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ARTE E CORPOREIDADE Janaina Silva Xavier 1ª Edição, 2022 EAD Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Cardoso Ligório Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Wendel Lima Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Knoener Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Werter Gouveia Responsável editorial pelo EaD: Luiza Simões Comercial e marketing: Francileide Carvalho Vendas corporativas: Julio Cesar Ribeiro Editora Universitária Adventista 1ª Edição, 2022 ARTE E CORPOREIDADE Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Janaina Silva Xavier Licenciada em Artes Visuais, Especialista em Patrimônio Cultural, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (UFPEL), Mestre em Museologia (USP), Doutora em Artes Visuais (UNICAMP). Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Arte e corporeidade 1ª edição – 2022 e-book (pdf) OP 00123_161 Coordenação editorial: Luisa Simões Preparação: Marcos Faria Revisão:Peres Salles Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Suzie Adriana Signori Caetano Doutora em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNICAMP Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO INTRODUÇÃO A ARTE E CORPOREIDADE ............... 13 Introdução ........................................................................................14 A arte e suas finalidades ..................................................................15 O que é arte? ...........................................................................16 Finalidades da arte ..................................................................21 Sistema das artes ....................................................................25 Arte e educação ......................................................................27 A importância da música ................................................................33 A produção musical ................................................................34 Educação musical ....................................................................35 A experiência musical .............................................................40 Contribuições da música .........................................................41 O corpo humano e a corporeidade ..................................................44 O desenvolvimento corporal ...................................................46 Capacidades sensoriais iniciais ...............................................48 Desenvolvimento motor .........................................................51 A psicomotricidade .................................................................58 Considerações finais.........................................................................60 Referências .......................................................................................63 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE ARTE E CORPOREIDADE .............................. 67 Introdução ........................................................................................68 Fundamentos da linguagem visual ................................................69 Ponto .......................................................................................71 Linha ........................................................................................73 Formas e planos ......................................................................76 Qualidades do som ..........................................................................79 Intensidade..............................................................................82 Duração ...................................................................................89 Altura .......................................................................................96 Timbre ....................................................................................105 Desenvolvimento corporal ..............................................................113 Atividades para a percepção corporal....................................116 Tomada de consciência do corpo pela verbalização ........................................................117 Atividades de imitação de gestos e atitudes ........................120 Orientação do próprio corpo ..................................................123 Considerações finais........................................................................124 Referências ......................................................................................128 EXPRESSÕES ARTÍSTICAS E MOTORAS ................. 133 Introdução .......................................................................................134 Poéticas visuais na arte moderna ..................................................136 Explorando as obras de arte ..................................................137 Arte moderna europeia..........................................................138 Arte moderna brasileira .........................................................146 Obras de arte para crianças....................................................151 Análise iconográfica e iconológica ........................................156 Apreciação musical ........................................................................159 Escuta interativa .....................................................................163 Memória auditiva ...................................................................165 Percepção auditiva .................................................................166 Ouvinte atento........................................................................167 Funções psicomotoras ...................................................................172 Esquema corporal ..................................................................174Imagem corporal....................................................................176 Lateralidade............................................................................177 Coordenação geral .................................................................178 Orientação espaço temporal ..................................................180 Ritmo corporal .......................................................................182 Considerações finais........................................................................183 Referências ......................................................................................187 VO CÊ ES TÁ A QU I O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE ..... 191 Introdução .......................................................................................192 A expressão artística da criança......................................................193 As aulas de artes ....................................................................194 Os conteúdos de arte .............................................................196 Por que arte na escola? ..........................................................199 O que os alunos aprendem nas aulas de arte? ..................................................................200 Avaliando o trabalho em arte ................................................207 A educação da voz ..........................................................................210 A função fonadora..................................................................211 A laringe da criança ...............................................................213 A muda vocal .........................................................................214 Respiração e articulação ........................................................216 O trabalho vocal na pré-escola ..............................................218 Trabalho vocal a partir de 8 anos ...........................................220 Execução das canções ............................................................221 A expressividade motora ...............................................................225 O sujeito e o movimento ........................................................229 O sujeito e o espaço ...............................................................232 O sujeito e o tempo ................................................................234 O sujeito e os objetos .............................................................237 Considerações finais........................................................................239 Referências ......................................................................................242 VO CÊ ES TÁ A QU I EMENTA Aborda os fundamentos das linguagens artísticas, visuais, musicais e a expressão corporal no contexto escolar como meio de estimular a cidadania, o pensamento, a sensibilidade, a percepção, a estética e a imaginação. Explora repertórios eruditos, populares e folclóricos, capacitando o docente para a promoção do trabalho educativo na infância em arte e corporeidade com caráter intencional e fundamentado teoricamente. - Criar atividades pedagógicas artísticas, de musicalização e de psicomotricidade que ampliem a expressão de modo crítico e ativo dos estudantes.OB JE TI VO S O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE UNIDADE 4 192 ARTE E CORPOREIDADE INTRODUÇÃO Seja bem-vindo ao nosso estudo sobre arte e corporeidade. É muito importante que o educador infantil se aproprie de conhecimentos que permitam que ele crie atividades pedagógicas artísticas, de musicalização e de psicomotricidade que ampliem a expressão de modo crítico e participante das crianças. Para tanto, é relevante conhecer a complexidade do desenvolvimento infantil em cada uma de suas fases. Os primeiros anos da criança são muito ricos em experiências e exploração cognitiva, cinestésica e afetiva do mundo e do outro. Para isso, a criança se utiliza das expressões artísticas, musicais e corporais, com as quais ela manifesta o que está aprendendo. Por isso, o professor é peça fundamental em orientar, corrigir e avaliar esse processo com segurança. Cada manifestação da criança é carregada de informações para o educador, que deve observar e registrar no diário de evolução do aluno. Desse modo ele terá melhores condições de avaliar o desempenho do estudante, informar a escola e os responsáveis por ela sobre o seu processo pedagógico. Neste estudo, você aprenderá sobre as aulas, os conteúdos, os benefícios, os aprendizados e a avaliação do trabalho em artes. Compreenderá os cuidados com a voz a partir da 193 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE compreensão da função fonadora, da laringe da criança, da muda vocal, da respiração, da articulação, do trabalho vocal na pré-escola e séries iniciais, das atividades com o canto e os vocalizes. Por fim, verá como se desenvolve a psicomotricidade a partir dos níveis de expressão motora, o sujeito e suas relações com o tempo, o espaço e os objetos. Portanto, ao final deste estudo, esperamos que você tenha aprendido sobre: • A expressão artística da criança; • A educação da voz; • A expressividade motora. Bom estudo! A EXPRESSÃO ARTÍSTICA DA CRIANÇA As crianças são muito expressivas e se manifestam com naturalidade verbal, plástica e corporalmente, revelando suas sensações, seus sentimentos e suas vivências intensamente. Elas desenham, pintam, dançam, cantam com interesse genuíno e, no contato com adultos e com outras crianças, interagem e aprimoram suas experiências e descobertas. 194 ARTE E CORPOREIDADE Ao realizar suas atividades, a criança, frequentemente, é criativa e fantasiosa, exercitando suas habilidades sensoriais e motoras. Por isso, o trabalho do professor é aprimorar essas potencialidades perceptivas, enriquecendo suas experiências de conhecimento estético, orientando-as para ver, ouvir, tocar, perceber e analisar, de forma individual e coletiva. Por consequência, ao desenvolver a percepção, a imaginação e a expressão, a criança terá uma significativa melhora no aprendizado da língua, da matemática, das ciências naturais e humanas. AS AULAS DE ARTES Muitas escolas e professores ainda utilizam desenhos prontos para as crianças colorirem, em outras o desenho é livre, sem direcionamento ou um objetivo pedagógico. Em muitos casos se observa aulas de artes muito precárias, com tempo, conteúdos e objetivos pouco definidos e avaliações que não conseguem estimar o desenvolvimento dos alunos. A partir dessa realidade, é preciso que os professores reflitam sobre a natureza do conhecimento artístico e de como deve ser ensinado e aprendido os conteúdos de artes. 195 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE A arte é um objeto de conhecimento que demanda competências técnicas científicas, históricas, além de habilidades de criação e inovação. O espírito humano tem uma necessidade básica de ordenamento, inventividade e classificação. A arte revela a consciência criadora, favorece a integração entre o pensamento racional e emocional, contribui para o enriquecimento da experiência humana e o reconhecimento dos valores universais. Por isso, ao trazer as obras de arte para a sala de aula, o professor não deve ensinar que uma produção é mais avançada ou evoluída do que outra, nem mais correta. Nas aulas de artes, o aluno pode exercitar suas habilidades perceptivas e imaginativas. Para tanto, a escola deve favorecer essa experiência, possibilitando que essas potencialidades aflorem e se desenvolvam. O professor pode apresentar o conteúdo gradativamente: pontos, linhas, cores, volumes, tamanhos e texturas. Além disso, ele também deve ajudar as crianças a apreciar o conjunto das composições artísticas, seus significados e importância. Aquilo que a criança faz – pintura, desenho, dobradura – não deve ser visto como um produto artístico, mas sim como um processo, que deve ser acompanhadoatentamente pelo professor. 196 ARTE E CORPOREIDADE A criação artística permite uma forma de conhecimento e comunicação com múltiplos significados que se traduzem por meio das linhas, formas, cores, texturas etc. Assim, a arte é um modo particular de utilização da linguagem e cada criança irá criar um tipo diferenciado de comunicação. As formas artísticas podem significar coisas diferentes, de acordo com a experiência de cada um. É essencial que a criança desenvolva a capacidade de discriminar as coisas por meio da visão, do tato e da linguagem, em exercícios de imaginação, comparação, organização, combinação, aproximação e descrição. Isso porque as crianças não se limitam a copiar o que vem, mas realizam exercícios mentais e desenvolvem habilidades motoras e visuais. OS CONTEÚDOS DE ARTE De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, nas aulas de artes devem ser desenvolvidos conteúdos relacionados ao: 1. Fazer artístico: desenhar, pintar, colar, moldar, gravar, dobrar etc. A criança também deve reconhecer e utilizar os elementos da linguagem 197 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE visual e experimentar diferentes técnicas, buscando desenvolver sua expressão pessoal. 2. Apreciação significativa: o aluno deve apreciar uma diversidade de obras visuais, aprendendo a reconhecer as diferenças culturais, os significados expressivos, identificar as técnicas e os elementos da linguagem visual. 3. Contextualização cultural e histórica: estudo das obras de arte, dos artistas, dos estilos, dos produtos culturais por meio da leitura de textos, estudo das imagens, visita aos museus, galerias, ateliês e oficinas de arte. Figura 22 – O currículo de artes na escola FAZER ARTÍSTICO APRECIAÇÃO SIGNIFICATIVA CONTEXTUALIZAÇÃO Fonte: elaborado pela autora Nas séries iniciais, nas aulas de artes, os alunos devem experimentar exercícios de desenho, pintura, colagem, escultura, gravura, modelagem; produzir a partir dos elementos 198 ARTE E CORPOREIDADE básicos da linguagem visual relações entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento e equilíbrio. É importante também a observação e a análise das formas que produziu e do processo pessoal e as produções dos colegas. Ele pode ter contato e reconhecimento das propriedades expressivas e construtivas dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas na produção de formas visuais, experimentando e utilizando materiais e técnicas artísticas diversas como pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila e outros meios. A criança deve reconhecer diferentes produtos artísticos: pinturas, esculturas, fotografias, desenhos, gravuras e vídeo. Ela também tem potencial para frequentar espaços de fruição cultural: museus, galerias, ateliês e oficinas. Toda a produção artística da criança precisa ser organizada em registros pessoais organizados em formas de portfólios, onde possa ser observada a evolução do seu percurso criativo. No processo de conhecimento da arte, a apreciação de obras de arte é o canal de compreensão da experiência sensível. Diante de uma obra de arte, a criança é sensibilizada e passa a desenvolver habilidades de percepção, intuição, raciocínio e imaginação. Assim, há uma comunicação entre o artista e o espectador, mediado pela obra de arte, com o auxílio do professor. A emoção estética desencadeia experiências internas 199 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE significativas. Durante a produção artística, o aluno relaciona e soluciona questões propostas pelo professor, organizando elementos artísticos: linhas, pontos, cores e formas. Portanto, conhecer arte envolve o pensamento, a intuição, a imaginação e os sentimentos. POR QUE ARTE NA ESCOLA? O estudo da arte pode trazer muitos benefícios para a educação do aluno: • A arte na escola assegura aos educadores o acesso à leitura e escrita de textos das linguagens não verbais. • A arte na escola favorece a construção do cidadão consciente, participativo, crítico, sensível e transformador da sociedade. • Melhora a compreensão em todos os conteúdos e disciplinas. • Permite aos alunos acesso ao patrimônio cultural da humanidade. • Desenvolve a criatividade e as habilidades artísticas. • Leva à compreensão de mundo. 200 ARTE E CORPOREIDADE • É fundamental para o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética. • Amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. • Colabora com o crescimento, em igualdade de condições dos níveis cognitivo, afetivo e perceptivo (VENTRELLA; LIMA, 2006, p. 41). O QUE OS ALUNOS APRENDEM NAS AULAS DE ARTE? O estudo da arte proporciona o desenvolvimento de várias competências e habilidades nos estudantes. Por meio dela os alunos: • Aprendem a comunicar ideias, pensamentos e sentimentos por meio de linguagens não verbais. • Aprendem a manipular, organizar, compor, significar, decodificar, interpretar, produzir, conhecer textos não verbais. • Aprendem a produzir e ler textos nas linguagens não verbais. • Aprendem que arte é conhecimento e não brincadeira e lazer. 201 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE • Aprendem a comunicar-se por meio das linguagens artísticas. • Aprendem a ser mais criativos. • Aprendem coordenação motora, noção espacial e lateralidade. • Aprendem a estabelecer um diálogo com a arte e expressar-se por meio dela. • Aprendem e desenvolvem atitudes e habilidades que participam da alfabetização (VENTRELLA; LIMA, 2006, p. 43). O estudo do universo da arte ajuda o aluno a entender as diferenças culturais e a passagem da história. Desse modo, é importante que a escola proporcione momento de reflexão sobre a arte. Em síntese o conhecimento da arte envolve: • A experiência de fazer formas artísticas e tudo que entra em jogo nessa ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e técnicas, a relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de arte; • A experiência de fruir formas artísticas, utilizando informações e qualidades perceptivas e imaginativas para estabelecer um contato, uma conversa em que as formas signifiquem coisas diferentes para cada pessoa; 202 ARTE E CORPOREIDADE • A experiência de refletir sobre a arte como objeto de conhecimento, onde importam dados sobre a cultura em que o trabalho artístico foi realizado, a história da arte e os elementos e princípios formais que constituem a produção artística, tanto de artistas quanto dos próprios alunos (PCN Arte, 1997, p. 31). Percebemos, portanto, que a arte é um tipo de conhecimento que envolve a fruição de produtos artísticos, por meio de obras originais e reproduções impressas, em vídeo, em projeções; o desenvolvimento de produtos artísticos pelos alunos e a conhecimento do fenômeno artístico na história. Por meio do convívio com o universo da arte, os alunos podem conhecer: • O fazer artístico como experiência poética (a técnica e o fazer como articulação de significados e experimentação de materiais e suportes variados); • O fazer artístico como desenvolvimento de potencialidades: percepção, reflexão, sensibilidade, imaginação, intuição, curiosidade e flexibilidade; • O fazer artístico como experiência de interação (celebração e simbolização de histórias grupais); 203 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE • O objeto artístico como forma (sua estrutura ou leis internas de formatividade); • O objeto artístico como produção cultural (documento do imaginário humano, sua historicidade e sua diversidade) (PCN Arte, 1997, p. 32). É muito importante que o professor conheça as imagens e os sons que compõe o universo das crianças, presentes em músicas, brinquedos, jogos e desenhos infantis. A influência dos meios modernos sobre os desenhos e as percepções das crianças sobre a arte pode ser observada nas falas, nos grafismos, na imitação e na cópia. Essas linguagens devem ser introduzidas na sala de aula de modo crítico,despertando nas crianças o interesse pela interpretação das imagens que povoam o seu mundo. A arte é uma forma especial de conhecer e se aproximar de culturas distintas e de indivíduos. Ela permite entender semelhanças e diferenças: a vida na cidade, a vida no campo, a cultura indígena e a cultura africana. A arte humaniza o ser humano e o ajuda a perceber-se com características particulares e universais. Esse conhecimento auxilia no processo de identidade, de progresso de um percurso de criação pessoal e da experimentação de interações com o professor, com o colega, com o artista. 204 ARTE E CORPOREIDADE Ao ensinar arte na escola, o professor deve evitar práticas reconhecidas como nocivas ao desenvolvimento artístico dos estudantes. Entre elas podemos destacar: • O reforço dos estereótipos e o uso de modelos prontos; • Fazer arte por distração, para encher o tempo; • Reduzir as aulas de arte ao conhecimento de geometria; • Determinar certos conceitos de beleza; • Desenho livre e sem um objetivo; • Foco exclusivo no aprimoramento da técnica; • Críticas destrutivas. A arte é o produto de uma ação criadora. Cada obra é fruto de uma época e de uma cultura singular que revela a capacidade da imaginação humana. O conhecimento artístico não tem por objetivo estabelecer leis e regras de criação, mas 205 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE permitir uma experiência de comunicação subjetiva por meio das imagens, transmitindo ideias, sentimentos e sensações. Cabe ao professor escolher os recursos didáticos e o modo de apresentar os conteúdos, bem como sempre introduzir obras de arte, porque ensinar arte com arte é o caminho mais eficaz. O aluno precisa ver, ouvir, atuar, tocar, expressar-se, produzir e refletir artisticamente. A escola precisa incluir informações sobre a arte regional, nacional e internacional, ampliando as possibilidades de o aluno atuar socialmente. As séries iniciais são fundamentais para despertar o interesse dos alunos, e, ao final desse percurso, ele deverá estar preparado para reconhecer a arte e para trilhar um percurso artístico pessoal. Para isso as aulas de artes devem acontecer com regularidade, favorecendo o contato sistemático com os conhecimentos e atividades que permitirão o progresso da criança. A ação artística deve ocorrer de forma individual, mas também coletiva, contribuindo para o fortalecimento da sociabilidade. O aspecto lúdico da aprendizagem também deve estar presente. Quando a criança brinca, ela desenvolve suas capacidades, ela dança, desenha, inventa histórias. A cultura de massa tem substituído a ludicidade, o movimento e a criatividade da criança por práticas mecânicas de reprodução. 206 ARTE E CORPOREIDADE E a escola pode proporcionar esse espaço de experiência pessoal de aprendizado estético. O professor deve saber orientar os procedimentos artísticos, sem interferir no desenvolvimento pessoal, permitindo ao aluno realizar suas próprias escolhas, fortalecendo a consciência criadora. A criança tem grande interesse e curiosidade pelas manifestações artísticas e à medida que ela adquire conhecimentos e experimenta o ato criativo, ela se desenvolve. O jogo artístico promove interação entre os sentimentos e o conhecimento, integra a sensibilidade, a percepção e o pensamento. A escola é o espaço onde a criança pode adquirir informações e experiências estéticas. Nas aulas de arte ela vai experimentar, brincar, construir, jogar, inventar e criar. Ao manipular o barro, a tinta, a madeira, o lápis, o papel, a cola, A escola é o espaço onde a criança pode adquirir informações e experiências estéticas. Fonte: Unsplash 207 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE a sucata, o pigmento, o pincel, a tela, a tesoura e tantos outros mais, ela exercitará a representação simbólica através das várias manifestações da linguagem visual, tais como, o desenho, a pintura, a escultura, a cerâmica, a gravura, a fotografia, a marcenaria, o vídeo, a instalação etc. AVALIANDO O TRABALHO EM ARTE Para avaliar corretamente o percurso artístico do aluno, o professor deve saber o que é adequado para cada fase do desenvolvimento da criança. Espera-se que no transcorrer dos ciclos de estudo, os alunos progressivamente adquiram competências de sensibilidade e conhecimento em artes, de forma que possam exercer sua cidadania cultural com qualidade. O professor deve propor atividades nas quais a criança demonstre: • A capacidade de criar formas artísticas com algum tipo de capacidade ou habilidade, experimentando diferentes materiais e suportes, com diversas técnicas e procedimentos, superando suas dificuldades e articulando percepção, imaginação, ideias e sentimentos; 208 ARTE E CORPOREIDADE • Capacidade de produzir artisticamente de forma individual e coletiva, valorizando seu trabalho e dos colegas, cooperando na relação de trabalho com o grupo e com o professor; • Identificar os elementos da linguagem visual em múltiplas situações, naturais ou fabricadas; • Reconhecer e apreciar as obras de arte por meio de suas emoções, reflexões e conhecimentos, percebendo valor na diversidade, observando contrastes e semelhanças; • Valorizar, respeitar e reconhecer a importância da cultura e dos espaços artísticos. Ao avaliar, o professor deve considerar o percurso de cada aluno, observando seu processo e seus produtos. Os alunos devem avaliar os trabalhos dos colegas, permitindo que eles aprendam a ser avaliados. O professor também deve promover a autoavaliação orientada com um roteiro a ser observado. Em momentos de conversa e reflexão, o professor deve avaliar se as respostas do aluno são coerentes com os conteúdos estudados. A avaliação pode ser um momento de o aluno refazer seus 209 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE trabalhos, bem como do professor verificar o modo como ensinou e como os alunos aprenderam. A avaliação pode ocorrer em momentos diferentes: • A avaliação pode diagnosticar o nível de conhecimento dos alunos. Nesse caso costuma ser prévia a uma atividade; • A avaliação pode ser realizada durante a própria situação de aprendizagem, quando o professor identifica como o aluno interage com os conteúdos; • A avaliação pode ser realizada ao término de um conjunto de atividades que compõem uma unidade didática para analisar como a aprendizagem ocorreu (PCN Arte, 1997, p. 67). A atitude do professor durante a avaliação é muito importante, pois isso pode incentivar o aluno ou desmotivá-lo. Os critérios, instrumentos e procedimentos de avaliação devem ficar bem claros para os alunos. No próximo tópico veremos que assim como é preciso ensinar uma diversidade de saberes em arte aos alunos, eles também precisam educar a voz, pois este é um mecanismo delicado e extremamente expressivo por meio da fala e do canto. 210 ARTE E CORPOREIDADE A EDUCAÇÃO DA VOZ A experiência das crianças com o universo sonoro se inicia ainda antes do nascimento, pois na fase intrauterina os bebês já se habituam com uma atmosfera de sons vindos do corpo da mãe, como a respiração, a movimentação do estômago, o sangue que corre nas veias. A voz materna também representa uma fonte sonora especial e é uma referência afetiva para o bebê. O conhecimento do aparelho vocal da criança precisa ser de alvo de estudos do educador musical infantil, dado que ele lida diretamente com os alunos que estão em fase de desenvolvimento vocal. Vemos muitos excessos vocais ocorrendo nas salas de aula, por professores que, sem saber, conduzem de forma inadequada o trabalho educativo com o uso da voz, por ignorarem os aspectos fisiológicos do aparelho vocal e, ainda, as questões diretamente ligadas ao trato vocal infantil (COUTEIRO, 2007). Um dos principais excessos é feito com relação aos tons das músicas, comumente bem abaixo do adequado para o cuidado e conforto das vozes infantis. Outro abuso está ligado a dinâmica, exigindo que as crianças gritemmais do que cantem. Sozinhas, as crianças já cometem erros vocais, dado que 211 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE gritam abusivamente, imitam urros de monstros, reproduzem sons ruidosos, entre outros. Para uma prática educativa mais cuidadosa e adequada, é necessário, portanto, um estudo específico, impedindo futuros distúrbios no aparelho vocal. Segundo os estudos da pesquisadora e educadora musical Teca (Maria Teresa) Alencar de Brito (2003 apud COUTEIRO, 2007, p. 8) os cuidados envolvem tessitura apropriada à idade infantil, intervalos musicais curtos e fáceis; conteúdo do texto apropriado à faixa etária do grupo ou solista: peças que proporcionem acesso à cultura, dentre outros fatores. O autor ainda acrescenta: “A voz infantil caracteriza-se pelo seu timbre claro, sem vibrato e extensão sem graves. Aproxima-se da voz adulta feminina, mas é mais frágil. A laringe é onde o som é produzido, fazendo parte do aparelho fonador, que integra o conjunto de órgãos dos aparelhos respiratório e digestivo com a função de fonação. A FUNÇÃO FONADORA A voz é um mecanismo vivo, carecendo, assim, de cuidados maiores. A voz infantil, precisa de cuidados 212 ARTE E CORPOREIDADE ainda mais expressivos, dado que está num corpo ainda em formação e desenvolvimento. A fonação é uma função que precisa de outros importantes órgãos do corpo, entre eles, a laringe, os pulmões, e boca, língua, faringe (sistema digestivo) e nariz (sistema respiratório). De acordo com os fonoaudiólogos autores Pinho, Jarrus, Tsuji (2004) do livro Manual de saúde vocal infantil, as cordas vocais são duas pregas formadas de músculos revestidos por delicada membrana mucosa localizada no interior da laringe, que está situada no pescoço. O ar passa pelas pregas vocais quando inspirarmos e elas se abrem para este movimento. O ar, uma vez exalado, resulta na vibração das pregas durante sua passagem, resultando na produção vocal, que até então é apenas um ruído, como de um balão, quando esticamos sua boca para expelir o ar. O som produzido assim é amplificado pelas caixas de ressonância na cabeça, que servem como alto- falantes naturais. A articulação desses sons é feita pela língua, lábios, mandíbula e palato mole. Vimos, portanto, que há um complexo mecanismo de produção sonora, isso sem detalharmos aos aparatos fisiológicos acústicos, que são ainda mais complicados. 213 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE A LARINGE DA CRIANÇA A laringe de um adulto é bem maior do que de uma criança. As pregas vocais de um recém-nascido têm aproximadamente 3 milímetros e atingem uma frequência de 3.000 Hz, dado que sua laringe está centrada na altura da terceira vértebra, em uma região muito mais alta do que na fase adulta. A laringe infantil permanece nesta altura até a idade de 5 anos, quando, gradualmente, desce para a região da sétima vértebra. Ao nascer, a laringe da criança está muito alta e suas dimensões são um terço da laringe de uma mulher adulta. Ela lentamente vai descendo, acompanhando o desenvolvimento de todo o corpo até ao final da puberdade (DINVILLE, 2001). Segundo Kyrillos (1995 apud VANZELLA, 2006, p.3) “a laringe infantil é de configuração cônica, com cartilagens delicadas e ligamentos frouxos; os tecidos epiteliais são densos, abundantes e mais vascularizados, com tendência a edema e obstrução [...] Não é um bom instrumento para a fonação, devido à sua dimensão vertical encurtada, reduzida capacidade de ressonância e possibilidade de movimentação restrita”. É por isso que a voz da criança é muito mais aguda e delicada do que a de um adulto e as suas pregas vocais são bem menores tanto em comprimento como em espessura. A glote de uma criança também é 50% menor do que a de um adulto. A pesquisadora 214 ARTE E CORPOREIDADE e especialista em reeducação da voz, Claire Dinville (1993) adverte ainda que é prejudicial para um falar ou cantar forçando a voz a uma condição que não esteja de acordo com a constituição anatômica de seu organismo. A MUDA VOCAL A muda vocal é a fase em que o aparelho vocal infantil começa a amadurecer e tornar-se pronto, o que significa a mudança na altura da voz. Esta modificação ocorre em virtude das transformações hormonais pelas quais o corpo humano passa durante a puberdade, acompanhando suas qualidades sexuais. De acordo com Sataloff e Spiegel (1989 apud COUTEIRO, 2007, p. 13) “a puberdade acontece entre os 8 e 15 anos para o sexo feminino e entre os 9,5 e 14 anos para o sexo masculino”. De acordo com Behlau (2001 apud VANZELLA, 2006, p.4) “a frequência fundamental esperada na voz infantil está acima de 250 Hz, com sensação de agudo, e respiração alta e reduzida, e tempos máximos de expiração até 12 segundos”. Pesquisas realizadas com 50 crianças do sexo masculino e 50 do sexo feminino, na faixa etária de 6 a 8 anos, observou que sua frequência básica era, em geral, em torno de 250Hz e esta diminui gradativamente à medida em que aumenta a idade. 215 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE Nos meninos, aos seis anos, a média da frequência fundamental apresenta valor em Hz superior à média encontrada para meninas, e nas idades de sete e oito anos diminui significantemente. No sexo feminino, verificou-se a diminuição da média da frequência, contudo, em incidência menor se comparada ao menino (BRAGA, OLIVEIRA, SAMPAIO, 2009). Percebemos, deste modo, que as vozes infantis não têm diferença de sexo nesta fase, são idênticas em classificação, independente do sexo, até por volta dos 10 anos quando, comumente, começa a muda vocal, podendo variar e começar até os 12 anos de idade. De acordo com Kaplan (1960 apud PACHECO, 1999, p. 8) as pregas vocais atingem nos homens 17-24mm e nas mulheres 12,5-17mm. Fisiologicamente há uma adaptação as novas condições anatômicas, que tem como consequência um abaixamento médio da frequência fundamental em 1 oitava para os meninos, ficando a voz em torno de 130hz e em 2 a 4 semitons para as meninas tornando a frequência em torno de 195 hz. Ao contrário do que se acreditava, a criança pode e deve fazer aulas de canto durante a fase de muda vocal, evidentemente que o faça com um professor que tenha conhecimento do trato com a voz infantil. 216 ARTE E CORPOREIDADE RESPIRAÇÃO E ARTICULAÇÃO A respiração bem efetivada é vital para um resultado sonoro adequado. A respiração ocorre em dois momentos: a inspiração (quando há a entrada do ar) e a expiração (quando há a saída o ar). É por meio da respiração que o som vocal acontece. Ela, deste modo, é essencial para um som harmonioso, agradável e saudável, permitindo a fala ou o canto de modo correto. A inspiração deve ser realizada usando a boca e o nariz, simultaneamente, pois assim o ar será aquecido, umedecido e filtrado (PINHO; JARRUS; TSUJI, 2004). Segundo Dinville (1993), este ar deve ser dirigido para a abertura das costelas inferiores, causando uma sensação de dilatação da cavidade abdominal, enchendo de ar toda a região mais larga dos pulmões, resultando na descida do diafragma, no alargamento vertical e transversal da caixa torácica, permitindo A respiração bem efetivada é vital para um resultado sonoro adequado. 217 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE uma respiração larga e profunda. Esta respiração é conhecida como intercostal ou costo-diafragmática. Para os exercícios de canto realizado nas aulas de musicalização, é suficiente solicitar as crianças para respirarem naturalmente, dado que, comumente, elas ainda mantêm a respiração correta, mas se o professor verificar a elevação dos ombros e do peito - que resulta em uma respiração que emprega a menor parte dos pulmões e contração dos músculos do pescoço e ombros – é preciso ensinar a respiração correta, sem exigir demais de suas pequenas costelas e pulmões. Com relação à articulação, o verbo articular refere-se a separar, dividir, pronunciar distintamente. Segundo o Dicionário Aurélio (FERREIRA,1999), articular no sentido musical refere-se a tocar com clareza e nitidez. Já o significado do Dicionário Houaiss (2001) apresenta que articular é “separar (grupos rítmicos ou melódicos) para tornar o discurso musical inteligível“. A articulação de sílabas e palavras é mais difícil e lenta para as crianças na fase pré-escolar dada a imaturidade infantil relacionada à musculatura do rosto, da faringe, e por estar ainda aprendendo a falar. Também é imprescindível a questão da respiração, tão indispensável à fonação, uma vez que seu período respiratório é mais frequente e seu tempo de vocalização é mais curto. 218 ARTE E CORPOREIDADE A realização de exercícios de vibração da língua e dos lábios e de fricções com “Z” “J” e “V” auxiliarão muito no desenvolvimento de tonicidade muscular da laringe e na emissão sonora, além de fortalecer a musculatura vocal. O TRABALHO VOCAL NA PRÉ-ESCOLA Para o trabalho infantil podemos explorar o vasto repertório no cancioneiro tradicional brasileiro, com cantigas de ninar, de roda, de brincar e, mais ultimamente, muitos compositores têm produzido em seus trabalhos músicas para o público infantil. Um exemplo é o trabalho da autora Iris Costa Novaes (1994) que traz em seu livro Brincando de roda, sugestões de canções para o trabalho pedagógico. O professor precisa ter cuidado com a saúde vocal dos alunos e observar se elas apresentam sinais de algum distúrbio vocal, como rouquidão permanente, soprosidade e/ou aspereza no som, dificuldades em realizar notas em regiões que deveriam ser fáceis para sua fase vocal, pois, de acordo com a fonoaudióloga e pesquisadora em educação Regina Zanella Penteado (2007) crianças que apresentam alterações vocais podem encontrar dificuldade em se comunicar, falar, ser 219 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE ouvida, ou seja, problemas para se expressarem, se o problema não for diagnosticado e tratado, poderá se agravar. Seguem alguns exercícios que podem ser realizados com crianças da pré-escola. Cada um deles deve ser repetido de 3 a 4 vezes. 1. Começar com os exercícios de respiração. Eles podem ser lúdicos, pedindo que a criança pense em um buquê de flores e ela deve cheirá-lo suavemente pelo nariz, sentindo que o ar perfumado enche suas costelas, fazendo com que a sua barriga aumentasse de tamanho. Em seguida, com o gesto de empurrar os braços para frente, ela deve soltar o ar, fazendo as flores balançarem, enquanto o ar é expelido com o som de sssss, sem empurrar o som. 2. Depois a criança deve jogar beijinhos ou estourar pipocas com o som da boca, estalar a língua, encher as bochechas e soltar são formas muito adequadas de trabalhar e fortalecer a musculatura da boca, língua e bochecha. 3. Peça para as crianças fazerem o som da abelhinha com a consoante Z, lembre-se de pensar na 220 ARTE E CORPOREIDADE respiração. Por alguns segundos o som deverá ser produzido antes de respirar. Repetir o exercício. 4. Imitar o som do motor do carro com a consoante V, subindo e descendo a escala, mas como um glissando. 5. Reproduzir sons nasais como se estivesse mastigando. 6. Fazer vibração com os lábios brrrr e de língua trrrr. 7. Sem forçar a laringe, inspirar e vibra sustentando um único som por alguns segundos. 8. Vibrar com um glissando do grave para o agudo, subindo e descendo. 9. Fazer a vibração com um movimento melódico simples: dó, ré, mi, ré, dó. TRABALHO VOCAL A PARTIR DE 8 ANOS A criança, a partir dos 8 anos, já pode estudar canto com um professor especializado nesta área e trabalhar sua voz. 221 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE Nas aulas de canto coral e de música o repertório já pode ser mais variado e de maior extensão vocal. Nesta idade, assim como na anterior, a voz da criança é chamada de voz branca, dado que ainda não vivenciou a muda vocal e não apresenta vibrato. Antes da mudança de voz, a voz da criança é chamada de sopranino e não possui classificação vocal como soprano, contralto, tenor ou baixo. O trabalho a ser feito neste período exige muita atenção no cuidado tanto na condução dos vocalizes como nas opções de repertório. Há um vasto repertório com arranjos destinados para corais infantis, bem como alguns compositores que tem uma condução melódica mais adequada a este tipo de voz. Os pequenos não devem cantar árias de ópera, pois a exigência vocal destes formatos musicais é muito grande, determinando grande maturidade e tonicidade muscular da laringe, bem como da sustentação abdominal. EXECUÇÃO DAS CANÇÕES As canções para musicalização infantil devem sempre estar em tonalidade confortável para a voz delas e não para a voz do educador. O agudo é sempre mais adequado que o grave. O professor deve cantar de modo a deixar a voz clara, 222 ARTE E CORPOREIDADE leve, sem vícios vocais ou de interpretação, pois as crianças aprendem imitando. Não peça a elas para cantar forte até que tenham entendido os elementos do som, pois, comumente, confundem o forte com o gritar, e acabam gritando. Peça para falar e articular melhor as palavras, usando sempre a respiração. Nunca peça para a criança cantar se ela estiver com dor de garganta ou rouca. Para que elas compreendam melhor a sonoridade das canções, solicite que cantem sem a letra, fazendo a vibração dos lábios ou da língua ou substitua a letra por alguma sílaba como TU. A criança nunca deve imitar a voz de um adulto, pois como afirma Dinville (1993, [s.p.]) é importante saber que a classificação da voz falada se processa como a da voz cantada. E o mesmo instrumento, a mesma constituição anatômica, a mesma função fisiológica. Deve haver concordância entres as duas vozes, tanto para o timbre como para o modo de emissão. Professoras terão mais fácil adaptação vocal às crianças, bastando cantar em um tom mais elevado, já que as vozes femininas se assemelham mais da voz infantil. Mas se para o professor se faz necessário o uso do falsete (som mais agudo), 223 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE para facilitar o canto e entendimento da altura que ele deseja que as crianças reproduzam. Os vocalizes são exercícios vocais realizados com vogais, orais e/ou nasais, fechadas e/ou abertas. As vogais são as condutoras do som. Sua correta articulação, assim como do lugar de ressonância, irá produzir a qualidade do timbre e inteligibilidade da pronúncia. As consoantes podem estar associadas as vogais em alguns exercícios, para aperfeiçoar sua emissão e projeção. Os vocalises podem chegar a extensões mais agudas gradativamente. À medida que a criança for amadurecendo e com o passar do tempo, esta extensão vai aumentando até o limite da tessitura onde haja conforto vocal. Os vocalizes são eficazes nos trabalhos vocais para emissão, projeção e aumento de extensão vocal. Eles promovem ajustes musculares e aquecimento de voz. Mas comece com os exercícios de respiração, pois não é indicado começar um aquecimento vocal direto com os vocalizes. Finalmente, é preciso que o professor reflita sobre as competências presentes em cada etapa do desenvolvimento infantil, bem como sobre as muitas conquistas. É necessário respeitar o processo único e singular de cada ser humano, e 224 ARTE E CORPOREIDADE considerar que esse desenvolvimento se dá na interação com o aprendizado, num ambiente de amor, afeto e respeito. O trabalho de musicalização infantil precisa ser realizado em contextos educativos que entendam a música como um processo contínuo de construção, que envolve sentir, perceber, imitar, experimentar, criar e refletir. A educação infantil é a fase em que a criança se encontra no período de descobertas e conhecimentos essenciais para o seu pleno desenvolvimento, envolvendo as áreas cognitiva, afetiva e social, além da linguística e psicomotora, que são importantíssimas e a música contribui para o seu adiantamento. Os estímulos musicais proporcionam senso rítmico, audição, sensibilidade, diferenciação e noções deordenamento no tempo e no espaço, que são necessários serem explorados desde cedo, para uma melhor aprendizagem e desenvolvimento. As aulas de musicalização também beneficiam a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Pelo seu aspecto lúdico e de livre expressão, não representam pressões nem cobranças excessivas, e são um modo de aliviar e relaxar a criança, promovendo a desinibição, cooperando para o 225 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE envolvimento social, despertando noções de respeito e estima pelo outro, abrindo espaço para outras aprendizagens. Assim como o aluno se expressa falando e cantando com o uso correto da voz, ele também usa seu corpo para se relacionar com o mundo e é importante que o professor também conduza esse processo. Passemos a discutir sobre o desenvolvimento psicomotor infantil. A EXPRESSIVIDADE MOTORA A psicomotricidade é uma ciência que tem por finalidade o estudo do homem, através do seu corpo em movimento e suas relações com seu mundo interno e externo. Ela abarca conhecimentos de neurologia, psicologia e pedagogia, que são alcançados por meio da interdisciplinaridade. Portanto, a psicomotricidade é a área que se ocupa do corpo em movimento. Já a corporeidade é o modo pelo qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo como ferramenta relacional com o mundo. A expressividade motora é a maneira exclusiva, inédita e singular de ser e estar no espaço, como decorrência do funcionamento psíquico da criança. Ela é uma demonstração de nossa história profunda, ligada a nossas pulsões de afeto e de 226 ARTE E CORPOREIDADE domínio através do corpo, do espaço e do tempo, reveladas no aqui e agora. Segundo estudiosos, há três níveis de expressão motora: 1. Sensações internas do corpo: especialmente ligadas ao sistema labiríntico, dependendo dele as noções de equilíbrio. A criança vive essas percepções desde o primeiro pré-natal, surgindo ao longo de toda a vida integradas as experiências motoras. Entre essas sensações estão: o prazer de pressionar; o prazer de empurrar; o prazer de rodar; o prazer de cair; o prazer de conquistar a altura; o prazer postural; o prazer de equilibrar- se; o prazer de unificar os dois lados do corpo; o prazer de saltar em profundidade; o prazer de saltar em superfície dura; o prazer de andar e correr. 2. Experiências de prazer-desprazer: são as imagens e vivências nascidas a partir do encontro com o olhar do outro. São elas: o prazer de entrar e sair, de aparecer e desaparecer; o prazer de se esconder; o prazer de desordenar. 227 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE 3. Aparições do “faz-de-conta”: que se manifesta no desenvolvimento de jogos simbólicos e nos jogos organizados ou sociomotores. São elas: o jogo simbólico; o prazer de pensar. O psicólogo e pensador, pioneiro no conceito do desenvolvimento cognitivo das crianças correlacionado a interação social e condições do meio, Lev Vygotsky (2010) deixa claro, em seus estudos, a relação entre desenvolvimento físico e cognitivo. Embora o aprendizado esteja diretamente relacionado ao curso do desenvolvimento da criança, os dois nunca são realizados em igual medida ou em paralelo. O desenvolvimento nas crianças nunca acompanha o aprendizado escolar da mesma maneira como uma sombra acompanha o objeto que o projeta. Na realidade, existem relações dinâmicas altamente complexas entre os processos de desenvolvimento e de aprendizado, as quais não podem ser englobadas por uma formulação hipotética imutável. Cada assunto tratado na escola tem sua própria relação específica com o curso do desenvolvimento da criança, relação essa que varia à medida que a criança vai de um estágio para outro (VYGOTSKY, 2010, p. 104). Os parâmetros psicomotores poderiam ser então explicados como o conjunto de elementos a partir dos quais a 228 ARTE E CORPOREIDADE expressividade motora pode ser analisada. A pedagoga e pesquisadora Cleide Madalena Fontana (2012) destaca o papel da escola como lugar necessário para o trabalho com as aptidões psicomotoras dos alunos: O papel da escola no desenvolvimento da criança, a interação pedagógica pretende que cada criança atinja mais cedo e em melhores condições aquilo que naturalmente seria de esperar no seu desenvolvimento, do que deixá-la livre aos seus próprios investimentos e envolvimento. A escola proporcionará meio, através de atividades diferenciadas, que exigirá novas experiências, tarefas a nível cognitivo, onde a criança deverá transferir algo interiorizado através de gestos mecânicos, até produzir a escrita (FONTANA, 2012, p. 25). Por isso, observar a criança agindo, explorando o espaço, os objetos e interagindo com os outros é de uma riqueza enorme uma vez que nos auxilia Observar a criança agindo, explorando o espaço, os objetos e interagindo com os outros é de uma riqueza enorme. 229 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE a compreender a totalidade corporal que ela vive e a entender a manifestação profunda de sua personalidade. Assim, para compreender o universo que o cerca, a criança se expressa por meio do movimento, do espaço, do tempo e dos objetos. O SUJEITO E O MOVIMENTO Os comportamentos derivados dos movimentos coordenados e complexos permitem à criança ampliar os aspectos de planejamento, organização, reflexão e vivência. Tais características manifestam a estreita relação existente entre o plano afetivo-emocional e o cognitivo. A psicóloga e doutora em psicologia educacional Gislene de Campos Oliveira aponta uma síntese nos benefícios da prática psicomotora: A psicomotricidade auxilia e capacita melhor o aluno para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares, por isso procura trazer os seus recursos para dentro da sala de aula, tanto no âmbito da educação quanto da reeducação psicomotora. Um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas capacidades básicas a um bom desempenho escolar, dando-lhe recursos para que se saia bem na escola, aumentando seu potencial motor. A psicomotricidade, pois, se caracteriza por uma educação que se utiliza do movimento para atingir outras aquisições mais 230 ARTE E CORPOREIDADE elaboradas, como as intelectuais (OLIVEIRA, 1999, p. 9). A marcha, a corrida, as quedas e os saltos são tipos de atividades privilegiadas que aparecem nos jogos sensório-motores e simbólicos. Também facilitam a atividade cinética, isto é, os movimentos orientados ao exterior (função clônica) e os movimentos dos músculos que têm a função de manter a postura do corpo e de sustentar o esforço do músculo (função tônica), mediante o tônus muscular. Assim, ainda que o corpo esteja em repouso, as células nervosas estão em atividade para manter a postura, conter as cargas emocionais, expressá-las ou realizar qualquer tipo de gesto. Portanto, através do tônus, se expressam múltiplos aspectos afetivos, viscerais, nervosos e intelectuais. Embora as funções do tônus sejam múltiplas e variadas, há aspectos do ser humano em que o tônus ocorre de forma evidente no aspecto motor, na A marcha, a corrida, as quedas e os saltos são tipos de atividades privilegiadas que aparecem nos jogos sensório- motores e simbólicos. 231 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE sensibilidade e nas emoções. Vejamos, nas figuras 23 e 24, como isso se desenvolve na criança. Figura 23 – Tônus muscular 2 a 3 anos 2 – 3 ANOS • A atividade da criança é global, há muita simetria, a coordenação dos movimentos e o equilíbrio estão em plena expansão (exploração difusa). • A criança busca espontaneamente rodar, se balançar, se arrastar, realizar corridas circulares. Muitos de seus movimentos evocam uma busca de fusão. • Os desejos essenciais ainda estão em primeiro plano: sede, frio, banheiro, procura pela “mamãe”. • As crianças são muito sensíveis a jogos de pressão sobre a pele, sobre as costas, pé contra pé. • A pulsionalidade ainda está pouco mediatizada.Os dentes, a boca e as mãos participam ativamente na expressão. Fonte: adaptada de Donnet (1993) Figura 24 – Tônus muscular 3 a 7 anos 3 – 7 ANOS • A exploração do corpo é feita de maneira mais específica: a criança seleciona previamente as sensações, os movimentos de seu corpo, segundo um objetivo preciso (exploração mais específica). • A criança busca situações de equilíbrio e de desequilíbrio (queda) e aumenta as situações em que desenvolve sua destreza: trepar mais alto, mais depressa, deslizar mais depressa ou mais lentamente (motricidade fina). • A criança é capaz de antecipar e esperar no que diz respeito a seus desejos. • A criança é mais capaz de conter seus gestos, de canalizar suas pulsões em diferentes jogos de “faz-de-conta”: morder, arranhar e outros jogos simbólicos ou jogos de regras. Fonte: adaptada de Donnet (1993) 232 ARTE E CORPOREIDADE O SUJEITO E O ESPAÇO A criança constrói o conhecimento de espaço pela exploração e pela diferenciação de seu eu corporal em relação ao mundo que a circunda e pela informação que lhe proporciona seu próprio corpo. Ela apreende o espaço exterior e orienta-se nele. Através da percepção dinâmica do espaço vivido, se inicia gradativamente a abstração do espaço exterior, até chegar à noção de distância e à orientação dos objetos em relação ao eu e de um objeto em relação ao outro. As noções de espaço adquiridas pela criança podem ser classificadas em: • Noções de orientação: esquerda-direita, acima-abaixo, em frente e atrás; • Noções de situação: dentro-fora, em cima- embaixo, interior-exterior, aqui-ali; • Noções de superfície: espaços cheios, espaços vazios; • Noções de tamanho: pequeno-grande, alto-baixo, largo-estreito; • Noções de direção: à esquerda, à direita, a partir daqui; 233 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE • Noções de distância: perto-longe, junto-separado; • Noções de ordem e sucessão: primeiro, último, sequências por diversas qualidades. Vejamos como as crianças se relacionam com o espaço (DONNET, 1993): Veja nas figuras 25 e 26 como a noção de espaço funciona para as crianças de 2 a 5 anos. Figura 25 – Espaço 2 a 5 anos 2 – 5 ANOS • A sala é explorada com alternâncias: certas zonas são muito exploradas, enquanto outras são totalmente inexploradas (em rotação). • Os trajetos são circulares ou lineares. • A criança conquista (depois da aquisição do caminhar) o espaço, primeiro o horizontal e depois o vertical: andar, rodar, se arrastar... E progressivamente a altura: subir em banco ou em uma tábua, subir em grades. • Os espaços pessoais aparecem de maneira difusa e disforme. Fonte: adaptada de Donnet (1993) Figura 26 – Espaço 5 a 7 anos 5 – 7 ANOS • Cada lugar da sala é explorado em todas as direções: para cima, para baixo, em diagonal, no centro, o que facilita todas as atividades, como a corrida, a construção com blocos... • Os trajetos são diversificados: circulares, lineares, angulares, em espiral. E são modulados com rapidez. 234 ARTE E CORPOREIDADE 5 – 7 ANOS • Há muitos contrastes na exploração do espaço, tanto na vertical como na horizontal. • A criança está mais interessada em construir espaços pessoais, um território (só para ela ou para seu grupo); esse espaço está bem estruturado e frequentemente fechado. Fonte: adaptada de Donnet (1993) O SUJEITO E O TEMPO A noção de tempo é percebida juntamente com a vivência do espaço, uma vez que o tempo é a duração que separa duas percepções espaciais sucessivas. Cada indivíduo tem seu próprio ritmo, que se apresenta nas atividades que ele realiza. É isso que pode ser entendido como o seu “tempo espontâneo”, que pode ser definido como uma estrutura individual, que determina o ritmo de cada pessoa para a realização de uma atividade motora simples. Para Cleide Fontana (2012, p. 10), a educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na educação infantil e séries iniciais. Ela condiciona o processo de alfabetização, leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habitualmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A psicomotricidade não é apenas uma prática preventiva, mas educativa, que 235 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE contribui na aquisição da autonomia para a aprendizagem, facilitando assim o processo de alfabetização nas escolas. Sendo assim, os conceitos de tempo e de sucessão são desenvolvidos junto com os de orientação espacial. Inicialmente, as crianças assimilam a sucessão ao adaptarem-se às rotinas de atenção às suas necessidades básicas (alimentação, sono e higiene), incorporando progressivamente as noções de dia e noite, agora e depois. Aos poucos, as crianças compreenderão as relações mais complexas de tempo como: • A noção de velocidade ligada à ação. • A noção de duração ligada ao espaço percorrido. • A noção de continuidade ligada à sucessão dos acontecimentos. • As noções de simultaneidade e sucessão, que permitem à criança tolerar a espera e lembrar uma ordem. • E, já em nível simbólico, transpor no tempo os fatos acontecidos. 236 ARTE E CORPOREIDADE A vivência da relação com o tempo se dá a partir da ação, do movimento, do jogo simbólico e da relação com os outros, as atividades de desenho, construções, narração das experiências vividas e a ordenação das sequências que teve nas atividades auxiliam nesse processo. Vejamos, nas figuras 27 e 28, como as crianças se relacionam com o tempo. Figura 27 – Tempo 2 a 5 anos 2 – 5 ANOS • A atividade da criança se caracteriza por várias sequências curtas. As rupturas são numerosas, relativas ao acaso: um novo material, um deslocamento do adulto... • A criança vive o momento presente. • Toma consciência da noção de princípio e fim. • Há alternância entre mobilidade/imobilidade: a criança, no entanto, parece estar imersa em uma continuidade. Fonte: adaptada de Donnet (1993) Figura 28 – Tempo 5 a 7 anos 5 – 7 ANOS • As sequências são duráveis. • Em muitas atividades, a criança desenvolve sua percepção de sucessão e de simultaneidade: pular ao mesmo tempo, construir com alternância (por exemplo, com as cores das almofadas). • A criança é capaz de antecipar e esperar. Organiza sua atividade segundo uma cronologia. • Toma consciência da rapidez, da parada, da descontinuidade, da simultaneidade, da duração etc. Fonte: adaptada de Donnet (1993) 237 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE O SUJEITO E OS OBJETOS A criança se expressa usando todo o seu corpo e, através desse jogo, a partir de manipulações, construções, deslocamentos etc., ela entra em contato com os objetos do mundo exterior e com suas qualidades perceptivas de cor, tamanho, forma, peso, textura, volume, etc. Analisar como a criança explora os objetos e como os utiliza quando se relaciona com os outros (crianças e adultos), é extremamente informativo sobre seu modo de ser. A criança escolhe seus objetos preferidos, sua forma de utilizá-los e de partilhar com os demais. Vejamos, na figura 29 e 30, como as crianças se relacionam com os objetos. Figura 29 – Objetos 2 a 5 anos 2 – 5 ANOS • A criança utiliza os objetos de forma pragmática, permitindo-lhe usar o corpo em sua globalidade: se enrolar num pano, entrar em buraco etc. Prevalece a exploração sensório- motora e se inicia o simbolismo. • O sensório-motor brando aparece intensamente. • A criança opta, com frequência, por materiais de forma redonda: balões, bolas, aros, cordas, túneis (também o adulto lhe oferece a possibilidade de girar, dar voltas). • Sua atividade está centrada em encher-esvaziar, mostrar-esconder, abrir-fechar, reter-lançar, o que lhe permite a construção da permanência do objeto. Fonte: adaptada de Donnet (1993) 238 ARTE E CORPOREIDADE Figura 30 – Objetos 5 a 7 anos 5 – 7 ANOS • A criança desenvolve o jogo simbólico (o adulto deve estar atento para estimular constantemente a criança, mediante uma mobilização global do corpo, porqueo jogo simbólico pode ser um refúgio). O relato simbólico é um pretexto para o movimento. • A criança tem prazer em experimentar proposições motoras com variados materiais duros, buscando experiências novas. • Sua atividade está centrada no desenvolvimento de habilidades com destreza e rapidez, força ou delicadeza. Fonte: adaptada de Donnet (1993) Intervenções com os objetos de classificar, associar, ordenar e seriar constituem o início do desenvolvimento do pensamento lógico, do pensamento matemático e do acesso à leitura e à escrita. Os objetos devem ser de dimensões adequadas para que as crianças possam manipulá-los e transportá-los de maneira segura. As cores, as texturas, as formas, os sons são estímulos importantes para a seleção dos objetos. O valor sensório- motor, simbólico, que as crianças dão aos objetos nos mostram dados muito relevantes sobre seu desenvolvimento afetivo e emocional ou sobre sua maturação social. Podemos observar, através das brincadeiras das crianças, a utilização que fazem dos objetos como prolongação de seu corpo (espada, cavalos), como receptáculos do corpo (casinhas, castelos) ou como objetos de poder (capas de personagens). Para facilitar todas essas atividades, os objetos devem ser os 239 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE mais neutros possíveis. Assim, a criança poderá desenvolver seu imaginário corporal e toda a sua história através do movimento e da emoção. CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final deste estudo que teve por objetivo trazer conhecimentos que permitam que o futuro educador possa criar atividades pedagógicas artísticas, de musicalização e de psicomotricidade que ampliem a expressão de modo crítico e participante dos estudantes. Aprendemos sobre as aulas de artes na educação pré-escolar e infantil, os conteúdos que devem ser trabalhados em sala de aula, os benefícios da educação em artes, os aprendizados que a criança precisa ter acesso e como realizar a avaliação do trabalho em artes. Ao longo do ensino de arte e psicomotricidade, muitos equívocos são cometidos. Por isso, cabe aos professores darem a devida importância para essa área de conhecimento, bem como corrigir os erros pedagógicos, percebendo a importância da arte para o aprimoramento pessoal. Estudamos, também, os cuidados com a voz a partir da compreensão da função fonadora, da laringe da criança, da 240 ARTE E CORPOREIDADE muda vocal, da respiração, da articulação, do trabalho vocal na pré-escola e séries iniciais, das atividades com o canto e os vocalizes. O trabalho musical por meio da voz é essencial para desenvolver as competências de afinação da criança. Para tanto, o professor deve dominar os conhecimentos relativos ao aparelho vocal infantil e sua frequência vocal, a fim de escolher as músicas adequadas para o trabalho pedagógico. Por fim, compreendemos ainda como se desenvolve a psicomotricidade a partir dos níveis de expressão motora, que são as sensações internas do corpo, as experiências de prazer- desprazer e a aparição do “faz-de-conta”, e o sujeito e suas relações com o tempo, o espaço, o tempo e os objetos. É por meio desse aprendizado que a criança evolui em seus primeiros anos, e o professor deve saber o que é próprio de cada fase, a fim de planejar aulas que favoreçam o desenvolvimento adequado e não exijam da criança competências para as quais ela não está preparada. RESUMO Nesta unidade aprendemos que: 241 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE • Nas aulas de artes o professor deve desenvolver os conteúdos específicos da área explorando os elementos da linguagem visual, as técnicas e os materiais artísticos. Os conteúdos devem ser desenvolvidos a partir do fazer artístico, da apreciação significativa e da contextualização histórico-cultural; • Muitos são os benefícios cognitivos, sociais, emocionais e afetivos do aprendizado em artes. Por isso, o professor deve evitar erros pedagógicos como desenhos prontos para a criança pintar nesta idade, determinar o que é belo e usar a arte como forma de distração e preenchimento do horário. A avaliação do trabalho em artes deve ser somativa, formativa, com trabalhos individuais e coletivos, em que o aluno será observado em seu processo criativo; • A educação musical em sala de aula prevê os cuidados com a voz a partir da compreensão da função fonadora, da laringe da criança, da muda vocal, da respiração, da articulação, do trabalho vocal na pré-escola e séries iniciais, das atividades com o canto e os vocalizes; • O conhecimento do aparelho vocal da criança precisa ser de alvo de estudos do educador musical infantil, dado que ele lida diretamente com os alunos que estão 242 ARTE E CORPOREIDADE em fase de desenvolvimento vocal. O professor precisa ter cuidado com a saúde vocal dos alunos e observar se elas apresentam sinais de algum distúrbio vocal; • A expressividade motora é feita a partir dos níveis de expressão motora que são as sensações internas do corpo, as experiências de prazer-desprazer e a aparição do “faz-de-conta”; • A criança explora e aprende a partir de suas relações com o tempo, o espaço, o tempo e os objetos. O professor deve observar a criança agindo, explorando o espaço, os objetos e interagindo com os outros, suas narrativas e brincadeiras para avaliar seu processo de aprendizado. REFERÊNCIAS BEHLAU, M. S. Voz: o livro do especialista, v. 1. 2001. In: VANZELLA. T. P. Normatização dos parâmetros acústicos vocais em crianças em idade escolar. 128f. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo em São Carlos. 2006. BRAGA, J. N.; OLIVEIRA, D. S. F.; SAMPAIO, T. M. M. Frequência fundamental da voz de crianças. Revista CEFAC. 2009. 243 O ENSINO DA ARTE E DA PSICOMOTRICIDADE BRITO, T. A. 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