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B F Skinner (H a rv a rc U n ive rs i ty i Arion Carlos Ribeiro de Oliveira Í L’V v /E S ) Elizen Batista Borloti (UFES) Fabiana Pinheiro Ramos (UW/ES) Grauben Jose Alves de Assis (UFPA) Luciano de Sousa Cunha (UFES) Maly Delitti (PUC/SP) Marcelo Galväo Baptista (UFPA) Mylena Pinto Lima Ribeiro (UW/ES) Rachcl Rodrigues Kerbauy (USP/SP) Silvia Grobeiman (PUC/SP) Sônia Regina Fiorim Enumo (UFES) Análise do Comportamento: Teorias e Práticas Análise do Comportamento: Teorias e Práticas Elizeu Batista Borloti Sônia Regina Fiorim Enumo Mylena Lima Pinto Ribeiro Organizadores Copyright © desta edição: ESETec Editores Associados, Santo André, 2005. Todos os direitos reservados Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) Borloti, Elizeu Batista, et al. Análise do comportamento : teorias e práticas / Elizeu Batista Borloti, Sônia Regina Fiorim Enumo, Mylena Lima Pinto Ribeiro, organizadores. - Santo André: ESETec, 2005. 169 p. ; 14 x 21 cm Inclui bibliografia. ISBN: 85-88303-59-0 1. Skinner, B. F. (Burrhus Frederic), 1904-1990. 2. Behaviorismo (Psicologia). 3. Comportamento humano. 4. Comportamento - Evolução. 5. Educação especial. I. Borloti, Elizeu Batista, 1968-. II. Enumo, Sônia Regina Fiorim. III. Ribeiro, Mylena Lima Pinto. CDU: 159.9.019.4 Editores: ESETec Editores Associados Capa e editoração eletrônica: ESETec Editores Associados Revisão Gráfica: Elizeu Batista Borloti e Luciano de Sousa Cunha Catalogação: Silvana Vicentini Impressão: Ecograf Ilustração da Capa: imagem cedida pela B. F. Skinner Foundation ESETec Editores Associados Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br Rua Santo Hilário, 36 - Vila Bastos - Santo André - SP CEP 09040-400 Tel. (11) 4990 5683/ 4438 68 66 www.esetec.com.br mailto:eset@uol.com.br http://www.esetec.com.br SUMÁRIO A presentaç ão 7 A EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO VERBAL 15 B. F. Skinner O SIGNIFICADO DAS AÇÕES DECORRE DO CONTEXTO COMPORTAMENTAL? 31 Rache/ Rodrigues Kerbauy Sk in n er , o sen tim en to e o sentido 55 Luciano de Sousa Cunha e Elizeu Batista Borioti Skinner e terap ia MalyDelitti e Silvia Groberman 59 A bs tr a ç ã o , m etá fo ra , so nho e in c o n s c ie n te : UMA INTERPREfAÇÃO sk in n er ian a 69 Elizeu Batista Borioti A NOÇÃO DE COMPREENSÃO DE LEITURA EM B. F. S k in n er Marcelo Galvão Baptista 97 CONTROLE DO COMPORTAMENTO POR RELAÇÕES ORDINAIS! QUESTÕES CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS H7 Mylena Pinto Lima Ribeiro, Grauben José Alves de Assis e Sônia Regina Fiorim Enumo O TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS E A INSERÇÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS NO MERCADO DE TRABALHO 133 Arion Carlos Ribeiro de Oliveira e Fabiana Pinheiro Ramos UM PROGRAMA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM PREVENÇÃO DE DEFICIÊNCIAS) DESCRIÇÃO E ANÁLISE 145 Sônia Regina Fiorim Enumo 5 APRESENTAÇÃO Março de 2004: data memorável, Nasceu o NACES - Núcleo de Anáiise Comporta menta! do Espírito Santo - mais um dos muitos grupos de profissionais e estudantes brasilei ros que têm como objetivo a difusão da Ciência do Compor tamento em nosso país. Essa ciência tem a contribuição de muitos filósofos, teóricos, pesquisadores e profissionais, es pecialmente do psicólogo B. F. Skinner (1904-1990). O NACES não poderia ter nascido em melhor hora: em 2004 comemo ra-se o Centenário de Nascimento de Skinner. Não faltaram justificativas para a comemoração. Skinner (Fred para os íntimos e B. F. para o público em geral) foi o psicólogo americano que teve o maior impacto no pensamento ocidental (Richelle, 1981). Sua obra, que inclui mais de 230 publicações, é controversa (Carrara, 1992) e essa controversão pode ser sentida no seguinte comentário de Catania (1984): "De todos os psicólogos da atualidade, B. F. Skinner é talvez o mais honrado e o mais amaldiçoado, o mais amplamente reconhecido e o mais mal apresentado, o mais citado e o mais incompreendido" (p.473). São, no míni mo, curiosas as formas múltiplas e contraditórias com as quais Skinner foi referenciado na sociedade americana, na produ ção científica internacional da Psicologia (e de outras áreas do conhecimento) e em sua historiografia. Segundo o prefácio do biógrafo Bjork (1997), o autor foi visto como reducionista e mecanicista e serviu como bode expiatório da opinião pública norte-americana ao receber a crí tica e a raiva que deveriam ser iançadas sobre si mesma. Tam bém foi considerado fanático (Blackman, 1996, p. 108), uma espécie de "Hitler científico do século XIX" (Bjork, 1997, p. xi), sendo inclusive apresentado para uma de suas conferências como "O Diabo" (Skinner, 1971/1999,p.393). O efeito dominó desta representação foi óbvio: Julie Skinner Vargas (1993), sua fiiha mais velha, lembrou que aqueles que não o conheci am pessoalmente sempre o descreviam como um cientista frio. Essa descrição parece que não comungava com a im pressão gerada no convívio pessoal com o autor. Tanto que, opostamente, ele foi visto como brilhante, expansivo e inova dor (Bjork, 1997), e teve o reconhecimento de seus pares ainda em vida, um privilégio de poucos pensadores. Oito dias antes da sua morte, na convenção da Associação Americana 7 de Psicologia (APA) ocorrida em 10 de agosto de 1990, todas as suas condecorações foram lembradas (Blackman, 1996): o Prêmio de Distinção Científica, concedido pela APA (1958); a Medalha Nacional da Ciência, ofertada pelo presidente Johnson (1968); o Prêmio Internacional da Fundação Joseph P. Kennedy (1971), por contribuições na área da deficiência mental; o Título de Humanista do Ano, dado pela Sociedade Humanista Americana (1972); o Prêmio por Contribuições Eminentes para a Pesquisa Educacional, dado pela Associa ção Americana de Pesquisas Educacionais (1978); o Prêmio por Realizações Durante a Vida, dado pela APA (1990); e o Prêmio Wiíliam James, dado também pela APA (1990). E mais: por estas e outras razões (dentre elas, ser o psicólogo mais citado em artigos de periódicos e em livros de introdução à Psicologia) ocupou o topo da lista dos 100 psicólogos mais eminentes do Século XX, ficando na frente de Piaget e de Freud (Haggbloom, et. al, 2002). Bem ou mal visto, Skinner destacou-se mundialmente e tornou-se um ícone cultural (Woodward, 1996). Sua crença nos benefícios da ciência e sua crítica às práticas sociais de vassas e estúpidas da sua época o marcaram como um pro vocador da cultura norte-americana. Sua utopia social - ilus trada em Walden Two (Skinner, 1948) - transformou-o numa espécie de visionário (Smith, 1996). Tais comportamentos obtiveram um saldo interessante. Como foi muito bem lembrado, "A forte dualidade da imagem pública de Skinner - como herói e viíão, salvador e fascista ~ sugere o conflito de ideologias da sociedade que o produziu" (Smith, 1996, p.296). Ele mesmo (Skinner, 1974) pa receu apontar para este conflito na postura de oposição ao behaviorismo por parte dos psicólogos mentalistas: por qual razão eles desperdiçariam tanta munição com um behaviorismo que julgavam supostamente ingênuo e ultrapassado? Essa mesma cultura conflituosa transformou-o num in telectual polivalente. Graduado em Línguas e Letras, mante ve o interesse por Literatura e Música, alternando atividades como professor, cientista e poeta. Foi crítico literário e teve o privilégio de conviver com alguns dos escritores famosos de sua época, dentre eles Robert Frost, Robert Penn Warren, Clifford Odets e John dos Passos. Sua intelectualidade apa rece em muitos dos seus escritos em referências a Shakespeare, Erasmus, Tolstoy, Dostoyevsky, Bertrand Russell, Paviov, Darwin, IMietzsche, Kant, Freud, dentre mui tos outros escritores, filósofos e cientistas igualmente famo sos. O título do primeiro volume de sua autobiografia - Particulars Of My Life (Skinner, 1976) - foi inspirado em uma linha de Henry IV, de Shakespeare. O seu mais polêmico livro- Beyond Freedom And Dignity ~ foi derivado de Beyond Good 8 and Evilf de Nietzsche, e ds Beyond The Pleasure Principie, de Freud (Smith, 1996). Desde criança Skinner foi marcado pelas metacontin- gências de sua cultura. Smith (1996) lembrou que o otimismo utópico, o pragmatismo, o amor pela invenção e a*crença na mudança do ser humano são todas características skinnerianas e norte-americanas. No ensino médio, como conta uma carta (citada por Bjork, 1997, p. 28) do diretor de sua escola, John Ogelthorpe, recomendando-o ao reitor da concorrida Hamil ton College, ele costumava exigir razões para tudo e negava- se a acreditar nos professores que faziam afirmações sem nenhuma prova. Portanto, mirem-se no exemplo. Durante a graduação em Letras na Hamilton College ele foi perpassado pelo criticismo cultural dos anos 20 que pene trou as produções na Literatura e nas Artes Plásticas nos Es tados Unidos da América. Na Hamilton ele frequentou cursos que fizeram dele um intelectual de carteirinha (Bjork, 1996), A literatura que o jovem Skinner produziu continha um sabor de rebelião que marcou o início do movimento da contra-cultura, pois registrava o desconforto do autor com as crenças e os valores tradicionais presentes na vida puritana religiosa da classe média norte-americana (Wiklander, 1996). Em 1928 decidiu fazer o doutorado na Psicologia de Harvard por querer explicar o comportamento humano, "o grande enigma do universo", conforme ele mesmo escreveu na justificativa exigida no ato da sua inscrição (documento dos Arquivos da Hamilton College, citado por Bjork (1997, p.265). Até 1936, sob influência dos ventos da Revolução Industrial (Smith, 1996), a explicação do "grande enigma" foi perseguida com a construção de engenhocas cientificas já que, em Harvard, ele tinha todo o espaço para fazer coisas: "Tudo o que eu tocava sugeria coisas novas e promissoras para fazer" (Skinner, 1979, p.38). Um outro interesse do autor era a Epistemologia, que matizava de forma peculiar a sua grande produtividade cientí fica, que lhe rendia fama. No dia em que completou 29 anos foi entrevistado como o mais novo membro júnior da Harvard Society of Feilows, a nata intelectual da sociedade da época. Os jornais divulgaram-no como o mais novo membro da "aris tocracia de cérebros" de Harvard, junto a figuras renome em diversas áreas: Filosofia, Política, Matemática, Química, Antro pologia, Geologia, Medicina, Sociologia, Literatura, Física, As tronomia, Bioquímica, História e Arqueologia (Wiklander, 1996). Em seguida, Skinner foi lecionar em Minnesota e India na. Nessas Universidades, a natureza eclética dos departa mentos aos quais pertenceu encorajaram-no a perseguir ou tras linhas de pesquisa, notadamente comportamento verbal (Bjork, 1996). Em 1945, chefiou o Departamento de Psicologia 9 da Universidade de Indiana sob as credenciais da "figura mais original, independente e inovadora na Psicologia" (Bjork, 1996, p. 142). A riqueza desse período é atestada pelas realizações concretas de um "inventor social" (Bjork, 1998) afetado pelas metacontingências econômicas e sociais dos anos 30 nos Es tados Unidos da América, caracterizadas por graves proble mas que clamavam por novas políticas sociais e por respostas que poderiam vir também da Psicologia. Skinner queria uma Psicologia que pudesse ser útil como resposta aos problemas humanos e hipotetizou-a em Walden Two (Skinner, 1948). Ao ser solicitado a dar parecer sobre os rumos da pesquisa científica nas políticas sociais, apontou o campo de estudos da linguagem. Produziu arduamente so bre este tema ao ponto de sua fama retornar a Harvard. Consequentemente, seu nome foi indicado para o cobiçado Departamento de Psicologia e ele precisou passar por uma "prova de fogo": ser mais um dos grandes nomes das famo sas Conferências William James. Fez as conferências e foi brilhantemente aprovado e, no ano seguinte, foi contratado como professor, Nas conferências ele apresentou o texto que se tornaria, anos depois, o livro sobre comportamento verbal (Skinner, 1957), sua mais estimada e aprimorada obra. O período em Harvard foi de relações intelectuais bas tante enriquecedoras ao crescim ento da Psico log ia Comportamental além das fronteiras da própria Psicologia, influenciando especialmente a Filosofia da Linguagem (Cerullo, 1996) e a Lingüística moderna (Andresen, 1990). Em síntese, as razões que justificaram a comemoração do Centenário de Nascimento de B. F. Skinner são muitas. O legado intelectual de parte desses 100 anos fez avançar di versas áreas aplicadas da Ciência do Comportamento, den tre as quais destacam-se a Medicina Comportamental, o Gerenciamento Comportamental de Organizações, a Educa ção Especial e a Psicoterapia Funcional Analítica. Parte desse legado serviu de fonte para a escrita dos textos que compõem esta coletânea produzida pelos pes quisadores que participaram desse memorável evento no Espírito Santo, que teve o apoio do Programa de Pós-Gradu- ação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito San to (PPGP/UFES). O PPGP, por meio de recursos do Programa de Apoio à Pós-Graduação da Coordenadoria de Aperfeiçoa mento de Pessoal de Nível Superior (PROAP/CAPES/MEC), complementados pelo Centro Universitário de Vila Velha (UVV), efetivou esta publicação pela ESETec, Editores Associados. A coletânea reúne textos de pesquisadores vinculados a Uni versidades Públicas como a UFES, a USP/SP e a UFPA, e par ticulares como a PUC/SP e a UW/ES. 10 Em homenagem ao Centenário de Nascimento de B. F. Skinner, a Coletânea é aberta com um artigo do próprio autor (A evolução do comportamento verbal) publicado em 1986 no Journal o f Experimental Analysis of Behavior e traduzido pelo Professor Doutor Elizeu Batista Borfoti (UFES) ls pelo Psi cólogo Luciano de Sousa Cunha (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFES, bolsista da CAPES). No artigo, ancorado nos princípios básicos do comportamento operante estabelecidos pela pesquisa em Análise Experimen tal do Comportamento, Skinner especula o processo evolucionário no qual o ambiente verbal ~ ou cultura verbal - pode ter evoluído. Sua argumentação parte da filogênese e ontogênese do comportamento de sinalizar, chegando ao com portam ento vocal, aos mandos, aos tatos e aos autociíticos. Para ele, "a evolução de um ambiente social ou cultura está ancorada na Análise Experimental do Comporta mento" e isto permite apontar os prováveis passos da evolu ção do ambiente verbal ou linguagem. O texto 2 (O significado das ações decorre do con texto comportamental?) traz uma preocupação com proble mas que a cultura deverá enfrentar. Nele a Professora Dou tora Rachel Rodrigues Kerbauy (USP/SP) faz uma revisão so bre os estudos de espera e autocontrole na Análise do Com portamento, e apresenta uma discussão provocativa aos pro fissionais de saúde, e demais trabalhadores sociais, ao desmembrar a discussão de Skinner sobre do autocontrole, feita em 1948, no Walden Two, e em 1953, no Ciência e Com portamento Humano. Há reflexões sobre problemas atuais tais como o envelhecimento e a obesidade da população e a gra videz e as infrações legais na adolescência. O texto 3 (Skinner, o sentimento e o sentido), do Psi cólogo Luciano de Sousa Cunha (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFES, bolsista da CAPES) e do Professor Doutor Elizeu Batista Borloti (UFES), sintetiza a aná lise objetiva de estados subjetivos, segundo o behaviorismo radical skinneriano. Os autores compilam da obra de Skinner os principais argumentos da análise do sentir, retomam a dis tinção entre o ato de sentir e o sentimento e rediscutem algu mas das críticas a esta análise. No texto 4 (Skinner e terapia), a Professora Doutora Maly Delitti (PUC/SP) e a Professora Mestre Silvia Groberman (Clínica Particular) comentam a prática ciíníca na Terapia Comportamental partindo de citações nas obras de Skinner. As autoras mostramque, embora Skinner não tenha sido um terapeuta, fez muitas referências ao que ocontece quando um terapeuta interage com um cliente. Desta forma, seu texto con tribuiu com uma discussão sobre aspectos teóricos para a com 11 preensão dos elementos básicos da intervenção psicoterápica em qualquer tipo de enfoque. No texto 5 (Abstração, metáfora, sonho e inconscien te: uma interpretação skinneriana) o Professor Doutor Elizeu Batista Borioti (UFES) discute a perspectiva do behaviorismo radical sobre o inconsciente/ os sonhos e as relações entre ambos, falando de temas complexos, como abstração, metá fora e formação do símbolo. A base desta análise está, prin cipalmente, no O Comportamento Verbal, de Skinner, e sua análise é feita com exemplos do cotidiano e da prática clínica na Terapia Comportamental. O texto 6 (A noção de compreensão de leitura em B. F. Skinner) traz uma preocupação de aplicação da Ciência do Comportamento à Educação. O Professor Doutor Marcelo Galvão Baptista (UFPA), em um trabalho derivado da pesquisa que ge rou sua tese de doutorado, orientada pelo Professor Doutor Júlio César Coelho de Rose (UFSCar, pesquisador do CNPq) e co- orientada pelo Professor Doutor Emmanuei Zagury Tourinho (UFPA, pesquisador do CNPq), retoma a importância do O Com portamento Verbal caracterizando o objeto estudado por Skinner nesse livro. O autor parte desta caracterização e examina como Skinner discutiu a compreensão e, especificamente, a compre ensão da leitura, tendo como base o comportamento textual associado à função dos demais operantes verbais. No texto 7 (Controle do comportamento por relações ordinais: questões conceituais e metodológicas) a Profes sora Doutora Mylena Pinto Lima Ribeiro (UW/ES), também partindo de sua tese de doutorado, em co-autoria com o Pro fessor Doutor Grauben José Alves de Assis (UFPA, pesquisa dor do CNPq) e com a Professora Doutora Sônia Regina Fio rim Enumo (UFES, Pesquisadora do CNPq), apresenta uma revi são das táticas de pesquisa em Análise Experimental do Com portamento sobre o controle de estímulos no estudo da no vidade comportamental, abordando tópicos como abstração, formação de conceito e desempenhos seqüenciais. O texto mostra como os dados provenientes da pesquisa experimental confirmaram a utilidade do paradigma de equivalência de estímulos para a compreensão das relações de significado (semântica) e da formação de classes ordinais em desempe nhos ordinais novos, fornecendo uma explicação alternativa para outros aspectos do comportamento verbal, em especial a sintaxe e a matemática. No texto 8 (O treino em habilidades sociais e a inser ção de portadores de necessidades especiais no mercado de trabalho) o Professor Mestre Aríon Carlos Ribeiro de Olivei ra e a Professora Mestre Fabiana Pinheiro Ramos (ambos da UVV/ES) mostram como a Tecnologia Comportamental tão 12 almejada por Skinner para a Terapia Comportamental pode ser útil aos propósitos de inclusão social de deficientes visu ais, auditivos e físicos. Os autores relatam os ganhos e as dificuldades da experiência do treino de habilidades sociais com participantes do Programa Catavento na cidade de Vitó- ria/ES, de responsabilidade social da Companhia Siderúrgica Tubarão (CST) executado pela Ação Comunitária do Espírito Santo (ACES), em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Nacional do Comércio (SENAC). No texto 9 (Um programa de ensino, pesquisa e ex tensão em prevenção de deficiências: descrição e análi se), inserido em uma das áreas aplicadas mais desenvolvi das da Análise do Comportamento, a Professora Doutora Sônia Regina Fiorim Enumo (UFES, pesquisadora do CNPq) descre ve a possibilidade de integração entre atividades de ensino, pesquisa e extensão, analisando um programa multidisciplinar para a prevenção de deficiências, realizado no período de 1994 a 1997, no curso de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Seguindo os preceitos da Organi zação Mundial de Saúde (OMS), a autora privilegia a "pre venção primária", que visa a evitar a ocorrência do problema, e a "prevenção secundária", que consiste no seu diagnóstico precoce e tratamento imediato. Em síntese, estes textos tornam pública mais uma ação interinstitucional para a divulgação da Análise do Comporta mento no Brasil, Vitória, junho de 2005. Os Organizadores. R e f e r ê n c ia s Andresen, J. T. (1990). Skinner and Chomsky thirty years later. Historiographia Linguistica, XVII, 145-165. Bjork, D. W. (1997). B. F. Skinner: a life. New York, NY: Basic Books. Blackman, D. E. (1996). B. F. Skinner (1904-1990). In R. Fuller (Ed.). Seven Pioneers of Psychology (Behavior and Mind) (pp. 107- 129). New York, NY: Routledge. Carrara, K. (1992). Acesso a Skinner pela sua própria obra: publicações de 1930 a 1990. Didática, 28, 195-212, Catania, A. C. (1984). The operant behaviorism of B. F. Skinner. Behavioral and Brain Sciences, 7, 473-475. Cerullo, J. 3. (1996). Skinner at Harvard: intellectual or mandarim? In L. D. Smith & W. R. Woodward (Eds.). B. F. Skinner and Behaviorism in American Culture (pp. 215-234). London: Associeted University Press. 13 Haggbloom, 5. J., Warnick, R., Warnick, J. E., Jones, V. K., Yarbrough, G. L., Russell, T. M., Borecky, C. M., NIcGahhey, R., Powell, j. L. Ill, Beavers, J., Monte, E. (2002). The 100 most eminent psychologists of the 20th century. Review of General Psychology, 6(2), 139-152. Richelle, M. (1981). Skinner, o el Peligro Behaviorista. Barcelona: Editorial Herder. Skinner, B, F. (1999). A lecture on "having" a poem. In B. F. Skinner. Cumulative Record: Definitive edition (pp. 391-401). Acton, MA: Copley Publishing Group Skinner (Reprint Series of a lecture given on October 13, 1971). Skinner, B. F. (1948). Walden II. New York, NY: Mcmillan. Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. New York, NY: Appleton- Century-Crofts. Skinner, B. F. (1976). Particulars Of My Life: Part one of an autobiography. New York, NY: Alfred A. Knopf. Skinner, B. F. (1979). The Shaping a Behaviorist: Part two of an autobiography. New York, NY: Alfred A. Knopf, Skinner, B. F. (1974). About Behaviorism. New York, NY: Alfred A. Knopf. Smith, L. D. (1996). Situating B. F. Skinner and behaviorism in American Culture. In L. D. Smith & W. R. Woodward (Eds.). B. F. Skinner and Behaviorism in American Culture (pp. 294-315). London: Associeted University Press Vargas, J. S. (1993). B. F. Skinner: a glimpse of the scientist as a father. Behaviorology, 1, 55-60. Wiklander, N. (1996). From Hamilton College to Walden Two: an inquiry into B. F. Skinner's early social philosophy. In L. D. Smith & W. R. Woodward (Eds.). B. F. Skinner and Behaviorism in American Culture (pp. 83-105). London: Associeted University Press, Woodward, W. R. (1996). Skinner and behaviorism as cultural icons: from local knowledge and reader reception. In L. D, Smith & W. R. Woodward (Eds.). B. F. Skinner and Behaviorism in American Culture (pp. 29-72), London: Associeted University Press. 14 A EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO VERBAL1 B. F. Skinner2 A teoria evolucionária sempre foi atormentada pela es cassez de evidência. Nós vemos os produtos da evolução, mas não vemos muito do processo. A maior parte da história aconteceu há muito tempo atrás, e pouco permanece dos estágios iniciais. Particularmente falando, poucos vestígios do comportamento permanecem; só recentemente foram encontrados artefatos que poderiam resistir. O comportamen to verbal não deixou nenhum artefato até o aparecimento da escrita, e isto aconteceu num estágio muito avançado. Provavelmente nunca iremos saber com precisão o que acon teceu, mas devemos ser capazes de dizer o que poderia ter acontecido - isto é, que tipos de variações e que tipos de contingências de seleção poderiam ter dado existência ao comportamento verbal. A especulação sobre a seleção natu ral está ancorada na pesquisa atual sobre a genética; a evolução de um ambiente social ou cultura está ancorada na anáüse experimental do comportamento. Falando de modo preciso, o comportamento verbal não evolui. Ele é o produto de um ambiente verbal ou daquilo que os lingüistas chamam de linguagem, e é o ambiente ver bal que evolui. Uma vez que o ambiente verbal é composto por ouvintes, é compreensível que os lingüistas enfatizem o ouvinte, (Uma pergunta que é feita com freqüência, por exem plo, é "Como é possível uma pessoa compreender um núme ro potencialmente infinito de sentenças?" Ao contrário, uma análise do comportamento pergunta "Como é possível uma pessoa dizer um número potencialmente infinito de senten ças?"). Este artigo, então, é sobre a evolução de um ambien te verbal como a origem do comportamento do falante. 1 Artigo originalmente publicado no Journal o f The Experimenta! Analysis of Behavior, 1986, 45, 115-122, número 1 (janeiro). O artigo foi enviado em 8 de Julho de 1985, e sua aceitação final ocorreu em 28 de Setembro do mesmo ano. Tradução do Professor Doutor Eiizeu Batista Borioti (ÜFESj e do Psicólogo Luciano de Sousa Cunha (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFES, bolsista da CAPES), autorizada pela The B. F, Skinner Foundation. 2 Harvard University. 15 A plausibilidade de uma reconstrução depende em par te do tamanho das variações que se assume terem ocorrido; quanto menor as variações, mais plausível a explicação. Na aranha, por exemplo, o fazer a teia dificilmente poderia ter aparecido de uma só vez em sua forma atual como uma varia ção. Uma série de pequenos passos é mais plausível. A excreção que eventualmente torna-se a seda pode ter começado como uma cobertura para os ovos. Isso funcionou melhor quando a excreção tomou a forma de fibras com as quais os ovos pude ram ser envolvidos ao invés de cobertos. As fibras ajudaram as aranhas a se protegerem de quedas enquanto trabalha vam, e fizeram isso de modo mais efetivo à medida que elas cresciam mais fortes. As aranhas começaram a subir e a des cer sozinhas com as fibras, e os fios que foram deixados para trás podem ter capturado insetos, que as aranhas comiam. Quanto mais fios eram deixados, mais insetos eram captura dos. Alguns padrões de fios capturam mais do que outros. E assim por diante. Isso pode não ser exatamente o que ocor reu, mas é mais fácil acreditar nisto do que na aparição repen tina do fazer teias, numa variação única. A evolução do com portamento é algo mais plausível se considerada como o pro duto de uma série de pequenas variações e seleções. É exa tamente semelhante à modelagem do comportamento operante por meio de pequenas mudanças nas contingências de reforçamento, e o que temos aprendido sobre o processo operante ajuda na compreensão do processo genético, a des peito das grandes diferenças entre eles. A " S i n a l i z a ç ã o " F i l o g e n é t i c a A palavra "sinal" não associa seu usuário a qualquer teoria da linguagem. Fumaça é um sinal de fogo e nuvens escuras um sinal de chuva. O rosnar de um cão indócil é um sinal de perigo. Os organismos respondem a sinais por meio de processos comportamentais bem conhecidos. "Sinalizar" é fazer um sinal; nós explicamos isso por meio da seleção de conseqüências que teriam se seguido. Fogo e chuva não si nalizam, mas cães sim, se o que outros animais fizeram quan do eles rosnaram desempenhou um papel na seleção do ros nar. Entretanto, há dificuldades na explicação da evolução, mesmo que com exemplos relativamente simples, e outros tipos de "sinalização" fazem surgir outros problemas. Os organismos devem ter se beneficiado do comporta mento uns dos outros em um estágio muito anterior por'meio da imitação. Imitar é mais do que fazer o que um outro organis mo está fazendo. Os pombos se alimentando em um parque não estão de modo algum imitando uns aos outros; eles estão agindo de forma independente sob contingências ambientais similares. Imitar é agir como um outro organismo está agindo 16 devido às conseqüências importantes que então se seguiram. A evolução do processo pode ser rastreada nas conseqüências seletivas plausíveis: as contingências responsáveis peio com portamento imitado podem afetar um outro organismo quando ele se comporta do mesmo modo. Assim, se um de düis animais que estão se alimentando vê um predador e corre, é mais pro vável que o outro escape se também corre, embora não tenha visto o predador. Correr a qualquer momento que um outro organismo corre tem valor de sobrevivência. Foi somente depois que uma tendência a imitar evoluiu que passaram a existir contingências para a evolução do pro cesso de modelação recíproca. Um filhote de pássaro que eventualmente aprenderia a voar sem ajuda, aprende mais rápido quando imita um pássaro voando. Seus pais podem acelerar o processo voando de onde o filhote pode vê-los, e por meios que são facilmente imitados. Dizer que os pais es tão "mostrando ao seu filhote como voar" não acrescenta nada a tal descrição, e pode sugerir mais do que está de fato envolvido, A evolução de outros tipos de comportamento recipro camente úteis não é explicada assim tão facilmente. Por exem plo, qual teria sido o valor de sobrevivência da dança da abe lha que retorna de uma busca bem sucedida por alimento antes das outras abelhas responderem à dança, e como po deria a resposta à ela ter evoluído antes das abelhas dança rem? (A questão não é respondida por meio da imitação e modelação porque as contingências que explicam a imitação não requerem modelação). Devemos assumir que a distância ou a direção na qual as abelhas regressas viajaram tiveram algum outro efeito sobre seu comportamento. Talvez sinais de fadiga variaram com a distância, ou os movimentos foto- trópicos variaram de acordo com a posição do sol no seu retorno. Uma vez que o comportamento recíproco tenha evo luído, variações adicionais puderam torná-lo mais efetivo. As abelhas que retornaram puderam dançar de modo mais dis tinto e outras abelhas puderam responder mais acuradamen te às características da dança. É freqüentemente dito que as abeihas têm uma linguagem, que elas "dizem umas às ou tras aonde o bom alimento é encontrado", que a dança "trans mite informação" e assim por diante. Tais expressões, bas tante úteis no discurso cotidiano, não acrescentam nada a uma explicação em termos de seleção natural e podem obs curecer o processo em questão. A " S i n a l i z a ç ã o " O n t o g e n é t i c a As contingências de reforçamento se parecem com as contingências de sobrevivência em muitos aspectos. Os ani mais aprendem a imitar quando, por fazer o que os outros 17 estão fazendo, são afetados pelas mesmas contingências - de reforçamento ao invés de sobrevivência. Uma vez que isso aconteceu, contingências existem nas quais outros aprendem a servir como modelo - a se comportar de modo que possam ser facilmente imitados. Se, por exemplo, uma porta pode ser aberta apenas deslizando-a para um lado, ao invés de em purrando-a ou puxando-a, uma pessoa desliza-a quando vê outra pessoa fazendo assim, embora a outra pessoa não es teja necessariamente servindo de modelo para o comporta mento. Neste exemplo, ambas as partes podem exibir carac terísticas de imitação ou modelação filogenétíca, mas as con tingências operantes seriam suficientes. Se aquele que serve de modelo não está perto da porta, ele poderia fazer um tipo de movimento que poderia abri-la se ele estivesse lá - como um gesto. Dizer que ele está "mostrando ao outro como abrir a porta" é útil no discurso cotidiano, mas, de novo, potencial mente problemático em uma explicação científica. Quando um gesto não é um tipo de modelação, deve mos perguntar o que poderia tê-lo reforçado antes que al guém respondesse apropriadamente a ele, e como alguém poderia ter aprendido a responder antes que ele tivesse exis tido como um gesto. Como, por exemplo, poderia o gesto com o qual um guarda de trânsito pára um carroque se aproxima ter sido adquirido antes que as pessoas parassem em res posta a esse gesto, e como as pessoas poderiam ter aprendi do a parar antes que ninguém tenha gesticulado desse modo? Como no caso das abelhas, outras contingências relaciona das ao parar são necessárias, e, é claro, não são difíceis de encontrar. Uma pessoa pode parar uma outra colocando a mão no seu ombro, e se a pessoa que é parada acha o contato aversivo, ela irá parar nas ocasiões seguintes, antes que o contato seja feito. O movimento do braço e da mão muda de uma resposta prática para um gesto. Uma vez que isso tenha acontecido, a topografia pode mudar até que e!e tenha pouco ou nenhum efeito físico. O gesto que significa "vem cá" é um outro exemplo. Ele presumivelmente se originou como um puxar prático, mas tor nou-se efetivo como um gesto quando as pessoas que foram puxadas moveram-se rapidamente para evitar o contato físi co. A topografia do gesto ainda varia com a distância, possi velmente por causa de sua visibilidade, mas também como se restasse algum trabalho prático a ser feito: quando as partes estão distantes, o braço inteiro é movido; quando elas estão ligeiramente próximas, somente o antebraço; e quan do elas estão próximas, somente a mão ou apenas um dedo. O C o m p o r t a m e n t o V o c a l A espécie humana deu um passo crucial adiante quan do sua musculatura vocal ficou sob controle operante na pro- 18 dução dos sons da fala. De fato, é possível que todos os alcances distintivos da espécie possam ser traçados a partir desta mudança genética particular. Outras espécies se com portam vocalmente, é claro, e o comportamento 4 algumas vezes modificado de modo sutil durante o curso da vida do indivíduo (como no canto do pássaro, por exemplo), mas neste caso a essência das contingências de seleção tem permane cido fiiogenética - ou física (como na localização do eco) ou social. Papagaios e outras poucas aves imitam a fala huma na, mas é difícil mudar o comportamento ou trazê-lo sob con trole de estímulos por meio do condicionamento operante. Alguns dos órgãos envolvidos na produção dos sons da fala já foram submetidos ao condicionamento operante. O diafragma deve ter participado na respiração controlada, a língua e a mandíbula no mastigar e no deglutir, a mandíbula e os dentes no morder e no triturar, e os lábios, no sugar e no chupar, todos os quais puderam ser mudados por meio do condicionamento operante. Apenas as cordas vocais e a faringe parecem não ter servido a nenhuma função operante prévia. Elas presumivelmente evoluíram como órgãos para produção de chamadas e choros filogenéticos. O passo crucial na evolu ção do comportamento verbal parece, então, ter sido a mu dança genética que os trouxe sob controle do condicionamen to operante e tornou possível a coordenação de todos esses sistemas na produção dos sons da fala. Visto que outros primatas não passaram por esse passo, a mudança no ho mem foi presumivelmente recente. A possibilidade de que isto pode ainda não estar completo em todos os membros da es pécie pode explicar porque existem tantos distúrbios da fala - e talvez, até mesmo, tantas diferenças individuais no compor tamento verbal complexo, tal como a matemática. O comportamento vocal deve ter tido inúmeras vanta gens na seleção natural. Os sons são efetivos no escuro, nas esquinas, e quando os ouvintes não estão olhando, e eles podem ser emitidos quando as mãos estão ocupadas com outras coisas. Entretanto, há vantagens especiais nos reper tórios operantes amplos, particularmente a enorme varieda de disponível de sons da fala. De forma evidente, os gestos não são tão diferentes quanto os sons da fala. E, conseqüen temente, são em menor número, e os sons que alguém pro duz são mais parecidos com os sons que alguém ouve, do que os gestos são parecidos com os gestos que alguém vê (por que eles são vistos de um ponto de vista diferente). Alguém aprende a gesticular por meio da duplicação de um movimen to, mas aprende a faiar por meio da duplicação de um produ to, o que é mais preciso. É fácil explicar a evolução do comportamento operante se assumirmos que as primeiras contingências de reforçamento 19 tiveram uma estreita semelhança com as contingências de se leção natural, uma vez que apenas pequenas variações são necessárias se os contextos, as topografias e as conseqüênci as são similares (veja Skinner, 1984), Isso poderia ter sido vá lido para os operantes vocais. O choro de um bebê faminto, por exemplo, presumivelmente evoluiu como um comportamento filogenético porque alertou os pais do bebê, mas quando, por meio de uma mudança evolucionária, a atenção dos pais pode ria começar a agir como um reforçador, o chorar se tornaria um operante, com vantagens adicionais para o bebê e a espécie. Entretanto, uma vez existindo como um operante, o chorar po deria aparecer em circunstâncias muito instáveis para atuar na seleção natural. Um bebê que não estivesse faminto, por exem plo, poderia chorar de uma maneira a partir da qual os pais se esquivariam fazendo coisas que não tivessem nenhuma vanta gem necessária para a espécie. É claro que não é necessária uma similaridade de con tingências filogenéticas ou ontogenéticas. Tossir, por exem plo, presumivelmente evoluiu como um reflexo que limpou a garganta dos irritantes, mas tão logo a musculatura vocal ficou sob controle operante, o tossir poderia ser afetado por uma conseqüência diferente, tal como a atenção de um ou vinte. Se os ouvintes continuaram a responder, a topografia poderia mudar até que ela não tivesse nenhum efeito sobre a garganta. O tossir se tornaria o operante verbal "Aham!". Isso teria acontecido antes que as cordas vocais ficassem sob controle operante, e algo semelhante a isso pode ter sido a primeira mudança do gesto para o comportamento vocal, mas não para o vocalizado. Embora os operantes vocais primitivos possam ter sido "preparados" deste modo pelo comportamento filogenético, a evolução do condicionamento operante parece ter sido acom panhada pela evolução de um agrupamento de comportamen tos que não desempenhou nenhum outro papel na seleção natural, e foi, portanto, mais prontamente submetido ao reforçamento operante (veja Skinner, 1984). üm exemplo vo cal óbvio é o balbuciar das crianças pequenas - sons essenci almente aleatórios que, quando selecionados por reforçadores, tornam-se operantes. O comportamento verbal deiineado a partir de um agrupamento de comportamentos não relaciona dos não tem nenhuma conexão com choros e chamadas filogenéticas e, em geral, não temos nenhuma razão para chamá-lo uma extensão da "sinalização" vocal filogenética. Um episódio vocal Digamos que dois homens, A e B, estão pescando jun tos. Uma rede do tipo tarrafa contendo iscas é lançada na água, e quando o peixe nada para a rede ela é rapidamente 20 puxada. Digamos que A lança e recolhe a rede e B assume uma posição da qua! ele pode vê-la mais facilmente. Qualquer coisa que B faça quando um peixe entra na rede servirá como um estímulo discriminativo para A, na presença do qual o pu xar será mais freqüentemente reforçado peia aparição de um peixe na rede. B pode mostrar a A como, se ele aprendeu a fazer assim, mas nada mais é preciso do que o que nós pode ríamos chamar de um sinal de "excitação" na presença do pei xe na rede ou de "aborrecimento" ao fracasso do puxar por parte de A. Qualquer que seja o comportamento, ele começa a funcionar como um gesto, tão logo tenha sido reforçado pela resposta de A (e, presumivelmente, pela partilha do peixe). Os padrões de comportamento de ambas as partes, então, mudam lentamente assim que seus papéis tornam-se defini dos com mais evidência. B torna-se claramente o observador, movendo-se para ver o peixe de uma melhor posição e gesth culando de forma tão rápida e tão efetiva quanto possível, e A torna-se mais claramente o ator, observando B mais de perto e puxando maisrápido quanto possível quando B responde. Digamos que, enquanto A e B continuem a pescar de modo cooperativo, uma resposta vocal (talvez o indiferenciado Uh, não requerendo nenhum controle operante das cordas vocais) é selecionada pela sua conveniência para B, e pela velocidade e consistência com a qual ela alcança A. Nós pode ríamos então descrever o episódio de um modo ou de outro. Em termos tradicionais, diríamos que "quando B diz Uh, ele está contando a A que existe um peixe na rede" e que ele usa Uh como uma palavra que "significa peixe ou refere-se a pei xe". Ou, poderíamos dizer que B está "dizendo a A para puxar a rede" neste caso Uh significa "puxe". A pesca cooperativa sugere partilha do peixe, mas os papéis estão mais claros se uma parte consegue o pei xe e induz a outra a se comportar por outros meios. Se B consegue o peixe e arranja conseqüências reforçadoras para A, o Uh seria classificado de vários modos diferentes, de acordo com o tipo de conseqüência arranjada. Se A puxa porque no passado B puniu-o por não ter puxado, o LJh é um comando. Se B pagou A, é uma ordem. Se os dois são amigos, dispostos a ajudar um ao outro, é um pedido. Por outro lado, se A consegue peixe e de algum modo reforça a resposta de B, o Uh seria chamado um "relato" ou um "anúncio" da presença do peixe na rede. Mas, embora es tas expressões tradicionais possam ser úteis no discurso cotidiano, elas não nos aproximam de uma explicação cien tífica. O episódio é nada mais do que uma instância do com portamento recíproco de duas pessoas, e as contingências que o explicam estão claras. 21 Os tatos e os mandos Algo mais é necessário se formos chamar o Uh de um mando ou de um tato: as conseqüências devem ser generali zadas. A generalização necessária presumivelmente surgiu quando havia muitas atividades cooperativas nas quais um único objeto (tal como um peixe) ou uma única ação (tal como o pu xar) desempenhou um papel. Os peixes são escolhidos, carre gados, mortos, limpos, cozidos, comidos, e assim por diante. Embora as coisas algumas vezes tenham, como dizemos, "dife rentes nomes de acordo com o que é feito com elas", uma for ma única deveria emergir por meio da generalização de estímu lo. Um tato emerge como a probabilidade de dizer peixe na pre sença de um peixe quando diferentes instâncias são seguidas por conseqüências reforçadoras diferentes, completamente à parte de qualquer outra característica de um contexto particu lar. Talvez não haja então nenhum problema específico em usar palavras tradicionais e dizer que peixe "refere-se a um peixe" ou "significa peixe", onde o significado ou referente é simples mente o peixe como a variável controladora principal. Porém, dizer que o falante usa a palavra para significar peixe ou para referir-se a um peixe é avançar a nossa história. Como uma mera probabilidade de resposta, a natureza de um tato é mais dara, quando não falaríamos de significado ou referência. Digamos que nós estamos chamando por al guém que tenha um grande marlin azul pendurado na parede do seu local de trabalho. Nós começamos a procurar algo em nossa pasta e, quando perguntados sobre o que estamos fazendo, dizemos, "I am fishing for a letter I want to show you" ["Estou procurando uma carta que quero mostrar a você"]. O fish [peixe] na parede fortaleceu fish como um tato e teve participação na escolha de um sinônimo. (Se, ao invés disso, houvesse armas expostas na parede, teria sido mais provável dizermos "I am hunting for a letter" ["Estou procurando uma carta"]). Neste caso, nós não dizemos que a resposta "fishing" refere-se ao físh [peixe] na parede, muito embora ela tenha sido fortalecida por ele3. Como uma mera probabilidade de resposta, um tato tem o mesmo status que três tipos de operantes verbais dos quais também não se diz significarem ou referirem-se a suas variáveis controladoras. Um é o ecóico (teria sido mais pro vável dizermos fishing se alguém tivesse acabado de dizer fish). Um outro é o textual (teria sido mais provávei dizermos 3 Nota da tradução: apesar de em português se usar o verbo pescar para a ação de procurar coisas em condições difícieis (por exemplo, "Estou vendo se consigo pescar algum camarão nesta sopa") ou o verbo caçar para a ação de tentar achar algo ou alguém (como em "Estou caçando minha carteira"), optou- se por manter as sentenças em inglês, de modo a preservar o contexto de estímulo exemplificado por Skinner. 22 fishing se tivesse havido um sinai na parede no quai se lê FISH); e um terceiro é o intraverbal (teria sido mais provável dizermos fishing se tivéssemos acabado de ler ou ouvir uma palavra que freqüentemente ocorreu próxima àe^fish). Nós não diríamos que fish significa ou refere-se a fish quando é uma resposta ecóica, textual ou intraverbal. Se tendemos a dizer isto quando a resposta é um tato, não é porque existe um tipo diferente de relação controladora entre estímulo e resposta, mas porque, ao invés disso, o ouvinte responde de modos mais úteis em relação ao estímulo controlador. Como uma mera probabilidade de resposta sob con trole de um estímulo, um tato evolui como um produto de muitas instâncias nas quais uma resposta de uma dada for ma tem sido reforçada na presença de um dado estímulo, em muitos estados diferentes de privação ou de estimulação aversiva. Quando tatos são ensinados como "os nomes das coisas" os professores usam um reforçador generalizado - tal como Bom/ ou algum outro reforçador social. Um mando é também um sub-produto de muitas ins tâncias, nas quais a variável controladora é um estado de privação ou de estimulação aversiva. O mando puxe evoluiu quando respostas tendo esta forma foram reforçadas quan do ouvintes puxaram coisas diferentes de formas diferentes. É possível que mandos evoluíram primeiro, e que eles contri buíram para a evolução do tato. Há dois tipos de mando. Puxe é um mando-ação, reforçado quando o ouvinte faz algo. Peixe como uma abreviação de Dê-me um peixe, por favor é um mando-objeto reforçado pelo recebimento do peixe. Um mando-objeto é mais provável de ocorrer na presença do objeto porque ele tem sido mais freqüentemente reforçado na presença desse objeto. É muito mais provável perguntar mos pelas coisas que vemos em uma loja porque o pergun tar por objetos disponíveis no momento tem sido mais freqüentemente reforçado, (Esta é uma razão das lojas exi birem as suas mercadorias). O controSe exercido pelo estímu lo em um mando-objeto não faz da resposta um tato, contanto que as contingências reforçadoras permaneçam aquelas de um mando - contanto que dizer peixe seja reforçado somen te pelo recebimento de um peixe - mas mandos-objetos po deriam ter tido alguma contribuição na evolução de um tato da mesma forma. (Portanto, isto não significa que um falante que diz peixe como um tato o dirá como um mando-objeto, ou vice-versa [veja Skinner, 1957]). A evolução do autoclftico Se a ocasião sobre a qual um mando ou tato tem sido reforçados ocorre novamente sem mudanças essenciais, o comportamento não precisa de nenhuma explicação adicional. 23 0 reforçamento teve seu efeito habituai, A questão crucial é o que ocorre quando uma pessoa diz algo que ela nunca disse antes. O comportamento novo ocorre em ocasiões novas, e uma ocasião é nova no sentido em que suas características não ocorreram juntas antes num mesmo arranjo. Algumas ca racterísticas de uma ocasião fortalecem uma resposta, outras fortalecem uma outra. Por exemplo, se duas pessoas estão caminhando juntas, e uma delas sente alguns pingos de chu va, ela pode estar inclinada a dizer Chuva. O ouvinte presen te, ou outros como ele, tem reagido a esta resposta de mo dos reforçadores. Ele, ou outros como ele, também tem reagi do de outros modos a outras características do contexto - quando, por exemplo, o falante mostrou surpresa ou desa pontamento. Nessa ocasião, portanto, o falante pode dizer Chuva em um tom de voz de surpresaou de desapontamento. Algo a mais foi adicionado ao tato. Isto tem sido adicionado a outras respostas no passado com conseqüências reforçadoras, mas nunca antes à Chuva. A possibilidade de recombinar os elementos das respostas vocais deste modo explica muito do poder e do alcance do comportamento verbal. Efeitos colaterais muito mais importantes sobre o ou vinte nos levam à evolução do autoclítico ou, em termos tra dicionais, da gramática. Uma consideração importante para o ouvinte é a extensão na qual ele pode reagir à resposta-tato de modo efetivo. O falante pode ajudar indicando a natureza e a força do estímulo controle do seu comportamento. Se ele sentiu apenas poucas gotas de chuva, ele pode falar em um tom de voz transcrito com um ponto de interrogação: Chuva? O ouvinte não está para responder ao tato sem reserva. Outras elaborações da resposta são necessárias se o ouvin te está, ou para responder como responderia à chuva em si mesma, ou não responder de modo algum. As respostas que têm tais efeitos são Sim ou Não. Elas freqüentemente parecem como mandos tendo o efeito de Con tinue e Pare, respectivamente. Assim, nós insistimos com o falante que fez uma pausa dizendo Sim? ou o paramos dizen do Não! Ouvindo Chuva? Sim!t é mais provável um ouvinte agir como se ele próprio tivesse sentido a chuva. Ouvindo Chuva? Não!, é menos provável que ele aja desse modo. Em termos tradicionais o falante afirma ou nega a presença da chuva. Uma alternativa mais comum seria Está chovendo ou Não está chovendo. Chuva? Sim/ e Chuva? Não! não têm exa tamente o mesmo efeito porque sugerem questões e res postas, mas algo do impulso do Sim e do Não permanece. O efeito do Sim pode ser procurado enfatizando a palavra Está. O falante está dizendo, Você pode seguramente agir sobre mi nha resposta Chuva. Por outro lado, como uma resposta que trás algo que o ouvinte está fazendo com uma finalidade (Como dizendo Não para alguém que está prestes a ir para o 24 caminho errado), Não é obviamente próximo de negativo4. Não está chovendo tem o efeito de "/Yá razões porque eu tendo a dizer Chuva, mas não agir sobre minha resposta". Os passos através dos quais autoclíticos particulares podem ter evoluído são geralmente mais obscuros^do que os dos mandos e os dos tatos. Um esforço inicial feito por John Home Tooke no Diversions of Puriey (1786) não tem sido to talmente apreciado. O fato de que Tooke não estava sempre certo como um etimologista não foi tão importante quanto os seus esforços para explicar como os falantes do inglês pode riam ter passado a dizer palavras tais como if [se], but [mas] ou and [e]. "Podemos ir amanhã dado que não chova" é uma dica para a origem do // [se]. Que o garoto que permaneceu no convés em chamas deveria ser deixado de fora em respos ta a "Whence aii (be out he) had fled" ["De onde todos (fora ele) escaparam"] é uma dica para o but [mas]5. (Que Mrs. Hemans escreveu ali but he ao invés de ali but him é inopor tuno, porém irrelevante)6. E quando dizemos and [e] nós com freqüencia estamos simplesmente adicionando: Of shoes - add ships - add sealing wax - Of cabbages - add kings7 [De sapatos - adicione navios - adicione lacre - adicione repo lhos - adicione reis] Como diríamos hoje, os autoclíticos evoluíram como instruções para o ouvinte que ajudaram-no a se comportar de um modo mais provável de ter conseqüências reforçadoras e, como conseqüência, mais provável de promover con seqüências reciprocamente reforçadoras para o falante. A evolução das sentenças É fácil compreender a antiga visão de que o comporta mento está dentro do organismo antes de sair. Talvez exista 4 N.T.: A sentença original é A/o is obviously dose to not". Com ela Skinner fez referência às sentenças cio seu exemplo. No inglês há duas formas de negação, com not e no e sua utilização depende da estrutura da sentença. s Nota da tradução; aqui o but seria uma abreviação da forma completa be out [fique fora], segundo a análise de Tooke, citado por Skinner. A tradução mas não permite esta análise, 6 Nota da tradução: Mrs. Hemans é uma poetisa inglesa cujos poemas lhe renderam extrema popularidade. Aqui Skinner faz referência ao trabalho "Casabianca" (Merriam Webster's Encyclopedia of Literature, 1995). O poema fala de um incidente ocorrido em 1798 durante a Batalha do Nilo a bordo do navio francês L'Orient em que o filho mais novo do comandante Louis de Casabianca permanceceu no seu posto e foi morto quando as chamas causaram a explosão do navio. 7 Nota da tradução: trecho do poema de Lewis Carroll, The Walrus and The Carpenter, publicado em 1872 no Through the Looking-Glass and What Alice Found There. O autor é citado pela crítica literária pelo uso extravagante dos recursos lingüísticos. 25 um toque do primitivo em dizer que o comportamento é "emi tido", mas, como já apontei, nós falamos da emissão da luz de um filamento quente embora a íuz não esteja no filamento. O reforçamento que fortalece uma resposta não coloca a res posta dentro do organismo; ele simplesmente muda o orga nismo de maneira que é mais provável que ele responda da quele modo. A questão pode ser posta fazendo-se a distin ção entre um operante como uma probabilidade de respon der e uma resposta como uma instância. É o operante que está "no" organismo, mas somente no sentido em que a elas ticidade está "no" elástico. O que é reforçado, no sentido de ser seguido por um dado tipo de conseqüência, é uma resposta; é o operante que é reforçado num sentido bastante diferente de ser forta lecido. Fester e eu fizemos esta distinção no glossário do Schedules of Reinforcement (Fester & Skinner, 1957). No campo do comportamento verbal esta distinção está próxima da dis tinção entre o sentido do que é dito e o dizer. O sentido de um tato é a variável controladora - tradicionalmente, o que ele significa. O dizer é uma instância numa dada ocasião. Normal mente, não é suficiente definir "o que é dito" pela descrição de sua topografia, como no mando "Diga 'COMO ela, não como ELA'"8. Uma definição deve incluir uma referência às variáveis controladoras, como em "O que você diz para isso?" Em termos tradicionais, a distinção está próxima àquela entre "palavra" e "sentença". "Sentença" vem do Latin sentire, significando "sentir, ou pensar". Nós pedimos uma sentença quando dizemos "Como você se sente em relação a isso?" ou "O que você pensa disso?" (Uma definição de dicionário de sentença é "uma série de palavras que expressam um pensa mento". Esta é uma alusão, é claro, a um outro tipo de reser vatório. É dito que possuímos pensamentos e os trazemos à tona ou os "expressamos" colocando-os em palavras). Como argumentei no Verbal Behavior (1957), o pensamento pode ser adequadamente formulado simplesmente como comportamen to. Uma sentença não é a expressão de um pensamento; é o pensamento. Quando dizemos "Ocorreu-me olhar na minha escrivaninha", queremos dizer que o comportamento de olhar na escrivaninha foi fortalecido, mesmo que ele não tenha sido 8 Nota da tradução: no original lê-se "Say haRASS, not HArass". Trata-se de uma confusão semântica produzida pela colocação da ênfase nas sílabas da palavra harass, que significa incomodar. O ouvinte do inglês se sente mais incomodado se o falante utiliza a entonação na sílaba errada. (Quando, num erro, por exemplo, a sílaba tônica é a primeira, o ouvinte entende como "her ass" [rabo dela]). Outro exemplo próximo com topografia semelhante na pronúncia seria "Diga CÁlice, não caLE-SE", como "o que foi dito" por Chico Buarque. "O que foi dito" está implícito sem garantias do que exatamente tenha sido dito. Como no exemplo original, o leitor deve colocar ênfase nas partes escritas em maiúsculo. 26 executado. Quando dizemos "Ocorreu-me o pensamento de que ele estava constrangido", queremos dizer que o compor tamento verbal Ele está constrangido ocorreu-nos, talvez de forma encoberta. Olhar na escrivaninhaé comportamento; di zer "Ele está constrangido" é comportamento. Somos especi almente propensos a chamá-los de pensamentos quando eles não são executados de forma aberta. A Ev o l u ç ã o d o s Fa t o s Quando falamos da evolução do automóvel, não estamos falando de qualquer coisa semelhante à evolução do cavalo. Estamos falando da evolução de certas práticas culturais por meio das quais novos modos de fazer automó vel, como variações, foram selecionados por suas contribui ções para um produto reforçador do comportamento huma no. Alguns produtos do comportamento verbal podem ser tratados do mesmo modo. Por exemplo, os fatos. Um fato é uma afirmação sobre o mundo. Quando dize mos "O fato é que, eu não estive na reunião", nós colocamos o ouvinte na posição de alguém que esteve na reunião e observou que o falante não estava lá. Alguém a quem foi dito "os fatos da vida" age de modo mais efetivo em relação a certos aspectos da vida cotidiana sem passar por uma série de contingências instrucionais. Fatos sobre o que aconteceu no passado (os fatos da história) podem ser úteis neste sen tido apenas na extensão em que as condições descritas são prováveis de ocorrer. Os fatos da ciência são mais úteis do que aqueles da história porque as condições relevantes são repetidas de modo mais freqüente. Podemos falar, então, da evolução dos fatos - os fatos da vida cotidiana, da história ou da ciência. Com freqüência eles são chamados de conhecimento. O que está em debate não é a evolução do conhecer ou de pessoas conhecedoras, ou de qualquer órgão de tal pessoa, ou de qualquer condi ção de tal órgão, mas, ao invés disso, de um ambiente verbal ou cultura. As pessoas entram em contato com tal ambiente quando elas ouvem os falantes ou lêem livros. Os sons que elas ouvem ou as marcas que vêem afetam-nas como ouvin tes ou leitores, exatamente como o comportamento dos fa lantes e escritores originais afetou seus ouvintes ou leitores. É dito que conhecemos um fato porque, ou já lidamos com as contingências, ou temos "contado o fato". Dessa for ma, dizemos "Ele deve ter sabido que a porta estava destrancada; ele teria visto sozinho ou alguém teria dito a ele". Mas há um outro sentido no qual podemos "conhecer" um fato simplesmente como comportamento verbal, se ele é ou não algo sobre o qual se agiu. O comportamento é intraverbal. Os fatos da história são exemplos. 27 Há uma diferença importante entre os intraverbais que resultam do uso contíguo (tipo casa-lar) e os intraverbais mais amplos que são aprendidos como tais (fatos históricos ou poesias memorizadas, por exemplo). Ao recitar fatos como uma série de respostas intraverbais, avisamos ou informa mos a nós mesmos como os falantes ou escritores originais dirigiram-se a ou informaram seus ouvintes ou leitores. C o m e n t á r i o s É inevitável que de um processo contínuo como a evolu ção devesse emergir a questão dos limites. Os sistemas para classificação das espécies são tentativas para resolver um pro blema deste tipo. Em que momento podemos dizer que o ho mem apareceu pela primeira vez na Terra? Pode ser útil esco lher um dado ponto para melhorar nosso uso do termo homo sapiens, mas não havia presumivelmente nenhum ponto no qual uma essência humana viesse a existir. Igualmente, é apenas por uma razão de consistência que tentaríamos dizer quando o comportamento tornou-se verbal pela primeira vez. Tomando o episódio da pesca como exemplo, poderíamos dizer que a res posta de B tornou-se verbal (1) quando ela foi pela primeira vez fortalecida pela ação de A em puxar a rede (quando ela tornou-se um operarite vocal), (2) quando a mesma resposta foi feita em outros contextos com outras conseqüências e ficou sob controle exclusivo de um peixe como um estímulo discriminativo, independente de qualquer estado particular de privação ou de estimulação aversiva (quando ela emergiu como um tato), ou (3) quando ela foi modelada e mantida por um ambiente verbal transmitido de uma geração a outra (quando ela tornou-se parte de uma "linguagem"). Todos esses passos são distinguíveis na evolução do comportamento verbal, e se temos que escolher um deles, o mais útil parece ser o (3). O comportamento verbal é o comportamento que é reforçado pela mediação de outras pessoas, mas somente quando as outras pessoas estão se comportando de modos que têm sido mode lados ou mantidos por um ambiente verbal ou linguagem. No nível 3 nós diríamos que outros primatas têm se engajado em comportamento verbal em ambientes verbais artificiais criados por cientistas, mas não desenvolveram um linguagem própria. Riso e choro Duas outras funções da musculatura vocal - rir e chorar - são, senão exclusivamente humanas, pelo menos caracte rísticas marcantes da espécie. Existe uma boa chance de que elas evoluíram aproximadamente ao mesmo tempo como com portamento vocal, mas elas não são operantes, embora pos 28 sam ser simuladas como tais ~ como no chorar para conseguir atenção, por exemplo, ou rir educadamente numa piada sem graça. Como comportamento filogenético, elas são eliciadas por reforçadores positivos e negativos, respectivarçente, com freqüência quando inesperadas, mas se há qualquer conse qüência imediata para aqueles que choram ou riem, é obscu ro. Rir e chorar podem ter evoluído por causa de seus efeitos sobre os outros. Há aqueles para quem os sinais de dano infligido modelam e mantém a agressão, não verbal (um gol pe) ou verbal (um insulto), e também há aqueles para quem os sinais de alívio do dano modelam o ajudar os outros. Ou tras espécies cuidam dos seus e de qualquer outro filhote, mas, presumivelmente, não a ponto de ser considerado como comportamento operante. A espécie humana pode ter obtido vantagens importantes quando a cessaçãG do choro começou a reforçar o comportamento que chamamos de cuidar. Rir, por outro lado, de modo bastante óbvio, reforça o fazer as pessoas rirem e está associado ao cuidar, pois, em geral, as pessoas riem quando as coisas vão bem. Do mes mo modo que uma dança do acasalamento pode ter evoluído por causa de seus efeitos sobre outros membros da espécie, ao invés do dançarino, o rir e chorar podem ter evoluído de vido aos seus efeitos sobre outros, mais do que diretamente sobre aqueles que riem ou choram. Topografia Com freqüência os teóricos da origem da linguagem têm tentado explicar a forma. Tem sido dito, por exemplo, que a onomatopéia explica porque um cão é chamado de "au-au" ou porque o toucinho defumado "silva" ou "chia" na frigideira. O gesto para "pare" é um tipo de onomatopéia, e Sir Richard Paget propôs que gesticular com a língua pode ter modificado as for mas dos sons pronunciados de um modo útil (Paget, 1930). A onomatopéia não nos leva muito longe, e pode não valer a pena avançar nesta questão. As formas das palavras podem ser traçadas historicamente, mas raramente às suas origens, e as linguagens do mundo são tão diversificadas que as fontes devem ter sido amplamente imprevisíveis. As crianças inventam novas formas rapidamente, e quando duas ou mais estão vi vendo em relativo isolamento, elas podem desenvolver voca bulários idiossincráticos muito extensos. Há provavelmente uma razão para a forma de cada palavra, como provavelmente há uma razão para a cor de cada pássaro ou flor, mas não vale a pena procurar nem um e nem outro como um fato em particular. Quando as pessoas começaram a descrever as contin gências de reforçamento do mundo ao seu redor, as palavras teriam sido inventadas como os nomes das coisas. A sentença Isto é chamado de rosa descreve uma contingência de 29 reforçamento em um ambiente verbai. Chame isto uma rosa é um conselho a ser seguido se for para alguém se comportar de modo bem sucedido em tai ambiente. As crianças logo apren dem a perguntar peios nomes das coisas, assim como elas per guntam pelas ferramentas necessárias para fazer as coisas, e isto deve ter sido um pequeno passopara a invenção de um nome (Vamos chamar isto de rosa). O passo é dado a qualquer momento que os pais dão nome a uma criança, embora, muito freqüentemente, a forma escolhida tenha fontes óbvias. C o n c l u s ã o Para repetir um alerta necessário, eu não tentei dizer como um ambiente verbal, ou o comportamento verbal gerado por tal ambiente, de fato evoluiu. Eu apenas tentei dizer como ele pode ter evoluído, dados os processos comportamentais que já devem ter sido exibidos pela espécie. O artigo é especulativo, mas a especulação está sob o controle imposto por um compromisso com os princípios estabelecidos por uma análise operante. Neste aspecto, ele pode ser contrastado com as atuais abordagens dos lingüistas. Um livro recente, essencialmente sobre o assunto em questão, lista um número de entidades ou princípios explicativos, dentre eles "órgãos inatos de linguagem", "mecanismos de percepção da fala", "competências gramaticais", "substratos neurais cognitivos" e "descodificação e produção das funções da linguagem fala da". É duvidoso se quaisquer destas entidades possam ser adequadamente definidas sem apelar para as observações que elas dizem explicar, e elas não explicam com facilidade o comportamento verbal como tal. Re f e r ê n c ia s Fester, C. B., & Skinner, B. F. (1957). Schedules of Reinforcement. New York, NY: Appleton-Century-Crofts. Paget, R. A. S. (1930). Human Speech. New York, NY: Harcourt, Brace. Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. New York, NY: Appleton- Century-Crofts. Skinner, B. F. (1984). The evolution of behavior. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 41, 217-222. Tooke, J. H. (1786). The Diversions of Purley. London: J. Johnson. 30 O SIGNIFICADO DAS AÇÕES DECORRE DO CONTEXTO COMPORTAMENTAL? Rachel Rodrigues Kerbauy1 0 significado das ações pode ser descrito - pela pes soa ou observadores - avaliando o padrão de comportamento no decorrer do tempo. O que as pessoas fazem em quais condições é o padrão de comportamento. Ele é construído porque as pessoas reforçam positivamente quando demons tram afeição, protegem, aprovam e reforçam negativamente quando: reclamam, fazem exigências, tiram coisas, criticam. Essas relações entre pessoas determinam, ao longo do tem po, maneiras pessoais de lidar com o mundo e emprestam significado às ações. A pergunta resultante dessa análise é se essas con tingências são eficientes mantendo o padrão de interação, ou se a automanipulação é que permite a formação de um padrão próprio, De fato, não se mudam as pessoas, mas o mundo em que vivem, mudam-se as condições responsáveis pelas ações, e isto as pessoas podem aprender a fazer. Skinner (1989/1991) reviu suas explicações para eu e pessoa e distingue a pessoa como o repertório de comporta mentos que pode ser observado pelos outros e o eu como predisposição que acompanha estados internos. O eu é ob servado através dos sentimentos e introspecção. A partir dessas análises, o autor deslinda inúmeras utilizações de palavras com auto, empregadas pela Psicologia e linguagem diária. O autocontrole estaria neste caso, pois a pessoa ma nipula as variáveis das quais seu comportamento é função. 0 eu controlador e o eu controlado são repertórios de com portamentos. Sobre este tema precisamos elucidar o papel da automa nipulação, sua função de lidar com o mundo e as dificuldades e 1 Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 31 o que significa se autocontrolar. Também, desvendar as rela ções entre o autoconhecimento, tomada de decisão e o auto controle ou manipulação do comportamento. Resta saber como a terapia pode lidar com esses comportamentos e as pesqui sas que abrem caminhos e que precisam ter um plano e, a longo prazo, avaliação dos resultados. AS RELAÇÕES ENTRE O AUTOCONHECIMENTO, TOMA DA DE DECISÃO E O AUTOCONTROLE OU MANIPULA ÇÃO DO PRÓPRIO COMPORTAMENTO. A civilização impõe maneiras diferentes de comportar- se através da experiência passada, da observação dos ou tros, de comparecer à escola, à igreja e a diferentes grupos sociais. Nessas condições, aprendemos regras verbais as quais nos sentimos obrigados a obedecer ou sofrer as sanções re sultantes. Pretendemos segui-las, especialmente quando as situações que descrevem estão distantes, no futuro. No en tanto, muitas vezes essas regras estão em conflito com aquilo que desejamos no momento. Os obesos pretendem não co mer doces, os alcoólicos não beber, os deprimidos pretendem se íigar ao mundo, os procrastinadores pretendem fazer coi sas a cada dia, sem adiar tarefas. As ações necessárias impli cam em um padrão de comportamento de obedecer a certas regras. Elas parecem fáceis de serem seguidas quando estão em um futuro que não existe ainda. Não é presente e, portan to, não há conflito. Para não precisarmos tomar decisão em cada situação, podemos nos comprometer antes, fazendo algo ou tendo uma regra abstrata para nos conduzir ao invés de agir por impulso. Podemos também emitir uma resposta de compromisso, drásti ca, como nas cirurgias de restrição do estômago. É restrição física para comer menos e perder peso. O padrão alimentar tem que ser alterado: comer pouco, devagar, mastigar bem. Casò esse novo comportamento não seja emitido, a punição ocorre: náusea, dor de estômago, vômito. O autocontrole é uma maneira de levar à felicidade, cri ando um padrão de escolha e de análise das situações e com portamentos. É a história de preferências pessoais. Teorica mente, poderíamos dizer que se autocontrolar conduziria à felicidade, pelo fato de propiciar reforçadores positivos, re compensas. Em sentido amplo, as discussões sobre o homem garantem o direito de ser livre de restrição física ou estimulação aversiva. No entanto, em um mundo complexo como o atual, com modificações constantes em valores e condutas, competitividade exacerbada, é, muitas vezes, difícil detectar as situações relevantes e o desempenho apropriado. 32 Como as regras seriam escolhidas e seguidas é o pro blema da Psicologia, pois as contingências é que as criam e mantém. Todas as descobertas sobre comportamentos, sua instalação e manutenção, estão presentes para encaminhar soluções individuais. São anos de análise de comportamento e do estudo sistemático, quer através de experimentos quer através de análises e interpretações do comportamento, es pecialmente verbal. Com certeza, sabemos mais hoje que há trinta anos sobre os efeitos do reforçamento e punição e so bre o controle instrucional (ou por regras) e sobre as variáveis da escolha. No entanto, especialmente na área clinica, é ne cessário deslindar o autoconhecer-se e a tomada de decisão. Contribuições da pesquisa básica podem esclarecer a tomada de decisão. Indiscutivelmente, quando falamos em autocontrole do comportamento em situação de pesquisa em análise do comportamento, hoje, pensamos nos modelos de escolha. São modelos, distantes das formulações de Skinner (1953/1978) ou de Ferster, Nurenberg e Levitt (1962). Por aquele capítulo XV (Skinner, 1953/1978), talvez não pensás semos nesse desdobramento. De fato, ele destacava a situ ação de conflito, ou seja, ao mesmo tempo existiria um reforçador positivo imediato e outro maior ou negativo de longo prazo. Destacava também os processos para explicar autocontrole e os elucidava através dos conceitos de análise do comportamento. Skinner analisou as contingências e sali entou que o comportamento controlador muda. Seria possível vislumbrar o caminho da pesquisa com escolha, pelo capítulo XIV, em Walden Two. De fato, nesse livro, ao ensinar autocontrole, Skinner (1948/1978) propõe inúmeros com portam entos para fac ilita r a espera de reforçadores: cantar, fazer piadas, falar em voz alta e depois emiti-los internamente. Era ensinar autocontrole, geralmen te espera e a verificação de que outras pessoas teriam prio ridade naquela situação. Kerbauy (1991) salientou anterior mente que, como oprimeiro trabalho de Mischeí (1966) foi posterior a Walden Two, se não viria daí a inspiração para fazer as suas investigações tão instigantes. Mischel, Shoda e Rodriguez (1989), trabalhando com crianças de diversas idades desde 3-4 anos a adolescentes, verificaram o efeito de variáveis tais como: os intervalos de atraso para obtenção da recompensa maior, fazer atividades motoras ou de imaginação, enquanto o participante espera va por recompensa preferida, manter a recompensa visível ou escondida, e como a instrução afetava a espera. Todas as manipulações introduzidas eram para estudar as variáveis cognitivas existentes no autocontrole e impulsividade, e o que influenciava na escolha dessas alternativas. Estudavam autocontrole definido como esperar pela recompensa maior. 33 Em Mischel, Shoda e Rodriguez (1989), os resultados de anos de pesquisa estão resumidos e demonstram que crianças mais velhas, mais inteligentes, de pais ricos esperam pela recompensa maior. Sua metodologia, exigente, pode permitir a interpretação do dado além das teorias de aprendizagem social, seu referencial teórico. Esta metodologia está sendo repetida com variações e outras interpretações decorrentes da abordagem teórica, por pesquisadores que estudam es colha com o referencial de Análise do Comportamento, entre outros. Certamente, a Análise do Comportamento, que trata das relações organismo-ambiente, estuda mais que só es colher - responder a um dos vários estímulos disponíveis - determina também quando essa escolha é feita. Alguns dos parâmetros desvendados por Mischel (1966) podem ser es tudados em seqüência de tentativas, de escolhas. O enfoque neste caso não seria só a espera, mas quais condições inter ferem e qual sua função. Esperar pelo reforçador maior pode ser o comportamento de autocontrole necessário em inúme ras situações. Mas, há outras em que escolher o imediato é mais adequado e desistir pode ser o autocontrole. É um com portamento complexo e que pode mudar nas etapas da vida, diferenciando-se. É isto que possivelmente influiu para vári as definições de autocontrole e confusão com traços de per sonalidade ou características inatas dos indivíduos ou mes mo com força-de-vontade, sem referir-se ao ambiente. Dizer do inicio dos estudos de autocontrole é complica do. Em pesquisa básica, se excluirmos Mischel, pelo referencial de aprendizagem social e explicações cognitivas, daremos nossa preferência para salientar o trabalho de Rachlin e Green (1972), com pombos, sobre escolha com compromisso. A ambivalência mudar a escolha é freqüente em nossas vidas; no entanto, podemos nos comprometer com uma alternativa e tornar a mudança muito dispendiosa ou difícil. ■ Esses autores e posteriormente outros, após a redu ção de 80% do peso do pombo para privação, modelaram o bicar um botão iluminado e reforçaram com uma pequena porção de alimento. Em seguida, acrescentaram dois botões iluminados: um verde e o outro vermelho. Se o pombo bicas se o vermelho, recebia maior quantidade de alimento e, se bicasse o verde, menor quantidade. Rapidamente o pombo aprendeu a bicar o vermelho e a ignorar o verde. Outra mu dança introduzida foi que, após bicar a chave, havia ls de atraso para o alimento. O pombo demorava mais para bicar, até que, por acaso, bicava o vermelho e recebia maior quan tidade de alimento também com o atraso de ls. Passava a ignorar o verde e mostrava com isso que valorizava a maior quantidade de alimento. 34 Continuando, aumentou-se o atraso para 14s, para uma maior quantidade de alimento. Portanto, o pombo tinha que escolher 14s e mais alimento ou 10s e menos alimento. Evi dentemente, a melhor escolha era a recompensa maior. Outra etapa foi acrescentada, em outro experimento. Depois de escolher o vermelho e 14s de atraso pelo reforço maior, depois de transcorridos 10s, novamente os dois bo- tões eram iluminados. Dava-se ao pombo uma possibilidade de "mudar de idéia". De fato, mudou e preferiu menos ali mento imediatamente, na chave verde. Portanto, houve uma reversão de preferência, a qual é encontrada em pombos, outros animais e humanos (Ainslie & Herrnstein, 1981). Inúmeras vezes nos encontramos nessa situação, sem prever a reversão. Só diante da recompensa é que percebe mos como é atraente. Também há a considerar que, à medi da que certo tempo decorreu, é que fazemos novas escolhas e resistimos menos à tentação. Se a condição fosse mantida, de resposta de compromisso, bicar o vermelho e esperar 14s, sem opções posteriores, o comportamento seria mantido após o comprometimento, pois não haveria volta e já era a alter nativa de autocontrole. Rachlin (2000) define compromisso como "(...) escolha num momento, para restringir a extensão de escolhas futuras" (p.50). Essa série de experimentos de Rachlin (1995, 2000) e Rachlin e Green (1972) esclareu o compromisso e a reversão de preferência e a função do desconto, que Mazur (1987) obteve com pombos, e foi também constatada por Green, Fry e Meyerson (1994), com crianças e adultos. Após um tempo decorrido, faze mos outras escolhas, descontando a espera. Em um determina do ponto da espera pela recompensa maior, há pontos nos quais a recompensa maior e a menor se equivalem, pelos atrasos. De fato, há indiferença pelo grau de esforço e custo envolvidos, e pela baixa probabilidade de conseqüências negativas. A atua ção em situação de aplicação, para redução da impulsividade, incluiria informação sobre o ambiente e conseqüência da esco lha e treino de comportamentos alternativos. Kerbauy, em uma série de experimentos, com orientandos e alunos de graduação e pós-graduação, sobre as possibilida des que a situação de espera da recompensa preferida, no es tudo de autocontrole, encontrou que uma das dificuldades é a escolha de reforçadores. Observando os comportamentos du rante a espera, em situação experimental, 12 crianças amazonenses de 6,1 anos a 6,7 anos, que estudavam em esco la, encontrou dificuldades na escolha entre comestíveis de pre ferência, Bis e Sonho de Valsa (Kerbauy, 1981). Após a escolha e determinação da preferência, o experimentador embaralhava os reforçadores com as mãos atrás das costas, recolocando-os na mesma posição ou trocados. Acrescentava: "Você prefere o ..." 35 (especificava-se a preferida). Em caso de inconsistência nessas escolhas sucessivas, o experimentador, após cinco tentativas, modificava a pergunta para "Qual você quer ganhar?" Duas cri anças que não esperaram pela recompensa escolhida, em cinco tentativas, após o termino do experimento, foram reconduzidos a situação de escolha de reforçadores. Trocou-se o Bis por wafle, para ser um chocolate e uma bolacha. Uma criança esperou e a outra não. Após inúmeras ocorrências como essas, com recom pensas comestíveis ou brinquedos, optou-se por trabalhar nos experimentos subseqüentes com 3 e 6 balas; somente a quan tidade diferia. Se a criança não gostava de balas, não era parti cipante da pesquisa. Com os dados obtidos com crianças de várias escolas e Estados, foi possível verificar que a situação de espera por recompensa escolhida em situação controlada possibilita ve rificar comportamentos que as crianças apresentam para pre encher a lacuna de tempo. Kerbauy e Buzzo (1991) verificaram se a espera por recompensa escolhida dependia do conhecimento da situa ção, do treino anterior em autocontrole ou se a situação ex perimental favorecia a aprendizagem de esperar por recom pensa maior. Com 27 crianças selecionadas no fichário da escola, de 6,7 anos a 7,10 anos, 13 dos participantes foram entrevistados previamente e considerou-se como tendo contacto prévio com o experimentador. Metade dos partici pantes tinha a recompensa visível e a outra metade escondi da, colocada em uma caixa que impedia a visão. Os resultados mostraram que os grupos não diferiam entre si por conhecer previamente o experimentador, ou por ter a recompensa visível ou escondida. Os participantes
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