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Coordenadores: Arnaldo Rizzardo Filho Christiane Baladão Autores: Arnaldo Rizzardo Filho Christiane Baladão Cristiane de Mello Mascarenhas Eduarda Jade Stumer Santos Eduardo Teixeira Farah Eva Motta Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto Laura Schroder Feijó Matheus da Silva Pitaméia Rosângela Souza de Souza Sandy Danielle da Silva Fernandes Vitor Luís Botton Vitória de Bona CADERNO DE RESUMOS DO GRUPO DE ESTUDO REDES CONTRATUAIS Porto Alegre, 2021 Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil Todos os direitos reservados Coordenadores Arnaldo Rizzardo Filho Christiane Baladão Jovita Cristina Garcia dos Santos – CRB 10ª/1517 A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos assinados, são de responsabilidade dos seus autores. Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS C129 Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais [recurso eletrônico]. /Arnaldo Rizzardo Filho, Christiane Baladão. (Coord). -Porto Alegre: OABRS, 2021. 95p. ISBN: 978-65-88371-17-6 1. Contratos. 2. Redes contratuais. I. Rizzardo Filho, Arnando. II. Baladão, Christiane. III. Escola Superior de Advocacia/OABRS. CDU: 347.44 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 5 TEORIA ORGANIZACIONAL .............................................................................................. 7 CHRISTIANE BALADÃO ...................................................................................................... 7 EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 10 FÁTIMA CABELEIRA ALMEIDA ZUCCHETTO .................................................................... 15 VITOR LUÍS BOTTON ....................................................................................................... 20 EVA MOTTA .................................................................................................................... 24 CRISTIANE DE MELLO MASCARENHAS............................................................................ 29 ECONOMIA ..................................................................................................................... 33 LAURA SCHROEDER FEIJÓ ............................................................................................... 33 ROSÂNGELA SOUZA DE SOUZA ....................................................................................... 36 EVA MOTTA .................................................................................................................... 41 EDUARDO TEIXEIRA FARAH ............................................................................................ 45 MATHEUS DA SILVA PITAMÉIA ....................................................................................... 52 DIREITO ........................................................................................................................... 55 EDUARDA JADE STUMER SANTOS .................................................................................. 55 LAURA SCHROEDER FEIJÓ ............................................................................................... 64 SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 70 SOCIOLOGIA ................................................................................................................... 75 ARNALDO RIZZARDO FILHO ............................................................................................ 75 SANDY DANIELLE DA SILVA FERNANDES ........................................................................ 80 VITÓRIA DE BONA ........................................................................................................... 91 Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 5 APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO DE 2021 – 1º SEMESTRE O Grupo de Estudos de Redes Contratuais na Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção Rio Grande do Sul começou seus encontros no segundo semestre de 2021, com o intuito de estudar o fenômeno da organização contratual em formato de rede. No Grupo participam pesquisadores, profissionais da área do direito, estudantes de graduação e pós graduação. A partir do Curso de Redes Contratuais (quarta edição ocorreu em 2021) e do número considerável de inscritos, e tendo em vista as discussões realizadas nas aulas, mostrou-se necessário a continuidade mais aprofundada dos temas multidisciplinares do Curso, que abrange Teoria Organizacional (Administração de Empresas), Sociologia, Economia e Direito. Os interessados e o coordenador organizaram seminários e discutiram as primeiras teses e estudos sobre a origem das redes, as motivações, as justificativas de décadas atrás e que estão em consenso com o tempo atual, o conceito das redes, a diversidade da terminologia (redes de cooperação, redes interorganizacionais, redes de negócios, redes contratuais), a compreensão de ferramenta de estratégia, as formas de constituição/construção, os mecanismos de gestão e de governança, dentre outros temas que são de relevância para o Direito. O Grupo busca a interseccionalidade entre as mais diversas teorias de diversas ciências que tratam das redes contratuais. Entendemos que o Direito, ou melhor, os operadores do Direito devem parar, respirar, observar a sociedade científica em sua volta, e entender que existem sentidos congruentes em diversas perspectivas sociais. Deve-se tirar a venda dos olhos de Themis, afinal de contas, ninguém sabe ao certo porque lhe vendaram. A cada encontro realizado, integrantes do Grupo apresentaram textos e construíram resumo dos mesmos. Esses resumos são aqui apresentados para Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 6 aqueles que trabalham ou estudam as redes possam, de forma célere, pesquisar temas correlatos de seu interesse. Este caderno, portanto, almeja ser apenas um “catálogo de resumos”, interdisciplinar, de literaturas que tratam das redes, para que sirva de apoio ao início de uma compreensão mais profunda sobre as redes contratuais, tanto em termos profissionais quanto em termos acadêmicos. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 7 TEORIA ORGANIZACIONAL Christiane Baladão1 BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato; REYES JUNIOR, Edgar. O campo de estudo sobre redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Revista de Administração Contemporânea, v. 14, p. 458-477, 2010. “A sociedade se constitui real ou formalmente a partir de indivíduos associais, que devem ser “socializados”, isto é, constrangidos pela inculcação de representações normativas a se comportarem de um modo determinado” Eduardo Viveiros de Castro - A inconstância da alma selvagem Resumo: O paper contempla a compreensão sobre o texto “O Campo de Estudo sobre Redes de Cooperação Interorganizacional no Brasil” datado de 2010 que, com a aplicação de metodologia comparativa ao artigo “Networking Network Studies: An 1 Graduada em Direito pela PUC/RS, especialista em Direito e Processo do Trabalhoe Especialista em Gestão de Tributos e Planejamento Tributário pela PUC/RS. Co-criadora do “Projeto Empodera”, que visa compartilhar conteúdo e conexões parae Analysis of Conceptual Configurations in the Study of Inter-organizational Relationships”, de Amalya L. Oliver and Mark Ebers datado de 1998, para reconhecer comportamentos, semelhanças, vínculos, identidades nas redes de cooperação interorganizacional no Brasil. Aldeia pelos Terena de Buriti tem o sentido de uma rede dinâmica de relações sociais, histórica e espacialmente definidas dentro de um mesmo território. E como aldeia, as redes de cooperação tem a capacidade de “facilitar a realização de ações conjuntas e a transação de recurso para alcançar objetivos organizacionais”. Artigos científicos são instrumentos pelos quais o autor, em análise, promove a discussão, apresenta determinado tema e, por meio de métodos aplicados e resultados, submete a comunidade científica a disseminação de determinado conhecimento. E a partir destes artigos, o autor trouxe fotografias, cenários com descritivo de tempo, de participantes e do contexto, pois deste conhecimento entre empreendedoras. Staff e colaboradora na produção do AFRO'NTALK'S, um talk show de entrevistas com afroempreendedores, para inspirar e valorizar, um ato de representatividade e de celebração. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 8 disseminado foi possível identificarmos que, no Brasil, os seus indivíduos/atores exercem o que predispostos estão geneticamente: à vida social, pois possuem harmonia de interesses em decorrência da falta, de uma comum falta, de uma restrição da qual estes indivíduos/atores não possuem. O que antecede a rede é a dor. Os estudos mostram que as redes são iniciadas a partir da escassez do mercado específico, da falta de mão de obra qualificada, da insuficiência de recursos básicos, como uma matéria prima específica. A partir dessa constatação de não haver e em igualdade de hierarquia, colhendo aprendizagem e inovação a partir dessa conexão, conexão esta devidamente elaborada, pensada, planejada, por grupos de organizações, com intenção de assim estarem, parte-se desta escassez para abundância, designados, nomeados, reconhecidos. E as vontades, que antecedentes seriam de escassez, durante as vantagens obtidas através das redes se sobressaem, em razão desse movimento coletivo, já que uma andorinha só não faz verão. Os conceitos e apontamentos, este conhecimento e esta descrição fotográfica das redes foram extraídos da predominância de determinadas correntes teóricas encontradas nas pesquisas sobre redes de cooperação entre organizações, bem como da tríade que estas redes são compostas. Tríade porque são identificados três elementos, três dimensões, três análises que são realizadas para se compreender as redes de cooperação: indivíduos/atores/antecedentes, grupos/relação(elo)/processo e as organizações/rede/resultados (ganhos das redes). A partir destes conceitos quanto à composição, cientificamente somos tendenciosos aos porquês, já que os materiais examinados visam, em sua maioria, a compreensão sobre as razões, os motivos, as vontades pelas quais as redes foram realizadas, dando ênfase aos grupos de organizações existentes, ou seja, prepondera-se os estudos sobre as motivações que levaram os indivíduos a se organizarem da forma que estão. É na perspectiva das razões pelas quais as redes são constituídas que as pesquisas são em sua maioria tendenciosas, bem como na intenção que há entre os atores, portanto, dentro da linha do tempo da rede, as redes de cooperação Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 9 interorganizacionais tem suas origens como foco. O porquê do sucesso, as razões de sucesso das redes, já que os estudos denotam que as redes de cooperação interorganizacional no Brasil possuem maior capacidade de resolução, de alcance dos objetivos pelos quais constituídas. E por essa busca pelas razões de êxito, a compreensão sobre as ações coletivas e a maneira em que foram mobilizadas para a obtenção do objetivo em comum, ou seja, a teoria sobre as estratégias das redes de cooperação, é comum na maioria das discussões. Não há o que estranhar, porque se os estudos em sua maioria estão vinculados as causas antecedentes, motivações e intenções das partes a se estabelecerem em rede, a estratégia é abordada com frequência, “em compreender as redes mais como estratégia das organizações para competirem”, competitividade, agora coletiva, impactando positivamente nas organizações. O texto destaca-se, ainda, a teoria institucional sobre as redes de cooperação, que trata da teoria quanto ao reconhecimento, quanto ao vínculo de dependência por pertencimento a determinada rede e a teoria dos custos de transação, que são frequentemente discutidas pelos autores científicos, bem como a teoria das redes sociais, laços sociais estabelecidos que poderão afetar a rede, afinal, somos a média das pessoas das quais nos conectamos. Pela natureza composta, interseccional e interdisciplinar a explicação do cenário das redes de cooperação no Brasil torna- se mais tangível a partir das principais correntes teóricas acima referidas, que não abarcam só uma linha de conhecimento por si só mas atestar o efetivo sucesso das redes, já que possível mensurar a capacidade das redes de converter os objetivos antecedentes, partindo-se de uma ideia de fenômeno. Fenômeno este amplamente estudado pela maioria das universidades do sul do país, cujos autores dos artigos estão vinculados a instituições de ensino que por um período estiveram engajadas no Programa Redes de Cooperação derivado de uma política pública estatal que implicou na criação de mais de 200 redes de cooperação. A parceira pública e privada nos anos 2000 proporcionou à pesquisadores, mestrandos e doutorando material consistente para compreensão sobre. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 10 Fenômeno ou aldeia, as redes de cooperação interorganizacional do Brasil ainda demandam de mais estudos científicos sobre a sua existência, principalmente atuais, diante da tecnologia, da internet das coisas, da inteligência artificial, que torna exponencial e em potencial rede, qualquer tipo de negócio. Eduarda Jade Stumer Santos2 TODEVA, Emanuela; KNOKE, David. Strategic alliances and models of collaboration. Management decision, 2005 INTRODUÇÃO A literatura internacional já reconheceu um número positivo de resultados para empresas ativamente engajadas em alianças estratégicas, tais como aumento no capital, retorno em investimentos e taxas maiores de sucesso quando comparadas com integração através de fusões e aquisições. Aspectos gerais da literatura sobre a aliança estratégica são: 2 Acadêmica de Direito na UFRGS, Pesquisadora em Direito Contratual Empresarial e - Elencar as competências do parceiro; - Pensar sobre o parceiro como o aliado do dia de hoje; - Compartilhar poder e recursos (compartilhar informação de forma inteligente); - Estruturar aliança estratégica de forma prudente. O artigo busca explicar a formação, implementação e consequências de alianças estratégicas entre atores autônomos no campo organizacional. As empresas colaboradoras experimentam o aumento da integração e formalização da governança de suas relações intraorganizacionais. Governança é a combinação de mecanismos de controle jurídico e social que visa coordenar e salvaguardar os recursosdos aliados, elencar responsabilidades operacionais e a dividir os retornos das atividades em conjunto. Uma aliança estratégica envolve no mínimo dois parceiros comerciais que: - Permanecem juridicamente independentes após a formação da aliança; Responsabilidade Civil na UFRGS, Assistente jurídica voluntária no SAJU na área de Direito Civil Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 11 - Compartilham os benefícios e controle gerencial da performance das tarefas estabelecidas; - Fazem constantes contribuições em uma ou mais áreas estratégicas como tecnologia ou produtos. A formação de relações em rede é intimamente ligada com a criação de normas que promovem confiança e reciprocidade econômica (social capital). Apesar de relações em rede e capital social serem conceitos próximos, não são idênticos. Relações em rede podem gerar um capital social corporativo na forma de prestígio organizacional, reputação, status e reconhecimento de marca. Alianças estratégicas como formas híbridas Quando uma restrição jurídica ou econômica impede uma empresa de usar hierarquia ou controle total como uma solução, esta pode vir a optar por entrar em uma aliança para contrariar certas forças do mercado que ameaçam seu bem-estar comercial. Alianças combinam os ativos e capacidades com as incertezas e responsabilidades de todas as partes. Cooperação efetiva requer comprometimento sério dos parceiros em não tirar vantagem do outro quando oportunidades surgem. Motivos estratégicos, intenções e escolhas Empresas apostam em alianças estratégicas por muitos motivos: para aumentar sua capacidade produtiva, para reduzir incertezas em suas estruturas internas e ambientes externos, para adquirir vantagens competitivas que permitam a o aumento do lucro ou ganhos em futuras oportunidades negociais que irão permitir que estes comandem valores de mercado mais altos na sua comercialização. Os motivos estratégicos pelos quais empresas embarcam na formação de alianças são vários: 1) Busca por mercado; 2) Aquisição de meios de distribuição; 3) Ganhar acesso a nova tecnologia; 4) Aprender e internalizar habilidades tácitas, coletivas e embutidas. 5) Conquistar integração vertical, recriar e estender conexões de fornecimento para ajuste às mudanças de mercado; 6) Diversificação em novos negócios; 7) Reestruturar e melhorar negócios; 8) Compartilhamento de custos e concentração de recursos; Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 12 9) Desenvolvimento de produtos, tecnologias e recursos; 10) Redução de riscos e diversificação de riscos; 11) Alcançar vantagem competitiva; 12) Cooperação de potenciais rivais ou pré-esvaziamento de concorrência; 13) Especialização conjunta; 14) Superação de barreiras legais e regulatórias; 15) legitimação, bandwagon effect (tendência das pessoas fazerem coisas porque outras pessoas também estão fazendo) e seguir tendências da indústria. A decisão de cooperar não é uma ação responsiva, mas fundamentalmente uma intenção estratégica que busca evoluir as circunstâncias futuras para cada empresa individual e para a sua relação de cooperação conjunta. As formas de aliança variam com a posição das empresas no mercado (líder e seguidora) e a importância estratégica de colaborações com o portfolio de trabalho de cada parceiro comercial (atividade principal ou subsidiária). As empresas tendem a proteger sua atividade principal e muitos estão dispostos a formar alianças envolvendo atividades secundárias que oferecem um mais amplo escopo do aprendizado organizacional e menos vulnerabilidade no compartilhamento de informação confidencial. A implementação de alianças estratégicas Os problemas da implementação de alianças incluem a escolha de mecanismos de governança: ressaltando a confiança e a reciprocidade entre os parceiros, gerenciando a integração de staffs de diferentes culturas organizacionais, resolver conflitos que surjam entre parceiros com expectativas divergentes sobre a contribuição para a sua colaboração etc. Contratação relacional Um contrato baseado na confiança (relational contract) contraria as incertezas associadas a envolvimento independente em negociações. As formas de governança relacional repousam nos diversos mecanismos de coordenação como normas recíprocas, confiança intraorganizacional e capital social enriquecido por muitas trocas e interações sociais. Contrato baseado na confiança abrange não somente termos não especificados e condições em contratos complexos e de prazo Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 13 indeterminado, mas também estratégias coletivas intraorganizacionais para eliminar rivalidade na tácita coordenação. Um problema central permanece sendo sobre a maneira de melhor balancear a interdependência e o controle com formas alternativas de governança nas alianças estratégicas. A governança se propõe a apresentar mecanismos particulares importantes para solução de conflitos e preservação da relação com parceiros. Gerenciamento da formação da aliança A fase de implementação geralmente requer que duas empresas autônomas: - Reúnam um pouco de recursos humanos e ativos materiais; - Desenvolvam uma estrutura de governança pratica com poder suficiente e controle; e - Aprendam a como cooperar para benefício mútuo. Prudente atenção deve se ter para selecionar o staff e líderes do projeto, criando uma estrutura formal subsidiária com seu próprio quadro de diretores e hierarquia de autoridade interna com porções igualitárias na divisão de participação e controle dos parceiros. Mesmo assim, a mais meticulosa salvaguarda contratual não providencia garantias suficientes para incertezas, ambiguidades e disputas que frequentemente surgem nas operações cotidianas. Gerar confiança entre os parceiros é crucial para superar as suspeitas iniciais do rival sobre uma possível parceria meramente oportunista. Desigualdades no poder organizacional indicadas por disparidades na contribuição de recursos e controladas por cada parceiro pode impedir a criação da confiança em razão da disparidade dos parceiros na capacidade em cumprir suas obrigações. Alianças iniciais entre parceiros sem experiência prévia frequentemente começam com relações contratuais formais que expõe os parceiros somente a riscos pequenos. A reincidência de alianças estratégicas entre parceiros experientes é mais prováveis de repousar em intraorganizacional confiança do que salvaguardas contra um potencial oportunismo do parceiro. Confiança e reciprocidade O papel das normas de confiança e da reciprocidade na fase de implementação da aliança é de sustentar o período de Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 14 teste requerido, que dura entre 6 e 18 meses, no qual os parceiros constroem estáveis e previsíveis estruturas para governar a sua colaboração, sendo uma institucionalização de implícitas e explícitas regras e procedimentos. Alcançando objetivos de aprendizagem Alianças estratégicas podem operar como canais institucionalizados para transferir e criar novas capacidades organizacionais. O aprendizado pode ocorrer pela exploração em que uma empresa absorve o know-how da outra ou pela experiência comum de parceiros na constância da implementação de acordos colaborativos. A primeira dinâmica de aprendizado traduz competição, enquanto a última traduz uma maior mutualidade e interdependência.Sucesso organizacional em alcançar objetivos de aprendizagem depende de diversas dimensões de conhecimento e estrutura organizacional como um efetivo processo de informação, aquisição da expertise do parceiro e adoção de inovações. Impactos das alianças nos parceiros Uma tarefa mais difícil é demonstrar que as alianças produzem substanciais resultados não financeiros como o aumento da credibilidade organizacional. Alianças estratégicas contribuem para melhora na performance de produção pelos parceiros. Os fatores cruciais não são o número de alianças formadas pelos parceiros, mas o recurso contributivo do perfil de cada parceiro. Tanto a inovação quanto os índices de venda aumentam substancialmente se uma empresa estiver mais conectada com parceiros ligados a inovação tecnológica e ricos em receita. Tais efeitos são especialmente importantes para empresas menores e mais jovens. Assim, empresas obtém vantagens do capital social corporativo do seu parceiro mesmo que a aliança estratégica falhe em atingir os objetivos formais estabelecidos. As percepções de satisfação da relação de parceria inicial e em toda sua extensão aumentaram com parceiros que tinham melhor reputação no gerenciamento de qualidade, com processo de decisão compartilhada; com semelhanças estratégicas entre ambos os parceiros. _______________________________________ Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 15 Fátima Cabeleira Almeida Zucchetto3 BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato; PERUCIA, Alexandre. A visão relacional da estratégia: evidências empíricas em redes de cooperação empresarial. BASE-Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, v. 11, n. 1, p. 47-58, 2014 Introdução A colaboração interorganizacional é uma realidade que atrai o interesse crescente nos estudos organizacionais. Tal crescimento é significativamente nutrido pela dinâmica colaborativa, social e tecnológica, o que estimula e propaga a prática de ações coletivas entre as organizações (Castells, 2000). Alianças estratégicas, supply chain, redes, joint ventures, distritos industriais, consórcios e associações são exemplos de configurações organizacionais surgidas como consequência desta dinâmica colaborativa. Partindo deste cenário crescente em que as organizações estão inseridas, novos estudos são necessários para o entendimento do processo competitivo entre as empresas, a partir da visão relacional, que observa a 3 Graduada em Direito e Comércio Exterior pela PUC MG, Pós-Graduada em Direito Notarial e Registral cooperação como meio para as organizações atingirem melhores resultados, diferentemente das premissas dominantes na área estrategista, preconizada por ações individualistas e de barganha dentro da cadeia mercadológica (Gause, 1934; Barney, 1991). Essa nova visão teórica traz consigo a necessidade de novas discussões acerca das afirmações consagradas no campo da estratégia. Segundo alguns autores (Child et al., 2005; Zaheer et al., 2010), o entendimento de entidades autônomas lutando, isoladamente, para sua sobrevivência no mercado, abre a possibilidade, no campo das estratégias coletivas, de uma cooperação mútua com foco no alcance de seus objetivos estratégicos (Ibarra e Hansen, 2011). Diante desse cenário, o estudo trazido pelo presente artigo desenvolve evidências teóricas e empíricas que permitem demonstrar a forma como algumas organizações têm conquistado vantagens competitivas por meio de práticas de cooperação. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 16 Assim, o artigo parte da teorização acerca de três perspectivas dominantes no campo da estratégica, quais sejam, estrutura da indústria, visão baseada em recursos e custos de transação. Exploram- se essas perspectivas sob a ótica relacional da estratégia. A visão dominante do campo da estratégia Estrutura da indústria O alcance da harmonia entre cooperação e estratégia, com base na visão dominante do campo da estratégia, apresenta certa dificuldade, haja vista o posicionamento doutrinário majoritário. Para Benkler (2011), a competição entre as empresas é elemento principal no campo da estratégia (Benkler, 2011). O princípio da exclusão competitiva trazido por Gause (1934) é base para muitas teorias dispostas acerca da perspectiva clássica de competição em matéria de estratégia. Este autor diz que uma espécie existente em um ambiente de igualdade deve excluir a concorrência e se posicionar como líder, do contrário, não sobreviverá. Partindo dessa premissa, diversos estudos surgiram baseados na visão dominante, mais precisamente, via três perspectivas, quais sejam: estrutura da indústria, visão baseada em recursos e custos de transação (Gulati et al, 2000). O maior expoente na década de 1980, Michael Porter, trouxe conceitos focados na estrutura da indústria e consolidou a ideia de que uma estratégia advém de análise sistemática da indústria ou seu segmento. A partir da observância das cinco forças competitivas (Porter, 1986), que são: (I) ameaça de novos entrantes; (II) poder de barganha dos fornecedores; (III) poder de barganha dos compradores; (IV) ameaça de produtos substitutos e (V) nível de rivalidade concorrencial, constatou-se a influência que estas exercem na formação de preços, custos e investimentos necessários às empresas. Com isto, quanto maior a rivalidade entre os concorrentes, menor a possibilidade de margens superiores de lucro (Porter, 1986). Visão baseada em recursos Na visão baseada em recursos, o foco está na administração dos recursos intangíveis ou exclusivos que uma empresa detém, trazendo para essa uma vantagem competitiva. Para Barney (1991), estes recursos devem possuir quatro propriedades a fim de proporcionar vantagem competitiva, que são: valor, Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 17 raridade, imperfeita imitabilidade e dificuldade de substituição, podendo ser divididas em três categorias: recursos físicos, recursos humanos e recursos organizacionais. Custos de transação A terceira perspectiva, conhecida como custos de transação, se dedica a entender o custo de produção de uma empresa. Apurando o custo, pode-se tomar decisões em relação à produção interna ou contratação no mercado. Largamente estudada, essa perspectiva foi abordada pela teoria econômica, que destacou duas formas de governança das atividades econômicas: mercado e hierarquia. Segundo Coase (1937), o meio mais eficiente para produção de determinado produto seria direcionar a produção de seus componentes às empresas especializadas, no entanto, essa não é a realidade de muitas empresas, uma vez que essa prática gera custos de transação (Williamsom, 1975). Sempre que uma empresa precisar definir e gerenciar suas transações com outra, haverá custo de transação, muitas vezes não tratados pelas empresas, seja na negociação e formalização de contratos, seja no gerenciamento de clientes. Com isto, a questão central na existência de custos de transação tem liame com a confiança nas relações interorganizacionais (Bachmann e Zaheer, 2008). Por fim, pode-se notar que as perspectivas dominantes no campo da estratégia, através da estrutura de indústria, da visão baseada em recursos e dos custos de transação, dizem respeito à busca da vantagem competitiva entre empresas, onde necessariamente deve existir um ganho de um lado e uma perda de outro (Axelrod, 1984). Assim, faz-se necessária uma compreensão teóricamais abrangente dos postulados essenciais das perspectivas dominantes, por meio de uma visão relacional, a fim de discutir possibilidades, como a existência de resultados positivos para ambos os lados da relação. A visão relacional da estratégia A partir da década de 1980, a visão relacional da estratégia surgiu com maior força. Direcionada às relações de estratégia de cooperação entre as organizações, a “visão relacional da estratégia” engloba uma quantidade de termos, como “estratégias coletivas”, Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 18 “cooperação empresarial” e “relações interorganizacionais”, entre outros, muitas vezes entendidos como sinônimos, porém, não podem ser confundidos (Cropper et al., 2008). A consolidação do conceito de estratégias coletivas foi fruto de estudos de Astley (1984) e de Astley e Fombrun (1983), que possibilitou entender que as estratégias das empresas não necessariamente devem acontecer por meio de ambientes competitivos, traçando várias alternativas de ações colaborativas de curta e longa duração. Astley (1984) identificou três visões organizacionais, resumidas em: “cavaleiro solitário” (empresa é pioneira e luta contra condições impostas), “orientação egocêntrica’ (empresa é autossuficiente e toma ações independentes) e “orientação militar da estratégia” (organizações vistas como inimigas, lutando em ambiente voraz a fim de conquistar posição estratégica no campo de batalha). Em oposição a essas visões, Astley (1984) idealiza a colaboração como conceito de negócios, convertendo o conceito de competição para o de cooperação, de única organização para grupo de organizações e de separação para união. No decorrer da década de 1980, surgiram novos estudos acerca da compreensão da visão relacional. Nalebuff e Brandenburger (1996), colocaram em discussão as consequências das estratégias competitivas e colaborativas, pois uma vez que a visão individualista e competitiva pode trazer perdas às organizações, como guerra de preços, a visão coletiva e colaborativa pode atrair oportunistas e competidores desleais, como o furto de segredos, por exemplo. As empresas devem conhecer os pontos positivos e negativos das estratégias individuais e coletivas para, então, tomar suas decisões com base no ambiente em que se inserem e as empresas participantes do negócio (Luo, 2004). Fornecedores e fabricantes dispostos a colaborar colherão maiores benefícios, uma vez que alcançarão maiores vendas e lucros, como no caso da Toyota e seus parceiros (Dyer e Nobeoka, 2000). Com o passar do tempo, ambientes dinâmicos dificultam a manutenção da propriedade ou o controle dos recursos valiosos. Assim, os estudos de Hall (1992, 1993) apontam que a cooperação é o caminho mais rápido para as empresas conquistarem recursos intangíveis em ambientes exigíveis em conhecimento. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 19 Powell (1998), destaca que a competitividade de uma empresa dependerá muito mais da habilidade em gerir e coordenar recursos junto a parceiros do que procurar dominar os recursos estratégicos. Conforme a visão relacional, a estratégia coletiva traz uma vasta fonte de recursos por meio de uma rede de acesso com valiosas informações, compartilhamento de conhecimento, investimentos específicos de relacionamento e efetiva governança. Com isto, a rede cria um recurso competitivo de difícil imitação, potencializando novas ações conjuntas de seus integrantes (Dyer e Singh, 1998); Gulati, 1999). Considerações finais Com base nas evidências constatadas nas iniciativas adotadas no Estado do Rio Grande do Sul, foi possível consolidar as teorias estudadas. Consoante ao exposto, a visão relacional de estratégia permite melhor entendimento das perspectivas de estrutura da indústria, da visão baseada em recursos e dos custos de transação. A colaboração entre clientes, fornecedores e concorrentes é impulsionada pelas redes interorganizacionais, via ações coletivas, promovendo o aprendizado mútuo, coespecialidade, escala e aumento dos ganhos individuais dos agentes envolvidos. A visão relacional de estratégias estudada no presente artigo infere alguns questionamentos, quais sejam: a abordagem da competição individual da empresa, baseada na estrutura da indústria, que sugere a possibilidade de alcançar maior competitividade partindo de ações coletivas (Jarillo, 1988; Dyer e Nobeoka, 2000). As estratégias coletivas auxiliam na visão baseada em recursos, uma vez que ativos construídos em conjunto também podem gerar estratégia competitiva eficiente (Hall, 1992, 1993; Powell, 1998). Ainda, a confiança pode permitir a redução de custos de transação, complementando a teoria dos custos de transação, conforme práticas nas redes do Rio Grande do Sul. _______________________________________ Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 20 Vitor Luís Botton4 ANTUNES, Junico; BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge. Práticas de gestão de redes de cooperação. São Leopoldo: Unisinos, 2010 Inicialmente, para fins de introdução, o livro aborda sobre um projeto realizado em conjunto pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, referente às redes de cooperação de empresas estudadas e do Grupo de Estudos em Relações Interorganizacionais (GeRedes). PARTE 1 – A gestão de redes de cooperação empresarial Capítulo 1 – Gestão de redes de cooperação empresarial O universo dos negócios está cada vez mais conectado à nível global, sendo assim, a ideia de redes de cooperação está embasada nos conceitos de cooperação e de rede, tendo por objetivo potencializar as organizações a responderem de forma mais eficaz as Graduado em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Frederico Westphalen/RS, Pós-Graduado em nível mudanças no ambiente e/ou no mercado, reduzindo incertezas associadas à diferentes operações. As redes de cooperação reúnem empreendimentos que possuem objetivos comuns. São dedicadas a desenvolver ganhos coletivos, sem que as empresas participantes venham a perder a sua autonomia de gestão. Assim, unem aspectos ligados a flexibilidade e agilidade, e aumentam a escala no mercado, priorizando a ideia de ganhos coletivos na cooperação em rede. É cediço que as pequenas empresas apresentam dificuldades de competição com empresas maiores, em razão de custos elevados de produção, pequena escala, desconhecimento de mercado, deficiência em tecnologia, capacitação, obtenção de crédito, entre outros. Desta forma, as redes de cooperação empresarial são uma ferramenta organizacional eficaz para a evolução das empresas, principalmente as de menor porte, eis que tem o poder de aumentar a competitividade para as empresas associadas, por meio de ações uniformizadas e padronizadas, que de Especialização em Direito Contratual pela Faculdade Cers, Mestrando do PPGDireito da Faculdade Meridional – IMED. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 21 possibilitam o ganho de escala relacionado com as várias formas de união entre as empresas, melhorando a sua fatia de participação no mercado, mantendo a ação flexível das empresas que constituem a rede, na qual cada membro mantém sua individualidade legal. Em linhas gerais, o processo de gestão é democrático, em que existe uma participaçãohorizontal e ativa entre as empresas envolvidas, abrindo espaço para a participação optativa dos membros nas decisões da rede. Ademais, a direção, formada por representantes dos próprios associados, assume as decisões operacionais e de controle. No entanto, nada impede que em redes mais maduras e de maior porte se profissionalize a gestão executiva da rede. Outrossim, os associados devem observar que a rede de cooperação deve ser percebida como uma “nova empresa”, e que um ponto essencial neste processo de gestão é que os ganhos gerados em conjunto pelas empresas integrantes sejam distribuídos da forma mais igualitária possível. A rede, como uma “nova empresa”, deve traçar objetivos e estratégica de longo prazo, baseada em elementos como: o valor da reputação; a interdependência dos recursos e das empresas; a complementaridade de recursos; a comunicação relacional; a busca permanente da flexibilidade; o comprometimento e a ênfase coletiva no planejamento nas ações; estratégia; o planejamento; a direção; e o staff. A ideia central para a formação de redes está no fato de que as relações de cooperação possam resultar em ganhos para todos os envolvidos, quais sejam: a possibilidade de ampliar a capacidade de ação de uma determinada empresa individual a partir de uma perspectiva coletiva; ganhos de escala e os ganhos relativos ao poder de mercado; geração de soluções coletivas que tende a permitir a geração e disponibilização de soluções a partir da rede na qual a empresa se insere; redução dos custos e riscos assumidos pelas empresas associadas; acúmulo de capital social, ganhos de aprendizagem coletiva. Deve-se destacar, ainda, a importância dos instrumentos de gestão das redes, que podem ser classificados em quatro grandes grupos: i) contratuais; ii) estratégicos; iii) decisão; e iv) interação. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 22 PARTE 2 - Práticas de Gestão de Redes Capítulo 1- Estratégia A estratégia é responsável por moldar o processo de desenvolvimento da rede, alinhando as necessidades de cada empresa associada aos objetivos coletivos mais amplos. Neste ponto, é importante a participação de todos os associados da rede na formulação das estratégias, eis que, sem estratégia, uma rede não consegue gerar a competitividade desejada por seus associados. É importante traçar e definir os objetivos globais, a missão e a análise dos ambientes interno e externo. Ainda é necessário adotar um padrão, que contribua a agilidade nos processos de marketing, negociação e expansão. Nas práticas em estratégia pode-se citar dois personagens de grande importância: o guardião do planejamento e o embaixador. Em algumas redes, o planejamento não é seguido na prática pelos associados. Neste caso, o papel do guardião tem grande importância, tendo em vista a complexidade de se acompanhar a execução eficaz do planejamento estratégico na rede. Destaca-se que o guardião trabalha no acompanhamento da execução do plano estratégico, podendo ser, inclusive, um dos associados, sendo visto como uma figura neutra no processo, o guardião pode fiscalizar e encorajar a participação de todos os atores envolvidos dentro de princípios de igualdade. No que tange ao alinhamento da empresa com a rede, tem-se a figura do “embaixador”, que, propositalmente, não está ligado à diretoria da empresa associada e sim ao quadro de funcionários, pois consciente da essência estratégica a ser conduzida na empresa, tem a habilidade de “falar” a língua de seus colegas (também funcionários) e de entender como tais estratégias-macro da rede, naturalmente de caráter mais abstrato, podem resultar em ações operacionais/práticas dentro da empresa. Sendo assim, a ideia do “guardião do planejamento estratégico”, faz com que os proprietários das empresas associadas atuem dentro das diretrizes traçadas na elaboração do planejamento estratégico. O “embaixador” atua no nível operacional das empresas, cumprindo um importante papel no alinhamento da estratégia da rede com a estratégia da empresa. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 23 Capítulo 2 – Coordenação A coordenação diminui os conflitos operacionais típicos da rotina de trabalho. Acordos e tratativas informais referentes às responsabilidades e deveres dos associados são de extrema importância para validar o disposto nos contratos das redes. Necessário, também, mecanismos que regulamentam, protegem e defendem a maioria dos associados. A cooperação reduz a rivalidade e comportamentos oportunistas entre aqueles que integram a rede, focando nos ganhos coletivos, tornando as empresas mais próximas e almejando os objetivos comuns. A aproximação entre os parceiros pode ser feita por meio de ações simples, como encontro regulares dos membros e interação com especialistas e lideranças, envolvendo o conjunto dos parceiros. Por outro lado, as atitudes não desejáveis praticadas por membros que integram a rede podem ser sanadas através de sanções, vez que previstas em um estatuto, ou em outros termos. Importante dar atenção especial a questões de gestão que identificam pontos de melhoria na rede, zelando pelo processo decisório democrático, que pode ser feita em dois passos. Em primeiro lugar ressalta-se a antecipação das necessidades e expectativas dos associados. Em um segundo lugar destaca-se a inserção de novos instrumentos de gestão. Para a implementação de novas práticas é interessante observar: 1) que a prática possa ser utilizada na maioria das redes; 2) que não necessite de investimentos financeiros significativos; 3) e que seja de fácil aplicação. Um exemplo dessas práticas foi a adoção de um “termômetro”, que consiste em uma ferramenta para capturar as ideias e as percepções dos associados, tendo em vista que os diretores das redes perceberam que recebiam muitas sugestões de ações e ideias durante o decorrer do ano, contudo, essas sugestões não eram formalizadas, e, no momento de definir as ações anuais, acabavam por perder as informações e ideias lançadas em outros momentos. O termômetro foi idealizado como ferramenta que permite ao gestor da rede sentir os interesses, preocupações e nível de comprometimento dos associados. Outro ponto importante na prática do termômetro é a de adotar contribuições dos associados de forma Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 24 sigilosa, tendo em vista que alguns membros das redes preferem opinar de forma anônima. Ademais, os autores do livro trouxeram questionamentos padrões das redes que mais se destacaram na pesquisa. Assim, em referência ao desempenho da rede, são formuladas questões considerando os seguintes pontos: a) a diretoria da rede buscou trabalhar as suas necessidades? b) a liderança da rede é aberta ao diálogo? c) sugestões de melhoria realizadas pelos associados foram implantadas por parte da diretoria? d) o processo decisório buscou equilibrar os interesses dos associados? Mais do que apenas um formulário a ser preenchido, o termômetro torna-se um momento periódico e formalizado em que todos os associados da rede têm seus espaços para se manifestar e posteriormente debater suas ideias. Desta forma, é criada uma cultura onde todos são ouvidos, tendo uma oportunidade que visa incentivar interações mais próximas e assim contribuir para a consolidação do 5Graduada em Direito pela Faculdade Meridional- IMED e graduada em Ciências Contábeis pela UFRGS. processo de coordenação de uma rede decooperação. Eva Motta5 WEGNER, Douglas; DURAYSKI, Juliana; DE SOUZA VERSCHOORE FILHO, Jorge Renato. Governança e eficácia de redes interorganizacionais: Comparação entre iniciativas brasileiras de redes de cooperação. Desenvolvimento em Questão, v. 15, n. 41, 2017 Governança e eficácia de redes interorganizacionais Como práticas gerenciais apontam os mecanismos de governança podem potencializar as iniciativas de cooperação em rede? Primeiro: pelo conceito de governança de rede utilizado pela Teoria dos Custos de Transação. A minimização dos custos é uma abordagem que pode ser considerada como uma transição entre a economia clássica e as novas configurações de organizações, sendo considerada uma possível explicação para a origem das redes organizacionais. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 25 Segundo: por estratégia. A governança é caracterizada como uma estrutura dos elementos de organização e coordenação internos das redes organizacionais para possibilitar as ações em conjunto. Regularizam práticas de gestão e de tomada de decisão, para garantir os interessados membros-coletividade que as normas estabelecidas sejam observadas por todos os envolvidos, gestores e participantes. Dentro da governança é de se exigir a atuação de todos de forma ética e transparente. É muito sensível esta prática, haja vista as diferenças culturais de cada associado. Quanto maior o número de componentes na rede, mais complicado se torna. Por isto, os instrumentos como Código de Ética, Estatuto, Regimento, e outras regulações existem para regrar e padronizar condutas e padrões operacionais. Em sua origem a eficácia era explicada apenas por fatores estruturais e contextuais, como a integração de rede, o controle externo e a estabilidade do sistema. Mais recentemente têm incluído outros fatores, como a sustentabilidade dos bons processos e o alcance dos objetivos almejados. Neste estudo, a eficácia é analisada no âmbito da rede ou “whole network”, e, para tanto, adotou- se a concepção de eficácia como os resultados proporcionados em termos de inovação, aprendizagem, redução de custos, soluções coletivas e legitimidade. Modos de governança de redes A doutrina apresenta três modos básicos de governança em rede, a partir dos quais podem surgir combinações e modelos híbridos: Governança compartilhada: é o mais simples. Trabalha-se coletivamente como uma rede, mas não possui estrutura administrativa formal e exclusiva. Os próprios membros de rede tomam todas as decisões e gerenciam as atividades da parceria. Governança com organização líder: ocorre em relacionamentos verticais, de cliente-fornecedor, nos quais há uma organização maior e mais poderosa. O modelo também pode ocorrer em redes horizontais multilaterais, quando uma organização possui recursos suficientes e legitimidade para exercer uma posição de liderança e governança por meio de uma organização administrativa da rede. Organização Administrativa da Rede (OAR): surge em razão da ineficiência das redes com governança compartilhada e Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 26 dos problemas de dominação e resistência das redes com organizações líderes. Uma entidade/equipe administrativa separada é criada especificamente para gerenciar a rede e suas atividades, visando coordenar e sustentar a rede. A gestão de uma rede neste modo tende a ser mais eficiente, especialmente quando comparada com a governança compartilhada, que pode se tornar extremamente complexa quando o número de participantes. Mecanismos de governança Determinam as regras de funcionamento e influenciam nas relações dos integrantes da rede. Podem estimular ou reduzir a interação e a motivação para seguir as estratégias coletivas. A observância desses mecanismos influencia na legitimidade interna e externa das decisões, a agilidade da rede nas tomadas de decisão e sua capacidade na definição e execução de estratégias. A seguir as três dimensões de governança destacadas na literatura, e que servem de base à pesquisa empírica: - Centralização das decisões: refere-se ao loocus (que dominam centralizam) das tomadas de decisão na rede e a autonomia concedida pelos membros aos gestores para tomar decisões. A centralização é uma equipe, um grupo com autonomia, que tem a responsabilidade pela tomada de decisões e definir estratégias dentro da rede empresarial. Quanto mais membros em uma rede, maior a divergência de opiniões sobre temas específicos, tais como metas ou estratégias. A imprecisão e as discussões excessivas sobre questões específicas podem afetar negativamente o funcionamento da rede; - Formalização: refere-se ao nível de formalização de procedimento e regras, incluindo respostas predefinidas para diversas situações. A formalização é o grau em que os procedimentos e as regras são explicitamente formulados para governar as atividades. Ela funciona como um mecanismo de coordenação que reflete o modo como o controle é suportado. A formalização oferece respostas predefinidas para várias situações, reduzindo a possibilidade de múltiplas interpretações de como atuar e diminuindo o potencial de tensão entre os membros. Com o crescimento do número de membros da rede, um aumento do nível de formalização facilita a compreensão de como a rede funciona Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 27 e como os membros devem agir, e atua como um facilitador de ações coletivas para a rede. Quando todas as firmas realizam as ações previstas e as regras coletivas são cumpridas, um impacto positivo sobre a eficácia das empresas é mais provável de ocorrer; - Especialização: refere-se à existência de equipes e gestores especializados, que contribuam para a realização das atividades da rede. A dimensão especialização da governança refere-se a posições específicas dentro das firmas parceiras dedicadas à relação interorganizacional, com o objetivo de desempenhar tarefas relacionadas à aliança. No caso de redes de cooperação, a especialização refere-se também à existência de equipes e gestores especializados dentro da rede, objetivando a eficácia de funções e a contribuição para a realização das atividades propostas pela rede. Um maior nível de especialização em termos de equipes e grupos responsáveis por tarefas específicas pode facilitar a eficácia das atividades coletivas, quando comparado a uma rede em que as responsabilidades estejam concentradas em uma ou poucas equipes de trabalho. Procedimentos metodológicos O estudo teve como objetivo comparar mecanismos de governança de redes de cooperação que proporcionaram distintos níveis de eficácia às iniciativas. Primeira Fase: análise quantitativa em 50 redes de cooperação no sul do Brasil. Essas redes foram segmentadas, por tempo existência, por segmento de operação e número de associados. Foi elaborado um questionário de sete perguntas com base nos resultados das redes e as respostas de eficácia foram medida pelos pesquisadores especialistas em redes, numa escala de cinco pontos, variando de 1 (baixa eficácia) e 5 (alta eficácia). Posteriormente foram dispostas num ranking das 5 redes que apresentaram maiores eficácia e 5 redes que apresentaram menores eficácia. Apresentação e análise de resultados - Quanto ao modo de governança: redes com maior nível de eficácia utilizaram o modo de governança por Organização Administrativa de Red. Redes com menor nível de eficácia organizam-se por meio de um modo de governança compartilhada;Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 28 - Quanto a centralização das decisões: redes com maiores níveis de eficácia optaram pela centralização das decisões por equipes, sem necessidade de consulta aos demais, resultando em maior agilidade e eficiência. Todas utilizam sistemas informatizados para se comunicarem (intranet, chat e e-mails). Uma delas está investindo software para melhorar os contatos online, reuniões virtuais, compras em conjunto, votação eletrônica para facilitar as decisões. Redes com menores níveis de eficácia demoram mais para tomar decisões porque optaram pela forma colegiada. Assim, depende do consenso, prática torna mais lenta e demorada as decisões, prejudicando a eficácia. Seria a mais legitima; - Quanto à especialização: uma rede consegue ser mais eficiente com maior potencial de eficácia se adotar conselhos ou equipes especializadas, que assumem diferentes tarefas, proporcionando agilidade e fazendo com que muitos processos ocorram simultaneamente na rede; Formalização Em linhas gerais, as redes com menores níveis de ganhos não possuem processos descritos e registrados; as com maiores níveis de eficácia possuem normas/regulamentos que são seguidas por todos os integrantes da rede. Discussão de resultados. Modo de governança mecanismos de governança - Redes com maior eficácia: organizadas por meio Organização Administrativa de Redes. Maior número de membros. Operacionalização a cargo de consultores e gestores. Centralização nas decisões, maior formalização das atividades e maior especialização. Os empresários se envolvem na gestão estratégica. Garante ações coletivas. - Redes com menor eficácia: governança compartilhada. Alta legitimidade interna. Depende da participação de todos para funcionar. Dificuldade envolvimento de todos os membros ocasionando lentidão para a tomada decisão. Burocracia. Não tem comitês e especialização. - Todas possuem código de ética, estatuto, regimento. Redes centralizadas para serem eficazes exigem maior formalização. Podem possuir equipes e conselhos especializados que fiscalizam a aderência da regulação. As redes com menor eficácia, em regra, não possuem Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 29 equipes e comitês, e apresentam lentidão nos processos e pouco envolvimento das pessoas para pensar a rede de forma estratégica. Conclui-se: O número de membros da Rede é que determinará a configuração mais adequada de Governança. O melhor modo é Organização Administrativa da Rede. É indispensável numa Rede com muitos membros. O investimento é o ponto crítico na adoção do modo de governança OAR, com gestores e consultores contratados. A centralização é importante para o processo decisório como forma de evitar excesso de discussões e travar a Rede. Inter-relação dos três mecanismos analisados: - Centralização implica maior formalização para garantir a disseminação de informações e padrões desejados; - Especialização contribui para maior envolvimento dos membros; - Os resultados da pesquisa oferecem importante suporte na configuração da Governança das Redes. 6Graduada em direito pela UFPEL, advogada inscrita na OAB/RS 49.849. Demonstraram-se as práticas de Governança de maior eficácia e de menor eficácia. Cristiane de Mello Mascarenhas6 WEGNER, Douglas. Redes, alianças e parcerias: ferramentas e práticas para a gestão da cooperação empresarial. Porto Alegre: Exclamação,2020 Capítulo 1 - Redes, alianças e parcerias: formas de cooperação empresarial Neste primeiro capítulo o autor analisa o contexto econômico do momento, no qual a cooperação entre empresas alcançou níveis elevados de desenvolvimento e com grande importância socioeconômica, especialmente na Alemanha e na Espanha, e com olhar nessa experiência consolidada aponta caminhos para evolução das redes brasileiras. Na Alemanha, cujos primeiros modelos de cooperação remontam ao século XIX, a cooperação apresenta o mais alto nível de desenvolvimento e importância socioeconômica. Atualmente, mais de Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 30 230.000 empresas do varejo participam de 310 redes de empresas, em 45 ramos de atividade e geram 2,4 milhões de empregos, o que representa um volume anual de 490 bilhões de euros em negócios. As redes alemãs estão organizadas e são representadas por uma entidade nacional, a Federação Alemã de Redes e Centrais de Negócios, denominada Mittelstandsverbund, que defende os interesses gerais das redes, sugerindo políticas públicas de apoio às pequenas empresas, oferecendo serviços de suporte e desenvolvimento de projetos de inovação voltados para seus membros. No Brasil, a cooperação é bem mais recente, surgiu como resposta dos pequenos empreendimentos às dificuldades decorrentes da abertura de mercado iniciada na década de 1990, que possibilitou a entrada de grandes empresas internacionais e a cooperação possibilitou às pequenas empresas competirem ou concorreram com os grandes conglomerados. O autor estima que existiam aproximadamente 1.000 redes de empresas e centrais de negócios em atividade no Brasil (SEBRAE, 2016). As redes alemãs que inicialmente eram simples centrais de compras (no início do século XX), passaram a centrais de serviços e, recentemente, para redes informacionais, com alta integração e interdependência dos participantes, de tal forma integradas que muitas vezes se apresentam, ao mercado como uma empresa única, embora legalmente se mantenham independentes. - Exemplo de Rede de empresas bem- sucedida na Alemanha A rede ANWR (Ariston-Nord-West-Ring), resultou da fusão de várias redes de empresas independentes do ramo de calçados e materiais esportivos e atualmente atua como uma holding, que controla empresas prestadoras de serviços, dois bancos e três redes de caráter cooperativo às quais os varejistas estão vinculados. - Organização da Rede O sucesso de redes com número expressivo de participantes depende em grande parte da eficiência e eficácia da sua governança e gestão. A rede ANWR tem gestão profissional, com gestores contratados e que tem autonomia para decidir sobre assuntos Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 31 estratégicos. No entendimento do presidente da ANWR, uma governança realizada pelos próprios empresários da rede dificulta o desenvolvimento da rede, pois não seria possível que o gestor dedicasse o tempo necessário se forma simultânea para a sua empresa e para a rede; e ainda, o gestor representa também seus próprios interesses. A gestão profissional protege os interesses da rede e evita que um empresário e ao mesmo tempo gestor, se empenhe mais em seus próprios interesses do que nos coletivos. - Outras formas de cooperação Além das redes de empresas, outras formas de cooperação também despontam como alternativas estratégicas para alcançar objetivos diversos, dentre elas, se destacam, as alianças, parcerias, redes de suprimentos, projetos temporários e redes de inovação, que se diferenciam umas das outras em razão do grau de centralização das decisões, dos mecanismos de coordenação utilizados e ainda conforme os elos da cadeia produtiva em que atuam as organizações envolvidas. A seguir, serão apresentadas quatro categorias amplas de redes de empresas e acordos de cooperação. 1) Alianças estratégicas e redes multiparceiros: As alianças estratégicassão caracterizadas pelo objetivo comum entre duas organizações que colaboram entre si por período determinado ou indefinido para alcançar esse objetivo. Só pode ser considerada estratégica, a aliança que se forme com o objetivo de trazer vantagens para pelo menos um dos parceiros. Quando a parceria se forma entre mais de duas organizações, tem-se as redes multiparceiros. Outros modelos de cooperação podem ser identificados quando se analisa o grau de formalização entre os parceiros, destacando-se as alianças informais e as alianças contratuais. Há também um tipo de aliança em que os parceiros investem recursos financeiros e se tornam acionistas minoritários uns dos outros e outro, quando os parceiros formam uma nova organização que atuara de forma independente, a qual denomina-se de joint-venture. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 32 As redes ainda podem ser classificadas em redes horizontais e verticais, confirme o ramo de atuação dos parceiros que formam a rede. Nas redes horizontais, os integrantes atuam no mesmo elo da cadeira produtiva, por exemplo, redes formadas por fábricas de móveis, já nas redes verticais, as organizações atuam em elos diferentes da cadeia produtiva. 2) Redes de Suprimento e redes globais de produção Rede de suprimento é aquela formada por vários parceiros que atuam como fornecedores de insumos ou serviços necessários à elaboração de um produto final. Em geral nesse tipo de cooperação, a empresa produtora, atua como coordenadora das demais integrantes da cadeia de suprimentos. Quando as redes de suprimento atuam em diversos países, ocorre a formação de redes globais de produção. As redes de suprimento podem ser classificadas em três tipos principais, de acordo com o grau de coordenação: Mercados; Governança Ativa, Relacional e Modular. 3) Redes de Inovação e projetos colaborativos temporários Redes de Inovação se caracterizam pela coordenação entre três ou mais empresas ou organizações independentes que buscam atingir objetivo comum relacionado à inovação, por exemplo, para acelerar o desenvolvimento de novos produtos. Os projetos colaborativos temporários, gênero do qual as redes de inovação são espécie, se caracterizam pela temporalidade da relação, pois se formam para um objetivo específico e ao atingi-lo são desfeitas ou remodeladas, citando-se como exemplo, um projeto de pesquisa. 4) Clusters de Negócios Clusters são “concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e companhias correlatas. Estas podem ser, por exemplo, fornecedoras de insumos especiais – componentes, máquinas, serviços – ou provedoras de infraestrutura especializada” (Porter, 1999, in Redes, alianças e parcerias: ferramentas e práticas para a gestão da cooperação empresarial). Exemplo: Vale Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 33 do Silício, Polo Vitivinícola da Serra Gaúcha. Síntese: o guarda-chuva de redes e formas de cooperação As empresas vêm utilizando uma grande variedade de modelos cooperativos como meio para melhorar a sua competitividade e alcançar resultados planejados, contudo, essa variedade de tipos de redes e alianças pode ser agrupada em duas categorias amplas, ou seja, os modelos baseados na cooperação vertical, dentre os quais se destacam as redes de suprimento, redes de fornecimento e as franquias e os modelos baseados na cooperação horizontal, dos quais vale destacar os consórcios, as redes multiparceiros e as alianças estratégicas. A organização e funcionamento das redes depende de diversos fatores, como a concentração geográfica dos integrantes, formalidade da relação, concentração do poder e o nível de cooperação, e esses fatores são fundamentais na governança da rede. Assim, o funcionamento de uma rede e a sua capacidade de alcançar os 7Bacharela laureada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. resultados coletivos estabelecidos estão diretamente ligados à capacidade dos participantes de equilibrarem esses fatores. ECONOMIA Laura Schroeder Feijó7 SILVA, Lucas Emanuel da; FARIAS, Tácito Augusto. UMA REVISITA A RONALD H. COASE. RDE-Revista de Desenvolvimento Econômico, v. 3, n. 35, 2017 A obra em análise pretende revisitar as contribuições de Ronald Coase para a Teoria Econômica por meio do exame dos fundamentos das suas principais ideias e do contexto em que foram desenvolvidas em comparação com a evolução das Ciências Econômicas. Em descrição à conjuntura, vale referir ter sido Ronald Coase um importante economista inglês do século XX, laureado com o prêmio Nobel de Economia de 1991 por mérito, especialmente, da elaboração da teoria dos custos de transação e da teoria da firma, que ganharam destaque com seus Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 34 artigos “The Nature of the Firm”, em 1937, e “The Problem of Social Cost”, em 1960. O seu interesse quanto às diferentes organizações das firmas, sobretudo os processos de integração vertical, resultou na construção das teorias da firma e do custo de transação, publicada no artigo “The Nature of the Firm”, em 1937. Esse estudo, ao tratar as firmas como um fenômeno econômico – buscando entender (i) por que as firmas existem e (ii) do que depende o seu tamanho – impulsionou a superação do entendimento de que a empresa seria mera abstração que combina insumos a fim de maximizar juros. Considerando o entendimento de Adam Smith sobre a capacidade de coordenação da economia pelo sistema de preços (“The Wealth of Nations”, em 1776), Ronald Coase identificou que o papel da firma no mercado não poderia ser a alocação de recursos, já que o mercado já fazia isso perfeitamente bem, mas sim o de administrar os recursos internamente, evitando os custos de se recorrer ao sistema de preços. Dessa percepção se originou a teoria do custo de transação, segundo a qual Ronald Coase afirma que usar do mercado – isto é, do sistema de preços – para transacionar implica em custos como os de formular contratos, levantar preços, colher informações necessárias, conduzir negociações, inspecionar produtos, resolver possíveis conflitos, entre outros. Nesse sentido, em resposta à indagação (i), o autor identifica o sentido da existência das firmas sempre que for mais rentável manter sua estrutura de administração interna de recursos do que enfrentar os custos de transação impostos pelo mercado, e, à indagação (ii), Ronald Coase percebe que o crescimento da organização ocorre até que a realização de uma transação extra dentro da firma custe o mesmo de realizá- la no mercado, sendo aspectos importantes, é claro, os custos transacionais da firma e do mercado, o número de transações da firma, a quantidade e o tamanho de erros cometidos pelo empresário nas transações e o preço do fornecimento de fatores de produção para empresas de maior porte. Outro marco do autor foi a criação do chamado Teorema de Coase, que consistiu na análise de externalidades a partir da relação entre custos e direitos de propriedade no artigo The Problem of Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 35 Social Cost, em 1960, como crítica à visão de Arthur Pigou de que o governo deveria intervir, mediante tributação ou legislação específica, a fim de restringir os agentes econômicos responsáveis pela geração de externalidades negativas. Ronald Coase conseguiu demonstrara simetria do problema da externalidade, uma vez que evitar um agente econômico de produzir prejuízos a outros significaria causar prejuízos ao primeiro. Nessa perspectiva, o que se deveria evitar seria o prejuízo mais grave, considerado o efeito total, não apenas o marginal. Seguindo essa lógica, Ronald Coase percebeu a relevância da definição dos direitos de propriedade e os impactos do sistema jurídico sobre o sistema econômico. Inicialmente, ele constatou que, quando os direitos de propriedade estão desde o começo bem definidos e não existem custos de transação, a solução da barganha será sempre do Ótimo de Pareto (conceito que designa um estado em que os recursos estão alocados da maneira mais eficiente possível, de tal forma que é impossível melhorar a posição de um agente sem piorar outro), independentemente de como estivessem distribuídos inicialmente os direitos entre as partes, caso em que a intervenção governamental seria desnecessária. Por outro lado, havendo custos de transação, a distribuição inicial dos direitos de propriedade é estabelecida pela legislação vigente, a qual é determinante para a produção ou não da máxima economia, caso em que, de fato, a intervenção governamental geraria consequências e poderia até mesmo reduzir os custos de transação, especialmente se definisse – para além de um sistema de direitos disponíveis, que podem ser modificados por decisão das partes – regras indisponíveis sobre as transações. Posto isso, cumpre mencionar, para mais, que as contribuições de que trata o artigo analisado sobre a vida e carreira de Ronald Coase vão além do espectro puramente teórico que envolveu a criação das inovadoras e vultuosas teorias dos custos da transação e da firma. Suas ideias formataram e deram peso e reconhecimento à Nova Economia Institucional, conferiram maior realismo e impulsionaram pesquisas no ramo da organização industrial e abriram espaço para o que viria ser o “Law and Economics”, bem como proporcionaram instrumentos para que sucessores e Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 36 críticos aprimorassem suas observações – como Williamson, ao determinar níveis dos custos de transação e propor estruturas de governança, e Douglass North, ao constatar a multidimensionalidade dos direitos de propriedade e a consequente impossibilidade da sua definição prévia com exatidão. _______________________________________ AMBIENTE INSTITUCIONAL E DESENVOLVIMENTO Rosângela Souza de Souza8 FIANI, Ronaldo. Arranjos institucionais e desenvolvimento: o papel da coordenação em estruturas híbridas. Texto para Discussão, 2013 Instituições são as regras – formais e informais – que regulam as interações sociais, na definição já clássica de Davis e North (1971, p. 6). O Estado natural que, segundo North, Wallis e Weingast (2009, p. 38), é uma coalizão fechada entre as elites para a partilha de benefícios, a restrição ao desenvolvimento de 8Graduada em Direito pela PUCRS, Pós- Graduação em Gestão Pública Municipal UFRGS, Pós- Graduação em Direito Público ULBRA Canoas. organizações e ao comércio, é necessária para garantir a geração e distribuição de benefícios entre as elites, de forma a sustentar a aliança que domina o Estado. Da mesma forma, todas as relações entre os membros do Estado são fortemente pessoais. De uma forma geral, a opção da literatura tem sido rotular as sociedades de acordo com os seus princípios básicos como “democracias” e “não democracias”. Não obstante o entusiasmo da literatura mais recente acerca do papel das instituições na economia pela pesquisa das consequências da democracia para o desenvolvimento, esta literatura não se motivou a discutir mais a fundo o conceito de democracia de Dahl, preferindo elaborar seus próprios conceitos. O mais sofisticado é o conceito de Ordem de Acesso Aberto, de North, Wallis e Weingast (2009). Uma breve consideração sobre instituições políticas Cumpre reconhecer que, não obstante a importância das políticas na promoção do desenvolvimento, as instituições desempenham também papel significativo, podendo obstaculizar a Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 37 implementação de políticas desenvolvimentistas. Isso se torna particularmente problemático no caso em que as regras institucionais devem propiciar uma participação adequada de agentes privados em arranjos institucionais. Arranjos institucionais e desenvolvimento A definição de arranjo institucional foi estabelecida de forma pioneira por Davis e North (1971). Um arranjo institucional seria, de acordo com Davis e North (op. cit., p. 7), o conjunto de regras que governa a forma pela qual agentes econômicos podem cooperar e/ou competir. Arranjos institucionais são regras que definem a forma particular como se coordena um conjunto específico de atividades econômicas em uma sociedade (Fiani, 2011, p. 4). Uma primeira divisão ocorre entre as abordagens que privilegiam o papel do ambiente institucional na economia, seja das regras gerais que governam o setor público (na teoria da escolha pública) ou o setor privado (teoria dos direitos de propriedade), seja das abordagens que estudam os arranjos institucionais. Entre estas últimas, tem-se novamente uma divisão: de um lado, há teorias que adotam um levantamento completo, ou seja, que supõem que as dificuldades contratuais podem ser solucionadas antes do desenvolvimento contratual, desde que as provisões contratuais adequadas (na forma de incentivos para alinhar as preferências do agente com o principal) sejam adotadas. Por outro lado, a teoria dos custos de transação apresenta o mesmo enfoque nos arranjos institucionais; porém, em vez de supor que é possível solucionar antecipadamente os conflitos que podem surgir, admite que em circunstâncias de elevada complexidade e incerteza podem ocorrer pois, dada a racionalidade limitada dos agentes, os contratos tendem a ser incompletos. Em presença de ambientes complexos e de elevada incerteza, dada a mesma racionalidade limitada dos agentes, os contratos são geralmente incompletos. Isso não apresenta maiores problemas se for possível substituir a contraparte na transação, pois neste caso a pressão competitiva entre as partes inibirá qualquer atuação oportunista, que é a manipulação de assimetrias de informação com o objetivo de realizar ganhos indevidos. Caderno de resumos do grupo de estudo redes contratuais 38 Assim, se os ativos envolvidos forem específicos e vincularem as partes, para que a transação possa ser preservada, é preciso constituir um arranjo institucional que promova adaptações e ajustes entre as partes ex post (Oliver Williamson e Claude Ménard) Custos de transação e arranjos institucionais De uma forma geral, um arranjo institucional especifica quais são os agentes habilitados a realizar uma determinada transação, o objeto (ou os objetos) da transação e as formas de interações entre os agentes, no desenvolvimento da transação, estando o arranjo sujeito aos parâmetros mais gerais do ambiente institucional. O mercado é um tipo de arranjo institucional em que as partes podem substituir livremente e a qualquer momento sua contraparte na transação, uma vez que o ativo transacionado não guarda qualquer especificidade, e assim não existe qualquer vínculo entre comprador e vendedor. O mercado que opera essencialmente por meio de incentivos é o lugar por excelência da adaptação autônoma. Mas antes
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