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Aula 1 federalismo e políticas públicas

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Tema 1 – Políticas Públicas em perspectiva - Federalismo
Objetivo da leitura: entender o federalismo como um dos principais condicionantes político-institucionais do funcionamento das políticas públicas no Brasil contemporâneo
Objetivo da aula: entender as implicações do federalismo para a elaboração e implementação de políticas públicas no Brasil
Estado, poder, descentralização
Descentralização:
pode ser processo político, que resulta da conquista ou transferência efetiva de poder decisório a governos sub-nacionais
pode ser processo administrativo (transferência de poder decisõrio a instâncias inferiores)
Grau de descentralização varia entre países, e geralmente é maior nas federações
Associação (Commonwealth), Confederação (União Européia), Federação, Estado Unitário.
Vantagens da descentralização: 
Promove accountability (proximidade entre governo e cidadão amplia disseminação de informações, criação de canais de debate e participação, instituição de mecanismos de fiscalização governamental)
Promove inovação e soluções administrativas novas e criativas
Desvantagens ou desafios:
Desigualdades regionais: ausência de políticas redistributivas ou compensatórias pode ampliar desigualdades sócio-econômicas e conflitos
Competição predatória entre os entes governamentais: fragilidade dos instrumentos de cooperação e coordenação entre as esferas de poder pode comprometer a descentralização
Qualidade das estruturas administrativas no plano sub-nacional: modernização administrativa da gestão sub-nacional é condição para sucesso das políticas descentralizadas
Democratização dos governos locais: descentralizar recursos e poder pode fortalecer oligarquias
Federalismo
Federal = pacto (foedus) - arranjo federal = parceria regulada por um pacto, cujas conexões internas refletem tipo específico de divisão de poder entre os parceiros, baseada no reconhecimento mútuo da integridade de cada um e no esforço de favorecer uma unidade (Elazar)
Federação deriva/surge de situação federalista:
Existência de heterogeneidades que dividem a nação (de cunho territorial, étnico, linguístico, socioeconômico, cultural, político)
Discurso ou prática de defesa da unidade na diversidade, resguardando autonomia local e integridade territorial
Princípio da soberania compartilhada: deve garantir autonomia dos governos e interdependência (“self rule plus shared rule”)
Instrumentos políticos de defesa dos governos subnacionais: 
Cortes constitucionais (STF)
Segunda Casa Legislativa representante dos interesses regionais (Senado)
Representação desproporcional dos estados menos populosos
Grande poder de limitar mudanças na Constituição, criando processo decisório que exige maiorias qualificadas
Federalismo no Brasil
História das relações de poder entre os entes da federação marca nosso federalismo: 
República Velha: oligarquias estaduais (reação contra concentração de poder no Império; manutenção de poder de elites regionais sobre políticas públicas)
Vargas: centralização, estruturação de políticas nacionais (economia e social), concentração do poder militar no Exército em detrimento de PM estaduais
Ditadura militar: centralização tecnoburocrática (planejamento, estatais) e descentralização (recursos e política) para conquistar apoio político no final/crise 
Redemocratização: descentralização descoordenada até 1993, descentralização coordenada desde 1994 (sucesso: SUS, Fundef, SUAS; fracasso: infraestrutura)
Coordenação federativa dos anos 1990 e 2000 moldou implementação das políticas públicas (desenho e formulação de políticas nacionais + implementação em nível local com ajustes regionais)
Descentralização e políticas públicas
Coordenação federativa sob FHC (fortalecimento do governo federal – eleições e plano Real)
Mecanismos gerais adotados pelo governo na descentralização:
Repactuação da descentralização em diversas políticas públicas através da regularização dos repasses de recursos federais aos estados
Associação entre descentralização e objetivos da reforma do Estado (redução dos focos de déficit público nos estados, aprovação da LRF, PDV financiados pelo governo federal, ativação do Fórum de Secretários Estaduais de Administração, estímulo à privatização de empresas estaduais com apoio do BNDES)
Repasse de recursos condicionado à participação e fiscalização da sociedade local (nos conselhos de políticas públicas)
Combinação de repasse de recursos com cumprimento de metas ou adoção de programas nacionais (ex: PAB e Fundef)
Criação de políticas nacionais contra pobreza implementadas localmente através de transferência de renda (PETI, Renda Mínima, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás)
Criação de instrumentos de avaliação das políticas realizadas no nível descentralizado, especialmente na educação
Descentralização e políticas públicas
Coordenação federativa na área social (saúde e educação): sucesso
Saúde:
Longa luta contra centralização
SUS: descentralização, municipalização, mecanismos colegiados de gestão, controle e responsabilização
Principais ações: 
fortalecimento dos conselhos (democratização) 
fortalecimento das atividades nacionais (reorganização do MS) 
reforço das funções distributivas do SUS (Piso de Atenção Básica - PAB: orientou recursos para regiões mais pobres e menos populosas, induzindo adoção de políticas federais como Saúde da Família)
Elevação dos recursos nos três níveis de governo (Emenda 29) 
Descentralização e políticas públicas
Educação: destaque para 2 políticas de coordenação federativa:
Sistema amplo de avaliação dos ensinos fundamental e médio
Papel da União é suplementar
Provas visam assegurar qualidade em nível nacional
Fundef/Fundeb
Adequar transferências de recursos ($$) e atribuições de serviços (matrículas), e reduzir cooptação dos prefeitos pelos governadores
Mínimo de 25% da receita total para ensino fundamental (CF 88)- 60% desse porcentual para remuneração de professores
15% do FPE e FPM redistribuídos entre municípios conforme número de alunos – União complementa se não chegar ao piso
Estímulos diretos à qualificação de professores e planos de carreira
Descentralização e políticas públicas
Coordenação federativa na área de desenvolvimento e política urbana: fracasso
Desenvolvimento e desigualdades regionais:
Ausência de projeto regional, de projeto estratégico de desenvolvimento nacional
Políticas sociais nacionais beneficiaram regiões mais pobres, mas não houve construção de instrumentos para alavancar desenvolvimento regional
Políticas urbanas:
Ausência
82% da população em áreas urbanas e 50% em áreas metropolitanas: agravamento dos problemas sociais, desemprego, transporte, habitação
Políticas complementares também falharam: segurança pública, saneamento, habitação (crise de crédito)

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