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Dor e Analgesia SUMÁRIO 1. Definição ............................................................................................................3 2. Classificação ......................................................................................................5 3. Fisiopatologia .....................................................................................................6 4. Escalas de avaliação ...........................................................................................8 5. Analgesia .........................................................................................................13 Pela boca .................................................................................................................... 16 Pelo relógio e com atenção ....................................................................................... 16 Referências .......................................................................................................................19 Dor e Analgesia 3 1. DEFINIÇÃO O conceito de dor pode ser compreendido como uma experiência “sensorial e emocional” desagradável associada a um dano efetivo ou potencial dos tecidos, de- vendo sempre ser considerada a partir do autorrelato daquela pessoa que refere estar sentindo a dor, sendo fundamental acreditar no paciente para poder ajudá-lo. Com isso, já podemos compreender uma peculiaridade na abordagem da dor que diz res- peito ao seu teor individual e subjetivo que por vezes dificulta a avaliação da mesma, sobretudo, em pacientes em que o autorrelato fica prejudicado por diversos motivos principalmente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde o estado crítico des- tes pacientes acaba interferindo na sua capacidade de autorrelatar sua dor. No entan- to, como veremos a seguir, algumas alternativas para tornar mais objetiva a avaliação da dor e, consequentemente, melhor tratá-la foram desenvolvidas. A dor é um sintoma comum principalmente no contexto de Terapia Intensiva on- de 50% dos pacientes relatam ter sentido dor em algum momento durante o interna- mento e, 15-30% referem que tal dor foi de grande intensidade. Isso porque inúmeros são os motivos que podem levar o paciente crítico a sentir dor desde o repouso ex- cessivo até procedimentos como retirada de drenos, inserção de cateteres e aspira- ção traqueal. No entanto, como visto, o próprio conceito de dor já nos remete a componentes diversos acerca da mesma, como por exemplo, ser uma “experiência sensorial e emo- cional” o que corrobora com outro conceito apresentado na aula de Dr. Gobatto que é conceito de dor total. Sintetizado por Cicely Saunders, o conceito de dor total permite um entendimento da dor para além do aspecto físico, mas considerando também questões emocionais, sociais, espirituais e culturais que constroem a percepção de dor pelos pacientes, bem como o modo como estes lidam com a mesma. Tal avaliação multidimensional da dor, como veremos, é fundamental para a aplicação do conceito de analgesia multimodal. Em se tratando de analgesia, vale ressaltar que, diversas vezes a dor é subdiagnos- ticada e, consequentemente, subtratada. Por isso, é importante que a dor seja avaliada rotineiramente, prevenida e tratada. E mais, é importante que os profissionais de saú- de saibam bem as doses eficazes e tempo de ação dos medicamentos para melhorar tratar esse sintoma. Vale ressaltar que, para isso, a analgesia pode ser realizada até mesmo antes daqueles procedimentos que se prevê que o paciente irá sentir dor (anal- gesia preemptiva), evitando com isso que o mesmo passe por esta experiência desa- gradável durante o mesmo. Dor e Analgesia 4 MAPA DEFINIÇÃO DOR Diversos componentes: Experiência individual Autorrelatada ou não Avaliação frequente Causas na UTI: Físico Emocional Social Cultural Espiritual Repouso Procedimentos Retirar drenos Inserir cateter Aspiração traqueal Dor e Analgesia 5 2. CLASSIFICAÇÃO De modo geral, como você aprendeu na Semiologia, é importante caracterizar melhor a dor quando este sintoma é informado pelo paciente como forma de buscar compreender sua etiologia, bem como direcionar melhor o tratamento, pois dores agudas podem ser abordadas de uma maneira e dor crônica costuma precisar de ou- tras estratégias analgésicas. Outra importante diferenciação que pode ser feita e auxilia no manejo adequado da dor é a diferenciação entre dor nociceptiva e neuropática. A dor nociceptiva ocor- re em decorrência da estimulação química/física de terminações nervosas que es- tão normais, ou seja, como vimos na aula de Dr. Gobatto, as vias para condução do estímulo estão preservadas. Essa dor pode ser somática quando ocorre no sistema osteomuscular, pele ou mucosas, neste caso, o estímulo doloroso é facilmente loca- lizado de modo que a mesma irá responder bem a analgésicos comuns e opióides. Existe também um tipo de dor nociceptiva que é visceral, e por isto, costuma ser uma dor referida e mal localizada geralmente abrangendo uma região e associada a manifestações autonômicas como náuseas, vômitos, palidez etc. Algumas dessas dores viscerais irão responder bem a analgésicos, mas outras, como a dor em cólica, podem responder bem a antiespasmódicos. A dor neuropática por sua vez é decorrente de uma lesão das vias do sistema nervoso periférico (nervo, plexo ou raiz nervosa) ou central (medula ou encéfalo). Com isso, essa dor se irradia pelo território do nervo lesado, podendo ser percebida superficial ou profundamente (o paciente pode referir parestesias, queimação, hipe- ralgesia ou até mesmo alodinia quando a dor decorre de um estímulo não nocivo). Esse tipo de dor costuma responder melhor ao tratamento com medicações coad- juvantes que conheceremos a seguir. Vale ressaltar que, como vimos na aula de Dr. Gobatto, alguns pacientes apresentarão componentes tanto da dor neuropática, quanto da dor nociceptiva. Dor e Analgesia 6 3. FISIOPATOLOGIA Para que este fenômeno sensitivo-doloroso ao qual estamos nos referindo aqui aconteça alguns mecanismos fisiopatológicos precisam ocorrer de modo a transfor- mar os estímulos físicos e químicos do ambiente externo (como uma queimadura, por exemplo) em potenciais de ação que serão transmitidos do sistema nervoso pe- riférico (SNP) para o sistema nervoso central (SNC). Uma vez que essa informação sensorial atinge o SNC chama-se se “sensação” a qual leva em seguida a “percep- ção” da dor que permite não só que a dor seja sentida, mas também percebida quan- to à sua localização específica ou região. Antes de chegar a percepção (onde o impulso é integrado e percebido como dor) ocorre inicialmente a transdução processo no qual o impulso doloroso é percebido pelos nociceptores e em seguida transformado em potencial de ação que é trans- mitido até a coluna posterior da medula espinhal e depois modulado na medula MAPA CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DA DOR Vias para condução do estímulo preservadas DOR NOCICEPTIVA SOMÁTICA Fatores desencadeantes Fatores de melhora Fatores de piora Sintomas associados Repercussões na vida Localização Intensidade Qualidade Tempo de início Irradiação NEUROPÁTICA VISCERAL Localizada Mal localizada, regional Osteomus- cular, pele, mucosas Associado: náuseas, palidez Lesão no sistema nervoso periférico ou central Parestesias, queimação, hiperalgesia, etc. Dor e Analgesia 7 espinhal antes de chegar no SNC onde é gerada a percepção integrando os estímu- los nocivos com áreas corticais e do sistema límbico. Com isso, a dor possui um componente sensorial que detecta a intensidade/localização/duração/qualidade do estímulo nocivo, mas também um componente emocional-cognitivo que permite a geração de uma emoção a partir da dor. Apesar de possuir um mecanismo fisiopatológico complexo, vamos aqui eviden- ciar elementos básicos para a compreensão da fisiopatologia da dor nociceptiva em que há ativação de neurôniosaferentes ou nociceptores. Esses neurônios do sistema nervoso periférico detectam e transmitem o estímulo doloroso (mecânico, químico ou térmico) através de neurotransmissores. No entanto, a fibra nervosa aferente pode conduzir tipos diferentes de dor, sendo as fibras aferentes do tipo Aσ (delta) – de maior diâmetro e pouca mielina - responsáveis pela condução do es- tímulo da dor aguda, enquanto que as fibras aferentes do tipo C – não mielinizada e menor diâmetro- conduzem para a medula espinhal o estímulo da dor crônica. Porém, o estímulo doloroso quando súbito costuma ativar ambas as fibras causando inicialmente uma dor aguda imediata devido as fibras Aσ seguida de uma dor difusa devido à ativação das fibras C. Ao chegar no corno posterior da medula espinhal o estímulo segue para o tálamo e núcleos do tronco cerebral por meio dos tratos espinotalâmicos. Em seguida, as ligações entre o tálamo e centros corticais procedem com aquele controle da per- cepção e da resposta afetiva à dor. Dor e Analgesia 8 Figura 1: Fisiopatologia da dor. Fonte: Blamb 4. ESCALAS DE AVALIAÇÃO Alguns autores concebem que a avaliação da dor deve ser realizada como reali- za-se a aferição de dados vitais, sendo, portanto, a dor o 5º sinal vital a ser periodi- camente avaliado pelos profissionais de saúde. Para essa avaliação, além de exame físico direcionado e realização de exames complementares posteriormente para in- vestigação etiológica, é fundamental compreender a intensidade da dor e quantificá- -la, por isso a importância de serem usadas escalas para avaliação da dor tanto nos pacientes que podem relatar, quanto naquelas que têm dificuldade para verbalizar. Dor e Analgesia 9 Saiba mais! A necessidade de a dor ser reconhecida como 5° si- nal vital foi citada pela primeira vez em 1996 por James Campbell (Presidente da Sociedade Americana de Dor). Seu objetivo foi de elevar a conscientização entre os profissionais de saúde sobre o tratamento da dor, referindo que: “Se a dor fosse aliviada com o mesmo zelo como os outros sinais vitais haveria uma melhor chance de promover tratamento adequado?”. Fonte: Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (https://sbed.org.br/5o-sinal-vital/). O autorrelato de dor é a maior referência que se tem quando um paciente é capaz de comunicar-se, para isto podem ser utilizadas algumas escalas na tentativa de objetivar esse sintoma, são elas: Escala Verbal Numérica de Dor (utilizada com mais frequência no cotidiano de avaliação da dor, em que o paciente classifica a intensi- dade da sua dor de 0 a 10, sendo 0 sem dor e 10 a pior dor da vida), Escala Visual Numérica, Escala Descritiva Verbal e Escala de Faces, conforme vemos abaixo. Figura 2: Escalas de Avaliação da Dor Fonte: Voin_Sveta Estudos realizados com pacientes internados em UTI avaliaram que entre adultos gravemente doentes que são capazes de autorrelatar sua dor, a Escala Numérica da Dor (seja ela verbal ou visual) são validadas e viáveis, sendo a Visual Numérica a melhor aceita por pacientes adultos criticamente doentes. Porém, para aqueles que possuem dificuldades em utilizar escalas com números, a Descritiva Verbal deve ser considerada. Dor e Analgesia 10 No entanto, vale ressaltar que, no ambiente de Terapia Intensiva muitas vezes a avaliação da dor se torna ainda mais complexa e difícil pela impossibilidade do paciente em se comunicar, porém, não é porque o paciente não consegue re- ferir a dor que se deve negar a possibilidade de este estar com dor. Para tal, duas escalas foram validadas para avaliar estes pacientes no ambiente de UTI: Escala Comportamental de Dor (BPS, em inglês) e a Ferramenta de Observação da Dor em Cuidado Crítico (CPOT, em inglês). Ambas apresentam boa confiabilidade e são sen- síveis quando aplicadas na realização de procedimentos dolorosos, de modo que ao menos uma deve ser utilizada como forma de avaliação rotineira da dor nos pacien- tes em UTI. As escalas possuem pontuações mínimas e máximas como é possível ver a seguir, sendo que no caso da BPS quando a pontuação >5 já indica-se realizar tratamento da dor e na CPOT se o valor for >2. Behavioral Pain Scale (BPS) Indicador Item Pontuação Expressão Facial Relaxada 1 Parcialmente contraída = sobrancelhas franzidas 2 Completamente contraída = pálpebras fechadas 3 Careta = Esgar facial 4 Movimentos dos membros superiores Sem movimentos 1 Parcialmente fletidos 2 Muito fletidos com flexão dos dedos 3 Retraído, resistência aos cuidados 4 Adaptação ao ventilador Tolera a ventilação 1 Tosse, mas tolera a ventilação a maior parte do tempo 2 Luta contra o ventilador, mas a ventilação ainda é possí- vel algumas vezes 3 Incapaz de controlar a ventilação 4 3 12 Dor mínima Dor máxima Fonte: PINHEIRO&MARQUES, 2020. Dor e Analgesia 11 Critical Care Pain Observation Tool (CPOT) Indicador Item Pontuação Expressão Facial Relaxada 0 Tensa 1 Esgar/careta 2 Movimentos corporais Ausência de movimentos 0 Movimentos de proteção 1 Inquietação 2 Tensão muscular Relaxada 0 Tenso ou rígido 1 Muito tenso ou muito rígido 2 Adaptação ao ventila- dor (pacientes IOT)/ Vocalização (pacien- tes extubados) Tolera o ventilador ou movimento/Fala em um tom nor- mal ou sem som 0 Tosse, mas tolerando o ventilador/Suspiros ou gemidos 1 Luta contra o ventilador/Choro 2 0 8 Dor mínima Dor máxima Fonte: PINHEIRO&MARQUES, 2020. Saiba mais! Parâmetros fisiológicos como pressão arterial, satu- ração periférica de oxigênio, frequência cardíaca ou respiratória não são válidos para avaliar dor em pacientes em UTI, devendo ser utilizadas ferramentas de avaliação da dor, não havendo correlação entre estas Escalas e os parâme- tros fisiológicos citados. Fonte: Azevedo-Santos IF et al. Validação da versão Brasileira da Escala Comportamental de Dor (Behavioral Pain Scale) em adultos sedados e sob ventilação mecânica. Rev Bras Anestesiol. 2017;67(3):271-277 Dor e Analgesia 12 MAPA MENTAL - RESUMO DOR Lesão no sistema nervoso periférico ou central DOR TOTAL: social, emocional, físico, espiritual, cultural NOCICEPTIVA Autorrelatada ou não FISIOPATOLOGIA CAUSAS NA UTI NEUROPÁTICA Numérica verbal ou visual Escalas Autorrelatadas Escalas Comportamentais Descritiva De faces BPS Se > 5: tratar! CPOT Se > 2: tratar! TRANSDUÇÃO TRANSMISSÃO MODULAÇÃO PERCEPÇÃO Neurônios nociceptores Fibras Aferentes A-DELTA: Pouca mielina, maior diâmetro → DOR AGUDA C: Sem mielina, menor diâmetro → DOR CRÔNICA SOMÁTICA Vias para condução do estímulo preservadas VISCERAL Procedimentos Repouso (escaras) Retirar drenos Inserir cateter Aspiração traqueal Dor e Analgesia 13 5. ANALGESIA O tratamento analgésico é parte fundamental do tratamento do paciente. Os ob- jetivos do mesmo, como vimos na aula de Dr. Gobatto, são: proporcionar conforto, atenuar respostas fisiológicas, prevenir o desenvolvimento de dor crônica e realizar controle de quadros de ansiedade e agitação. A relevância em realizar analgesia não apenas consiste em indicar a mesma, mas também realizar de modo correto aten- tando-se para o tempo de início do efeito analgésico para não incorrer em erros de na realidade não estar proporcionando conforto para o paciente. Além da terapia farmacológica que iremos especificar aqui existem terapias não farmacológicas para o tratamento da dor que devem ser realizadas, especifi- camente no contexto do paciente internado em UTI, é importante ficar atento para estratégias que podem reduzir a dor: posicionamento adequado, cuidado com as dobras de lençóis, impedir tração de sonda vesical e tubo orotraqueal. Inclusive, o “simples” fato de explicar ao paciente sobre um procedimento potencialmente do- loroso é capaz de reduzir 1 ponto de intensidade de dor na Escala Numérica. Existem algumas maneiras de programar a analgesia para um paciente e daí então devemos ressaltar os conceitos de analgesia preemptiva e analgesia multi- modal. A preemptivaconsiste em utilizar terapia analgésica antes da lesão objeti- vando reduzir a intensidade da dor e evitar sensibilização central, devendo persistir até a resolução da fase inflamatória aguda de modo a permanecer evitando a sen- sibilização central. Já o conceito de analgesia multimodal ou balanceada consiste no uso de terapias farmacológicas com princípios farmacológicos diversos com o intuito de obter efeito aditivo e/ou sinérgico entre as mesmas. Com isso, parte-se do pressuposto de que o fármaco analgésico perfeito não existe, ou seja, aquele com início e recuperação rápidos, baixo acúmulo, baixo efeito colateral/toxicidade e que não causa dependência, devendo, portanto, realizar analgesia com analgési- cos disponíveis como forma de chegar o mais próximo possível do que seria ideal. Alguns princípios da analgesia multimodal são: associar analgésicos não opioides com opioides em doses baixas, usar analgésicos antes de sedar, combinar anes- tesias local e epidural e oferecer sedação leve sempre que possível. Na imagem a seguir é possível perceber que analgesia multimodal pode ser em qualquer parte da via dolorosa: periferia, condução, medula e centros superiores. Dor e Analgesia 14 DOR TRAUMA Modulação descendente Antidepressivos Corno dorsal Gânglio da raiz dorsalModulação ascendente Coxibes AINEs Opioides Clonidina Cetamina Trato espinotalâmico Coxibes AINEs Anestésicos locais Opioides Clonidina Cetamina Nervo periférico Anestésicos locais Nociceptores periféricos Coxibes AINEs Anestésicos locais MAPA MENTAL - LOCAL DE AÇÃO DOS FÁRMACOS ANALGÉSICOS E ADJUVANTES Dor e Analgesia 15 Alguns princípios devem ser seguidos na realização da analgesia, são eles: Pela escada e individualizada: A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu a padronização do tratamento analgésico baseada em uma escada de acordo com a intensidade da dor a partir do uso sequencial dos medicamentos analgésicos como é possível ver abaixo. Vale ressaltar que, os medicamentos adjuvantes (mais utiliza- dos no tratamento da dor neuropática) devem ser associados em todos os degraus da escada uma vez que haja indicação específica. Além disso, é fundamental que a terapia indicada com base nessa escada seja individualizada sobretudo no que diz respeito as doses, pois a dose correta é aquela que causa o alívio da dor com o míni- mo de efeitos adversos. Dor leve (1-3) Terapia Coadjuvante: antidepressivos, anticonvulsivantes, ansiolíticos. Dipirona Paracetamol AINES Dor moderada (4-6) Dor forte (7-10) Dor refratária ou insuportável DEGRAU 1 + Opióides fracos: codeína, tramadol DEGRAU 1 + Opióides fortes: morfina, metadona, oxicodona, fentanil Bloqueios regionais Analgesia controlada pelo paciente Figura 3: Escada analgésica da OMS (Legenda: AINES: anti-inflamatórios não esteroidais). Saiba mais! O câncer pode levar ao surgimento de dor neuropáti- ca sendo algo presente em cerca de metade dos pacientes com essa patologia, especialmente quando estes estão fazendo uso de agentes quimioterápicos. É fundamental que a patologia subjacente à dor neuropática seja investigada e tratada de modo específico, no entanto, alguns medicamentos adjuvantes podem contribuir para o tratamento da dor como a Pregabalina, Gabapentina, Antidepressivos tricíclicos e Inibidores da Recaptação de Serotonina. Fonte: Wiermann EG et al. Consenso Brasileiro sobre Manejo da Dor Relacionada ao Câncer. Revista Brasileira de Oncologia Clínica, v. 10, n. 38, p. 132-143, 2014. Dor e Analgesia 16 Pela boca Sempre que possível a analgesia deve ser administrada por via oral que é a via mais fisiológica, proporcionando ao paciente maior grau de independência e conforto. Pelo relógio e com atenção A analgesia deve ser realizada em intervalos fixos e regulares de tempo de modo que a dose subsequente a ser administrada aconteça antes que o efeito da dose anterior tenha terminado, respeitando a meia vida da mesma. Alguns estudos re- alizados no ambiente de UTI mostram que a maioria dos pacientes têm em suas prescrições analgésicos “se necessário”, no entanto, menos da metade dos mesmos estão de fato recebendo analgesia o que pode trazer diversas repercussões sistêmi- cas (taquicardia, aumento da pressão arterial, alterações na coagulação e resposta imune, etc.) decorrentes da dor, interferindo na melhora clínica do paciente grave. Como vimos na aula de Dr. Gobatto, é importante usar, além do analgésico “de horá- rio”, uma terapia de resgate deve ser prescrita para eventuais episódios de dor súbi- ta que surjam ao longo do dia, para isto deve-se escolher uma droga mais potente e com início de ação rápido utilizando uma dose para terapia de resgate de 10-20% da dose basal utilizada no analgésico de horário. Além disso, é importante estar atento aos detalhes reavaliando a dor e observando como o paciente responde ao analgési- co prescrito. Apesar da terapia farmacológica abranger analgésicos não opioides, em Terapia Intensiva é preciso tomar cuidado principalmente com o uso dos anti-inflamató- rios não esteroidais (AINES), pois doentes críticos têm mais chance de complicar com sangramento digestivo e insuficiência renal decorrente do uso desses medi- camentos. Os analgésicos comuns mais utilizados em UTI são a dipirona e o para- cetamol que possuem como principal mecanismo de efeito analgésico o bloqueio da ciclo-oxigenase, têm início de ação em 30-60 min, podendo ser utilizados para dores leves ou apresentações já formuladas com opióides como a associação codeína+paracetamol. Os opioides são os principais fármacos utilizados no tratamento da dor no con- texto de Terapia Intensiva, os quais atuam em receptores opióides μ e κ centrais e periféricos promovendo uma adequada analgesia. Vale lembrar que o ser humano produz opioides endógenos que ligam-se a tais receptores, de modo que os fárma- cos foram desenvolvidos com base neste mecanismo. Os opioides fracos como o tramadol e codeína têm uma ação fraca nesses receptores e por isso são úteis para o tratamento de dores moderadas, enquanto que opioides fortes como morfina, fen- tanil e oxicodona têm ligação mais forte com estes receptores promovendo efeito analgésico satisfatório no tratamento de dores intensas. Dor e Analgesia 17 O uso crônico dos opioides pode levar ao fenômeno de tolerância que se carac- teriza pela necessidade de doses crescentes para obter manutenção da analgesia. Uma forma de evitar a tolerância e também evitar efeitos colaterais é realizar a rotação de opióides, convertendo as doses dos mesmos para doses com equiva- lente potencial analgésico, porém menores do que a dose inicial do opióide usado anteriormente. Os efeitos colaterais dos opioides são bem conhecidos e estão relacionados a dose, idade do paciente, condições clínicas do mesmo e tempo de exposição ao fár- maco. Como não existe teto de dose para os opioides pode ocorrer superdosagem dos mesmos em algumas situações, o que não exclui a possibilidade de desencade- amento de efeitos colaterais mesmo com doses terapêuticas. Os mais conhecidos efeitos colaterais são: náuseas e vômitos, constipação, constrição pupilar, retenção urinária e até mesmo depressão respiratória. Porém, saber que tais efeitos existem não deve levar o profissional de saúde há abandonar o uso desses fármacos que possuem efeito analgésico tão relevante, mas sim deve ser um fator de atenção na monitoração do seu uso. Esses efeitos adversos devem ser tratados sempre que possível e de modo proativo. Se liga! Em caso de intoxicação por opioides é possível utilizar um antídoto dos mesmos que é a Naloxona, a qual pode chegar em adultos na do- se máxima de 10 mg. Principais analgésicos não opioides e opioides Analgésicos Início da ação/ Pico Duração do efeito analgésico Dipirona (VO, EV, IM) 30-60 min/ 2h 8h Paracetamol (VO) 30-60 min/ 2h 8h Tramadol (VO, EV) 30 min/ 2h 8h Codeína (VO) 30 min/ 2h 8h Morfina (VO, EV, SC) 2min/ 15min 4h Fentanil(VO, transdérmico) 5 min 30-60min Oxicodona (VO) 1h/8h 8h-12h VO: via oral; EV: endovenosa; SC: subcutâneo; IM: intramuscular. Fonte: https://aplicacoes.einstein.br/manualfarmaceutico/Paginas/Termos. aspx?filtro=Ant%C3%ADdotos&itemID=120. Dor e Analgesia 18 MAPA MENTAL - RESUMO ANALGESIA ANALGESIA PELO RELÓGIO Prescrever analgésico longa duração “de horário” + Dose de resgate para dor súbita com analgésico de início rápido e potente com 10% da dose basal “de horário” NÃO- FARMACOLÓGICA OBJETIVOS FARMACOLÓGICA PELA BOCA Dor leve (1-3) Terapia Coadjuvante: antidepressivos, anticonvulsivantes, ansiolíticos. Dipirona, Paracetamol, AINES Dor moderada (4-6) Dor forte (7-10) Dor refratária ou insuportável DEGRAU 1 + Opióides fracos: codeína, tramadol DEGRAU 1 + Opióides fortes: morfina, metadona, oxicodona, fentanil Bloqueios regionais Analgesia controlada pelo paciente PELA ESCADA Conforto do paciente ↓ Repercussões sistêmicas (aumento da FC e PA, alterações na coagulação e resposta imune) Prevenir progressão para dor crônica Posicionamento adequado (mudança de decúbito) Desfazer dobras de lençóis Explicar procedimento ao paciente Impedir tração de sondas e tubos Preemptiva: antes da lesão e até fim da dor Multimodal: efeito aditivo e sinérgico dos analgésicos AINES, dipirona, paracetamol Adjuvantes se dor neuropática Opióides → fazer ROTAÇÃO se tolerância ou efeitos colaterais Efeitos Colaterais: náuseas, constipação, depressão respiração, constrição de pupilas. Antídoto: naloxona. Dor e Analgesia 19 REFERÊNCIAS Junior APN. Capítulo 29: Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular. In: Azevedo LCP de, Taniguchi LU, Ladeira JP (eds). Medicina Intensiva: abordagem prática. 2. ed. Barueri: Manole, 2015. Alvim R, Júnior R, Gusmão-Flores D. Capítulo 103: Analgesia e sedação na UTI. In: Guimarães HP et al. Manual de medicina intensiva : AMIB. São Paulo: Atheneu, 2014. Devlin JW et al. Diretrizes de Prática Clínica para a Prevenção e Tratamento da Dor, Agi tação/Sedação, Delirium, Imobilidade e Interrupção do Sono em Pacientes Adultos na UTI. Artigo Especial Online. Critical Care Medicine, v. 46, n. 9, 2018. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Dor: o quinto sinal vital. Abordagem prática no idoso. Rio de Janeiro: SBGG, 2018. Wiermann EG et al. Consenso Brasileiro sobre Manejo da Dor Relacionada ao Câncer. Revista Brasileira de Oncologia Clínica, v. 10, n. 38, p. 132-143, 2014. Janeiro IMI. Fisiologia da Dor. Dissertação. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Escola de Ciências e Tecnologias de Saúde, Lisboa, dez. 2017. 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