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FUNDAMENTOS DO 
AGRONEGÓCIO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Reconhecer os principais conceitos do setor da produção primária.
 > Diferenciar os segmentos: antes, dentro e depois da porteira.
 > Descrever o papel do cooperativismo agropecuário.
Introdução
O Brasil é reconhecido mundialmente pelo agronegócio. Diariamente são apre-
sentados números de produção e exportação de diferentes produtos desse 
setor. Para atingir esse patamar de importância, foram décadas de melhorias, 
mudanças e crescimento no setor agropecuário. Por isso, é fundamental conhecer 
os setores e as atividades que fazem do agronegócio brasileiro o sustento da 
economia do país.
 As mudanças no campo nas últimas décadas que levaram ao desenvolvi-
mento do agronegócio brasileiro iniciaram no setor primário da produção. Essas 
mudanças ocorreram para acompanhar as demandas nacionais e internacionais e 
resultaram no crescimento de todos os setores associados, tanto os necessários 
para a produção quanto os relacionados ao seu processamento e comercialização. 
Assim, gerou-se o que hoje é chamado de agronegócio. Além disso, as mudanças 
impulsionaram o desenvolvimento de novas maneiras de realizar a atividade, 
como o cooperativismo agrícola, hoje uma grande força no país.
Introdução ao 
agronegócio
Walter Mesquita Filho
Neste capítulo, você vai estudar as principais características dos setores 
primários do agronegócio, a agricultura e a pecuária, aprendendo como esses 
setores passaram a ser chamados de “dentro da porteira” e levaram à necessidade 
de incorporar aqueles chamados de “antes da porteira” e “depois da porteira”. 
Vai, além disso, conhecer o que são cooperativas agrícolas, como contribuíram 
para o crescimento dos pequenos proprietários e passaram a ser fundamentais 
para o agronegócio brasileiro.
Da agropecuária ao agronegócio no Brasil
A produção agrícola no Brasil até meados dos anos 1960 foi desenvolvida 
focada na propriedade agrícola. Todas as atividades necessárias para a 
produção eram, basicamente, desenvolvidas e adaptadas pelos proprietários, 
envolvendo a produção de adubos, usos de equipamentos e comercialização. 
Era grande o número de pessoas que vivia na propriedade. Dentro das pro-
priedades, eram realizadas atividades agrícolas, com plantios de diferentes 
culturas, como milho, feijão, soja, em conjunto com pecuária leiteira e de 
corte. Além disso, os proprietários produziam embutidos, compotas e outros 
produtos, que eram comercializados localmente. Portanto, os produtores 
rurais eram versáteis em seus conhecimentos e atividades, conhecendo um 
pouco de diferentes técnicas de produção. 
Esse cenário atualmente é diferente, com produtores e propriedades 
cada vez mais especializadas. A produção agrícola brasileira está entre as 
maiores do mundo em todas as suas áreas, da agricultura à pecuária e às 
agroindústrias (EMBRAPA, 2018). A agricultura no Brasil hoje é caracteri-
zada por um pequeno número de grandes propriedades, responsáveis pela 
produção principalmente de grãos. A soja é a cultura mais produzida e de 
maior valor de produção, seguida por milho, cana-de-açúcar e café (Figura 
1). Essas quatro culturas são responsáveis por praticamente 75% do que é 
produzido nesse ramo agrícola (IBGE, 2020b). Os demais 25% contêm todas 
as outras atividades agrícolas, como produção de laranja, feijão, algodão 
e mandioca.
Introdução ao agronegócio2
Figura 1. Setores com maior valor de produção na agricultura no Brasil em 2020.
Fonte: IBGE (2020b, documento on-line). 
De modo geral, as grandes propriedades são responsáveis pela produção 
das culturas de soja, milho e cana-de-açúcar, e as demais culturas se con-
centram nas pequenas propriedades, com algumas exceções. Por exemplo, a 
produção de laranja é realizada em grandes propriedades em estados como 
São Paulo, porém não de tamanho parecido com aquelas produtoras das 
principais culturas (IBGE, 2019). 
Em conjunto com a agricultura, o setor de pecuária também é de grande 
destaque nacional e internacionalmente. Em termos de números, a produção 
de galináceos é a dominante, com um rebanho de mais de um 1,4 trilhão de 
cabeças de animais, seguida dos bovinos com mais de 218 milhões de animais 
(Figura 2). Entretanto, em relação ao valor da produção, essa ordem se inverte, 
sendo a carne bovina a de maior valor no mercado, gerando receitas em 
torno de duas vezes maiores do que as da carne de frango (BRASIL, 2021a). A 
suinocultura também é outra atividade de grande importância econômica no 
país, fornecendo proteína animal para o país e para exportação. 
Introdução ao agronegócio 3
Figura 2. Setores com maior valor de produção na agropecuária no Brasil em 2020.
Fonte: IBGE (2020b, documento on-line). 
O setor agropecuário se destaca pela importância econômica dentro do 
agronegócio em relação aos demais, da mesma maneira que no valor da pro-
dução. Das 100 maiores empresas do agronegócio brasileiro no ano de 2020, 
as 10 primeiras eram produtoras de proteína animal, do setor sucroalcooleiro 
ou relacionadas ao complexo da soja. A exceção é a AMBEV, considerada uma 
agroindústria por usar matéria-prima agrícola para produção de bebidas, que 
ocupa a quarta posição (AS 100 MAIORES..., 2021).
Em virtude das características atuais da produção agrícola, utiliza-se 
atualmente o termo “complexo” para diferentes áreas de produção, 
indicando a grande quantidade de produtos gerados. Ao ler valores de produção 
do complexo da soja, por exemplo, isso significa que estão sendo calculados 
tudo que foi gerado a partir do grão, incluindo sua venda direta, na forma de 
farelo e óleo, que incluem também outros tipos, gerando um total de 20 produtos. 
Outros exemplos incluem o complexo sucroalcooleiro, que engloba produção 
de açúcar e álcool, gerando um total de 52 produtos.
A modernização da agricultura acarretou mudanças não só no processo 
produtivo, mas também nas atividades realizadas nas fazendas, desen-
volvendo as agroindústrias. Estas podem ser definidas como ambientes 
preparados e equipados para transformação da matéria-prima que vem do 
campo, de produtos de agricultura, pecuária e demais atividades do setor 
(BRASIL, 2021b). Por essa definição, atualmente agroindústrias podem ser 
consideradas tanto as grandes empresas produtoras agrícolas — porque, além 
de produzirem a matéria-prima, fazem seu processamento e comercialização 
Introdução ao agronegócio4
—, quanto as pequenas indústrias associadas a pequenos produtores. Além da 
diferença no faturamento, elas se opõem no que processam e comercializam.
O complexo da soja inclui as indústrias de processamento do grão, como de 
produção de farelo de soja e esmagamento para produção de óleo. Do mesmo 
modo, as empresas produtoras de proteína animal conduzem os rebanhos 
e fazem o abate, processamento e comercialização da carne e derivados. 
O mesmo se observa no setor sucroalcooleiro, com as usinas cultivando, 
processando e comercializando produtos, como açúcar. Portanto, essas 
podem ser consideradas agroindústrias e, devido ao porte, são também as 
mais expressivas dentro do agronegócio (IBGE, 2019).
Entretanto, as agroindústrias também estão cada vez mais presentes entre 
os pequenos produtores. Nesses casos, apesar de também poderem realizar 
as atividades daquelas de grande porte, a maioria é voltada para agregar valor 
ao que é produzido pelos produtores locais. Destacam-se na produção de 
derivados de leite, como queijos e requeijão, de embutidos, compotas, cachaça, 
fumo, entre outros produtos normalmente comercializados diretamente pelo 
produtor, de maneira local ou em cooperação com outros produtores (IBGE, 2019). 
Observe na Figura 3 que a agroindústria no Brasil é majoritariamente 
uma atividade familiar, sendo mais 85,9% do total gerido nas pequenas pro-
priedades. No entanto, em relação à produção e aos valores, o cenário é 
completamente oposto. A quantidade produzida e vendida, assim como o valor 
recebido são muito maiores nas agroindústrias não familiares(IBGE, 2020).
Figura 3. Proporção na agroindústria de estabelecimento, da quantidade produzida, da 
quantidade vendida e do valor vendido, por tipologia do produtor, no Brasil.
Fonte: Cdaptada de IBGE (2020a).
Introdução ao agronegócio 5
 Os números das cadeias da agricultura, pecuária e suas agroindústrias 
mostram a importância dessas atividades para a economia do Brasil. Observe 
a Figura 4. 
Figura 4. Contribuição total (linha vermelha) do agronegócio brasileiro, por ramo agrícola 
(linha azul escura) e pecuário (linha amarela escura) e respectivas agroindústrias, agrícola 
(linha azul claro) e pecuária (amarelo claro) entre 1996 e 2020.
Fonte: Adaptada de Cepea (2020). 
Todo o agronegócio, que inclui as atividades de insumos, atividades pri-
márias, agroindústrias e serviços, contribuiu com 26% do PIB brasileiro em 
2020 e deve repetir esse valor em 2021. Desse total, a agropecuária, que 
engloba o setor primário da agricultura e pecuária, contribuiu com 4%. Indi-
vidualmente, cada um desses setores contribui significativamente para o PIB 
do país. As atividades relacionadas apenas ao setor primário da agricultura 
vêm contribuindo com cerca de 3%, e a pecuária com mais 1,5%. Em relação 
às respectivas agroindústrias, a agrícola passou de cerca de 10% em 1996 
(início da série histórica) e atualmente vem contribuindo com cerca de 4%, 
e a agroindústria da pecuária contribui com porcentagem semelhante ao da 
pecuária, cerca da 1,5% (CEPEA, 2020).
Os setores do agronegócio, em virtude da importância econômica, 
recebem incentivos e planos nacionais para realizar suas atividades. 
Por meio de lei, esses planos objetivam incentivar o desenvolvimento dos 
setores pela regulamentação de empréstimos mais baratos, linhas de fomento 
Introdução ao agronegócio6
específicas para cada setor. Para as agroindústrias, está aprovada uma Proposta 
de Lei para criação do Plano Nacional de Incentivo à Agroindústria (PL nº 3.584, 
de 11 de novembro de 2015), visando à regularização das informais, regularizando 
linhas de créditos, entre outras atividades para o desenvolvimento do setor. 
Vale lembrar que muitos municípios têm legislação para isso, incentivando e 
fomentando pequenas agroindústrias entre seus produtores, sendo importante 
consultar a legislação da região em que o profissional trabalha.
Setores que fizeram da agropecuária 
o agronegócio
O desenvolvimento econômico, tecnológico e social dos setores primários 
da agropecuária foram responsáveis por impulsionar uma cadeia de setores 
ao seu redor. Para que uma fazenda pudesse atingir resultados maiores, 
aproveitando mais eficientemente o solo, todos os insumos deveriam contri-
buir para isso. Tendo esses insumos, a propriedade deveria estar atualizada 
com os métodos de manejo mais adequados para produção. Com uma maior 
produção e de melhor qualidade, os rendimentos aumentaram, levando 
os produtores a buscarem ainda mais alternativas para continuar com as 
melhorias em qualidade e ganho. Os produtores começaram a se aventurar 
no setor de processamento e industrialização, realizando essas atividades 
na propriedade, aumentando seus ganhos por venderem diretamente seus 
produtos ou por diminuírem a dependência de terceiros para que sua matéria-
-prima chegasse às indústrias, surgindo assim as agroindústrias. Atualmente, 
todo o setor está voltado também ao consumidor e aos serviços prestados, 
pois estes indicam as tendências do mercado e quais medidas necessárias 
para se adequar a elas. Desse modo, surgiu o agronegócio, considerando 
os setores antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira, que 
inclui as agroindústrias e os serviços relacionado à agropecuária (SNA, 2020).
O setor considerado “antes da porteira” é relacionado aos insumos e às 
atividades que subsidiam a produção agropecuária. Inclui as pesquisas básicas 
e aplicadas para desenvolvimento de novos produtos, métodos de manejo, 
variedades, além de financiamento, já que linhas especiais de crédito, por 
exemplo, podem incentivar os investimentos dos produtores. Mais especifi-
camente à produção, abrange os mercados de sementes, mudas, fertilizantes, 
corretivos e de máquinas agrícolas. É um setor fundamental para a produção, 
pois já se define uma maior produção pelo uso dos insumos mais adequados, 
mas contribui relativamente pouco como PIB do agronegócio, cerca de 4% ao 
ano, porque não gera valores diretamente. O que existe nesse setor é forte 
Introdução ao agronegócio 7
tecnologia desenvolvida por empresas e universidades, que desenvolvem 
sementes de alto rendimento, métodos de adubação mais eficientes, plantas 
resistentes aos fatores bióticos, como clima e abióticos, a exemplo de herbi-
cidas, doenças e pragas. Portanto, o setor tem grandes investimentos, mas 
retorno menor, de maneira indireta, como modo de garantir produtividade 
(LIMA; ANTUNES, 2012). Confira esses dados na Figura 5.
Figura 5. (a) Fluxograma dos setores do agronegócio “antes da porteira”, “dentro da porteira” 
e “depois da porteira” e “diretamente ao consumidor”. (b) Respectivas percentagens de 
contribuição ao PIB do agronegócio brasileiro no ano de 2020.
Fonte: (a) ABAG/RP (2021, documento on-line). (b) Adaptada de Cepea (2020, documento on-line). 
O setor chamado “dentro da porteira” corresponde ao que conhecemos 
como agricultura e agropecuária. São as atividades necessárias para produ-
ção de culturas ou manejo animais dentro da propriedade. Atualmente, nas 
grandes empresas produtoras, o uso de tecnologia para produzir é altíssimo, 
incluindo maquinários capazes de entregar a quantidade necessária de adubos 
ou defensivos em cada metro quadrado da cultura, variando a quantidade 
em função da localização dos pontos. Além disso, estão cada vez mais sendo 
utilizados os insumos (antes da porteira) com mais tecnologia disponível e 
adequados ao local de produção. A busca por desenvolvimento faz com que 
Introdução ao agronegócio8
o “dentro da porteira” hoje englobe também as técnicas mais modernas de 
manejo de pragas e doenças, de administração da fazenda, utilizando-se 
cada vez mais dados e conhecimento técnico para conduzir a produção na 
propriedade, seguindo as técnicas mais adequadas à cultura ou ao animal. 
Gera-se, assim, maior produtividade e menores custos (LIMA; ANTUNES, 2012). 
Atualmente, esse setor sozinho é responsável por mais de um quarto do PIB 
do agronegócio
Dentro da fazenda, cada vez mais são vistos computadores, técnicos e 
equipamentos de última geração para acompanhar tudo o que acontece 
na propriedade. Muitas grandes empresas estão cada vez mais buscando 
basear o manejo de sua produção de maneira mais eficiente e rentável para 
todos. Isso inclui identificar animais, desenvolver plantas resistentes à seca, 
a doenças e pragas, métodos de manejo de pragas mais sustentáveis, entre 
outras (LIMA; ANTUNES, 2012).
Por fim, temos o setor “depois da porteira”, que se caracteriza por produtos 
e serviços gerados pelo agronegócio. Nesse setor, estão as agroindústrias, 
responsáveis pelo processamento da matéria-prima gerada no campo, e 
o setor de comercialização. Atualmente, o setor “depois da porteira” vem 
contribuindo com 24% do PIB do agronegócio. Além das agroindústrias, tam-
bém engloba os grandes armazéns, os meios de transportes (logística) dos 
produtos agropecuários até seu uso. Tudo isso para entregar um produto de 
melhor qualidade e com as características desejadas pelos consumidores, 
sejam eles em restaurantes, lanchonetes, feiras agropecuárias entre outros. 
Esse setor é o que mais agrega valor ao PIB do agronegócio, pois é também o 
que gera maior rendimento, já que entrega o produto processado ao cliente, 
possibilitando maior valor de venda.
O sistema agrícola brasileiro é muito dinâmico, variando em função 
de clima, políticas públicas nacionais e internacionais, entre vários 
outros fatores. Por isso, acompanhar os dados de produção, área plantada, custos 
e demais informações é imprescindível para que o profissionalse mantenha 
atualizado. Nesse quesito, o Brasil tem fontes confiáveis com as informações 
atualizadas do setor, inseridas no governo, universidades, centro de pesquisas. 
Confira a seguir algumas delas.
 � Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE): tem um site com o le-
vantamento da produção, chamado Levantamento Sistemático da Produção 
Agrícola (LSPA). Sua função é fornecer informações de área plantada, área 
colhida, quantidade produzida e rendimento médio de produtos seleciona-
dos com base em critérios de importância econômica e social para o país.
Introdução ao agronegócio 9
 � Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB): responsável pela disponibi-
lização de estoque de alimentos produzidos, previsão de safras, informações 
sobre custos de produção, frete, entre outras. 
 � Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA): vinculado à 
ESALQ/USP, disponibiliza diariamente as cotações dos preços de arroba e 
boi gordo, saca de soja, milho e de todas os principais produtos agrícolas 
do país. É a fonte principal das cotações dos produtos, cálculos do PIB agro-
pecuário, entre outros.
Cooperativas agrícolas e agronegócio
O agronegócio gera grandes números porque os diferentes setores trabalham 
de maneira organizada, numa cadeia produtiva em que há uma forte ligação 
entre todos. Baseado principalmente em grandes empresas, esse tipo de 
produção em cadeia que caracteriza o agronegócio é difícil de ser alcançado 
por pequenos produtores isoladamente, já que seu poder de compra e venda 
é muito limitado. Por isso, uma prática que existe há anos é o chamado 
cooperativismo agrícola. 
Regulamentado no país pela Lei Federal nº 5.764, de 16 de dezembro 
de 1971, conhecida como Lei do Cooperativismo, essa atividade é definida 
como “[…] sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de 
natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos 
associados […]” (BRASIL, 1971, documento on-line). Portanto, as cooperativas 
nada mais são do que a união de pequenos produtores com o objetivo de 
melhorar a produção e a renda dos associados, trabalhando como uma única 
fazenda. Isso possibilita que os produtores que estariam fora do agronegó-
cio passem a integrar um dos principais elos, o setor primário da produção 
agropecuária (IBGE, 2020b).
A importância econômica e sua influência no agronegócio brasileiro é de-
monstrada pelos números. Dentre as 100 maiores empresas do agronegócio no 
país em 2020, 22 são cooperativas de diferentes setores, como sucroenergético, 
agroindústria, cafeicultura, citricultura, entre outras (AS 100 MAIORES..., 2021). 
Cada uma delas apresentou faturamento superior a 1 bilhão de reais, valores 
que não seriam alcançados pelos produtores isoladamente. Atualmente, são 
quase 600 mil estabelecimentos associados a cooperativas no Brasil, o que 
equivale a 11,4% de todos os estabelecimentos agropecuários do país. A força 
das cooperativas é maior nos estados das regiões Sul, Sudeste e parte da 
Centro-Oeste, com destaque para o estado do Rio Grande do Sul. Cerca de 70 
Introdução ao agronegócio10
milhões de hectares constituem a área de todos as propriedades associadas 
a alguma cooperativa, correspondendo a 20% de toda área agrícola do país. 
As principais características são o acompanhamento técnico recebido, sendo 
cerca de 64% dos associados recebendo orientação técnica, valor bem maior 
que o do Brasil, onde apenas 20% dos estabelecimentos agrícolas recebem 
orientação técnica adequada (IBGE, 2019, 2020a, 2020b). 
A importância do cooperativismo para os pequenos produtores é de-
monstrada pelo número de agricultores familiares associados, que soma 
71,2% de todos os cooperados no Brasil, correspondendo a cerca de 410 mil 
estabelecimentos. Em termos da área das propriedades, predominam aquelas 
de até 50 ha, que somam 70,6% dos estabelecimentos associados (IBGE, 2019).
Uma característica importante das cooperativas é seu caráter civil. Isso 
significa que não são empresas e estão, portanto, sujeitas a normas e im-
postos distintos, o que incentiva sua criação. Por exemplo, é possível criar 
cooperativas para qualquer atividade, serviço ou operação, desde que em 
acordo com a lei (BRASIL, 1971). Além de cooperativas voltadas principalmente 
para o setor agropecuário, dando suporte técnico, muitas atualmente já são 
também agroindústrias, processando e comercializando produtos dos coo-
perados. Além disso, há cooperativas de créditos, cooperativas de setores 
agrícolas importantes, como de produtores de café, laranja, açúcar e álcool, 
entre outros (IBGE, 2020a, 2020b).
Essas características das cooperativas e seus sucessivos ganhos dentro 
do agronegócio brasileiro levou a um forte crescimento do número de as-
sociados no Brasil. O número de propriedades associadas às cooperativas 
aumentou em mais de 67% entre 2006 e 2017, de acordo com os dados mais 
atuais (IBGE, 2020a, 2020b).
As cooperativas agrícolas estão presentes no Brasil desde o início 
do século passado, mas ganharam mais importância principalmente 
a partir dos anos 1970, paralelamente ao desenvolvimento da agricultura agrí-
cola. Um grande exemplo de cooperativa que surgiu nessa época é a COAMO 
(Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda.). Nasceu na cidade de Campo 
Mourão, na região Centro-Oeste do estado do Paraná, em virtude da demanda 
pela venda dos grãos produzidos (inicialmente trigo, depois soja e outros), 
que estavam iniciando sua produção naquela região. Em novembro de 1970, 79 
produtores se associaram e criaram a cooperativa. Atualmente, há 111 unidades 
espalhadas pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, 
recebendo a produção agrícola de 29 mil associados. Tem em seu quadro mais 
de 8 mil funcionários efetivos, responsáveis por conduzir as operações técnicas 
e atividades da cooperativa.
Introdução ao agronegócio 11
A COAMO é também uma grande força do agronegócio, estando listada como 
a 16ª maior empresa do agronegócio brasileiro em 2020 (AS 100 MAIORES..., 
2021), por atuar em todos os setores do agro. Além de atuar fortemente dentro 
da porteira, seus associados podem contar com sementes e outros insumos. 
Depois da porteira, possui duas agroindústrias, localizadas em Campo Mou-
rão e em Dourados (MS), onde é processada a matéria-prima produzida pelos 
associados, realizando esmagamento de soja, indústria de óleo, manteiga e 
margarina, fiação de algodão, moagem de trigo e torrefação e moagem de café, 
entre outras atividades. 
Somente em 2020, a COAMO foi responsável por 3,1% da produção de grãos 
no país. Outra atividade de destaque e grande relevância é a alta capacidade de 
armazenamento de grãos, com capacidade para armazenar mais de 6,5 milhões 
de toneladas de diferentes grãos (como soja, milho, trigo, café) anualmente. Ao 
cooperado, possibilita retornos financeiros, pois atua em todo o agronegócio, 
diminuindo custos e agregando valor ao industrializar e comercializar os produtos 
(COAMO, 2016).
O Brasil ganhou destaque no agronegócio mundial devido ao seu potencial 
para produção agropecuária, mas principalmente em função da tecnificação 
do setor primário, tendo hoje agricultura e pecuária entre as mais competitivas 
e desenvolvidas mundialmente. Além disso, os incentivos ao desenvolvimento 
de agroindústrias, possibilitou agregar valor aos produtos, assim como pro-
mover o desenvolvimento de pequenos produtores. Estes, ao se associarem 
a cooperativas, veem cada vez mais seu produto ganhar mercado, produzindo 
de maneira mais tecnificada e se inserido no agronegócio. Ao organizar toda 
a cadeia produtiva desde “antes da porteira”, focando em melhorias técnicas 
no “dentro da porteira” e em tecnologia e expansão de mercado no “depois 
da porteira”, o Brasil deu um salto enorme dentro do agronegócio mundial, 
sendo destaque em vários setores e com previsões de continuar crescendo e 
aumentando sua participação nesse setor altamente competitivo e dinâmico.
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Introdução ao agronegócio12
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vismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. 
Brasília, DF: Presidência da República, 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov.
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www.sna.agr.br/agronegocio/. Acesso em: 3 dez. 2021.
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Introdução ao agronegócio 13

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