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RESUMO SOBRE AS ESPÉCIES DE NORMATIVAS JURÍDICAS Elaborado por Prof. Dr. Paulo Roberto Cunha, consultando várias fontes (@prof.paulorobertocunha) EMENDAS À CONSTITUIÇÃO (EC) (art. 60, CF/1988) O que é? - As ECs “são fruto do trabalho do poder constituinte derivado reformador, por meio do qual se altera o trabalho do poder constituinte originário, pelo acréscimo, modificação ou supressão de normas”; o poder do constituinte originário é juridicamente ilimitado, enquanto que o poder constituinte derivado submete-se a algumas limitações, como as limitações expressas ou explícitas (formais ou procedimentais, circunstanciais e materiais) e das implícitas. O instrumento para essa modificação é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que se aprovada, caso haja perfeita adequação aos limites indicados, concretiza em uma EC, que incorporar-se-á ao texto originário, tendo, portanto, força normativa de Constituição (LENZA, 2022, p. 680). Quem pode propor uma emenda à Constituição - PEC? (art. 60, I, II, III) - um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (I, art. 60); - Presidente da República (II, art. 60); - mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação (dos 26 Estados-membros e mais a Câmara Legislativa do Distrito Federal), manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros (III, art. 60). (Obs.: maioria relativa ou maioria simples são denominações que equivalem a situação em que o total dos votos é mais da metade dos membros das casas). Como é a tramitação da proposta de EC? - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros (§ 2º, art. 60). - A EC será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e após isso, a emenda ingressará na ordem constitucional, com a mesma hierarquia que os dispositivos constitucionais originários (§ 3º, art. 60). - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa (§ 5º, art. 60). - As circunstâncias sobre iniciativa e quórum de aprovação (art. 60, I, II, III, e §§ 2.º, 3.º e 5.º) são as limitações formais ou procedimentais (LENZA, 2022, p. 681). Quando a Constituição não pode ser emendada? - na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (§ 1º, art. 60). - São as limitações circunstanciais da EC (LENZA, 2022, p. 681). Não será objeto de deliberação a proposta de EC tendente a abolir: (§ 4º, art. 60) I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. - São as limitações materiais da EC (LENZA, 2022, p. 681). Observações: - Tratados que versam sobre direitos humanos se incorporam na ordem jurídica internas como EC, conforme dispõe a EC 45/2004. LEIS COMPLEMENTARES (LC) (art. 59, § único, da CF/1988) As LC visam complementar a Constituição Federal. Também é possível LC Estaduais para complementar Constituições Estaduais. O objetivo dessa norma é elucidar e especificar certos assuntos e princípios constitucionais, visando sua efetiva aplicação. Há discussões doutrinárias sobre hierarquia de LC em relação às Leis Ordinárias (LO), uns entendem que a LC é hierarquicamente superior a LO, porque a LC tem maior rigidez para aprovação outros defendem pela ausência de hierarquia. O art. 59, parágrafo único da CF/1988 diz que LC “disporá sobre a elaboração, redação e alteração e consolidação das leis”. A matéria que necessita de LC deve se encontrar expresso no texto da CF, caso contrário, não é a LC que será usada, mas a LO. Em outras palavras, é a CF/1988 que diz que determinada matéria deve ser elucidada por LC (e, portanto, não por LO). Por exemplo: o art. 23, parágrafo único fala da necessidade de LC para cooperação administrativa entre os entes federados, daí surgiu a LC 140/2011, que fixa normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição e à preservação das florestas, da fauna e da flora. Tratados que versam sobre direitos humanos se incorporam na ordem jurídica internas como EC, conforme dispõe a EC 45/2004. A iniciativa de LCs cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, conforme as regras dos parágrafos do at. 61, da CF/1988. APROVAÇÃO LEGISLATIVA: Para aprovação, a LC exige maioria absoluta das duas Casas para a aprovação e votação em dois turnos. Maioria absoluta é a exceção (a regra é sempre a maioria simples, que é a maioria dos presentes nas sessões), portanto é a CF/1988 que dirá quando é necessária a utilização da maioria absoluta. A maioria absoluta é um numero fixo, ou seja, é o primeiro número inteiro acima da metade dos membros da Casa Legislativa, mas trata-se da metade dos membros, ou seja, mesmo quem não for, conta. Exemplos: a) Câmara dos Deputados Federais conta com 513 membros e a maioria absoluta será sempre de 257 votos; b) No Senado, são 81 senadoras, por isso a maioria absoluta será sempre de 41 senadores. Ressalta-se que não há manifestação legislativa sem que ao menos a maioria absoluta de votos se faça presente na sessão. LEIS ORDINÁRIAS (LO) As Leis Ordinárias (LO) são votadas pelo Congresso Nacional em sua atividade comum e elementar. Segundo Paulo e Alexandrino (2008, p. 489) a LO é o ato legislativo típico, primário e original, devendo veicular somente normas gerais e abstratas, muito embora na prática, normas individuais e concretas tenham sido objeto de LO. Os mesmos autores explicam que a LO não pode ser usada em situações que a CF/1988 prevê outro tipo de norma, como as matérias sujeitas a decreto legislativo, lei complementar, etc. A iniciativa de LOs cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, conforme as regras dos parágrafos do at. 61, da CF/1988. APROVAÇÃO LEGISLATIVA: Para aprovação, a LO exige maioria simples e votação em um único turno em cada uma da Casas. A maioria simples ou relativa de voto é a regra de toda deliberação legislativa no Congresso Nacional (art. 47, CF/1988: Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.). Então, a maioria simples sempre é variável, porque depende do número de parlamentares presentes naquela sessão. Mas é preciso que haja um quórum mínimo de presentes, que corresponde a maioria absoluta (257 deputados e 41 senadores). Então a aprovação de um projeto de LO se dará pela maioria simples (primeiro número inteiro após a metade) dos presentes na sessão, sendo que na Câmara é preciso que, pelo menos, 257 deputados estejam presentes, e no Senado 41 senadores no mínimo. MEDIDA PROVISÓRIA A medida provisória é um ato legislativo do presidente da República e, assim, pode ser considerada uma lei em sentido lato. A CF/1988, ao afirmar que cabe ao Congresso convertê-la em lei, refere-se à lei formal. A medida provisória tem todos os atributos de uma lei: generalidade e imperatividade (dirige-se indistintamente para todos os cidadãos, impondo uma conduta obrigatória para quem estiver no seu campo de incidência), autorizamento (o lesado pela violação da norma pode exigir seu cumprimento ou reparação de dano) e permanência(perdura até ser revogada por outra lei) (VACCHIANO, 2007, p. 487). Em outras palavras, Medida provisória é um diploma legal criado pela CF/1988, que sucedeu o antigo decreto-lei da Carta de 1967 (MORAES, 2001, p. 544). É de competência privativa do presidente da República, por meio do qual exerce o poder excepcional de legislar, e tem por finalidade resolver provisória e extraordinariamente situações de relevância e urgência, até que seja ratificada ou rejeitada em definitivo pelo Congresso Nacional. Os pressupostos indispensáveis de relevância da matéria e da urgência da prestação legislativa são conceitos jurídicos abstratos, expostos, inicialmente, à avaliação discricionária do presidente. Posteriormente, esse juízo discricionário é submetido ao Legislativo, podendo ser objeto de controle do Judiciário nos casos de excesso de poder e manifesto abuso institucional. A medida provisória é um ato que tem força de lei e seus efeitos entram imediatamente em vigor após sua edição (BRASIL, 1988, art. 62; BRASIL-STF, 2008). Pela EC nº 32/2001, a tramitação da medida provisória passou a ser separada na Câmara e no Senado, precedida de uma análise sobre o preenchimento de seus requisitos legais, feita por uma comissão mista parlamentar das duas Casas. As reedições foram proibidas e estabeleceu-se que essa norma perderia eficácia se o Legislativo não a convertesse em lei num prazo de 60 dias (prorrogáveis por mais 60 dias). Institui-se que, se a medida provisória ainda estivesse tramitando após o lapso de 60 dias, os trabalhos do plenário da Casa seriam paralisados, condição essa que possibilitou ao Executivo determinar a pauta e o funcionamento do Congresso. LEI DELEGADA (LD) (art. 68, da CF/1988) É um ato normativo do chefe do Executivo Federal. É, pois, o exercício de função atípica do presidente da República para legislar, sob autorização do Congresso Nacional (é o presidente da República que faz a solicitação ao Parlamento). O Congresso, por intermédio de uma resolução, autoriza o presidente da República a legislar sobre determinado tema, com limites dados pela própria resolução, sem os requisitos de relevância e urgência previstos para a medida provisória. É uma exceção ao princípio da indelegabilidade de atribuições entre Poderes. Mas alguns atos são realmente indelegáveis. Com o abuso na edição de medidas provisórias, caiu em desuso. DECRETO LEGISLATIVO (art. 49, da CF/1988) O Decreto Legislativo é uma espécie normativa que tem por objetivo dispor de matéria de competência exclusiva do Congresso nacional (arts. 49 e 52, CF/1988). Seus efeitos externos servem de suporte para interrupção de atos normativos emanados do Poder Executivo que exorbitam do poder de legislar. APROVAÇÃO LEGISLATIVA: Os projetos de DL devem ser discutidos e votados em ambas Casas do Congresso Nacional e no caso de aprovação serão promulgados pelo presidente do Senado Federal, que determinara a publicação. Não haverá participação do presidente de Republica, inexistindo, por consequência, a possibilidade de veto. DECRETO DO EXECUTIVO (art. 84, IV, da CF/1988) Decreto regulamentar do Poder Executivo presta-se a regulamentar uma lei e se encontra hierarquicamente subordinado a ela, não podendo ir de encontro aos seus dispositivos. Previsão: art. 84, IV, da CF/1988. É uma norma expedida pelo chefe do Poder Executivo, a fim de preparar a administração pública para aplicação correta da Lei, sendo vedada sua inovação (ampliação e/ou redução). Regulamentar, em Direito, também significa detalhar, especificar a norma hierarquicamente superior, visando aclarar e torna-la de fácil compreensão. Difere, pois, dos Decretos Legislativos que passam pela aprovação das 2 casas legislativas. Segundo o LIVRÃO (2016, p. 139) decreto “é a forma de que se revestem os atos individuais ou gerais, emanados pelo Chefe do Executivo (presidente da República, governador e prefeito). Ele pode conter, da mesma forma que a lei, regras gerais e abstratas que se direcionam a todas as pessoas que se encontram na mesma situação (decreto geral) ou pode dirigir-se a pessoa ou grupo de pessoas determinadas. Nesse caso, ele constitui decreto de feito contrato (decreto individual); é o caso de um decreto de desapropriação, de nomeação, de demissão. Quando produz efeitos gerais, ele pode ser: regulamentar ou de execução, quando expedido com base no art. 84, IV, da Constituição, para fiel execução da lei; independente ou autônomo, quando disciplina matéria não regulada em lei” (citando Di Pietro, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, São Paulo: Atlas). O decreto em geral é ato normativo e semelhante quanto ao conteúdo e aos efeitos da lei, mas pode ser considerado ato administrativo propriamente dito quando tem efeito concreto. RESOLUÇÕES (art. 59, VII, da CF/88) As resoluções expedidas pelo Poder Legislativo encontram previsão no art. 59, VII, da CF/88 e são atos primários. O art. 49 da CF/88 reune ampla lista de atribuições do Congresso Nacional, de competência exclusiva envolvendo diversos atos que podem ser expedidos mediante Decretos Legislativos ou Resoluções Legislativas, como aprovar iniciativas do Poder Executivo referente as atividades nucleares e autorizar referendo e convocar plebiscito. Também existe Resolução de cada uma das Casas Legislativas para regular matéria de sua competência privativa, conforme previsto no regimento interno de ambas as casas. O que mais interessa para o direito ambiental é outro tipo de resolução, que são as deliberações dos órgãos colegiados. Segundo o LIVRÃO (2016, p. 140) essas deliberações são “atos de competência de Secretário de Estado e de Municípios assim como de corpo colegiados, que eventualmente podem conter uma decisão concreta, embora a denominação devesse ser reservada para a expressão da normatividade intermediária”. (citando Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro, Renovar). Como se observa, ainda segundo o LIVRAO (2016,p. 140) nem sempre são coincidentes os conceitos oferecidos pela doutrina para cada espécie formal de ato administrativo. Pode-se, todavia, afirmar quer a regra de competência serve como parâmetro de distinção. Assim, os decretos são de competência do Chefe do Executivo, enquanto as resolução e portarias “são formas de que se revestem os atos, gerais ou individuais, emanados de autoridades outras que não o Chefe do Executivo” (citando Di Pietro, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, São Paulo: Atlas). PORTARIAS Segundo o LIVRÃO (2016, p. 139) portaria “é a formula pela qual autoridades de nível inferior ao de Chefe de Executivo, sejam de qualquer escalão de comando que forem, dirigem-se a seus subordinados, transmitindo decisões de efeito interno, quer com relação ao andamento das atividades que lhes são afetas, quer com relação à vida funcional de servidores, ou, ate mesmo, por via delas, abrem-se inquéritos, sindicâncias, processos administrativos. Trata-se de ato formal de conteúdo muito fluido e amplo” (citando Di Pietro, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, São Paulo: Atlas). São, pois, atos administrativos e “atos de competência de presidências, superintendenciais e chefias de hierarquia intermediária” (citando Di Pietro, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, São Paulo: Atlas). INSTRUÇÃO NORMATIVA Instrução é a “formula de expedição de normas gerais de orientação interna das repartições, emanadas de seus chefes, a fim de prescreverem o modo pelo qual seus subordinados deverão dar andamento aos seus serviços” (Mello, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros). As instruções “são atos que contêm uma orientação paradigmática para a atuação de chefias e de subordinados hierárquicos, no desempenho de suas respectivas atribuições” (Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Administrativo. Rio de Janeiro,Renovar). OBSERVAÇÃO ADICIONAL SOBRE VOTAÇÃO NO PROCESSO LEGISLATIVO: Além da votação de maioria absoluta e simples que foi esclarecido anteriormente, existe ainda a MAIORIA QUALIFICADA, que é apenas utilizada para normas especiais. Ocorre quando é necessária a aprovação por mais votos do que os da maioria simples. Normalmente se estabelecem dois terços, ou de três quintos dos votos (a partir do número total de componentes da casa) para a aprovação do que foi proposto. Um exemplo é disso é o quórum para instauração de processo contra Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado, disposto no art. 51: “Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado[…]” BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL-STF (Supremo Tribunal Federal). Voto proferido pelo Ministro Celso de Mello na medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade nº 4048-1/DF. Requerente: Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB. Requerido: Presidente da República. Relator Ministro Gilmar Medes. Tribunal Pleno, Brasília, 14 de maio de 2008, 41 p. (Publicado no Diário da Justiça Eletrônico em 22 ago. 2008). Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2602344>. Acesso em 29 mar. 2012. PAULO, Vicente. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional descomplicado. Rio de Janeiro, Impetus, 2008. MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 10ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001. http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2602344 LIVRÃO DO JUIZ FEDERAL / Coordenação Editorial: Jèssica Miranda Pinheiro – 2 edição. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2016. VACCHIANO, Marcelo Caetano. Reserva legal na Amazônia Legal e medida provisória nº 2166: uma análise a luz do direito intertemporal. In: BENJAMIN, Antonio Herman; LECEY, Eladio; CAPELLI, Silvia (orgs). 12º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, 2007, São Paulo. Meio Ambiente e Acesso à Justiça. Flora, Reserva Legal e APP. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007. v. 1. p. 481-496.