover a descontaminação microbiana, desinfecção e esterilização. O calor, o frio, a radiação e a filtração são capazes de destruir ou remover os microrganismos. Provavelmente, o método de controle do crescimento microbiano mais difundido e preferencialmente utilizado consiste no uso do calor. Fatores que interferem na suscetibilidade dos microrganismos ao calor incluem a temperatura e a duração do tratamento térmico, assim como o tipo de calor empregado (MADIGAN et al., 2016; BLACK, 2020). O calor constitui o agente preferido de esterilização para todos os materiais que não são danificados com o aquecimento, por ser eficaz, barato e prático. Todos os microrganismos apresentam uma temperatura máxima de crescimento, acima da qual o crescimento é impossível, geralmente porque provoca a desnaturação de proteínas, embora danos à membrana e clivagem enzimática do DNA também possam estar envolvidos. A energia térmica pode ser aplicada de três maneiras: calor úmido (por fervura ou autoclavagem), calor seco ou por pasteurização (LEVINSON, 2011; TRABULSI- ALTERTHUM, 2015; MADIGAN et al., 2016; BLACK, 2020). O calor úmido, principalmente a autoclavagem, é uma forma muito eficaz de esterilização e promove a esterilização a uma temperatura mais baixa que o calor seco, destruindo, inclusive, as formas mais resistentes dos microrganismos: os esporos. Nesse processo, os organismos são expostos a temperaturas mais altas que o ponto de ebulição da água (121° C), utilizando o aumento da pressão. Com esse objetivo, utiliza-se uma autoclave (Figura 2), que funciona como uma grande panela de pressão, onde os microrganismos devem permanecer em fervura por 15 a 20 minutos para sua eficácia. Esse método é empregado para esterilizar meios de cultura, instrumentos cirúrgicos, seringas de vidro, soluções e numerosos outros materiais que suportam altas temperaturas e pressões (LEVINSON, 2011; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; MADIGAN et al., 2016; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). A esterilização por calor seco, ao contrário, requer temperaturas mais altas para ser eficaz. A forma mais simples e utilizada deste tipo de esterilização é a flambagem, empregada rotineiramente em laboratório para esterilizar as alças de platina. Outra forma de esterilização empregando calor seco é feita em fornos e requer temperatura na faixa de 171 °C durante uma hora, a 160° C por duas horas ou mais ou a 121° C por 16 86 horas ou mais, dependendo do volume. Esse processo é utilizado principalmente para vidraria, sendo utilizado com menor frequência que a autoclavagem, pois penetra nas substâncias mais lentamente do que o calor úmido (vapor) (LEVINSON, 2011; TRABULSI- ALTERTHUM, 2015; BLACK, 2020). A pasteurização, muito utilizada para controle de microrganismos em laticínios, consiste em aquecer o produto a uma dada temperatura, num dado tempo e, a seguir, resfriar bruscamente. Até alguns anos atrás, o leite era aquecido a 62 ºC por um período de 30 minutos, seguido por rápido resfriamento. Hoje já é muito utilizada a pasteurização rápida, ou seja, o aquecimento a 72 ºC por 15 segundos, seguida do resfriamento. Isso é suficiente para matar as células vegetativas de patógenos transmitidos por esse alimento, por exemplo, Mycobacterium bovis, Salmonella, Streptococcus, Listeria e Brucella, mas não o esteriliza (LEVINSON, 2011; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). A temperatura baixa, ou seja, o frio, retarda o crescimento, mas não mata muitos microrganismos. A refrigeração é utilizada para impedir a deterioração dos alimentos, visto que é possível mantê-los frescos por mais tempo se armazená-los a 5 ºC, pois diminui a taxa metabólica dos microrganismos. Entretanto, em poucos dias, o alimento sob refrigeração poderá conter quantidade de bactérias e bolores suficientes para seu apodrecimento. O congelamento, a dessecação e a criodessecação (liofilização) são utilizados para conservar os alimentos, porém esses métodos não produzem esterilização (BLACK, 2020). O congelamento a -20° C diminui significativamente a velocidade das reações químicas microbianas, retardando seu crescimento. Não é recomendado que seja realizado o descongelamento e recongelamento, pois nesse processo os microrganismos podem se multiplicar e o alimento carregar maior carga microbiana em cada congelamento, tornando mais rápida sua deterioração. Na dessecação, ocorre a retirada de água livre dos alimentos. Na falta total de água, os microrganismos não são capazes de crescer devido à inibição da ação de suas enzimas, embora possam permanecer viáveis por vários anos. A criodessecação, ou liofilização, é a dessecação de um material no estado congelado. Esse processo é utilizado na fabricação de alguns alimentos (em pó) e na preservação a longo prazo de culturas de microrganismos. Quando a água é novamente reposta, os microrganismos readquirem a capacidade de crescimento (TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; BLACK, 2020). Além dos métodos citados, a radiação é outro fator físico utilizado para o controle de crescimento dos germes. As radiações têm seus efeitos dependentes do comprimento de onda, da intensidade, da duração e da distância da fonte. Há, principalmente, dois tipos de radiação utilizados para matar os microrganismos, a luz ultravioleta (UV), radiação ionizante (raio-x) e a radiação por micro-ondas. O dano mais importante causado pela irradiação UV ocorre no DNA e resulta na inibição de sua replicação, tornando o organismo incapaz de crescer. Como a luz UV pode causar danos à córnea e à pele, ela é mais restritamente utilizada em ambientes hospitalares para matar organismos transmitidos pelo ar, especialmente em salas cirúrgicas que não se encontram em uso e em capelas de fluxo laminar (LEVINSON, 2011; BLACK, 2020). 87 A radiação ionizante causa danos ao DNA e produz agentes oxidantes nas células. É utilizada para esterilizar equipamentos plásticos de laboratório, equipamentos médicos e produtos farmacêuticos. A radiação por micro-ondas vem sendo cada vez mais usada em laboratórios, ela não afeta diretamente os microrganismos, mas gera o calor que é responsável pela morte dos micróbios (LEVINSON, 2011; BLACK, 2020). Título: Desinfecção e esterilização Autor: Sérgio Luiz Nogaroto, Thereza Christina Vessoni Penna Editora: Atheneu Sinopse: tem como base o problema da infecção hos- pitalar que a cada dia exige as mais rigorosas e as mais renovadas medidas de controle. Elaborado por uma equipe multiprofissional, num louvável e conjugado es- forço de experiências da universidade, da indústria e do hospital, é um livro de grande utilidade no controle de infecção hospitalar, e que, sem sombra de dúvidas, será texto de consulta obrigatória a todos os ligados ao trinô- mio infecção-desinfecção-esterilização. DICAS Acadêmico, ao longo de toda a nossa discussão acerca do desenvolvimento, da nutrição, reprodução dos microrganismos (Unidade 1) e do controle de seu crescimento, você deve ter se perguntado como é possível verificar a presença, classificar e identificar esses micróbios, invisíveis a olho nu. Isso mesmo, é muito complexo imaginar um possível “agrupamento” deles, levando em consideração vários aspectos. Usualmente, técnicas laboratoriais fornecem todo o aparato necessário para o crescimento e a identificação dos microrganismos, utilizando, normalmente, menor número de processos e testes. O fato de os microrganismos serem procariotos, como discutido anteriormente, facilita os processos de identificação morfológica, considerando a forma e o tamanho desses organismos. Outro aspecto importante que auxiliará na identificação desses organismosestá ligado às necessidades metabólicas, especialmente as dos procariotos. Discutiremos, a seguir, métodos de identificação e a importância e/ou função deles com relação à classificação e à identificação dos microrganismos. O diagnóstico laboratorial de doenças infecciosas envolve duas vertentes principais: a bacteriológica, na qual o organismo é identificado de forma direta por meio de técnicas de coloração e cultivo; e a imunológica (sorológica), na qual o organismo é identificado por meio da presença de anticorpos contra o organismo no soro do paciente. O diagnóstico bacteriológico parte de três abordagens: observação do organismo ao microscópio após coloração; obtenção de uma cultura pura do organismo; identificação do organismo por intermédio de reações bioquímicas, crescimento em meios seletivos ou reações com anticorpos específicos (LEVINSON, 2011). 88 O método baseado em características morfológicas se fundamenta em aspectos anatômicos, celulares, estruturais e morfológicos para classificar, taxonomicamente, os microrganismos, inclusive, levando em consideração as análises e caracterizações das proteínas (CARBONNELLE et al., 2011). O método de coloração diferencial é usualmente utilizado para a detecção inicial e a identificação preliminar ou definitiva de microrganismos, levando em consideração os componentes químicos encontrados em suas paredes, por exemplo, bactérias ácido-resistentes, Gram-negativas ou Gram- positivas. A limitação ocorre porque essa técnica não pode ser utilizada para identificar bactérias sem parede celular ou bactérias com paredes incomuns (COICO, 2006; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; DHAWI, 2019). O crescimento de bactérias no laboratório exige um conhecimento de suas necessidades nutricionais, bem como a capacidade de fornecer as substâncias necessárias ao meio de cultura (BLACK, 2020). Detendo esses conhecimentos, é preparado um material nutriente para o crescimento de microrganismos, chamado de meio de cultura, para a realização do isolamento do microrganismo. Um meio deve fornecer uma fonte de energia, assim como fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo e quaisquer outros fatores orgânicos de crescimento que o organismo seja incapaz de sintetizar. Cada espécie microbiana possui necessidades específicas, entretanto algumas podem crescer bem em qualquer meio de cultura, outras requerem meios especiais, e outras não podem crescer em qualquer dos meios não vivos até agora desenvolvidos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Os meios de cultura podem ser classificados de acordo com sua composição e sua consistência. Em geral, são meios sintéticos, ou seja, é um meio preparado no laboratório a partir de materiais de composição precisa ou razoavelmente bem definida. Um meio complexo é um meio quimicamente não definido. Tanto o caldo nutriente líquido quanto o meio de ágar solidificado usados para a cultura de muitos organismos constituem meios complexos. Meios enriquecidos não seletivos são projetados para permitir o crescimento da maioria dos organismos que não necessitam de requerimento nutricional adicional. Os meios seletivos contêm compostos que permitem o cultivo seletivo de determinadas bactérias, e os meios diferenciais contêm outros compostos que permitem a diferenciação entre um tipo de bactéria e outro, com base em alguma reação bioquímica (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Para a obtenção de culturas puras, ou seja, compostas de uma única espécie microbiana, é necessária a escolha de uma técnica de semeadura ideal para a amostra clínica analisada. O método de esgotamento, que utiliza placas de ágar, constitui a maneira mais aceita de preparar culturas puras. Baseia-se em coletar as bactérias com uma alça metálica estéril e mover levemente a alça ao longo da superfície do ágar, depositando as bactérias em estrias na superfície. A alça de inoculação é flambada, e algumas bactérias são retiradas da região já depositada e espalhadas em uma nova região. Cada vez menos bactérias são transportadas à medida que continua o espalhamento, e a alça é flambada depois de cada estriamento. Os organismos individuais são depositados na última região estriada (BLACK, 2020). 89 Após o isolamento da bactéria em cultura pura, são realizados testes bioquímicos para identificação a nível de gênero/espécie. Esses testes são baseados nas atividades enzimáticas, sua função é informar qual a origem daquela bactéria (nicho que ela pertence, gênero, metabólitos produzidos e nutrientes necessários ao seu crescimento). Vale ressaltar que são utilizados os meios de cultura que podem ser seletivos, ou seja, possibilitam ou inibem o crescimento isolado ou em conjunto das bactérias, fornecendo importantes informações para o tratamento de doenças, ou, até mesmo, informações biotecnológicas para a obtenção de produtos (TINDALL et al., 2007). A sorologia abrange técnicas que utilizam o soro e as respostas imunológicas após o contato com o antígeno (nome dado às partes dos microrganismos reconhecidas como estranhas ao entrar no corpo do hospedeiro) e produzem os anticorpos (proteínas que “expulsam” os micróbios ou antígenos do corpo do hospedeiro). A função dos testes sorológicos é fornecer informações que possibilitam diferenciar, dentro de uma mesma espécie, espécies microbianas, linhagens e micróbios. O teste Elisa, sigla do inglês Enzyme-linked Immunosorbent Assay (ensaio imunoadsorvente ligado à enzima), é um exemplo de teste sorológico rápido, que é lido por um computador e, por esses motivos, amplamente utilizado. Em resumo, o Elisa apresenta a reação dos anticorpos conhecidos frente às bactérias, informando, assim, um padrão para a sua identificação. Outro exemplo de teste sorológico é o Western Blotting, que também identifica a presença de anticorpos no soro de um paciente (WINTER; HEGDE, 2020). A fagotipagem trata-se de um teste semelhante ao sorológico e busca semelhança entre os grupos bacterianos. A função desse teste é identificar os fagos ou bacteriófagos (vírus de bactérias que provocam a lise delas quando eles as infectam). Normalmente, essa técnica possibilita a investigação de surtos de doenças (WAGNER; WALDOR, 2002). A análise da composição de bases do DNA possibilita utilizar a composição das bases de organismos e verificar se existe, ou não, parentesco entre as espécies. É utilizada a composição de bases de citosina (C) e guanina (G), a qual, em uma única espécie, é fixa, ou seja, espécies diferentes apresentam distinções na composição G-C (NÜSSLEIN; TIEDJE, 1998). Por sua vez, a fingerprinting é uma técnica cujo DNA de dois microrganismos é adicionado na mesma enzima de restrição, e os fragmentos de restrição resultantes produzem fingerprint de DNA, que é uma impressão digital do DNA, possibilitando “comparar” o número e o tamanho dos fragmentos (JOHNSTON- MONJE; MEJIA, 2020). Os testes de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs) aumentam a quantidade de DNA de determinados microrganismos para que possam ser identificados via eletroforese em gel, ou seja, em testes de PCR de transcrição reversa (KRAFT et al., 2019). Há também a hibridização de ácidos nucleicos, a qual visa à separação das fitas de DNA de dois diferentes 90 microrganismos e, por meio desse processo, determina semelhanças entre pares de bases dos dois espécimes. Como exemplo, temos a técnica de southern blotting, utilizada para a identificação de espécies de microrganismos (TIMMERMANS et al., 2016). Por sua vez, os chips de DNA permitem identificar uma espécie de microrganismo no interior do seu hospedeiro ou até mesmo em um ambiente específico. O chip é formado por sondas de DNA, cujo material genético do microrganismo é marcado com corante fluorescente, possibilitando indicar informações pela emissão da fluorescência (WORKU; NEGASSU, 2020). Título: Epidemia Ano: 1995 Sinopse: Sam Daniels (Dustin Hoffman) é coronel-médico do exército americano, além de ser o chefe dodeparta- mento de pesquisas epidemiológicas. Ele investiga uma nova doença contagiosa, que mata em pouquíssimo tem- po e já dizimou um acampamento militar na África. Em vir- tude de um macaco ter sido levado de forma clandestina para os Estados Unidos, a população de uma pequena cidade americana começa a apresentar os mesmos sinto- mas da doença, porém o contágio se desencadeia muito mais rapidamente, assim o exército coloca a cidade sob quarentena. Mas quando o cientista do exército tenta aju- dar a população, é inexplicavelmente afastado do caso. DICAS Você pode se perguntar como todos esses métodos e técnicas foram criados e como esses protocolos podem ser reproduzidos. Todas essas técnicas são resultantes de anos e anos de pesquisa. Muitos pesquisadores, diariamente, apresentam novas técnicas, as aprimoram, e, junto aos seus respectivos grupos de pesquisa, elaboram padrões que devem ser validados e reproduzidos, garantindo, assim, que inúmeras doenças sejam evitadas, que pandemias sejam controladas e que insumos, produtos agrícolas, alimentícios e médicos sejam disponibilizados em todo o mundo. O mundo dos microrganismos é fantástico, não é mesmo? Eles apresentam forte habilidade de proliferação e perpetuação de espécies e, considerando o contato com células animais, o potencial de transformação e a possibilidade de mutação são muito altos. Assim, as técnicas de desinfecção, antissepsia e esterilização possibilitam o controle mais detalhado desses seres invisíveis a olho nu. Entretanto, não são só os malefícios que os microrganismos provocam, eles também trazem muitos benefícios para os seres vivos, em especial, os mamíferos. 91 No podcast, conversamos com a microbiologista dra. Luiza Rodrigues sobre os avanços no diagnóstico microbiológico no laboratório clínico. Atualmente, os laboratórios de microbiologia clínica estão passando por mudanças, com o desenvolvimento e a implantação de sistemas de automação que aceleram o diagnóstico. Esperamos que goste do conteúdo! DICAS Agora que finalizamos, vamos verificar os principais itens que discutimos nesta unidade e de que forma se relacionam. Para isso, propomos a criação de um mapa mental/diagrama que identifique os principais conceitos, tópicos, formulações e demais itens discutidos na unidade. Sugerimos que inicie reforçando a conceituação e diferenciação dos termos definidos no início desta unidade e, posteriormente, esquematize a diferenciação de agentes desinfetantes/esterilizantes químicos e físicos. Existem diversas ferramentas que podem ser utilizadas para criar mapas mentais e diagramas similares. Uma delas é a ferramenta gratuita https://www.goconqr.com/. Também recomendo a ferramenta https://app.diagrams.net/. 92 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Inúmeros aspectos relacionados ao controle do crescimento de seres invisíveis e como métodos físicos e químicos podem controlar a sua proliferação expansiva. • As técnicas que podem ser aplicadas no diagnóstico laboratorial de doenças infecciosas. • Os métodos e/ou os agentes esterilizantes/desinfetantes em nosso dia a dia, mas sua importância se intensifica quando se trata de um laboratório de microbiologia, consultórios odontológicos ou médicos, cirurgias, entre outros. • A presença de microrganismos contaminantes pode influenciar negativamente no diagnóstico de uma doença, pode causar doenças e até levar um indivíduo a óbito. • É função básica de um microbiologista entender os meios de cultura, métodos e técnicas de diagnóstico dos microrganismos. 93 AUTOATIVIDADE 1 O advento da biologia molecular contribuiu, significativamente, para a identificação dos microrganismos, utilizando, normalmente, menor número de processos e testes. Nesse sentido, destaca-se o método de coloração diferencial, utilizado para classificar e identificar as bactérias. Descreva a “limitação” que essa técnica apresenta. 2 Um produto X foi utilizado em determinada superfície de um ambulatório, com a finalidade de reduzir o número viável de microrganismos. Com base nessa situação, é possível indicar que o produto X é: a) ( ) Um produto desinfetante. b) ( ) Um produto antimicrobiano. c) ( ) Um produto asséptico. d) ( ) Um produto antisséptico. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 3 O biólogo Léon realizou um experimento utilizando a cultura de bactérias em placa de Petri. Após três dias de cultivo, em meio de cultura contendo ágar, Léon verificou a presença de biofilme bacteriano. Após a aplicação do produto Y, ele verificou que o biofilme foi extinguido e todas as bactérias morreram. Com base no texto, é possível indicar que o produto Y é: a) ( ) Um produto desinfetante. b) ( ) Um produto emulsificante. c) ( ) Um produto asséptico. d) ( ) Um produto tensoativo. e) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. RESUMO DO TÓPICO 1 94 95 RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA 1 INTRODUÇÃO Olá, estudante! Iniciaremos os estudos relacionados ao sistema imunológico e, dessa forma, poderemos integrar todos os conceitos e conhecimentos abordados no início desta disciplina, relacionando-os com a Microbiologia e com outras disciplinas afins que compuseram a sua trajetória acadêmica. Para iniciarmos os nossos estudos de Imunologia, trabalharemos, inicialmente, com as subdivisões desse sistema. Em um primeiro momento, discutiremos as três linhas de defesa do sistema imune e as moléculas e células que atuam nessas sinalizações. Conceituaremos termos novos, exemplificaremos algumas situações e trabalharemos com a resposta frente aos receptores localizados em diferentes linhagens de células. Você sabe o que é o sistema imunológico? Como ele funciona? Consegue imaginar como ele atua para eliminar os agentes agressores do nosso corpo? Você já se perguntou o que é ou ouviu falar em memória imunológica? O que são as vacinas? Nossa! São muitas questões a serem respondidas, não é? Todas essas questões estão relacionadas ao nosso sistema imunológico, também conhecido como sistema imune. Quando nascemos, saímos de um ambiente relativamente estéril, como o útero, para entrarmos em contato com um ambiente potencialmente hostil, repleto de agentes infecciosos de diversos formatos, tamanhos e composição, que podem nos adoecer. Todos os seres vivos sofrem ameaças de invasões contínuas provenientes de seu meio ambiente. Então, por que não adoecemos diariamente? Os seres humanos e outros animais têm sobrevivido durante milhares de anos na Terra porque possuem mecanismos de defesa natural contra os germes invasores. Provavelmente, você já ouviu a frase “deixa a criança brincar no chão para criar imunidade”. Essa informação é baseada no conceito de que é o contato com os microrganismos que induz o desenvolvimento e amadurecimento do nosso sistema imunológico e permite que criemos anticorpos. No entanto, o que são anticorpos e qual a ação deles em nosso organismo? Vamos ingressar agora no mundo da imunologia, e temos como meta, ao final desta unidade, que você adquira uma visão geral deste interessante sistema. Você já parou para analisar que algumas doenças infecciosas têm cura espontânea em alguns poucos dias, como uma diarreia, enquanto outras necessitam do amparo de medicação para serem resolvidas? Alguma vez você se perguntou por que pegamos algumas doenças apenas uma vez na vida e outras podemos ter várias vezes? Será que o sistema imunológico traz apenas benefícios para nós? UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 96 Proponho que você busque artigos científicos ou vídeos de fontes confiáveis na internet que expliquem os benefícios e malefícios que o sistema imunológico desempenha em nosso organismo. Tente descrever em seu Diário de Bordo os principais pontos. Deixamos um vídeo como sugestão no QR Code. DICAS Temos em nosso organismo uma rede de proteção contra patógenos, que está constantemente alerta para nos proteger e expulsar os agressores, nosso sistema imune. Apósa pesquisa realizada, pense em como nosso sistema imune nos protege de invasores, mas também como causa danos para nosso próprio organismo. Lembre- -se de listar quais aspectos podem influenciar como o sistema imune irá reagir, se de forma benéfica ou maléfica aos seres humanos. O termo imunidade é derivado do latim immunis ou immunitas, que se refere às isenções de taxas oferecidas aos senadores romanos durante seus mandatos, ou simplesmente “isento de cargas” (UNICAMP, 2016; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; SILVA, 2001). Historicamente, representa proteção a doenças, mais especificamente, doenças infecciosas. Essas doenças podem ser compreendidas como uma batalha travada entre o poder dos agentes infecciosos de invadir o corpo e causar-lhe dano e o poder desse corpo de resistir a essas invasões (BLACK, 2020). Dessa forma, a imunidade pode ser basicamente entendida como a capacidade do organismo de se defender contra a entrada e multiplicação de microrganismos (AYRES, 2017; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). No entanto, nem só de microrganismos sobrevive a imunologia. Em uma definição mais ampla, podemos concluir que se trata do reconhecimento e da eliminação de material estranho (ou “não próprio”) que entra no corpo, incluindo produtos benéficos, como transplantes de órgãos, e até substâncias totalmente inofensivas, como o pólen (PLAYFAIR; CHAIN, 2013). De forma mais aprofundada, precisamos lembrar que produtos de células próprias danificadas também são capazes de ativar a imunidade, e que os mecanismos que normalmente geram proteção por esse sistema também são capazes de causar lesão tecidual e doença em algumas situações (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Apesar de haver relatos do século V a.C. sobre imunidade, trata-se de uma ciência relativamente jovem com pouco mais de um século, se considerarmos Louis Pasteur como o “pai da imunologia”. Entretanto, se pensarmos na imunologia celular e molecular, na qual se encontram os eventos mais relevantes dessa ciência, essa história começa na década de 1950 (BEUTLER, 2004). 97 A descoberta da imunologia se deu a partir do conhecimento de que qualquer indivíduo que sobrevivesse a uma doença infecciosa raramente contrairia outra vez a mesma doença. Essa informação foi confirmada pelo pesquisador e médico Edward Jenner que, no final do século XVIII, observou que a varíola bovina, ou vacínia, relativamente branda nos animais e em humanos, parecia conferir proteção contra a doença da varíola humana, geralmente fatal (BEUTLER, 2004; LUENGO, 2005). Em 1796, Jenner inoculou o pus extraído de feridas de vacas contaminadas e o colocou em cima de um arranhão feito propositalmente no braço de um garoto de 8 anos, James Phipps. Este teve leves sintomas, como um pouco de febre e algumas poucas lesões, mas sua recuperação foi rápida. Semanas depois, o pesquisador inoculou o líquido da ferida de outro paciente com varíola novamente em James, que não contraiu a doença, o que levou à conclusão de que o garoto ficou imunizado à doença devido ao contato com a varíola bovina. Essa foi a primeira vacina pesquisada na história. Vale lembrar que quando Jenner introduziu a vacinação, ele nada sabia sobre os agentes infecciosos que causam as doenças (Figura 1) (JANEWAY et al., 2001; SILVA, 2001; BEUTLER, 2004). Figura 1 – Garoto vacinado contra varíola e ao lado de um que não havia sido vacinado, esta foto foi publicada em 1901 e tirada pelo Dr. Allan Warner no Hospital de Isolamento de Leicester Fonte: Atlas of Clinical Medicin, Surgery and Pathology (1903, p. 426). Descrição da Imagem: a foto traz dois garotos, de 13 anos, sentados lado a lado, sem camiseta e com a região torácica à mostra. Ambos olham para a frente, estão sérios, com um tecido em seus colos e estão na mesma posição. O garoto da esquerda possui inúmeras vesículas provenientes da varíola, principalmente no rosto e nos braços, sendo mais escasso no tronco. Já o que está sentado à direita está com a pele íntegra, as únicas lesões visíveis limitam-se a uma na região peitoral e outra na testa. http://cienciaviva.org.br/index.php/2020/04/05/breve-historia-do-movimento-anti-vacina/ https://archive.org/stream/b21513508_0001#page/n425/mode/2up 98 No final do século XIX, outros pesquisadores, como Robert Koch e Louis Pasteur, provaram suas teorias da existência de microrganismos causadores de doenças, o que permitiu o desenvolvimento da imunologia, estendendo a vacinação para outras doenças. Louis Pasteur, por volta de 1880, desenvolveu uma vacina antirrábica por meio da inoculação de uma criança mordida por um cão raivoso (SILVA, 2001). Tantos triunfos práticos resultaram na busca pelos mecanismos de proteção imunológica e sucessivos estudos foram realizados pela busca da compreensão e do conhecimento que temos hoje sobre o sistema imunológico. O sistema imune (SI) é composto por células, tecidos e moléculas que desempenham importante papel na defesa do organismo contra agentes agressores, os quais são denominados antígenos (MARTINEZ; ALVAREZ-MON, 1999). A resposta coletiva e coordenada de seus componentes à entrada de substâncias estranhas é denominada resposta imune (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). De maneira geral, as respostas imunológicas são classificadas em dois tipos: a resposta imune inata, antigamente definida como inespecífica (RII), e a resposta imune adaptativa, também chamada de adquirida ou específica (RIA) (Quadro 1). Propriedades Inata Adaptativa Especificidade Não específica ao antígeno Antígeno-específica Diversidade Limitada Muito ampla Memória Nenhuma ou limitada Sim Tempo de reação Resposta rápida (minutos ou horas) Resposta lenta (dias) Não reatividade ao próprio Sim Não Componentes imunológicos Barreiras naturais (pele, mem- branas mucosas, por exemplo) Linfócitos Fagócitos e células natural killer (NK) Moléculas de reconhecimento de antígeno (receptores de células B e T Mediadores solúveis (comple- mento, por exemplo) Moléculas de reconheci- mento padrão Moléculas secretadas (anticorpos, por exemplo) Quadro 1 – Principais propriedades dos sistemas imunológicos inato e adaptativo Fonte: adaptado de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Nosso corpo possui mecanismos inatos, ou seja, naturais, que estão presentes desde o nascimento e são responsáveis pela detecção e rápida destruição da maioria dos agentes invasores que encontramos diariamente. A RII é realizada por barreiras físicas e químicas inespecíficas (por exemplo, a pele), barreiras celulares (por exemplo, fagócitos) e reações baseadas em padrões moleculares, que serão estudados na próxima unidade. 99 Entretanto, em determinadas situações, esses mecanismos não conseguem eliminar os microrganismos, sendo necessária a ativação da imunidade adaptativa (LEVINSON, 2011; PLAYFAIR; CHAIN, 2013; COICO; SUNSHINE, 2019). A RIA consiste no desenvolvimento ou intensificação dos mecanismos de defesa em resposta a um estímulo específico. Pode resultar na eliminação do microrganismo e na recuperação da doença e, muitas vezes, proporciona ao hospedeiro uma memória específica, que o capacita a responder de modo mais efetivo a uma reinfecção pelo mesmo microrganismo. Assim como no mecanismo inato, o mecanismo adaptativo é constituído por elementos celulares e humorais (livres no soro ou nos líquidos corporais). Atualmente, sabemos que as respostas imunológicas da RII e RIA operam em conjunto para gerar mecanismos mais efetivos que acarretem a morte e eliminação do patógeno invasor, enquanto a resposta inata fornece os primeiros sinais de perigo que estimulam as respostas adaptativas, intensificando os mecanismos protetores da primeira, tornando-os mais capazes de combater efetivamente os microrganismos (Figura 2) (PLAYFAIR; CHAIN, 2013; COICO; SUNSHINE, 2019; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Microrganismo Imunidade inata Imunidade adaptativa Tempo após infecção 0 6 12 1 4 7 DiasHoras Complemento Células NK e outras ILCs Mastócitos Célulasdendríticas Fagócitos Barreiras epiteliais Linfócitos B Linfócitos T Anticorpos Células T efetoras Figura 2 – Caracterização da resposta imune inata e adaptativa Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Descrição da Imagem: a imagem apresenta dois desenhos representando a imunidade inata do lado esquerdo e a adaptativa do lado direito. Do lado esquerdo, na parte superior, há um pequeno círculo com cinco pontas desenhado, acima dele está escrito “Microrganismo”, abaixo dessa palavra está escrito “Imunidade Inata”. Abaixo, há o desenho de retângulos na vertical com círculos dentro, do lado direito está escrito “Barreiras Epiteliais”, acima desses retângulos há dois círculos com cinco pontas. Abaixo desses retângulos há dois círculos, um rosa com núcleo trilobado e outro verde com um círculo em seu interior e núcleo oval, abaixo deles está escrito 100 “Fagócitos”, do lado direito desses dois círculos há o desenho de uma estrutura na cor rosa clara sem borda definida, com um círculo dentro e núcleo redondo. Abaixo dos fagócitos, há o desenho de uma estrutura circular com borda disforme e núcleo redondo na cor marrom clara, abaixo está escrito “Mastócito”. Ao lado, há o desenho de uma estrutura circular na cor azul, na sua superfície há três estruturas em formato de Y, abaixo está escrito “Células NK e outras”. Abaixo dos mastócitos, há o desenho de um círculo marrom com cinco pontas ligado a um retângulo pequeno, abaixo está escrito “Complemento”. Do lado direito da imagem, na parte superior, está escrito “Imunidade Adaptativa”, abaixo do lado esquerdo há o desenho de uma estrutura circular na cor roxa com núcleo grande e redondo, na superfície há três estruturas na forma de Y, em uma delas uma estrutura circular com cinco pontas está ligada, acima dessa estrutura está escrito “Linfócitos B”, do lado esquerdo há o desenho de três linfócitos, uma seta azul sai do primeiro linfócito, passa pelos três agrupados e indica três estruturas do lado direito, elas são roxas com forma de Y, e estão ligadas a círculos marrom com cinco pontas, acima deles está escrito “Anticorpos”. Abaixo do linfócito B, do lado direito, há o desenho de uma estrutura circular com bordas irregulares na cor rosa, com núcleo redondo e um círculo branco em seu interior, na superfície dessa estrutura há três estruturas na cor verde ligadas a pequenas estruturas na cor marrom, do lado direito uma dessas estruturas está se ligando a outra estrutura de cor vermelha, com núcleo redondo, com três estruturas em forma de Y, acima dessas duas estruturas está escrito “Linfócitos T”. Do lado direito, há o desenho de três estruturas vermelhas com núcleo redondo e Y na sua superfície, uma seta sai dessa estrutura indicando duas estruturas ligadas do lado direito. A primeira estrutura é vermelha com núcleo redondo com três Y na sua superfície, um desses Y liga-se a uma estrutura na cor verde de bordas irregulares e com um círculo branco em seu interior, possui três estruturas na sua superfície nas cores verde e marrom, acima delas está escrito “Células T Efetoras”. Abaixo dos desenhos, há números, do lado esquerdo são: zero, seis, doze, acima deles está escrito “Horas”. Do lado direito são: um, quatro e sete, acima deles está escrito “Dias”. Abaixo desses números do lado esquerdo está escrito “Tempo após infecção”, dessa escrita sai uma seta indicando para o lado direito. Os diferentes elementos do sistema imune interagem e se comunicam utilizando moléculas solúveis e por interação direta célula a célula. Essas interações proporcionam os mecanismos de ativação e controle das respostas protetoras, que têm como objetivo final a eliminação da substância invasora. Logo que o invasor é eliminado, a situação no local da resposta imunológica volta ao normal, regulada. O resultado é a manutenção do estado de homeostasia. As respostas protetoras a alguns agentes infecciosos, no entanto, são insuficientes ou demasiadamente lentas; em outros casos, a resposta à invasão é excessiva e causa dano periférico como resultado do acúmulo de componentes com efeitos inespecíficos. Em qualquer um dos casos, a doença ocorre (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; COICO; SUNSHINE, 2019). 101 Título: Osmose Jones Ano: 2001 Sinopse: Frank Pepperidge (Bill Murray) é um construtor que repentinamente pega um resfriado. Esse pequeno fato deflagra uma guerra dentro do seu corpo, que é conhecido por “Cidade de Frank”, e faz com que a cé- lula branca policial Osmosis Jones (Chris Rock) e a pílula Drixorial (David Hyde Pierce) juntem suas forças a fim de eliminar os vírus que estão dentro do corpo de Frank e ameaçam toda a “cidade” onde vivem. DICAS Resumidamente, a imunidade tem início a partir do momento em que os antígenos (substâncias estranhas) entram em nosso organismo. Entretanto, a primeira linha de defesa são barreiras que objetivam mantê-los fora do corpo. Para essa finalidade, desenvolveu-se uma variedade de defesas externas, como: pele, mucosa, muco, entre outras (PLAYFAIR; CHAIN, 2013; LEVINSON, 2011). Estas são classificadas de três formas: barreiras físicas (epitélio e pele), químicas (substâncias antimicrobiana produzidas por células do epitélio) e biológicas (proteínas) que fornecem proteção imediata contra a invasão de agentes agressores. A presença da pele intacta do lado externo protege, por si só, o nosso corpo contra lesões e agentes infecciosos. Esse órgão é composto de queratinócitos, que constituem uma barreira física resistente contra microrganismos. Além disso, os queratinócitos são capazes de produzir compostos microbicidas quando ativados (PLAYFAIR; CHAIN, 2013; DELVES et al., 2018; BLACK, 2020). A mucosa constitui a outra barreira física “externa” do corpo. Adicionalmente, é constituída por células que secretam substâncias químicas antimicrobianas (DELVES et al., 2018). Os pelos e o muco da cavidade nasal e do sistema respiratório superior, por exemplo, proporcionam barreiras mecânicas contra microrganismos invasores (PLAYFAIR; CHAIN, 2013; DELVES et al., 2018; BLACK, 2020). O consumo de álcool, de narcóticos e o tabagismo suprimem esse sistema de defesa (COICO; SUNSHINE, 2019). De modo semelhante, o vômito e a diarreia atuam para eliminar os microrganismos danosos e seus produtos químicos do sistema digestório (PLAYFAIR; CHAIN, 2013; DELVES et al., 2018; BLACK, 2020). Se houver qualquer perda da integridade dessa linha de defesa, as células convencionalmente designadas como sistema imune são encontradas (DELVES et al., 2018). 102 Barreiras inespecí�cas do sistema imunológico Pele Saliva Lágrimas Tosse Urina Coriza Acidez do estômago Acidez da vagina Bile Muco Como vimos, se a pele e a mucosa estiverem intactas, os antígenos não conseguirão penetrar em nosso corpo. Entretanto, alguns microrganismos podem penetrar através das glândulas sebáceas e folículos pilosos. Nesses casos, existem as barreiras químicas que controlam o crescimento dos microrganismos. O pH ácido do estômago, a salinidade do suor e as secreções sebáceas, bem como a presença de lisozima, uma enzima presente nas lágrimas, na saliva e no muco, inibe o crescimento de muitas bactérias, que diminui a importância dessa via de infecção (Figura 3) (COICO; SUNSHINE, 2019; BLACK, 2020). Figura 3 – Barreiras imunológicas Fonte: Ayres (2017). Descrição da Imagem: a figura apresenta um fluxograma em que o quadro central e superior aos demais traz escrito “Barreiras inespecíficas do sistema imunológico”. Deste, saem outros 10 quadros colocados lado a lado com linhas os ligando ao quadro central. Estes últimos contêm as palavras “pele, saliva, lágrimas, tosse, urina, coriza, acidez do estômago, acidez da vagina, bile, muco”. Além das barreiras físicas e químicas, nosso organismo possui barreiras biológicas primárias de proteção, com a presença de proteínas. Como exemplo, temos a transferrina, uma proteína presente no plasma que se liga ao ferro livre presente no sangue. A ligaçãodo ferro pela transferrina inibe o crescimento de bactérias na corrente sanguínea, uma vez que estas precisam de ferro como cofator para algumas enzimas. Situação semelhante como com a lactoferrina, que é encontrada na saliva, no muco e no leite (BLACK, 2020). Quando a pele apresenta lesão, por qualquer tipo de traumatismo, os microrganismos podem entrar na ferida. O sangramento do local e, posteriormente, a coagulação, ajudam a proteger a área lesada até que possa ocorrer reparo mais permanente. No entanto, quando algum patógeno chega ao sangue, seja através de um corte na pele ou através de abrasões nas membranas mucosas, os mecanismos de defesa celular entram em ação. Essa defesa utiliza células especiais encontradas no sangue e em outros tecidos do corpo (BLACK, 2020). 103 CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE (na medula óssea) CÉLULAS- TRONCO MIELOIDES (na medula óssea) CÉLULAS- TRONCO LINFOIDES (na medula óssea) Eritroblasto Reticulócito Mieloblasto (no sangue) Monoblasto Linfoblasto (no timo) Megacariócito Eritrócito (hemácia) Plaquetas (no tecido) Basófilo Eosinófilo Neutrófilo Célula dendrítica Monócito Linfócito B Linfócito T Célula NK Granulócitos Agranulócitos Leucócitos Figura 4 – Vias de desenvolvimento de vários tipos celulares a partir das células-tronco pluripotentes da medula óssea Fonte: Black (2020, p. 1317). Descrição da Imagem: fluxograma das vias de desenvolvimento de vários tipos celulares a partir das células-tronco pluripotentes da medula óssea. Na parte superior da imagem, há o desenho de uma estrutura circular com núcleo redondo, representando a célula, do lado esquerdo está escrito “Célula-Tronco-Pluripotente (na medula óssea)”. Dessa célula, saem duas setas, uma para direita e outra para a esquerda. A primeira seta indica para a esquerda abaixo outra célula circular com núcleo, dessa célula saem três setas, uma indicando à esquerda, outra indicando Praticamente todas as células do SI advêm de células-tronco hematopoiéticas pluripotentes na medula óssea, local onde a maioria amadurece, para depois serem liberadas na circulação sanguínea e tecidos (DELVES et al., 2018). A diferenciação dessas células inicia-se durante o desenvolvimento fetal e continua por toda a vida (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). O início dessa diferenciação ocorre quando uma célula- -tronco pluripotente se diferencia em diferentes linhagens sanguíneas, entre elas, as linhagens linfoides (que originam as células B e T), as linhagens mieloides (que originam as células da RII) e a linhagem eritrocítica (sangue), como mostra a Figura 4. 104 abaixo e outra indicando para a direita. A seta da esquerda indica uma célula pequena, redonda e com núcleo, abaixo dessa célula está escrito “Eritroblasto”, dessa célula sai uma seta indicando abaixo outra célula, de formato redondo com núcleo pequeno, abaixo está escrito “Reticulócito”, dessa célula sai uma seta indicando abaixo outra célula de formato redondo e bicôncava, abaixo está escrito “Eritrócito (hemácia)”. A segunda indica para baixo uma célula redonda com núcleo, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula grande com grânulos e com núcleo, abaixo dessa célula está escrito “Megacariócito”, dessa célula sai uma seta indicando para baixo células alongadas, abaixo está escrito “Plaquetas (no tecido)”. A terceira seta indica para a direita uma célula redonda com núcleo, do lado esquerdo dessa célula está escrito “Células-Tronco Mieloide (na medula óssea)”, dessa célula saem duas setas, uma indicando para baixo e outra para a direita. A primeira seta indica para baixo uma célula redonda com núcleo, do lado esquerdo dessa célula está escrito “Mieloblasto (no sangue)”, dessa célula saem quatro setas, a primeira seta indica a esquerda abaixo uma célula redonda com núcleo e grânulos, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda, com núcleo em formato de C e grânulos, dessa célula sai uma seta indicando para baixo outra célula redonda com núcleo e grânulos, abaixo dela está escrito “Basófilo”. A segunda seta indica para esquerda, um pouco mais centralizada, uma célula redonda com núcleo menor e grânulos, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo em formato de C e grânulos, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo bilobulado e grânulos, abaixo está escrito “Eosinófilo”. A terceira seta indica para a direita, mais centralizada, uma célula redonda com núcleo, dessa célula sai uma seta para baixo indicando uma célula redonda com núcleo em formato de C, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo trilobado, abaixo, está escrito “Neutrófilo”. A quarta seta indica para a direita uma célula redonda com núcleo, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda de bordas irregulares com núcleo, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo, ambos com bordas irregulares, abaixo está escrito “Célula Dendrítica”. A segunda seta indica para a direita uma célula redonda com núcleo grande, quase do tamanho da célula, abaixo está escrito “Monoblasto”, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com borda irregular e núcleo, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo, abaixo está escrito “Monócito”. A segunda seta que sai da célula- tronco pluripotente indica para a direita uma célula redonda com núcleo, acima dessa célula está escrito “Células-Tronco Linfoides (na medula óssea)”, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo grande, quase do tamanho da célula, abaixo está escrito “Linfoblasto”, dessa célula saem três setas. A primeira seta indica para a esquerda abaixo uma célula com núcleo grande, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo redondo, abaixo está escrito “Linfócito B”. A segunda seta indica para baixo no centro uma célula redonda com núcleo grande, abaixo está escrito “No timo”, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo grande abaixo está escrito “Linfócito T”. A terceira seta indica para a direita abaixo uma célula redonda com núcleo grande, dessa célula sai uma seta indicando para baixo uma célula redonda com núcleo redondo abaixo está escrito “Célula NK”. Na parte inferior da imagem, do lado esquerdo, há uma linha abaixo das células basófilo, eosinófilo, neutrófilo e célula dendrítica, abaixo dessa linha, está escrito “Granulócitos”. Do lado direito também há uma linha abaixo das células monócito, linfócito B, linfócito T e célula NK, abaixo dessa linha está escrito “Agranulócitos”. Abaixo dessas duas linhas há outra linha e, abaixo dela, está escrito “Leucócitos”. 105 As células do SI estão distribuídas por todo o corpo. Os leucócitos são células sanguíneas importantes nas defesas tanto adaptativas quanto inatas do hospedeiro. É importante que você, aluno, entenda que a circulação sanguínea, geralmente, atua como uma rede de distribuição para essas células, que executam as suas funções principalmente nos tecidos linfoides e em outros tecidos do corpo (DELVES et al., 2018; BLACK, 2020). Essa motilidade é uma diferença fundamental para o sucesso da RI. A seguir, você encontra o Quadro 2 com as principais células de defesa, suas principais características e funções. Células Características Função Células natural killer (NK) Linfócitos grandes, granulares. Destroem células revestidas por anticorpos, células infectadas por vírus ou células tumorais. Neutrófilos Granulócitos de vida curta, nú- cleo multilobulado, citoplasma granulado, formas em bastão (mais imaturas) e segmentados. Fagocitam e matam bactérias (leucócitos polimorfonucleares). Eosinófilos Núcleo bilobulado, citoplas- ma intensamente granulado, coloração com eosina. Envolvidos na defesa contra parasitas e na resposta alérgica. Monócitos Núcleo em formade ferra- dura, presença de lisosso- mos e grânulos. Precursores de células da linhagem dos macrófagos e células dendríticas, liberação de citocinas. Células apresentadoras de antígeno. Células dendríticas Longas extensões da mem- brana, que se assemelham aos dendritos das células nervosas. Encontradas em linfonodos, tecido. A mais potente célula apre- sentadora de antígeno; inicia e determina a natureza da resposta das células T. Macrófagos Núcleo esférico, às vezes situado afastado do centro da célula, citoplasma eosino- fílico. Possível residência nos tecidos, no baço, nos linfono- dos e em outros órgãos. Removem os resíduos, mantêm a função do tecido normal e facilitam a repara- ção. Células ativadas iniciam resposta inflamatória e de fase aguda. Células ativadas são antibacterianas e apre- sentadoras de antígeno. Células T (todas) Núcleo grande, citoplasma pequeno. Depende de seu grupamento de diferenciação: CD4: matam microrganismos invasores, promovem diferen- ciação da célula B. CD8: matam células virais, tu- morais e células não próprias. Quadro 2 – Células de defesa, suas principais características e funções 106 Células Características Função Células B Núcleo grande, citoplasma pequeno. Produzem anticorpos e apre- sentam antígenos. Plasmócitos Núcleo pequeno, citoplasma grande. Terminalmente diferenciados, fábricas de anticorpos. Basófilos/mastócitos Granulocíticos. Liberam histamina, promo- vem resposta alérgica, são antiparasitários. Plaquetas Fragmentos citoplasmáticos anucleados presentes no sangue. Liberam fatores de coagula- ção, peptídeos antimicrobia- nos, quimiocinas e citocinas quando da ativação. Fonte: adaptado de Murray, Rosenthal e Pfaller (2017). Os neutrófilos são liberados no sangue pela medula óssea, circulam por sete a dez horas e, em seguida, migram para os tecidos, onde vivem por cerca de três dias (BLACK, 2020). IMPORTANTE O início da diferenciação das células-tronco em células sanguíneas funcionais é estimulado como resposta às interações específicas que ocorrem, a nível de superfície celular, com as células do estroma da medula e, ainda, por ação das citocinas específicas produzidas por essas e outras células. Os locais onde ocorre a diferenciação, maturação e proliferação linfocitária inicial são essenciais para o desenvolvimento do SI (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Os tecidos que contribuem, diretamente, para as defesas imunológicas podem ser classificados em dois grandes grupos: os órgãos linfoides primários, nos quais ocorre a maturação dos linfócitos B e T em linfócitos que reconhecem o antígeno, e centrais e órgãos linfoides secundários ou periféricos, local de iniciação das respostas imunes adaptativas pelos linfócitos (Figura 5) (DELVES et al., 2018; COICO; SUNSHINE, 2019). 107 Adenoide Tonsilas Veia subclávia direita Linfonodo Rim Apêndice Linfáticos Medula óssea* Veia subclávia esquerda Timo* Coração Duto tarácico Baço Placas de Peyer no intestino delgado Intestino grosso Órgãos linfoides primários Órgãos linfoides secundários * Figura 5 – Distribuição do tecido linfoide no corpo humano Fonte: Coico e Sunshine (2019, p. 21). Descrição da Imagem: a figura traz o desenho de um corpo humano com a cabeça, olhos e dedos do pé direcionados anteriormente (para frente), membros superiores ao lado do corpo com as palmas viradas para frente e membros inferiores juntos, com os pés paralelos e os dedos dos pés direcionados anteriormente. Do lado direito da figura, existe uma legenda onde há o desenho de uma estrela e, ao lado, está escrito “órgãos linfoides primários”, abaixo, há o desenho de uma cruz e, ao lado, está escrito “órgãos linfoides secundários”. Nesse corpo, estão representados, em suas devidas posições anatômicas, os órgãos linfoides primário e secundário. De cima para baixo, a figura demonstra a adenoide na região dos seios nasais, a tonsila, com uma cruz desenhada ao lado do nome, na região na garganta, as veias subclávia direita e esquerda, o linfonodo, com uma cruz desenhada ao lado do nome, bem como o timo, com uma estrela desenhada ao lado do nome, o coração, duto torácico, rim, baço com uma cruz desenhada ao lado do nome, placas de Peyer no intestino delgado com uma cruz desenhada ao lado do nome, apêndice com uma cruz desenhada ao lado do nome, intestino grosso e medula óssea com uma estrela desenhada ao lado do nome, representada no fêmur da perna direita da imagem. Além desses órgãos, em toda a parte esquerda do corpo estão desenhadas linhas que representam linfonodos e linfáticos. 108 A medula óssea e o timo constituem os tecidos linfoides primários, promovendo o desenvolvimento das células B e das células T. As células B amadurecem parcialmente na medula óssea, entram na circulação e migram para o baço (onde completam sua maturação). As células T sofrem maturação final no interior da glândula timo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; COICO; SUNSHINE, 2019). No momento do nascimento, o timo começa a processar e liberar linfócitos no sangue como células T, o que já está ocorrendo na medula óssea (BLACK, 2020). Então, essas células maduras migram para os tecidos linfoides secundários, incluindo os linfonodos, baço, tonsilas e tecido linfoide associado à mucosa (MALT). Este último inclui o tecido linfoide associado ao intestino (GALT) (por exemplo, placas de Peyer) e o tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) (por exemplo, pulmão) (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017, COICO; SUNSHINE, 2019; BLACK, 2020). A associação das complexas interações celulares que formam a base da resposta imune ocorre dentro desses tecidos (COICO; SUNSHINE, 2019). O timo apresenta uma característica peculiar: ele é essencial para o desenvolvimento da célula T após o nascimento. Contudo, o timo começa a involuir (reduzir) no primeiro ano de vida da pessoa. Essa redução contínua ao longo da vida é de cerca de 3% por ano na meia- -idade (35 a 45 anos). A partir da puberdade, outros tecidos linfoides secundários podem adotar suas características funcionais do timo, como o baço, os linfonodos e os MALT, BALT e GALT (DELVES et al., 2018; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). IMPORTANTE Os linfonodos são pequenas estruturas ovoides encapsuladas encontradas em várias regiões do corpo, que filtram o fluido que passa dos espaços intercelulares para o sistema linfático. Por isso, têm acesso aos antígenos encontrados nos epitélios e originários da maioria dos tecidos favorecendo, anatomicamente, à iniciação de respostas imunes adaptativas a antígenos transportados dos tecidos pelos linfáticos (Figura 6). Os agentes estranhos que passam através de um linfonodo são, em sua maioria, capturados e destruídos pelas células de defesa presentes (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; COICO; SUNSHINE, 2019; BLACK, 2020). 109 Ducto torácico Linfonodo drenante Sítio de infecção Linfonodos cervicais Vasos intercostais Linfonodos axilares Cisterna do quilo Linfonodos para-aórticos Vasos dos intestinos Linfonodos inguinais Figura 6 – Sistema linfático Fonte: Abbas, Lichtman e Pillai (2019, p. 96). Descrição da Imagem: desenho de um corpo humano com a cabeça direcionada anteriormente (para a frente), membros superiores ao lado do corpo com as palmas viradas para trás e membros inferiores juntos, o tronco encontra-se voltado anteriormente na diagonal. Nesse corpo, estão representados, em suas devidas posições anatômicas, os principais linfonodos existentes nos seres humanos. Todas as estruturas representadas na imagem possuem legenda para melhor entendimento. De cima para baixo, a figura demonstra linfonodos cervicais na região do pescoço, ducto torácico passando à frente do timo e do coração, vasos intercostais na região que circunda o coração, linfonodos axilares, linfonodo drenante na região da axila, cisterna do quilo e linfonodos para-aórticos na região central do abdômen, vasos dos intestinos elinfonodos inguinais na região ventral. Além disso, na mão direita, tem a representação de um sítio de infecção. O baço é o maior dos órgãos linfoides secundários e atua como um linfonodo, servindo como filtro sanguíneo muito efetivo para a remoção de células em degeneração (idosas ou danificadas) e na captação e concentração de substâncias estranhas transportadas no sangue. Por isso, também é importante na geração de RIA contra quaisquer agentes infecciosos presentes no sangue, uma vez que é o local onde os linfócitos B terminam sua maturação. É o principal órgão do corpo no qual os anticorpos são sintetizados e dos quais eles são liberados na circulação. Dessa forma, pessoas sem baço são mais vulneráveis a infecções disseminadas por bactérias encapsuladas (DELVES et al., 2018; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; COICO; SUNSHINE, 2019). 110 Os MALT contêm uma ampla proporção de células dos sistemas imunes inato e adaptativo. Uma característica importante desses tecidos é serem densamente povoados por microrganismos comensais, alguns dos quais essenciais à fisiologia normal. Nesses tecidos, o SI evoluiu para não eliminar os comensais (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; BLACK, 2020). As tonsilas constituem outro local de agregação de linfócitos e são uma parte importante do MALT. Embora não sejam essenciais para combater as infecções, eles protegem contra a invasão de micróbios nas áreas oral e nasal, visto que contêm células B e células T e, juntamente com as células dendríticas e as células T, podem iniciar respostas imunes (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020) Em resumo, os tecidos linfoides auxiliam as defesas inatas por meio da fagocitose dos microrganismos e de outros materiais estranhos e participam da imunidade adaptativa por meio da atividade de suas células B e T. Vale lembrar que muitos linfócitos estão em constante recirculação e troca entre a circulação, órgãos linfoides secundários e tecidos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; BLACK, 2020). Título: Imunologia Autor: David Male, Jonathan Brostoff , David Roth e Ivan Roitt Editora: Guanabara Koogan Sinopse: esse livro torna fácil entender, estudar e memorizar todos os assuntos da imunologia. Domine os conceitos mais avançados, com atualizações realizadas em todo o livro que fornecem o conhecimento necessário para suas provas. Compreenda os fundamentos do sistema imunológico – células, órgãos e principais moléculas receptoras – bem como o desencadeamento e as ações da resposta imune, especialmente em um contexto clínico. Capte e absorva, visualmente, conceitos difíceis, por meio de um formato de fácil utilização, com código de cores, quadros de conceitos-chave, diagramas explicativos e mais de 200 fotos para auxiliar a visualização de tecidos e doenças. DICAS Alguns locais no corpo, como o encéfalo, a câmara anterior do olho e o testículo são definidos como locais imunologicamente privilegiados, uma vez que a presença de antígenos nesses sítios anatômicos não provoca resposta imune. Em geral, são locais protegidos por barreiras com baixa permeabilidade de membrana entre o sangue e os tecidos. Essa característica traz benefício para o organismo, visto que a resposta imunológica é, algumas vezes, mais prejudicial do que a agressão provocada pelo antígeno (DELVES et al., 2018). Para finalizar o conteúdo deste tema de aprendizagem, precisamos levar em consideração que haverá variação fisiológica da imunidade em diferentes idades da vida. Normalmente, nos extremos da vida, ou seja, em recém-nascidos e idosos, a imunidade se torna menos efetiva. Apesar de não sabermos ao certo a razão, aparentemente, os recém-nascidos apresentam função de células T menos efetiva que os adultos, e suas respostas imunes, predominantemente desempenhadas pela RII, são 111 moduladas pela composição da microbiota, junto à genética e à alimentação. A frequência de doenças autoimunes é elevada em idosos, possivelmente devido a uma diminuição no número de células T regulatórias, permitindo que células T autorreativas proliferem e causem doenças (LEVINSON, 2011; DELVES et al., 2018). Acadêmico, você já deve ter ouvido e/ou vivido alguma vez a “regra dos 5 segundos”. Para quem não a conhece, funciona mais ou menos assim: quando alguma comida cai no chão, se você a pegar dentro de 5 segundos, não correrá o risco de o alimento ter se contaminado, ou seja, é o famoso “o que não mata, engorda”. No entanto, será que essa regra realmente funciona? Venha descobrir em nosso podcast. DICAS Agora que finalizamos, que tal construirmos um mapa de empatia para que você faça sua autoavaliação, no formato de uma checklist, para consolidarmos tudo o que você aprendeu nesta unidade? Para isso, preencha cada espaço com os sentimentos que melhor se enquadram em cada pergunta. Para lhe ajudar, deixo algumas orientações. • O que pensa e sente – você deve registrar reflexões e sentimentos correlacionados com o conteúdo estudado. • O que ouve – anote as informações auditivas com as quais eventualmente entrou em contato durante o estudo. • O que vê – insira uma síntese sobre o que a unidade expôs e o que mais chamou sua atenção. • O que fala e faz – é o campo para que você analise e registre seu comportamento: já conhecia o assunto da unidade ou já havia lido algo sobre ele antes? O que achou dos temas apresentados? • Quais são as dores – anote os motivos pelos quais você se interessa por esse tipo de tema. O que você espera aprender ou ampliar estudando esse assunto? • Quais são as necessidades – promova uma autorreflexão e anote quais foram as suas dificuldades. 112 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • As principais características relacionadas às três linhas de defesa da resposta imune e, assim, inicialmente, classificar essas respostas em componentes celulares e humorais. • A origem embriológica das células precursoras das linhagens linfoides, mieloides, plaquetárias e sanguíneas, especialmente as duas primeiras, com os órgãos linfoides primários e secundários. • O mecanismo saúde-doença do organismo humano no tópico sobre o sistema imunológico. 113 AUTOATIVIDADE 1 O processo de fagocitose é uma importante função do sistema imunológico, pois, a partir de sinalizações com receptores, os antígenos são reconhecidos, internalizados e digeridos. Com relação ao processo de fagocitose, é correto afirmar que as células que apresentam essa função são: a) ( ) Macrófagos e mastócitos. b) ( ) Linfócitos e mastócitos. c) ( ) Eosinófilos e monócitos. d) ( ) Macrófagos e neutrófilos. e) ( ) Basófilos e neutrófilos. 2 “As células do sistema imunológico podem ser encontradas livres nas circulações sanguínea e linfática, e organizadas em órgãos e tecidos linfoides”. Acerca dos órgãos linfoides, afirma-se corretamente que: a) ( ) Os órgãos linfoides primários são o timo, a medula óssea e a placa de Peyer. b) ( ) É nos órgãos linfoides secundários que ocorre a diferenciação de linfócitos B em plasmócitos para a produção de anticorpos. c) ( ) Os linfócitos T amadurecem na medula óssea, enquanto os linfócitos B amadurecem na placa de Peyer. d) ( ) Os principais órgãos linfoides secundários são o baço, linfonodos e o timo. e) ( ) O timo é o principal órgão linfoide do organismo humano. 3 Os mecanismos de defesa do hospedeiro – maneiras pelas quais o corpo se protege de patógenos – podem ser considerados um exercício que consiste em quantas linhas de defesa? a) ( ) Uma. b) ( ) Duas. c) ( ) Três. d) ( ) Quatro. e) ( ) Cinco. RESUMO DO TÓPICO 2 114 115 TÓPICO 3 - RESPOSTA IMUNE INATA (RII) 1 INTRODUÇÃO Chegou o momento de entendermos como nosso organismo combate seus agentes invasores e, com isso, consegue se manter saudável. Na Unidade 6, estudaremos a resposta imune inata, apresentada anteriormente, suas estruturas, ativação, curiosidades e processos que contribuem para a eliminação dos antígenos. O conhecimento adquirido será fundamentalpara a compreensão da próxima unidade. Você já se perguntou como o seu corpo é capaz de bloquear uma infecção ou impedir que ela aconteça? Já se perguntou como a sua pele impede a contaminação quando, eventualmente, ocorre trauma e/ou lacerações? Ou o comportamento do seu intestino quando você ingere, acidentalmente, algum alimento contendo bactérias patogênicas? Desde que nascemos, a todo o momento e em todos os lugares, somos expostos aos microrganismos e a agentes ambientais que podem causar danos em nosso organismo. Entretanto, não adoecemos diariamente porque conseguimos combater os invasores de forma rápida, mesmo nunca tendo entrado em contato com ele anteriormente. Podemos nos deparar constantemente com uma pessoa com febre, com uma ferida inflamada ou um corte com pus. Você sabe o que essas cenas têm em comum? Todas têm o envolvimento do sistema imune inato para que aconteçam. O sistema imune (SI) humano está sempre pronto para nos proteger, mas, às vezes, os artifícios utilizados podem nos causar incômodos, ou, dependendo da severidade da resposta, danos. Para entendermos melhor como acontece todo esse processo de defesa, precisamos nos aprofundar na aprendizagem do sistema imune inato celular e humoral. Vamos lá? À medida que os anos passam, o nosso corpo envelhece, mas isso também acontece com o sistema imunológico? Alguma vez você já se perguntou por que os idosos tendem a pegar mais gripes, que, muitas vezes, podem até ser fatais ou, então, por que eles são grupo prioritário em campanhas de vacinação, enquanto os adultos jovens, muitas vezes, nem entram na população-alvo? Será que realmente tem algo a ver com o envelhecimento? Proponho que você busque artigos científicos ou vídeos de fontes confiáveis na internet que expliquem o processo de imunossenescência que ocorre em nosso organismo com o passar dos anos e tente descrever os principais pontos. Deixo como sugestão um vídeo no QR Code: Imunossenescência: o sistema imunológico no envelhecimento. UNIDADE 2 https://www.youtube.com/watch?v=xhjYz8Bd6hg 116 O mundo está envelhecendo. Antes, chegar aos 70, 80 anos era um evento raro, mas, atualmente, a média de vida do brasileiro é de 73 anos. O envelhecimento pode ser compreendido como um processo natural, de diminuição progressiva da reserva funcional do organismo. O que ocorre com o sistema imune nesse processo? Com o que foi exposto no decorrer da disciplina, você pôde entender que os microrganismos possuem capacidade para invadir e causar doenças nos seres humanos quando encontram um ambiente favorável. Se o nosso corpo não tivesse nenhum tipo de resistência a essa invasão, estaríamos constantemente doentes e, muito provavelmente, não chegaríamos à vida adulta, devido às várias infecções que adquirimos ao longo dos anos. Dessa forma, podemos exemplificar as doenças infecciosas como uma batalha travada entre a capacidade dos agentes infecciosos de invadir o corpo e causar-lhe dano e o poder desse corpo de resistir a essas invasões (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; BLACK, 2020). Título: O menino da bolha de plástico Ano: 1976 Sinopse: a adolescência já não é fácil para um jovem comum, imagine para Tod Lubitch, que nasceu com uma deficiência rara no sistema imunológico e foi “condenado” a passar o resto de sua vida dentro de uma bolha de plástico onde poderia ter um sistema esterilizado e viveria a salvo de bactérias e vírus que, para pessoas normais, não representam risco, mas, para ele, poderiam levá-lo à morte. Assista a esse filme emocionante que marcou época, baseado em uma história real e que traz a interpretação brilhante do então novato John Travolta e um elenco de apoio que inclui a ganhadora do Emmy (o Oscar da TV americana) por esse filme, Diana Hyland. Um filme dirigido com sensibilidade e emoção por Randal Kleiser. Imperdível! DICAS É importante relembrar a importância da microbiota transitória e residente nesse papel de defesa humana contra patologias infecciosas. A microbiota bacteriana não deixa outros patógenos se desenvolverem no organismo porque elas realizam um processo de competição e produzem substâncias tóxicas a esses patógenos. Além disso, esses microrganismos ativam e regulam continuamente a resposta imune do hospedeiro para mantê-los em seus lugares apropriados e para que não haja um supercrescimento (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). 117 Você sabia que os vírus podem ser aliados da nossa saúde? Em 2013, foi descoberto que vírus bacteriófagos, ou seja, que atacam bactérias, estão alojados no muco que reveste as membranas do nosso intestino, cavidades nasais e outras passagens que se abrem para o exterior. Há muito se sabe que o muco faz parte da nossa resposta imune inata, aprisionando microrganismos e impedindo que invadam e causem infecções. A novidade é a abundância de bacteriófagos presentes no muco, responsáveis por matar bactérias aprisionadas nessa secreção pegajosa e, consequentemente, mantendo a população bacteriana sob controle (BLACK, 2020). INTERESSANTE Nessa linha de pensamento, não podemos esquecer que uma das funções primordiais do SI é determinar a diferença entre o que é “próprio” do “não próprio”. Assim, os componentes do sistema imune inato (SII) têm como função detectar determinados padrões moleculares repetitivos do genoma que estão tipicamente associados a microrganismos infecciosos, chamados de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs, do inglês, pathogen-associated molecular patterns), e são essas estruturas que desencadeiam a ativação do SII (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; DELVES et al., 2018; COICO; SUNSHINE, 2019). Somente a partir da década de 1980 que a maioria dos receptores responsáveis por esse processo de detecção foi identificada, sendo, portanto, uma ciência nova e com muitos estudos a serem desenvolvidos (PLAYFAIR; CHAIN, 2013). Você já foi apresentado aos dois tipos de resposta imune existentes nos vertebrados: a inata e a adaptativa, que constituem três linhas de defesas: a primeira e a segunda fazem parte de RII, sendo que uma constitui as consideradas defesas naturais, sendo composta por barreiras físicas, químicas e biológicas, já detalhada anteriormente, e a outra consiste na ação de várias células defensivas, inflamação, febre e substâncias antimicrobianas produzidas pelo corpo, respectivamente. A terceira linha de defesa é denominada defesa específica e será detalhada na próxima unidade, pois faz parte da Resposta Imune Adaptativa (RIA) (TORTORA; FUNKE; CASE, 20177). Até pouco tempo, a Resposta Imune Inata (RII) era denominada como defesa inespecífica. À medida que as defesas inespecíficas foram estudadas, tornou-se evidente que elas envolviam interações muito específicas, porém não necessitavam de uma exposição prévia para serem efetivas, daí o termo defesa inata (BLACK, 2020). Portanto, imunidade inata refere-se às defesas que estão presentes desde o nascimento, prontas para combater microrganismos e outros agentes agressores proporcionando respostas rápidas para a proteção contra as doenças, sem a necessidade de reconhecimento específico de um micróbio, além de não gerar uma resposta de memória, isto é, uma reação imune mais rápida e mais forte ao mesmo micróbio em um outro momento (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 118 Quanta informação fornecida até aqui! Que tal detalharmos mais para que você possa compreender melhor a RII? Vamos lá? GIO Para que você possa entender melhor como e porque ocorre a ativação da RII, vamos imaginar uma situação hipotética na qual trabalharemos todo o conteúdo desta unidade: você está organizando seus materiais de estudo e, acidentalmente, corta seu dedo indicador direito com uma folha de papel sulfite. Essa situação levou ao rompimento da primeira linha de defesa do SI, a pele, deixando seu organismo suscetível à entrada de microrganismos do meio ambiente na ferida. O sangramento que ocorreu no local da lesão ajudou na remoçãofísica dos micróbios e, também, a contração dos vasos sanguíneos lesados e a coagulação do sangue ajudaram a fechar a área lesionada até que pudesse ocorrer reparo mais permanente. Mesmo assim, agentes infecciosos conseguiram chegar no seu sangue através do corte. É nesse momento que os mecanismos de defesa celular da RII entram em ação, sendo esta a defesa inicial frente a um foco infeccioso já estabelecido, e a qual divagamos no decorrer desta unidade (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; BLACK, 2020). Após o agente patogênico (antígeno) conseguir invadir o organismo, a RII será ativada pelo contato direto e reconhecimento dos PAMPs, por moléculas liberadas após dano celular denominadas “padrões moleculares associados a danos celulares” (DAMPs, do inglês, damage-associated molecular patterns) ou por proteínas presentes nos venenos de animais peçonhentos denominadas “padrões moleculares associados a venenos” (VAMPs, do inglês, venom associated molecular patterns). Estima-se que o SII é capaz de reconhecer apenas cerca de mil tipos desses padrões moleculares (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Os principais receptores de células imunológicas que reconhecem padrões moleculares presentes na superfície de diversos antígenos, mas ausentes em células humanas, são chamados de receptores de reconhecimento de padrões (RRPs) (ABBAS; LITCHMANN; PILLAI, 2019). Vale observar que o tipo de defesa desencadeada pelo corpo dependerá do tipo de organismo que invadirá. Dessa forma, o que determina o tipo de resposta é o tipo de citocina produzida pelos fagócitos, ou seja, depende de qual RRP é ativado pelo organismo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 119 Existem quatro principais classes de receptores de RRPs, os quais serão descritos a seguir. Os receptores do tipo Toll (Toll Like), abreviados pela sigla TLR, são classificados como glicoproteínas localizadas na membrana plasmática das células da RII e nas vesículas endossomais das células que fazem fagocitose. A sua função é baseada no reconhecimento dos ligantes microbianos pelo TLR, o que resultará na ativação de várias vias de sinalização e de fatores de transcrição que induzem a expressão de genes cujos produtos são importantes para respostas inflamatórias e antivirais (Figura 1) (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Existem, também, outros receptores localizados no citosol e que reconhecem, igualmente, os PAMPs e os DAMPs. A função desses receptores é identificar células infectadas e processos inflamatórios locais no citosol. Podem ser encontradas duas classes principais desses receptores: os tipos NOD (NLR) e os RIG (RLR). Eles funcionam ligados às vias de transdução de sinal que promovem inflamação ou produção de interferon tipo I (citocina). A habilidade do sistema imune inato de detectar infecção no citosol é importante porque parte dos ciclos de vida de alguns microrganismos, especialmente os dos vírus, e a montagem de partícula viral ocorrem no citosol. Existem, ainda, outros receptores de lectina (CLR) localizados na membrana plasmática, que são capazes de reconhecer açúcares como manose e glicose (açúcares encontrados na membrana plasmática de microrganismos) e ativar a resposta imunológica, como mostra a Figura 1 (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Lipídio da parede celular bacteriana TLR Extracelular Polissacarídeo fúngico Lectina Membrana endossômica Membrana plasmática Citosólico Peptidoglicano bacteriano Endossômico RNA, DNA microbiano TLR NLR RLR RNA viral Figura 1 – Receptores de membrana plasmática e vesículas endossomais para PAMPs Fonte: adaptada de Abbas, Lichtmann e Pillai (2019). 120 Descrição da Imagem: ilustração composta por um grande retângulo representando uma célula eucariótica contendo receptores de reconhecimento padrão. Acima da figura está escrito a palavra “Extracelular”, e dentro, “Citosólico”. Iniciando da parte superior do retângulo, em toda sua extensão, há esferas lineares na cor creme, formando uma corrente, associadas a dois filamentos helicoidais que representam os fosfolipídios. Os filamentos ligam-se a outros filamentos de outros fosfolipídios, formando uma bicamada dessas estruturas, a membrana plasmática. Inseridas nessa membrana, temos duas estruturas: a primeira é uma haste, que parte do citosol até a parte externa da célula, que possui uma ponta em forma de seta arredondada na parte extracelular associada a uma estrutura em formato de meia lua, este é um receptor TLR. Ligado a ele, tem uma estrutura esférica que está identificada como “Lipídio da parede celular bacteriana”. A segunda estrutura também é composta por uma haste, que parte do citosol até a parte externa da célula, que possui uma ponta côncava, este é um receptor de lectina. Ligado a ele, tem uma estrutura esférica com três apêndices que está identificada como “Polissacarídeo fúngico”. No espaço interno da célula, à esquerda, temos duas estruturas ovais ligadas entre si e uma estrutura em formato de bastão com uma meia lua na ponta, este é um receptor NLR. Ligado a ele, tem uma estrutura esférica que está identificada como “Peptidoglicano bacteriano”. Abaixo do NLR, existe uma estrutura oval ligada a uma estrutura em formato de bastão, este é um receptor RLR. Ligado a ele, tem uma estrutura helicoidal que está identificada como “RNA viral”. Mais à direita, existe uma estrutura redonda idêntica com a membrana plasmática que está indicada como membrana endossômica. No interior desse círculo, está escrito “endossômico”. Inserida na membrana endossômica, tem um TLR, representado de forma idêntica ao descrito anteriormente, mas sem ligação com estrutura bacteriana. Ainda no interior dessa estrutura, existe uma dupla hélice desenhada descrita como “RNA, DNA microbiano’’. O resultado esperado da ativação da RII é que fagócitos digiram e destruam os microrganismos invasores e as partículas estranhas por meio da fagocitose ou por uma combinação de reações imunes e fagocitose. Esse processo de contenção de infecções, utilizado por neutrófilos e macrófagos, segue quatro etapas: as células fagocitárias precisam encontrar, aderir, ingerir e digerir os microrganismos (BLACK, 2020). As células da resposta inata são ativadas por citocinas, quimiocinas e pela interação direta com micróbios e componentes microbianos. Quando os fagócitos presentes nos tecidos encontram microrganismos invasores, ocorre um processo de reconhecimento através de receptores TLRs, existentes nas células fagocitárias, que se ligam com as PAMPs de forma específica para, em seguida, ativar proteínas adaptadoras e guiar a melhor resposta para com cada tipo de patógeno (MURRAY; ROSENTHAL PFALLER, 2017; ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019; BLACK, 2020). Além dessas moléculas, podemos destacar a atuação das citocinas da família dos interferons, os quais bloqueiam a replicação viral. Os interferons tipo I incluem o α e o β, enquanto o interferon-γ é considerado um interferon tipo II. Os interferons tipo I atuam, especialmente, no controle da resposta antiviral precoce, promovendo a transcrição de proteínas antivirais em células que são ativadas logo após a infecção viral, também ativam respostas sistêmicas, incluindo febre e aumento da ativação das células T. O IFN-γ é um interferon tipo II e age ativando macrófagos e células mieloides a sofrerem diferenciações (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 121 Os micróbios e os tecidos danificados liberam substâncias químicas específicas que atuam como potentes quimioatrativos de neutrófilos, macrófagos e, em uma resposta mais tardia, de linfócitos. Além disso, os basófilos e os mastócitos liberam histamina, e os fagócitos que já se encontram no local de infecção liberam substâncias químicas denominadas citocinas. Essas substâncias químicas constituem um grupo diverso de pequenas proteínas solúveis que regulam a intensidade e a duração das respostas imunes, desempenhando funções específicas nas defesas do hospedeiro, incluindo a ativação decélulas envolvidas na resposta inflamatória – as quimiocinas, pequenas proteínas semelhantes às citocinas que estabelecem um “caminho” iluminado quimicamente para atrair fagócitos adicionais ao local de infecção, além de ativá-los. Os fagócitos seguem o seu percurso até esse local por quimiotaxia, ou seja, pelo movimento de células em direção a um estímulo químico (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Alguns patógenos podem escapar dos fagócitos interferindo na quimiotaxia. Acredita-se que esse fato ocorre porque estes microrganismos não liberam as quimiocinas que atraem os fagócitos até o local de infecção (BLACK, 2020). Associadas com o fator de necrose tumoral-α (TNF-α), as quimiocinas induzem os neutrófilos e monócitos, através de um gradiente crescente, que então se ligam às selectinas da superfície de células endoteliais que revestem os capilares (próximos à infecção) e estimulam os leucócitos a expressarem moléculas de adesão (“velcro molecular”). Essas modificações nas proteínas de superfície dos leucócitos, principalmente neutrófilos e monócitos, permitem à célula aderir e migrar lentamente através do revestimento endotelial e, em seguida, extravasar através da parede capilar para o local da invasão, através de diapedese (Figura 2) (LEVINSON, 2011; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Neutró�lo Rolamento Ativação Adesão Diapedese Endotélio ativado Tecido TNF-α histaminas Quimiocinas Figura 2 – Diapedese de neutrófilos em resposta a sinais inflamatórios Fonte: adaptada de Murray, Rosenthal, Pfaller (2017). 122 Descrição da Imagem: a figura é dividida ao meio horizontalmente por cinco estruturas esféricas achatadas, contendo uma outra estrutura arredondada em seu interior, ligadas entre si, representando as células endoteliais. Acima da primeira célula, da esquerda para a direita, existe uma estrutura redonda com algumas esferas dentro dela e um desenho mais escuro sem formato definido, identificado como neutrófilo. Adiante, o neutrófilo aparece mais abaixo, associado à segunda célula por três estruturas em formato de “Y” e identificado como “rolamento”. Adiante, aparece o neutrófilo mais achatado, em formato mais oval, ligado à terceira célula endotelial, identificado como “ativação”. Na próxima célula, o neutrófilo encontra-se mais achatado e ligado a mais estruturas em formato de “Y”. Acima dessa imagem, está escrito “adesão”, e abaixo, “endotélio ativado”. Ao lado dessa escrita encontram-se as palavras “TNF-α, histaminas, quimiocinas” com uma seta apontando para a quarta célula. Em seguida, o neutrófilo é representado por uma estrutura alongada, com um estrangulamento central, passando entre a quarta e a quinta célula. Acima dessa imagem, está escrito “diapedese”. Abaixo de tudo, está escrito “tecido”. Para que você compreenda de maneira mais simplificada, a seguir estão expostos os principais mediadores que afetam leucócitos polimorfonucleares durante a RII: • Fator de Necrose Tumoral (TNF): ativa as capacidades fagocítica e letal de neutrófilos e aumenta a síntese de moléculas de adesão por células endoteliais. O principal representante desse mediador inflamatório é o TNF-α, liberado principalmente pelos macrófagos. • Fatores quimiotáticos de neutrófilos, basófilos e eosinófilos: atraem seletivamente cada tipo celular. • Fator de inibição de leucócitos: inibem a migração de neutrófilos, de forma análoga ao fator de inibição da migração (LEVINSON, 2011). IMPORTANTE Após a chegada dos fagócitos ao local de infecção, os antígenos infecciosos aderem à membrana plasmática das células fagocitárias. A aderência é facilitada pela fixação dos PAMPs dos microrganismos aos RRPs (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; BLACK, 2020). Nesse ponto, vale a pena lembrar que essa ligação (PAMPs-RRPs), além de sinalizar o início da fagocitose, também induz os fagócitos a liberarem mais citocinas, que recrutam fagócitos adicionais para o local. O processo de adesão ocorre com facilidade com alguns microrganismos, e estes são rapidamente fagocitados. Por outro lado, o processo de fagocitose de outras bactérias é acelerado por meio do processo de opsonização, que resulta da cobertura dos micróbios com certas proteínas do soro que promovem a fixação do microrganismo ao fagócito. Essas proteínas, denominadas opsoninas, incluem alguns componentes do sistema de complemento e moléculas de anticorpos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 123 O sistema complemento (SC) é composto por proteínas séricas ou plasmáticas produzidas majoritariamente pelos macrófagos no fígado (células de Kupffer). São descritas três vias do sistema complemento, elas apresentam similaridades e diferenças quanto ao seu processo de ativação. No entanto elas resultam nas mesmas proteínas e funções (Figura 3) (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Ligação das proteínas do complemento a uma superfície celular ou microbiana ou a um anticorpo Via Alternativa Via Clássica Via das Lectinas Formação de C3-convertase Clivagem de C3 Formação da C5-convertase Microrganismo C3 C3 C3b C3b C3b C3b C3b C3b C3a C4 C2 C4 C2 Anticorpo lgG C1 C4b C4b C4b C4b C4b C4b C4b C4b C 2a C 2a Manose Lectina ligadora de manos Bb Bb Bb C3- convertase MASP1 MASP2 2a 2a 2a 2a 2a 2aC3- convertase C3- convertase C5 C5- convertase C5- convertase C5- convertase C5a C5a C5a C5b C5b C5b C3 C3 C3b C3b C3b C3b C3a C3a C5 C5 Figura 3 – Apresentação das vias clássicas, alternativa e das lectinas evidenciando as diferenças na ativação e formação de C3 e C5 convertases Fonte: adaptada de Abbas, Lichtmann e Pillai (2019). Descrição da Imagem: na figura, podem ser observadas três colunas evidenciando as três vias do sistema complemento. No canto superior esquerdo, está representada a via alternativa. É possível observar uma estrutura de cor amarelo claro que representa um microrganismo evidenciando dois sítios de ligação na cor marrom. Nesses sítios de ligação, está se ligando a proteína C3, representada por um retângulo laranja. A etapa subsequente pode ser visualizada no centro da lateral esquerda da imagem, mostrando a estrutura de cor amarelo claro, expondo 124 seus sítios de ligação na cor marrom disponível para a ligação da molécula C3 representada pelo retângulo laranja sendo quebrado por outro retângulo de cor roxa que representa o fator Bb, o fragmento menor de C3a é liberado e está sendo representado por uma estrutura na forma de triângulo, de cor laranja. Esse processo configura a formação da convertase C3. Ao final do processo, ocorrerá a clivagem de outro C3, mostrando a estrutura de cor amarelo claro, expondo seus sítios de ligação na cor marrom, disponível para a ligação da molécula C3, que adentra na mesma estrutura formada previamente, ligada agora em C3b, representado pelo retângulo laranja, Bb representado por um retângulo roxo e uma nova molécula de C3 se ligando, novamente, na forma de um retângulo laranja, sendo quebrado e liberando o fragmento C3a na forma de triângulo. O novo fragmento C3b está representado também por um retângulo laranja. Ao final do processo representado no canto inferior esquerdo, a estrutura de cor amarelo claro, expondo seus sítios de ligação na cor marrom, está ligada aos dois retângulos de cor laranja, representando as moléculas C3b, ligadas ao retângulo roxo, representando Bb e possibilitando a entrada de outro retângulo de cor amarela, indicando a proteína C5. No centro da imagem, está esquematizada a via clássica. É possível observar uma estrutura de cor amarelo claro que representa um microrganismo evidenciando dois sítios de ligação na cor marrom. Neles, se ligam dois anticorpos representados por uma pequena estrutura na forma de Y na cor roxa. Nesses anticorpos, liga-se outra estrutura maior, na forma de um trevo, de cor azul marinho. Nessa última estrutura, duas proteínas estão se ligando, sendo elas C4, na forma de um retângulo verde, e a proteína C2, na formade um retângulo amarelo. Ambas as proteínas sofrem modificação, e na parte central da imagem podemos ver a formação de C4b representado por um retângulo verde e C2a na forma de um retângulo laranja. Essas duas estruturas se ligam a outra estrutura maior, de cor amarelo claro, que representa um microrganismo evidenciando dois sítios de ligação na cor marrom, ligados a dois anticorpos representados por uma pequena estrutura na forma de Y na cor roxa, ligados a outra estrutura maior, na forma de um trevo, de cor azul marinho, acoplados a C4b, representado por um retângulo verde, e C2a, na forma de um retângulo laranja. Nessa mesma região, pode ser observada a proteína C3 se ligando e sendo modificada, a estrutura C3b na forma de retângulo permanece e a estrutura C3a na forma de um triângulo é liberada. Na etapa final, representada no canto inferior médio da imagem, é possível observar uma estrutura de cor amarelo claro que representa um microrganismo evidenciando dois sítios de ligação na cor marrom. Neles, se ligam dois anticorpos representados por uma pequena estrutura na forma de Y na cor roxa. Nesses anticorpos, liga-se outra estrutura maior, na forma de um trevo, de cor azul marinho. Nessa última estrutura, duas proteínas estão se ligando, sendo elas C4b na forma de um retângulo verde e a proteína C2a, na forma de um retângulo amarelo, possibilitando a entrada de outro retângulo de cor amarela, indicando a proteína C5. No canto superior direito, está sendo representada a via das lectinas. É possível observar uma estrutura de cor amarelo claro que representa um microrganismo evidenciando dois sítios de ligação na cor marrom, indicando manoses. Neles, se ligam uma na forma de um trevo, de cor azul marinho, com duas microesferas bilaterais, de cor verde, representando cada uma delas, as estruturas MASP1 e MAPS2. Nessa última estrutura, duas proteínas estão se ligando, sendo elas C4 na forma de um retângulo verde e a proteína C2, na forma de um retângulo amarelo. Ambas as proteínas sofrem modificação, e na parte central da imagem podemos ver a formação de C4b representado por um retângulo verde e C2a na forma de um retângulo laranja. Essas duas estruturas se ligam a outra estrutura maior, de cor amarelo claro, que representa um microrganismo evidenciando um sítio de ligação na cor marrom, ligados a uma estrutura maior, na forma de um trevo, de cor azul marinho, interagindo com C4 representado por um retângulo azul. Este último, por sua vez, 125 é modificado, originando outro retângulo de cor verde indicando agora o C4b. O mesmo trevo, de cor azul marinho, interagindo com C2 representado por um retângulo laranja, é modificado, formando outro retângulo de cor laranja, representado por C2a. Na parte central da figura, observa-se uma estrutura de cor amarelo clara que representa um microrganismo evidenciando um sítio de ligação na cor marrom, indicando manoses. Neles, se ligam uma estrutura na forma de um trevo, de cor azul marinho, com duas microesferas bilaterais, de cor verde, representando cada uma delas, as estruturas MASP1 e MAPS2. Nesta última estrutura, duas proteínas estão presentes, a C4b representado por um retângulo verde e C2a na forma de um retângulo laranja. Nessa mesma região, pode ser observado a proteína C3 se ligando e sendo modificada, a estrutura C3b na forma de retângulo permanece e a estrutura C3a na forma de um triângulo é liberada. Na etapa final, representada no canto inferior na lateral direita da imagem, é possível observar uma estrutura de cor amarelo clara que representa um microrganismo, evidenciando um sítio de ligação na cor marrom, indicando manoses. Neles, se ligam uma estrutura na forma de um trevo, de cor azul marinho, com duas microesferas bilaterais, de cor verde, representando cada uma delas, as estruturas MASP1 e MAPS2. Nesta última estrutura, três proteínas estão presentes, a C4b representado por um retângulo verde e C2a na forma de um retângulo laranja e C3b na forma de retângulo laranja, possibilitando a entrada de outro retângulo de cor amarela, indicando a proteína C5. As anafilotoxinas (C3a, C4a e C5a) promovem a inflamação tecidual ao se ligarem em receptores específicos C3aR e C5aR. Por outro lado, as opsoninas (C3b, C4b e C5b) se ligam a receptores do complemento (CR) e realizam uma espécie de “marcação” no antígeno para serem fagocitados por células fagocíticas. Para facilitar o seu entendimento, didaticamente, imagine que a proteína do complemento é um “selo”, o antígeno é uma “carta” e a célula do sistema imune o “carteiro”. Nesse contexto, podemos pensar que assim como a “carta” só tem seu destino de entrega a partir do momento que o “carteiro” reconhece corretamente o “selo”, o sistema imune tem função semelhante. As células só conseguem saber se o anticorpo precisa eliminar o antígeno se ele estiver “marcado para morrer” por essas preciosas proteínas. Além das proteínas que fazem a marcação, existem outras que promovem citólise (destruição) a partir da formação do complexo de ataque à membrana (CAM ou MAC), mediado pela organização de proteínas estruturais de superfície chamadas de C5b, C6, C7, C8 e C9 (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Em conjunto, essas proteínas visam à destruição dos microrganismos e impedem que ocorram danos excessivos aos tecidos do hospedeiro. De forma comum, as três vias (clássica, alternativa e das lectinas) apresentam o mesmo complexo enzimático, chamado de convertase-3 (C3), que promove a “quebra” de zimogênios (proenzimas) inativos, que, ao serem ativados, promovem citólise, inflamação e opsonização. No entanto, para formar C3, existem algumas particularidades em cada via, e essas diferenças serão apresentadas na Figura 3 (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 126 A via clássica é a única dependente da presença de anticorpos, especificamente de dois tipos: IgM ou IgG. Eles se fixam aos antígenos, formando, assim, estruturas denominadas complexos antígeno-anticorpo. Após a ligação, esse complexo se liga e ativa C1 (estrutura molecular contendo diferentes proteínas, sendo duas moléculas de C1q e C1s, respectivamente e duas moléculas de C1r. Cada molécula C1 possui a capacidade de dividir outras moléculas chamadas C2 e C4, constituindo assim um importante mecanismo de amplificação na cascata do Sistema Complemento (Figura 3) (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Posteriormente, C2 é clivada nos fragmentos C2a e C2b, e C4 é clivada gerando os fragmentos C4a e C4b. Os fragmentos C2a e C4b, por sua vez, se combinam e formam a C3 convertase. Esse complexo irá clivar proteoliticamente (quebra) C3 (que entra na via) em fragmentos C3a e C3b, o fragmento C3b irá se ligar posteriormente a convertase-5 (C5), e a sua principal função será destruir microrganismos que apresentam lipopolissacarídeos (Figura 3 e 4) (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Em contrapartida, a via alternativa não depende de anticorpos para ser ativada, sua função está relacionada com o rápido combate de infecção frente a bactérias infectantes. Sua ativação ocorre a partir do primeiro contato com o antígeno. A molécula C3 se combina com outras proteínas do complemento, chamadas de “fator B, P e D”, formando o complexo C3-convertase. Sequencialmente, esse complexo interage com outra molécula C3, a qual é clivada proteoliticamente (quebrada) em fragmentos C3a, que participa de processos inflamatórios, e C3b, promovendo a “opsonização”, conforme já descrito na via clássica. Posteriormente, esse fragmento C3b irá se ligar covalentemente a convertase-5 (C5) (Figura 3 e 4). A via das lectinas é ativada contra infecções bacterianas e fúngicas. Usualmente, ela entra em ação, sendo ativada após os macrófagos realizarem a fagocitose de bactérias, vírus e outros antígenos, além de serem importantes no processo de secreção das citocinas (proteínas reguladoras do sistema imune). Essas moléculas estimulam o fígado a produzir as lectinas (proteínas que se ligam a superfície de células bacterianase fúngicas e que apresentam em sua superfície açúcares do tipo manose e glicose. A principal lectina secretada é do tipo ligadora da manose (MBL). Quando a lectina MBL se liga à superfície de uma célula infectada ou doente, ela atua como opsonina e ativa C2 e C4, as quais serão clivadas, liberando C2a e C2b. A molécula C2a permanece na via, paralelamente, C4 é clivada proteoliticamente em C4a e C4b, essa última permanece na via e se liga a C2a e em conjunto ativam C3 (Figura 3). Dessa forma, após a clivagem, ocorrerá a formação e liberação dos elementos clivados: C3a (anafilotoxina) e C3b (opsonina). Esta última irá se ligar, posteriormente, à convertase-5 (C5) (Figuras 3 e 4). 127 In�amação C5- convertase C5a C6 C6 C6 C7 C8 C9 Poli-C9 C5 C5 C5b C5b C3b C3b C3b C3bBb Bb Lise celular C7 C7C8 C8 Membrana plasmática Complexo de ataque à membrana (MAC) Figura 4 – Representação do processo de citólise na via alternativa mediado por C5-convertase Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2015). Descrição da Imagem: representa a formação do complexo de ataque à membrana. Na imagem, é possível observar uma célula do hospedeiro, representada por um grande retângulo. A porção basal da célula está representada na cor bege. A porção apical da célula representa a membrana plasmática. A porção apolar da membrana está voltada para a parte basal da célula. A porção polar está representada por pequenas esferas, de cor verde claro, voltada para o exterior. Sobre a membrana, especificamente na lateral direita da imagem, observa-se a formação da C5 convertase. Três proteínas na forma de retângulos podem ser visualizadas, C3b na cor laranja, Bb na cor roxa e C3b na cor laranja. Essas proteínas possibilitam a ligação de C5, também na cor laranja, a qual interage com as proteínas de sustentação, modificando C5. Na próxima etapa, as três proteínas na forma de retângulos podem ser visualizadas, C3b na cor laranja, Bb na cor roxa e C3b na cor laranja. Elas modificam C5, também na cor laranja, que libera o fragmento C5a, também na cor laranja o qual deixa seu local de origem e migra para fora da célula, causando inflamação. Já o fragmento C5b representado também pela cor laranja e posicionado na área central da imagem, se liga às proteínas C6 na cor verde, C7 na cor laranja, C8 na cor azul. A interação destas proteínas atrai outro complexo proteico, chamado C9, na forma de um cano, composto por cinco subunidades e representados pela cor verde. A etapa final evidência no canto direito da imagem o fragmento C5b representado pela cor laranja ligando-se às proteínas C6 na cor verde, C7 na cor laranja, C8 na cor azul. O canudo de cor verde, se liga diretamente em C5b, atravessando a membrana e sendo inserido dentro da célula. Esse processo indica que o complexo de ataque à membrana será formado e a célula está sendo destruída. Com exceção de C9, todas as proteínas apresentam formato retangular. 128 Após a formação de C3b, ocorrerá processo de citólise com a formação do CAM, esse processo ocorrerá da mesma forma nas três vias. Após a formação de C3, com liberação de C3b, ocorre a formação da convertase-5 (C5), na sequência, ocorre a clivagem proteolítica em C5a e C5b, essa última se liga em C6, C7 e C8 que se fixam na membrana do “agente” invasor, possibilitando que a cauda poli-9 promova a formação do CAM que “perfura” a membrana e permite a entrada de líquido extracelular (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Durante o processo de opsonização, as proteínas C3b, C4b ou C5b vão se ligar na membrana da célula, enviando sinais para as células fagocitarias (neutrófilos ou macrófagos), as quais apresentam receptores e promovem a fagocitose. As anafilotoxinas induzem o mastócito a liberar as moléculas como a histamina, dessa forma, ocorre o aumento da permeabilidade vascular e a contração da musculatura lisa do pulmão. Esse fenômeno é muito comum nos processos alérgicos e, normalmente, os principais gatilhos são medicamentos, pólen, pelos e, principalmente, alimentos, e podem ser fatais se causarem uma reação anafilática, que estudaremos posteriormente (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). É importante pensar também na regulação do SC. Quando se faz necessário inativar o complemento, ou seja, imagine você que a infecção foi combatida e o antígeno eliminado em sua totalidade. As células saudáveis do hospedeiro regulam o SC, elas possuem ácido siálico (carboidrato característico dos eucariotos) e expressam proteínas regulatórias que inibem a ativação do complemento. Dessa forma, impedem que ocorram “danos” às células saudáveis do hospedeiro. Esse processo garante o retorno à homeostasia e, apresenta direta relação com a expressão de proteínas de superfície para reconhecimento daquilo que é próprio ou não próprio em nosso organismo e que iremos estudar no próximo tópico. Se esse processo não ocorrer com eficiência, o hospedeiro pode morrer quase que instantaneamente, após alguns minutos. Um exemplo da desregulação do SC são as reações alérgicas (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Sugerimos a leitura do artigo “Sistema Imunitário – Parte I - Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória”. O sistema imunológico é constituído por uma rede de órgãos, células e moléculas, e tem por finalidade manter a homeostase do organismo, combatendo as agressões em geral. A imunidade inata caracteriza-se pela rápida resposta à agressão. Aproveite a leitura e aprofunde seu conhecimento sobre a RII. DICAS 129 Após a aderência, uma parte da membrana plasmática dos fagócitos envolve a partícula, por meio de pseudópodes, para formar um vacúolo citoplasmático, denominado fagossomo, em torno do microrganismo. Esse vacúolo funde-se com os lisossomos (macrófagos) ou grânulos (neutrófilos), formando um fagolisossomo, para permitir a inativação e digestão do conteúdo do vacúolo (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Os lisossomos contêm enzimas digestivas e substâncias bactericidas (defensinas) que, ao serem liberadas no fagolisossomo, provocam orifícios nas membranas celulares dos microrganismos e a digestão de praticamente todas as moléculas biológicas com as quais entram em contato. O material não digerível que sobrou dentro do vacúolo passa ser chamado de corpo residual e é excretado pela célula (Figura 5) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; BLACK, 2020). Além da proteção inata ofertada para o hospedeiro, a fagocitose tem um papel importante na imunidade adaptativa. Os macrófagos ajudam as células T e B a realizarem funções adaptativas imunes vitais (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Pseudópode Lisossomos Citoplasma Formação do fagolisossomo Corpo residual Excreção Digestão Fagossomo Ingestão Células bacterianas Aderência Membrana plasmática do fagócito Material não digerido A B Figura 5 – Fagocitose de duas células bacterianas por um neutrófilo Fonte: Black (2020, p. 1329). Descrição da Imagem: há duas imagens identificadas como A e B. A imagem A, localizada no canto superior à esquerda, é uma micrografia eletrônica contendo duas bactérias em formato de bastonetes unidas sendo envolvidas por projeções de membrana da célula. A imagem B, que compõem o espaço restante da figura, é um grande círculo com duas áreas de descontinuidades, uma do lado esquerdo e outra do lado direito, representando uma célula. Iniciando pelo lado esquerdo, abaixo, é possível ver uma estrutura de bastonete ligada ao círculo, exemplificando a aderência da bactéria na célula. Mais acima, há uma área de descontinuidade que abre duas projeções que englobam dois bastonetes associados que representam duas bactérias. Desse local, cai uma seta, dando sentido ao aumento de tamanho, que aponta para a imagem A. Ainda 130 nesse local, há uma seta no exterior da célula apontando que as bactérias estão entrando e uma seta saindo das bactérias para dentro da célula, escrito ingestão, e que apontapara uma estrutura oval contendo as bactérias dentro dela, que é o fagossomo. Acima do fagossomo, existem três esferas com pontilhados dentro, sendo indicadas como lisossomos. Tanto dos lisossomos como do fagossomo saem setas direcionadas à direita que indicam os lisossomos sendo incorporados na membrana do fagossomo, se tornando uma única estrutura, e no seu interior, os bastonetes estão estourados. Essa estrutura é o fagolisossomo. Dessa estrutura, sai uma nova seta, direcionada à direita e na diagonal abaixo, que indica novamente uma estrutura ovalada com pequenos fragmentos em seu interior e indicado como corpos residuais. Uma outra seta, novamente direcionada à direita e na diagonal abaixo, aponta para uma invaginal da membrana da célula, que representa a fusão do fagolisossomo com a membrana plasmática, e a saída dos fragmentos de dentro da célula. Ao lado desta ilustração, está escrito “excreção”. Por fim, uma seta que aponta apenas para os fragmentos fora da célula, onde está escrito, ao lado, “material não digerido”. É importante salientar, também, que alguns microrganismos são capazes de “escapar” de vesículas fagocíticas no citosol e produzir toxinas que lesionam a membrana plasmática da célula do hospedeiro, entre elas, as membranas endossomais, possibilitando que inúmeras moléculas microbianas invadam o citosol, desencadeando, assim, efeitos maléficos ao organismo. Esses poros também podem afetar, negativamente, a concentração de moléculas endógenas, em especial, a concentração iônica. No citoplasma, os íons são necessários como sinais confiáveis frente a um processo de infecção e dano, e são detectados pelos receptores citosólicos (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2017). Além do processo de fagocitose intracelular, alguns micróbios, como vírus e vermes parasitas, são mortos sem serem ingeridos pelos fagócitos, mas são destruídos extracelularmente por produtos secretados por células de defesa. Devido ao tamanho de um verme (helminto), os neutrófilos e macrófagos não conseguem englobá-los, então, os eosinófilos excretam enzimas tóxicas que podem danificar ou perfurar o helminto. Após sua morte, os macrófagos podem então fagocitar seus fragmentos (BLACK, 2020). Outro exemplo são os vírus, que são intracelulares obrigatórios. A célula responsável por sua destruição intracelular é a célula natural killer (NK). Embora não se conheça o mecanismo exato de sua ação, acredita-se que as NK reconhecem glicoproteínas específicas na superfície da célula infectada por vírus, provavelmente provenientes do envoltório dos vírus. Nesse caso, as células NK secretam proteínas citotóxicas que provocam a morte da célula infectada (BLACK, 2020). 131 Em um processo infeccioso, os granulócitos, principalmente os neutrófilos, predominam nos estágios iniciais da infecção, mas morrem rapidamente. Apesar da curta vida dos neutrófilos nos processos infecciosos, eles promovem a inflamação no local por meio da liberação de prostaglandinas e leucotrienos, que aumentam a permeabilidade vascular, causando inchaço (edema) e estimulando os receptores de dor. Os macrófagos aparecem em fase mais tardia, depois que os granulócitos desempenharam suas funções. Eles são muito mais fagocíticos e são grandes o suficiente para fagocitar o tecido e células que tenham sido destruídos, bem como os microrganismos invasores (MURRAY, ROSENTHAL, PFALLER, 2017; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). À medida que as células fagocitárias se acumulam no local da lesão e começam a ingerir bactérias, elas liberam enzimas líticas, que podem causar dano às células saudáveis adjacentes (BLACK, 2020). Retornamos a falar sobre o corte em seu dedo feito com a folha de sulfite. Algumas horas após a lesão, o local se tornou quente, avermelhado, inchado e dolorido, correto? Isso significa que está ocorrendo uma inflamação. Podemos definir inflamação como sendo a resposta de defesa do corpo ao dano tecidual causado por infecção microbiana, por agentes físicos (como calor, energia radiante, eletricidade ou objetos pontiagudos) ou por agentes químicos (ácidos, bases e gases). É um mecanismo de defesa precoce para conter a infecção, que tem como finalidade destruir o agente causador, se possível, e removê-lo do corpo com seus derivados, evitando a sua propagação a partir do foco inicial, ativar respostas imunes subsequentes e reparar ou substituir o tecido afetado. Nessa reação, acontecem sinais e sintomas clássicos caracterizados pelo calor, rubor (vermelhidão), edema e dor no local (TORTORA, FUNKE, CASE, 2017; MURRAY, ROSENTHAL, PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Quando ocorre algum sinal de perigo, como o dano às células, os basófilos e mastócitos liberam histamina, podem provocar vasodilatação causando aumento na permeabilidade dos capilares que, consequentemente, faz com que a pele ao redor da ferida se torne avermelhada e quente. Como as paredes dos vasos são mais permeáveis, os líquidos deixam o sangue e se acumulam ao redor das células lesionadas, causando edema (inchaço). Através da circulação sanguínea aumentada no local, há o estímulo da leucocitose, ou seja, um aumento no número de leucócitos no sangue, maior migração dessas células para a lesão, maior liberação de citocinas, como quimiocinas, prostaglandinas e TNF-α, que também provocam a vasodilatação e o edema da inflamação (TORTORA, FUNKE, CASE, 2017; MURRAY, ROSENTHAL, PFALLER, 2017 BLACK, 2020). A dor na inflamação pode ser causada por dano ao nervo, irritação por toxinas ou pressão do edema. Vale lembrar que todas as células da RII possuem receptores para TNF-α, sendo ativadas para produzir mais TNF-α, intensificando a resposta inflamatória (Figura 6) (TORTORA, FUNKE, CASE, 2017). 132 LESÃO/INFECÇÃO INFLAMAÇÃO Dano tecidual To xinas Enzimas lisossomais Mastócito MAC Fagocitose PMN QUIMIOTAXIA PERMEABILIDADE VASCULAR ADESÃO Vaso sanguíneo Plaquetas Complemento PMN MONO Figura 6 – Etapas e eventos do processo imunológico de inflamação Fonte: adaptada de Playfair e Chain (2013). Descrição da Imagem: ilustração que inicia com as palavras “lesão/infecção”, seguida de uma seta direcionada para a direita apontando a palavra “inflamação”. Abaixo das palavras, há uma linha representando a limitação da pele. Das palavras “lesão/infecção”, saem duas setas direcionadas para baixo da linha, apontando para um losango com duas estruturas tipo bastão em seu interior. Ao lado direito, abaixo da palavra “inflamação” e da linha, é visível uma protuberância vermelha. Abaixo disso, há um grande retângulo com as extremidades arredondadas. Na parte superior do seu interior, à esquerda, está escrito “dano tecidual” com uma seta apontada à direita e outra abaixo. À direita, a seta indica uma estrutura esférica descrita como mastócito. Acima do mastócito, existem vários pequenos bastões entrando no retângulo, representando bactérias invasoras. Abaixo das bactérias, está escrito toxinas e enzimas lisossomais, com setas que remetem à palavra “dano tecidual” novamente. A seta que sai dessas palavras para baixo, aponta para um cilindro identificado como vaso sanguíneo. Há um cilindro menor dentro do vaso sanguíneo caracterizando uma vista interna do local. Na superfície superior desse cilindro menor, temos pequenos losangos, unidos por suas extremidades maiores, que estão identificados como plaquetas. A palavra “complemento” está escrita ao lado direito de “plaquetas” e sai uma seta 133 apontando para os losangos. Mais à direita, temos uma estrutura ovoide, os neutrófilos, seguida de uma seta que direciona para cima, onde encontra-se a superfície do vaso sanguíneo. Na ponta da seta, é possível ver o neutrófilo representado por uma estrutura alongada, com um estrangulamento central, passando entre as plaquetas e saindo do vaso sanguíneo. Em seguida, uma nova seta sai dessa célula, direcionada acima e à direita, mostrando o neutrófilo novamente oval no tecido, seguido de uma seta indicando a palavra “fagocitose”. Nesselocal, no vaso sanguíneo, está escrito “permeabilidade celular”. À direita, após o neutrófilo, tem nova estrutura ovoide, o monócito. Este também tem seta direcionado para a parede do vaso sanguíneo, sendo representado por uma estrutura alongada, com um estrangulamento, passando entre as plaquetas e saindo do vaso sanguíneo. Acima, está escrito “quimiotaxia”. Conforme discutido anteriormente, quando alcançam uma área infectada, os fagócitos destroem os microrganismos invasores por fagocitose. Nesse processo, muitos dos próprios fagócitos morrem. O acúmulo de fagócitos e células mortas ou danificadas, e dos detritos dos organismos ingeridos forma um líquido branco ou amarelado denominado pus, e sua formação geralmente continua até que a infecção diminua. Muitas bactérias levam à formação dessa secreção, entretanto não é característica de infecções virais. O acúmulo de pus em uma cavidade formada pelo tecido danificado é denominado abscesso. Os furúnculos e as espinhas são tipos comuns de abscessos (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017; BLACK, 2020). Frequentemente associada à inflamação, ocorre a febre, que consiste no aumento da temperatura corporal. A febre desempenha várias funções benéficas ao organismo, em especial, limita ou impede o crescimento de vários microrganismos, elevando a temperatura corporal acima da temperatura ótima para o crescimento de muitos patógenos, sobretudo os vírus. A febre pode, ainda, elevar a eficiência da RI, aumentando a velocidade das reações químicas que ocorrem no corpo e, consequentemente, intensificar a fagocitose, aumentar a produção de interferon antiviral, intensificar a degradação dos lisossomos, entre outros. Entretanto, a febre também é responsável por fazer com que o paciente se sinta doente e, assim, o indivíduo tende a repousar, evitando maior dano ao organismo e economizando energia para combater a infecção (MURRAY, ROSENTHAL, PFALLER, 2017; BLACK, 2020). Você acaba de aprender que a febre é muito importante na luta contra as infecções. Mas você sabia que pessoas idosas têm dificuldade de apresentar febre? Isso torna-se uma desvantagem na luta contra infecções. INTERESSANTE 134 Apesar da fagocitose e de toda resposta do SII serem efetivos para contribuir para a resistência inata, eliminando micróbios invasores e prevenindo doenças infecciosas, a imunidade inata não é suficiente para a sobrevivência humana. Há ocasiões em que existe a necessidade da ativação da resposta imune adaptativa. Nesse momento, os macrófagos e as células dendríticas, principalmente, ajudam na ativação das células T e B para que realizem funções adaptativas imunes vitais (LEVINSON, 2011; MURRAY, 2017, TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Finalizamos a sexta unidade deste livro discutindo as principais características da resposta imune inata. Você pôde conhecer e classificar os componentes celulares e humorais e caracterizamos as suas funções, bem como a cooperação entre as moléculas produzidas, o reconhecimento via receptores e a resposta efetora. No próxima, discutiremos a terceira linha de defesa, com ênfase nos seus componentes e nas suas fases de ativação que resultaram na especificidade e na memória da RIA. Título: Imunologia Celular e Molecular Autor: Abul K. Abbas, Andrew H. Lichtman e Shiv Pillai Editora: Elsevier Sinopse: o mais requisitado e recomendado livro-texto de Imunologia. Esse livro traz uma introdução clara, bem escrita e ricamente ilustrada do sistema imunológico e oferece foco clínico prático com as informações recentes e emergentes sobre células imunológicas. Imunologia Celular e Molecular aborda as implicações da ciência imunológica para o manejo de doenças humanas, sempre enfatizando sua relevância clínica. Além disso, o livro fornece descrições altamente visuais e coloridas dos principais processos imunológicos e moleculares, com um programa artístico totalmente atualizado, abrangente e consistente. Há, ainda, as atualizações do começo ao fim do livro, incluindo imunologia de tumores (antígenos tumorais, imunoterapia do câncer), pontos de controle imunológicos, sensores citosólicos de DNA, inflamassomos não canônicos, priorização como um mecanismo de sinalização, defeitos monogênicos na imunidade e muito mais. DICAS Você já percebeu que os idosos tendem a ficar mais doentes do que os adultos jovens? Estudos relatam que 0,4% dos idosos ingerem bebida alcoólica com regularidade e, destes, 10-20% abusam desse consumo. O consumo do álcool associado ao envelhecimento pode influenciar no agravo de doenças nessa população? Venha descobrir em nosso podcast do Tópico 3. DICAS 135 Agora que finalizamos, vamos verificar os principais itens que discutimos nesta unidade e de que forma se relacionam. Para isso, propomos a criação de um mapa mental/diagrama, para que você que identifique os principais conceitos, estruturas, mecanismos de ação e demais itens discutidos aqui. Sugiro que inicie reforçando a conceituação e diferenciação dos termos definidos no decorrer desta unidade e, posteriormente, esquematize a ordem de eventos e os pontos principais que ocorrem na resposta imune inata. 136 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A caracterização da resposta imune inata e, com base nessa caracterização, as células e moléculas sinalizadoras. • As sinalizações mediadas por receptores e outras moléculas chamadas de componentes humorais. • Ao entender os mecanismos de ação da RII, será possível compreender a causa e as consequência de diversas doenças humanas, além de proporcionar o ingresso em pesquisas em busca de prevenção de patologias. 137 AUTOATIVIDADE 1 Para o sistema imune inato, ao reconhecer e sinalizar, frente a um agente agressor chamado de antígeno, se faz necessária a sinalização mediada por receptores de reconhecimento de padrão. A respeito desses receptores, analise as afirmativas a seguir: I- Os receptores do tipo PAMP se localizam na membrana plasmática e reconhecem açúcares. II- Os receptores do tipo NLR se localizam nas vesículas endocíticas e reconhecem DNA e RNA. III- Os receptores do tipo CLR se localizam na membrana plasmática e nas vesículas endossomais de células fagocíticas. IV- Os receptores do tipo PAMP se localizam no citosol e na membrana plasmática de neutrófilos. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) Apenas I e II. b) ( ) Apenas II e III. c) ( ) Apenas I. d) ( ) Apenas II, III e IV. e) ( ) Nenhuma alternativa está correta. 2 O processo de fagocitose é uma importante função do sistema imunológico, pois, a partir de sinalizações com receptores, os antígenos são reconhecidos, internalizados e digeridos. Com relação ao processo de fagocitose, é correto afirmar que as células que apresentam essa função são: a) ( ) Macrófagos e mastócitos. b) ( ) Linfócitos e mastócitos. c) ( ) Eosinófilos e monócitos. d) ( ) Macrófagos e neutrófilos. e) ( ) Basófilos e neutrófilos. RESUMO DO TÓPICO 3 138 3 O sistema complemento é formado por diversas proteínas que desempenham um papel importante na defesa e inflamação do hospedeiro. A ativação do complemento resulta na oposição dos patógenos e sua remoção pelos fagócitos, bem como na lise celular. A ativação inadequada do complemento e as deficiências do complemento são a causa subjacente da fisiopatologia de muitas doenças. Com relação às características das proteínas do sistema imune, analise as afirmativas a seguir: I- As anfilotoxinas como C3b e C5a promovem inflamação tecidual. II- A formação do CAM está relacionada à função de citólise do complemento. III- As opsoninas C2b e C3b “marcam” os antígenos para as células fagocíticas. IV- A via clássica do sistema complemento é dependente de anticorpos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas I e II. b) ( ) Apenas II e III. c) ( ) Apenas I e III. d) ( ) Apenas II e IV. e) ( ) Apenas III e IV. REFERÊNCIAS 139 REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Riode Janeiro: Elsevier, 2019. AYRES, A.R.G. Noções de imunologia: sistema imunológico, imunidade e imuni- zação. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2017. BEUTLER, B. Innate immunity: an overview. Mol Immunol., v. 40, n. 12, p. 845-59, 2004. BLACK, J. G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 10. ed. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segu- rança do paciente: higienização das mãos. 2022. Disponível em: https://www.anvisa. gov.br/servicosaude/manuais/paciente_hig_maos.pdf. Acesso em: 12 fev. 2022. CARBONNELLE, E. et al. 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Acesse o QR Code abaixo: 143 TÓPICO 1 — RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA (RIA) UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste Tópico, você será apresentado às principais características da resposta imune adaptativa ou adquirida (RIA). Serão apresentadas as relações entre linfócitos B e T, seus respectivos receptores BCR e TCR e a importância dessa sinalização para o curso da RIA. Será detalhado o processo de reconhecimento de antígenos, ativação e proliferação dos linfócitos, resultando na secreção dos anticorpos e os processos de contração e homeostasia com retorno às condições padrão de antes da infecção e formação de células de memória disponíveis para reinfecções pelo mesmo antígeno. Com relação aos antígenos, iremos discutir suas principais características, natureza química e a sinalização deles na RII e RIA e a relação deles com o período de janela imunológica de transição padrão referido como 12 horas. Acadêmico, você já deve ter percebido que o nosso corpo é capaz de responder de formas diferentes a um mesmo tipo de antígeno. Por exemplo, se você for contaminado com SARS-CoV-2, conhecido como o vírus causador da Covid-19, você pode desenvolver a doença de forma assintomática ou apresentando todos os sinais e sintomas. Será que o nosso organismo apresenta especificidade e memória contra os antígenos? Como ocorrem esses fenômenos imunológicos? Como o anticorpo produzido pode contribuir para tal fenômeno? Os receptores das células imunes são similares aos de outras células do corpo humano? E a resposta imune inata, ela auxilia neste processo? Quais elementos celulares e humorais inatos auxiliam de forma significativa essa resposta “mais elaborada e eficiente”? Você já pensou se a resposta a antígenos presentes em alimentos, fármacos e toxinas são reconhecidos da mesma forma e pelos mesmos receptores nas respostas imunes inatas e adaptativas? Além das duas primeiras linhas de defesa apresentadas anteriormente e referentes à resposta imune inata, o nosso sistema imunológico dispõe de uma terceira linha de defesa conhecida como resposta imune adaptativa ou adquirida, que se divide em dois componentes, chamados de “celulares e humorais”. O componente celular é composto pelos linfócitos B e T. Os linfócitos B produzem as proteínas conhecidas como anticorpos, que eliminam os antígenos. Quando o antígeno é proteico, o linfócito B necessita da “ajuda” do linfócito TCD4+ para ser ativado, se transformar em plasmócitos e secretar anticorpos (componentehumoral). Quando se trata de antígenos glicídico, lipídicos ou ácidos nucleicos, o linfócito B é capaz de reconhecê-los sozinhos utilizando seus receptores BCR, se tornam plasmócitos que produzem anticorpos. 144 Além de ativar o linfócito B, o linfócito TCD4+ conhecido como “auxiliar” pode se diferenciar em outros fenótipos chamados de “T helper” e produzir as citocinas (componente humoral) pró-inflamatórias ou anti-inflamatórias que cooperam com as células da imunidade inata e os linfócitos TCD8+. Por outro lado, os linfócitos TCD4+ também podem se diferenciar em células T regulatórias “TREGs” que suprimem a resposta imune inata ou adaptativa quando elas não são mais necessárias. Os linfócitos TCD8+ conhecidos como citotóxicos (CTLs) apresentam funções semelhantes às células NK discutidas nas unidades anteriores. Eles secretam e eliminam potentes enzimas chamadas de perforinas e granzimas, que destroem a célula contaminada com antígeno e estão envolvidas na ativação de mecanismos de apoptose. Além disso, também secretam citocinas que sinalizam com células da resposta imune inata e linfócitos T auxiliares. Quando você pensa em uma resposta mais elaborada, especializada e com formação de células de memória, como você imagina que este processo ocorre? E no caso de doenças autoimunes? Já parou para pensar quais são as características imunológicas relacionadas ao desenvolvimento do diabetes melito do tipo 1 (DM- tipo 1 ou DM-1), e qual seria a relação do processo de tolerância imunológica com o desenvolvimento da DM-1? Nesse contexto, convido você a fazer uma pesquisa sobre a relação da imunidade adaptativa com a Covid-19 e a DM-tipo 1. Durante essa pesquisa, analise os principais pontos relacionados à imunidade adaptativa frente ao vírus e a doença autoimune, anote no diário de bordo os principais elementos encontrados, pois vamos falar disso no decorrer da nossa unidade. Acadêmico, o que você pôde perceber durante a sua pesquisa acerca do DM- tipo 1 e da Covid-19? Você percebeu que a natureza química e estrutural dos antígenos ou até mesmo com relação à sinalização dos componentes celulares e humorais da resposta imune adaptativa apresentam muitas similaridades? Tanto na Covid-19 quanto na DM-tipo 1 existe um padrão de respostas especializadas dependentes de linfócitos B e T, e seus receptores BCR e TCR promovendo o reconhecimento de antígenos e a ativação e proliferação dos linfócitos, secreção dos anticorpos e retorno às condições padrão com formação de células de memória. Será que isso é benéfico em ambos os casos? No caso da Covid-19, a formação de células de memória é fundamental para um quadro de reinfecção. Por outro lado, na DM-1, as células de memória são prejudiciais por se tratar de uma doença autoimune que destrói as ilhotas beta pancreáticas, causando inflamação do pâncreas, redução da secreção de insulina e aumento da glicemia sanguínea. Não se preocupe caso você não encontre nenhum dos mecanismos apresentados anteriormente, pois nós iremos trabalhar com este conteúdo no decorrer desta unidade. Por isso, preste muita atenção enquanto você estiver estudando e se apropriando dos novos conhecimentos. 145 Você deve pensar na resposta imunológica comparada a um exército no qual cada soldado apresentará uma função específica, auxiliando, inclusive, outros soldados. O nosso sistema imunológico é composto por três linhas de defesa que se “conversam” através de moléculas e receptores que reconhecem esses sinais. Estas três linhas de defesa estão agrupadas, inicialmente, em dois tipos de respostas imunológicas: a resposta imunológica inata (RII) ou não específica e a resposta imune adaptativa (RIA) ou específica, sendo esta responsável pela produção de anticorpos e células de memória chamadas de linfócitos. Essa resposta é muito especial, é por causa dela que o nosso organismo é capaz de se lembrar futuramente e se defender contra um antígeno com o qual já entrou em contato em algum momento de sua vida e possibilitou a produção dos anticorpos que atuam na defesa da maioria dos agressores em nosso organismo. É nessa resposta que podemos citar as vacinas como agentes que estimulam a memória e a especificidade, ou seja, se você for vacinado em algum momento contra a SARS-CoV-2 (agente etiológico da Covid-19), possivelmente você não desenvolverá a doença, e caso a desenvolva, será de uma forma mais branda. Em resumo, você irá desenvolver células de memória e produzir anticorpos contra o vírus e, no caso de uma reinfecção, o seu sistema imunológico é “instruído” molecularmente pelas células de memória, estimulando a produção de anticorpos eliminando o vírus de forma organizada e precisa. Todas as nossas células, tecidos, receptores e moléculas imunológicas apresentam uma íntima e organizada relação, atuando em parceria, a fim de eliminar e bloquear qualquer molécula ou substância estranha. Na imunologia, os corpos estranhos são denominados antígenos, e tudo aquilo que for reconhecido como próprio em nosso organismo como, por exemplo, as nossas proteínas, lipídios e carboidratos, será chamado de molécula “própria” ou “self”. Por outro lado, quando seu corpo detectar alguma molécula que seja geneticamente diferente, elas serão chamadas de moléculas não próprias ou “não self”. O reconhecimento “self e não self” está ligado às principais diferenciações entre a especificidade e memória observadas na RIA. A especificidade se refere à capacidade de expressão de receptores especializados que reconhecem e respondem a certos tipos de antígenos e direcionam respostas elaboradas de acordo com a natureza química ou molecular do antígeno, já a memória se compreende a habilidade da RIA em gerar anticorpos e células de memória que garantem rapidez e eficiência em uma próxima infecção pelo mesmo agente infeccioso (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). A RIA é subdividida em resposta celular (RIA-C) e resposta humoral (RIA-H). A RIA-C é composta basicamente por linfócitos B e T, e a RIA-H por citocinas (proteínas pró e anti-inflamatórias e anticorpos) produzidos pelos linfócitos B ativados. Existem diferentes linhagens de linfócitos T que apresentam funções especializadas de acordo com o seu fenótipo de diferenciação, em especial os linfócitos T auxiliares (TCD4+) são 146 capazes de produzir citocinas frente aos antígenos e alterar o seu fenótipo TCD4+ em outras linhagens chamadas de T helper (TH). Estes linfócitos produzem citocinas que são capazes de estimular a proliferação e diferenciação de outras células, inclusive do linfócito B produtor de anticorpos, e de células da RII como os macrófagos e as células dendríticas (figura 1). Reconhecimento do antígeno Funções efetoras Linfócito B Linfócito T auxiliar Microrganismo Anticorpo Neutralização do microrganismo, fagocitose, ativação do complemento Ativação de macrófagos Inflamação Ativação (proliferação e diferenciação) de linfócitos T e B Supressão de outros linfócitos Morte da célula infectada Antígeno microbiano apresentado pela célula apresentadora de antígeno Célula infectada expressando antígeno microbiano Linfócito T regulador Linfócito T respondedor Linfócito T regulador Célula T citotóxica (CTL) Figura 1 – Relação dos componentes celulares e humorais da resposta imune adaptativa Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Descrição da Imagem: quatro desenhos que representam a relação dos componentes celulares e humorais da resposta imune adaptativa. Na parte superior da imagem do lado esquerdo está escrito “Reconhecimento do Antígeno”, e do lado direito, “Funções Efetoras”. No primeiro desenho na parte superior, do lado esquerdo, está escrito “Linfócito B”, à frente, há o desenho de uma estrutura circular com cinco pontas na cor marrom e o desenho de uma estrutura circular maior com três pontas em formato de Y na cor roxa, entre esses dois desenhos há o sinal de mais (+), abaixo do primeiro desenho está escrito “Microrganismo”.Desse desenho, sai uma seta na cor 147 azul para o lado direito indicando uma estrutura oval, com núcleo redondo na cor roxa. Ao lado há três estruturas em forma de Y na cor roxa, em uma delas há duas estruturas redondas na cor marrom ligadas nas suas extremidades. Abaixo desse desenho, está escrito “Anticorpo”. Ao lado desse desenho, na parte superior, há o desenho de uma estrutura em formato de Y com duas estruturas circulares marrons, ligadas as suas extremidades, a estrutura em forma de Y está ligada a uma estrutura circular verde com núcleo. Abaixo, há o desenho de uma estrutura azul com quatro pontas, essas pontas estão ligadas às estruturas Y com estruturas marrons ligadas nas extremidades. Do lado direito há um quadrado, e dentro dele está escrito “Neutralização do microrganismo, fagocitose, ativação do complemento”. No segundo desenho, abaixo, do lado esquerdo, está escrito “Linfócito T auxiliar”, à frente, há o desenho de uma estrutura circular com bordas irregulares, com núcleo, ligada a três estruturas na cor verde, uma dessas estruturas está ligando-se a uma estrutura na forma de Y que está localizada na superfície de uma estrutura circular com núcleo na cor vermelha e com três estruturas em Y na sua superfície. Abaixo, está escrito “Apresentação do antígeno microbiano pela célula apresentadora de antígeno”. Desses desenhos, sai uma seta para a direita indicando para o desenho de uma estrutura circular com núcleo na cor vermelha e com três estruturas em Y na sua superfície e, ao lado desse desenho, há o desenho de dois aglomerados de bolinhas amarelas, acima está escrito “Citocinas”. Do segundo aglomerado, saem quatro setas azuis, a primeira seta indica uma estrutura circular com bordas irregulares e com núcleo na cor verde, a segunda seta indica uma estrutura circular com bordas irregulares na cor rosa e com núcleo trilobado, a terceira seta indica três estruturas circulares com núcleo na cor vermelha e com três estruturas em Y na sua superfície e a quarta seta indica três estruturas circulares com núcleo na cor roxa e com três estruturas em Y na sua superfície. Do lado direito, na parte superior, está escrito “Ativação dos Macrófagos”. Abaixo, está escrito “Inflamação”, e mais abaixo, está escrito “Ativação (proliferação e diferenciação) de linfócitos T e B”. No terceiro desenho, abaixo, do lado esquerdo, está escrito “Célula T Citotóxica (CTL)”, à frente, há o desenho de uma estrutura circular disforme com bordas irregulares e com núcleo na cor amarela, em seu interior há uma estrutura circular marrom com cinco pontas e, na sua superfície, três estruturas na cor amarela, uma dessas estruturas está se ligando a uma estrutura em forma de Y na cor azul, pertencente a uma estrutura circular com núcleo e grânulos e com três estruturas em formato de Y na sua superfície e, acima desse desenho, está escrito “Célula infectada expressando antígeno microbiano”. Desse desenho, sai uma seta indicando outro desenho do lado direito, uma estrutura circular com núcleo e grânulos e com três estruturas em formato de Y na sua superfície ligada a uma estrutura circular disforme com bordas irregulares e com núcleo na cor amarela, em seu interior há uma estrutura circular marrom com cinco pontas e na sua superfície a três estruturas na cor amarela, os grânulos da estrutura azul estão sendo liberados. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de uma estrutura circular com bordas disformes na cor amarela e ao lado uma estrutura circular com cinco pontas na cor marrom, ao lado está escrito “Killing da célula infectada”. No quarto desenho abaixo do lado esquerdo está escrito “Linfócito T regulador” a frente há o desenho de uma estrutura circular com núcleo na cor vermelha e com três estruturas em Y na sua superfície, acima está escrito “Linfócito T regulador” e abaixo está escrito “Linfócito T respondedor”, desse desenho sai uma seta indicando do lado direito três estruturas circulares com núcleo na cor vermelha e com três estruturas em Y na sua superfície, acima da seta há o desenho de uma estrutura circular com núcleo na cor laranja e com três estruturas em Y na sua superfície, desse desenho, sai um traço na horizontal e, na sua ponta, há um traço na vertical. Do lado direito das três estruturas vermelhas, está escrito “Supressão dos linfócitos”. 148 Também existem os linfócitos TCD8+ que são chamados de citotóxicos (CTLs) (Figura 1). Eles eliminam as células ou antígenos por meio da liberação de enzimas e ativam mecanismos de morte celular. Com relação a sua funcionalidade, essas células apresentam características semelhantes às células NK, que vimos anteriormente. A principal função dos CTLs é eliminar as células infectadas por vírus ou outro tipo de antígeno estranho, ou, ainda, atacam e destroem células tumorais ou metastáticas em nosso organismo. Figura 2 – A ativação do linfócito B na presença de antígenos proteicos CÉLULAS B E CÉLULAS T célula T CD4+ auxiliar antígeno Célula B interleucina célula B de memória anticorpo plasmócito CÉLULA T ATIVADA fagócito antígeno antígeno vírus célula T CD4+ auxiliar MORTE DA CÉLULA INFECTADA célula infectada CTLs perforina e granzima destruindo a célula infectada Fonte: adaptada de https://images.theconversation.com/files/469064/original/file-20220615-18-ejjivp.jpg?i- xlib=rb-1.1.0&q=45&auto=format&w=1000&fit=clip. Acesso em: 1 out. 2023. Descrição da Imagem: quatro desenhos que ilustram a ativação do linfócito B na presença de antígenos proteicos. Na parte superior da imagem, está escrito “Células B e Células T”. Abaixo, do lado esquerdo, há o desenho de uma estrutura circular de bordas vermelhas irregulares com núcleo na cor azul clara. Acima dessa célula, está escrito “Célula T CD4+ auxiliar”. Essa célula está ligada a outra célula no formato circular de bordas na cor azul escura irregulares com núcleo na cor azul clara. Acima dessa célula, está escrito “Célula B”, a ligação é através de estruturas em 149 formato de Y nas superfícies de ambas, a estrutura em formato de Y da célula T é de cor rosa e a da célula B é na cor azul. Na superfície da célula B, há outra estrutura na forma de Y na cor azul. Nela, há uma estrutura redonda na cor verde ligada. Acima dessa estrutura, está escrito “Antígeno”. Da célula T, sai uma seta indicando para baixo um aglomerado de dez bolinhas na cor vermelha, abaixo, está escrito “Interleucina” e, dessas bolinhas, sai uma seta indicando a célula B. Do lado direito da célula B, saem duas setas, uma indicando para cima o desenho de uma estrutura redonda com bordas irregulares e núcleo na cor azul clara, do lado, está escrito “Célula B de memória”. A outra seta indica para uma estrutura oval na cor laranja que, em seu interior, possui um núcleo oval, uma estrutura em forma de Y e quatro traços, ao lado dessa estrutura está escrito “Plasmócito”. Dessa estrutura, sai uma seta indicando para cima um aglomerado de seis estruturas em forma de Y na cor amarela, do lado, está escrito “Anticorpo”. Na parte inferior, há dois desenhos, um do lado esquerdo e outro do lado direito. No lado esquerdo, está escrito “Célula T ativada”, abaixo, há o desenho de uma estrutura oval com bordas irregulares na cor amarela, com núcleo oval na cor laranja, acima, está escrito “Fagócito”, dentro dessa estrutura, há um círculo na cor verde, sobre essa estrutura, do lado direito, há o desenho de um círculo verde e, ao longo de toda sua superfície, possui estruturas na forma de Y na cor rosa. Abaixo, no canto esquerdo, há o desenho de um círculo grande na cor verde e, ao longo de sua superfície, possui estruturas no formato de Y na cor rosa, ao lado, está escrito “Vírus”, desse, sai uma seta indicando para cima o círculo verde sobre o fagócito. Do lado direito, há o desenho de uma estrutura circular azul com bordas irregulares na cor roxa, núcleo azul com bordas roxas, abaixo, está escrito “Célula T CD4+ auxiliar”, na superfície dessaestrutura, do lado esquerdo, há uma estrutura na forma de Y na cor rosa, e essa estrutura está ligada a um círculo verde que está sobre a estrutura oval do lado esquerdo. Um pouco acima, há outro círculo verde. Acima, está escrito “Antígeno” e, dessa escrita, saem duas setas indicando os círculos verdes descritos. No lado direito, está escrito “Morte da célula infectada”, abaixo, há o desenho de uma estrutura circular com bordas irregulares na cor azul clara, em seu interior, há um núcleo redondo na cor laranja e três círculos verdes, abaixo, está escrito “Célula infectada”. Do lado direito, há o desenho de uma estrutura circular azul com bordas irregulares na cor roxa, núcleo azul com bordas roxa, abaixo, está escrito “CTLs”, na superfície dessa estrutura, do lado esquerdo, há uma estrutura na forma de Y na cor rosa, essa estrutura está ligada a um círculo verde que está entrando na célula infectada do lado esquerdo. Um pouco acima, há outro círculo verde, acima, está escrito “Antígeno”, e dessa escrita saem duas setas indicando os círculos verdes descritos. Da CTLs, sai uma seta indicando para baixo um aglomerado de bolinhas na cor rosa, abaixo, está escrito “perforina e granzima destruindo a célula infectada”. Desse aglomerado, sai uma seta indicando para cima a célula infectada. O mecanismo de ação dos CTLs envolve a liberação de enzimas chamadas “perforinas e granzimas” que perfuram e destroem as células contaminadas pelo antígeno (Figura 2). Os linfócitos TCD4+ auxiliares cooperam com os CTLs na eliminação dos vírus. Esse processo ocorre especialmente quando um macrófago faz a apresentação de antígeno para essa célula, que passa a produzir citocinas que ativam os CTLs (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 150 Com o avanço da compreensão das interações entre os cânceres e o sistema imunológico, a imunoterapia contra o câncer ganhou cada vez mais força como um tratamento promissor. O sistema imunológico desempenha um papel fundamental na vigilância e rejeição de tumores. Muitos cânceres são adeptos da supressão das funções antitumorais do sistema imunológico e evadir respostas imunes. A imunoterapia modula a atividade do sistema imunológico para promover suas funções antitumorais e superar a imunossupressão. A imunidade ao câncer é um processo cíclico de interações entre o tumor e o sistema imunológico. Idealmente, leva a uma resposta antitumoral eficaz sem desenvolver autoimunidade ou imunossupressão (BOONE et al., 2022). A lise tumoral pode ser induzida por células imunes citotóxicas ou por terapias contra câncer, incluindo radiação, quimioterapia ou intervenções guiadas por imagem minimamente invasivas, como ablação, quimioembolização ou radioembolização. Com a lise tumoral, as células do tumor danificado liberam antígenos associados ao tumor no microambiente tumoral, induzindo inflamação local e ativando a resposta imune inata. As células apresentadoras de antígenos (APCs) processam e transportam os TAAs para a drenagem nos linfonodos (BOONE et al., 2022). Nesse cenário, um dos principais focos da imunoterapia atual é potencializar a atividade dos CTLs dentro de um tumor, para promover a eficácia dos CTLs nos tecidos linfoides e para estabelecer uma imunidade antitumoral durável e eficiente (FARHOOD et al., 2019). Os linfócitos TCD4+ auxiliares contribuem diretamente para ativação da célula B quando o antígeno apresentado for de natureza proteica. Nesse sentido, a célula B ativada se torna um “plasmócito” secretor de anticorpos que neutralizam e eliminam os agentes infecciosos e, ao final do “combate”, uma pequena quantidade de plasmócitos se tornam células de memórias que serão utilizadas novamente no futuro em caso de reexposição ao mesmo antígeno. Os linfócitos TCD4+ auxiliares podem também se diferenciar em outro fenótipo celular chamado de linfócitos “T regulatórios” (TREGs). Essas células são muito importantes para o funcionamento do sistema imunológico adaptativo, são elas que inibem as respostas imunológicas quando elas não são mais necessárias. Didaticamente, pense nelas como sendo “as gerentes” do sistema imunológico, elas “monitoram” se os linfócitos estão trabalhando de forma correta e especializada. Caso não estejam, elas os “eliminam”. Todas as células T apresentadas anteriormente dispõem de um tipo de receptor especializado, denominados de receptor de célula T (TCR), ele confere especificidade para o linfócito e, nessa região, ocorre a ligação ao antígeno, sendo apresentado por uma célula da RII. Esse receptor, em termos estruturais, se apresenta configurado morfologicamente como “anticorpo” (parece com a letra Y). Em termos funcionais, esse receptor é formado por proteínas associadas na sua superfície celular, denominadas “CD3”. 151 Quando os linfócitos T auxiliares ou citotóxicos são estimulados por antígenos especialmente de natureza proteica, eles serão ativados e irão sofrer diferenciação, assim dependendo da especificidade da célula o TCR, e um dos correceptores CD4 e/ou CD8 vão promover uma cascata de sinalização. Os linfócitos T só reconhecem antígenos processados e necessariamente apresentados pelas moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) expressas na superfície das células apresentadoras de antígenos (célula dendrítica ou macrófago). Visualmente, quando você observa a estrutura do TCR, é possível identificar a sua expressão na membrana do linfócito, associado ao complexo CD3. Esse último é formado por cinco diferentes proteínas da família das imunoglobulinas. Funcionalmente, devemos sempre lembrar que a principal função desse receptor é promover o reconhecimento do MHC, ao passo que o complexo CD3 realiza a sinalização celular, enviando sinais de transcrição para o núcleo linfocitário, promovendo a proliferação dos linfócitos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Em uma infecção por SARS-CoV-2, por exemplo, o vírus é capaz de evitar ou retardar a ativação da RII em humanos. Sem essas respostas, o vírus se replica e a RIA não é ativada adequadamente. Em casos leves de Covid-19, o atraso temporal na ativação da RII é suficiente para resultar em infecção assintomática (~40% das infecções por SARS- -CoV-2 são assintomáticas) ou clinicamente classificadas como uma doença leve (“leve” é uma definição clínica do Covid-19 que significa não requerimento de hospitalização) porque as respostas das células T e dos anticorpos ocorrem de forma relativamente rápida, controlam a infecção e estão associadas à resolução bem-sucedida de casos. Estudos de pacientes com Covid-19 observaram que as respostas de células T específicas para SARS-CoV-2 estão significativamente associadas a doenças mais leves, sugerindo que as respostas das células T podem ser importantes para o controle e resolução de uma infecção primária por SARS-CoV-2 (SETTE; CROTTY, 2021). INTERESSANTE Para melhor compreensão da relação RII x RIA, precisamos nos atentar à diferenciação das respostas imunológicas, definir termos e apresentar peculiaridades dessas estruturas, especialmente dos antígenos. Tais moléculas são conhecidas por todos como os “corpos estranhos” ou “agentes infecciosos”, ou “agentes patogênicos”. Normalmente, são moléculas particuladas associadas ou não às bactérias, fungos, vírus, protozoários ou até mesmo remanescentes de restos celulares destruídos do hospedeiro. Os antígenos são reconhecidos por receptores de antígenos estimulando a ativação da RII e RIA. É por meio desses receptores que nosso sistema imune consegue julgar se os conjuntos de carboidratos, lipídios e proteínas são self (próprios) ou não self (não próprios do organismo). Esse mecanismo é chamado de “tolerância imunológica”. 152 Nós iremos estudar melhor esse processo quando formos trabalhar com as doenças autoimunes. A priori, para você entender esse processo, podemos pensar que o nosso sistema imune é “apresentado” às nossas macromoléculas. Se não houver reações direcionadas contra os nossos “antígenospróprios”, podemos dizer que houve tolerância imunológica e, dessa forma, não ocorre destruição do nosso tecido saudável, porém, se houver reação imune direcionada contra o tecido saudável, ocorrerá a quebra da tolerância imunológica, resultando em inflamação exacerbada e desenvolvimento de doença autoimune. Um exemplo clássico de quebra da tolerância imunológica é o desenvolvimento da diabetes melito tipo 1. Trata-se de uma doença autoimune resultante do ataque de células da RII e RIA contra o pâncreas, especificamente contra as ilhotas beta pancreáticas. Isso ocorre, normalmente, na adolescência ou na vida adulta “jovem”, por conta da expressão de fatores genéticos e ambientais, e resulta na falha da produção de insulina, levando ao acúmulo de glicose não metabolizada. O processo de imunopatogênese da doença se inicia quando a APC apresenta o antígeno proteico (autoantígeno) capturado (no caso, proteínas da ilhota beta pancreática) e ativa o linfócito B, que se diferencia em plasmócito que gera anticorpos contra as ilhotas. Paralelamente, os linfócitos T auxiliares liberam citocinas que ativam os CTLs, os quais destroem as ilhotas através da liberação de suas enzimas e ativação de mecanismos apoptóticos. Nesse caso, as células TREGs não são capazes de inibir tais mecanismos de ocorrerem. Outras células da RII, como os neutrófilos, células NK e macrófagos, também atacam as ilhotas, resultando em destruição celular, falhas na secreção de insulina e aumento na concentração de glicose sanguínea, configurando a hiperglicemia. A pessoa se torna insulinodependente para o resto de sua vida (DIMEGLIO et al., 2018). Além dos autoantígenos, existem os antígenos chamados de “alérgenos” que provocam reações alérgicas, ou seja, se você se alimenta de frutos-do-mar, as estruturas proteicas presentes desse ativam uma resposta alérgica local ou sistêmica. 153 Antígeno Plasmócito IgE Mastócito Histamina e citocinas Sintomas Célula B Figura 3 – Mecanismo da resposta alérgica Fonte: adaptada de https://naturopathiccurrents.com/ca/articles/what-is-an-allergy. Acesso em: 1 out. 2023. Descrição da Imagem: ilustração do mecanismo da resposta alérgica. É possível identificar na imagem um fluxo em sentido horário começando do lado esquerdo com o desenho de uma estrutura circular na cor cinza, com espinhos ao longo de sua superfície. Abaixo desse desenho, está escrito “Célula B”, ainda na sua superfície, há uma estrutura na forma de Y na cor azul, ela está ligada a uma estrutura na forma de uma gota na cor verde, e há, ainda, duas estruturas na forma de gota de cada lado, acima, está escrito “Antígeno”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita uma estrutura oval na cor azul clara, dentro dela, há um núcleo oval na cor azul escura e quatro traços na vertical, acima, está escrito “Plasmócito”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita, abaixo, o desenho de três estruturas na forma de Y na cor azul, acima, está escrito “IgE”. Desse desenho, sai uma seta indicando, para baixo, o desenho de uma estrutura oval de bordas irregulares na cor azul que, em seu interior, possui um meio círculo de bordas irregulares na cor marrom e bolas transparentes, na sua superfície, do lado esquerdo, há uma estrutura na forma de Y, na cor azul, abaixo, está escrito “Mastócito”. D desenho, sai uma seta indicando para a esquerda o desenho de uma estrutura oval de bordas irregulares na cor azul. Em seu interior, possui um meio círculo de bordas irregulares na cor marrom e bolas transparentes, na sua superfície do lado esquerdo há uma estrutura na forma de Y na cor azul, na extremidade dessa estrutura há uma estrutura verde ligada. Do lado esquerdo dessa estrutura, há uma abertura e as estruturas transparentes estão sendo excretadas. Abaixo dessas estruturas, está escrito “Histaminas e Citocinas”. Desse desenho sai uma seta indicando, da esquerda para cima, o desenho de um balão na forma de nuvem na cor amarela, e dentro está escrito “Sintomas”. 154 Existem, ainda, os antígenos denominados haptenos, caracterizados por pequenas moléculas naturais (lipídios, peptídeos, lipopolissacarídeos ou nucleotídeos) que quando estão “sozinhas”, não induzem a ativação da resposta imune, elas necessitam de outra proteína carreadora e, assim, se tornam antígenos. Um exemplo seria as respostas desencadeadas por antibióticos como a penicilina que, sozinhos, são haptenos, porém, quando encontram proteínas sanguíneas, se acoplam e estimulam a resposta imune (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). TCR Penicilina Proteína Carreadora Célula dendrítica madura Linfócito TCD4+ Figura 4 – Apresentação de antígenos dos haptenos Fonte: adaptada de HoriI et al. (2015). Descrição da Imagem: desenho ilustrando a apresentação de antígenos dos haptenos. Do lado esquerdo da imagem, há o desenho de uma estrutura circular com sete pontas, abaixo dessa estrutura, está escrito “Célula Dendrítica Madura”. Do lado direito, há uma estrutura quadrada com interior amarelo, abaixo da qual está escrito “Proteína Carreadora”, ligada à célula dendrítica madura. Sobre essa estrutura amarela, há um círculo na cor rosa, abaixo do qual está escrito “Penicilina”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de uma estrutura circular de bordas disformes e com núcleo. Na superfície dessa estrutura, há uma estrutura em formato de Y ligada a uma estrutura quadrada na cor amarela. Ao lado, há o desenho de uma estrutura circular com núcleo, e abaixo, está escrito “Linfócito TCD4+”. Na superfície dessa estrutura, há uma estrutura no formato de Y ligada a um círculo rosa, que se liga à estrutura em formato de Y com quadrado amarelo, acima da qual está escrito “TCR”. O consumo da carne do peixe baiacu pode ser fatal por conta da presença da neurotoxina não proteica tetrodotoxina (TTX). Após o consumo do peixe, a TTX cai na circulação sanguínea, se liga e bloqueia os canais de sódio, alterando o potencial de ação nas membranas das células nervosas e tecidos musculares. A toxicidade da TTX é 100 vezes maior do que o veneno da aranha viúva negra e 10.000 vezes maior do que o cianeto. No momento, não existe nenhum antídoto IMPORTANTE 155 conhecido para combater os efeitos da intoxicação da TTX (TONON et al., 2020). Devido à apreciação e consumo do peixe e considerando sua letalidade, várias pesquisas visam ao desenvolvimento de anticorpos policlonais visando à neutralização da toxina em caso de intoxicação após o consumo da carne do peixe. Basicamente, anticorpos policlonais são criados contra os antígenos haptênicos da TTX complexado com proteínas carreadoras, dessa forma, muitas vidas podem ser salvas em caso de intoxicação (TAKAISHI et al., 2017). Existem também os aloantígenos (Figura 5), antígenos expressos em nível de superfície celular (membranas), que diferem entre os indivíduos da mesma espécie. Imagine um transplante de fígado onde os doadores e receptores precisam ser compatíveis, com intuito de evitar reações cruzadas como resposta da ativação do sistema imune pelos aloantígenos. Portanto, quando o indivíduo transplantado “recebe” parte do fígado, ele recebe os “aloantígenos” do doador. Não se preocupe com os detalhes, nós iremos discutir mais adiante. Figura 5 – Célula dendrítica apresentando um aloantígeno Fonte: adaptada em Hori et al. (2015). TCR Célula dendrítica madura Linfócito TCD4+ Aloantígeno Descrição da Imagem: desenho ilustrando a célula dendrítica apresentando um aloantígeno. Do lado esquerdo da imagem, há o desenho de uma estrutura circular com sete pontas, abaixo da qual está escrito “Célula Dendrítica Madura”. Do lado direito, há uma estrutura quadrada ligada a uma estrutura quadrada na cor azul, acima, está escrito “Aloantígeno”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de uma estrutura circular de bordas disformes e com núcleo. Na superfície dessa estrutura há uma estrutura em formato de Y. Ao lado, há o desenhode uma estrutura circular com núcleo. Abaixo, está escrito “Linfócito TCD4+”. Na superfície dessa estrutura, há uma estrutura no formato de Y que se liga à estrutura em formato de Y da célula anterior, e entre essas duas estruturas, há um quadrado na cor azul. Acima dessa estrutura, está escrito “TCR”. Por último, temos os superantígenos, que são estruturalmente complexos e estimulam uma exacerbada resposta imunológica. Um clássico exemplo é a Síndrome do Choque tóxico causada pela extensiva liberação de enterotoxinas por bactérias Gram-positivas (Figura 6). 156 TCR TMacrófago MHC-peptíd eo (Superantígeno) Proliferação de Ativação Figura 6 – Macrófago apresentando um superantígeno via a expressão do MHC contendo a grande sequência de aminoácidos Fonte: adaptada de Krakauer (2010). Descrição da Imagem: desenho ilustrando um macrófago apresentando um superantígeno via a expressão do MHC. Do lado esquerdo da imagem, há o desenho de uma estrutura disforme grande na cor cinza, dentro da qual está escrito “Macrófago”. Do lado direito dessa estrutura, há uma estrutura com um traço na horizontal e outro traço curvado na vertical. Do lado direito da imagem, há o desenho de uma estrutura circular cinza escuro com um núcleo circular cinza claro. Dentro do núcleo, tem a letra T. Do lado esquerdo dessa estrutura, na sua superfície, há uma estrutura se ligando à estrutura na superfície do macrófago. Acima dessas duas estruturas, está escrito “Superantígeno”. No centro da ligação das duas estruturas, há uma estrutura oval na horizontal, abaixo da qual está escrito “MHC-Peptídeo”. Da estrutura circular, sai uma seta apontando para o lado direito, para a escrita “Proliferação de Ativação”. Existe uma grande cooperação entre a RII e a RIA quando ocorre quebra da homeostasia corporal e algum antígeno infecta as nossas células ou tecidos saudáveis. Esses antígenos podem se apresentar na forma de moléculas de DNA ou RNA ou, até mesmo, serem de natureza glicídica, lipídica e proteica. No início da infecção, entram em ação a primeira e segunda linha de defesa da resposta imune inata. Inicialmente, os antígenos tendem a ser capturados e eliminados. Quanto à sinalização, os antígenos podem ser considerados PAMPs (padrão molecular associados ao patógeno) que iniciam a ativação da resposta imunológica, sendo considerados componentes estruturais, como os carboidratos, lipídios e proteínas. Existem também os DAMPs (danos moleculares associados ao patógeno), que surgem quando já existe infecção ou inflamação em curso, por exemplo, com a formação do pus que exibe partes de células mortas, contendo citoplasma e organelas corrompidas. Tanto os PAMPs quanto os DAMPs estimulam a RII ao se ligarem nos RPPs localizados na membrana plasmática, no citosol e nas vesículas endossomais das células que fazem fagocitose, estimulando a transcrição de fatores de inflamação e citocinas que potencializam a resposta imune. No entanto, quando a RII não consegue eliminar o antígeno em uma janela imunológica de aproximadamente doze horas, ocorre a sinalização via citocinas liberadas pelas células da RII que ativam a RIA-C e RIA-H. 157 A sinalização da RIA frente aos antígenos depende da natureza química e do tipo de estrutura dessas moléculas. Os antígenos de natureza glicídica e lipídica (chamados de resposta a antígenos T-independentes) são reconhecidos diretamente pelo BCR e ativam as células B. Dessa forma, elas se diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos (Figura 10). Esse processo ocorre nos órgãos linfoides secundários, em áreas extrafoliculares, ou seja, fora do folículo linfoides ou nos tecidos linfoides secundários dos tratos gastrointestinal, respiratório e urogenital, gerando células de memória de vida curta. Isso quer dizer que as células de memória produzidas não serão direcionadas para a medula óssea (onde são produzidas novas células B), e em caso de nova reinfecção, o sistema imune não será capaz de “se lembrar” da natureza e origem do antígeno (Figura 7). Figura 7 – O processo de apresentação de antígeno proteico para célula B T-dependente Antígeno proteico Célula T auxiliar Anticorpos com troca de isotipo e de alta a�nidade; células B de memória, plasmócitos de vida longa IgG IgA IgE IgMCélulas foliculares B T-independente Principalmente, IgM, anticorpos de baixa a�nidade; plasmócitos de vida curta IgM IgM Antígeno polissacarídico Células B-1, células B da zona marginal Outros sinais (p. ex.: proteína do complemento) Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Descrição da Imagem: dois desenhos ilustrando processo de apresentação de antígeno proteico para célula B. No primeiro desenho, na parte superior, iniciando do lado esquerdo, está escrito “T-Dependente”, abaixo, está escrito “Antígeno proteico”, e mais abaixo, há o desenho de um emaranhado na cor cinza, ligado a uma estrutura na forma de Y na cor roxa. Essa estrutura está na superfície de uma estrutura circular com núcleo na cor roxa, há mais duas estruturas na forma de Y na sua superfície e, abaixo, está escrito “Células B foliculares”. Dessa estrutura, sai uma seta indicando para a direita uma estrutura circular com núcleo na cor roxa e, em seu interior, há um emaranhado na cor cinza. Na sua superfície, há três estruturas em forma de Y na cor roxa, e uma estrutura na cor verde que está se ligando a uma estrutura circular com núcleo na cor vermelha, com três estruturas na forma de Y na sua superfície. A estrutura verde 158 se liga a uma dessas estruturas em forma de Y e, ao lado dessa estrutura vermelha, está escrito “Célula T auxiliar”. Da estrutura roxa com emaranhado, sai uma seta indicando para a direita o desenho de três estruturas ovais com núcleo na cor roxa e, ao lado, três estruturas em formato de Y, uma abaixo da outra. Ao lado da primeira, está escrito IgG. Ao lado da segunda, está escrito IgA. Ao lado da terceira, está escrito IgE. Acima desse desenho, está escrito “Anticorpos com troca de isotipo de alta afinidade; células B de memória, plasmócitos de vida longa”. O segundo desenho na parte inferior inicia do lado esquerdo, onde está escrito “T-Independente”, abaixo do qual há o desenho de uma estrutura circular com núcleo na cor roxa, que, em sua superfície, possui quatro estruturas na forma de Y, uma do lado esquerdo e três do lado direito, acima das quais estão, do lado direito, bolinhas marrons ligadas nas suas extremidades, e sobre elas passa um traço, acima do qual está escrito “Antígeno polissacarídeo”. Do lado esquerdo das estruturas em forma de Y está escrito “IgM”, abaixo desse desenho está escrito “Células B-1, células B da zona marginal”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de uma estrutura circular com núcleo na cor roxa e, em sua superfície, possui quatro estruturas na forma de Y, uma do lado esquerdo e três do lado direito, acima das quais estão, do lado direito, bolinhas marrons ligadas nas suas extremidades, e sobre elas, passa um traço. Abaixo desse desenho, está escrito “Outros sinais (p. ex: proteína do complemento)”, e dessa escrita sai uma seta indicando para cima o desenho descrito anteriormente. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de duas estruturas ovais com núcleo na cor roxa e, ao lado, há o desenho de cinco estruturas na forma de Y dispostas sobre um pentágono, abaixo do qual está escrito “IgM”. Acima desse desenho, está escrito “Principalmente, IgM, anticorpos de baixa afinidade; plasmócitos de vida curta”. A sinalização da RIA frente aos antígenos proteicos apresenta algumas particularidades. Os antígenos proteicos, também conhecidos como antígenos T-dependentes, se ligam ao complexo BCR na superfície da célula B (a qual expressa a proteína de superfície MHC classe II). A célula B processa o antígeno, apresenta para o linfócito TCD4+ (expressa também a proteína de MHC classe II). Posteriormente, a célula B é ativada, se diferenciando fenotipicamenteem plasmócito secretor de anticorpos. Tal processo ocorre nos folículos linfoides secundários do linfonodo e na polpa branca do baço. Após esse processo, ocorre a formação de células de memória. A RIA é ativada 12 horas após a RII, ou seja, se a RII não for totalmente efetiva para a eliminação dos antígenos, é iniciada uma cascata de respostas divididas em diferentes fases (Figura 11): as três primeiras realizam o reconhecimento dos antígenos, dessa forma, a célula B expressa o receptor BCR e a T o TCR, e verificam se o antígeno é um ácido nucleico, carboidrato, lipídio ou proteína. Na sequência, ocorre a ativação dos linfócitos, que se tornam totalmente “maduros” e, de acordo com o seu mecanismo efetor, promoverão a eliminação do antígeno, configurando a “fase efetor”. Após a eliminação dos antígenos, ocorre o declínio da RIA, e esse processo é chamado de contração, e os linfócitos previamente estimulados morrem por apoptose à medida que o organismo retorna a sua homeostasia. Alguns linfócitos são selecionados para se tornarem “células de memória”, estando disponíveis para a defesa em caso de reinfecção pelo mesmo antígeno (Figura 8). O tempo de resposta pode variar de indivíduo para indivíduo (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 159 Figura 8 – Fases da RIA iniciadas 12 horas após a ativação da RII Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Reconhecimento de antígeno Ativação do linfócito Eliminação do antígeno Contração (homeostasia) Memória Célula apresentadora de antígeno Linfócito T imaturo Linfócito B imaturo Expansão clonal Diferenciação Anticorpos e células T efetoras Apoptose Células de memória sobreviventes Dias após exposição ao antígeno 0 7 14 21 Descrição da Imagem: desenho de um gráfico ilustrando as cinco fazes da RIA. O gráfico é dividido em cinco etapas, descritas na parte superior, e na parte inferior, há uma linha traçada na horizontal, e abaixo há os números zero, sete, 13 e 21. No interior do gráfico, há o desenho de uma curva que começa no número zero, ascende entre os números sete e 14 e despois descende até o número 21, sobre essa curva, há estruturas desenhadas. A primeira etapa está localizada do lado esquerdo, e na parte superior, está escrito “Reconhecimento do antígeno”, Na parte inferior, acima da linha horizontal, há o desenho de três estruturas: a primeira está localizada próxima ao início de uma curva ascendente, ela é circular com núcleo na cor roxa, na sua superfície possui três estruturas na forma de Y, nas extremidades de duas dessas estruturas há círculos com cinco pontas ligados, do lado esquerdo está escrito “Linfócito B imaturo”. A outra estrutura está localizada um pouco acima desta, ela é circular com núcleo na cor vermelha, possui três estruturas na forma de Y na sua superfície, essa estrutura está um pouco mais acima na curva ascendente, do lado direito dessa estrutura está escrito “Linfócito T imaturo”. Do lado esquerdo dessa estrutura, há o desenho de outra estrutura com formato circular, bordas disformes, com núcleo na cor bege, e dentro há também dois círculos brancos com interior marrom. Acima dessa estrutura está escrito “Célula apresentadora de antígeno”, e na superfície dessa estrutura há três estruturas na cor verde, uma dessas estruturas está ligada à estrutura vermelha através da estrutura em forma de Y. Um pouco mais acima, na ascensão da curva, há o desenho de quatro estruturas, duas são circulares com núcleo na cor vermelha e com estruturas na forma de Y na sua superfície, as outras duas são circulares com núcleo na cor roxa e com estruturas na forma de Y na sua superfície, do lado direito dessas estruturas está escrito “Expansão clonal”. Um pouco mais acima, no topo da curva, há o desenho de uma estrutura oval com núcleo na cor roxa, acima desse desenho está escrito “Célula produtora de antígeno”. 160 Acima, do lado direito, há o desenho de duas estruturas no formato de Y na cor roxa, abaixo da célula está escrito “Diferenciação”. Do lado direito, um pouco mais à frente, há o desenho de uma estrutura circular na cor vermelha, com núcleo e três estruturas na forma de Y na sua superfície, acima da qual está escrito “Linfócito T efetor”. Acima desses desenhos, está escrito “Ativação do linfócito”. Essa é a segunda etapa. Do lado direito, está escrito “Eliminação do antígeno”, essa é a terceira etapa. Abaixo, dando continuidade na curva, ainda no topo, há o desenho de duas estruturas pequenas: uma estrutura marrom com cinco pontas ligada a uma estrutura em formato de Y roxa. À frente, iniciando o declínio da curva, há o desenho de uma estrutura circular na cor vermelha, com núcleo e três estruturas na forma de Y na sua superfície. Essa estrutura está ligada a uma estrutura circular na cor verde com núcleo, dois círculos em seu interior e três estruturas na sua superfície. Abaixo dessas estruturas está escrito “Anticorpos e células T efetoras”. Mais abaixo na curva, há o desenho de duas estruturas circulares com bordas disformes e com três bolinhas pretas em seu interior, uma é vermelha e outra é roxa. Abaixo, está escrito “Apoptose”. Acima desse desenho, ao lado das outras escritas, está escrito “Contração (homeostasia)”, essa é a quarta etapa. Ao lado, está escrito “Memória”, essa é a quinta etapa. Abaixo, no fim da curva, há o desenho de duas estruturas circulares com núcleo e três estruturas na forma de Y na sua superfície, uma roxa e outra vermelha, e acima delas, está escrito “Células de memória sobreviventes”. Abaixo da linha horizontal, está escrito, do lado esquerdo, “Dias após a exposição ao antígeno”. Dessa escrita, sai uma seta indicando para o lado direito. Como descrito anteriormente, a apresentação de antígenos é considerada um importante fenômeno imunológico para as respostas imunes inatas e adaptativas. As células dendríticas e os macrófagos são as duas linhagens de células apresentadoras de antígenos (APC) da imunidade inata, ao passo que a célula ou linfócito B atua como APC na imunidade adaptativa. Essas células possibilitam a rápida identificação de proteínas antigênicas causadoras de danos. Essas não são as únicas células capazes de identificar moléculas próprias ou não próprias em nosso organismo. Assim como as APCs, todas as células nucleadas encontradas no organismo de um mamífero fazem esse reconhecimento. Esse processo de reconhecimento ocorre por conta da expressão de um complexo de proteínas chamado complexo maior de histocompatibilidade (do inglês: Major Histocompatibility Complex – MHC). Graças a essa proteína expressa na superfície das APCs e das células nucleadas, o nosso organismo identifica a presença de um vírus, por exemplo. São também essas moléculas de MHC que devem ser suprimidas para a realização de um transplante renal, e posteriormente, para que o enxerto não sofra rejeição. Em ambos os exemplos, ocorre diretamente a ativação dos linfócitos T, que dependem diretamente da expressão de MHC. Diferentes populações de linfócitos T são ativadas de acordo com o tamanho dos peptídeos processados e expressos na superfície de uma APC ou outra célula nucleada. Como mencionado anteriormente, o MHC é caracterizado como uma proteína expressa em superfícies celulares (Figura 9). Essa expressão está intimamente relacionada a sua função codificadora de proteínas de superfície que promovem o reconhecimento dos antígenos apresentados aos linfócitos T (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 161 Contato da célula T com o resíduo de peptídeo Resíduo polimór�co de MHC Resíduo âncora do peptídeo MHC “Bolso” do MHC Receptor da célula T Peptídeo Figura 9 – Proteína MHC expressa nas superfícies celulares Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Descrição da Imagem: desenho ilustrando a proteína MHC. No desenho, há duas estruturas assimétricas posicionadas uma sobre a outra, elas estão encaixadas. A estrutura na parte superior é de cor vermelha e dentro está escrito “Receptor da célula T”. Essaestrutura possui três aberturas, duas redondas nas extremidades e uma quadrada no centro. A estrutura na parte inferior é de cor verde clara, e dentro está escrito “MHC”, ela possui duas estruturas redondas nas suas extremidades, essas estruturas se encaixam nas aberturas redondas da célula vermelha, que também possui uma abertura triangular e outra oval. No encaixe das duas estruturas há uma linha na cor marrom, nas extremidades dessa linha há estruturas em forma de estrela, e dela sai uma estrutura quadrada que se encaixa na abertura da célula vermelha, uma estrutura oval e uma estrutura triangular que se encaixam nas aberturas da célula verde. Ao lado do desenho, está a descrição das estruturas: a estrutura quadrada representa o contado da célula T com o resíduo de peptídeo, as estruturas circulares representam o resíduo polimórfico de MHC, a estrutura oval representa o resíduo âncora do peptídeo, a abertura oval onde ele se encaixa representa o bolso do MHC e as estruturas em forma de estrela representam o peptídeo. Dessa forma, a imunidade adaptativa consegue facilmente distinguir antígenos proteicos próprios e não próprios considerados “agentes agressores” para o organismo. É importante salientar que o processamento de antígenos envolvendo MHC é restrito apenas aos antígenos proteicos, ou seja, se eles forem antígenos do tipo ácidos nucléicos, glicídicos e lipídicos, não ocorre a expressão do MHC (SHARMA et al., 2017). Nos humanos, o MHC é chamado de antígeno leucocitário humano (Human Leukocyte Antigen – (HLA), e se localiza no braço curto do cromossomo 6. Existem variações entre o MHC nos mamíferos, porém existem também similaridades nos alelos dos cromossomos homólogos, isso possibilita que sejam realizados transplantes entre diferentes espécies. 162 Os HLA foram identificados pela primeira vez entre 1958 e 1964, a partir de estudos com anticorpos em humanos após uma transfusão de sangue e estudos com gestantes. Como os anticorpos não reagiram a todos os leucócitos da mesma forma quando testados entre indivíduos da mesma família, percebeu-se desde o início que os genes HLA eram polimórficos. As especificidades detectadas com os anticorpos receberam nomes locais (MAC, 4a, 4b, LA1, LA2) dados por três laboratórios que fizeram as descobertas iniciais. Conforme os pesquisadores começaram a investigar esses antígenos leucocitários polimórficos, a comunidade percebeu a necessidade de trabalhar em conjunto para definir a relação entre os aloantígenos (antígenos entre diferentes indivíduos da mesma espécie), compartilhando reagentes e desenvolvendo ensaios. Esse esforço cooperativo começou em 1964 com o primeiro Workshop Internacional de Histocompatibilidade (HURLEY, 2020). Didaticamente, o MHC pode ser classificado em três tipos: são as classes I, II e III, todavia somente as classes I e II participam do processo de apresentação de antígenos para o linfócito T. A classe III codifica proteínas específicas que participam diretamente na ativação do sistema complemento e outras linhagens proteicas que atuam em mecanismos inflamatórios (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). TCR HLA Antígenos invasores Figura 10 – Representação esquemática do MHC humano - “HLA” Descrição da Imagem: ilustração do MHC humano. Na parte superior, há uma célula cortada ao meio, no formato de meia lua de cor vermelha no núcleo e transparente em volta. Na parte inferior, há outra célula, também cortada ao meio, com núcleo roxo e transparente em volta. Entre essas duas células, há uma estrutura vermelha na superfície da célula inferior ligada a uma estrutura em forma de U na cor branca da célula inferior. Entre essa ligação, há uma estrutura circular na cor verde, do lado direito está escrito TCR. Dessa escrita, sai uma seta indicando a estrutura vermelha. Abaixo, está escrito HLA. Dessa escrita, sai uma seta indicando a estrutura branca. Do lado esquerdo, está escrito “Antígenos invasores”. Dessa escrita, sai uma seta indicando a estrutura verde. Ao redor, há várias estruturas de formato circular e bicôncavas na cor vermelha. Fonte: https://www.nanolab.com.mx/post/la-tipificaci%C3%B3n-del-hla-al-rescate-del-trasplante-renal. Acesso em: 1 out. 2023. 163 O MHC classe I e II apresentam um único sítio de ligação para o peptídeo, assim, diferentes partes de proteínas podem se ligar a uma mesma molécula de MHC, porém apenas uma por vez. O MHC de classe I é expresso em todas as células nucleadas dos mamíferos. Estruturalmente, essa classe é configurada da seguinte forma: 1- Presença de domínio extracelular que se assemelha a estrutura de uma imunoglo- bulina (formato de “Y”), contendo três cadeias alfa-1 (α1), 2(α2), 3(α3) e uma cadeia beta-2 microglobulina. 2- Presença de domínio transmembranar. 3- Presença de domínio citosólico. A fenda de ligação do peptídeo (região que o peptídeo se conecta com o TCR) é localizada no domínio extracelular e pode acomodar peptídeos contendo de seis a dezesseis resíduos de aminoácidos. Esses peptídeos são apresentados apenas para os linfócitos TCD8+ chamados “citotóxicos”. O MHC de classe II pode ser expresso em todas as APCs, em células epiteliais do timo e nas células endoteliais localizadas nos vasos sanguíneos. Estruturalmente, essa classe é configurada da seguinte forma: 1- Presença de domínio extracelular que se assemelha a estrutura de uma imunoglobulina, contém duas cadeias alfa-1 (α1) e 2(α2) e duas cadeias beta 1 (β1) e 2 (β2). 2- Presença de domínio transmembranar. 3- Presença de domínio citosólico. A fenda de ligação do peptídeo (região que o peptídeo se conecta com o TCR) é localizada no domínio extracelular e pode acomodar peptídeos contendo dezessete ou mais resíduos de aminoácidos. Esses peptídeos são apresentados apenas para os linfócitos TCD4+ chamados “auxiliares”. Após o reconhecimento dos antígenos proteicos, ocorrerá o processamento. Nesse sentido, são descritas diferenças e particularidades entre as classes I e II. Na classe I, os antígenos proteicos intracelulares são internalizados pela célula a partir do citoplasma ou quando são fagocitados e capturados pelos fagossomos. Essas estruturas são vesículas que armazenam temporariamente o antígeno e posteriormente realizam sua liberação no citosol, onde, na sequência, ocorre a degradação de proteínas em peptídeo de tamanho reduzido. O processo de degradação ocorre em uma espécie de “cilindro proteico” denominado proteassoma. A sua função é fragmentar os peptídeos maiores em menores, facilitando o transporte destes últimos até o retículo endoplasmático (RE) por meio de uma proteína transportadora chamada “TAP”. Já no interior do RE, as cadeias do MHC classe I começam a ser construídas e, após a sua montagem, os peptídeos fragmentados anteriormente se ligam à fenda de ligação do MHC classe I. Na etapa 164 final, o novo complexo peptídeo-MHC classe I é exocitado (expresso fora da célula que fez o seu processamento) e fundido com a membrana plasmática da célula nucleada. O último estágio do processo compreende a apresentação propriamente dita do antígeno processado para o linfócito TCD8 + citotóxico (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Figura 11 – Representação esquemática dos processamentos citosólicos (classe I) e endocítico (classe II) do MHC Fonte: adaptada de Abbas, Lichtman e Pillai (2019). Captação antigênica Processamento antigênico Biossíntese de MHC Associação peptídeo-MHC Peptídeos no citosol TAP Proteína citosólica MHC de classe I RE Digestão de proteína em proteassomos CTL CD8+ Via do MHC de classe I Via do MHC de classe II Célula T CD4+ Digestão de proteína em endossomos/lisossomos Endocitose de proteína extracelular Cadeia invariante (li) RE MHC de classe II Descrição da Imagem: dois desenhos que esquematizam os processamentos citosólicos e endocítico do MHC. Na parte superior, está escrito, do lado esquerdo, “Captação antigênica” e, ao lado, “Processamento antigênico”. Ao lado destes, “Biossíntesede MHC” e “Associação peptídeo- -MHC”. Abaixo, há o primeiro desenho, do lado esquerdo, há o desenho de um emaranhado na cor cinza, abaixo, está escrito “Proteína citosólica”. Desse desenho, sai uma seta indicando para o lado direito o desenho de uma estrutura cilíndrica de cor roxa e, dentro, uma estrutura cilíndrica fina de cor cinza. Abaixo, está escrito: “Digestão de proteína em proteassomos”. Desse desenho, sai uma seta indicando para o lado direito. Acima da seta, há o desenho de estruturas em forma de gota na cor marrom. Acima, está escrito “Peptídeos no citosol”. A seta indica o desenho de um contorno de cor amarela no formato de H com interior branco. Dentro, está escrito “RE”, do lado direito desse contorno, há uma abertura com duas estruturas na cor rosa, acima, está escrito “TAP”, e as estruturas marrom em forma de gota entram por essa abertura e se ligam a estruturas em forma de M na cor amarela, sendo que ao lado de uma delas está escrito “MHC classe I”. Desse desenho, sai uma seta indicando para o lado direito o desenho de um círculo com borda amarela e interior bege. Dentro, há uma estrutura no formato de M e uma estrutura marrom ligada a ela. Desse desenho, sai uma seta indicando para o lado direito o desenho de uma estrutura circular 165 azul cortada ao meio. Acima dessa estrutura, está escrito “CTL + CD8”, na sua superfície há uma estrutura em formato de Y que se liga às estruturas em formato de M e gota. Abaixo dessa ligação, está escrito “Via do MHC de classe I”. No segundo desenho, na parte inferior, há uma abertura na cor rosa claro, e dentro há o desenho de um emaranhado na cor cinza. Abaixo, está escrito “Endocitose de proteína extracelular”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita um círculo com borda bege, e, em seu interior, há três estruturas em forma de bastão na cor marrom. Acima, está escrito “Digestão de proteína em endossomos/lisossomos”. Desse desenho, sai uma seta indicando para a direita o desenho de uma estrutura em formato de oito, dois círculos ligados. Na parte superior do oito, há o desenho de três estruturas no formato de bastão na cor marrom, na parte inferior, há o desenho de uma estrutura fina e retangular na cor rosa e outra no formato de Y na cor verde. Abaixo da seta há o desenho de uma estrutura sem forma definida, com contorno bege, dentro está escrito “RE”, e há o desenho de duas estruturas em formato de Y na cor verde, e cada uma delas está ligada a uma estrutura fina e retangular na cor rosa que forma um L. Do lado direito, está escrito “Cadeia invariante Li” Dessa escrita sai uma seta indicando a estrutura em forma de L, do lado esquerdo está escrito “MHC de classe II”, dessa escrita sai uma seta indicando a estrutura verde em formato de Y. Desse desenho, sai uma seta indicando a parte inferior do oito. Do desenho em forma de oito, sai uma seta indicando um círculo com contorno bege e, dentro, há o desenho de uma estrutura em formato de Y na cor verde, ligada a uma estrutura marrom em forma de bastão. Desse desenho, sai uma seta indicando para o lado direito o desenho de uma estrutura circular vermelha cortada ao meio, na sua superfície ela possui uma estrutura em forma de Y na cor vermelha, e essa estrutura está ligada à estrutura em formato de Y na cor verde, ligada a uma estrutura marrom em forma de bastão. Acima desse desenho está escrito “Célula T CD4+”, e abaixo, está escrito “Via do MHC de classe II”. O processamento de antígenos para o MHC classe II se inicia quando uma proteína extracelular é internalizada por endocitose. Ao adentrar o interior do citosol, a vesícula endocítica se funde diretamente com os lisossomos, ao passo que as enzimas presentes nessas organelas apresentam baixo pH. Dessa forma, as proteínas são fragmentadas em peptídeos menores. Simultaneamente, no RE, as moléculas da classe II são montadas e permanecem com sua fenda de ligação ao peptídeo estabilizada por uma estrutura chamada cadeia invariante (II). Posteriormente, fora do RE, ocorre a fusão do MHC classe II com o peptídeo. Nesse momento, a cadeia Ii é totalmente removida da fenda e o peptídeo consegue se ligar no lugar da cadeia Ii removida, e o complexo peptídeo-MHC classe II é formado. Na sequência, ocorre a exocitose por meio da fusão da vesícula exocítica, a membrana plasmática da APC (célula apresentadora de antígeno) e a apresentação para o linfócito TCD4+ que, por sua vez, pode se diferenciar em uma resposta mais elaborada com a presença de diferentes padrões de citocinas responsáveis por padrões de respostas mais detalhadas (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). 166 O MHC é muito importante para o reconhecimento imunogenético entre diferentes espécies. Isso ocorre devido ao polimorfismo (variabilidade genética) entre indivíduos da mesma espécie, possibilitando a ligação de uma variedade imensa de peptídeos diferentes à sua estrutura. A função dessa estrutura é possibilitar que o sistema imunológico tenha grande capacidade em responder e sinalizar corretamente contra agentes patogênicos como bactérias, fungos e vírus, eliminando-os (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). O MHC também tem importante papel para a realização de transplantes entre indivíduos da mesma espécie ou entre diferentes espécies, e nós iremos estudar em breve esse processo. É importante salientar que o MHC de cada indivíduo é expresso de forma codominante, ou seja, 50% advêm do pai e 50% da mãe, mesmo assim, os irmãos podem não apresentar 100% de compatibilidade, visto que as variações alélicas são muitas. Porém pode ser que você seja 99% compatível com uma pessoa da Austrália, sem necessariamente serem parentes. Isso é possível por conta das inúmeras combinações genéticas (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2019). Estudante, você está convidado a ouvir a importância do ritmo circadiano para o desenvolvimento das respostas imunológicas e manutenção do sistema imune inato e adaptativo. DICAS Você deve ter percebido que tanto nos estudos referentes à Covid-19 quanto a DM-1, a apresentação dos antígenos ocorreu da mesma forma. Tanto o vírus quanto a ilhota beta pancreática apresentam antígenos “proteicos” que são apresentados pela APC ao linfócito TCD4+, que, por sua vez, também apresenta para o linfócito B produzir “anticorpos”. Em ambos os casos, temos uma sinalização T-dependente, visto que utiliza antígeno proteico e gera anticorpos de vida longa (IgG), o que será discutido no próxima unidade. Esses anticorpos vão atuar de maneiras distintas. No caso da Covid-19, ele será fundamental para destruição do vírus em caso de reinfecção, o que vem sendo amplamente discutido desde 2019, com o início da pandemia. Já na DM-1, o anticorpo tem um papel inverso e maléfico, pois a criação da “memória celular” faz com que tanto linfócitos quanto anticorpos e citocinas destruam ainda mais as ilhotas beta pancreáticas, levando a um quadro hiperinsulinêmico e insulinodependente que se inicia na vida infantil ou jovem do indivíduo. Com as dietas e suplementação adequadas, o profissional de saúde pode auxiliar na imunomodulação positiva do sistema imune de 167 pacientes que apresentam algum tipo de doença autoimune, bem como infectados por vírus. Quando o sistema imune fica hiperativado, ele libera radicais livres e superestimula cascatas inflamatórias. Dessa forma, o paciente precisa que seu corpo retorne ao estado homeostásico padrão. Vamos fechar essa unidade desenvolvendo um mapa mental sobre as principais características relacionadas à RIA e sua relação com a RII e com os antígenos. Para dar uma mãozinha nessa revisão, convido você a produzir o seu próprio mapa mental e esquematizá-lo da forma que julgar mais adequada para seus estudos. Dessa forma, você poderá visualizar, revisar e memorizar todo conteúdo estudado nesta unidade, de uma maneira diferente, colorida e ilustrativa. Sugerimos que utilize diferentes cores e ilustrações para valorizar ainda mais o seu mapa. Então, mãos à obra! 168 RESUMODO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • As características relacionadas aos principais tipos de antígenos, levando em consideração sua natureza química e aspectos estruturais. • As diferenças entre antígenos glicídicos, lipídicos e proteicos no processo de ativação das células B, resultando na formação de plasmócitos de vida curta ou longa, secretores de anticorpos, além de apresentar as principais características do MHC. • As informações necessárias para entender toda a integração entre os componentes celulares e moleculares do sistema imune inato e adaptativo. 169 AUTOATIVIDADE 1 As respostas imunológicas são caracterizadas por uma intensa sinalização entre receptores celulares e componentes humorais que circulam pelo sangue, plasma e outros compartimentos em nosso organismo. Em quais linhas de defesa são produzidos os componentes humorais do sistema imunológico? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Primeira e segunda linha de defesa. b) ( ) Segunda e terceira linha de defesa. c) ( ) Primeira e terceira linha de defesa. d) ( ) Primeira, segunda linha de defesa e terceira linha de defesa. e) ( ) Apenas na terceira linha de defesa. 2 Para o sistema imune inato reconhecer e sinalizar frente a um agente agressor chamado de antígeno, se faz necessária a sinalização mediada por receptores de reconhecimento de padrão. A respeito desses receptores, analise as afirmativas a seguir: I- Os receptores tipo PAMP se localizam na membrana plasmática e reconhecem açúcares. II- Os receptores tipo DAMP se localizam nas vesículas endocíticas e reconhecem RNA. III- Os receptores do tipo TCR se localizam na membrana plasmática das células T. IV- Os receptores do tipo BCR se localizam na membrana plasmática de células B. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas I e II estão corretas. b) ( ) Apenas II e III estão corretas. c) ( ) Apenas III e IV. d) ( ) Apenas II, III e IV estão corretas. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 3 Caio, de cinco anos de idade, foi diagnosticado recentemente com diabetes melito tipo 1. O médico relatou para sua mãe Vanessa que seu filho apresenta uma “falha” no sistema imunológico, que resulta na destruição das células no pâncreas que produzem insulina. Por conta disso, por toda a sua vida, Caio precisará da aplicação de insulina, e se realizar o processo corretamente, ele terá uma vida normal. Com base no termo “falha” do sistema imunológico, é CORRETO afirmar que se trata de: RESUMO DO TÓPICO 1 170 a) ( ) Falhas no processo de tolerância imunológica. b) ( ) Falhas no processo de reconhecimento de antígenos. c) ( ) Falhas no processo de produção de anticorpos. d) ( ) Falhas no processo de ativação de linfócitos. e) ( ) Falhas no processo de formação de células de memória. 4 Eric é médico e trabalha nos serviços de saúde em sua cidade e, durante a pandemia da Covid-19, foi infectado pelo novo vírus SARS-CoV-2 na segunda onda da doença, em janeiro de 2021. Ele apresentou um quadro brando da doença, e se recuperou muito bem. Em maio de 2021, ele foi reinfectado pelo mesmo vírus, porém, dessa vez, ele foi assintomático e descobriu ao acaso, após sua esposa Alana apresentar a doença. Ele fez o teste rápido que constatou a reinfecção. Com base no caso de Eric, indique a provável causa de ele ser assintomático: a) ( ) Provavelmente, ele utilizou anticorpos produzidos na primeira infecção em janeiro. b) ( ) Provavelmente, somente a resposta imune inata havia sido ativada em janeiro. c) ( ) Provavelmente, ele contraiu uma carga menor do vírus, e não apresentou sintomas. d) ( ) Provavelmente, ele não havia produzido anticorpos suficientes na primeira infecção. e) ( ) Provavelmente, as células de memória foram ativadas e estão eliminando o vírus. 5 A sinalização da RIA frente aos antígenos depende da natureza química e do tipo de estrutura deles. Já são conhecidos os locais onde ocorrem a apresentação de antígenos e o tipo de anticorpo secretado. A respeito dessas características, analise as afirmativas a seguir: I- Os antígenos glicídicos são T independentes e geram células de memória de vida longa. II- Os antígenos lipídicos são T independentes e geram células de memória de vida longa. III- Os antígenos proteicos são T dependentes e geram células de memória de vida longa. IV- Os haptenos são antígenos que necessitam ser complexados para estimular a resposta. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas I e II estão corretas. b) ( ) Apenas II e III estão corretas. c) ( ) Apenas III e IV. d) ( ) Apenas II, III e IV estão corretas. e) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 171 TÓPICOS ESPECIAIS EM IMUNOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, serão apresentadas as quatros principais reações de hipersensibilidade que ocorrem em tecidos saudáveis quando o sistema imunológico é estimulado de forma exacerbada. Serão apresentados os principais componentes celulares e humorais envolvidos em cada tipo específico de reação, exemplificando situações cotidianas relacionadas com cada tipo de reação de hipersensibilidade, bem como o tempo de duração delas. Acadêmico, você já se perguntou como o sistema imunológico identifica uma molécula capaz de estimular uma resposta alérgica? Quais são as células e anticorpos envolvidos nos mecanismos alérgicos e qual seu tempo de duração? O que pode acontecer quando uma pessoa recebe uma transfusão sanguínea com um grupo sanguíneo diferente do seu? E quando o fator Rh da mãe e do feto são diferentes? Ocorrem reações alérgicas? Qual é a diferença entre uma dermatite atópica e de contato? Será que a natureza do antígeno interfere no tipo de dermatite desencadeada pelo sistema imune? Todas as reações de hipersensibilidade envolvem anticorpos e linfócitos? E as doenças autoimunes, são resultantes de respostas estimuladas por mecanismos envolvidos em reações de hipersensibilidade? Pense a respeito e tente relacionar todos esses fenômenos das reações de hipersensibilidade com as respostas imunes celulares e humorais. As reações de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos específicos de acordo com os componentes celulares e moleculares envolvidos. As reações do tipo I, chamadas de “imediata” ou anafilática, ocorrem quando alguns antígenos denominados “alérgenos” são reconhecidos por células B que são sensibilizadas e se transformam em plasmócitos secretores de anticorpos IgE. Em uma próxima reexposição ao mesmo alérgeno, os anticorpos IgE produzidos se ligam em receptores de alta afinidade presentes na superfície de basófilos e mastócitos que são ativados e sofrem degranulação, liberando mediadores inflamatórios que promovem inflamação, vasodilatação e broncoconstrição. Um clássico exemplo compreende as alergias alimentares, que incluem uma grande variedade de sintomas e distúrbios envolvendo a pele e os tratos gastrointestinal e respiratório, e podem ser atribuídas a mecanismos mediados e não mediados por IgE, resultando na demasiada liberação de histamina e mediadores inflamatórios, causando diarreia, vermelhidão e, inclusive, edema de glote e choque anafilático. As reações do tipo II, chamadas de “citotóxicas”, ocorrem quando antígenos de superfície estimulam UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 172 células B a se diferenciarem em plasmócitos, que passam a secretar anticorpos IgM e IgG, que se ligam aos antígenos de superfície, causando a lise celular e ativando o sistema complemento. Esse processo é muito comum em casos de eritroblastose fetal, quando o fator Rh da mãe e do feto são diferentes. As reações do tipo III ou complexo antígeno-anticorpo também envolvem ação das células B que reconhecem antígenos e produzem anticorpos IgM ou IgG. A associação dos antígenos com anticorpos forma os complexos imunes que se depositam no interior dos vasos sanguíneos, ativam o sistema complemento e estimulam os leucócitos, especialmente os neutrófilos, a destruírem os tecidos. Esse tipo de reação é muito comum em caso de