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FUNDAMENTOS DO AGRONEGÓCIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer os principais conceitos do setor da produção primária. > Diferenciar os segmentos: antes, dentro e depois da porteira. > Descrever o papel do cooperativismo agropecuário. Introdução O Brasil é reconhecido mundialmente pelo agronegócio. Diariamente são apre- sentados números de produção e exportação de diferentes produtos desse setor. Para atingir esse patamar de importância, foram décadas de melhorias, mudanças e crescimento no setor agropecuário. Por isso, é fundamental conhecer os setores e as atividades que fazem do agronegócio brasileiro o sustento da economia do país. As mudanças no campo nas últimas décadas que levaram ao desenvolvi- mento do agronegócio brasileiro iniciaram no setor primário da produção. Essas mudanças ocorreram para acompanhar as demandas nacionais e internacionais e resultaram no crescimento de todos os setores associados, tanto os necessários para a produção quanto os relacionados ao seu processamento e comercialização. Assim, gerou-se o que hoje é chamado de agronegócio. Além disso, as mudanças impulsionaram o desenvolvimento de novas maneiras de realizar a atividade, como o cooperativismo agrícola, hoje uma grande força no país. Introdução ao agronegócio Walter Mesquita Filho Neste capítulo, você vai estudar as principais características dos setores primários do agronegócio, a agricultura e a pecuária, aprendendo como esses setores passaram a ser chamados de “dentro da porteira” e levaram à necessidade de incorporar aqueles chamados de “antes da porteira” e “depois da porteira”. Vai, além disso, conhecer o que são cooperativas agrícolas, como contribuíram para o crescimento dos pequenos proprietários e passaram a ser fundamentais para o agronegócio brasileiro. Da agropecuária ao agronegócio no Brasil A produção agrícola no Brasil até meados dos anos 1960 foi desenvolvida focada na propriedade agrícola. Todas as atividades necessárias para a produção eram, basicamente, desenvolvidas e adaptadas pelos proprietários, envolvendo a produção de adubos, usos de equipamentos e comercialização. Era grande o número de pessoas que vivia na propriedade. Dentro das pro- priedades, eram realizadas atividades agrícolas, com plantios de diferentes culturas, como milho, feijão, soja, em conjunto com pecuária leiteira e de corte. Além disso, os proprietários produziam embutidos, compotas e outros produtos, que eram comercializados localmente. Portanto, os produtores rurais eram versáteis em seus conhecimentos e atividades, conhecendo um pouco de diferentes técnicas de produção. Esse cenário atualmente é diferente, com produtores e propriedades cada vez mais especializadas. A produção agrícola brasileira está entre as maiores do mundo em todas as suas áreas, da agricultura à pecuária e às agroindústrias (EMBRAPA, 2018). A agricultura no Brasil hoje é caracteri- zada por um pequeno número de grandes propriedades, responsáveis pela produção principalmente de grãos. A soja é a cultura mais produzida e de maior valor de produção, seguida por milho, cana-de-açúcar e café (Figura 1). Essas quatro culturas são responsáveis por praticamente 75% do que é produzido nesse ramo agrícola (IBGE, 2020b). Os demais 25% contêm todas as outras atividades agrícolas, como produção de laranja, feijão, algodão e mandioca. Introdução ao agronegócio2 Figura 1. Setores com maior valor de produção na agricultura no Brasil em 2020. Fonte: IBGE (2020b, documento on-line). De modo geral, as grandes propriedades são responsáveis pela produção das culturas de soja, milho e cana-de-açúcar, e as demais culturas se con- centram nas pequenas propriedades, com algumas exceções. Por exemplo, a produção de laranja é realizada em grandes propriedades em estados como São Paulo, porém não de tamanho parecido com aquelas produtoras das principais culturas (IBGE, 2019). Em conjunto com a agricultura, o setor de pecuária também é de grande destaque nacional e internacionalmente. Em termos de números, a produção de galináceos é a dominante, com um rebanho de mais de um 1,4 trilhão de cabeças de animais, seguida dos bovinos com mais de 218 milhões de animais (Figura 2). Entretanto, em relação ao valor da produção, essa ordem se inverte, sendo a carne bovina a de maior valor no mercado, gerando receitas em torno de duas vezes maiores do que as da carne de frango (BRASIL, 2021a). A suinocultura também é outra atividade de grande importância econômica no país, fornecendo proteína animal para o país e para exportação. Introdução ao agronegócio 3 Figura 2. Setores com maior valor de produção na agropecuária no Brasil em 2020. Fonte: IBGE (2020b, documento on-line). O setor agropecuário se destaca pela importância econômica dentro do agronegócio em relação aos demais, da mesma maneira que no valor da pro- dução. Das 100 maiores empresas do agronegócio brasileiro no ano de 2020, as 10 primeiras eram produtoras de proteína animal, do setor sucroalcooleiro ou relacionadas ao complexo da soja. A exceção é a AMBEV, considerada uma agroindústria por usar matéria-prima agrícola para produção de bebidas, que ocupa a quarta posição (AS 100 MAIORES..., 2021). Em virtude das características atuais da produção agrícola, utiliza-se atualmente o termo “complexo” para diferentes áreas de produção, indicando a grande quantidade de produtos gerados. Ao ler valores de produção do complexo da soja, por exemplo, isso significa que estão sendo calculados tudo que foi gerado a partir do grão, incluindo sua venda direta, na forma de farelo e óleo, que incluem também outros tipos, gerando um total de 20 produtos. Outros exemplos incluem o complexo sucroalcooleiro, que engloba produção de açúcar e álcool, gerando um total de 52 produtos. A modernização da agricultura acarretou mudanças não só no processo produtivo, mas também nas atividades realizadas nas fazendas, desen- volvendo as agroindústrias. Estas podem ser definidas como ambientes preparados e equipados para transformação da matéria-prima que vem do campo, de produtos de agricultura, pecuária e demais atividades do setor (BRASIL, 2021b). Por essa definição, atualmente agroindústrias podem ser consideradas tanto as grandes empresas produtoras agrícolas — porque, além de produzirem a matéria-prima, fazem seu processamento e comercialização Introdução ao agronegócio4 —, quanto as pequenas indústrias associadas a pequenos produtores. Além da diferença no faturamento, elas se opõem no que processam e comercializam. O complexo da soja inclui as indústrias de processamento do grão, como de produção de farelo de soja e esmagamento para produção de óleo. Do mesmo modo, as empresas produtoras de proteína animal conduzem os rebanhos e fazem o abate, processamento e comercialização da carne e derivados. O mesmo se observa no setor sucroalcooleiro, com as usinas cultivando, processando e comercializando produtos, como açúcar. Portanto, essas podem ser consideradas agroindústrias e, devido ao porte, são também as mais expressivas dentro do agronegócio (IBGE, 2019). Entretanto, as agroindústrias também estão cada vez mais presentes entre os pequenos produtores. Nesses casos, apesar de também poderem realizar as atividades daquelas de grande porte, a maioria é voltada para agregar valor ao que é produzido pelos produtores locais. Destacam-se na produção de derivados de leite, como queijos e requeijão, de embutidos, compotas, cachaça, fumo, entre outros produtos normalmente comercializados diretamente pelo produtor, de maneira local ou em cooperação com outros produtores (IBGE, 2019). Observe na Figura 3 que a agroindústria no Brasil é majoritariamente uma atividade familiar, sendo mais 85,9% do total gerido nas pequenas pro- priedades. No entanto, em relação à produção e aos valores, o cenário é completamente oposto. A quantidade produzida e vendida, assim como o valor recebido são muito maiores nas agroindústrias não familiares(IBGE, 2020). Figura 3. Proporção na agroindústria de estabelecimento, da quantidade produzida, da quantidade vendida e do valor vendido, por tipologia do produtor, no Brasil. Fonte: Cdaptada de IBGE (2020a). Introdução ao agronegócio 5 Os números das cadeias da agricultura, pecuária e suas agroindústrias mostram a importância dessas atividades para a economia do Brasil. Observe a Figura 4. Figura 4. Contribuição total (linha vermelha) do agronegócio brasileiro, por ramo agrícola (linha azul escura) e pecuário (linha amarela escura) e respectivas agroindústrias, agrícola (linha azul claro) e pecuária (amarelo claro) entre 1996 e 2020. Fonte: Adaptada de Cepea (2020). Todo o agronegócio, que inclui as atividades de insumos, atividades pri- márias, agroindústrias e serviços, contribuiu com 26% do PIB brasileiro em 2020 e deve repetir esse valor em 2021. Desse total, a agropecuária, que engloba o setor primário da agricultura e pecuária, contribuiu com 4%. Indi- vidualmente, cada um desses setores contribui significativamente para o PIB do país. As atividades relacionadas apenas ao setor primário da agricultura vêm contribuindo com cerca de 3%, e a pecuária com mais 1,5%. Em relação às respectivas agroindústrias, a agrícola passou de cerca de 10% em 1996 (início da série histórica) e atualmente vem contribuindo com cerca de 4%, e a agroindústria da pecuária contribui com porcentagem semelhante ao da pecuária, cerca da 1,5% (CEPEA, 2020). Os setores do agronegócio, em virtude da importância econômica, recebem incentivos e planos nacionais para realizar suas atividades. Por meio de lei, esses planos objetivam incentivar o desenvolvimento dos setores pela regulamentação de empréstimos mais baratos, linhas de fomento Introdução ao agronegócio6 específicas para cada setor. Para as agroindústrias, está aprovada uma Proposta de Lei para criação do Plano Nacional de Incentivo à Agroindústria (PL nº 3.584, de 11 de novembro de 2015), visando à regularização das informais, regularizando linhas de créditos, entre outras atividades para o desenvolvimento do setor. Vale lembrar que muitos municípios têm legislação para isso, incentivando e fomentando pequenas agroindústrias entre seus produtores, sendo importante consultar a legislação da região em que o profissional trabalha. Setores que fizeram da agropecuária o agronegócio O desenvolvimento econômico, tecnológico e social dos setores primários da agropecuária foram responsáveis por impulsionar uma cadeia de setores ao seu redor. Para que uma fazenda pudesse atingir resultados maiores, aproveitando mais eficientemente o solo, todos os insumos deveriam contri- buir para isso. Tendo esses insumos, a propriedade deveria estar atualizada com os métodos de manejo mais adequados para produção. Com uma maior produção e de melhor qualidade, os rendimentos aumentaram, levando os produtores a buscarem ainda mais alternativas para continuar com as melhorias em qualidade e ganho. Os produtores começaram a se aventurar no setor de processamento e industrialização, realizando essas atividades na propriedade, aumentando seus ganhos por venderem diretamente seus produtos ou por diminuírem a dependência de terceiros para que sua matéria- -prima chegasse às indústrias, surgindo assim as agroindústrias. Atualmente, todo o setor está voltado também ao consumidor e aos serviços prestados, pois estes indicam as tendências do mercado e quais medidas necessárias para se adequar a elas. Desse modo, surgiu o agronegócio, considerando os setores antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira, que inclui as agroindústrias e os serviços relacionado à agropecuária (SNA, 2020). O setor considerado “antes da porteira” é relacionado aos insumos e às atividades que subsidiam a produção agropecuária. Inclui as pesquisas básicas e aplicadas para desenvolvimento de novos produtos, métodos de manejo, variedades, além de financiamento, já que linhas especiais de crédito, por exemplo, podem incentivar os investimentos dos produtores. Mais especifi- camente à produção, abrange os mercados de sementes, mudas, fertilizantes, corretivos e de máquinas agrícolas. É um setor fundamental para a produção, pois já se define uma maior produção pelo uso dos insumos mais adequados, mas contribui relativamente pouco como PIB do agronegócio, cerca de 4% ao ano, porque não gera valores diretamente. O que existe nesse setor é forte Introdução ao agronegócio 7 tecnologia desenvolvida por empresas e universidades, que desenvolvem sementes de alto rendimento, métodos de adubação mais eficientes, plantas resistentes aos fatores bióticos, como clima e abióticos, a exemplo de herbi- cidas, doenças e pragas. Portanto, o setor tem grandes investimentos, mas retorno menor, de maneira indireta, como modo de garantir produtividade (LIMA; ANTUNES, 2012). Confira esses dados na Figura 5. Figura 5. (a) Fluxograma dos setores do agronegócio “antes da porteira”, “dentro da porteira” e “depois da porteira” e “diretamente ao consumidor”. (b) Respectivas percentagens de contribuição ao PIB do agronegócio brasileiro no ano de 2020. Fonte: (a) ABAG/RP (2021, documento on-line). (b) Adaptada de Cepea (2020, documento on-line). O setor chamado “dentro da porteira” corresponde ao que conhecemos como agricultura e agropecuária. São as atividades necessárias para produ- ção de culturas ou manejo animais dentro da propriedade. Atualmente, nas grandes empresas produtoras, o uso de tecnologia para produzir é altíssimo, incluindo maquinários capazes de entregar a quantidade necessária de adubos ou defensivos em cada metro quadrado da cultura, variando a quantidade em função da localização dos pontos. Além disso, estão cada vez mais sendo utilizados os insumos (antes da porteira) com mais tecnologia disponível e adequados ao local de produção. A busca por desenvolvimento faz com que Introdução ao agronegócio8 o “dentro da porteira” hoje englobe também as técnicas mais modernas de manejo de pragas e doenças, de administração da fazenda, utilizando-se cada vez mais dados e conhecimento técnico para conduzir a produção na propriedade, seguindo as técnicas mais adequadas à cultura ou ao animal. Gera-se, assim, maior produtividade e menores custos (LIMA; ANTUNES, 2012). Atualmente, esse setor sozinho é responsável por mais de um quarto do PIB do agronegócio Dentro da fazenda, cada vez mais são vistos computadores, técnicos e equipamentos de última geração para acompanhar tudo o que acontece na propriedade. Muitas grandes empresas estão cada vez mais buscando basear o manejo de sua produção de maneira mais eficiente e rentável para todos. Isso inclui identificar animais, desenvolver plantas resistentes à seca, a doenças e pragas, métodos de manejo de pragas mais sustentáveis, entre outras (LIMA; ANTUNES, 2012). Por fim, temos o setor “depois da porteira”, que se caracteriza por produtos e serviços gerados pelo agronegócio. Nesse setor, estão as agroindústrias, responsáveis pelo processamento da matéria-prima gerada no campo, e o setor de comercialização. Atualmente, o setor “depois da porteira” vem contribuindo com 24% do PIB do agronegócio. Além das agroindústrias, tam- bém engloba os grandes armazéns, os meios de transportes (logística) dos produtos agropecuários até seu uso. Tudo isso para entregar um produto de melhor qualidade e com as características desejadas pelos consumidores, sejam eles em restaurantes, lanchonetes, feiras agropecuárias entre outros. Esse setor é o que mais agrega valor ao PIB do agronegócio, pois é também o que gera maior rendimento, já que entrega o produto processado ao cliente, possibilitando maior valor de venda. O sistema agrícola brasileiro é muito dinâmico, variando em função de clima, políticas públicas nacionais e internacionais, entre vários outros fatores. Por isso, acompanhar os dados de produção, área plantada, custos e demais informações é imprescindível para que o profissionalse mantenha atualizado. Nesse quesito, o Brasil tem fontes confiáveis com as informações atualizadas do setor, inseridas no governo, universidades, centro de pesquisas. Confira a seguir algumas delas. � Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE): tem um site com o le- vantamento da produção, chamado Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA). Sua função é fornecer informações de área plantada, área colhida, quantidade produzida e rendimento médio de produtos seleciona- dos com base em critérios de importância econômica e social para o país. Introdução ao agronegócio 9 � Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB): responsável pela disponibi- lização de estoque de alimentos produzidos, previsão de safras, informações sobre custos de produção, frete, entre outras. � Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA): vinculado à ESALQ/USP, disponibiliza diariamente as cotações dos preços de arroba e boi gordo, saca de soja, milho e de todas os principais produtos agrícolas do país. É a fonte principal das cotações dos produtos, cálculos do PIB agro- pecuário, entre outros. Cooperativas agrícolas e agronegócio O agronegócio gera grandes números porque os diferentes setores trabalham de maneira organizada, numa cadeia produtiva em que há uma forte ligação entre todos. Baseado principalmente em grandes empresas, esse tipo de produção em cadeia que caracteriza o agronegócio é difícil de ser alcançado por pequenos produtores isoladamente, já que seu poder de compra e venda é muito limitado. Por isso, uma prática que existe há anos é o chamado cooperativismo agrícola. Regulamentado no país pela Lei Federal nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, conhecida como Lei do Cooperativismo, essa atividade é definida como “[…] sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados […]” (BRASIL, 1971, documento on-line). Portanto, as cooperativas nada mais são do que a união de pequenos produtores com o objetivo de melhorar a produção e a renda dos associados, trabalhando como uma única fazenda. Isso possibilita que os produtores que estariam fora do agronegó- cio passem a integrar um dos principais elos, o setor primário da produção agropecuária (IBGE, 2020b). A importância econômica e sua influência no agronegócio brasileiro é de- monstrada pelos números. Dentre as 100 maiores empresas do agronegócio no país em 2020, 22 são cooperativas de diferentes setores, como sucroenergético, agroindústria, cafeicultura, citricultura, entre outras (AS 100 MAIORES..., 2021). Cada uma delas apresentou faturamento superior a 1 bilhão de reais, valores que não seriam alcançados pelos produtores isoladamente. Atualmente, são quase 600 mil estabelecimentos associados a cooperativas no Brasil, o que equivale a 11,4% de todos os estabelecimentos agropecuários do país. A força das cooperativas é maior nos estados das regiões Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste, com destaque para o estado do Rio Grande do Sul. Cerca de 70 Introdução ao agronegócio10 milhões de hectares constituem a área de todos as propriedades associadas a alguma cooperativa, correspondendo a 20% de toda área agrícola do país. As principais características são o acompanhamento técnico recebido, sendo cerca de 64% dos associados recebendo orientação técnica, valor bem maior que o do Brasil, onde apenas 20% dos estabelecimentos agrícolas recebem orientação técnica adequada (IBGE, 2019, 2020a, 2020b). A importância do cooperativismo para os pequenos produtores é de- monstrada pelo número de agricultores familiares associados, que soma 71,2% de todos os cooperados no Brasil, correspondendo a cerca de 410 mil estabelecimentos. Em termos da área das propriedades, predominam aquelas de até 50 ha, que somam 70,6% dos estabelecimentos associados (IBGE, 2019). Uma característica importante das cooperativas é seu caráter civil. Isso significa que não são empresas e estão, portanto, sujeitas a normas e im- postos distintos, o que incentiva sua criação. Por exemplo, é possível criar cooperativas para qualquer atividade, serviço ou operação, desde que em acordo com a lei (BRASIL, 1971). Além de cooperativas voltadas principalmente para o setor agropecuário, dando suporte técnico, muitas atualmente já são também agroindústrias, processando e comercializando produtos dos coo- perados. Além disso, há cooperativas de créditos, cooperativas de setores agrícolas importantes, como de produtores de café, laranja, açúcar e álcool, entre outros (IBGE, 2020a, 2020b). Essas características das cooperativas e seus sucessivos ganhos dentro do agronegócio brasileiro levou a um forte crescimento do número de as- sociados no Brasil. O número de propriedades associadas às cooperativas aumentou em mais de 67% entre 2006 e 2017, de acordo com os dados mais atuais (IBGE, 2020a, 2020b). As cooperativas agrícolas estão presentes no Brasil desde o início do século passado, mas ganharam mais importância principalmente a partir dos anos 1970, paralelamente ao desenvolvimento da agricultura agrí- cola. Um grande exemplo de cooperativa que surgiu nessa época é a COAMO (Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda.). Nasceu na cidade de Campo Mourão, na região Centro-Oeste do estado do Paraná, em virtude da demanda pela venda dos grãos produzidos (inicialmente trigo, depois soja e outros), que estavam iniciando sua produção naquela região. Em novembro de 1970, 79 produtores se associaram e criaram a cooperativa. Atualmente, há 111 unidades espalhadas pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, recebendo a produção agrícola de 29 mil associados. Tem em seu quadro mais de 8 mil funcionários efetivos, responsáveis por conduzir as operações técnicas e atividades da cooperativa. Introdução ao agronegócio 11 A COAMO é também uma grande força do agronegócio, estando listada como a 16ª maior empresa do agronegócio brasileiro em 2020 (AS 100 MAIORES..., 2021), por atuar em todos os setores do agro. Além de atuar fortemente dentro da porteira, seus associados podem contar com sementes e outros insumos. Depois da porteira, possui duas agroindústrias, localizadas em Campo Mou- rão e em Dourados (MS), onde é processada a matéria-prima produzida pelos associados, realizando esmagamento de soja, indústria de óleo, manteiga e margarina, fiação de algodão, moagem de trigo e torrefação e moagem de café, entre outras atividades. Somente em 2020, a COAMO foi responsável por 3,1% da produção de grãos no país. Outra atividade de destaque e grande relevância é a alta capacidade de armazenamento de grãos, com capacidade para armazenar mais de 6,5 milhões de toneladas de diferentes grãos (como soja, milho, trigo, café) anualmente. Ao cooperado, possibilita retornos financeiros, pois atua em todo o agronegócio, diminuindo custos e agregando valor ao industrializar e comercializar os produtos (COAMO, 2016). O Brasil ganhou destaque no agronegócio mundial devido ao seu potencial para produção agropecuária, mas principalmente em função da tecnificação do setor primário, tendo hoje agricultura e pecuária entre as mais competitivas e desenvolvidas mundialmente. Além disso, os incentivos ao desenvolvimento de agroindústrias, possibilitou agregar valor aos produtos, assim como pro- mover o desenvolvimento de pequenos produtores. Estes, ao se associarem a cooperativas, veem cada vez mais seu produto ganhar mercado, produzindo de maneira mais tecnificada e se inserido no agronegócio. Ao organizar toda a cadeia produtiva desde “antes da porteira”, focando em melhorias técnicas no “dentro da porteira” e em tecnologia e expansão de mercado no “depois da porteira”, o Brasil deu um salto enorme dentro do agronegócio mundial, sendo destaque em vários setores e com previsões de continuar crescendo e aumentando sua participação nesse setor altamente competitivo e dinâmico. Referências ABAG/RP.Conceito. ABAGRP, 2021. Disponível em: https://www.abagrp.org.br/conceito. Acesso em: 3 dez. 2021. AS 100 MAIORES empresas do agronegócio brasileiro em 2020. Forbes, 21 mar. 2021. Disponível em: https://forbes.com.br/forbesagro/2021/03/as-100-maiores-empresas- -do-agronegocio-brasileiro-em-2020/. Acesso em: 3 dez. 2021. BRASIL. Exportações do agronegócio atingem US$ 10,9 bilhões em agosto. Governo Federal, 15 set. 2021a. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/agricultura-e- -pecuaria/2021/09/exportacoes-do-agronegocio-atingem-us-10-9-bilhoes-em-agosto. Acesso em: 3 dez. 2021. Introdução ao agronegócio12 BRASIL. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperati- vismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1971. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l5764.htm. Acesso em: 3 dez. 2021. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O que é agroindústria? Governo Federal, 12 abr. 2021b. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/as- suntos/sustentabilidade/agroindustria/o-que-e-agroindustria. Acesso em: 3 dez. 2021. CEPEA. PIB do agronegócio: Brasil. Piracicaba: Cepea, 2020. Disponível em: https://www. cepea.esalq.usp.br/upload/kceditor/files/Planilha_PIB_Cepea_Portugues_Site_2020. xlsx. Acesso em: 5 dez. 2021. COAMO. Apresentação da cooperativa. COAMO, 2016. Disponível em: http://www.coamo. com.br/site/quem-somos/portugues. Acesso em: 3 dez. 2021. EMBRAPA. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. Brasília, DF: Embrapa, 2018. Disponível em: https://www.embrapa.br/visao/trajetoria-da-agricultura-brasileira. Acesso em: 3 dez. 2021. IBGE. Atlas do espaço rural brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2020a. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/atlas/tematicos/16362-atlas-do-espaco-rural- -brasileiro.html?=&t=acesso-ao-produto. Acesso em: 3 dez. 2021. IBGE. Censo agropecuário: resultados definitivos. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/3096/agro_2017_resulta- dos_definitivos.pdf. Acesso em: 3 dez. 2021. IBGE. Produção agropecuária. IBGE, 2020b. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/ explica/producao-agropecuaria/. Acesso em: 3 dez. 2021. LIMA, L. C. O.; ANTUNES, V. N. B. Introdução ao agronegócio. Rio de Janeiro: CECIERJ, 2012. Disponível em: https://canal.cecierj.edu.br/recurso/9522. Acesso em: 3 dez. 2021. SNA. Agronegócio: a força da economia brasileira. SNA, 2020. Disponível em: https:// www.sna.agr.br/agronegocio/. Acesso em: 3 dez. 2021. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. 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