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Vulnerabilidade devida ao pequeno tamanho populacional CONBIO Carla Morsello Plano de aula ⚫ Por que populações pequenas são vulneráveis à extinção mesmo que controlemos as ameaças humanas? ⚫ Fatores determinísticos e aleatórios ⚫ Aleatoriedade: demográfica, ambiental e genética – Deriva gênica e consequências O problema ou o paradigma das populações pequenas O que é o paradigma das populações pequenas? ⚫ A extinção final de uma espécie é um evento probabilístico: pode ou não ocorrer ⚫ Quando o tamanho populacional é muito pequeno, a influência do simples acaso predomina no destino da espécie sobre outras ameaças Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC http://globedia.com/apuestas-deportivas-cuarta-entrega https://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ https://youtu.be/E3a88_SjJR0 https://youtu.be/E3a88_SjJR0 Exemplo: nosso amigo Kakapo o Era muito abundante o Em1977: população (conhecida) era de 3 indivíduos; reproduzem a cada 4 anos (= fruto rimu) o Probabilidade de 0,25 da próxima geração ser de um sexo só o Mas de fato nasceram somente machos e a única fêmea morreu (efeitos do acaso) o Teria sido extinto, mas foram encontrados em outra ilha Por que populações pequenas são mais suscetíveis à extinção? Submetidas a processos: ✓ Determinísticos ✓ Aleatórios Objetivo de hoje: entender a importância dos fatores aleatórios Vamos iniciar com os conceitos básicos Quais fatores/ processos / variáveis que determinam o tamanho de uma população humana em determinado local? Pensem em um país ou cidade Tamanho populacional Taxa Natalidade Taxa Mortalidade Imigrações Emigrações (-) (+) Determinísticos Exploração direta Perda/ fragmentação e transformação de hábitat Invasão de espécies exóticas Aleatórios Genéticos Demográficos Ambientais Tais taxas são afetadas por fatores Fatores Determinísticos resultados são sempre iguais, qualquer que seja o número de ocorrências 1. Efeito da caça sobre as antas → sempre diminui o número de antas, nunca aumenta 2. Efeito do fogo sobre certa comunidade vegetal: espécies não adaptadas serão sempre afetadas negativamente Tamanho populacional Taxa Natalidade Taxa Mortalidade Imigrações Emigrações (-) (+) Determinísticos Exploração direta (e.g., caça, coleta, pesca) Tamanho populacional Taxa Natalidade Taxa Mortalidade Imigrações Emigrações Determinísticos Fragmentação/ Subdivisão de hábitat Tamanho populacional Taxa Natalidade Taxa Mortalidade Imigrações Emigrações Fatores Aleatórios/ Estocásticos resultados variam ao acaso, mesmo com repetições e condições equivalentes 1. Como o lançamento de um dado → podemos calcular a probabilidade de ocorrer (mas não podemos ter certeza) 2. Probabilidade de nascer fêmea = 50%, mas podem nascer todos machos Fatores aleatórios dependem do tamanho efetivo populacional Tamanho efetivo populacional → Número de indivíduos de determinada população que efetivamente contribui com descendentes para a geração seguinte → É igual ao tamaho populacional: só em populações panmíticas (cruzamentos ao acaso sem restrições) Tamanho efetivo populacional (TEP) TEP quase sempre menor que o tamanho populacional Características comportamentais, reprodutivas etc reduzem o TEP Variabilidade genética está associada ao TEP Vários processos e fatores podem afetar o TEP TAMANHO EFETIVO POPULA- CIONAL Variação/ Flutuação na reprodução Populações estruturadas espacialmente Potencial de dispersão Razão entre número machos e fêmeas Flutuações populacionais Exemplo de como se calcula o TEP Utilizando a razão entre ♂ e ♀: igual ou diferente Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (6♂/6♀) Tamanho efetivo # de fêmeas reprodutivas na população Ne = 4(Nm x Nf) Nm + Nf # machos reprodutivos na população Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (6♂/6♀) Tamanho efetivo # de fêmeas reprodutivas na população Ne = 4(6 x 6) = 12 6 + 6 # machos reprodutivos na população Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (10♂/2♀) Tamanho efetivo # de fêmeas reprodutivas na população Ne = 4(10 x 2) = 6,666 10 + 2 # machos reprodutivos na população Significa dizer que uma população de 12 indivíduos com 10 machos reprodutivos e 2 fêmeas reprodutivas perderá variabilidade genética tão rapidamente quanto uma população de 6,6 indivíduos Determinísticos Exploração direta Perda/ fragmentação e transformação de hábitat Invasão de espécies exóticas Aleatórios Genéticos Demográficos Ambientais Taxas afetadas por fatores Aleatoriedade Aleatoriedade Genética Deriva genética/gênica Perda de alelos raros Depressão endogâmica Depressão exogâmica Aleatoriedade Demográfica Taxas de natalidade e mortalidade Aleatoriedade Ambiental3 1 2 Aleatoriedade demográfica ⚫ Variação aleatória na taxa de crescimento populacional (e, consequentemente, no tamanho populacional) ⚫ Causada pelo sucesso variável dos indivíduos na reprodução ⚫ Ocorre em populações de todos os tamanhos, mas efeito é aumentado em populações pequenas. 1 Aleatoriedade demográfica Estado ideal: – Taxa nascimento = Taxa mortalidade População é relativamente estável (capacidade de carga) Populações pequenas – Flutuações aleatórias – Taxa nascimento > Tx mortalidade Aleatoriedade demográfica Estado ideal: – Taxa nascimento = Taxa mortalidade População é relativamente estável (Cap. Carga do ambiente) Populações pequenas – Flutuações aleatórias – Taxa nascimento < Taxa mortalidade Ambas devido a flutuações aleatórias: populacionais, na razão sexual etc Aleatoriedade Aleatoriedade Genética Deriva genética/gênica Perda de alelos raros Depressão endogâmica Depressão exogâmica Aleatoriedade Demográfica Taxas de natalidade e mortalidade Aleatoriedade Ambiental3 1 2 Aleatoriedade Ambiental Flutuações aleatórias nas condições ambientais de uma espécie o Climáticas: chuvas, temperatura o Catástrofes naturais: enchentes, queimadas o Taxas de predação ou competição: flutuações em outras espécies Aleatoriedade ambiental: Ex. Pandas o Pandas dependem de bambus o Florescimento de bambus é periódico (longo tempo) e aleatório no espaço o Taxa de crescimento populacional é afetada→ problemas em especial porque população é pequena Aleatoriedade Aleatoriedade Genética Deriva genética/gênica Perda de alelos raros Depressão endogâmica Depressão exogâmica Aleatoriedade Demográfica Taxas de natalidade e mortalidade Aleatoriedade Ambiental3 1 2 O que é deriva genética? Derivar é “ir para qualquer lado” Mudança/variação aleatória na frequência gênica a cada geração Ao acaso, alguns genes não são retransmitidos à próxima geração Em pequenas populações → efeito aumentado Frequência mudou pelo simples acaso Cálculo da variação na variação da frequência gênica a cada geração ΔF= variação na frequência gênica Ne = Tamanho Efetivo Populacional eN F 2 1 = Quanto menor o tamanho efetivo, maior a variação na frequência gênica Substituindo População = 50 indivíduos ½ x 50= 1/100=1% Perde 1% de heterozigose Importante! ✓A deriva é um fenômeno natural e que não afeta apenas populações pequenas → mas tem efeito exacerbado nessas (mostrado na fórmula) Casos extremos de deriva genética em populações pequenas Efeito gargalo Efeito fundador Alguns casos Efeitos negativos da deriva genética para a conservação estão associados aos efeitos destes casos extremos. Ne TEMPO Recuperação Declínio abrupto Gargalo Efeito gargalo (Bottleneck) : Ocorre quando há uma redução drástica no TEP Características genéticas diferentes Gens amarelos e azuis(proporção igual) População drasticamente reduzida→ apenas alguns amarelos presentes População descendente → freqüência gênica diferente da original Efeito Gargalo (Bottleneck) Efeito gargalo ✓ Efeito gargalo equivale a retirar uma pequena amostra de genes de uma população ✓ Perda de variabilidade genética ✓ Qualitativa: alelos específicos (raros) → perde funções ✓ Quantitativa: reduz heterozigose ✓ Importante: ✓ Populações pequenas estão sujeitas ao efeito gargalo a cada geração ✓ Efeitos da perda da diversidade genética são, portanto, cumulativos (Fonte: Clegg et al. 2002) Guepardo Sofreram gargalo no Pleistoceno (~6.000- 20.000) Fator humano ou ambiental? São 97% semelhantes (> ratos de laboratório) Mais suscetíveis (Fonte: Menotti-Raymond & O’Brien, 1993) Efeito Fundador: Forma particular de gargalo Composição genética entre população parental e população fundada pode variar População tem alelo mutante (Aa) com frequência baixa Efeito fundador Leões do Ngorogoro Efeito fundador na cratera População isolada: pouca diversidade genética → problemas de saúde, reprodutivos, mal formações Em 1962: efeito gargalo por doença → restaram de 10-15 animais (9♀ e 1♂?) Chegada de ♂ em 1964 Tanzania (Fonte: Packer et al., 1991) Conseqüências da Deriva genética Perda de alelos raros Perda de capacidade evolutiva Depressão endogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”, capacidade de gerar descendentes férteis) Depressão exogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”) e de adaptabilidade 1 2 3 Perda de alelos raros Maior probabilidade de perder alelos raros (baixa frequência) por deriva genética (efeito gargalo e fundador) B é alelo raro Problema Perda de heterozigose → menor vigor Manifestação de alelos recessivos deletérios 1 Importância da perda de alelos raros para uma espécie Curto prazo: Perda menos importante em ambientes estáveis e favoráveis Longo prazo: Alelos podem ser cruciais à adaptabilidade a mudanças ambientais Conseqüências da Deriva genética Perda de alelos raros Perda de capacidade evolutiva Depressão endogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”, capacidade de gerar descendentes férteis) Depressão exogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”) e de adaptabilidade 1 2 3 Down, July 17, 1870 Meu Querido Lubbock, ...Na Inglaterra e em muitas partes da Europa, os casamentos entre primos são contestados devido às supostas consequências prejudiciais: no entanto, essa crença não se baseia em nenhuma evidência direta. Portanto, é extremamente desejável que a crença seja ou refutada por ser falsa, ou confirmada, para que, neste último caso, os casamentos entre primos possam ser desencorajados... Além disso, é também desejável que a veracidade da afirmação frequentemente repetida de que casamentos consanguíneos levam à surdez, mudez, cegueira, etc., seja checada. Todas essas afirmações poderiam ser facilmente testadas pelos dados de um único censo. Sinceramente seu, Charles Darwin Depressão endogâmica: conhecimento é anterior à genética 2 Depressão endogâmica? Entre parentes ⚫ Alelos recessivos, alguns com efeito deletério, existem na população, mascarados por alelo dominantes ⚫ Em populações pequenas se manifestam→ duplos recessivos Doente, inviável etc Aa AA Adaptações para evitar cruzamento entre parentes próximos ⚫ Humanos: leis, preconceito, cultura ⚫ Espécies têm adaptações que evitam endogamia: – Plantas: ex. pólen incompatível (química; temporal) – Animais: migração, dispersão ⚫ Pequenas populações→ mecanismos não funcionam – Leões do Ngorogoro: doenças, malformações – Criação doméstica de animais – Conservação ex situ: zoológicos, criadouros, Jd. Botânicos Conseqüências da Deriva genética Perda de alelos raros Perda de capacidade evolutiva Depressão endogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”, capacidade de gerar descendentes férteis) Depressão exogâmica Redução de vigor Reprodutivo (“Fitness”) e de adaptabilidade 1 2 3 Depressão exogâmica Exogamia: ⚫ é o cruzamento com indivíduos distantes (não parentes) ⚫ Lado bom: aumenta a heterozigose ⚫ Mas, quando distância é extrema, pode diminuir vigor (“fitness”) para as condições locais Depressão exogâmica: ⚫ É o fenômeno de redução do vigor dos descendentes para determinada localidade por causa da exogamia extrema. 3 O que causa a depressão exogâmica? ⚫ Cruzamento entre pares muito diferentes geneticamente: – ≠s subespécies – ≠s populações (ex., realocações, zoológicos) – extremos geográficos da mesma população ⚫ Composição gênica determina: – Pouco adaptada ao local (termos fisiológicos, comportamentais ou ecológicos) – Prole estéril ou pouco fértil Como ocorre a depressão exogâmica? Três formas mais comuns, duas exemplificadas a seguir Hibridização ⚫ Cruzamento entre espécies diferentes ⚫ Descendentes geralmente inférteis, mas nem sempre totalmente Serval com gato doméstico Combinação de genomas adaptados a contextos diferentes Tamanho corpóreo difere Adaptado à floresta (pigmeu) Adaptado à savana X Tamanho médio, não é adaptado a nenhum dos ambientes Depressão exogâmica é comum? ⚫ Rara e menos problemática que a depressão endogâmica ⚫ Na conservação ex situ (reprodução em cativeiro) passa a ser importante ⚫ Mais comum em espécies vegetais do que animais Referências ⚫ Clegg, S.M., S.M. Degnan, J. Kikkawa, et al (2002). Genetic consequences of sequential founder events by an island-colonizing bird. PNAS 99:8127-8132 ⚫ Kliman, R., Sheehy, B. & Schultz, J. (2008) Genetic Drift and Effective Population Size. Nature Education 1(3):3. ⚫ Lande, R. (1993) Risks of Population Extinction from Demographic and Environmental Stochasticity and Random Catastrophes. The American Naturalist, 142(6): 911-927 ⚫ Menotti-Raymond,M; O'Brien, S. J. (1993). Dating the genetic bottleneck of the African cheetah. Proc Natl Acad Sci U S A. April 15; 90(8): 3172–3176. ⚫ Ouborg NJ. (2010) Integrating population genetics and conservation biology in the era of genomics. Biology Letters, 6(1):3-6. ⚫ Packer, C., Pusey, A. E., Rowley, H., Gilbert, D. A., Martenson, J., & O’Brien, S. J. (1991). Case study of a population bottleneck: lions of the Ngorongoro Crater. Conservation Biology, 5(2), 219-230. Slide 1 Slide 2: Plano de aula Slide 3: O problema ou o paradigma das populações pequenas Slide 4: O que é o paradigma das populações pequenas? Slide 5 Slide 6: Exemplo: nosso amigo Kakapo Slide 7: Por que populações pequenas são mais suscetíveis à extinção? Slide 8: Vamos iniciar com os conceitos básicos Slide 9: Quais fatores/ processos / variáveis que determinam o tamanho de uma população humana em determinado local? Pensem em um país ou cidade Slide 10 Slide 11: Tais taxas são afetadas por fatores Slide 12: Fatores Determinísticos resultados são sempre iguais, qualquer que seja o número de ocorrências Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16: Fatores Aleatórios/ Estocásticos resultados variam ao acaso, mesmo com repetições e condições equivalentes Slide 17: Fatores aleatórios dependem do tamanho efetivo populacional Slide 18: Tamanho efetivo populacional Slide 19: Tamanho efetivo populacional (TEP) Slide 20: Vários processos e fatores podem afetar o TEP Slide 21 Slide 22: Exemplo de como se calcula o TEP Slide 23: Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (6♂/6♀) Slide 24: Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (6♂/6♀) Slide 25: Como a razão sexual (♂/♀) determina o tamanho efetivo populacional? Para população de 12 indivíduos (10♂/2♀) Slide 26: Significa dizer que uma população de 12 indivíduos com 10 machos reprodutivos e 2 fêmeas reprodutivas perderá variabilidadegenética tão rapidamente quanto uma população de 6,6 indivíduos Slide 27: Taxas afetadas por fatores Slide 28 Slide 29: Aleatoriedade demográfica Slide 30: Aleatoriedade demográfica Slide 31: Aleatoriedade demográfica Slide 32 Slide 34: Aleatoriedade Ambiental Flutuações aleatórias nas condições ambientais de uma espécie Slide 35: Aleatoriedade ambiental: Ex. Pandas Slide 36 Slide 37: O que é deriva genética? Derivar é “ir para qualquer lado” Slide 38 Slide 39: Cálculo da variação na variação da frequência gênica a cada geração Slide 40: Importante! Slide 41: Casos extremos de deriva genética em populações pequenas Slide 42: Efeito gargalo (Bottleneck) : Ocorre quando há uma redução drástica no TEP Slide 43 Slide 44: Efeito gargalo Slide 45: Guepardo Slide 47: Efeito Fundador: Forma particular de gargalo Slide 48 Slide 49: Leões do Ngorogoro Slide 50 Slide 51: Perda de alelos raros Slide 52: Importância da perda de alelos raros para uma espécie Slide 53 Slide 55: Depressão endogâmica: conhecimento é anterior à genética Slide 56: Depressão endogâmica? Entre parentes Slide 57: Adaptações para evitar cruzamento entre parentes próximos Slide 59 Slide 60: Depressão exogâmica Slide 61: O que causa a depressão exogâmica? Slide 62: Como ocorre a depressão exogâmica? Slide 63: Hibridização Slide 64: Combinação de genomas adaptados a contextos diferentes Slide 66: Depressão exogâmica é comum? Slide 67: Referências
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