Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
burguesia industrial e setores da classe trabalhadora urbana. Para isso era preciso formar uma elite mais extensa e intelectualmente melhor preparada. O Estado tomou a si a tarefa, de forma a criar um sistema educativo a partir do centro. A primeira medida com esse propósito foi a criação do Ministério da Educação e Saúde, em novembro de 1930, sendo então baixado um decreto que procurava estabelecer as bases do sistema universitário, assim como também se deu início à implantação do ensino secundário no país. Começava aí aquilo que, ainda hoje, o governo federal tenta superar, ou seja, as disputas sobre quais segmentos do sistema priorizar, incentivando a integração dos diversos níveis de ensino (fundamental, médio e superior) e de suas respectivas esferas executivas (municipal, estadual e federal). Outra disputa presente àquela época era quanto à laicidade e gratuidade, ou não, do ensino. O Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, lançado em março de 1933, é representativo dessas disputas (no fundo, uma disputa de classe), sendo, ainda hoje, um texto incluído nos debates entre os educadores brasileiros, tal é a pertinência das análises e das propostas apresentadas. OLHANDO DE PERTO Os pioneiros propunham o princípio da escola única, segundo o qual a escola deveria ser pública, gratuita, laica, aberta a meninos e meninas de sete a quinze anos, onde todos teriam uma educação igual e comum. Além disso, defendiam a ampla autonomia técnica, administrativa e econômica do sistema escolar de modo a livrá-lo das pressões de interesses particularistas e transitórios, propondo um plano educativo que não fosse uniforme para todo o país, embora assentado em um currículo mínimo comum. Diante da grande diversidade cultural da sociedade brasileira e em face das características geográficas de nosso território, os manifestantes propunham que a escola fosse plástica o suficiente para conter todo esse pluralismo. Como era de se esperar, o governo de Getúlio Vargas não incorporou as ideias dos educadores liberais expressas no referido manifesto. Dentre eles, apenas Lourenço Filho permaneceu em posto de mando, sendo os demais marginalizados ou perseguidos, como foi o caso de Anísio Teixeira. A reprodução do capital com base na indústria exige o ensino técnico, obviamente, e assim surgiu o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), destinado ao ensino profissional do menor operário, sendo subordinado ao Ministério da Educação e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria. Em janeiro de 1942, um decreto-lei instituiu a Lei Orgânica do Ensino Industrial, com o objetivo de preparar mão de obra fabril qualificada. A qualificação do trabalhador é uma questão ainda em pauta nos dias atuais, trazendo consigo a persistência histórica do analfabetismo de nosso povo e as indeterminações do lugar, do significado e da função do ensino médio na política educacional brasileira. Em outras palavras, a persistência dessa questão implica em que também persiste a existência de dois tipos de educação, digamos assim, aquela destinada às elites, para as quais são oferecidos o ensino médio e o ensino superior, e aquela destinada às classes populares, para quais são oferecidos o ensino fundamental e o ensino profissional. Sabemos que essa pauta vem se arrastando ao longo dos anos de construção de nossa república, até hoje, variando 59
Compartilhar