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Indaial – 2023 Microbiologia Prof. Jean Carlos Fernando Besson Prof.a Sara Macente Boni 2a Edição Elaboração: Prof. Jean Carlos Fernando Besson Prof.a Sara Macente Boni Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. BESSON, Jean Carlos Fernando; BONI, Sara Macente Microbiologia. Jean Carlos Fernando Besson e Sara Macente Boni. Florianópo- lis - SC: Arqué, 2023. 224p. ISBN 978-65-6083-417-0 ISBN Digital 978-65-6083-418-7 “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Microbiologia 3. Imunologia CDD 560 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Nossos mecanismos de defesa são capazes de criar diferentes estratégias que impossibilitam que infecções bacterianas, fúngicas e virais possam causar enormes danos em nosso organismo. Nesse cenário, a microbiologia possibilita estudar os dife- rentes tipos de microrganismos existentes, a importância deles na indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica. Além disso, algumas espécies desses microrganismos apre- sentam relevância clínica, devido a sua capacidade de causar doenças com diferentes perfis, desde as mais simples até as mais drásticas e potencialmente fatais. Um clássico exemplo da importância da íntima relação da microbiologia e a imunologia foi a pande- mia da doença do novo coronavírus (Covid-19), causada pelo coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda severa (SARS-CoV-2). Você sabe como o vírus infecta o tecido do hospedeiro saudável? Como o sistema imune reage contra os vírus? O vírus SARS-Cov-2 é potencialmente fatal para o organismo humano quando infecta o trato respiratório, causando a síndrome respiratória aguda severa (SARS) em casos mais graves. Trata-se de um vírus de RNA fita simples positiva, da família coronavírus, sendo transmitido por hospedeiros intermediários, como os morcegos. Para combater o vírus, o sistema imunológico dispõe de mecanismos efetores inatos e adaptativos celulares e humorais. Além disso, uma pequena concentração de linfó- citos vai armazenar informações genéticas do vírus, criando a “memória imunológica” nos órgãos linfoides. Em outro momento, caso o mesmo indivíduo seja contaminado novamente pelo mesmo tipo de vírus ou por linhagens mutantes do mesmo vírus ori- ginal, a memória imunológica será evocada, e o vírus, eliminado. No caso da vacina para o novo SARS-CoV-2, são utilizadas partes da estrutura do vírus, como uma prote- ína, por exemplo, ou o próprio material genético. Mesmo imunizado, o indivíduo poderá ser infectado com o vírus. Entretanto poderá ser assintomático e desenvolver sinais mais brandos e menos graves da doença. Em que outros momentos o sistema imunológico atua em nosso organismo combatendo os antígenos bacterianos, fúngicos ou virais? Propomos que você pesqui- se uma dessas outras situações. Como o sistema imunológico atua eliminando bacté- rias ingeridas a partir do consumo de alimentos contaminados? Pesquise e analise os principais pontos de como esse sistema funciona. Anote as informações a respeito, pois esse será um dos temas abordados neste material. Como o sistema imunológico funciona? Por meio da pesquisa foi possível com- preender a atuação dele nesses casos? O sistema imunológico dispõe de várias linha- gens de células fagocitárias, que englobam especialmente as bactérias Gram-negativas ou positivas e os bacilos álcool-ácidos resistentes (BAAR). Quando internalizados, esses microrganismos que são digeridos enzimaticamente e os restos celulares são elimina- dos por ação do sistema linfático. Existem receptores de reconhecimento de padrões localizados na superfície de células fagocíticas, e neles se ligam as bactérias patogê- nicas que serão eliminadas pelo sistema imunológico e possibilitam a eliminação dos corpos estranhos, conhecidos como antígenos. APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare- se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Neste livro, você terá a oportunidade de conhecer os seguintes assuntos da Microbiologia: caracterização geral das bactérias; caracterização geral dos fungos; ca- racterização geral dos vírus; técnicas de diagnóstico e de esterilização frente aos mi- crorganismos; imunologia – órgãos linfoides; respostas imunes inatas e adaptativas; marcadores celulares; estudo das classes e subclasses de anticorpos; atividade hemolí- tica do soro por meio de frações e subfrações das proteínas do complemento; hipersen- sibilidades tipo I, II, III e IV; imunopatologia das infecções; imunopatologia das respostas imunossupressoras; imunopatologias e doenças autoimunes; estudos clínicos labora- toriais de imunopatologias; tolerância imunológica e transplantes; imunopatologia das neoplasias; e vacinas e imunoterapias. Acadêmico, fique tranquilo, pois esses temas relacionados aos aspectos microbioló- gicos e imunológicos são muito importantes para a sua atuação profissional, especialmente no entendimento dos mecanismos de infecção inerente aos diferentes tipos de microrganis- mos, facilitando o entendimento do diagnóstico e tratamento de diversas patologias. Ao final da disciplina, você irá entender, com muita profundidade e de forma integradora e clara, os novos temas estudados. Então, respire fundo, pegue o seu ca- derno, coloque uma música agradável e vamos aos estudos! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. QR CODE ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesseo QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS, FUNGOS E VÍRUS ................................. 1 TÓPICO 1 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS ....................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS ...................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................47 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS VÍRUS ......................................................... 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................72 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................73 UNIDADE 2 — MICRORGANISMOS, RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA E RII ...... 75 TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE DIAGNÓSTICO E DE ESTERILIZAÇÃO FRENTE AOS MICRORGANISMOS .............................................................................................................. 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 - RESPOSTA IMUNOLÓGICA E HOMEOSTASIA ..................................................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 112 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 113 TÓPICO 3 - RESPOSTA IMUNE INATA (RII) ....................................................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 137 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................139 UNIDADE 3 — RIA, IMUNOLOGIA E IMUNOPATOLOGIAS ..................................................... 141 TÓPICO 1 — RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA (RIA) .........................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................169 TÓPICO 2 - TÓPICOS ESPECIAIS EM IMUNOLOGIA ..........................................................171 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................194 TÓPICO 3 - IMUNOPATOLOGIAS: CURIOSIDADES, DIAGNÓSTICO E PESQUISA ........... 197 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 217 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................219 1 UNIDADE 1 - PLANO DE ESTUDOS A cada tópico desta unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS TÓPICO 2 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS TÓPICO 3 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS VÍRUS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS, FUNGOS E VÍRUS 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS BACTÉRIAS 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, discutiremos a classificação geral das bactérias, abordando suas estruturas, morfologia, nutrição, metabolismo e reprodução. Além disso, entenderemos os princípios básicos que podem levar as bactérias a causarem doenças e as principais diferenças estruturais desses seres procariontes. Esses conceitos permeiam a base da bacteriologia clínica, proporcionando nosso raciocínio frente a situações da atividade biomédica. O conhecimento adquirido será de fundamental importância para o estudo, diagnóstico e tratamento das doenças bacterianas, bem como para entender os benefícios que esses microrganismos podem gerar para o homem e o meio ambiente. Você já se perguntou sobre a diversidade de seres microscópicos que existem ao nosso redor? Quais os efeitos desses seres minúsculos no nosso cotidiano e no meio ambiente em que vivemos? E, ainda, como era a medicina antes da descoberta dos microrganismos, especialmente das bactérias? Atualmente, torna-se muito simples pensarmos na existência delas, mas você sabe como as utilizamos no nosso dia a dia? Desde nossa infância, somos apresentados aos microrganismos e à microbiologia por meio de nossas mães. Quantas vezes você foi repreendido para não tocar em coisas sujas, para não levar à boca algo que estava no chão, ou que você deveria lavar as mãos antes das refeições? Ela não somente o alertava sobre a existência de um mundo de seres “invisíveis” que poderiam lhe causar doenças, mas também lhe ensinava a evitá-los. Podemos nos deparar constantemente, em nosso cotidiano, com a formação de uma acne em nosso rosto, com uma laranja apodrecendo na fruteira,com um pote de iogurte na geladeira ou com um bolo fofinho que acabou de sair do forno. Você sabe o que essas cenas têm em comum? Todas têm o envolvimento da ação das bactérias para que aconteçam. Estamos constantemente rodeados por bactérias, seja na indústria alimentícia, com a produção de produtos lácteos, vinagres e temperos, seja na formulação de medicamentos, na síntese de vitaminas, na fabricação de vacinas, na reciclagem contínua do meio ambiente por meio da decomposição ou habitando nosso próprio corpo. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 Apesar de quase sempre associarmos a presença de bactérias com algo maléfico, somente 3% dos microrganismos conhecidos são capazes de causar doenças . Para que você possa mensurar como a grande maioria das bactérias vivem em harmonia com os humanos nos proporcionando benefícios, estima-se que há 10 vezes mais microrganismos em nossos corpos do que nossas próprias células humanas, ou seja, somos constituídos por 90% de microrganismos e apenas 10% de nossas células. Isso equivale a cerca de 1 kg do peso de um adulto (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Para entendermos melhor como acontece todo este processo de interação com as bactérias, precisamos nos aprofundar na aprendizagem de sua estrutura, morfologia, nutrição, metabolismo e reprodução. Vamos lá? Para percebermos o quanto as bactérias nos rodeiam, sugiro uma atividade prática. Vamos desenvolver um meio de cultura simples, utilizando gelatina incolor, para verificarmos os microrganismos que habitam em nosso corpo? Dissolva um pacote de gelatina incolor em água, conforme instruções do pacote, e misture uma xícara de caldo de carne (pode ser do cozimento da carne ou em cubinho). Despeje o líquido em duas tampas de margarina bem lavadas e/ou fervidas ou dois potinhos rasos até que seu fundo seja coberto e aguarde solidificar em geladeira para a finalização do seu meio de cultura. Passe um cotonete limpo entre os dentes, entre os dedos dos pés (de preferência após ficarem por um bom tempo fechados dentro dos tênis) ou dentro do nariz, e esfregue o cotonete levemente sobre o meio de cultura para contaminá- lo. Envolva as tampas de margarina com filme plástico. Marque o local de retirada da bactéria (nariz, pés, ou dentes) e leve à geladeira, observando as mudanças na sua aparência a cada três dias. Busque na internet por um vídeo ou texto que explique os benefícios e malefícios que a microbiota humana desempenha em nosso organismo e tente descrever em seu Diário de Bordo os principais pontos. Sugerimos o vídeo que você encontra no QR Code: DICAS Ao analisar a alteração que os crescimentos dos microrganismos causaram em seu meio de cultura e refletir que eles estavam no seu corpo sem causar doença ou incômodos, pense como as bactérias podem viver em simbiose com os seres humanos, lhes proporcionando benefícios. O que era invisível a olho nu, ao encontrar um ambiente capaz de fornecer nutrientes e condições para o desenvolvimento, vai sofrer uma aceleração da sua multiplicação e aparecer. 5 Você sabia que desde que somos gerados e, principalmente, após o parto, somos habitados por diversas bactérias, às quais chamamos de microbiota? Geralmente, essa microbiota nos traz proteção e equilíbrio para diversas atividades de nosso organismo, mas nem sempre funciona assim. Anote suas reflexões no diário de bordo. Segundo os cientistas, as doenças infecciosas existem nos seres humanos desde que habitamos o planeta Terra. De acordo com estudos realizados em múmias e com registros históricos, a primeira epidemia registrada foi em torno do ano 3180 a.C. Nessa época, e há relativamente pouco tempo, a população não tinha conhecimento da origem das doenças e de como evitá-las. Apesar das bactérias terem sido os primeiros microrganismos observados nos humanos, foram necessários cerca de 200 anos após sua descoberta para que fosse correlacionada sua presença com as causas de doenças (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Os antibióticos representam mais do que um progresso científico: eles revolucionaram a medicina. Contudo a des- coberta dos antibióticos deu à humanidade a ilusão de que podemos controlar doenças e dominar a natureza. Assista ao documentário “A Aventura do antibiótico” e entenda por que essa é uma guerra que as bactérias estão ganhando. DICAS Durante os últimos 400 anos, muitos pesquisadores desvendaram e contribuíram para o conhecimento que temos sobre os microrganismos, mas tivemos três microbiologistas que proporcionaram grande avanço no início das descobertas. Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) é considerado o “pai da Microbiologia” por ter sido a primeira pessoa a observar bactérias e protozoários vivos, as quais chamou de “animálculos” (Figura 1), através de lentes confeccionadas por ele e que proporcionaram aumentos de visualização de 200 a 300 vezes do tamanho real, algo nunca visto antes. Leeuwenhoek era um grande curioso e utilizava seu microscópio para examinar quase tudo o que podia. Apesar de sua descoberta, da existência de bactérias e protozoários, ele nunca questionou a origem desses microrganismos e nem sua associação à causa das doenças (DAVIS, 1973 apud MORATO et al., 1998; BLACK, 2002; ENGELKIRK; DUBEN- ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). 6 Figura 1 – Desenho de “animálculos” da boca humana feito por Leeuwenhoek. A maioria dos microrganis- mos desenhados são agora referidos como organismos unicelulares. O pesquisador ainda indicou a motilida- de desses seres com uma linha tracejada Fonte: adaptada de Morato et al. (1998). Por mais de 200 anos (1650-1850) foi estudado e debatido que a vida poderia surgir espontaneamente de material não vivo, o que se denominou teoria da geração espontânea. Foi Louis Pasteur (1822-1895) quem conseguiu comprovar que essa teoria não era verdadeira, e pôde provar que a vida só pode surgir a partir de vida preexistente, com seu famoso experimento de frasco com “pescoço de cisne” (Figura 2). A nova teoria aceita pela comunidade científica foi denominada biogênese. Além desse feito, Pasteur, por meio de seus experimentos, descobriu a existência de seres que sobrevivem na ausência de oxigênio (anaeróbicos); desenvolveu o processo de pasteurização; ofereceu significativas contribuições para a teoria germinal das doenças (que defende que microrganismos específicos causam doenças específicas); defendeu mudanças de hábitos de higiene em ambientes hospitalares; desenvolveu a vacina contra cólera aviária, antraz e erisipela suína, além de uma vacina para prevenir a raiva em cães e para tratar a raiva humana. 7 Figura 2 – Experimentos de Pasteur que refutaram a teoria da geração espontânea Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: ilustração colorida do experimento feito por Louis Pasteur em três passos. O primeiro passo está do lado direito da imagem. Na parte superior da imagem, há o número 1 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Pasteur primeiramente despejou caldo de carne bovina em um frasco de pescoço comprido”. Abaixo, há o desenho de um frasco de béquer com um líquido marrom dentro, inclinado para baixo, e o líquido caindo no frasco de pescoço comprido localizado abaixo. Desse frasco de pescoço comprido sai uma seta indicando um círculo, e dentro dele há o desenho de estruturas cilíndricas e compridas de cor marrom, representando as bactérias. Abaixo desse círculo, está escrito: “Os microrganismos estavam presentes no caldo”. O segundo passo está na imagem central. Na parte superior, há o número 2 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e o curvou em formato de S; então, ele ferveu o caldo por vários minutos”. Abaixo há o desenho de um frasco com um pescoço em formato de S, esse frasco está sobre um suporte com três pernas na cor prata, e abaixo desse suporte, há o desenho de um bico de bunsen de cor marrom, de onde sai uma chama que aquece o frasco.Da ponta do frasco sai uma fumaça de cor marrom. Uma seta sai do frasco indicando um círculo vazio. Abaixo, está escrito: “Os microrganismos não estavam presentes no caldo após a fervura”. Abaixo, há uma foto pequena onde há uma mulher branca, cabelo curto e loiro, vestindo um jaleco, suas mãos estão dentro de uma cabine e seguram uma placa de petri. O último passo está do lado direito da imagem. Na parte superior, há o número 3 dentro de um círculo azul, e ao lado, está escrito: “Os microrganismos não aparecem na solução resfriada, mesmo após bastante tempo”. Abaixo, há o desenho do frasco com pescoço em S. Na parte superior do pescoço, está escrito: “A curvatura impediu que os micróbios entrassem no frasco). Da base do frasco, sai uma seta indicando um círculo vazio. Abaixo desse círculo, está escrito: “Os microrganismos 1 Pasteur primeiramente despejou caldo de carne bovina em um frasco de pescoço comprido. 2 Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e o curvou em formato de S; então, ele ferveu o caldo por vários minutos. 3 Os microrganismos não apareceram na solução resfriada, mesmo após bastante tempo. Os microrganismos estavam presentes no caldo. Os microrganismos não estavam presentes no caldo após a fervura. A curvatura impediu que os micróbios entrassem no frasco. Os microrganismos não estavam presentes mesmo após bastante tempo. Alguns destes frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram selados, mas não apresentam nenhum sinal de contaminação mais de 100 anos depois. 8 não estavam presentes, mesmo após bastante tempo”, e abaixo, está escrito: “Alguns desses frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram selados, mas não apresentaram nenhum sinal de contaminação mais de 100 anos depois”. Robert Koch (1843-1910) é o terceiro grande microbiologista que você conhecerá hoje. Trata-se de um médico alemão, que proporcionou grandes contribuições para o entendimento que temos hoje sobre as doenças infecciosas. Ele provou que o bacilo antraz é a verdadeira causa da doença antraz; desenvolveu métodos de fixar, corar e fotografar bactérias, bem como métodos para cultivar bactérias em meio sólido; descobriu as bactérias que causam a tuberculose e a cólera e a base para o teste diagnóstico da tuberculose. Com os estudos realizados, Robert Koch et al. postularam os critérios necessários para comprovação da etiologia bacteriana de qualquer doença: a bactéria deve ser encontrada em todos os casos da doença e não devem ser encontrados em animais e humanos saudáveis; a bactéria deve ser isolada de um paciente doente e crescer em culturas puras; ao inoculá-la em animais experimentais saudáveis e suscetíveis, a bactéria deve produzir a mesma doença que causou no homem; a mesma bactéria deve ser isolada dos animais experimentais infectados e crescer novamente em cultura pura. Estes postulados são aceitos até hoje e comprovam que todas as doenças infecciosas e intoxicações microbianas são causadas por microrganismos (JORGE, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Apesar dos danos que as bactérias podem causar em nosso organismo, sua presença é essencial em muitos quesitos da saúde humana e nos esforços para manutenção do meio que nos circunda. Utilizamos produtos das reações bioquímicas realizadas pelos microrganismos na indústria de alimentos, de medicamentos, na contenção de vazamento de óleos e para a despoluição ambiental. À medida que avançamos para o futuro, com o desenvolvimento de manipulação benéfica dos microrganismos, esses processos terão um papel cada vez mais importante em muitos aspectos que envolvem os seres humanos, sejam médicos, ambientais ou econômicos. Vários organismos marinhos são considerados fontes alimentares e energéticas que fornecem vários elementos e compostos para o crescimento de inúmeras formas de vida; vários micróbios, vegetais e animais do mar são explorados e destinados para esses fins. As algas marinhas, em especial, fornecem três ficocoloides importantes para diversos objetivos. Entre esses ficocoloides, podem ser destacados: ágar, carragenina e algina. Em especial, a partir do ágar, é possível produzir um gel que é muito importante para o crescimento de vários microrganismos. Esse gel, denominado ágar-ágar, possibilita a realização de estudos e a obtenção de produtos para os setores alimentício e farmacêutico (CAPILLO et al., 2017). INTERESSANTE 9 Para que possamos construir o conhecimento acerca das estruturas das bactérias, precisamos relembrar que a unidade fundamental dos seres vivos é a célula e que, de acordo com suas estruturas, as células podem ser classificadas como procariontes e eucariontes. As células procariontes, das quais as bactérias fazem parte, são mais rudimentares, não apresentam membrana nuclear separando citoplasma e núcleo, não possuem organelas celulares delimitadas por membranas e possuem cromossomo diferente dos cromossomos humanos (JORGE, 2010; LEVINSON, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Como identificar e caracterizar os diferentes tipos de bactérias e como as estruturas são importantes para o funcionamento desses microrganismos? PERGUNTA Em termos estruturais, as bactérias são muito simples e, mesmo assim, são capazes de realizar os processos necessários à vida. As bactérias são seres unicelulares e estão entre os menores organismos existentes. A maioria mede de 0,5 a 2,0 µm (micrômetros) de diâmetro, sendo em torno de 10 vezes menores que as células humanas. Existem vários parâmetros que permitem classificar as bactérias, levando em consideração as suas características micro e macroscópicas e, entre elas, podemos listar variáveis como forma, arranjo, estruturas e metabolismo. Utilizando os primeiros critérios de classificação, geralmente, as bactérias apresentam três formas básicas, podendo ser encontradas, especialmente, na forma de cocos, bacilos e espiroquetas, ou apresentando outros formatos menos comuns (Figura 3). Os cocos são células esféricas ou ovais que podem se apresentar isoladamente ou em arranjos típicos, dependendo do plano e do número de divisões a partir das quais as bactérias continuam unidas, sendo denominadas de diplococos (dois cocos unidos), tétrade (quatro cocos unidos), estreptococos (cocos dispostos em cadeia formando “colar de contas”) ou estafilococos (agrupamento de cocos dispostos em cachos). Os bacilos são bactérias que apresentam formato de bastão ou cilindro, de tamanho curto ou longo, e podem formar arranjo de células, sendo chamados de estreptobacilos. Por fim, existem, as bactérias espiraladas, ou seja, com formato espiral, que são classificadas como espirilos (possuem formato de espiral, com corpo rígido e locomoção mediada por flagelos) e espiroquetas (possuem formato espiral e são altamente flexíveis, a sua locomoção é mediada por suas contrações citoplasmáticas) (BLACK, 2002; JORGE, 2010; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015; MADIGAN et al., 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). 10 Figura 3 – A diferença morfológica das bactérias Fonte: adaptada de Madigan et al. (2016). Descrição da Imagem: há 12 figuras, sendo seis ilustrações e seis fotomicrografias, representando as diferenças morfológicas das bactérias. As figuras estão dispostas em quatro colunas com três figuras em cada. Na primeira coluna do lado esquerdo, a primeira figura é um círculo de cor laranja, abaixo está escrito “Coco”. A segunda figura abaixo é um bastão deitado de cor verde, abaixo está escrito “Bacilo”. A terceira figura abaixo é um bastão deitado, contorcido, de cor bege, abaixo está escrito “Espirilo”. Na segunda coluna, há três fotomicrografias de contraste das estruturas representadas na primeira coluna, Coco, Bacilo e Espirilo, em preto e branco. Na terceira coluna, a primeira figura é uma estrutura fina, comprida e helicoidal de cor vermelha, abaixo está escrito “Espiroqueta”. A segunda figura, abaixo, mostra duas ilustrações,uma estrutura que parece um grão de feijão de cor azul, com um braço, uma seta sai desse braço indicando a palavra “Talo”, e outra que é uma estrutura de cor amarela, que é redonda e possui um braço de onde sai uma seta indicando a palavra “Hifa”, abaixo está escrito “Brotamento e bactéria apendiculada”. A terceira figura abaixo mostra a ilustração de cinco estrutura finas e compridas curvadas de cor bege, abaixo está escrito “Bactéria Filamentosa”. Na quarta e última coluna, do lado direito da imagem, há três fotomicrografias de contraste das estruturas representadas na terceira coluna, Espiroqueta, Brotamento e Bactéria Apendiculada e Bactéria Filamentosa. Estruturalmente, as células bacterianas são constituídas de citoplasma, onde estão os cromossomos, ribossomos e grânulos e/ou vesículas citoplasmáticas, que é revestido por uma membrana celular, geralmente envolta pela parede celular, e algumas vezes por uma cápsula. Dependendo da espécie da bactéria, pode-se observar estruturas externas, tais como flagelos e pili (Figura 4). Para seu melhor entendimento, estudaremos cada estrutura detalhadamente. A imagem a seguir ilustra uma célula procariótica, que é composta por citoplasma, membrana plasmática, parede celular, cápsula, plasmídeo, fímbrias, nucleoide contendo RNA e ribossomos. As estruturas marcadas em vermelho são encontradas em todas as bactérias. Coco Espiroqueta Talo Hifa Brotamento e bactéria apendiculada Bactéria filamentosa Bacilo Espirilo 11 Figura 4 – Identificação da estrutura de uma bactéria Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). Descrição da Imagem: ilustração das estruturas comuns que podem ser encontradas em uma bactéria. Ao lado direito do desenho das células existe uma fotomicrografia de contraste de fase demonstrando essas estruturas. O desenho e a micrografia mostram a bactéria seccionada transversalmente para revelar a composição interna. A imagem apresenta-se como um bastão, contendo diversos apêndices ao seu redor e setado como fímbrias; três camadas levemente levantadas no contorno do bastão setadas como cápsula, parede celular e membrana plasmática; na extremidade superior do bastão tem um apêndice maior e mais espesso setado como pilus; e na extremidade inferior, três filamentos alongados helicoidais setados como flagelos. No interior do bastão, existe uma estrutura oval que está setada como inclusão; várias estruturas ovais pequenas setadas como ribossomos; um fio emaranhado setado como nucleoide contendo DNA; e uma estrutura de fio formando um círculo setado como plasmídeo. O citoplasma da célula bacteriana é uma substância semifluida que é composta por água, enzimas, carboidratos, lipídeos e uma variedade de íons inorgânicos. É nesse ambiente que ocorrem muitas reações químicas das bactérias. Quando analisado em microscopia eletrônica, o citoplasma das células procariontes pode ser dividido em duas áreas distintas: uma matriz amorfa que contém ribossomos, grânulos de nutrientes, metabólitos e plasmídeos, e uma região nucleoide interna composta pelo DNA cromossomal (BLACK, 2002; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012). Assim como nas células eucariontes, os ribossomos bacterianos são os locais onde ocorre a síntese de proteínas, mas são diferentes quanto ao seu tamanho e sua composição química. Enquanto os ribossomos bacterianos apresentam tamanho de 70S, com as subunidades 50S e 30S, os ribossomos eucarióticos exibem tamanho 80S, com as subunidades 60S e 40S. Alguns antibióticos ligam-se especificamente Inclusão Pilus Cápsula Parede celular Plasmídeo Flagelos Citoplasma Ribossomos Membrana plasmática Nucleiode contendo DNA Cápsula Fímbrias Parede celular Membrana plasmática 12 aos ribossomos 70S e interrompem a síntese proteica. Pelo fato de não se ligarem aos ribossomos 80S, eles matam as bactérias sem prejudicar as células hospedeiras (LEVINSON, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). A resistência a antibióticos tem se tornado cada vez mais comum na comunidade. Você já parou para pensar como ela pode ser transmitida de uma bactéria para outra, inviabilizando os medicamentos hoje utilizados? PERGUNTA Conforme já mencionado nesta unidade, uma das principais características na diferenciação das células eucarióticas e procarióticas é a ausência de um núcleo envolto por membrana nuclear. No lugar do núcleo, as bactérias têm uma região nuclear, chamada de nucleoide, que significa falso núcleo. Essa região é composta, principalmente, por DNA, que está disposto em um cromossomo único, longo, superenovelado e circular. Vale destacar, também, a ausência de proteínas do tipo histonas, que enovelam o material genético, além da presença de plasmídeos, que são estruturas menores do que a molécula de DNA circular. Essas moléculas têm como função conferir resistência aos antibióticos e são capazes de se replicar de forma independente do cromossomo bacteriano. Resistance é um documentário, disponível na Netflix, que aborda um tema de relevância pública: as bactérias super-resistentes. Um estudo aponta que, em média, um quinto das infecções pós cirúrgicas são causadas por bactérias com essa característica. Em meio a esse cenário, o documentário mostra como surgiram os antibióticos e como o seu uso descontrolado levou ao aparecimento de organismos resistentes a qualquer medicamento presente no mercado. DICAS O citoplasma é revestido pela membrana celular. Essa membrana é formada por uma bicamada de fosfolipídeos com proteínas embutidas ou associadas à superfície. A arquitetura geral da membrana citoplasmática ilustrada é semelhante em procariotos e eucariotos, embora existam diferenças químicas (Figura 5). A principal diferença é 13 Figura 5 – Estrutura da membrana plasmática Fonte: adaptada de Madigan et al. (2016). a ausência de esteróis. Tem, como principal função, ser seletivamente permeável, controlando as substâncias que entram e saem de dentro da célula, além de ser a responsável pela geração de energia por meio de fosforilação oxidativa, síntese de precursores da parede celular e secreção de enzimas e toxinas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; MADIGAN et al., 2016). Descrição da Imagem: ilustração colorida representando a membrana plasmática das bactérias. No formato de esferas azuis associadas a dois filamentos helicoidais estão representados os fosfolipídios. Os filamentos amarelos ligam-se a outros filamentos amarelos de outros fosfolipídeos, formando uma bicama dessas estruturas. Intercaladas a elas, possuem estruturas que estão representando as proteínas. No canto superior esquerdo, temos a medida da espessura da membrana (6-8 nm). No canto inferior direito, temos um retângulo com a estrutura representando uma molécula fosfolipídica (dois filamentos associados a uma esfera). Externamente à membrana celular, encontra-se a parede celular. É essa estrutura semirrígida que confere forma às bactérias e que nos permite classificá- las em dois grandes grupos: Gram-positivas e Gram-negativas. Inicialmente, acho interessante você saber que todas as bactérias possuem parede celular, com exceção ao grupo dos micoplasmas. A parede celular é constituída basicamente de uma macromolécula chamada de peptideoglicano (mureína), que, por sua vez, é formada por múltiplas cadeias polissacarídicas constituídas de N-acetil-glicosamina (NAG) e ácido N-acetil-murâmico (NAM) ligadas por pequenas cadeias peptídicas (proteínas) (Figura 6). A parede celular equivale a 25% do peso seco das bactérias, tem função de proteção e, além disso, é suporte para antígenos somáticos bacterianos (BLACK, 2002; JORGE, 2010; ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Grupos hidrofílicos Fosfolipídios Grupos hidrofóbicos In 6-8 nm Proteínas integrais de membrana Molécula fosfolipídica 14 Figura 6 - A estrutura do peptideoglicano da parede celular de bactérias Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017).Descrição da Imagem: do lado direito da imagem, temos a ilustração de três cilindros dispostos paralelamente. Cada cilindro é formado por 2 NAM (cor rosa) e 3 NAG (cor marrom) de forma intercalada. Ligando um cilindro ao outro, temos esferas azuis que representam as pontes cruzadas de aminoácido e esferas verdes representando cadeias laterais de tetrapeptídeos. No canto inferior esquerdo, temos uma parte dessa estrutura em destaque, e podemos ver um cilindro formado por NAM e NAG, uma ponte cruzada peptídica, uma cadeia lateral tetrapeptídica e as ligações peptídicas. Acima desse destaque, temos uma legenda indicando o que representa cada estrutura, cilindros marrom e rosa e as esferas azul e verde. A espessura da parede celular e sua exata composição química variam de acordo com a espécie bacteriana. Na parede celular das bactérias Gram-positivas, a camada de peptideoglicano é espessa, de múltiplas camadas (60 a 90% da parede celular), além da presença de fibras de ácido teicoico e lipoteicoicos que se projetam para fora do peptideoglicano. Essa estrutura possibilita a sobrevivência e a replicação da célula em diversos tipos de ambientes. A parede celular das bactérias Gram-negativas é mais complexa, apresenta uma camada muito mais fina de peptideoglicano (10 a 20% da parede celular), mas é revestida por uma outra membrana complexa, denominada de membrana externa, sendo esta exclusiva das células Gram-negativas (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). A membrana externa é de natureza fosfolipídica e pode conter lipopolissacarídeo (LPS), lipoproteínas e porinas. O espaço entre a membrana citoplasmática e a membrana externa chama-se espaço periplasmático, onde está situada a camada de peptideoglicano. O LPS, também chamado e endotoxina, pode ser utilizado na identificação das bactérias e, como integrante da membrana externa, não é liberado até que a parede celular da bactéria morta seja decomposta. O lipídio A do LPS é responsável pelas propriedades tóxicas causadas por bactérias Gram-negativas no organismo humano, como febre e choque (BLACK, 2002; JORGE, 2010; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). N-acetiglicosamina (NAG) Ácido N-acetilmurâmico Cadeia lateral de aminoácido Ponte cruzada de aminoácido Ligação peptídica Esqueleto de carboidrato Cadeia lateral tetrapeptídica Ponte cruzada peptídica 15 A principal diferença das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas está na composição de sua parede celular. Além das Gram-positivas possuírem uma parede celular de peptideoglicano mais espessa, as Gram-negativas contêm uma camada de lipopolissacarídeo em uma membrana externa como parte de sua parede celular. Essas diferenças nos permitem diferenciar essas bactérias por meio da coloração de Gram, um dos procedimentos de coloração mais úteis utilizados na microbiologia. Existe, ainda, uma outra constituição de parede celular, que deriva de uma modificação na estrutura da parede Gram-positiva, chamada de parede álcool- ácido resistente. Esta possui grande quantidade de lipídios, constituída de ácidos micólicos. Essas propriedades da parede celular bacteriana resultam em diferentes reações às colorações, nos permitindo classificá-las laboratorialmente de acordo com sua estrutura (JORGE, 2010; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014). Para facilitar a sua locomoção, as bactérias apresentam os flagelos, que funcionam como “hélice”. Eles são compostos por flagelina, e o seu número pode variar entre as espécies. Outra importante característica estrutural bacteriana é a presença de fímbrias, formadas por proteínas chamadas pilinas, que se assemelham a pelos. As fímbrias estão localizadas nas superfícies externas das bactérias e a sua função é manter a adesão na interface bactéria-bactéria. O mundo dos microrganismos é realmente fantástico. É possível, por meio do perfil celular, dos tipos de estruturas e do formato da célula, classificar as bactérias em diferentes grupos. Para identificá-las e classificá-las, devemos levar em consideração pequenos detalhes, como a expressão de uma proteína ou de um lipídio, ou mesmo a mudança de um aminoácido. Essa diversidade na distinção das características morfológicas e estruturais faz com que esses seres habitem diferentes regiões em todo o globo. Entretanto, ainda não sabemos os aspectos nutricionais necessários para a sobrevivência desses micróbios, para que possamos compreender seu metabolismo e reprodução. Vamos a mais esse desafio? As funções vitais das bactérias constituem-se, essencialmente, na construção do protoplasma, divisão celular e transporte de substâncias através da membrana celular. Para o seu crescimento, as bactérias necessitam, no mínimo, de uma fonte de energia, de carbono, de nitrogênio, de enxofre, de fósforo, vitaminas e nutrientes adicionais. Aquelas substâncias que os organismos são incapazes de sintetizar, mas que são necessárias para sua sobrevivência, devem ser continuamente fornecidas. Esses nutrientes variam de espécie para espécie e, algumas vezes, servem como importante quesito para identificação da bactéria em questão. Não podemos esquecer, ainda, que ao suprir suas necessidades nutricionais, as bactérias também auxiliam na reciclagem de elementos no meio ambiente. 16 Além dos quesitos nutricionais, outros fatores podem influenciar no crescimento das bactérias, como o pH, temperatura, concentração de oxigênio, umidade, entre outros. Uma vez que diferentes espécies demonstram condições favoráveis diferentes para o seu desenvolvimento, essa também pode ser uma forma de classificação dos microrganismos. Vamos entender um pouco mais esse tipo de classificação? Para iniciarmos, quero lhe contar uma curiosidade. Você sabia que a escala de pH, hoje amplamente utilizada na química para mensurar acidez e alcalinidade de uma solução, foi, originalmente, inventada para definir os limites do crescimento de microrganismos em vários meios? O pH ótimo para o crescimento dos microrganismos, ou seja, no qual eles crescem melhor, geralmente é próximo da neutralidade (pH 7), principalmente para aquelas bactérias que causam doenças nos seres humanos. De acordo com sua tolerância à acidez ou alcalinidade, as bactérias podem ser classificadas em acidófilas (organismos que têm afinidade por meios ácidos – pH entre 0,1 e 5,4), neutrófilas (pH entre 5,4 e 8,5) e alcalófilas (bactérias que gostam de ambientes alcalinos – pH entre 7 e 11,5). Entretanto, existem espécies de bactérias que conseguem tolerar grandes desvios de seu pH ótimo e crescer em ambientes hostis (BLACK, 2002). A temperatura de crescimento é outro fator de extrema importância para a viabilidade de crescimento dos microrganismos, uma vez que a velocidade das reações bioquímicas é diretamente proporcional à temperatura. A maioria das espécies bacterianas se desenvolve em faixa de temperatura superior a 30 °C, mas as temperaturas máximas e mínimas de crescimento podem variar de acordo com seu habitat natural. Com base nas temperaturas mínimas, máximas e ótimas de crescimento, as bactérias são classificadas em psicrófilas (faixa de temperatura entre 0 e 20 °C), mesófilas (faixa de temperatura entre 15 e 45 °C) e termófilas (faixa de temperatura entre 42 e 97 °C). Estas últimas podem ser subclassificadas em termófilas típicas e termófilas extremas, dependendo das altas temperaturas se sua preferência (BLACK, 2002). Observe a superposição dos intervalos de temperatura nos quais estes organismos podem sobreviver. As taxas de crescimento são bem mais baixas nas extremidades dos intervalos. INTERESSANTE 17 Figura 7 – Taxas de crescimento de bactérias psicrófilas, mesófilas e termófilas Fonte: Black (2002). Descrição da Imagem: gráfico que mostra quatro curvas em formato de sino. O eixo das abscissas (eixo x) representa a temperatura, em graus célsius, em que as bactérias crescem. Essa temperatura é descrita em escala a cada 10 ºC, iniciando em zero e terminando em 100. Oeixo das ordenadas (eixo y) representa a geração por horas do crescimento bacteriano e está demonstrado em escala de 0,1; 0,3; 0,6; 1,0; 2,0 e 3,0. A primeira curva, da esquerda para a direita, se refere aos microrganismos psicrófilos típicos, e se inicia no cruzamento dos eixos, seu ápice ocorre entre 0,6 e 1,0 hora e a 15 ºC e termina em 20 ºC. A segunda curva é das bactérias mesófilas típicas, tendo início em 15 ºC e 0,1 hora, ápice próximo a 2 horas e a 37 °C e finaliza em 45 ºC. A terceira curva é das bactérias termófilas típicas, tendo início em 42 ºC e 0,1 hora, ápice em 3 horas e a 60 °C e finaliza em 75 ºC. Por fim, a quarta curva refere-se às bactérias termófilas extremas, tendo início próximo a 70 °C e 0,1 hora, ápice entre 2 e 3 horas e a 90 °C e finaliza em temperatura próxima a 100 ºC. As curvas se superpõem no início e no final de cada uma. Precisamos ter claro em nossa mente que a maioria das bactérias não tolera completamente todo o intervalo de temperatura de sua categoria. Com isso, podemos identificar três temperaturas críticas: as temperaturas mínima, ótima e máxima de crescimento. Além do favorecimento do crescimento bacteriano, a temperatura também pode ser utilizada para controlarmos seu desenvolvimento. Altas temperaturas são mais injuriosas aos microrganismos, podendo levá-los à morte, enquanto as baixas temperaturas são mais utilizadas para preservação e retardo de seu crescimento. Talvez, a classificação mais conhecida das bactérias quanto a sua nutrição e metabolismo esteja relacionada com a concentração de oxigênio na qual ela consegue se desenvolver. Assim, podemos encontrar bactérias que são aeróbias, que necessitam de oxigênio para se desenvolver, e anaeróbias, que morrem na presença do oxigênio. Entre estes dois extremos, existem as bactérias microaerófilas, G er aç õe s p or h or a Psicró�lo típico (Flavobacterium) Mesó�lo típico (Escherichia) Termó�lo típico (Termus) Termó�lo extremo (Thermococcus) Temperatura, ºC 3,0 2,0 1,0 0,6 0,3 0,1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 18 as anaeróbias facultativas e as anaeróbias aerotolerantes. As microaerófilas requerem oxigênio para se desenvolverem, porém em quantidade menor do que a concentração normal; as anaeróbias facultativas crescem na presença ou ausência de oxigênio; e, por fim, as anaeróbias aerotolerantes são capazes de crescer em ambiente contendo oxigênio, mas se desenvolvem melhor em anaerobiose, pois não fazem uso dele em seu metabolismo. Na Figura 8, temos diferentes organismos incubados por 24 horas em tubos de caldo nutritivo e acumulados em regiões diferentes, de acordo com sua necessidade ou sensibilidade em relação ao oxigênio (BLACK, 2002; JORGE, 2010; LEVINSON, 2010; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). Figura 8 – Padrões de uso de oxigênio Fonte: Black (2002). Descrição da Imagem: quatro tubos de ensaio transparentes contendo meio de cultura amarelo com tampa de rosca preta. O crescimento das bactérias está ilustrado por pontilhados amarelos em fundo branco. Da esquerda para a direita, no primeiro tubo, identificado como aeróbio obrigatório, o crescimento está na superfície do meio de cultura. No segundo tubo, o crescimento bacteriano está no fundo, coberto com uma camada grossa de meio de cultura, e está identificado como anaeróbio obrigatório. No tubo seguinte, identificado como microerófilo, o crescimento da bactéria está logo abaixo da superfície do meio de cultura. Por fim, no quarto tubo, há crescimento bacteriano em todo meio de cultura e está identificado como anaeróbio facultativo. Crescimento bacteriano Aeróbio obrigatório Anaeróbio obrigatório Microaerófilo Anaeróbio facultativo 19 Com relação ao metabolismo, utilizamos o termo em diversos momentos no nosso dia a dia, mas você sabe seu real significado? Todas as células necessitam de fontes constantes de energia para sobreviver. Essa energia, normalmente na forma de trifosfato de adenosina (ATP), é produzida a partir dos processos controlados de degradação de substratos orgânicos, como os carboidratos, os lipídios e as proteínas. Em resumo, podemos imaginar que, quando esses substratos mencionados são quebrados em pequenas moléculas, eles são convertidos em energia, e esse processo é denominado “catabolismo”. A energia liberada, na forma de ATP, é, então, direcionada para a síntese de elementos pertinentes à manutenção bacteriana, por exemplo, a construção de parede celular bacteriana, ou, até mesmo, a síntese de ácidos graxos ou nucleicos, bem como a manutenção da síntese proteica. Esse processo é chamado de “anabolismo”. Em conjunto, esses dois processos são denominados metabolismo intermediário (Figura 9) (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Figura 9 – Síntese do metabolismo intermediário Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017) Descrição da Imagem: esquema que contém escrita e setas coloridas direcionando a ordem de acontecimento dos fatos informados. O ciclo inicia na parte superior esquerda da imagem com a palavra glicose seguida de uma seta amarela direcionada à direita e, ao final da seta, está escrito CO2 e H2O. Acima dessa seta está escrito “O catabolismo libera energia pela oxidação das moléculas”. Ligada à seta inicial, existe uma outra seta curvada para baixo, no sentido da esquerda para a direita, e em seu início está escrito “energia é armazenada em moléculas de ATP” e as palavras ADP+Pi; no local onde as setas se encontram está escrito “energia”, e ao final dessa seta, “ATP” e, também, “energia é liberada por hidrólise do ATP”. Da mesma forma, logo após a palavra ATP, existe uma seta curvada como a de cima, mas esta está curvada para cima, no sentido da direita para a esquerda, formando um ciclo entre o ADP+Pi e o ATP. No centro dessa última seta está escrito “energia”. Logo abaixo do ciclo, há uma seta direcionada à esquerda. No início da seta está escrito “aminoácidos”, e no final, “proteínas”. Abaixo dessa seta está escrito “O anabolismo utiliza energia para sintetizar as macromoléculas que compõem as células”. As duas últimas setas se tocam em suas porções centrais. 20 Imagine que um processo metabólico bacteriano tem início quando uma molécula de grande porte, chamada de macromolécula, sofre um processo de hidrólise controlado por enzimas. As moléculas menores ou de baixo peso molecular são levadas do compartimento extracelular, passam pelas membranas e, assim, chegam ao citoplasma por transporte ativo ou passivo. No citoplasma, essas moléculas podem ser direcionadas em diferentes vias, com o intuito de formar uma molécula intermediária comum, chamada de ácido pirúvico. O objetivo desse processo metabólico é fornecer fontes de carbono que serão utilizadas para produzir ATP ou, também, possibilitar a síntese de novas moléculas de ácidos nucleicos, aminoácidos, carboidratos, lipídios ou proteínas. Estudaremos, a partir desse momento, as rotas metabólicas que envolvem glicose para a produção de energia ou de outros tipos de substratos necessários ao metabolismo bacteriano. A glicose é o “alimento” ou nutriente fornecedor de energia mais comum utilizado pelas células. As bactérias utilizam diferentes etapas para quebrar glicose e liberar energia, podendo ocorrer por respiração anaeróbica, ou seja, por processos fermentativos, utilizando dois ou três compostos de carbono, ou por respiração aeróbica, onde ocorre a conversão dos seis carbonos da glicose em água e CO2 mais energia. As bactérias podem apresentar três vias disponíveis para o catabolismo da glicose. A principal via comum, entre todas elas, é a via glicolítica ou via de Embden-Meyerhof-Parnas (EMP), cujo principal objetivo é converter glicose em piruvato, em condições aeróbicas ou anaeróbicas, visando à formação de glicose-6- fosfato (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). O processo de obtenção de energia a partir da quebrade glicose é chamado de glicólise e ocorre no citoplasma das células. No final do processo, a molécula de glicose (contendo seis carbonos) é degradada em duas moléculas de três carbonos, o piruvato. Quimicamente, um grupamento fosfato, altamente energizado e proveniente de um intermediário da via (piruvato), é destinado para a produção de ATP. O processo é controlado por uma enzima “quinase”, utilizando um ADP (difosfato de adenosina) em uma reação de fosforilação a nível de substrato (principal forma de produzir energia na ausência de oxigênio). Além de ATP, são produzidos NADH (nicotinamida-adenina dinucleotídeo reduzido) e piruvato. Um detalhe importante, nesse cenário, ocorre pelo destino do NADH, que é capaz de, em processos oxidativos, ser convertido em ATP. O piruvato pode ser direcionado para o ciclo do ácido cítrico ou para a fermentação. Vale lembrar que as reações de fermentação não envolvem oxigênio, portanto ocorreram em anaerobiose. A reação de fermentação é a conversão do piruvato em um produto, que pode variar dependendo do organismo específico envolvido. As bactérias não costumam realizar fermentação alcoólica. Elas usualmente convertem ácido pirúvico em láctico, por exemplo, quando o leite se transforma em iogurte. Algumas bactérias podem realizar outras vias de fermentação mais complexas e produzem, além de ácidos e álcoois, alguns gases com odores fétidos, como no processo de manutenção de uma ferida aberta, ou, até mesmo, na caracterização de queijos e vinhos. 21 Na segunda via, que ocorre em processo aeróbicos, o piruvato resultante da glicólise é convertido em moléculas e acetil coenzima A (acetil-CoA) que entram no ciclo do ácido tricarboxílico (Ciclo de Krebs) sendo liberados água e CO2 e produzindo energia adicional. Esse processo ocorre na superfície interna da membrana celular das bactérias. Nesse ciclo, é possível, também, a produção de ATP pela cadeia transportadora de elétrons, utilizando NADH e FADH. É importante salientar que os seres anaeróbios apresentam baixa eficiência na produção de energia quando comparados aos organismos aeróbicos (18 vezes menos energia). Vale ressaltar que nesse ciclo, os esqueletos carbônicos podem ser utilizados de duas maneiras: para a síntese de energia ou para formar outros precursores biossintéticos necessários à síntese de aminoácidos, bases nitrogenadas e lipídios, ou seja, trata-se de um ciclo anfibólico, pois atua na síntese e degradação de moléculas (ENGELKIRK; DUBEN-ENGELKISK, 2012; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). A última via de interesse relacionada ao metabolismo da glicose é a via das pentoses-fosfato, que apresenta, como funções, a produção de ácidos nucleicos e o potencial redutor da forma nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (forma reduzida) (NADPH), para a utilização em processos de biossíntese ou para serem novamente utilizados em vias glicolíticas, visando à produção de energia. Veja a seguir: Figura 10 – Metabolismo aeróbico e anaeróbico das bactérias Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2017). A glicólise produz ATP e reduz NAD+ a NADH, enquanto oxida a glicose a ácido pirúvico. Na respiração, o ácido pirúvico é convertido no primeiro reagente do ciclo de Krebs, o acetil-CoA. Na fermentação, o aceptor final é uma molécula produzida na célula. Na fermentação, o ácido pirúvico e os elétrons carreados pelo NADH da glicólise são incorporados nos produtos finais da fermentação. O ciclo de Krebs produz algum ATP pela fosforilação a nível de substrato, reduz os carreadores de elétrons NAD+ e FAD e libera CO². Os carreadores da glicólise e do ciclo de Krebs doam elétrons para a cadeia de transporte de elétrons. Na cadeia de transporte de elétrons, a energia dos elétrons é utilizada para produzir uma grande quantidade de ATP por fosforilação oxidativa. Na respiração, o aceptor final de elétrons é uma molécula produzida fora da célula. 1 2 3 Para produzir energia a partir da glicose, os microrganismos utilizam dois processos gerais: respiração e fermentação. Ambos normalmente se iniciam com a glicólise, porém seguem vias seguintes distintas, dependendo da disponibilidade de oxigênio. CONCEITOS-CHAVE Glicólise Glicose Ácido pirúvico Acetil-CoA Ácido pirúvico (ou derivado) Formação de produtos finais da fermentação Levedura de cerveja Cadeira de transporte de elétrons e quimiosmose Ciclo de Krebs CO2 ATP ATP ATP O2 H2O NADH NADH NADH FADH2 DADH e FADH2 Elétrons RESPIRAÇÃO FERMENTAÇÃO 22 Finalizamos, aqui, as descrições das vias metabólicas importantes para o entendimento do crescimento bacteriano. Agora, você entende a importância da glicose para o crescimento dos microrganismos em diferentes situações. Não é à toa que devemos armazenar de forma correta os alimentos quando não estão sendo consumidos, e que aqueles deixados fora da refrigeração estragam de forma mais rápida. Quanto mais condições ideais dermos ao crescimento das bactérias, mais elas se reproduzirão. Você já se perguntou como isso acontece? O termo crescimento, usualmente, é designado para o aumento de tamanho. Apesar de as bactérias também aumentarem o conteúdo do seu protoplasma pela síntese de todas suas estruturas de uma maneira coordenada, logo que a célula tenha dobrado de tamanho e duplicado seu conteúdo, ela se divide em duas células-filhas. Esse processo é denominado fissão binária. Portanto, o crescimento bacteriano é definido pelo aumento do número de células por meio da divisão celular, e não pelo aumento do tamanho celular. A divisão celular nas bactérias tem início na replicação do cromossomo ancorado na membrana celular. Ocorre a síntese dos componentes bacterianos e, à medida que a membrana bacteriana cresce, os cromossomos-filhos vão se separando. O início da replicação do cromossomo também inicia o processo de divisão celular, que pode ser visualizada pelo início da formação de um septo entre as células-filhas. O septo começa a ser formado no meio da célula que se dividirá e, especificamente na região que origina tal processo, ela será constituída por proteínas ligadas a um tipo de anel com filamentos proteicos presentes no interior da membrana citoplasmática. Esse septo se desenvolve em extremidades opostas, seguindo em direção à região central da célula, resultando, ao final do processo, em clivagem e separação das células-filhas. Algumas bactérias Gram-positivas são capazes de formar esporos que contêm uma cópia completa do cromossomo bacteriano e proteínas necessárias para a reprodução bacteriana. Os esporos protegem esse material genético e possibilitam a replicação bacteriana (Figura 10). Na imagem, temos a divisão por fissão binária, um tipo de reprodução assexuada que ocorre em organismos unicelulares, como as bactérias. Perceba, na imagem apresentada, que uma única célula-mãe sofre mitose e cada uma das células-filhas apresentará o mesmo genoma da célula-mãe (BLACK, 2002; MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2014; TRABULSI-ALTERTHUM, 2015). 23 Figura 11 – Processo de divisão bacteriana por fissão binária Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-molecular-biology/mitosis/a/bacterial-binary- -fission. Acesso em: 28 out. 2021. Descrição da Imagem: processo de fissão binária, no qual, de forma assexuada, uma célula-mãe se divide em duas. No início da figura está escrito “fissão binária”. Abaixo, uma bactéria é representada por uma estrutura ovalada única com um círculo em seu interior, representando o cromossomo. A imagem abaixo representa o início da divisão do cromossomo, e mais abaixo aparece uma com uma única estrutura oval com dois círculos em seu interior. Logo após, aparece a imagem de duas estruturas ovaladas grudadas, mas separadas por um septo central. Cada cromossomo já se encontra em lados opostos do septo. Por fim, na última imagem, aparecem duas estruturas ovaladas adjacentes, mas separadas, contendo cada uma umcromossomo. Fissão binária Cromossomo bacteriano Origem de replicação Organização da "origem de replicação" do DNA bacteriano A origem de replicação move-se em direção à célula e ao DNA conforme é copiado O septo se forma no meio da célula Septo Célula se divide em duas novas células Alongamento da célula 24 O tempo de duplicação (geração) das bactérias varia de 20 minutos a mais de 24 horas, dependendo da espécie envolvida. O crescimento exponencial e o tempo curto de duplicação de alguns organismos resultam na rápida geração de grande número de bactérias. Quando a bactéria é introduzida em um meio fresco e nutritivo e encontra condições favoráveis, o ciclo de crescimento bacteriano apresenta quatro fases: fase lag, fase log, fase estacionária e fase de declínio (Figura 12) (LEVINSON, 2010; BROOKS et al., 2014). Figura 12 – Curva de crescimento bacteriano Fonte: Brooks et al. (2014). Descrição da Imagem: gráfico que mostra uma curva em formato de sino. O eixo das abscissas (eixo x) representa o tempo que demora em cada fase do crescimento bacteriano, e o eixo das ordenadas (eixo y) representa a concentração (quantidade) de bactérias em cada fase. A curva tem início na fase lag, em uma linha horizontal da esquerda para a direita. Após essa linha, há uma linha na diagonal para cima, com ângulo de quase 90°, que representa a fase log. Então, volta a ter uma linha na horizontal direcionada à direita, fase estacionária e, por fim, uma linha na diagonal para baixo, em maior angulação, que representa a fase de declínio. A fase lag compreende o momento em que ocorre intensa atividade metabólica, mas as células ainda não estão em divisão. As células aumentam em tamanho, mas não em número. Podemos dizer que é uma fase de adaptação das bactérias ao meio e condições em que irão começar a se multiplicar, podendo durar de alguns minutos a dias. Na fase log, ocorre rápida divisão celular, com intervalo de tempo regular, chamado de tempo de geração. A população bacteriana dobra em cada tempo de geração durante essa fase. A fase estacionária acontece quando a depleção de nutrientes ou os produtos tóxicos provocam uma diminuição Lo g da c on ce nt ra çã o ce lu la r Tempo Fase de latência (fase lag) Fase log ou de crescimento exponencial Fase estacionária Fase de morte ou fase logarítmica de declínio 25 no crescimento bacteriano a um ponto em que novas células são produzidas na mesma velocidade com que as células antigas morrem. Por fim, a fase de declínio é caracterizada por uma diminuição no número de células viáveis devido às condições desfavoráveis do meio para a divisão celular. Nessa fase, o número de células vivas decresce em velocidade logarítmica e ocorre principalmente pelo acúmulo excessivo de produtos tóxicos e escassez de nutrientes. Outra forma de reprodução das bactérias que é importante você conhecer é a conjugação. Trata-se de uma reprodução sexuada que resulta da transferência de um plasmídeo a partir de uma célula doadora a uma receptora, através do pili sexual (Fímbria F). A maior relevância dessa transferência é que, geralmente, esses plasmídeos carregam genes de resistência a antibióticos. A conjugação ocorre em vários gêneros bacterianos, como Escherichia, Salmonella, Pseudomonas, Serratia, Shigella e Streptococcus. IMPORTANTE Título: Microbiota Gastrintestinal – Evidências da sua Influência na Saúde e na Doença Autor: Alessandra Barbosa Ferreira Machado et al. Editora: Rubio Sinopse: o livro aborda de maneira abrangente, cuidadosa e detalhada um dos temas mais atuais e palpitantes da Biologia. A visão do organismo animal isoladamente não é mais aceitável diante das evidências científicas da interdependência dos macro e microrganismos. Todo o conhecimento acumulado de Ecologia tem sido revisto para acomodar a noção de que organismos ditos superiores são, na realidade, sistemas intrinsecamente dependentes de microrganismos que com eles coevoluíram no curso de milhões de anos. DICAS Chegamos ao fim deste tema de aprendizagem! Esperamos que esse “novo mundo’’ apresentado tenha sido muito interessante e possibilitado integrar os seus conhecimentos, adquiridos ao longo de sua vida, e alinhá-los com detalhes técnicos muito importantes para a formação dos profissionais em saúde e da área ambiental. É fundamental conhecermos as principais características que possibilitam a identificação das diferentes estruturas das bactérias, entender que todas essas estruturas possibilitam que elas se adaptem, desenvolvam e se reproduzam em determinado ambiente, em um período específico. 26 Venha conhecer um capítulo sombrio da humanidade e da microbiologia. Contamos um pouco sobre a história, patogenia e epidemiologia da Peste Negra. Este é o nome pelo qual ficou conhecida a doença infecciosa que mais matou na história, eliminando 2/3 da população europeia e quase metade da população mundial da época. Espero que você goste do conteúdo. DICAS No decorrer deste tema, você estudou os principais quesitos do desenvolvimento de uma bactéria, desde sua reprodução até a sua morte. Afinal, qual a importância desse conhecimento para sua vida profissional? Quando analisamos o exercício profissional de um microbiologista, sua função pode ser no diagnóstico, na biotecnologia, no meio ambiente ou na indústria de alimentos. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento inerente das bactérias é fundamental. A morfologia e estruturas bacterianas nos permite entender os fatores que podem favorecer o surgimento de doenças. Além disso, sua identificação auxilia no diagnóstico definitivo destas. Quando nos aprofundamos no conhecimento das estruturas e na genética bacteriana, podemos utilizar o artifício da engenharia genética, fazendo modificações em seu DNA que proporcionarão a utilização de bactérias de forma benéfica, ou ainda as utilizar como vetores para genes, proteínas e enzimas que queremos produzir. Como exemplo disso, você sabia que bactérias modificadas geneticamente são utilizadas na produção do índigo escuro, usado na coloração do jeans, sem causar os danos ambientais causados por corantes químicos? É fundamental o conhecimento da nutrição e metabolismo das bactérias para que seja possível cultivá-las em laboratório, nos dando a base para diagnosticar doenças bacterianas. Além disso, seu metabolismo em muito contribui na produção alimentícia. A fermentação feita no metabolismo bacteriano é utilizada na produção de produtos lácteos, queijos, vinhos, pães, entre outros. 27 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Os principais quesitos do desenvolvimento de uma bactéria, desde sua reprodução até a sua morte. • Quando analisamos o exercício profissional de um microbiologista, sua função pode ser no diagnóstico, na biotecnologia, no meio ambiente ou na indústria de alimentos. Qualquer que seja seu exercício, o conhecimento inerente das bactérias é fundamental. • A morfologia e as estruturas bacterianas nos permitem entender os fatores que podem favorecer o surgimento de doenças. Além disso, sua identificação auxilia no diagnóstico definitivo destas. • Quando nos aprofundamos no conhecimento das estruturas e na genética bacteriana, podemos utilizar o artifício da engenharia genética, fazendo modificações em seu DNA que proporcionarão a utilização de bactérias de forma benéfica, ou ainda as utilizar como vetores para genes, proteínas e enzimas que queremos produzir. Por exemplo, as bactérias modificadas geneticamente são utilizadas na produção do índigo escuro, usado na coloração do jeans, sem causar os danos ambientais dos corantes químicos. • É fundamental o conhecimento da nutrição e metabolismo das bactérias para que seja possível cultivá-las em laboratório, nos dando a base para diagnosticar doenças bacterianas. Além disso, seu metabolismo em muito contribui na produção alimentícia. • A fermentação, feita no metabolismo bacteriano, é utilizada na produção deprodutos lácteos, queijos, vinhos, pães, entre outros. 28 AUTOATIVIDADE 1 Louis Pasteur (1822-1895) contribuiu de forma decisiva com ciência, mais especificamente, com microbiologia. Pasteur derrubou a “teoria da geração espontânea”. Descreva o experimento que introduziu a “teoria germinal das doenças”. 2 Leia e analise as afirmativas a seguir: I- As bactérias possuem apenas um material genético, DNA ou RNA. II- O cromossomo bacteriano está enovelado em torno de uma proteína histona. III- As bactérias possuem apenas um cromossomo, que é circular, e algumas apresentam um material genético denominado plasmídeo, que está disperso no citoplasma. IV- Pelo processo de transdução, muitas bactérias trocam material genético com outras bactérias. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. b) ( ) Somente a afirmativa III é verdadeira. c) ( ) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. d) ( ) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. e) ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras. 3 As bactérias, devido às suas características estruturais, principalmente ao arranjo de sua parede celular, podem ser classificadas em dois grupos complexos. Com base nessas informações, assinale quais são os referidos grupos: a) ( ) Capsídeo e micobactérias. b) ( ) Leveduras e Gram-positivas. c) ( ) Leveduras e Gram-negativas. d) ( ) Gram-positivas e Gram-negativas. e) ( ) Micobactérias e leveduras. 29 CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS FUNGOS 1 INTRODUÇÃO No Tópico 2, você será apresentado a uma visão geral da classificação, estrutura e reprodução dos fungos. Discutiremos os aspectos básicos de sua organização celular, sua morfologia, assim como a classificação de acordo com a forma de reprodução. Vamos abordar as utilidades dos fungos para os seres humanos e o meio ambiente. O conhecimento adquirido será de fundamental importância para o estudo, diagnóstico e tratamento das doenças fúngicas. Você sabe do que é feito o fermento que colocamos em pães e bolos e por que a massa cresce? Como ocorre a produção das cervejas e dos vinhos? Você conhece alguém que tem ou já teve micose nas unhas? Por que é tão difícil tratá-la? E o “sapinho” na boca, quem é seu principal causador? Os cogumelos que são utilizados na culinária, como o shitake e champignon, podem fazer mal, já que são fungos? Quais as importâncias ambientais e econômicas dos fungos? Você já havia pensado sobre algumas dessas questões? Apesar de não parecer, os fungos fazem parte da vida e rotina da maioria de nós, estando presentes em medicamentos, no nosso próprio organismo e, principalmente, em nossa alimentação. Você já teve dor de garganta e precisou tomar antibiótico? Você sabia que muitos antibióticos são feitos a partir dos produtos do metabolismo dos fungos? Quem não gosta de um pão quentinho e fofinho no café da manhã ou de uma pizza aos finais de semana? Para o preparo de pães e massas de pizza, é utilizada uma espécie de fungo. Ela é responsável pelo processo de fermentação, uma reação química que ocorre quando o microrganismo utiliza o açúcar contido na massa, fermentando-a. Nesse processo, o gás carbônico é eliminado gerando gases na massa que vão se acumulando, fazendo com que ela aumente de tamanho e, consequentemente, deixando o pão e a massa fofinhos (MORAES; PAES; HOLANDA, 2009). Os fungos também estão presentes em queijos, dando sabores e cores característicos, e ainda possuem algumas variedades que são comestíveis como, por exemplo, o shimeji. Além de serem muito utilizados para fins nutricionais, os fungos também são úteis para outros meios, como a agricultura, em que espécies são utilizadas no controle biológico de besouros e outros organismos que causam danos às plantações. Contudo, nem tudo são flores. Os fungos estão associados a doenças, como micoses de unha e pele, pano branco, candidíase, entre outras. Estão presentes em processos de apodrecimento de alimentos, podem parasitar outros animais ou UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 30 acabar com uma plantação inteira. Sua presença pode ser observada em qualquer tipo de ambiente. Normalmente, esses microrganismos são vistos como vilões, entretanto eles proporcionam muitos benefícios a nossa saúde e desempenham funções que são vitais para o equilíbrio dos ecossistemas. Para observarmos a presença de fungos no ambiente, sugiro uma atividade prática. Use um meio de cultura preparado com um copo de água e uma colher de sopa de amido de milho ou fubá, leve ao fogo para que engrosse. Despeje o líquido em duas tampas de margarina bem lavadas e/ou fervidas ou dois potinhos rasos até que seu fundo seja coberto e leve um à geladeira. O outro deverá permanecer na bancada da cozinha, a temperatura ambiente. Você deverá observar as mudanças na sua aparência a cada três dias. Após seis dias, ou seja, duas observações, coloque o pote que estava em temperatura ambiente por outros quatro dias na geladeira. Na sequência, exponha-o novamente em temperatura ambiente por mais três dias. Utilize o diário de bordo para anotar suas observações. Caso queira, tire uma foto de ambos os potes e compare-os. Após a análise de ambos os potes, o que foi para a geladeira e o que ficou a temperatura ambiente, pense nas diferenças de condições que cada um recebeu. Lembre-se de que, no início do experimento, o seu meio de cultura estava estéril, pois foi levado ao fogo, e, também, da diferença de temperatura, ao deixarmos um dos potes em contato com o ar do ambiente e com os esporos de fungos que ficam suspensos no ar e o outro na geladeira. Você consegue imaginar um mundo sem os fungos? Os fungos são imprescindíveis para a evolução e o bom funcionamento da natureza. Sem eles, e as suas contínuas contribuições ecológicas, a natureza conforme a conhecemos ruiria. Sem o processo de decomposição feito pelos fungos, os rios seriam intermináveis correntes de entulho biológico; as florestas seriam impenetráveis devido ao acúmulo de matéria orgânica vegetal morta. Na verdade, essas florestas nem existiriam. Sabe-se que os fungos possuem origens muito antigas, com evidências, por meio da descoberta de fósseis, de sua existência há pelo menos 1 bilhão de anos (LORON et al., 2019). Embora fungos fósseis sejam especialmente difíceis de serem encontrados, devido à sua estrutura perecível e não mineralizada, descobertas recentes ajudam a elucidar melhor a história evolutiva do grupo, entre elas, a de um cogumelo fossilizado encontrado aqui no Brasil, mais precisamente na Chapada do Araripe, no Ceará (TAYLOR, 2015). Outra descoberta importante foram os diversos fósseis preservados que datam de aproximadamente 400 milhões de anos. Seu conteúdo nos mostra pequenos fungos associados a algumas das primeiras plantas terrestres conhecidas (TAYLOR, 2015). Isso evidencia o papel essencial que o Reino Fungi teve, e continua tendo, na colonização do ambiente terrestre. Os cogumelos foram citados pela primeira vez nas obras de Eurípedes (480-406 a.C.), e o filósofo grego Teofrasto de Eresos (371-288 a.C.) talvez tenha sido o primeiro a tentar classificar as plantas: os cogumelos foram considerados plantas com a ausência de certos órgãos. Durante a Idade Média, houve pouco avanço no conhecimento sobre fungos (BENCHIMOL; SÁ, 2004). 31 Figura 1 – Raymond Jacques Adrien Sabouraud Fonte: Neufeld (2018). Descrição da Imagem: trata-se de uma foto em preto e branco que apresenta um homem de meia idade, aparentemente calvo, com bigode e cavanhaque brancos. Ele olha para o fotógrafo. Ele veste uma boina escura na cabeça, um terno escuro e camisa com gravata. Louis Pasteur contribuiu de modo significativo para as indústrias de vinho com seus estudos sobre os microrganismos, pois ele descobriu que as leveduras cuidadosamente selecionadas produziam um bom vinho, mas que misturas de outros microrganismos competiam com a levedura pelo açúcar e tornavam o vinho oleoso ou com sabor azedo. Para combater esse problema,
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