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EMENDAS ,AO PROJETO DE CONVENÇÃO INTER. 
AMERICANA SôBRE A PROTEÇÃO DOS 
DIREITOS HUMANOS 
(apresentadas pelo Brasil a 10 de novembro de 1969) 
Artigo 3, § 1 
Eliminem-se as palavras: "e, em geral, a partir do mo­
mento da concepção". 
Em conseqüência, o parágrafo 1 do Art. 3 ficaria assim 
redigido: "Tôda pessoa tem direito à vida. Êsse direito estará 
protegido por lei. Ninguém poderá ser privado da vida arbi­
tràriamente" . 
Justificativa 
No Brasil, o Código Civil protege os direitos do ser em 
gestação desde a concepção (Art. 4.°) e o Código Penal re­
prime a provocação injustificada do abôrto, porém faculta a 
sua prática nos casos de estupro ou de não haver outro meio 
de salvar a vida da gestante (Art. 128). 
O § 1 do Art. 3 do Projeto dispõe que o direito à vida 
deve ser protegido por lei "em geral desde o momento da 
concepção". Essa cláusula final é vaga e por isso não terá 
eficácia para impedir que os Estados-Partes na futura Con­
venção incluam em suas leis internas os mais variados casos 
de abôrto. Tal cláusula poderá, portanto, provocar dúvidas 
que dificultem não só a aceitação do referido artigo, como a 
sua aplicação, se prevalecer a redação atual. 
R. Cio poI., Rio de Janeiro, 4(2) :175-183, abr./jun. 1970 
Melhor seria, pois, que fôsse eliminada a cláusula "em 
geral desde o momento da concepção", uma vez que se trata 
de matéria que deve ser deixada à legislação de cada país. 
Artigo 3, § 3 
Elimine-se o parágrafo 3 do Artigo 3 do Projeto de Con­
venção. 
Justificativa 
o princípio contido nesse parágrafo é inseparável da 
definição do conceito de delito político sôbre o qual nenhum 
texto positivo de Direito Internacional, nem os juristas do sis­
tema interamericano já lograram um consenso. As observa­
ções apresentadas pelo Govêrno dos Estados Unidos assinalam, 
acertadamente, que em alguns países pode ser imposta a pena 
de morte por traição ou por homicídio do Chefe de Estado. 
Ademais, algumas legislações impõem semelhante pena a 
outros crimes comuns ou militares, de natureza grave, que 
se prestam freqüentemente a alegação de que foram cometidos 
por motivos políticos. 
Esta razão é suficiente para justificar a eliminação do 
referido parágrafo. 
Artigo 6 
Substitua-se pelo seguinte: 
"Artigo 6. Ninguém deve ser privado da sua liberdade, 
exceto de acôrdo com o procedimento estabelecido por lei, nos 
seguintes casos: 
a) condenação, por um juiz ou tribunal competente, a uma 
pena privativa da liberdade; 
b) detenção em flagrante delito, passível de pena privativa 
da liberdade e onde não caiba a libertação provisória mediante 
garantias que assegurem o comparecimento do inculpado em 
juízo; 
176 R.C.P. 2170 
c) só se admite ordem de prlsao preventiva, expedida por 
juiz ou tribunal competente, quando houver indícios sérios de 
ter sido cometido delito ao qual corresponda pena privativa 
da liberdade e quando a liberdade do inculpado prejudique a 
busca das provas ou ponha em risco a execução da pena; 
d) não cumprimento de uma ordem legal ditada por juiz ou 
tribunal competente, até que o responsável a cumpra ou justi­
fique a impossibilidade de acatá-la; 
e) prisão de menor, por ordem de autoridade competente, seja 
em benefício de sua educação ou para entregá-lo aos respon­
sáveis por sua custódia. 
f) necessidade de impedir a propagação de enfermidades con­
tagiosas ou de proteger uma pessoa em estado grave de en­
fermidade mental, de alcoolismo ou toxicomania; 
g) ingresso ilegal de estrangeiros no território nacional ou 
detenção para a expulsão ou extradição de estrangeiros, ditada 
por autoridade competente; 
h) medida disciplinar aplicada por autoridade competente, nos 
casos legais contra militar ou funcionário público, sempre 
que não exceda de trinta dias. 
Justificativa 
A fórmula adotada no § 1 dêste Art. 6.0 do Projeto de 
Convenção - "Salvo pelas causas e nas condições previa­
mente fixadas pelas Constituições dos Estados-Partes e pelas 
leis promulgadas de acôrdo com aquelas" - não parece ser 
a melhor para proteger a liberdade física do indivíduo contra 
os eventuais abusos do Estado. Interpretada literalmente, a 
referida cláusula significa que se considerará violação dessa 
liberdade tôda prisão que seja ordenada, mesmo por autori­
dade judicial, quando a "causa da privação da liberdade não 
estiver fixada na Constituição política e na lei do país que 
seja parte da futura Convenção". 
Pois bem, é sabido que as Constituições não são o lugar 
apropriado pera fixar tôdas as causas justificativas da pri­
vação da liberdade física e seria inútil exigir que a lei repe­
tisse tais causas. 
Convenção Americana sôbre Direitos Humanos 177 
A Declaração Americana de Direitos e Deveres do Ho­
mem dispõe: "Artigo 25 - Ninguém pode ser privado de 
sua liberdade, salvo nos casos preexistentes". 
No entanto, o Projeto de Convenção em exame confundiu 
causa com caso, forma com condição e acrescentou ao texto 
uma referência injustificada às "constituições políticas dos 
Estados-Partes" . 
Até mesmo a Convenção Européia, a mais avançada no 
campo da proteção internacional dos direitos humanos, deixou 
à lei ordinária a enumeração das causas de aplicação da pena 
privativa da liberdade física e a regulamentação da forma 
adequada (due process of law) para sua aplicação. 
Assim, se não prevalecer totalmente a emenda supra. 
propõe, alternativamente a Delegação do Brasil a substitui­
ção do § 1 dêste Art. 6.° pelo texto do Art. XXV da Declaração 
Americana acima". 
Artigo 19 
Substitua-se o texto do projeto pelo seguinte: "Artigo 19. 
1. Tôda pessoa tem direito ao uso e gôzo de seus bens, mas 
a lei pode subordinar tal uso e gôzo ao interêsse social. 2. N e­
nhuma pessoa será privada de seus bens, exceto mediante o 
pagamento de indenização justa, nos casos e na forma esta­
belecidos por lei. 3. Em caso de expropriação por interêsse 
social de terras inexploradas, a lei poderá dispor sôbre o pa­
gamento da indenização mediante a entrega de títulos do Es­
tado, resgatáveis a prazo fixo e com cláusula de correção 
monetária. 
J Ilstificativa 
O texto prevalecia na elaboração do Projeto de Convenção 
em exame e não levou em consideração as recentes modifica­
ções constituelbnais e legais aprovadas na maioria dos Estados 
Americanos, com a finalidade de possibilitar a reforma agrá­
ria e outras medidas previstas na Carta de Punta deI Este e 
178 R.C.P. 2/70. 
no. Pro.to.co.lo. de Bueno.s Aires, co.mo. indispensáveis para al­
cançar o. desenvo.lvimento. eco.nômico. e so.cial dêste co.ntinente. 
Artigo. 25 
Substitua-se o. texto. do. Pro.jeto. pelo. seguinte: 
1. Os Estado.s-Partes nesta Co.nvenção. se co.mpro.metem 
a inco.rpo.rar pro.gressivamente ao. seu Direito. Interno.: 
a) o.s direito.s co.ntemplado.s na Declaração. Americana de 
Direito.s e Deveres do. Ho.mem que não. tenham sido. incluído.s 
entre o.s direito.s definido.s no.s artigo.s precedentes; 
b) o.s direito.s e benefício.s co.ntemplado.s pelas no.rmas eco.­
nômicas, so.ciais e sôbre educação., ciência e cultura estabele­
cido.s no.s Artigo.s 31, 43, e 47 da Carta da Organização. do.s 
Estado.s Americano.s, info.rmada pelo. Pro.to.co.lo. de Bueno.s 
Aires. 
2. A Lei po.derá excluir o.s serviço.s público.s e as ativi-­
dades essenciais do. direito. de greve. 
Justificativa 
Os direito.s CIVIS e po.lítico.s co.mpo.rtam uma eficaz pro.~ 
teção. jurisdicio.nal tanto. interna quanto. internacio.nal co.ntra 
as vio.lações praticadas pelo.s órgão.s do. Estado. o.u seus repre­
sentantes. Os direito.s eco.nômico.s, so.ciais e culturais, ao. co.n­
trário., são. co.ntemplado.s em grau e fo.rma muito. distinto.s pela 
legislação. do.s diferentes Estado.s Americano.s e, embo.ra o.s 
Go.verno.s desejem reco.nhê-Io.s to.do.s, sua vigência depende 
substancialmente da dispo.nibilidade de recurso.s materiais que 
permitam a sua implementação.. 
O Art. 25 do. Pro.jeto. inspiro.u-se em tal co.nceito., po.rém 
seu texto. não. co.rrespo.nde à sua intenção.. 
A redação. do. parágrafo.1.0 é vaga, limitando.-se a uma 
manifestação. de intenção.. Po.r sua vez, o. -parágrafo. 2,. ao. re-­
pro.duzir o. co.nteúdo. do. Art. 31 do. Pro.to.co.lo. de Bueno.s Aires, 
o.mitiu o. direito. de greve co.nsagrado., co.m certas limitações,_ 
pelo. direito. interno. do.s Estado.s Americano.s, assim co.mo. as 
Convenção Americana sôbre Direitos Humanos 1791 
normas sôbre educação, ciência e cultura previstas no Art. 47 
do mesmo Protocolo. 
A emenda tem por objeto oferecer aos direitos econômi­
cos, sociais e culturais a máxima proteção compatível com as 
condições peculiares à grande maioria dos Estados Ameri­
canos 
Inclua-se antes do Art. 27 o seguinte artigo nôvo: 
Art. 26 bis (Limite dos direitos individuais) 
1. Tôda pessoa tem deveres para com a família, a co­
munidade e a humanidade. 
2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos 
dos demais, pela segurança de todos e pelas exigências justas 
de bem-estar geral, em uma sociedade democrática. 
Justificativa 
O Projeto de Convenção omitiu princlplOs importantes 
consagrados no Art. XXXVIII da Declaração Americana de 
Direitos e Deveres do Homem e no Art. XXIX da Declaração 
Universal, os quais fazem falta na futura convenção, a fim 
de afirmar a regra jurídica de que não há direitos sem 
deveres. 
Art. 41 bis (Fundamentação das resoluções) 
Inclua-se, depois do Art. 41, o seguinte artigo: 
Artigo 41 bis 
1. As resoluções da Comissão devem ser fundamentadas 
e comunicadas reservadamente ao Estado aludido, ao peticio­
nário e, quando fôr o caso, ao órgão competente da Orga­
nização. 
2. Se a resolução não exprime, no todo ou em parte, o 
voto unânime dos membros da Comissão, o voto dissidente ou 
individual deverá ser agregado ao final do texto da resolução 
da maioria. 
180 R.C.P. 2170 
Justificativa 
O Estatuto da Comissão contém disposições similares, 
porém é necessário incluir as normas supra no texto da Con­
venção para que tenham fôrça convencional. 
Artigo 47 
Substitua-se o Art. 47 do Projeto de Convenção pelo 
seguinte: 
Artigo 47 (Sede da Côrte e da Comissão) 
1 . A Comissão, a Côrte e seus serviços de Secretaria 
terão sede permanente no Estado de Virgínia, Estados Unidos 
da América; em local próximo viveu George Mason, autor da 
Declaração de Direitos de Virgínia adotada a 12 de junho 
de 1776. 
2 . O edifício-sede da Comissão e da Côrte será deno­
minado Casa dos Direitos Humanos e será construído com os 
fundos doados pelos Governos Americanos, por instituições 
públicas, organizações privadas e subscrições pessoais de todos 
os povos da América. 
3. Se o Govêrno dos Estados Unidos da América não 
houver ratificado esta Convenção na data de sua entrada em 
vigor ou no prazo de um ano a contar daquela data, o Conselho 
da Organização, ouvida a Comissão, poderá escolher o terri­
tório de outro Estado Contratante para sede da Casa dos Di­
reitos Humanos. 
Justificativa 
A CIDH, ao redigir o Art. 47 do Projeto de Convenção, 
deliberou, por maioria, deixar errÍ" branco o lugar em que a 
Côrte terá sua sede, por considerar que tal decisão seria de 
natureza política. 
Todavia, o relator do Projeto no seio da Comissão assinalou, 
na sua justificação de voto, que a Comissão funciona em Was­
hington desde a sua instalação e que seria conveniente que a 
Convenção Americana sôbre Direitos Humanos 181 
Côrte, por razões de natureza técnica, fôsse instalada no mesmo 
lugar que a Comissão, citando o exemplo da Comissão e da 
Côrte Européia em Estrasburgo (OEAjSer. L/V 11.16 -
Doc. 20 - 5 de junho de 1967, p. 64-5) . 
A emenda reproduz o texto do artigo apresentado pelo 
relator na mencionada justificação e se destina a servir de 
ponto de partida para a solução do problema por parte da Con­
ferência. 
Cumpre repetir que, na opinião da Delegação do Brasil, a 
instalação da Côrte deve ficar condicionada à ratificação da 
Convenção por dois terços dos membros da OEA, como 
se propõe na emenda ao Art. 64. 
Artigo 60 
Acrescentem-se ao Art. 60 os seguintes dois novos pará­
grafos: 
1. Os membros da Comissão e os juízes da Côrte, du­
rante o período dos seus mandatos, não podem exercer as fun­
ções de chefe de Govêrno, Ministro e Vice-Ministro, de Es­
tado, Secretário e Sub-secretário de Estado e representante 
diplomático. 
2. O exercício de qualquer destas funções depois da elei­
ção para a Comissão ou para a Côrte implica em renúncia ao 
respectivo mandato. 
J usti[icativa 
A necessidade de incluir na Convenção uma disposição 
sôbre as impossibilidades para o exercício das funções de mem­
bros da Comissão e da Côrte dispensa maior justificação. Tra­
ta-se de regra consagrada por todos os instrumentos que re­
gulam órgãos similares. . 
Artigo 64 (Instalação da Côrte) 
Inclua-se no Art. 64, como parágrafo 1.0, o seguinte pa­
rágrafo nôvo: 
182 R.C.P. 2170 
1 . A instalação da Côrte fica condicionada a que dois 
terços dos membros da Organização dos Estados Americanos 
ratifiquem esta Convenção. 
Em conseqüência, os atuais parágrafos, 1, 2 e 3 passarão 
a ser parágrafos 2, 3 e 4, respectivamente. 
Justificativa 
Dispõe o Art. 66 § 2 que assim que sete Estados tenham 
depositado seus respectivos instrumentos de ratificação ou 
de adesão, a Convenção entrará em vigor. 
Por sua vez, o Art. 64, que regula a primeira eleição dos 
juízes da Côrte, silencia sôbre o momento em que se deveria 
dar sua instalação. Daí resultaria que a instalação da Côrte 
deveria dar-se no momento em que a futura Convenção entrar 
em vigor. 
É possível, porém, que depois de entrar em vigor a Con­
venção, não se produzam durante algum tempo outras ratifi­
cações, além das sete iniciais. 
Por conseguinte, os fundos necessários para os gastos da 
Côrte seriam !ttendidos, durante o referido período, pelas con­
tribuições de todos os Estados-Membros da Organização em 
benefício de uma pequena minoria, o que não é justo nem con­
veniente. 
Convenç&> Americana sôbre Direitos Humanos 183

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