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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Denise A. M. de Oliveira 1ª Edição, 2022 EAD Reitor e Diretor Campus Engenheiro Coelho: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor Campus Hortolândia: Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor Campus São Paulo: Afonso Cardoso Ligório Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Henrique Melo Gonçalves Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Knoener Educação Adventista a Distância Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Esp. Telson Vargas Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Werter Gouveia Responsável editorial pelo EaD: Luiza Simões Editora Universitária Adventista Presidente Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos Presidente Mantenedora Unasp (IAE): Maurício Lima 1ª Edição, 2022 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Denise Andrade Moura de Oliveira Mestra em Educação pelo UNASP - EC Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Alfabetização e Letramento 1ª edição – 2022 e-book (pdf) OP 00123_006 Coordenação editorial: Késia Santos Conteudista: Denise A. Moura de Oliveira Preparador: Kawanna Cordeiro Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa e Diagramação: William Nunes Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Vanessa Raquel de Almeida Meira Doutora em Teologia pela Faculdades EST. Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ALFABETIZAÇÃO: A HISTÓRIA SOBRE COMO ENSINAR A LER E A ESCREVER ............................... 13 Introdução ........................................................................................14 Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos ...........................................................15 Conceito de alfabetização ................................................................23 Métodos sintéticos ...........................................................................38 Método alfabético ...................................................................39 Método fônico .........................................................................41 Método silábico .......................................................................45 Métodos analíticos de alfabetização ...............................................48 Método da palavração ............................................................51 Método da sentenciação .........................................................53 Método do conto .....................................................................54 A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita ...........................................................56 Considerações finais.........................................................................65 Referências .......................................................................................69 COMO A CRIANÇA APRENDE A ESCREVER E LER ................................................. 73 Introdução ........................................................................................74 A ressignificação do ensino da leitura e da escrita .......................................................................75 Psicogênese da língua escrita .................................................82 Definindo psicogênese da língua escrita ................................86 Níveis da psicogênese da alfabetização ...............................................................................88 Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos .......................................................90 Nível silábico ...........................................................................96 Nível alfabético.......................................................................104 Processos de construção da linguagem escrita .............................................................109 Considerações finais........................................................................114 Referências ......................................................................................117 LETRAMENTO: O SENTIDO DE APRENDER E ENSINAR A LER E A ESCREVER .......................... 121 Introdução .......................................................................................122 Letramento: conceito ......................................................................123 Diferenciando letramento ..............................................................137 O letramento na escola ...................................................................148 Letramento: BNCC e PNA ................................................................158 Considerações finais........................................................................170 Referências ......................................................................................173 ALFABETIZAR LETRANDO: O TEXTO NA SALA DE AULA .................................. 177 Introdução .......................................................................................178 Alfabetizar letrando: centralidade do texto ......................................................................179 Produção escrita a partir do texto ..........................................196 Letramento literário ........................................................................201 Estágios psicológicos da criança ............................................206 Proposta didática com literatura infantil ...............................212 Letramento: um conceito plural .....................................................219 Considerações finais........................................................................225 Referências ......................................................................................229 ALFABETIZAÇÃO: ESTUDO DA ESPECIFICIDADE DA LÍNGUA ................................ 233 Introdução .......................................................................................234 Consciência fonológica ...................................................................235 Conceito de palavra.........................................................................246 VO CÊ ES TÁ A QU I Rimas e aliterações .........................................................................253A sílaba ............................................................................................256 Consciência fonêmica .....................................................................263 Considerações finais........................................................................273 Referências ......................................................................................277 PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA. EMENTA Estudo das concepções da aquisição da linguagem e do processo sócio-histórico e cultural da alfabetização, articulados ao desenvolvimento das práticas pedagógicas que promovam o letramento do cotidiano e literário na formação do leitor/escritor crítico, consciente e comprometido com a sociedade. - Conscientizar-se dos referenciais e normas dimensionadas nos documentos que regulamentam o ensino e são a base para o planejamento pedagógico a fim de garantir o direito à aprendizagem da leitura e da escrita e ao desenvolvimento integral dos estudantes; - Elaborar um projeto de intervenção utilizando uma literatura infantil favorecendo a aprendizagem de crianças em fase de alfabetização como incentivo ao letramento e estudo da especificidade da língua; - Conscientizar-se de que a leitura deve ocupar um espaço privilegiado na própria vida utilizando-a em sua prática pedagógica. OB JE TI VO S ALFABETIZAR LETRANDO: O TEXTO NA SALA DE AULA UNIDADE 4 178 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO INTRODUÇÃO Você é capaz de recordar como foi o seu processo de alfabetização? Talvez a maioria de nós não recorde. Você já pensou em começar o processo de alfabetização utilizando um texto? Será que, ao trabalhar com uma criança que ainda não sabe ler, o professor pode apresentar um texto escrito? A proposta deste estudo é mostrar a importância do uso do texto desde o início do processo de alfabetização; alfabetizar letrando. Isso acontece pelo uso de diferentes textos em aula. Você vai conhecer os documentos que destacam o texto como base do processo de alfabetização e orientam a sala de aula a inserir a criança num ambiente de letramento. Por isso, o professor deve conhecer o que são gêneros textuais (estrutura e função) para que seja capaz de selecionar os textos adequados para cada faixa etária. Como parte do letramento, a inserção da criança no mundo da literatura faz parte da responsabilidade do professor, ou seja, criar espaço em sala de aula para o desenvolvimento do letramento literário. Neste estudo você conhecerá o valor da literatura infantil no processo de aquisição da língua escrita. 179 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA A prática de linguagem no mundo contemporâneo abre espaço para os textos multissemióticos. Portanto, os estudos de letramento ganham um novo olhar: os multiletramentos. Por isso, o professor deve conhecer o conceito de letramento plural. Ao final desta unidade, esperamos que você tenha aprendido: • Alfabetizar na perspectiva do letramento; • Gêneros textuais como prática de linguagem; • Letramento literário; • O papel da literatura infantil na alfabetização; • Multiletramentos: usos dos textos multissemióticos. Bom estudo! ALFABETIZAR LETRANDO: CENTRALIDADE DO TEXTO De acordo com a BNCC (2018), o ensino da língua deve ter o texto como centro do processo. Isso quer dizer que, mesmo sem saber ler ou sem fluência, os alunos devem ser introduzidos em práticas sociais de letramento (BORTONI- RICARDO; SOUSA, 2008, p. 21). O uso do texto em sala de aula é importante para trabalhar tanto a alfabetização, o sistema de 180 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO escrita alfabético, como o letramento, usos e funções da escrita. Sendo assim, o texto é o eixo central para alfabetizar letrando. Esse é o grande desafio do professor alfabetizador: ensinar a ler e escrever tendo o texto como base do processo (SARAIVA, 2001, p. 33). Segundo SOARES (2020) quando o professor desenvolve habilidades de leitura, interpretação e produção de texto, insere o aluno num ambiente letrado. Ao alfabetizar tendo o texto como base, o aluno apropria-se do sistema alfabético tornando-se capaz de ler e escrever textos (SOARES, 2020, p. 33). Dessa maneira, entende-se que mesmo antes de saber ler e escrever a criança precisa estar inserida num ambiente letrado permitindo o contato com a diversidade de textos que circulam socialmente. Então vamos entender o que é o texto. Observe as imagens na figura 35 a seguir. Qual delas você identifica como texto? Figura 35- A imagem e o texto Lista de compras Discurso 181 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Obra de arte Receita Fonte: elaborada pela autora, imagens Shutterstock Isso mesmo! Em TODAS essas imagens encontramos um texto, especialmente considerando a amplitude do campo da linguagem apresentada na BNCC, pois destaca linguagem nos seguintes componentes curriculares: língua portuguesa, artes, educação física e língua estrangeira. Se você ficou na dúvida, vamos compreender o conceito de texto, pois tudo o que escrevemos e falamos ocorre sob a forma de textos (ANTUNES, 2009, p. 50). É por meio da língua que interagimos com as pessoas no contexto social em que vivemos. Ela tem função sociointerativa. Isso considerando a concepção de linguagem segundo Travaglia (2006, p. 23) e Geraldi (2006, p. 41); os quais dizem que ela é uma forma de os interlocutores falante/escritor e ouvinte/ leitor interagirem. “Essa função se concretiza por meio de textos: quando interagimos por meio da língua, falamos ou escrevemos textos, ouvimos e lemos textos” (SOARES, 2020, p. 34). 182 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Para Carvalho (2014, p. 49) “um texto é uma unidade significativa, uma passagem que faz sentido. Um texto é mais do que uma soma de palavras e frases: assim uma lista de frases estereotipadas das cartilhas do tipo O boi baba, A babá bebe, O ovo é da ave etc. estão longe de constituir um texto”. Os Parâmetros curriculares nacionais (PCN) da língua portuguesa (LP) destacam que essa abordagem aditiva levou a escola a trabalhar “textos” que só servem para ensinar a ler. Esses pseudotextos só existem no contexto da sala de aula, por isso não são considerados textos, são apenas um amontoado de frases (BRASIL, 2001, p. 35). Além disso, não possuem uma função social, nem pertencem ao cotidiano do aluno e não contribuem para desenvolver a competência discursiva. Antunes (2009) também afirma que essas frases soltas ou textos cartilhados como “Ivo viu a uva” são apenas unidades isoladas e descontextualizadas. COMPETÊNCIA DISCURSIVA É a capacidade de se produzir discursos – orais ou escri- tos – adequados às situações enunciativas em questão, consi- derando todos os aspectos e de- cisões envolvidos nesse processo (PCN, 2001, p. 35). 183 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA De acordo com a Política nacional de alfabetização (PNA), antes do processo formal do ensino da leitura e escrita, a criança pode desenvolver habilidades importantes para o processo de alfabetização. Tanto em casa, mas principalmente na escola, a criança é introduzida a diferentes práticas de linguagem para familiarizar-se com o texto escrito. Essas habilidades são desenvolvidas pelo contato com material escrito, como: livros, poemas, parlendas entre outros (BRASIL, 2019). O PNA utiliza o termo literacia para definir a inserção da criança no mundo da leitura e escrita. Segundo esse documento, a educação infantil já deve oferecer um ambiente rico em experiências de leitura e escrita. A criança é introduzida em diferentes práticas de linguagem oral e escrita, ouve histórias lidas e contadas, canta quadrinhas, recita poemas e parlendas, familiariza-se com materiais impressos (livros, revistas e jornais), reconhece algumas das letras, seus nomes e sons, tenta representá-las por escrito, identifica sinais gráficos ao redor, entre outras atividades de maior ou menor complexidade(BRASIL, 2019, p. 22). O PNA sugere que o contato com leitura e escrita seja lúdico e adequado antes do saber ler e escrever. A partir do contato com o texto, a criança já adquire informações linguísticas para o processo de apropriação da leitura e escrita na fase de alfabetização. Segundo a BNCC (2018) a leitura é 184 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO tomada num sentido amplo e refere-se não apenas ao texto escrito, mas também a imagens estáticas ou em movimento e ao som “que acompanha e cossignifica em muitos gêneros digitais” (BRASIL, 2018, p. 72). Compreende-se que se o sujeito consegue ler um texto escrito ou em imagem, se ouve uma palavra, música ou filme, está interagindo com uma mensagem, isso é, está se comunicando, pois tem um sentido. Logo, é mediante o uso do texto que o conhecimento ortográfico e a alfabetização “encontram sentido começando com textos mais simples, como: listas ou bilhetes, para texto mais complexos conforme o avanço no domínio da língua” (BRASIL, 2018, p. 93). Os PCNs da LP destacam que é preciso que a criança domine o sistema de escrita alfabético, mas só isso não garante a compreensão e produção de textos. Quando são lidas histórias ou notícias de jornal para crianças que ainda não sabem ler e escrever convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados, na escrita, estes dois gêneros: desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos que lhes são característicos. (…) Ensinar a escrever textos torna-se uma tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros, com leitores e escritores verdadeiros e com situações de comunicação que os tornem necessários (PCN, 2001, p. 34). 185 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Os diferentes textos que circulam socialmente devem fazer parte da prática pedagógica, assim o aluno vai se familiarizando com as características discursivas dos diferentes gêneros (BRASIL, 2001, p. 34). A BNCC (2018, p. 93) destaca que na alfabetização os textos que pertencem ao campo da vida cotidiana devem circular na sala de aula. Devem ser textos simples, mas que façam parte da vida da criança, como: listas, bilhetes, convites, as cantigas de roda, receitas e regras de jogos. Alfabetizar letrando é permitir que o aluno tenha conhecimento dos usos e funções do texto, além do ensino dos aspectos notacionais da escrita. Umas das primeiras habilidades na BNCC refere-se à inserção do aluno no mundo letrado, propondo que a criança tenha conhecimento dos usos e função do texto que estão presentes “em campos da vida social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade, a escola) e nas mídias impressa, de massa e digital, reconhecendo para que foram produzidos, onde circulam, quem os produziu e a quem se destinam” (BRASIL, 2018, p. 93). Ao trabalhar com o texto em sala de aula, o professor deve apresentar que todo texto, oral ou escrito, é construído por alguém que tem a intenção de transmitir uma mensagem para o outro. Confira a figura 36 a seguir: 186 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Figura 36- Estrutura por trás da mensagem TEXTO Quem fala Assunto ou tema A quem se fala Com qual �nalidade Fonte: MARCUSCHI (2008, p. 147) Antes de saber ler e escrever, a criança já pode compreender a função dos diferentes gêneros textuais, pois faz parte do conhecimento de mundo e do nosso acervo cultural (ANTUNES, 2009, p. 54). Compreender aspectos funcionais do texto são tão relevantes quanto seus aspectos estruturais (SOARES, 2004-B, p. 64). Quando o texto é apresentado como prática discursiva em sala de aula, o aluno passa a compreender as convenções do uso adequado e relevante da língua (ANTUNES, 2009, p. 53). Portanto, o alfabetizando precisa saber que: • Os textos são diferentes de acordo com a multiplicidade de seus propósitos, isto é, possuem finalidades comunicativa distintas; • Os textos seguem padrões mais ou menos fixos que foram convencionalmente estabelecidos pela comunidade e instituições; 187 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA • Os textos são organizados por estruturas típicas que determinam a sua função; • Os textos, de acordo com a estrutura, possuem elementos obrigatórios e opcionais. Os elementos obrigatórios marcam a classe do gênero textual (ANTUNES, 2009, p. 54). Ao trabalhar com textos em sala de aula, o professor apresenta as reais funções e intenções do texto com base na sua utilidade corriqueira, acompanhe por meio da figura 37 a seguir: Figura 37- Uso de textos 1. Para saber como montar um brinquedo ou um móvel, lê-se: Manual de instruções 2. Para saber as novidades que acontecem no país ou numa comunidade, lê-se: As notícias no jornal 188 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 3. Para imergir no imaginário e criar cenários, lê-se: Livro de literatura Fonte: elaborada pela autora, imagens Shutterstock Para cada situação de interação, utilizamos um texto, consciente ou inconscientemente— sempre buscamos um texto para comunicar o que desejamos. “Todo texto é uma comunicação verbal que se caracteriza como um gênero adequado ao contexto, aos objetivos do autor e aos leitores previstos ou desejados. Assim os textos não são independentes das condições que determinam sua produção (SOARES, 2020, p. 210). Como não são independentes, mas resultado de uma organização e normas socialmente convencionadas, utiliza- se a expressão gênero textual determinando a que “grupo” pertence cada texto. Assim, cada gênero apresenta uma certa regularidade de estrutura, conteúdo, regularidades lexicais e gramaticais, ou seja, existe uma espécie de modelo para cada gênero de texto (ANTUNES, 2009, p. 55). 189 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA No entanto, é importante destacar que “todos os gêneros têm uma forma e uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma” (MARCUSCHI, 2008, p. 150). Portanto, apesar de todo gênero textual assumir uma forma ou estrutura, o mais importante é a finalidade do gênero. Ao estudarmos os gêneros, verificamos que contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. Como a sociedade em que vivemos não é estanque, os gêneros textuais ou discursivos também não se compõem de uma estrutura fixa ou enrijecedora da ação criativa. Ao contrário disso, podemos ver os gêneros como elementos dinâmicos cuja demarcação e limites são flexíveis. Por possuírem esta característica, o estudo de gêneros textuais é um campo fértil para a interdisciplinaridade. Áreas como a sociologia, linguística, etnografia, antropologia, entre outras, fazem uso dos gêneros textuais para análise e estudo (MARCUSCHI, 2008, p. 151 – 156). Para se entender a qual campo de domínio os gêneros textuais pertencem, eles são organizados seguindo alguns critérios. Soares (2020) agrupa os gêneros em categorias, designando a situação de interação que frequentemente envolve a leitura de um texto (SOARES, 2020, p. 211). A 190 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO autora organizou uma sugestão de textos para o trabalho didático em sala de aula bem como para a leitura da criança. Essa organização dos textos atende a determinadas situações comunicativas. Observe a figura 38: Figura 38 - Gêneros preferenciais para leitura no ciclo de alfabetização e letramento Categoria Gêneros Caracterização Interativos -Bilhete. -Convite. -Carta. são gêneros que surgem em situações de comunicação de caráter pessoal, com os quais a criança convive desde muito cedo e reconhece facilmente. Prescritivos (injuntivos) -Regras de comportamento. -Regras de jogo. Regras de comportamento na sala de aula e na escola, em geral expostas em cartazes para leitura frequente das crianças. Regras simples com poucas e claras instruções para orientar atividades com jogos como bingo, palavras cruzadas, jogos de tabuleiro e outros, que colaborem com o processo de alfabetização, além de serem brincadeiras ou atividadeslúdicas. Narrativos -Contos clássicos e outros, lendas, fábulas, histórias, conto de tradição popular. Textos literários que correspondem de perto aos interesses das crianças possibilitam momentos de lazer e prazer, incentivam a fantasia e o imaginário, colaboram no processo de amadurecimento emocional, ampliam a visão do mundo e a compreensão do ser humano. 191 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Categoria Gêneros Caracterização Narrativos -História em quadrinhos, tirinhas. -sequência de imagens (livro de imagens), tirinha muda, história em quadrinho muda Textos que incentivam a criança a relacionar o verbal e o visual. Como as relações entre os quadrinhos muitas vezes ficam implícitas, alguns podem ser difíceis para as crianças, por isso a escolha deve ser criteriosa, buscando tirinhas ou histórias em quadrinhos em que essas relações estejam no nível de desenvolvimento cognitivo da criança. Comunicação apenas por meio de imagens: a reconstrução da narrativa é feita com base na comunicação visual. Devem ser gêneros escolhidos avaliando as possibilidades das crianças de fazer as inferências necessárias para relacionar as imagens. Expositivos -Texto informativo: -Notícias em jornal, em revista infantil, em folhetos. -Propaganda -Verbete de dicionário infantil Informações solicitadas pelas crianças como decorrência de algum acontecimento ou por sugestão de outros textos lidos, em geral explicação sobre fatos sociais, históricos, ou sobre seres da natureza; devem ser relacionados observando se o nível de complexidade do texto é adequado às crianças. Leitura de informações sobre fatos de interesse da criança, propiciando contato com esses tipos de portadores de texto (jornais, revistas, folhetos). Cartazes que informam sobre eventos voltados ao público ou que promovem a adesão a um determinado comportamento. Consulta a palavra desconhecida encontrada em textos. 192 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Categoria Gêneros Caracterização Poéticos -Poemas -Parlendas -Cantigas infantis -Trava-línguas -Adivinhações Textos poéticos para crianças no ciclo de alfabetização são, por um lado, jogos linguísticos, brincadeiras com as palavras e os sons delas, por outro lado, incentivo para uma percepção estética e emotiva do mundo. Poemas nessa fase não são para analisar, mas para apreciar, memorizar, cantar, recitar, perceber o jogo dos sons e dos sentidos das palavras. Fonte: Soares (2020, p. 212) Observe que os textos destacados acima pertencem ao cotidiano da criança como foi determinado pela BNCC. Ao escolher textos que pertencem à vida cotidiana e às práticas sociais, o processo ensino/aprendizagem passa a ter significado, sentido e relevância para o alfabetizando. Assim como Magda Soares destacou diferentes gêneros, Irandé Antunes sugere, para a alfabetização, o trabalho com os gêneros, como: listas, bilhetes, convites e avisos (ANTUNES, 2009, p. 62 - 63). Antunes (2009) propõe que o texto seja o item central do estudo de determinada unidade de ensino explorando a leitura, produção oral e escrita, análise e sistematização linguística. A autora apresenta uma proposta de “grade programática” e comprometida em desenvolver a competência comunicativa dos alunos podendo participar efetivamente numa sociedade 193 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA letrada (ANTUNES, 2009, p. 62). Observe a sugestão de uma sequência didática para uma unidade da classe de alfabetização na figura 39. Figura 39- Sequência didática 1. Leitura Além de outros gêneros textuais, leitura, interpretação, análise e comentário de listas e de enumerações 2. Produção oral e escrita Composição de listas e enumerações diversas com os respectivos enunciados de abertura. 3. Análise e sistematização linguística a) Explicitação das condições de usos dos nomes comuns e próprios; b) Reconhecimento das condições de uso dos adjetivos (como caracterizadores e restritores dos nomes); c) Diferentes critérios de ordenação dos vários itens de uma enumeração; d) Exploração do vocabulário (com maior atenção para os hiperônimos, que, nos enunciados de abertura das listas e enumerações, desempenham uma função resumitiva); e) Estudo das convenções ortográficas; f ) Exploração da pontuação específica para esse gênero; g) Usos de maiúsculas e minúsculas; h) Normas de apresentação de listas e enumerações; i) Considerações acerca de seus contextos sociais de uso: onde usamos listas, de que tipo, com que funções etc. Fonte: adaptada de Antunes (2009, p. 62 - 63). Na figura anterior, advinda de Antunes a proposta de atividades envolve tanto letramento como a especificidade da língua (como as convenções ortográficas), sempre tendo o 194 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO texto como o ponto de partida para o trabalho. No entanto, a autora deixa claro que a escolha do texto deve estar de acordo com o contexto e necessidade de cada escola ou do interesse dos alunos. Outra preocupação de Antunes é o uso de gêneros mais complexos quando o nível de compreensão for mais alto (ANTUNES, 2009, p. 70). SAIBA MAIS A autora Irandé Antunes apresenta uma grade progra- mática sugestiva para o alfabetizador, por meio da qual as unidades de ensino tem como ponto nuclear o texto. Ela propõe um ensino aprofundado da língua e critica os livros didáticos por apresentarem os gêneros textuais de modo apressado e superficial. Para conhecer um pouco mais dessa proposta, sugiro a leitura do capítulo 3 do li- vro: ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola pos- sível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. Segundo Carvalho (2014, p. 53), para o ensino sistemático da leitura, a escolha do texto deve ser criteriosa procurando temas significativos e atrativos, como: poemas, trava-línguas, canções de roda ou música. Bortoni-Ricardo e Sousa (2008) também destacam a importância de desenvolver habilidades de leitura e escrita a partir de diferentes textos desde a 195 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA alfabetização. A autora apresenta algumas sugestões para as aulas de leitura: 1. Escolha um texto que seja adequado à faixa etária de seus alunos; 2. Esse texto também precisa abordar um assunto que você acredite que seja do interesse de todos os alunos; 3. Crie um clima e ambiente favoráveis à leitura, de preferência com os alunos sentados em círculo no chão, ou bem à vontade (sentados, deitados, relaxados) em um tapete; enfim, busque envolver todos os alunos na atividade de forma prazerosa; 4. Proporcione situações de interação durante a leitura dos alunos com o texto e entre si; 5. Trabalhe as dimensões da leitura que foram desenvolvidas na aula sobre o texto: contexto, texto, infratexto e intertexto; 6. Desafie os alunos a produzirem recontos orais sobre o texto lido; 196 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 7. Finalmente, incentive-os a produzirem o reconto escrito do texto (BORTONI- RICARDO; SOUSA, 2008, p. 43). PRODUÇÃO ESCRITA A PARTIR DO TEXTO Outra competência desenvolvida no ensino da língua é a escrita. O aluno, desde o início do ensino formal, deve participar de práticas de escrita tendo acesso a diversos textos escritos e presenciar eventos de escrita. Deve compreender que, assim como a leitura, a escrita também faz parte do seu cotidiano. De acordo com a BNCC (2018), o aluno deve: Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir conhecimento (inclusive escolar) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social (BRASIL, 2018, p. 87). A produção escrita, assim como a leitura, acontece de forma compartilhada, ou seja, professor e alunos constroem a escrita coletiva. Na alfabetização, o professor é o mediador no planejamento e análise da produção escrita. À medida que o aluno vivencia essa experiência, também passa a compreendero funcionamento da língua escrita (BRASIL, 2001, p. 66). 197 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Para o domínio desta competência, não se pode ensinar a escrever com práticas centradas na decodificação de letras e sons. Diferente disso, o aluno deve experimentar “inúmeras oportunidades de aprender a escrever em condições semelhantes às que caracterizam a escrita fora da escola” (BRASIL, 2001, p. 66). O aluno precisa compreender qual a intenção da escrita, para quem escreve e com que objetivo. Portanto, o conhecimento do gênero textual é essencial para a produção escrita. Isso quer dizer que, não se escrevem “redações”, mas um texto específico com usos e funções sociais. O contato com textos reais faz toda diferença na produção textual, pois a criança, ao escrever, segue o modelo ou referência do texto que vivencia. Se o modelo de texto é pobre, sem coesão e coerência, a escrita da criança seguirá esse padrão (ver da figura 40). A figura 40, apesar de não conter erros ortográficos, apresenta uma escrita como o modelo dos textos da cartilha com estrutura pobre e sem textualidade. A criança escreveu uma lista de frases soltas, independentes, não há relação entre elas, faltam elementos de coesão e coerência. Esse padrão de escrita “não se parece com a língua viva que falamos ou escrevemos” (CARVALHO, 2009, p. 50). Portanto, em um texto sem textualidade estão ausentes os elementos: 198 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Figura 40- Representação Fonte: adaptada de Soares (2004-B, p. 110). 1. Unidade temática– são constituídos por frases soltas. 2. Coesão– conexões gramaticais existentes entre palavras, frases, parágrafos e partes de um texto. 3. Coerência– conexões de ideias que conferem sentido a um texto. No entanto se a criança vivencia práticas discursivas reais, o resultado é diferente. Se a criança não fica limitada apenas 199 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA aos textos das cartilhas ou textos que têm o objetivo de treinar a leitura ou enfatizar as famílias silábicas, produzirão textos mais coerentes. Esses são textos mais espontâneos e próximos de uma narrativa real, como pode-se notar na figura 41. Figura 41- Texto exemplificativo Fonte: adaptada de Soares (2004, p. 111). Note que na figura 41 o texto tem alto grau de informatividade e unidade temática, pois a criança utiliza elementos de coesão que dão coerência e continuidade à narração (SOARES, 2004, p. 111). Mesmo usando recursos da 200 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO linguagem oral, a escrita da figura 41 está mais próxima a um texto narrativo real. Para a formação de escritores é necessário um trabalho didático desde o início da alfabetização oferecendo modelos de escrita apropriados. Algumas ações podem orientar o trabalho do professor: • Oferecer textos de qualidade para serem lidos em sala de aula, pois serão referência para os alunos; • Escrever textos antes de saber escrever tendo o professor como escriba: os textos serão ditados e depois lido para avaliar a coerência e coesão da escrita. O papel mediador do professor é muito importante neste evento; • Participar de atividades de revisão do texto: ler e avaliar a escrita em conjunto. Isto quer dizer que, após a escrita, os alunos deverão ler para verificar se há textualidade na escrita; • Socializar a escrita dos alunos apresentando em uma noite de autógrafos é uma experiência gratificante, além de apresentar a função social da escrita. 201 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA LETRAMENTO LITERÁRIO Elias José (1997), por meio de seu livro Caixa mágica de surpresa, fala que “O livro é uma beleza. É caixa mágica só de surpresa. O livro parece mudo, mas nele a gente descobre tudo”. Como parte da expansão do termo letramento, temos o letramento literário, indispensável para o desenvolvimento da leitura. Podemos dizer que o letramento literário se trata de imergir a criança no mundo da leitura de textos literário; é apropriar-se da literatura como linguagem. Estudamos sobre a importância do letramento na escola apresentando da função social da leitura e escrita, mas a literatura tem a “função maior de tornar o mundo compreensível transformando sua materialidade em palavras cores, odores, sabores e formas intensamente humanas” (COSSON, 2014, p. 17). Por isso a literatura precisa encontrar um espaço na escola para a formação de um leitor literário. Na verdade, o letramento literário deveria fazer parte do contexto infantil desde as cantigas de ninar no colinho da mamãe, mas infelizmente esta não é a realidade da maioria dos lares brasileiros. Portanto, a escola, como agência de letramento, assume um papel importante na formação do letramento literário de seus alunos desde o início da escolarização, 202 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO entendendo que não é apenas um conhecimento que se adquire sobre a literatura ou os textos literários, mas sim, uma experiência de dar sentido ao mundo por meio de palavras que falam de palavras, transcendendo os limites de tempo e espaço (CEALE, 2008). Isso quer dizer que, o letramento literário é bem mais que uma habilidade pronta e acabada de ler textos literários, pois requer uma atualização permanente do leitor em relação ao universo literário. “É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento” (BRASIL, 2001, p. 36). O letramento literário é uma prática que “deve ser promovida na escola de modo que se viabilize o exercício da leitura literária sem o abandono do prazer e, ao mesmo tempo, com o compromisso necessário para o desenvolvimento do conhecimento” (SANTOS; MORAES, 2013, p. 29).O gênero literário é parte integrante do ambiente de sala de aula como forma de enriquecimento das aulas, para motivar e encantar. Portanto, “a leitura literária não servirá de ponto de chegada, mas de ponto de partida para outras leituras, para indagações e questionamentos, para problematizações e descobertas” (SANTOS; MORAES, 2013, p. 110). 203 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA De acordo com a BNCC (2018) a literatura infantil deve fazer parte dos eventos de leitura na sala de aula desde a Educação infantil como descrito no campos de experiências: escuta, fala pensamento e imaginação. A propósito, as experiências vividas pelas crianças por meio da literatura viabilizadas pelo professor ajudam no desenvolvimento do gosto pela leitura, estimulam a imaginação e amplia o conhecimento de mundo (BRASIL, 2018). Além do mais, o contato com contos, com histórias, com poemas, com fábulas, com cordéis etc. reforça a familiaridade com livros, com os diferentes gêneros da literatura, com a diferenciação entre ilustrações e escrita e com as formas corretas de se manipular um livro (BRASIL, 2018). Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua (BRASIL, 2018, p. 42). Nota-se que a leitura deve fazer parte do ambiente de sala de aula antes mesmo da criança saber ler. É um incentivo para pensar sobre a escrita à medida que convivem com o material escrito, pois quando a leitura é parte integrante das aulas na 204 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO educação infantil, a criança começa a elaborar hipóteses sobre a escrita. Para os anos iniciais do ensino fundamental, a BNCC apresenta o letramento literário como um dos campos de atuação de práticas de linguagem. O campo artístico-literário é o campo de atuação referente “à participação em situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, representativos da diversidade cultural e linguística, que favoreçam experiências estéticas. Alguns gêneros deste campo:lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas”, quadrinhos, tirinhas, charge etc. (BRASIL, 2018, p. 94). A BNCC também destaca o valor da leitura literária como uma das competências específicas de língua portuguesa para o ensino fundamental se envolver com a prática e leitura literária que possibilitem o desenvolvimento do senso estético para fruição, valorizando a literatura e outras manifestações artístico-culturais como formas de acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e encantamento, reconhecendo o potencial transformador e humanizador da experiência com a literatura (BRASIL, 2018, p. 87). A competência de leitura provém de duas fontes: a primeira, em casa— antes de estar alfabetizada as crianças já apresentam conceitos e ideias sobre a escrita de acordo com a 205 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA vivência no ambiente familiar. A outra fonte é a escola— por meio de atividades intencionais de leitura (FARIA, 2010, p. 18). No entanto, o letramento literário é responsabilidade da escola, cumprindo a sua “função de democratizar o livro” pois em nosso país há poucas bibliotecas e pouca compra de livros de literatura infantil nas camadas populares (PAIVA; RODRIGUES, 2008, p. 106). Então a escola é o espaço para que a criança possa ter contato com este tipo de texto, pois o professor é capaz de selecionar os livros adequados e planejar atividades que estimulem a leitura. A leitura deve ser considerada como momento permanente (BRASIL, 2001, p. 63) no processo de alfabetização, como eventos de leitura literária e contação de histórias nas rodas de leitura. Este evento de letramento é importante, pois o professor torna-se o modelo de leitor para seus alunos (PAIVA; RODRIGUES, 2008, Tornar-se lei- tor de literatu- ra é um “vai- vém constante entre realida- de e ficção que permite ava- liar o mundo, se situar nele” (FARIA, 2010, p. 19). 206 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO p. 113). Então, a atividade de leitura deve ser diária utilizando diferentes estratégias, desde a leitura colaborativa, quando o professor lê para a classe, até a leitura individual: silenciosa ou em voz alta. No processo de alfabetização é essencial incorporar às práticas de sala de aula o texto literário – narrativas e poemas – para, de maneira particular, compor o conhecimento da criança e redimensionar a afetividade pela mediação dos signos verbais ou mesmo não-verbais. Alfabetizar, assim, inclui a reinvenção da linguagem, a expressão da subjetividade e as singularidades próprias do código escrito (SARAIVA, 2001, p. 33). ESTÁGIOS PSICOLÓGICOS DA CRIANÇA Coelho (1993) destaca outro aspecto importante para a seleção de livros de literatura infantil, pois devem ser adequados aos estágios de desenvolvimento psicológico das crianças. No entanto, não dependem exclusivamente de idade cronológica, mas também do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual e seu nível de conhecimento e domínio do mecanismo da leitura. Não existem parâmetros definidos, mas uma aproximação, pois cada criança tem seu próprio 207 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA desenvolvimento (COELHO, 1993, p. 28). Para cada fase de desenvolvimento, a autora apresenta características do livro com a intenção de orientar na escolha da obra apropriada para cada criança. Observe, nas figuras 42, 43, 44, 45, 46, 47 e 48, as descrições e os exemplos de livros de acordo com o estágio psicológico de cada leitor: Figura 42- Pré-leitor Pré-leitor Características dos livros • Reconhece o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato. • Aquisição da linguagem, onde a criança passa a nomear tudo a sua volta. • Estimular oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá- los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de leitura. • Predomínio da imagem; • sem textos ou textos bem breves; • Lidos, dramatizados ou contados; • Desenhos em traços e linhas nítidas; • simples e fácil de comunicação visual • Apresenta um contexto familiar e significativo; • Graça, humor, clima de expectativa; • Técnica da repetição. Fonte: adaptada de Coelho (1993, p. 29) Agora, veremos exemplos por meio da figura 43, que, assim como a anterior, detalha um pouco a respeito da etapa que abrange os leitores iniciantes. 208 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Figura 43- Leitor iniciante Leitor iniciante Características dos livros • Início da apropriação do código escrito; • Conhece o alfabeto e a formação de sílabas simples e complexas; • Início do processo de socialização e racionalização; • Adulto como agente estimulador. • Imagem ainda predomina sobre o texto; • Narrativa simples: princípio, meio e fim; • Graça, humor e comicidade; • Personagens reais ou simbólicas; • Texto estruturado com palavras de sílabas simples; • Orações coordenadas; • Distinção entre bem/mal; forte/fraco; • Devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir. Fonte: adaptada de Coelho (1993, p. 30). Observe nas imagens da figura 44 dois exemplos de livros para o aluno que está no início do processo de alfabetização: Os textos são simples, com palavras de sílabas com estrutura canônica e valorização das ilustrações como complementação do texto. Assim como você tem acompanhado sobre em qual etapa se encontra cada tipo de leitor, agora veremos o “leitor em processo”. Esse leitor sabe ler, mas ainda faz associações entre imagem e texto, contudo, já é uma pessoa com senso crítico em formação, pois já domina a leitura e expões outras características comuns desse nível. Acompanhe suas peculiaridades por meio da figura 45 a seguir: 209 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Figura 44- Exemplo: leitor iniciante Fonte: adaptada de Oliveira (2015, p. 6) e Muniz (1997, p. 2). Figura 45- Leitor em processo Leitor em processo Características dos livros • Domina a leitura; • Pensamento mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. • Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. • Presença de imagem em diálogo com o texto; • Textos escritos com frases simples e comunicação objetiva e direta; • Narrativa deve girar em torno de um tema central; • O humor, as situações inesperadas ou sátiras são muito atrativas; • O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema; Fonte: adaptada de Coelho (1993, p. 31-32). 210 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Como podemos observar nas imagens a seguir, na figura 46, os textos estão mais elaborados, mas ainda não tão extensos. Ainda há a necessidade de ilustrações que interajam com a narrativa; acontece que o leitor está se desenvolvendo gradativamente. Figura 46- Exemplo: leitor em processo Fonte: adaptada de Gribel (2001, p. 35) e Demi (2000, p. 22) Figura 47- Leitor fluente Leitor fluente Características dos livros • fase da pré-adolescência; • Consolidação da leitura; • Concentração aumenta; • Maior capacidade de reflexão; • Capacidade de abstração e pensamento formal; • A presença do adulto não é necessária; • Valores políticos – convivência em grupo. • Imagens já não são tão relevantes; • O texto prevalece sobre a imagem; • Personagens mais atraentes: heróis e heroínas; • Linguagem mais elaborada; • Gêneros narrativos que mais atraem: contos, crônicas de cunho aventuresco ou sentimental, mitos, ficção científica. Fonte: adaptada de Coelho (1993, p. 32-33). 211 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Observe na figura 48 que a ilustração é mínima, pois os alunos nesta fase consideram infantis livros com muitas imagens. Figura 48- Exemplo: leitor fluente Fonte: adaptada de Machado (2007, p. 15) e Porto (2002, p. 23) Atualmente, existem boas obras infantis oferecendo ampla possibilidade de escolha parao trabalho didático e para leitura individual. Por isso, é preciso imergir a criança neste mundo favorecendo hábitos corretos de leitura. “Não se formam bons leitores oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, a qualidade de suas vidas melhora com a leitura” (BRASIL, 2001, p. 36). 212 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PROPOSTA DIDÁTICA COM LITERATURA INFANTIL De acordo com o PCN da LP o texto literário deve incorporar a prática de sala de aula, pois a literatura apresenta um conhecimento específico, uma leitura de mundo diferente e rica em significados (BRASIL, 2001, p. 36-37). A BNCC apresenta no eixo da leitura/escuta a literatura como elemento importante para a formação do leitor literário. Nas habilidades para os anos iniciais do ensino fundamental, se destaca o reconhecimento do texto literário como uma dimensão lúdica e de encantamento da leitura e procura desenvolver autonomia do leitor e apreciação de poemas (BRASIL, 2018, p. 95). Portanto, a literatura infantil, por sua riqueza de linguagem e conteúdo, deve fazer parte integrante da prática pedagógica na classe de alfabetização. Além disso, o “texto literário é polissêmico, pois sua leitura provoca no leitor reações diversas”, que causam prazer emocional e intelectual (FARIA, 2010, p. 12). Como a literatura encanta o leitor/ouvinte, torna-se uma aliada para o estudo da língua, oportunizando a fruição estética e análise linguística. As ações didáticas adequadas promovem o gosto pela leitura, pois são contextualizadas à realidade do aluno e 213 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA buscam explorar a linguagem oral, escrita, leitura e produção de textos (BRASIL, 2001, p. 62). Pensando assim, Saraiva (2001) apresenta uma prática pedagógica articulando a literatura infantil com o processo de alfabetização dando sentido ao ato de ler. Essa proposta resultou em um projeto de leitura que integrou o trabalho com textos literários ao processo da aquisição da linguagem escrita, visando intervir na alfabetização mediante sugestões de atividades de leitura e de produção de textos, as quais promovessem o desenvolvimento cognitivo, afetivo e linguístico do educando. Para a autora “esse procedimento justifica-se, porque a aprendizagem da leitura é uma experiência que deve ultrapassar o domínio da decodificação sígnica, para transformar-se em meio de autoconhecimento e apreensão real” (SARAIVA, 2001, p. 13). Dessa forma, é proposto um roteiro de leitura que será desenvolvido a partir de textos literários apropriados à faixa etária das crianças: 1. Predisposição favorável para leitura: despertar a curiosidade e chamar a atenção para a leitura antes de ler o livro fazendo uma conexão da leitura com a realidade utilizando estratégias 214 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO como: conversa informal sobre o tema relacionado à leitura, pesquisa sobre o tema, um jogo, uma música ou uma caixa surpresa. 2. Compreensão e interpretação do texto: tornar a leitura compreensível, significativa, útil e prática e analisar o texto com ênfase nas significações não explicitadas. Esse é o momento da leitura, portanto cuidado com alguns detalhes, como: apresente a leitura de forma atrativa, leia com expressão, se preciso mude a voz para caracterizar a personagem, pare a leitura somente para comentário pertinente, analise as ilustrações do livro como complemento do texto. Neste momento do roteiro, poderá ser preparada atividades escritas que ajudem na exploração do texto ou para a produção escrita. Deve-se cuidar para que as atividades sejam criativas e agradáveis. 3. Transferência: é o momento da aplicação da leitura a uma atividade do contexto didático pedagógico, privilegiando-se a produção escrita. É importante adotar uma proposta de escrita que seja atrativa, que faça parte do cotidiano da criança. Evite correções 215 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA ortográficas neste momento, lembre-se de que deseja espontaneidade (SARAIVA, 2001, p. 91). Como exemplo dessa proposta (figura 49), o quadro abaixo apresenta um roteiro sugestivo para a leitura e trabalho didático com o livro: Mamãe vai viajar? (OLIVEIRA, 2015): Figura 49- Roteiro sugestivo para a leitura 1. Predisposição favorável para leitura: A professora pergunta para alunos: - Gostaria que adivinhassem sobre o tema do livro que irá ler. Mostrar alguns elementos como: camiseta, meia, pijama e, por fim, a mala. Começar a colocar tudo na mala. Perguntar aos alunos se eles já podem adivinhar qual o tema do livro. Apresentar o livro explorando a capa: título, autor, editora, ilustração *O professor não pode esquecer de fazer a “leitura” das ilustrações após a leitura ou em algum momento que considerar importante. 2. Compreensão e interpretação do texto sugestões de atividades: a) A personagem do texto estava curiosa sobre a viagem da mamãe. A autora diz para onde foram? Você tem alguma sugestão? Desenhe e escreva para onde você acha que eles viajaram. Compartilhe com seus colegas para conhecer outras opiniões. b) E você já viajou para algum lugar? c) O que colocamos na mala quando viajamos – mostrar diferentes objetos para os alunos identificarem o que é possível colocar ou não na mala. Peça que expliquem. d) A mãe preparou lanche para o filho levar na viagem. O que podemos colocar em uma lancheira? Converse sobre o porquê de não colocarmos algumas dessas coisas na lancheira. O professor pode trabalhar o tema: higiene e conservação dos alimentos. 216 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO e) Na p.15 o que o menino está carregando? O que há dentro? Você sabe o nome desse objeto? se não, tente descobrir. Por que este objeto foi necessário na viagem? Converse com os colegas. se precisar, consulte um especialista na área. f ) O que é necessário para viajar com segurança? Discuta este tema com os alunos. Pode ser conversado sobre a segurança em outros transportes: ônibus, avião, bicicleta, patins/ skate. g) Observe as expressões do menino durante a história. Converse com os alunos sobre o que a “carinha” do menino representa (podem ser utilizados emojis). Agora desenhe as carinhas que representam: medo, alegria, tristeza, dor, choro, curiosidade. h) Momento de analisar o texto do livro e descobrir palavras escondidas dentro de algumas palavras: Mamãe: _______________ casa: ____________ sapato: ________________ saia: ____________ Pijama: ________________ viajar:____________ Meia:__________________ chinelo:__________ Vovô: _________________ banana: ___________ Bolacha: _______________ gelado: ____________ i) DEsAfIO: Agora tire uma letra da palavra e acrescente outra para formar outra palavra. Veja exemplo: CAsA – s + P = CAPA CAsA MALA _____+______= MÃE ______+______= MAIÔ _____+______= MEIA _____+______= sUCO _____+______= 217 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA j) O livro oportuniza o trabalho com rimas favorecendo a consciência fonológica. A professora deve explicar aos alunos para que possam entender como uma palavra rima com outra. Os alunos deverão descobrir as rimas no texto para as palavras: Camiseta Viajar Boné Gelado Vovô Pensando Agora descubra uma outra rima para: Mala Carro Viajar Gelado Chulé sapato 3. Transferência Propor aos alunos que escrevam sobre uma viagem que fizeram. Para onde foram? Quem foi com vocês? O que fizeram na viagem? Como era o lugar aonde foram? Do que gostaram? E do que não gostaram? Fonte: adaptada de Oliveira (2015). Cosson (2014) também apresenta uma sequência básica para o letramento literário na escola destacando quatro passos: Motivação: preparação do aluno para que ele “entre” no texto. É uma atividade simples propondo a antecipação do texto com base no título do livro. Essa etapa se dá de forma lúdica e prepara o aluno para receber o texto, favorecendo 218 ALFABETIZAÇÃOE LETRAMENTO o processo da leitura, por isso é preciso uma boa motivação para o sucesso da leitura. 2. Introdução: apresentação do autor e da obra. Breve conhecimento sobre o autor, análise física da obra – capa, contracapa entre outros elementos paratextuais. Cuide para que a introdução não seja muito longa. 3. Leitura: a professora lê para os alunos ou pode ser feito a leitura individual, caso já tenham desenvolvido a leitura. Durante a leitura o professor pode verificar dificuldade com vocabulário e compreensão da obra. 4. Interpretação: momento para a construção do sentido do texto quando acontece um diálogo entre o autor, leitor e comunidade. A professora propõe que compartilhem a interpretação pessoal para ampliar os sentidos construídos individualmente (COSSON, 2014, p. 51 – 66). Portanto, a introdução da literatura infantil deve ser intencional, uma ação planejada e direcionada para o desenvolvimento do letramento literário, pois a maioria dos alunos terá contato com esse material somente na sala de 219 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA aula. Por isso, o professor precisa organizar bem o material e a sequência didática tornando a aula motivadora. Porém, é preciso sempre ter alguns cuidados, como: ler o texto previamente preparando a leitura, analisar o texto para avaliar a contribuição para o estudo da língua, selecionar o material de apoio necessário para a aula e refletir sobre todo o processo de construção de sentidos do texto. LETRAMENTO: UM CONCEITO PLURAL Com a extensão do conceito de letramento, o mundo contemporâneo da leitura abre espaço para uma nova realidade: os textos multissemióticos. Atualmente, o foco está nos novos estudos de letramento que apontam para a “heterogeneidade das práticas de leitura, escrita e uso da língua/linguagem” nas sociedades letradas onde as práticas de letramento assumem um caráter sociocultural (ROJO, 2009, p. 102). Nesse contexto, em sua maioria, os novos gêneros textuais que circulam são por meio digital. Esses textos já fazem parte da realidade de muitas crianças que já nascem rodeadas pela influência das diferentes mídias. De acordo com Rojo (2017), multiletramento são: 220 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO as práticas de trato com os textos multimodais ou multissemióticos contemporâneos – majoritariamente digitais, mas também impressos –, que incluem procedimentos (como gestos para ler, por exemplo) e capacidades de leitura e produção que vão muito além da compreensão e produção de textos escritos, pois incorporam a leitura e (re)produção de imagens e fotos, diagramas, gráficos e infográficos, vídeos, áudio etc. (ROJO, 2017, p. 4). Diante dessa nova realidade, a escola encara um novo desafio, pois não basta apenas trabalhar com os textos tradicionais, mas o futuro da leitura na escola é também explorar os textos multissemióticos que fazem parte do contexto dos alunos. Os textos contemporâneos ampliam a noção de letramentos para o campo da imagem, da música e das outras semioses que não somente a escrita (ROJO, 2009). MULTISSEMIÓTICO segundo o site Nova escola, multissemióticos “são os textos com muitos elementos, como imagens, ícones e desenhos”. fonte: https://novaescola. org.br/conteudo/16264/ lingua-portuguesa-como- -trabalhar-textos-multis- semioticos#:~:text=Mul- tissemi%C3%B3ticos%20 s%C3%A3o%20os%20 textos%20com,como%20 imagens%2C%20%C3%A- Dcones%20e%20desenhos. Acesso em: 22 mar. 2022. https://novaescola.org.br/conteudo/16264/lingua-portuguesa-como-trabalhar-textos-multissemioticos#:~:text=Multissemi%C3%B3ticos%20s%C3%A3o%20os%20textos%20com,como%20imagens%2C%20%C3%ADcones%20e%20desenhos 221 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Para a BNCC, uma das competências específicas de língua portuguesa para o ensino fundamental é mobilizar “práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e realizar diferentes projetos autorais” (BRASIL, 2018, p. 87). Atualmente, a vida das crianças é multimídia, pois estão acostumadas com a presença de computadores, smartphone, smart TV, tablets ou lousas digitais. “Isso significa que não basta mais a escola enfatizar os letramentos da letra ou do impresso e os gêneros discursivos da tradição e do cânone. É urgente focar os multiletramentos e os novos letramentos que circulam na vida contemporânea de nossos alunos” (ROJO, 2017, p. 4). Esta realidade foi acentuada com a pandemia da covid-19, por meio da qual a maioria das escolas adotou o ensino remoto, forçando a entrada da era digital nas escolas. No entanto, apesar da web ser democrática (BRASIL, 2018) oportunizando acesso para todos, ainda há muitos alunos que estão privados deste letramento. Por isso, a escola pode abrir portas oferecendo o contato com o multiletramento. 222 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO No entanto, com a influência da linguagem da internet, as crianças acabam vivenciando uma adaptação do idioma: o internetês ou bloguês. Essa é uma linguagem escrita permeada por abreviações, como: “vc, blz, kd”; ou uma escrita com apoio na oralidade: “axo, aki, kaza”. Além disso, outro recurso muito popular na comunicação digital são os emojis, imagens que representam uma ideia – uma repaginação dos pictogramas ou ideogramas. No contexto do letramento plural, esse modelo de escrita faz parte dos letramentos locais ou autogerados. Os letramentos locais “não são regulados, controlados ou sistematizados” na escola, mas se constroem no contexto da vida cotidiana e, por isso, não são valorizados nas instituições formais (ROJO, 2009, p. 102). Esse tipo de escrita nem sempre é aceito pelos professores, por não ser uma linguagem culta e os alunos acabam trazendo vícios de escrita em situações de escrita formal em sala de aula. Isso porque na escola enfatiza-se o uso dos letramentos dominantes, e o professor ou o livro didático são os agentes (ROJO, 2009). No entanto: Não se trata de deixar de privilegiar o escrito/impresso nem de deixar de considerar gêneros e práticas consagradas pela escola, tais como notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, 223 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA charge, tirinhas, crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica etc., próprios do letramento da letra e do impresso, mas de contemplar também os novos letramentos, essencialmente digitais (BRASIL, 2018, p. 69). Como a escola vai encarar esses novos letramentos tanto para leitura ou para produção textual? É preciso compreender que hoje a escola precisa alfabetizar com gêneros textuais escritos tanto impressos como digitais, é oportunizar a entrada dos letramentos múltiplos na vida escolar. De acordo com a BNCC (2018), a criança pode ler um livro de literatura e depois publicar comentários em redes sociais, podcasts, vlogs ou outro recurso digital (BRASIL, 2018, p. 68). O professor alfabetizador deve apresentar para as crianças os diferentes usos de linguagem, comparando o modelo de escrita e qual é adequado em eventos formais e informais. É uma oportunidade para o professor fazer as intervenções para que a criança diferencie, por exemplo, a escrita internetês (BLZ) com a escrita convencional (BELEZA). Rojo (2009, p. 104) sugere a elaboração de um glossário com as palavras em internetês e suas correspondências na escrita padrão e propõe que as compare com a escrita primitiva, observando o uso de ideogramas/pictogramas. 224 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO O letramento multissemiótico traz para a sala de aula a imagem, fotos, vídeos, música, quadros (obras de arte) como recurso didático a ser explorado pelo professor. Portanto, uma outra atividade que pode ser explorada é a leitura de imagens estáticas, como fotos, pinturas, gráficos, diagramas, pois são textos bem presentes no cotidiano. A exemplo disso, o professorpode mostrar como se lê uma conta de água ou luz fazendo a criança entender o valor da economia tanto como benefício ambiental ou financeiro. Hoje também existem jogos digitais de fácil acesso para o estudo da especificidade da língua ou mesmo para acompanhar a leitura de um livro. Além disso, trabalhar questões éticas e políticas do uso da linguagem que circulam na internet, saber dizer, como dizer ou o que buscar como fonte fidedigna são competências a serem exploradas em sala de aula. As demandas desse novo contexto exigem da escola um novo pensar sobre a educação e consequentemente o processo de alfabetização. É preciso usar práticas de linguagem com o propósito de ampliar as possibilidades de participação na cultura digital e contemplar os novos e os multiletramentos (BRASIL, 2018). 225 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA Por fim, Rojo (2017) propõe uma reflexão sobre essa nova realidade caminhando em direção a um webcurrículo, isto é, um programa curricular que utilize recursos digitais e propostas didáticas adequadas para a inserção digital; cabe à escola potencializar o diálogo entre as múltiplas culturas trazendo para dentro da escola a cultura valorizada e a local. A autora sugere também uma nova proposta de aprendizagem interativa entre o objeto de estudo e a mediação do professor explorando os multiletramentos (ROJO, 2017, p. 18). CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante este estudo destacamos o desafio do ensino da língua, que é alfabetizar letrando. Para isso, vimos que o professor deve conscientizar-se de que o texto é o eixo central do processo de alfabetização. O uso do texto em sala de aula favorece o letramento compreendendo os usos e funções da escrita, bem como para trabalhar o sistema de escrita alfabético, a alfabetização. Em sala de aula, a criança terá contato com os textos que pertencem à vida cotidiana, como: listas, bilhetes, convites, cantigas de roda, receitas, regras de jogos. Dessa forma, o ensino torna-se prático e significativo, compreendendo 226 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO que o texto é útil para interação e que para cada situação existe um texto apropriado. A criança passa a perceber, então, a diversidade de gêneros textuais que circulam, suas características e finalidades. Um gênero que ganha destaque no ambiente escolar é o gênero literário, pois muitas vezes a criança terá contato com livros de literatura infantil somente na escola. Por isso, a escola deve criar condições para o letramento literário apresentando obras de relevância para uma experiência literária positiva. O conhecimento de textos literários é essencial para a escolha de livros apropriados à leitura dos alunos e para planejar um roteiro didático adequado que motive a leitura literária. Um outro desafio enfrentado pela escola atualmente é abrir espaço para os textos multissemióticos, ou seja, inserir a criança nos multiletramentos. Isso quer dizer que, não basta apenas apresentar os textos impressos convencionais, mas introduzir um sentido mais amplo da leitura, como: a cultura digital, imagens estáticas ou em movimento e o som. Portanto, a formação do professor alfabetizador é determinante na construção de uma proposta letrada para o ensino da língua. São muitas habilidades que permitirão a inserção dos alunos na cultura letrada conhecendo os usos 227 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA e funções dos diferentes gêneros textuais. Cabe ao professor assumir uma postura de alfabetizar sob a perspectiva do letramento não como um modismo, mas como uma prática efetiva e real. RESUMO Nesta unidade aprendemos que: • A proposta de alfabetizar letrando tem o texto como centro; • O uso do texto em sala de aula é importante para que a criança entenda a função e usos do texto como prática social e o sistema de escrita alfabético, ou seja, a especificidade da alfabetização; • A proposta é apropriar-se da língua escrita inserida no contexto do letramento, permitindo o contato com a diversidade de gêneros textuais que circulam socialmente; • O trabalho com diferentes gêneros textuais deve começar na pré-escola, antes mesmo da criança saber ler e escrever, apresentando a leitura e escrita com atividades lúdicas e atrativas; 228 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO • É importante que esses gêneros sejam apropriados à faixa etária desde o simples até o mais complexo respectivamente; • Ao trabalhar com textos em sala de aula, o professor seleciona textos reais que fazem parte do cotidiano do aluno apresentando suas características e funções; • O planejamento didático com os diferentes gêneros textuais é organizado pelo professor e deve envolver tanto atividades de letramento como a especificidade da língua e o sistema de escrita alfabético; • O contato com textos reais enriquece a produção textual da criança, pois torna a escrita rica em elementos de coesão e coerência, diferente de experiências que têm como referência os textos empobrecidos das cartilhas ou materiais didáticos tradicionais; • O letramento literário é indispensável para o desenvolvimento da leitura; • A escola é a agência responsável por introduzir o texto literário e promover a leitura literária; 229 ALfABETIzAR LETRANDO: O TExTO NA sALA DE AULA • Hoje, o mundo da leitura abre espaço para uma nova realidade: os multiletramentos a partir da vivência com textos multissemióticos. • Diante desta nova realidade, a escola enfrenta um novo desafio, pois não basta trabalhar apenas com os textos tradicionais impressos, mas o futuro da leitura na escola é, também, explorar os textos multissemióticos que fazem parte do contexto dos alunos; • Tudo deve ser feito com muita responsabilidade, aplicando as normas da ABNT para citações e referências, tanto no texto, quanto nos elementos visuais. 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Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2006. https://revistas.pucsp.br/index.php/esp/article/view/32219/23261 Alfabetização: a história sobre como ensinar a ler e a escrever Introdução Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos Conceito de alfabetização Métodos sintéticos Método alfabético Método fônico Método silábico Métodos analíticos de alfabetização Método da palavração Método da sentenciação Método do conto A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita Considerações finais Referências Como a criança aprende a escrever e ler Introdução A ressignificação do ensino da leitura e da escrita Psicogênese da língua escrita Definindo psicogênese da língua escrita Níveis da psicogênese da alfabetização Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos Nível silábico Nível alfabético Processos de construção da linguagem escrita Considerações finais Referências Letramento: o sentido de aprender e ensinar a ler e a escrever Introdução Letramento: conceito Diferenciando letramento O letramento na escola Letramento: BNCC e PNA Considerações finais Referências Alfabetizar letrando: o texto na sala de aula Introdução Alfabetizar letrando: centralidade do texto Produção escrita a partir do texto Letramento literário Estágios psicológicos da criança Proposta didática com literatura infantil Letramento: um conceito plural Considerações finais Referências Alfabetização: estudo da especificidade da língua Introdução Consciência fonológica Conceito de palavra Rimas e aliterações A sílaba Consciência fonêmica Considerações finais Referências Botão 15:
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