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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Denise A. M. de Oliveira 1ª Edição, 2022 EAD Reitor e Diretor Campus Engenheiro Coelho: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor Campus Hortolândia: Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor Campus São Paulo: Afonso Cardoso Ligório Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Henrique Melo Gonçalves Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Knoener Educação Adventista a Distância Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Esp. Telson Vargas Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Werter Gouveia Responsável editorial pelo EaD: Luiza Simões Editora Universitária Adventista Presidente Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos Presidente Mantenedora Unasp (IAE): Maurício Lima 1ª Edição, 2022 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Denise Andrade Moura de Oliveira Mestra em Educação pelo UNASP - EC Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Alfabetização e Letramento 1ª edição – 2022 e-book (pdf) OP 00123_006 Coordenação editorial: Késia Santos Conteudista: Denise A. Moura de Oliveira Preparador: Kawanna Cordeiro Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa e Diagramação: William Nunes Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Vanessa Raquel de Almeida Meira Doutora em Teologia pela Faculdades EST. Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ALFABETIZAÇÃO: A HISTÓRIA SOBRE COMO ENSINAR A LER E A ESCREVER ............................... 13 Introdução ........................................................................................14 Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos ...........................................................15 Conceito de alfabetização ................................................................23 Métodos sintéticos ...........................................................................38 Método alfabético ...................................................................39 Método fônico .........................................................................41 Método silábico .......................................................................45 Métodos analíticos de alfabetização ...............................................48 Método da palavração ............................................................51 Método da sentenciação .........................................................53 VO CÊ ES TÁ A QU I Método do conto .....................................................................54 A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita ...........................................................56 Considerações finais.........................................................................65 Referências .......................................................................................69 COMO A CRIANÇA APRENDE A ESCREVER E LER ................................................. 73 Introdução ........................................................................................74 A ressignificação do ensino da leitura e da escrita .......................................................................75 Psicogênese da língua escrita .................................................82 Definindo psicogênese da língua escrita ................................86 Níveis da psicogênese da alfabetização ...............................................................................88 Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos .......................................................90 Nível silábico ...........................................................................96 Nível alfabético.......................................................................104 VO CÊ ES TÁ A QU I Processos de construção da linguagem escrita .............................................................109 Considerações finais........................................................................114 Referências ......................................................................................117 LETRAMENTO: O SENTIDO DE APRENDER E ENSINAR A LER E A ESCREVER .......................... 121 Introdução .......................................................................................122 Letramento: conceito ......................................................................123 Diferenciando letramento ..............................................................137 O letramento na escola ...................................................................148 Letramento: BNCC e PNA ................................................................158 Considerações finais........................................................................170 Referências ......................................................................................173 ALFABETIZAR LETRANDO: O TEXTO NA SALA DE AULA .................................. 177 Introdução .......................................................................................178 Alfabetizar letrando: centralidade do texto ......................................................................179 Produção escrita a partir do texto ..........................................196 Letramento literário ........................................................................201 Estágios psicológicos da criança ............................................206 Proposta didática com literatura infantil ...............................212 Letramento: um conceito plural .....................................................219 Considerações finais........................................................................225 Referências ......................................................................................229 ALFABETIZAÇÃO: ESTUDO DA ESPECIFICIDADE DA LÍNGUA ................................ 233 Introdução .......................................................................................234 Consciência fonológica ...................................................................235 Conceito de palavra.........................................................................246 Rimas e aliterações .........................................................................253A sílaba ............................................................................................256 Consciência fonêmica .....................................................................263 Considerações finais........................................................................273 Referências ......................................................................................277 PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA. EMENTA Estudo das concepções da aquisição da linguagem e do processo sócio-histórico e cultural da alfabetização, articulados ao desenvolvimento das práticas pedagógicas que promovam o letramento do cotidiano e literário na formação do leitor/escritor crítico, consciente e comprometido com a sociedade. UNIDADE 1 - Conhecer a história, origem e contribuição dos métodos de ensino da leitura e escrita na formação do leitor. - Conscientizar-se dos referenciais e normas dimensionadas nos documentos que regulamentam o ensino e são a base para o planejamento pedagógico. - Identificar as contribuições das abordagens tradicionais, sócio- histórico-cultural e cognitivista que ressignificaram o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita. ALFABETIZAÇÃO: A HISTÓRIA SOBRE COMO ENSINAR A LER E A ESCREVER UNIDADE 1 OB JE TI VO S 14 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO INTRODUÇÃO Bem-vindo(a) à disciplina de alfabetização e letramento! Nesta unidade apresentaremos a história da leitura e escrita ao longo dos tempos com destaque especial a trajetória da alfabetização no Brasil. Todos nós passamos por um processo de aquisição e aprendizagem da leitura e escrita. Para que isso se torne significativo, faça um exercício de memória e procure lembrar-se de como foi alfabetizado. Talvez alguns precisem da ajuda de alguém ou algum livro ou caderno que tenha guardado para poder lembrar-se como o processo aconteceu. Somos resultado de uma história de cultura letrada, vivemos em uma sociedade centralizada pela escrita, por isso é tão necessário termos acesso ao sistema de escrita alfabético. Portanto, como professores, precisamos ter conhecimento da história da alfabetização e letramento para construir uma prática pedagógica significativa. Estudaremos, então, o conceito de alfabetização, segundo alguns teóricos, para compreender como as diferentes concepções foram difundidas no Brasil refletindo na prática do professor alfabetizador. A compreensão deste conceito nos ajuda a pensar criticamente sobre a didática dos métodos e das cartilhas utilizados para o ensino da leitura e escrita. Portanto outro tema importante em nosso estudo é o conhecimento dos 15 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER dois grupos de métodos de alfabetização: sintéticos e analíticos. Para nosso estudo discutiremos os seguintes temas: • panorama da alfabetização no Brasil; • conceito de alfabetização; • métodos de alfabetização; • a didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita; Bom estudo! ALFABETIZAÇÃO: CONHECENDO A HISTÓRIA DA ESCRITA AO LONGO DOS TEMPOS Você já pensou como seria viver sem a leitura e a escrita? Como já somos adultos alfabetizados, não conseguimos imaginar como seria viver em um ambiente ágrafo. Pare um pouco e observe que, por onde quer que andemos, encontramos algo escrito em placas, letreiros nas paredes, frases escritas no chão, nas embalagens ou nas roupas que vestimos. Não conseguimos imaginar um mundo sem escrita porque vivemos em uma sociedade grafocêntrica, isto é, rodeada por ela. E a 16 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO escrita que conhecemos hoje é resultado de uma longa história de construção do sistema alfabético. No início da história da humanidade, a sociedade era ágrafa, ou seja, prevalecia a oralidade. De acordo com a tradição judaico- cristã, quando lemos o livro de Gênesis na Bíblia, podemos observar que Deus falou ao criar o mundo e sua comunicação com o homem era por meio da fala. Mas tudo o que falamos pode ser perdido ao longo do tempo, por isso o próprio Deus sabia da importância do registro escrito. Por isso Ele desejou que tudo o que falasse fosse registrado para que as futuras gerações conhecessem a história e sua vontade para a humanidade. Ao passar as tábuas da lei, os mandamentos, à Moisés, Deus entregou por escrito com a intenção de que seu povo conhecesse sua vontade e obedecesse a seus ensinamentos (Êxodo 24:12). Para Isaías, Deus falou: “Vai, pois, escreve isso numa tabuinha perante eles, escreve-o num livro, para que fique registrado para os dias vindouros, para sempre, perpetuamente” (Isaías 30:8). Isso mostra que Deus valorizou a escrita e desejava que seu povo soubesse ler e escrever para ter acesso às suas orientações e adquirisse conhecimento. Por isso fomos criados com capacidade e habilidade de criar, memorizar e gravar os símbolos da escrita. 17 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER A história da escrita, portanto, faz parte da história da humanidade e surgiu por volta de 3.000 anos antes de Cristo. No entanto a escrita não apareceu do jeito que conhecemos hoje, mas percorreu fases distintas conhecidas como: a pictórica, a ideográfica até chegar a fase alfabética. Veja um exemplo de pintura rupestre representado nas figuras 1 e 2 a seguir: Figura 1 – Pintura rupestre: escrita feita com pinturas e desenhos rudimentares Fonte: Shutterstock Figura 2 – Escrita ideográfica: sistema de escrita que utiliza desenhos ou símbolos para representar uma ideia Fonte: Shutterstock 18 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO A escrita surgiu por uma necessidade de registrar itens do dia a dia e para melhorar a comunicação nos seus registros (FISHER, 2009, p. 25). Os primeiros rudimentos da escrita foram feitos em forma de desenhos conhecidos como pictogramas, observados nas pinturas rupestres. No entanto, logo percebeu-se que essa forma de comunicação apresentava muitas limitações, pois os “pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade” (CAGLIARI, 2004, p. 108). A fase ideográfica foi marcada por desenhos denominados ideogramas que eram símbolos gráficos que procuravam representar uma ideia. Esses desenhos, ao longo do tempo, perderam seus traços representativos e passaram a ser uma convenção da escrita. Um exemplo dessa escrita são os hieróglifos egípcios e a escrita suméria (CAGLIARI, 2004, p. 108). Na fase alfabética da escrita já observamos o uso de letas que são uma evolução dos ideogramas, “mas perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente fonográfica” (CAGLIARI, 2004, p. 109). Observe na figura 3: 19 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Figura 3 – Escrita cuneiforme Fonte: Shutterstock Na escrita cuneiforme criada pelos sumerianos recebeu esse nome por ser escrita em forma de pequenas cunhas gravadas em tabletes de argila. Os egípcios, no entanto, registravam sua escrita em um “papel” produzido por uma planta chamada papiro que nasce as margens do rio Nilo. A escrita cuneiforme, diferente da escrita pictográfica, surgiu, porque a memória não podia mais conter todas as informações e foi necessária para organizar melhor as transações comerciais (SOARES, 2020, p. 23). As escritas pictográficas ou ideográficas tornavam-se muito limitadas para esse tipo de registro nas sociedades mais desenvolvidas e estruturadas. 20 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO SAIBA MAIS As civilizações foram se formando ao longo do tempo e quanto mais se desenvolviam, mais complexas torna- vam-se, e foi nesse contexto que surgiu a escrita. Para que os registros contábeis se tornassem mais precisos, foi necessária uma forma de escrita mais precisa. Surge então a escrita cuneiforme na Suméria e os hieróglifos no Egito. Conheça mais sobre ahistória da escrita as- sistindo ao vídeo disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=tUWIpzYaKXw. Acesso em: 16 dez. 2021. Os sistemas de escrita primitivos procuravam representar o significado das palavras, ou seja, desenhos ou símbolos que representavam o objeto. Os desenhos dessa forma representavam aquilo que o sujeito queria falar. Eram ideias simples e não havia dificuldade para compreensão, mas para poder expressar conceitos mais complexos, tornou-se muito limitado. Portanto, apesar da prática exigir muito da memória, o significado pode ser representado nos sistemas pictográficos e ideográficos, como na cultura chinesa (SOARES, 2020, p. 46). Então temos dois sistemas de escrita: aqueles que representam o significado: escrita ideográfica e os sistemas baseados no significante: escrita fonográfica. Segundo Cagliari (2004): https://www.youtube.com/watch?v=tUWIpzYaKXw 21 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER os sistemas baseados nos significados são, em geral, pictóricos, iconicamente motivados pelos significados que querem transmitir, e dependem fortemente dos conhecimentos culturais que operam. (...) O outro tipo de sistema de escrita é o baseado no significante e depende essencialmente dos elementos sonoros de uma língua para poder ser lido e decifrado (CAGLIARI, 2004, p. 114-115). No entanto, muitos sistemas de base ideográficas foram sendo modificados, evoluindo para o sistema de escrita alfabética. Foi com os fenícios que surgiu um sistema com base no significante, representação dos sons e não dos seus significados (SOARES, 2020, p. 46). Em nossa sociedade atual, podemos encontrar algumas linguagens que são expressas por pictogramas como os sinais de trânsito, por exemplo. Mas nem tudo pode ser compreendido apenas por ícones ou imagens. Na sala de aula, é importante que o alfabetizador apresente a história da escrita para os alunos porque a criança percorre esse mesmo caminho na compreensão do sistema alfabético. A primeira compreensão da criança sobre a escrita é acreditar que precisa de desenhos para escrever pois, para ela, não é possível ler os “símbolos”. Por isso é comum a criança fazer desenhos e acreditar que está escrevendo, pois para ela é lógico e visualmente concreto. À medida que amadurece, percebe que 22 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO essa forma de escrita é limitada, pois não consegue expressar tudo o que deseja. Ao observar a escrita convencional, começa a imitar os padrões da escrita criando situações bem interessantes que podem ser compreendidas com os estudos da psicogênese da língua escrita, como analisaremos mais adiante. SAIBA MAIS Conheça alguns livros de literatura infantil que podem ser usados na classe de alfabetização para enriquecer o trabalho em sala de aula. O professor precisa, no entan- to, avaliar e discutir com as crianças se as informações estão de acordo com os ensinamentos bíblico-cristãos. • BAUSSIER, S. A pequena história da escrita. Editora SM, 2005. • COSTA, S. Escrita: uma grande invenção. Editora Dimensão, 2011. • ROCHA, R. A história da escrita. Ed. Melhoramentos, 2000. • ZATS, L. Aventura da escrita: a história do desenho que virou letra. Editora Moderna, 2012. O professor cristão precisa conhecer uma variedade de livros de literatura infantil que podem ser usados em salas de aula de alfabetização ajudando a criança a compreender e 23 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER conhecer a história da escrita, mas deve lembrar-se de avaliar e discutir com as crianças se as informações estão de acordo com os ensinamentos bíblico-cristãos. CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO Você pode pensar: qual a necessidade de conhecer o conceito de alfabetização? Parece óbvio, não é? Um tema muito popular e bem compreendido por todos parece dispensar apresentações. Na realidade, o estudo conceitual de alfabetização ganhou destaque no círculo educacional no início da década de 1990 para esclarecer a concepção de alfabetizar sob a perspectiva do letramento, conceito que analisaremos na continuidade dos estudos. Mas antes, vamos deter-nos um pouco na compreensão desse conceito no campo da semântica e na opinião de alguns educadores. Alfabetizar, segundo Magda Soares (2004, p. 31), “é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever”. Portanto, o indivíduo que não domina a leitura e escrita é considerado analfabeto. Alguns autores podem ajudar na compreensão desse conceito. Para a professora Leda Tfouni (2005, p. 15 e 17), a alfabetização está intimamente ligada à instrução formal e às práticas escolares e “[...] é definida principalmente 24 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO em temos mecânicos e funcionais ou domínio de habilidade fundamentais”. Para Nucci (2001, p. 53), é o domínio de um código, isto é, a aquisição de uma tecnologia. Segundo Kleiman (2005, p. 13), a prática de alfabetização acontece em sala de aula onde o alfabetizador “se encarrega de ensinar sistematicamente as regras de funcionamento e uso do código alfabético aos iniciantes no assunto (os alunos). Portanto, alfabetização tem a ver com o domínio de um conjunto de saberes sobre o código escrito da língua para participar de práticas letradas. Para a autora também é o processo de aquisição das primeiras letras. Para Magda Soares (2018), a alfabetização, no sentido mais completo do termo, envolve o domínio de três facetas: faceta linguística, faceta interativa e faceta sociocultural. No conceito de alfabetização com foco no domínio de um código, destaca- se a faceta linguística da língua escrita, pois é a representação visual da cadeia sonora da fala. O objeto de conhecimento é a apropriação do sistema alfabético-ortográfico e das convenções da escrita, objeto que demanda processo cognitivos e linguísticos específicos e, portanto, desenvolvimento de estratégias específicas de aprendizagem (SOARES, 2018, p. 29). 25 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Na BNCC, o processo de alfabetização é o conhecimento e o domínio da mecânica do código, isto é, o alfabetizado será capaz de dominar a especificidade da língua e compreender como se estrutura o sistema alfabético. Para tanto, será necessário que alguns conceitos sejam apresentados no processo de alfabetização: o professor precisa conhecer e dominar esse código para poder construir uma prática pedagógica efetiva e o aluno, para dominar as peculiaridades da língua e desenvolver competências e habilidades de leitura e escrita. Observe alguns conhecimentos necessários ao aprendizado da língua escrita de acordo com a BNCC: 1.Diferenciar desenho/grafismo (símbolos) de grafemas/letras (signos). 2. Codifica e decodifica fonemas e grafemas (consciência fonológica). 3. Conhecer o alfabeto maiúsculo, minúsculo em letras de imprensa e cursiva. 4. Desenvolver a capacidade de reconhecimento global de palavras (que chamamos de leitura “incidental”, como é o caso da leitura de logomarcas em rótulos), que será depois responsável pela fluência na leitura. 26 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 5. Perceber quais sons se deve representar na escrita e como. 6. Construir a relação fonema-grafema: a percepção de que as letras estão representando certos sons da fala em contextos precisos. 7. Perceber a sílaba em sua variedade como contexto fonológico desta representação. 8. Compreender diferenças entre escrita e outras forma gráficas (outros sistemas de representação). 9. Dominar as convenções gráficas (letras maiúsculas e minúsculas, cursiva e script). 10. Saber decodificar palavras e textos escritos. 11. Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras. 12. Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapidez de leitura (fatiamento). (BRASIL, 2018, p. 91 e 93). Para os autores Cagliari e Cagliari (1999), existem algumas noções necessárias para o sujeito ler e escrever no sistema de escrita alfabéticoconhecendo a natureza, função e usos da língua. Para os autores ler e escrever é uma tarefa complexa que exige o domínio 27 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER de muitos conceitos técnicos e linguísticos (Idem, p. 157), por isso, consideram essas noções importantes para que o alfabetizado possa ler uma simples palavra ou ler um enunciado ou texto: 1. Ser falante nativo da língua 2. Saber a diferença entre desenho e escrita 3. Não se escreve com rabiscos 4. A fala, aparece na escrita, segmentada em palavras 5. O que é palavra 6. Controlar o significado das palavras nas segmentações 7. Controlar as sequências de sons das palavras nas segmentações 8. Saber segmentar a fala para a escrita 9. Escreve-se com letras 10. Alfabeto como conjunto de letras 11. Letra unidade abstrata 12. Categorização das letras - unidade na variedade 28 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 13. O nome das letras 14. Princípio acrofônico como chave da decifração 15. Princípio acrofônico como ponto de partida. 16. Categorização gráfica 17. Variação gráfica das letras. 18. Variação funcional das letras. 19. Categorização funcional das letras: relação entre letra e som – regras ortográficas. 20. Ortografia como volta ao sistema ideográfico. 21. A ortografia como forma congelada de escrita, neutralizando a variação linguística. 22. Ortografia determina o valor que as letras têm. 23. Variação escrita e fala. 24. Palavras variam de acordo com as regras fonológicas e morfológicas. 29 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER 25. Escrita não é transcrição fonética. 26. Não se escreve qualquer letra. 27. Identificar sinais da escrita. 28. Aspectos secundários das letras. 29. Ler não é só decodificar, mas pensar uma mensagem. (CAGLIARI e CAGLIARI, 1999, p. 135 a 156). O educador Morais (2012) acrescenta que, para o sujeito ser alfabetizado com sucesso, é necessário apropriar- se do sistema de escrita alfabética, por isso ele elenca as propriedades que o aprendiz precisa reconstruir para se tornar alfabetizado: 1. Escreve-se com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de números e de outros símbolos. 2. As letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p). 30 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 3. A ordem das letras no interior da palavra não pode ser mudada; 4. Uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras, ao mesmo tempo em que distintas palavras compartilham as mesmas letras; 5. Nem todas as letras podem ocupar certas posições no interior das palavras e nem todas as letras podem vir juntas de quaisquer outras; 6. As letras notam ou substituem a pauta sonora das palavras que pronunciamos e nunca levam em conta as características físicas ou funcionais dos referentes que substituem; 7. As letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; 8. As letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra; 9. Além de letras, na escrita de palavras, usam-se, também, algumas marcas (acentos) que podem modificar a tonicidade ou o som das letras ou sílabas onde aparecem; 10. As sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes e vogais (CV, CCV, CVV, CVC, V, VC, VCC, 31 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER CCVCC...), mas a estrutura predominante no português é a sílaba CV (consoante – vogal), e todas as sílabas do português contêm, ao menos, uma vogal. (MORAIS, 2012, p. 51). De acordo com Morais (2012), esses conceitos tornam-se automáticos à medida em que o sujeito domina a escrita, no entanto, cabe ao professor apresentá-los de forma significativa, levando os alunos a reconstruírem o conhecimento e não apenas transmitir informações de um código. Sendo assim, o domínio do sistema alfabético é essencial ao alfabetizando para que ele tenha pleno acesso ao mundo letrado. SAIBA MAIS Assista ao vídeo sobre o que é alfabetização e refor- ce seu aprendizado sobre esse tema: https://youtu.be/ ID5HKqX1uV8. Acesso em: 22 dez. 2021. Mas como alfabetizar? Essa é uma pergunta que preocupa pais e, principalmente, professores. Muitos não desejam o posto de alfabetizadores por considerarem esse um papel desafiador e uma responsabilidade muito grande. Geralmente pensam: e se meu aluno não aprender a ler? O que fazer? Como ensino formal é intencional, o objetivo da alfabetização é ensinar a ler e a escrever. Então, o professor alfabetizador https://youtu.be/ID5HKqX1uV8 32 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO procura a melhor maneira de atingir esse objetivo e permitir que seus alunos se tornem leitores efetivos. Por isso, na história da alfabetização há uma busca por melhores métodos ou a melhor maneira de ensinar a ler e a escrever. O que é o método? Um método é o caminho que o professor escolhe percorrer para atingir os objetivos que definiu previamente. Para isso, é preciso que o professor conheça o princípio e a fundamentação dos diferentes métodos, pois toda prática pedagógica está embasada em teorias ou abordagens que sustentam as ações em sala de aula de forma consciente ou inconsciente. Se a prática é realizada apenas por imitação de outras práticas, não há reflexão e consciência das ações, torna-se apenas uma reprodução do conhecimento de outros. Assim, é preciso compreender o que o professor pensa, como se expressa, o que espera do aluno e como entende o processo ensino-aprendizagem. No processo de alfabetização, a proposta empirista é a que mais influencia os métodos de alfabetização. O empirismo entende que o conhecimento é derivado da experiência e o aprendizado acontece de fora para dentro, numa relação estímulo-resposta. Portanto, essa abordagem “não considera a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição” (DEL RÉ, 2006). 33 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER As abordagens tradicionais de ensino baseiam-se na proposta empirista que tem como teorias de aprendizagem o behaviorismo e o conexionismo. Para o behaviorismo, a criança é uma tábua rasa e o conhecimento é o resultado da experiência, adquirido por imitação e reforço que depende do meio. O conexionismo ou associacionismo reflete o pensamento empirista “admite que o cérebro e suas redes neurais sejam responsáveis pelo aprendizado instantâneo” (DEL RÉ, 2006, p. 19). Para essa abordagem, a relação estímulo-resposta acontece na mente e não apenas por estímulos externos. Para o racionalismo, todo aprendizado acontece na mente do sujeito que já nasce com a habilidade de aquisição do conhecimento. Os inatistas, ou racionalistas, não negam a influência do meio, mas acreditam que a criança pensa e cria sobre o objeto de conhecimento. Para eles, as estruturas já estão prontas, precisam ser ativadas ou construídas, daí o termo construtivismo. Baseiam-se nessa abordagem o pensamento cognitivista e o interacionista. O cognitivismo tem como fundamento os estudos de Jean Piaget, acreditando que as estruturas mentais se organizam pela interação do sujeito com o mundo. Segundo o autor, no entanto, não é apenas uma aquisição inata do conhecimento é preciso ter experiência, isto é, interação do 34 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO sujeito com o objeto com o mundo físico. Piaget organiza o desenvolvimento em diferentes estágios desde que a criança nasce até a idade adulta. Piaget declara que o desenvolvimento mental é contínuo como a construção de um grande prédio à medida que novas informações vão sendo acrescentadas, esse desenvolvimento vai tornando-se mais sólido (PIAGET, 1999, p. 14). O desenvolvimento da criança, segundo o autor, acontece em estágio, popularmente conhecidos como: sensório-motor (recém-nascidoe o lactante de 0 a 2 anos); pré-operatório (primeira infância de 2 a 7 anos); operatório concreto (7 aos 11/12 anos) e operações formais (adolescência em diante). Outro conceito importante desenvolvido por Piaget, principalmente no contexto da alfabetização, é a ideia de que a aprendizagem acontece pelo processo de desequilíbrio, adaptação, acomodação, assimilação para finalmente voltar ao estado de equilíbrio. A ação humana consiste neste movimento contínuo e perpétuo de reajustamento ou de equilibração. É por isso que nas fases de construção inicial, se pode considerar as estruturas mentais sucessivas que produzem o desenvolvimento como formas de equilíbrio, onde cada uma constitui um progresso sobre as precedentes. (PIAGET, 1999, p. 16). 35 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Podemos exemplificar o caso de uma criança no processo de alfabetização que já conhece algumas letras e escreve a palavra “GZUZ” para “Jesus”. Essa criança está em estado confortado entendendo que a letra “G” é o suficiente para representar a sílaba “JE” da palavra “Jesus”. Ela utilizou um conhecimento que já tinha assimilado para uma nova situação e considera que está correto. Mas, ao confrontar a sua escrita com a escrita convencional, verifica que está incompleta, pois a escrita da primeira sílaba é “JE” e não “G” e cria-se um estado de desequilíbrio. Ao entender esse novo conceito, a criança passa, então, por todo processo de acomodação, assimilação e equilíbrio novamente. SAIBA MAIS Para compreender melhor sobre os estágios de de- senvolvimento mentais e o pensamento de Piaget, recomenda-se a leitura do primeiro capítulo “Desen- volvimento mental da criança” do livro de Piaget, “Seis estudos de Psicologia”. O interacionismo, ou sociointeracionismo, tem como base os estudos de Lev Vygotsky, que propõe que o conhecimento se constrói pela interação e diálogo entre os sujeitos (DEL RÉ, 2006, p. 23). Essa teoria é muito conhecida no meio 36 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO educacional como histórico-social ou histórico-crítica afirmando a importância da interação com outras pessoas para o desenvolvimento e aquisição de conhecimentos pelo indivíduo, pois Vygotsky acreditava que o aprendizado acontecia por intermediação da linguagem. Para o autor “o homem se faz homem na interação com seus semelhantes, sendo o seu EU formado a partir das relações que estabelece com as outras pessoas” (VALLE, 2013, p. 29). Vygotsky destaca dois níveis: o real, aquele conhecimento que a criança já sabe; e o potencial, aquilo que a criança ainda não consegue fazer sozinha, precisa da mediação de outra pessoa. Uma concepção importante no pensamento de Vygotsky que abrange as anteriores é a zona de desenvolvimento proximal definida como a “distância entre seu desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de seu desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros capazes” (Vygotsky, 1988, p. 35). Ou seja, sob a orientação do professor ou colega mais experiente um conhecimento potencial hoje torna-se conhecimento real amanhã. Para o autor, o desenvolvimento total do indivíduo acontece da seguinte forma: “a função primordial da linguagem, tanto nas crianças como nos adultos, 37 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER é a comunicação, o contato social. Por conseguinte, a fala mais primitiva das crianças é uma fala essencialmente social” (Vygotsky, 1988, p. 24). Por isso a interação entre as pessoas no processo de desenvolvimento da mente é essencial no pensamento deste autor. O livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol (1865, p. 81), Alice, a protagonista da história, encontra-se numa encruzilhada e não sabe para onde seguir. Então ela pergunta ao gato que caminho ela deve seguir e ele responde: - “Isso depende muito do lugar para onde você quer ir”. Mas Alice não sabia para onde ir. Diante disso, a resposta do gato é bem interessante: - “Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve!”. Esse é um diálogo muito usado para ilustrar a importância de o professor saber o que vai ensinar e como irá conduzir o processo ensino-aprendizado. Se o ensino não é pensado e planejado, os objetivos não serão alcançados, então, o professor precisa conhecer as diferentes abordagens de aquisição de conhecimento para organizar o seu fazer pedagógico em sala de aula e avaliar qual o melhor caminho para checar na alfabetização de seus alunos. Por isso, os educadores procuram por métodos eficazes para o ensino, e a grande discussão gira em torno de dois grupos de métodos: os analíticos e os sintéticos. 38 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO MÉTODOS SINTÉTICOS Os métodos de base sintética são os mais tradicionais e antigos, de acordo com Barbosa (1991), pois surgiram desde a antiguidade. O ensino por esses métodos sempre parte do simples para o complexo, da parte para o todo. Isso quer dizer que, no ensino da língua, o início do aprendizado é por elementos que compõem a palavra: letras, sílabas e seus sons. Portanto, os métodos sintéticos estabelecem correspondência entre oral e escrito, som e grafia partindo dos elementos mínimos da escrita (FERREIRA e TEBEROSKY, 1999). Para Barbosa (1991), acontece “num processo de cumulativo, a criança aprende as letras, depois as sílabas, as palavras, frases e, finalmente, o texto completo”. Complementando essa ideia, Isabel Frade (2007) comenta: os métodos sintéticos se baseiam num mesmo pressuposto: o de que a compreensão do sistema de escrita se faz sintetizando/juntando unidades menores, que são analisadas para estabelecer a relação entre a fala e sua representação escrita, ou seja, a análise fonológica (FRADE, 2007, p. 23). Os métodos sintéticos, portanto, dão ênfase na decodificação e codificação durante o processo de alfabetização, sendo a leitura e a escrita processos mecânicos 39 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER de aprendizagem da língua. No entanto, o que podemos observar é que, apesar de ser uma prática antiga, ainda encontramos apoio para esses métodos na sala de aula. Estudaremos, a seguir, cada um desses métodos que são denominados: alfabético, fônico e silábico. MÉTODO ALFABÉTICO Também conhecido como método da soletração, esse é o mais antigo de todos. Segundo Frade (2007), quando se organizaram as aulas simultâneas a partir do século 19, foi necessário material didático e um deles foi a cartilha ABC. Esse método tem como base o ensino das letras, pois acreditava-se que para a criança aprender a ler e a escrever precisaria saber o nome das letras. Depois de aprendido o alfabeto, o procedimento didático desse método acontecia da seguinte forma: “combinavam-se Para os métodos sintéticos, o ensino da língua deve partir da parte para o todo, começando com as letras, fonemas e sílabas. 40 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO consoantes com vogais, formando sílabas, para finalmente chegar a palavras e frases” (SOARES, 2018). Além disso, tinha como base a repetição das letras com o objetivo de memorizar. Depois seguia o processo de soletração: G com A = GA; T com O = TO e, se juntarmos tudo, temos GATO. A ênfase dada às partes da palavra fazia com que a criança tivesse dificuldade de identificar o significado final dela, pois nem sempre o nome das letras corresponde ao som que emitem. Segundo Carvalho (2014), “o objeto maior da soletração é ensinar a combinatória de letras e sons”. A leitura propriamente dita fica para uma segunda etapa. Esse mecanismo não é claro para a criança que acaba queixando- se de conhecer as letras, mas não saber juntá-las. Além disso, a criança dependia da ajuda do professor para compreender o que leu e a leitura tornava-se um exercício árduo e desinteressante afastando o prazer pela leitura (SOARES,1977). Segundo o educador Galhardo (1939 apud. Mortatti, 2000), esse método era um absurdo, um martírio para as crianças que soletravam e formavam sílabas numa toada monótona. O método baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se apenas da memorização como recurso didático - o nome das letras é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas 41 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER de cor e com elas se formam palavras isoladas. Não se dá atenção ao significado, pois as palavras são trabalhadas fora do contexto. Trata-se de processo árido, com poucas possibilidades de desperta o interesse para a leitura, que pressupõe uma separação radical entre alfabetização e letramento. (CARVALHO, 2014, p. 22). Apesar desse caminho penoso para a alfabetização, a BNCC (2018) destaca que uma das capacidades/habilidades a desenvolver no processo de leitura e escrita é conhecer o alfabeto, reconhecer os grafemas e o nome de cada letra (BRASIL, 2018). De qualquer forma, esse conceito deve ser aprendido em um contexto específico de usos do alfabeto no qual seja facilitado o aprendizado como, por exemplo, a soletração de um nome para a compreensão da escrita e ainda, localizar ou organizar nomes em ordem alfabética. MÉTODO FÔNICO Outro método que pertence ao grupo dos métodos sintéticos é o fônico (ou fonético), que surgiu em substituição ao método alfabético e foi muito usado nas décadas de 1960 e 1970. Sob influência da linguística, o método fônico tem como base a oralidade, onde a unidade mínima de som da fala é o fonema (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999). Como esse método dá ênfase também à decodificação, muitas vezes o sentido ou a ideia da leitura é perdido. 42 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Em seu procedimento, a criança aprende primeiro os fonemas associados aos grafemas correspondentes. O ponto de partida são as vogais que depois são associadas às consoantes sempre com apoio de ilustrações. No início, as letras eram apresentadas camufladas nas imagens o que confundia pois o formato da letra se perdia na figura (SOARES, 1977). Era ensinado um par de fonema/grafema por vez, só seria apresentado um novo par depois que o primeiro tivesse sido assimilado (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999). Assim iam juntando as letras, formando sílabas e depois palavras, sempre partindo de relações fonema/ grafema, do mais simples para o mais complexo. Começando, então, pelos fonemas de relação biunívoca, como F ou B para os de relação não biunívoca. IMPORTANTE Para entender melhor o que são as relações de biunivocidade, veja o que Lemle (1987) diz: “chama-se correspondência biunívoca aquela em que o elemento de um conjunto corresponde a apenas um elemento de outro con- junto, ou seja, é de um para um, em ambas as direções” (LEMLE, 1987, p. 17). 43 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER No entanto, essa relação não se aplica para todas as letras, pois, em nossa língua, nem sempre a encontramos entre fonemas e letras. Geralmente, encontramos mais relações não biunívocas onde uma letra pode representar diferentes sons ou um som ser representado por diferentes letras. Observe: escrevemos BALDE, mas falamos /baudi/; escrevemos TESOURA, mas falamos /tizora/ na maior parte das regiões do Brasil. Outra limitação do método fônico é que articulamos as consoantes, por isso temos dificuldade em pronunciá-las sem o apoio das vogais (FRADE, 2007). Assim, buscam-se recursos de onomatopeias, como o prolongamento do V, imitando o barulho do vento para relacionar fonema/ grafema da letra na palavra “vento”. Esse método tem a facilidade de ser graduado em etapas e de fácil aplicação por um adulto alfabetizado pois está de acordo com lógica do adulto. Geralmente é de baixo custo e não necessita de muito preparo para a aplicação. Também propicia o aprendizado de novas palavras mais rapidamente e tem encontrado bom resultado em alfabetização de adultos (SOARES, 1977). 44 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Carvalho (2014) destaca dois materiais com base no método fônico que foram bem difundidos no Brasil: “A abelhinha” (SILVA et al. s.d.) e “A casinha feliz” (MEIRELES e MEIRELES, 2014) que utilizavam recursos lúdicos como jogos, histórias, dramatizações, fantoches, músicas e desenhos como recurso para auxiliar na memorização dos fonemas. Esses métodos orientam aos professores a contarem as histórias oralmente e apenas a apresentarem as palavras que as crianças já conseguem decodificar ou aquelas que estão sendo ensinadas. As histórias criadas são artificiais e precisam de bons recursos para tornar atrativas para as crianças. Além das dificuldades técnicas na articulação das consoantes ao serem apresentadas isoladamente sem o apoio das vogais (CARVALHO, 2014). Por volta de 2003, o método fônico foi adaptado para o chamado “método das boquinhas”, com a intenção de desenvolver habilidades fono-vísuo-articulatórias. Com base em estudos de diferentes autores na área da linguística. Jardini (2012) apresenta uma proposta de desenvolvimento da consciência fonológica e fonêmica por meio de exercícios de treinamento em que a criança visualiza o formato da boca correspondente ao som desejado (confira na figura 4). O método das boquinhas possui material didático para trabalhar com as crianças e cursos preparatórios para professores. 45 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Figura 4 – Alfabeto do método das boquinhas Fonte: JARDINI (2012, p. 249) MÉTODO SILÁBICO Esse método da base sintética foi, provavelmente, o mais utilizado no Brasil. No método silábico a unidade sonora é a sílaba, porque cada emissão sonora da fala pronunciamos uma sílaba. Não se destacam os sons da língua, porque as consoantes são emitidas apoiadas nas vogais, por isso a sílaba, e não as letras como unidade linguística. Assim como no método fônico, o ponto de partida são as vogais que depois são unidas 46 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO as consoantes para formar as famosas famílias silábicas: ba – be – bi – bo – bu; ma – me – mi – mo – mu, e assim por diante. “São apresentadas palavras-chave, utilizadas apenas para indicar as sílabas, que são destacadas das palavras e estudadas sistematicamente em famílias silábicas” (FRADE, 2007). A apresentação das sílabas é proposta de acordo com a visão do adulto: da mais simples para a mais complexa, partindo das combinações como: consoante - vogal e vogal – vogal para outras combinações como consoante – consoante – vogal. No entanto, nem sempre o que é simples para o adulto pode ser simples para a criança. Um exemplo claro de equívoco sobre o que é mais fácil para a criança é iniciar o trabalho nos métodos silábicos com a apresentação das vogais, seguidas dos “encontros vocálicos”. Acontece que as sílabas compostas por uma vogal ou por encontro vocálico, como não coincidem com o padrão mais frequente do português, podem ser de difícil apreensão pelos alunos. Por outro lado, uma sílaba que os autores de cartilha considerem complexa, tal como, o “tra” da palavra trator, pode ser de fácil apreensão, porque é muito utilizada em palavras que os alunos conhecem (FRADE, 2007, p. 30). As novas palavras, frases ou pequenos textos sugeridos são compostas somente por sílabas que já foram estudadas. As sílabas 47 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER trabalhadas são sempre relacionadas a palavra-chave, essa ficha técnica é conhecida como princípio acrofônico (ba de baleia) e isso orienta a formação de novas palavras, como na figura 5: Figura 5 – Exemplo de princípio acrofônico BARATA BA da BALEIA RA da ARARA TA do TATU Fonte: elaborada pelo autor O método silábico é bem fácil de ser aplicado e, assim como o método fônico, qualquer adulto alfabetizado pode aplicar, pois não exige muito material. Os livros didáticos ou cartilhas são encontrados com facilidade e o aluno precisa treinar e completaras tarefas. No entanto, por ser um processo mecânico, pode sobrecarregar a memória com muitas “decorebas” e repetições e o aluno perde o interesse pela leitura porque o foco está nos “pedacinhos” das palavras, perdendo o sentido do texto (SOARES, 1977). PRINCÍPIO ACROFÔNICO “É um conjunto de regras que usamos para decifrar os valores sonoros das letras. Num primei- ro momento, atribuímos a cada letra o som que é dado pelo seu nome. Depois, somamos os sons para descobrir que palavras está escrita” (CAGLIARI, 1998). 48 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Na década de 1980, sob a influência dos estudos da psicolinguística, as cartilhas silábicas foram abolidas das escolas. No entanto, as novas propostas de alfabetização apresentavam uma proposta muito diferente do que se trabalhava até então e muitos professores sentiram-se desamparados nessa nova realidade. Aqueles alfabetizadores que participaram de cursos de capacitação ou estudaram sobre as novas propostas, conseguiram mudar a didática de sala de aula, muitos professores seguiam essa metodologia por meio de atividades escritas, as “folhinhas”, que apresentavam os mesmos exercícios encontrados nas cartilhas. Portanto, o material não estava presente em sala de aula, mas os alfabetizadores tinham interiorizado o método silábico e não tinham consciência disso (WEISZ, 2009). MÉTODOS ANALÍTICOS DE ALFABETIZAÇÃO Pense em quando você quer montar um quebra-cabeça, primeiramente dispõe todas as pequenas peças espalhadas na mesa e já procura a imagem correspondente àquelas pecinhas. É difícil começar a montar o quebra-cabeça sem que possa visualizar a figura completa. Observando a figura toda, você é capaz de localizar as partes e completar o todo encaixando cada peça no seu lugar. Essa é a proposta dos métodos analíticos. 49 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Esses métodos propõem um ensino significativo da leitura e escrita partindo do todo para as partes, ou seja, “unidades maiores e portadoras de sentido – a palavra, a frase e o texto” (SOARES, 2018). Depois do reconhecimento dessas unidades maiores, as unidades menores serão reconhecidas e analisadas isoladamente para, depois, juntar-se ao todo novamente. Educadores escolanovistas como Decroly e Claparède apresentaram propostas de ensino da leitura com textos ou palavras ligados ao cotidiano da criança para que o ensino fosse mais significativo. Essa proposta deu origem aos métodos globais e propôs uma mudança total em relação aos métodos sintéticos: “começar por unidades amplas como histórias ou frases para chegar em nível de letra e de som, mas sem perder de vista o texto original e seu significado” (CARVALHO, 2014). Os defensores dos métodos analíticos apresentam algumas justificativas para o ensino e a aprendizagem: 1. A linguagem funciona como um todo; 2. Existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o todo para depois se observar as partes; 50 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 3. Os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão; 4. No ato da leitura, o leitor se utiliza de estratégias globais de reconhecimento; 5. O aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu significado, que é muito importante para o aprendiz; 6. A escola tem que acompanhar os interesses, a linguagem e o universo infantil e, portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser familiares e ter valor afetivo para a criança (FRADE, 2007, p. 32). No entanto, nem sempre é simples para a lógica do adulto alfabetizado trabalhar com os métodos analíticos, o professor deve ser especializado e orientado para que o aprendizado seja efetivo. Geralmente, não havia material didático para esses métodos, e isso constituía uma dificuldade para o trabalho em sala de aula. A principal desvantagem apontada é que, muitas vezes, a aplicação dos métodos analíticos negligência o desenvolvimento da capacidade de ler palavras novas e deixa em segundo plano a exploração de textos diferentes dos utilizados durante o processo de alfabetização (MAGALHÃES, 2005, p. 2) 51 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Sendo assim, esse grupo de métodos procura começar o trabalho a partir de unidades que tenham um sentido em si, visto que, letras, sons ou sílabas quando isoladas, não possuem um significado. Os métodos analíticos são organizados em: palavração, sentenciação e contos/historietas. MÉTODO DA PALAVRAÇÃO Como o nome já sugere, esse método tem como unidade linguística a palavra. De acordo com Gilda Rizzo Soares (1977), Comenius foi o precursor desse método em 1657 com sua obra “Orbis Pictus” onde condena o uso das tediosas soletrações. Por isso no método da palavração é apresentada uma lista de palavras que são aprendidas globalmente e são familiares aos alunos. O método da palavração foi introduzido no Brasil em 1880, pela Para os métodos analíticos, o ensino da língua deve começar por unidades maiores, do todo para as partes. 52 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO “Cartilha Maternal” de João de Deus divulgada por Silva Jardim que condenava a soletração e a silabação como sendo métodos artificiais e transitórios. Para o educador o método da palavração era definitivo porque [...] lê-se desde logo a palavra, partindo da mais fácil para a mais difícil, da simples para a composta (...) como aprendemos a falar? Falando palavras; como aprenderemos a ler? É claro que lendo essas mesmas palavras. A palavração, pois, é o único processo racional; (Silva Jardim 1884, p.12, apud Mortatti, 2000, p. 48). Observe na Figura 6: Figura 6 - Cartilha João de Deus Fonte: Mortatti, 2000, p. 226 53 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Nesse método as palavras são apresentadas em agrupamento e as crianças aprendem a identificar visualmente, memorizando a palavra globalmente com auxílio de figuras e repetições. Depois desse procedimento, a atenção da criança é voltada para a estrutura das palavras: sílabas, sons e letras, para então formarem novas palavras. Se não houver o processo de análise e síntese das palavras, o método será falho (SOARES, 1977). MÉTODO DA SENTENCIAÇÃO Esse método é uma continuidade do método da palavração. A justificativa do uso da sentença é porque apresenta uma ideia completa e são expressões orais das crianças. São pequenas frases que fazem sentido, a partir de um tema selecionado e de interesse das crianças (SOARES, 1977). Depois da discussão do tema, o professor lê, em seguida, com entonação adequada (marcando bem as pausas a fim de tornar bastante clara a expressão da ideia). Depois os alunos são orientados a procurar palavras semelhantes dentro da sentença. E depois da 2ª ou 3ª lição, começam a formar grupos de palavras semelhantes as primeiras (SOARES, 1977, p. 29 e 30). 54 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Depois desse procedimento, as crianças devem fazer o reconhecimento das palavras à primeira vista e análise dos elementos, as sílabas, sons e letras para formar novas palavras. No entanto, de acordo com Soares (1977), esse método não foi empregado no Brasil. SAIBA MAIS Como parte do grupo de métodos analíticos ou globais, os métodos da palavração e sentenciação têm bases bem semelhantes. Partem de uma unidade linguística que faz sentido na compreensão da língua. Conheça mais sobre esses métodos acessando: https://prezi.com/ uv1qc4c8mvt5/metodo-palavracao-e-sentenciacao/. Acesso em: 20 dez. 2021. MÉTODO DO CONTO O método do conto ou historietas apresentam pequenos texto para o ensino da língua pois, a semelhança do método da sentenciação, o texto tem um sentido mais completo. A intenção desse método é desenvolver a compreensão da leitura e estimular o prazer de ler. Depois da leitura do texto, é feita a análise das unidades menores: palavras, sílabas, sons e letras (MAGALHÃES, 2005, p. 2). https://prezi.com/uv1qc4c8mvt5/metodo-palavracao-e-sentenciacao/55 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Os textos são escolhidos de acordo com o interesse da criança e apresentam eventos com começo, meio e fim, e treina a “habilidade de antecipar e seguir uma sequência de ideias, e ainda relacioná-las entre sim mantendo-as na memória” (Soares, 1977, p. 33). Porém esse método exige “decorebas” dos pequenos textos das cartilhas e exige um controle do vocabulário para facilitar a decomposição das palavras (SOARES, 2018, p. 19). Segundo Soares (2018, p. 19), tanto os métodos sintéticos como os métodos analíticos têm o objetivo de ensinar o sistema alfabético-ortográfico da escrita. Embora se possa identificar, nos métodos analíticos, a intenção de partir também do significado, da compreensão, seja no nível do texto (método global), seja no nível da palavra ou da sentença (método da palavração, método da sentenciação), estes – textos, palavras, sentenças- são postos a serviço da aprendizagem do sistema de escrita: palavras são intencionalmente selecionadas para servir à sua decomposição em sílabas e fonemas, sentenças e textos são artificialmente construídos, com rígido controle léxico e morfossintático, para servir à sua decomposição em palavras, sílabas, fonemas. (SOARES, 2018, p. 19) Para a autora, as crianças dependem de estímulos externos nas duas concepções de alfabetização para apropriar-se da língua como uma tecnologia da escrita. Aparentemente opostos, os dois grupos de métodos “inserem-se no mesmo 56 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO paradigma pedagógico e no mesmo paradigma psicológico: o associacionismo” (SOARES, 2018, p. 20). Isso quer dizer que, a preocupação dos métodos sintéticos e analíticos é a mesma: ensinar as relações fonema-grafema o que muda é apenas a concepção de como serão ensinadas. SAIBA MAIS A discussão sobre qual método adotar na alfabetização é muito antiga. Entendemos, então, a importância da for- mação do professor para avaliar como deve acontecer a sistematização da alfabetização para que a criança domi- ne tanto a especificidade da alfabetização como entendi- mento de texto. Por isso é necessário repensar a questão do método. Para saber mais, assista a entrevista de Magda Soares, disponível em: https://www.youtube.com/wat- ch?v=mAOXxBRaMSY. Acesso em 11 jan. 2023. A DIDÁTICA DAS CARTILHAS UTILIZADAS PARA O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA Vamos agora conhecer um pouco da história das cartilhas no Brasil, talvez pareça um pouco repetitivo, pois tem como base o método sintético, mas como a maior parte dos brasileiros participou dessa história, foi separado um destaque especial https://www.youtube.com/watch?v=mAOXxBRaMSY 57 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER a esse tema para conhecermos um pouco mais sobre o papel desse material nas escolas brasileiras. Talvez você tenha sido alfabetizado com uma dessas cartilhas, ou quem sabe seus pais ou avós, mas com certeza, se perguntar por aí, alguém vai conhecer o famoso: ba – be – bi – bo – bu. As cartilhas ganharam popularidade no Brasil a partir do início do século 20. Mas a “Cartilha da Infância”, de Galhardo, ganhou divulgação nacional em 1880 e a 225ª edição ainda circulava em 1979. O método dessa cartilha era o silábico pois Galhardo julgava o método da soletração um absurdo e entre esse e o palavração, achou apropriado adotar a silabação (MORTATTI, 2000). Temos uma história muito extensa desse modelo de cartilha silábica no Brasil. Observe a lista abaixo baseada em Barbosa (1991): • 1880: A cartilha da infância • 1880: A cartilha nacional • 1920: Cartilha para o ensino rápido da leitura • 1928: Cartilha do povo • 1940: Cartilha Sodré 58 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO • 1945: O livro da Lili • 1949: Cartilha Caminho Suave As cartilhas tradicionais apresentam uma concepção de língua como uma transcrição fonética, isto é, escreve- se da maneira que se fala (WEISZ, 2009, p. 56). As cartilhas mencionadas têm como base o método silábico e seguem uma estrutura muito semelhante: palavra-chave ilustrada com um desenho; sílaba geradora; família silábica; lista de palavras com sílabas e letras já trabalhados; exercícios de treino das novas palavras, ditado ou cópia; texto para treino de leitura. A cada lição é apresentada uma unidade silábica começando com as vogais, depois as sílabas simples de combinação CV (consoante-vogal) para então trabalhar as chamadas sílabas complexas e encontros consonantais (CAGLIARI, 1998, p. 81 e 82). Isso pode gerar um problema para os alunos, pois a relação grafema-fonema é apresentada como um “casamento monogâmico” e acabam entendendo no sistema alfabético há sempre essa relação (SILVA, 2004, p. 151). A linguagem é apresentada de forma simplista onde sílabas são compostas por letras, palavras por sílabas e o texto um conjunto de frases (MORTATTI, 2000 -B, 43). Segundo Cagliari (1998, p. 82), é uma visão distorcida da linguagem. 59 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Esse material faz da escrita uma atividade de cópia e ditado, uso da memória para reconhecer as famílias silábicas e essa “forma de trabalhar está relacionada à crença de que primeiro o menino tem de aprender a ler e a escreve dentro do sistema alfabético, fazendo uma leitura mecânica, para depois adquirir uma leitura compreensiva” (WEIZ, 2009, p. 58). Outro problema da cartilha é a ênfase dada a silabação das palavras. A criança acaba entendendo que para ler a palavra precisa identificar cada pedacinho, pois é uma soma de “tijolinhos” e a criança entende que ler é diferente da fala passando a ler artificialmente. Ao final da leitura, a criança não consegue entender o que leu, pois fica preocupada em ler as sílabas. “A cartilha ensina os alunos a silabarem e depois quer que leiam com fluência” (CAGLIARI, 1998, p. 85). Segundo Carvalho (2014, p. 87) “ler não é apenas juntar sílabas em palavras Nas cartilhas, a língua é apresentada de forma mecânica com foco na decodificação e codificação da escrita. 60 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO e palavras em frases, ou seja, não basta ser alfabetizado para compreender o que se lê”. E ainda reforça que “a escola pode e deve contribuir para a formação de leitores, adotando práticas de leitura e escrita que reforcem a busca de significados, da compreensão, e não a simples decodificação.” Para Cagliari (1998, p. 94) “a pior consequência da cartilha da maneira como a cartilha trata a escrita na alfabetização decorre inegavelmente da sua concepção de texto.” Na realidade os “textos cartilhados” ou “pseudotextos” das cartilhas têm o objetivo de treinar a leitura, ou seja, são elaborados com intenções pedagógicas e, por isso, não podem ser considerados gêneros textuais, pois não têm uma função social. Além disso, “não lidam adequadamente com os elementos coesivos e, às vezes, nem com a coerência discursiva, o que faz deles péssimos exemplos para os alunos” (CAGLIARI, 1998, p. 89). TEXTOS CARTILHADOS OU PSEUDOTEXTOS são textos que não têm uma função e usos social, mas ape- nas uma intenção pedagógica: ensinar o mecanismo da leitu- ra e da escrita. 61 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER Observe o texto da cartilha na figura 7 abaixo. A ênfase está em apresentar palavras com a letra “B” e a família silábica na composição de sílabas canônicas (CV). O texto não apresenta coerência além de, quase em um formato de silogismo, afirmar que “o bebê é bobo”. Esse é o modelo de texto apresentado nas cartilhas tradicionais e os alunos, ao longo do processo, produzirão esse padrão na escrita, mas serão cobrados a produzirem textos coesos e coerentes. Figura 7 – Exemplo de cartilha Fonte: LIMA, B. A., 2006, p. 34 e 35 Esse modelo de escrita da cartilha influencia a produção escrita da criança, principalmente a das camadas populares, pois geralmente não tem a presença de livros. As crianças de 62ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO classe privilegiadas vivenciam outra experiência e já tem uma percepção diferente da escrita pois fazem parte de um: contexto cultural com livros, e ouvem histórias que lhes leem, percebem com facilidade que os textos das cartilhas não são texto “para ler”, são frases para “aprender a ler” e que as “composições” ou os exercícios de “expressão escrita” que fazem são apenas para “aprender a escrever” (SOARES, 2017, p. 105) Observe a escrita de um aluno de camadas populares que escreveu obedecendo o modelo de texto da cartilha: A PIPA A pipa é de Fábio. A pipa voa... voa... A pipa avoa no azul do céu. A pipa é bonita. Fábio solta a pipa. A pipa é verde. A pipa vai longe. Que pipa bonita. (SOARES, 2017, p. 105) Esse aluno não escreveu como expressão da própria criatividade, pois escolheu o tema “pipa” por fazer parte da 63 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER ‘lição” que está estudando e emprestou o nome da personagem do texto da cartilha. Para ele, o texto é uma junção de frases soltas, com palavras que já foram trabalhadas, construídas numa estrutura sem coesão ou coerência. Percebemos a forte influência da cartilha na produção escrita desta criança e o distanciamento de textos reais que fazem parte do cotidiano deles (SOARES, 2017, p. 106). Porque as cartilhas dirigem demais a vida da escola, o aluno tem que seguir apenas um caminho, por onde passam todos; só pode pensar conforme o método manda e fazer apenas o que está previsto no programa. Para alguns alunos, esse “caminho” até que é “suave” no começo, mas depois quando acaba a cartilha e se veêm na situação de ter que lidar não apenas com elementos já dominados, como na cartilha, mas com o novo e desconhecido, então não sabem mais progredir, aprender e a escola que parecia tão organizada, torna-se uma enorme confusão para essas crianças. Aquilo que parecia tão organizado na cartilha, torna-se um caos fora dela e o aluno, geralmente não tem mais a quem recorrer.” (ROJO, 1998, p. 66 e 67) O professor alfabetizador tem a consciência de como a língua funciona e avalia sua concepção de texto favorecendo a produção escrita dos alunos. “O texto é uma unidade significativa, uma passagem que faz sentido. É mais do que a soma de palavras e frases” (CARVAHO, 2014, p. 49). Por 64 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO isso as cartilhas são artificiais e não têm relação com a vida e experiências das crianças (CARVAHO, 2014, p. 33). O professor precisa entender que deve haver uma intercessão entre o mundo da escola e fora da escola, um contribui para a ampliação e enriquecimento do outro. Em 14 de abril 1997, o jornal Folha de São Paulo publicou a avaliação do MEC sobre os livros didáticos e entre esses foram avaliadas 51 cartilhas. Dessas, três foram aprovadas sem distinção; nove foram aprovadas com ressalvas; trinta não foram recomendadas e nove reprovadas. A crítica feita a esses livros foi em relação aos textos. Eram incoerentes e absurdos e apresentavam uma concepção limitada de texto. Argumentaram que os textos eram compostos por uma sequência de frases curtas com o objetivo único de ensinar ou fixar sílabas sem intenção comunicativa real. SAIBA MAIS Para saber mais sobre essa avaliação do MEC consulte o site: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/14/coti- diano/7.html. Acesso em: 20 dez. 2021. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/14/cotidiano/7.html 65 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER A mudança em relação ao ensino tradicional das cartilhas surgiu com os estudos cognitivistas de base piagetiana. Esse novo paradigma pressupõe a “prevalência da aprendizagem sobre o ensino, deslocando o foco do professor para o aprendiz” (SOARES, 2018, p. 21). A criança, nessa proposta, constrói seu conhecimento sobre a língua, daí o nome construtivismo, uma teoria onde os métodos se apoiam. Pela interação com textos reais de leitura, o aprendiz compreende o conceito da língua escrita como um sistema de representação dos sons da fala por sinais gráficos (idem). Segundo a autora “o construtivismo não propõe um novo método, mas uma nova fundamentação teórica e conceitual do processo de alfabetização e de seu objeto, a língua escrita” (SOARES, 2018, p. 22). CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos aqui, a importância de conhecer um pouco da história da escrita para entender como é a trajetória da criança no processo de alfabetização, pois ela repete esta história. Portanto consideramos como é necessário ao alfabetizador, em sua formação, compreender a grande responsabilidade que tem diante de tantas questões metodológicas adotando 66 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO uma prática pedagógica que contribua positivamente na trajetória de alfabetização da criança. A discussão sobre métodos de alfabetização possui uma história muito extensa de polêmicas e controvérsias sobre qual método adotar ou não. Os métodos sintéticos e analíticos foram (ou são) o centro da “guerra dos métodos” ao longo da história da alfabetização no Brasil. Os métodos tradicionais e inovadores aqueceram os debates sobre qual é mais eficiente ou contribui para facilitar o aprendizado da leitura e escrita. Muitos estudos e materiais têm sido produzidos fortalecendo o diálogo entre teoria e prática na intenção de melhorar a qualidade das nossas crianças no período de alfabetização. É preciso que a aquisição da língua escrita seja um processo significativo e marcado por experiências positivas, pois a trajetória da alfabetização apenas baseado na decodificação e treinos mecânicos não contribui para o aprendizado real da leitura e escrita. Esse modelo de didática torna o ensino da língua artificial afastando a criança da realidade da escrita, pois o que ela vê na escola está bem distante do seu cotidiano. Portanto, concluímos que a prática pedagógica não é apenas uma decisão sobre esse ou aquele método para a 67 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER solução dos problemas de alfabetização, mas está associada à formação do professor, pois deve ter consciência dos conceitos e especificidades da língua para o aprendizado da leitura e escrita. Por isso a importância de conhecer as diferentes abordagens de ensino-aprendizagem que sustentam os métodos de alfabetização. Cabe ao professor avaliar uma proposta de ensino onde o aluno é ativo, pense sobre a escrita e seja capaz de construir o seu próprio aprendizado sob a intervenção do professor. RESUMO Nesta unidade aprendemos que: • É importante conhecer a trajetória da escrita ao longo dos tempos para compreender como a criança reconstrói a sua própria história da escrita. No início da história da humanidade, a sociedade era ágrafa, ou seja, prevalecia a oralidade. À medida que as sociedades foram tornando-se mais complexas, houve a necessidade de um registro, pois a memória não comportava mais todas as informações. Então, conhecemos a história de povos e culturas que participaram da formação da escrita alfabética atual, como os sumérios e os egípcios. 68 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO • No processo de alfabetização há várias habilidades que o indivíduo precisa dominar para ser plenamente alfabetizado cabe ao professor apresentá-los de forma significativa, levando os alunos a reconstruírem o conhecimento e não apenas transmitirem informações de um código. Por isso o domínio do sistema alfabético é essencial ao alfabetizando para que tenha pleno acesso ao mundo letrado. • Na alfabetização há diferentes caminhos a seguir, por isso é importante o professor ter conhecimento sobre os fundamentos dos diferentes métodos para trabalhar com os seus alunos de forma que a alfabetização seja significativa. Neste caminho há duas vertentes principais: os empiristas, com base na experiência, e os racionalistas, que valorizam os processos mentais. • A contribuição de Piaget e Vygotsky abriu espaço para pensar o processode alfabetização de modo mais abrangente. Para Piaget, o desenvolvimento da criança acontece por estágios acumulando informações no seu aprendizado a partir da experiência com o objeto de conhecimento. Já Vygotsky dá grande importância a interação da criança com o adulto ou colega mais experiente para ajudá-la no processo de aquisição de novos conhecimentos. 69 ALfABETIzAçãO: A hIsTóRIA sOBRE COMO ENsINAR A LER E A EsCREvER • No caminho para o aprendizado da leitura e escrita, há dois grupos de métodos: os sintéticos e os analíticos. O primeiro grupo, parte das menores unidades da língua, ou seja, vai da parte para o todo. Já o segundo grupo, faz o caminho oposto, vai da parte maior para a menor. REFERÊNCIAS BARBOSA, J. J. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1991. 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Alfabetização: a história sobre como ensinar a ler e a escrever Introdução Alfabetização: conhecendo a história da escrita ao longo dos tempos Conceito de alfabetização Métodos sintéticos Método alfabético Método fônico Método silábico Métodos analíticos de alfabetização Método da palavração Método da sentenciação Método do conto A didática das cartilhas utilizadas para o ensino da leitura e da escrita Considerações finais Referências Como a criança aprende a escrever e ler Introdução A ressignificação do ensino da leitura e da escrita Psicogênese da língua escrita Definindo psicogênese da língua escrita Níveis da psicogênese da alfabetização Procedimentos para classificação dos níveis psicogenéticos Nível silábico Nível alfabético Processos de construção da linguagem escrita Considerações finais Referências Letramento: o sentido de aprender e ensinar a ler e a escrever Introdução Letramento: conceito Diferenciando letramento O letramento na escola Letramento: BNCC e PNA Considerações finais Referências Alfabetizar letrando: o texto na sala de aula Introdução Alfabetizar letrando: centralidade do texto Produção escrita a partir do texto Letramento literário Estágios psicológicos da criança Proposta didática com literatura infantil Letramento: um conceito plural Considerações finais Referências Alfabetização: estudo da especificidade da língua Introdução Consciência fonológica Conceito de palavra Rimas e aliterações A sílaba Consciência fonêmica Considerações finais Referências Botão 1: Botão 2: Botão 3: Botão 4: Botão 5:
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