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106 Unidade II Unidade II 5 QUADRIL E JOELHO O quadril possui, única e exclusivamente, a articulação femoroacetabular, também denominada de articulação do quadril. É tida, pois, como a proximal do membro inferior e tem como função distribuir as cargas da porção superior do corpo (membros superiores, cabeça e tronco) para os membros inferiores, tanto durante a manutenção da postura estática quanto durante a realização dos movimentos e na marcha. O quadril é uma articulação sinovial do tipo esferoide, vale dizer, mesmo formato da articulação do ombro, porém com maior estabilidade e menor mobilidade. O fato de ser esferoide garante os movimentos de flexão, extensão, abdução, adução, rotação medial e lateral, sendo que funcionalmente seus movimentos acontecem principalmente em cadeia cinética fechada acompanhados muitas vezes de movimentos da pelve e coluna lombar. A estabilização dessa região é garantida por diversos fatores, entre eles, o encaixe da cabeça do fêmur em um acetábulo profundo, ligamentos resistentes ao redor da articulação, anel de fibrocartilagem (lábio do acetábulo), além de músculos grandes e fortes. O enfraquecimento daqueles pode afetar a estabilidade e mobilidade não somente dessa região, mas do corpo como um todo. O complexo articular do joelho compreende duas articulações, femorotibial e patelofemoral. Tem função semelhante à do cotovelo, ou seja, é a articulação intermediária do membro inferior e garante ao homem executar a maioria das atividades de vida diária, seja estabilizando a posição ortostática, dando mobilidade ao membro inferior ou permitindo a este maior alcance funcional e ajuste do corpo ao ambiente. O joelho é considerado uma articulação sinovial condilar com dois graus de liberdade, isto é, realiza flexão, extensão e as rotações medial e lateral somente quando está flexionado. A estabilidade do joelho é garantida pelas limitações dos tecidos moles localizados na região, em vez de coaptação anatômica. Durante as atividades funcionais de grande demanda, esses tecidos recebem sobrecargas musculares e externas favorecendo muitas lesões de ligamentos, meniscos e cartilagem. Observação Os conhecimentos da anatomia, da cinesiologia e da biomecânica do quadril e do joelho são fundamentais para compreender os mecanismos de lesão e escolher a terapêutica adequada na reabilitação. 107 CINESIOLOGIA 5.1 Osteologia e artrologia do quadril A articulação do quadril é formada pelos ossos fêmur e ilíaco, sendo que esse é formado pela junção de três ossos: o ílio, o ísquio e o púbis. As superfícies articulares são a cabeça do fêmur em formato convexo e a fossa do acetábulo em formato côncavo revestidas por cartilagem hialina. O acetábulo apresenta em todo o seu contorno um anel de fibrocartilagem denominado de lábio do acetábulo que permite aumentar a sua profundidade auxiliando na estabilização da região, na diminuição do atrito entre os ossos, otimização da função da cartilagem articular e uma maior coaptação. A parede inferior do acetábulo é preenchida pelo ligamento transverso do acetábulo. O ligamento da cabeça do fêmur tem origem na fossa do acetábulo e inserção na fóvea da cabeça do fêmur. As artérias circunflexas medial e lateral (ramos da artéria femoral) nutrem a maior porção da cabeça e do colo femoral. Vasos suplementares derivados da artéria obturadora são encontrados no ligamento da cabeça do fêmur. Face semilunar do acetábulo Cartilagem articular Cabeça do fêmur Trocanter maior Colo do fêmur Linha intertrocantérica Ligamento redondo (ligamento da cabeça do fêmur) (seccionado) Espinha ilíaca ântero-superior Espinha ilíaca ântero-inferior Eminência iliopúbica Lábio do acetábulo (fibrocartilaginoso) Gordura na fossa do acetábulo (coberta por membrana sinovial) Artéria obturatória Ramo anterior da artéria obturatória Ramo posterior da artéria obturatória Membrana obturatória Artéria acetabular Lig. acetabular transverso Tuberosidade isquiática Trocanter menor Figura 129 – Vista lateral da articulação do quadril 108 Unidade II Lábio interno da crista ilíaca Tuberosidade ilíaca Espinha ilíaca Face auricular (para o sacro) Espinha ilíaca posterior inferior Incisura isquiática maior Corpo do ílio Espinha inquiática Incisura isquiática menor Corpo do ísquio Tuberosidade insquiática Ílio Ísquio Púbis Ramo do ísquio Sulco obturatório Ramo inferior do osso púbico Forame obturado Face sinfisal Tubérculo púbico Púbis pectíneo (linha pectínea) Ramo superior do osso púbico Eminência iliopúbico Linha arqueada Espinha ilíaca ântero-inferior Asa(ala) do osso ilíaco (fossa ilíaca) Espinha ilíaca ântero-superior Lábio interno da crista ilíaca Figura 130 – Vista lateral do osso ilíaco com enfoque para o acetábulo formado pela união dos ossos ílio, ísquio e púbis 5.1.1 Orientação da cabeça do fêmur, do colo do fêmur e do acetábulo A cabeça do fêmur é sustentada pelo colo do fêmur que a conecta com sua diáfise e está encaixada no acetábulo do osso ilíaco. Corresponde a 2/3 de uma esfera e tanto ela quanto o colo do fêmur dirigem-se ântero-súpero-medialmente; já o eixo do acetábulo dirige-se ântero-ínfero-lateralmente. Com isso, a cabeça do fêmur permanece descoberta ântero-superiormente. Na posição de quatro apoios, em que ocorre combinação de flexão, discreta abdução e rotação externa, a cabeça do fêmur fica totalmente recoberta pelo acetábulo (KAPANDJI, 2000). 109 CINESIOLOGIA A) B) Figura 131 – A) Coaptação da articulação do quadril na postura ortostática e B) em quatro apoios com flexão (1), abdução (2) e rotação externa (3) 5.1.1.1 Ângulos do colo do fêmur A junção da cabeça do fêmur com a sua diáfise é conhecida como colo do fêmur e nessa região é possível observar dois ângulos (inclinação e torção), sendo que o desvio desses ângulos pode levar às disfunções do quadril. O eixo do colo do fêmur forma com o eixo diafisário um ângulo de inclinação de 125º no adulto. Um ângulo de inclinação menor que 125º é denominado coxa vara, já um ângulo maior caracteriza a coxa valga. As duas condições influenciam a estabilidade do quadril, sendo que uma coxa valga favorece a luxação superior. 125º Normal Deformidade em coxa vara Deformidade em coxa valga 105º 140º Figura 132 – O ângulo de inclinação do colo do fêmur é de aproximadamente 125°. A condição na qual esse ângulo é inferior a 125° é chamada de coxa vara e acima de 125º é chamada de coxa valga 110 Unidade II A coxa vara favorece a depressão do ilíaco ipsilateral levando a uma obliquidade pélvica e a um membro inferior anatomicamente menor. Essa condição favorece a proximidade do trocanter maior do fêmur com o ilíaco limitando a abdução do quadril e favorecendo um aumento da estabilidade, pois esse ângulo de inclinação diminuído aumenta a interiorização da cabeça do fêmur no acetábulo (NORKIN; LEVANGIE, 2001). A coxa valga favorece a elevação do ilíaco ipsilateral levando a uma obliquidade pélvica e aumento do comprimento do membro inferior. Essa condição faz com que o quadril permaneça em adução ipsilateral podendo levar a um encurtamento dos músculos adutores, estresse da banda iliotibial e até bursite trocantérica (NORKIN; LEVANGIE, 2001). A: positivo O aumento do braço de momento (D’) para a força abdutora do quadril pode melhorar a estabilidade articular C: positivo A diminuição do braço do momento de flexão (I’) reduz o momento de flexão (ACF x I’), o que diminui as forças de cisalhamento no colo do fêmur e aumenta o comprimento funcional do músculo abdutor do quadril B: negativo O aumento do braço de momento de flexão (I’) eleva o momento de flecão (ACG x I’), o que aumenta as forças de cisalhamento no colo do fêmur e diminui o comprimento funcional do músculo abdutor do quadril D: negativo A diminuição do braço do momento (D’) para a força abdutora do quadril pode aumentar o risco de luxação Coxa vara α = 100º Coxa valga α = 145º NormalAC F D’ α = 125º I’I’ P P Fo rç a ab du to ra d o qu ad ril Fo rç a ab du to ra d o qu ad ril Fo rç a ab du to ra d o qu ad ril D’ D AC F Figura 133 – Efeitos biomecânicos negativos e positivos da coxa vara e da coxa valga. D é o braço do momento interno usado pela força abdutora do quadril; I é o braço do momento de flexão em todo o colo do fêmur 111 CINESIOLOGIA O eixo do colo do fêmur forma com o eixo dos côndilos femorais um ângulo de torção de 10° a 25º no adulto, ou seja, o colo do fêmur está discretamente anterior ao plano frontal. Essa rotação é denominada de anteversão femoral. Um ângulo de torção menor é denominado retroversão femoral, já um ângulo maior é conhecido como anteversão femoral excessiva. 15º NormalA) B) C)Anteversão excessiva Retroversão 35º 5º Figura 134 – Ângulo de torção entre o colo e o corpo do fêmur. O ângulo é medido entre o colo e uma linha que passa pelos côndilos do joelho (linha tracejada); A) anteversão normal; B) anteversão excessiva; C) retroversão O ângulo fisiológico favorece um aumento do braço de alavanca do músculo glúteo máximo, tornando mais eficiente a manutenção da extensão do quadril na posição ortostática (SACCO; TANAKA, 2008). A anteversão excessiva aumenta a exposição anterior da cabeça do fêmur em relação ao acetábulo favorecendo uma luxação anterior do quadril. Essa posição caracteriza uma rotação lateral do quadril, o que limitará esse movimento, já os côndilos femorais rodam medialmente em relação ao solo, favorecendo uma rotação medial do membro inferior durante a marcha. A retroversão favorece o encaixe da cabeça do fêmur no acetábulo aumentando a coaptação articular. Essa posição caracteriza uma rotação medial do quadril, já os côndilos femorais rodam lateralmente em relação ao solo, favorecendo uma rotação lateral do membro inferior durante a marcha. 5.1.2 Movimentos do quadril A partir da posição anatômica é possível movimentar a articulação do quadril ao redor dos três eixos de movimento – medial-lateral, ântero-posterior e longitudinal – caracterizando a articulação como triaxial ou com três graus de liberdade. 112 Unidade II Flexão Abdução C) transversalB) FrontalA) sagital Rotação externa Extensão Adução Rotação interna Figura 135 – Movimentos da articulação do quadril; A) flexão – extensão no plano sagital; B) abdução – adução no plano frontal; C) rotação interna (medial) – externa (lateral) no plano transversal A flexão do quadril produz o contato da face anterior da coxa com o tronco, diminuindo o ângulo entre eles. A extensão do quadril ocorre no sentido contrário, aumentando o ângulo entre eles. A amplitude desses movimentos está relacionada com a posição do joelho devido à presença dos músculos biarticulares localizados anterior e posteriormente ao quadril. A maior mobilidade de flexão do quadril ocorre com o joelho flexionado e é de 120º; já para a extensão, a maior mobilidade ocorre quando associada à extensão do joelho e sua amplitude é de 20º (KAPANDJI, 2000). A abdução do quadril ocorre quando afastamos a coxa do centro do corpo e a adução ocorre no sentido contrário. A amplitude de abdução é de 30º; já no caso da adução, essa deve ser associada à flexão ou extensão do quadril porque na posição anatômica existe o contato dos membros inferiores entre si e sua amplitude máxima será de 30º (KAPANDJI, 2000). O movimento de rotação lateral do quadril ocorre quando o trocanter maior do fêmur é dirigido para trás atingindo uma amplitude de 60º; já a rotação medial ocorre quando o trocanter maior do fêmur é dirigido para frente com uma amplitude de 30º (KAPANDJI, 2000). Lembrete A flexão e extensão ocorrem no plano sagital e ao redor do eixo medial- lateral. A abdução e adução ocorrem no plano frontal e ao redor do eixo ântero-posterior. As rotações medial e lateral ocorrem no plano transversal e ao redor do eixo longitudinal. 113 CINESIOLOGIA 5.1.3 Movimentos da pelve e coluna lombar em relação ao quadril Os movimentos do quadril podem também acontecer em cadeia cinética fechada e, nesse caso, o fêmur torna-se o ponto fixo enquanto a pelve torna-se o ponto móvel. Quando isso ocorre associam-se ao movimento do quadril os movimentos da pelve e da coluna lombar (ver próxima figura). Lig. iliofemoral frouxo A) B) C) Lig. intertransverso Lig. pubofemoral Abdutor curto Ab du to r l on go 15º 15º 30º Rotação E Rotação D Anteversão Retroversão Rotação D Rotação E Piriforme Tensor da fáscia lata e da banda iliotibial Lig. intertransverso Reto femoral Bíceps femoral Lig. iliofemoral Plano sagital Plano frontal Plano horizontal Figura 136 – A) Movimentos do quadril em cadeia cinética fechada (pelve como ponto móvel no plano sagital), B) plano frontal e C) plano horizontal ou transversal. As setas grandes coloridas e pretas ilustram o movimento da pelve e da coluna lombar, respectivamente. Os tecidos alongados são indicados por setas pretas finas. Os lados são direito (D) e esquerdo (E) 114 Unidade II A combinação coordenada desses movimentos é conhecida como ritmo lombo pélvico e está descrita no quadro a seguir. Quadro 12 – Movimentos combinados do quadril, pelve e coluna lombar (D = Direita; E = Esquerda) Pelve Coluna Lombar Quadril Anteversão Flexão Flexão Retroversão Extensão Extensão Inclinação lateral D Inclinação lateral E Abdução D e adução E Inclinação lateral E Inclinação lateral D Abdução E e adução D Rotação D Rotação E Rotação medial D e rotação lateral E Rotação E Rotação D Rotação medial E e rotação lateral D 5.2 Sistema ligamentar do quadril (estabilizadores passivos) A cápsula articular do quadril é uma estrutura resistente reforçada por fortes ligamentos que são de extrema importância para a estabilização da articulação. Na face anterior encontram-se os ligamentos iliofemoral e pubofemoral, o ligamento isquiofemoral encontra-se na face posterior. Todos esses ligamentos estão frouxos durante a flexão e tensionados durante a extensão. Os ligamentos anteriores, principalmente o ligamento pubofemoral está tensionado durante a rotação externa, enquanto o ligamento isquiofemoral fica tensionado na rotação interna. Na abdução do quadril os ligamentos pubofemoral e isquiofemoral encontram-se tensionados enquanto a parte superior do ligamento iliofemoral está tensionada na adução do quadril (KAPANDJI, 1990). Ligamento iliofemoral (Lig. em Y de Bigelov) Bolsa iliopectínea (sobre o espaço nos ligamentos) Ramo superior do osso púbico Crista obturatória Lig. pubofemoral Trocanter menor Linha intertrocantérica Trocanter maior Espinha ilíaca ântero-inferior Espinha ilíaca ântero-superior Figura 137 – Cápsula anterior e ligamentos da articulação do quadril 115 CINESIOLOGIA Lig. iliofemoral Lig. isquiofemoral Zona orbicular Trocanter maior Crista intertrocantérica Trocanter menor Tuberosidade isquiática Protrusão do saco sinovial Espinha isquiática Figura 138 – Cápsula posterior e ligamentos da articulação do quadril 5.3 Sistema muscular do quadril (estabilizadores ativos) Os músculos flexores do quadril estão localizados anteriormente ao plano frontal que passa sobre o centro da articulação, já os músculos extensores localizam-se posteriormente ao mesmo plano (KAPANDJI, 2000). Figura 139 – Vista lateral do fêmur no plano sagital. O eixo de rotação está orientado no sentido medial lateral pela cabeça do fêmur. Os músculos flexores são indicados por linhas sólidas e os extensores pelas linhas tracejadas 116 Unidade II Os músculos abdutores do quadril estão localizados lateralmente ao plano sagital que passa sobre o centro da articulação, enquanto os músculos adutores estão localizados medialmente ao plano sagital (KAPANDJI, 2000). Plano frontal (por trás) Superior Inferior Medial Lateral Glúteo m édio Sa rt ór io Te ns or d a lá sc ia la taGlúteo m ínim o Glúteo m áxim o Adutor longo Piriforme Pectíneo Adutorcurto Ad ut or m ag no (p os te rio r) 5 0 -5 -5 -10 0 5 10 (cm) (cm) Adutor m agno (anterior) Bíceps fem oral Quadrado femoral Gr ác il Figura 140 – Vista posterior do fêmur no plano frontal. O eixo de rotação está orientado no sentido anterior posterior pela cabeça do fêmur. Os músculos abdutores são indicados por linhas sólidas e os adutores pelas linhas tracejadas Os músculos que realizam a rotação lateral do quadril estão localizados posteriormente à cabeça do fêmur no plano frontal e os que realizam a rotação medial estão localizados anteriormente. 117 CINESIOLOGIA Figura 141 – Vista superior do fêmur no plano transversal. O eixo de rotação longitudinal está orientado na direção superoinferior pela cabeça do fêmur. Os músculos rotadores laterais são indicados por linhas sólidas e os rotadores mediais pelas linhas tracejadas Serão descritos nas próximas figuras os músculos que atuam no quadril com seus respectivos pontos de origem e inserção, além da inervação e ação. Origem do músculo psoas maior na margem dos corpos vertebrais, discos intervertebrais e processos transversos (T12-L4) Origem do músculo piriforme Origens Inserções Origem do músculo pectíneo Origem do adutor longo Origem do adutor curto Origem do músculo grácil Origem do músculo obturador externo Origem do músculo adutor magno Origem do músculo quadrado da coxa Inserção do músculo iliopsoas Inserção do músculo adutor magno Inserção do músculo sartório Inserção do músculo grácil Inserção do músculo semitendíneo Inserção do músculo quadríceps da coxa (reto da coxa, vasto lateral, vasto intermédio e vasto medial, via ligamento patelar) Inserção do músculo bíceps da coxa Inserção do trato iliotibial Origem do músculo articular do joelho Origem do músculo vasto intermédio Origem do músculo vasto medial Origem do músculo vasto lateral Inserção do músculo glúteo mínimo Inserção dos músculos obturador interno e gêmeo Inserção do músculo piriforme Origem do músculo reto da coxa Origem do músculo sartório Origem do músculo ilíaco Figura 142 – Face anterior da pelve, sacro, fêmur, tíbia e fíbula direito. As origens musculares são indicadas em vermelho e as inserções musculares são indicadas em azul 118 Unidade II Origem do músculo glúteo médio Origem do músculo glúteo mínimo Origem do músculo tensor da fáscia lata Origem do músculo sartório Origem do músculo reto da coxa Origem do músculo vasto lateral Origem do músculo quadrado da coxa Origem do músculo vasto intermédio Origem do músculo bíceps da coxa (cabeça curta) Origem do músculo vasto lateral Origem do músculo plantar Origem do músculo gastrocnêmio (cabeça lateral) Origem do músculo poplíteo Origem do músculo gastrocnêmio (cabeça medial) Origem do músculo adutor magno Origem do músculo semimembranáceo Origem do músculo bíceps da coxa (cabeça longa) e semitendíneo Origem do músculo obturador interno Origem do músculo gêmeo inferior Origem do músculo gêmeo superior Origem do músculo glúteo máximo Inserção do músculo semimebranáceo Inserção do músculo poplíteo Inserção do músculo adutor longo Inserção do músculo adutor magno Origem do músculo vasto medial Inserção do músculo adutor curto Inserção do músculo iliopsoas Inserção do músculo quadrado da coxa Inserção do músculo pectíneo Inserção do músculo glúteo máximo Inserção do músculo adutor magno Inserção do músculo glúteo médio Inserção do músculo obturador externo Figura 143 – Face posterior da pelve, sacro, fêmur, tíbia e fíbula direito. As origens musculares são indicadas em vermelho e as inserções musculares são indicadas em azul a) Glúteo máximo M. glúteo máximo Figura 144 – Músculo glúteo máximo 119 CINESIOLOGIA Origem: ílio, linha glútea posterior; face dorsal do sacro e do cóccix; ligamento sacrotuberal e sacroilíaco posterior. Inserção: a maioria das fibras termina no trato iliotibial que se insere no côndilo lateral da tíbia; algumas fibras inserem-se na tuberosidade glútea do fêmur. Inervação: nervo glúteo inferior. Ação: extensão do quadril quando flexionado e rotação lateral. Auxilia na abdução (fibras médias e posteriores) e adução (fibras inferiores e posteriores). b) Glúteo médio M. glúteo médio Figura 145 – Músculo glúteo médio Origem: face glútea do ílio entre as linhas glúteas anterior e posterior. Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo glúteo superior. Ação: abdução e rotação medial do quadril; estabiliza a pelve no lado do apoio, quando o outro membro inferior deixa o solo. Suas fibras médias e posteriores auxiliam a extensão do quadril e suas fibras posteriores auxiliam a rotação lateral do quadril. 120 Unidade II c) Glúteo mínimo M. glúteo mínimo Figura 146 – Músculo glúteo mínimo Origem: face glútea do ílio entre as linhas glúteas anterior e inferior. Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo glúteo superior. Ação: abdução e rotação medial do quadril; estabiliza a pelve no lado do apoio, quando o outro membro inferior deixa o solo. Suas fibras anteriores auxiliam a flexão do quadril e suas fibras posteriores auxiliam a rotação lateral do quadril. d) Gêmeo superior Mm. gêmeos superior e inferior M. piriforme M. obturador interno M. quadrado femoral Figura 147 – Músculos gêmeos superior e inferior, obturador interno, piriforme e quadrado femoral Origem: espinha isquiática. 121 CINESIOLOGIA Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo para o músculo obturador interno. Ação: rotação lateral do quadril quando estendido. e) Gêmeo inferior Origem: túber isquiático. Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo para o músculo quadrado femoral. Ação: rotação lateral do quadril quando estendido. f) Obturador externo M. pectíneo (cortado e rebatido) Ramo superior do púbis M. adutor longo (cortado e rebatido) Tubérculo púbico M. adutor curto (cortado) M. grácil (cortado) M. obturador externo M. quadrado femoralM. adutor curto (cortado e rebatido) M. pectíneo (cortado e rebatido) M. iliopsoas (cortado) Trocanter maior do fêmur Lig. da articulação do quadril Espinha ilíaca anteroinferior Espinha ilíaca anterosuperior Figura 148 – Músculo obturador externo Origem: margens do forame obturado; membrana obturadora. Inserção: fossa trocantérica do fêmur. Inervação: nervo obturatório. Ação: rotação lateral do quadril. Estabiliza a cabeça do fêmur no acetábulo. Auxilia na adução do quadril. g) Obturador interno Origem: superfície pélvica da membrana obturadora. 122 Unidade II Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo para o músculo obturador interno. Ação: rotação lateral do quadril quando estendido; abdução do quadril quando flexionado. h) Quadrado femoral Origem: túber isquiático. Inserção: crista intertrocantérica do fêmur. Inervação: nervo para o músculo quadrado femoral. Ação: rotação lateral do quadril. i) Piriforme Origem: face pélvica do sacro; ligamento sacrotuberal. Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: ramos anteriores de L5, S1, S2. Ação: rotação lateral do quadril quando estendido; abdução do quadril quando flexionado. j) Semimembranáceo M. semimebranáceo Figura 149 – Músculo semimembranáceo Origem: túber isquiático. Inserção: côndilo medial da tíbia. 123 CINESIOLOGIA Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão do joelho; extensão do quadril. k) Semitendíneo M. semitendíneo Figura 150 – Músculo semitendíneo Origem: túber isquiático. Inserção: côndilo medial da tíbia. Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão do joelho; extensão do quadril. l) Bíceps femoral M. bíceps femoral Figura 151 – Músculo semitendíneo 124 Unidade II Origem: cabeça longa – túber isquiático; cabeça curta – linha áspera e linha supracondilar lateral do fêmur. Inserção: cabeça da fíbula. Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão e rotação lateral do joelho; extensão do quadril. A cabeça longa auxilia a adução e rotação lateraldo quadril. m) Tensor da fáscia lata M. tensor da fáscia lata Figura 152 – Músculo tensor da fáscia lata Origem: espinha ilíaca anterior superior e crista ilíaca. Inserção: trato iliotibial que se fixa no côndilo lateral da tíbia. Inervação: nervo glúteo superior. Ação: abdução, rotação medial e flexão do quadril; auxilia na manutenção do joelho estendido. 125 CINESIOLOGIA n) Ilíaco (Iliopsoas) Sacro Ísquio Fêmur M. ilíaco Crista ilíaca Figura 153 – Músculo ilíaco Origem: fossa ilíaca, crista ilíaca, asa do sacro e ligamento sacro-ilíaco anterior. Inserção: trocanter menor do fêmur e parte da diáfise, unindo-se ao tendão do músculo psoas maior. Inervação: nervo femoral. Ação: flexão e estabilização do quadril; atua junto com o músculo psoas maior. o) Psoas maior (Iliopsoas) M. psoas menor Sacro Ísquio Fêmur M. psoas maior Ílio Figura 154 – Músculo psoas maior Origem: processos costiformes das vértebras lombares, superfícies laterais dos corpos das vértebras T12-L5. 126 Unidade II Inserção: trocanter menor do fêmur. Inervação: ramos anteriores dos primeiros nervos espinhais lombares. Ação: flexão do quadril e flexão do tronco (junto com o músculo ilíaco); flexão lateral da coluna vertebral; acionado para o equilíbrio do tronco na posição sentada. p) Reto femoral (Quadríceps femoral) M. reto femoral Figura 155 – Músculo reto femoral Origem: espinha ilíaca anterior inferior e ílio acima do acetábulo. Inserção: base da patela e tuberosidade da tíbia, por meio do ligamento da patela. Inervação: nervo femoral. Ação: extensão do joelho e flexão do quadril. q) Sartório M. sartório Figura 156 – Músculo sartório 127 CINESIOLOGIA Origem: espinha ilíaca anterior superior. Inserção: face medial da tíbia. Inervação: nervo femoral. Ação: abdução, rotação lateral e flexão do quadril; flexão do joelho. r) Pectíneo M. pectíneo Figura 157 – Músculo pectíneo Origem: ramo superior do púbis. Inserção: linha pectínea do fêmur. Inervação: nervo femoral e, ocasionalmente, nervo obturatório. Ação: adução, flexão e rotação medial do quadril. s) Adutor longo M. adutor longo Figura 158 – Músculo adutor longo 128 Unidade II Origem: corpo do púbis. Inserção: linha áspera do fêmur. Inervação: nervo obturatório. Ação: adução, flexão e rotação medial do quadril. t) Adutor curto M. adutor curto Figura 159 – Músculo adutor curto Origem: corpo e ramo inferior do púbis. Inserção: linha pectínea e linha áspera do fêmur. Inervação: nervo obturatório. Ação: adução e rotação medial do quadril e fraco flexor do quadril. 129 CINESIOLOGIA u) Adutor magno M. adutor magno Figura 160 – Músculo adutor magno Origem: ramo inferior do púbis (porção adutora), ramo do ísquio (porção extensora). Inserção: linha áspera (porção adutora) e linha supracondiliana e tubérculo adutor (porção extensora). Inervação: nervo obturatório (porção adutora) e nervo isquiático (porção extensora). Ação: adução e flexão do quadril (porção adutora) e extensão do quadril (porção extensora). v) Grácil M. grácil Figura 161 – Músculo grácil 130 Unidade II Origem: corpo e ramo inferior do púbis. Inserção: face medial da tíbia. Inervação: nervo obturatório. Ação: adução e fraco flexor do quadril; flexão e rotação medial do joelho. Os músculos que atuam na articulação do quadril estão organizados de acordo com suas ações primárias ou secundárias no quadro a seguir. Quadro 13 – Músculos que atuam na articulação do quadril Flexores do quadril Ilíaco (Iliopsoas) Psoas maior (Iliopsoas) Sartório Tensor da fáscia lata Reto femoral Adutor longo Pectíneo Adutor curto (secundário) Grácil (secundário) Glúteo mínimo (fibras anteriores) (secundário) Extensores do quadril Glúteo máximo Semimembranáceo Semitendíneo Bíceps femoral Adutor magno (secundário) Glúteo médio (fibras médias e posteriores) (secundário) Abdutores do quadril Glúteo médio Glúteo mínimo Tensor da fáscia lata Glúteo máximo (fibras médias e posteriores) (secundário) Piriforme (secundário) Sartório (secundário) Adutores do quadril Pectíneo Adutor longo Adutor curto Adutor magno Grácil Bíceps femoral (cabeça longa) (secundário) Glúteo máximo (fibras inferiores e posteriores) (secundário) Obturador externo 131 CINESIOLOGIA Rotadores laterais do quadril Glúteo máximo Piriforme Obturador interno Gêmeo superior Gêmeo inferior Quadrado femoral Glúteo médio e mínimo (fibras posteriores) (secundário) Obturador externo (secundário) Sartório (secundário) Bíceps femoral (cabeça longa) (secundário) Rotadores mediais do quadril Glúteo médio e mínimo (fibras anteriores) Tensor da fáscia lata Adutor longo Adutor curto Pectíneo 5.3.1 Inversão muscular A alteração da função de um músculo é denominada inversão muscular. No quadril, como os braços de alavanca musculares são amplos e os eixos articulares são complexos, a função de alguns músculos é influenciada pelo posicionamento da pelve e do fêmur. Pode-se citar como exemplo o músculo quadrado femoral que, pela posição anatômica, é considerado um rotador lateral do quadril, entretanto, quando o quadril está em extensão, torna-se um flexor e, quando o quadril está flexionado, torna-se um extensor (KAPANDJI, 2000). Outro exemplo são os músculos adutores, que são rotadores mediais em cadeia cinética fechada e rotadores laterais em cadeia cinética aberta. 5.4 Análise cinesiológica do quadril Após termos apresentado os aspectos articulares e musculares, se faz necessária a análise dos movimentos. Vamos abordar dois exercícios de fortalecimento. Lembre-se de que a ativação de um grupo muscular ou de outro sempre dependerá do local e do sentido da resistência imposta ao movimento. Sabendo-se disso, vamos pensar sobre o seguinte exercício: Observação A ativação de um grupo muscular ou outro sempre dependerá do local e sentido que a resistência for imposta ao movimento. Com isso, quando o momento interno for maior (momento do músculo) a contração é concêntrica, já quando o momento externo for maior (momento da resistência) a contração é excêntrica. 132 Unidade II Exercício 1 Considerando o exercício realizado a seguir com as seguintes características, descreveremos os músculos contraídos, tipo de contração muscular e cadeia cinética. Posição inicial: indivíduo em decúbito dorsal com tornozeleira de 1 kg no membro inferior esquerdo. Fase 1: realiza o movimento de flexão do quadril. Fase 2: retorna à posição inicial. A) B) Figura 162 – A) posição inicial B) movimento de flexão do quadril Durante a fase 1, os músculos flexores do quadril (Iliopsoas, sartório, tensor da fáscia lata, reto femoral, adutor longo e pectíneo) contraem-se concentricamente para vencer a resistência externa (peso do segmento + peso da tornozeleira). Durante a fase 2, para retornar à posição inicial, ocorre uma extensão de quadril controlada, pois agora quem vence é a resistência externa, para realizar esse controle, 133 CINESIOLOGIA os músculos flexores do quadril contraem excentricamente. O movimento ocorre com o segmento distal da cadeia deslocando-se livremente pelo espaço, o que vai caracterizar uma cadeia cinética aberta. Exercício 2 Considerando o exercício a seguir com as seguintes características, descreveremos os músculos contraídos, tipo de contração muscular e cadeia cinética. Posição inicial: indivíduo em decúbito lateral com tornozeleira de 2 kg no membro inferior direito. Fase 1: realiza o movimento de abdução do quadril. Fase 2: mantém-se na posição de abdução de quadril. A) B) Figura 163 – A) posição inicial B) movimento de abdução do quadril Durante a fase 1, os músculos abdutores do quadril (glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, piriforme, tensor da fáscia lata e sartório) contraem-se concentricamente para vencer a resistência externa (peso do segmento + peso da tornozeleira). Durante a fase 2, para se manter na posição de abdução do quadril, os músculos abdutoresdo quadril se contraem isometricamente. O movimento ocorre com o segmento distal da cadeia deslocando-se livremente pelo espaço, o que vai caracterizar uma cadeia cinética aberta. 134 Unidade II Saiba mais Para ampliar seu conhecimento sobre o quadril, leia o artigo científico disponível a seguir: GRAMANI-SAY, K. et al. Efeito da rotação do quadril na síndrome da dor femoropatelar. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 10, n. 1, 2006, p. 75-81. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v10n1/v10n1a10.pdf. Acesso em: 13 fev. 2020. 5.5 Osteologia e artrologia do joelho A articulação do joelho é formada pelos ossos fêmur, tíbia e patela, que se articulam formando duas articulações, femorotibial e patelofemoral. Plantar Incisura intercondilar Gastrocnêmio (cabeça lateral) Epicôndilo lateral Poplíteo Processo estiloide Articulação tibiofibular proximal Flexor longo do hálux Fibular curto Fíbula Articulação tibiofibular distal Maléolo lateral Maléolo medial Plantar Tíbia Tibial anterior Semitendíneo Sartório Grácil Inserção do tendão patelar Tendões da pata de ganso Côndilo medial Epicôndilo medial Tubérculo adutor Tubérculo adutor Gastrocnêmio (cabeça medial) Epicôndilo medial Semimembranáceo Sóleo Linha solear Tíbia Maléolo medialMaléolo lateral Articulação tibiofibular distal Fibular terceiro Fibular curto Extensor longo do hálux Extensor longo dos dedos Fibular longo Articulação tibiofibular proximal Bíceps femoral Processo estiloide Banda iliotibial no côndilo lateral Epicôndilo lateral Sulco intercondilar A) Vista anterior B) Vista posterior Figura 164 – Fêmur distal, tíbia e fíbula proximais nas vistas A) anterior e B) posterior. As linhas tracejadas mostram a inserção da cápsula articular do joelho 135 CINESIOLOGIA Na extremidade distal do fêmur encontram-se os côndilos medial e lateral do fêmur. Acima deles observam-se os epicôndilos femorais medial e lateral, que serão os pontos de fixação dos ligamentos colaterais e, entre eles, o sulco intercondilar por onde atravessam os ligamentos cruzados. Anteriormente observa-se o sulco troclear, que se articula com a face posterior da patela formando a articulação patelofemoral. Os lados inclinados do sulco intercondilar formam as facetas medial e lateral, sendo que a faceta lateral é mais pronunciada que a medial, o que vai ajudar a manter a patela no sulco durante a movimentação do joelho. A tíbia é responsável pela distribuição do peso entre o joelho e o pé. Na sua porção proximal observam-se os côndilos medial e lateral, que se articularão com a porção distal do fêmur formando a articulação femorotibial, sendo esta dividida em dois compartimentos, medial e lateral. Na região anterior observa-se a tuberosidade da tíbia, que é o ponto de fixação do músculo quadríceps femoral. A fíbula não se articula com o fêmur, porém sua cabeça, que está localizada na porção proximal, é local de fixação do músculo bíceps femoral e do ligamento colateral lateral. A fíbula articula-se com a tíbia nas porções superior e inferior formando as articulações tibiofibulares proximal e distal. Essas articulações terão papel fundamental na mobilidade do tornozelo conforme será discutido adiante. A patela é o maior osso sesamoide do corpo localizado abaixo do tendão do músculo quadríceps. Sua superfície articular posterior é coberta por uma cartilagem articular de até 5 mm de espessura, que auxiliará na diminuição da compressão. Tendão do quadríceps da coxa Corpo adiposo suprapatelar Bolsa sinovial suprapatelar Bolsa pré-patelar subcutânea Patela Cavidade articular Corpo adiposo infrapatelar Lig. patelar Membrana sinovial Bolsa subcutânea infrapatelar Bolsa infrapatelar profunda (sutendínea) Tuberosidade da tíbia Menisco lateral Cartilagens articulares Membrana sinovial Bolsa sobre a cabeça lateral do m. gastrocnêmio M. articular do joelho Figura 165 – Vista lateral do joelho direito 136 Unidade II 5.5.1 Ângulo “Q” O ângulo Q é o ângulo formado por duas linhas que se cruzam no centro da patela, uma linha direcionada da tuberosidade da tíbia ao centro da patela e outra da espinha ilíaca anterossuperior ao centro da patela. Esse ângulo é maior nas mulheres, pois essas apresentam maior distância medial-lateral entre as espinhas ilíacas anterossuperiores. A avaliação do ângulo Q é muito utilizada na prática clínica, pois seus valores alterados podem estar associados a patologias. Quanto maior seu valor, maiores as forças de lateralização da patela, que aumentam a compressão entre a patela e o côndilo femoral lateral (SACCO; TANAKA, 2008). Linha de força Ângulo Q Reto femoral Vasto medial (longo) Vasto medial (oblíquo) Vasto intermédio Vasto lateral Figura 166 – Representação do ângulo Q 5.5.2 Joelho varo e valgo Ao observamos um esqueleto, veremos que os quadris são afastados da linha média corporal enquanto os joelhos se aproximam, isso faz com que os joelhos apresentem no plano frontal um valgo fisiológico de 175º. Esse valgo fisiológico pode estar alterado, ou seja, apresentar um ângulo acima de 175º (joelho varo) ou menor que 175º (valgo), alterações essas muito associadas ao diâmetro da pelve. Na posição ortostática, a força de reação do solo é igualmente distribuída em um joelho com alinhamento adequado, vale dizer, nos dois compartimentos articulares (compartimento medial e compartimento lateral). No joelho varo, a força de reação do solo é aumentada sobre o compartimento medial, podendo levar a uma diminuição do espaço articular e uma osteoartrite do compartimento medial (NEUMANN, 2018). O joelho com valgo aumentado apresenta aumento da força de reação do solo sobre o compartimento lateral, o que pode levar à diminuição do espaço articular e a uma osteoartrite do compartimento lateral. 137 CINESIOLOGIA Eixo longitudinal 170-175º <175º >175º 125º Valgo fisiológico Valgo Varo Figura 167 – Desvios do joelho no plano frontal: valgo fisiológico, valgo e varo 5.5.3 Articulação femorotibial Formada pela extremidade distal do fêmur e proximal da tíbia, suas faces articulares são as superfícies dos côndilos medial e lateral do fêmur (convexos e grandes) com os platôs medial e lateral da tíbia (planos e menores). É uma articulação sinovial condilar com dois graus de liberdade, o que permite realizar os movimentos de flexão e extensão no plano sagital, além das rotações medial e lateral no plano transversal somente quando o joelho está flexionado. A estabilidade é garantida pelas forças e pela contenção física proporcionadas pelos músculos, ligamentos, cápsula, meniscos e peso corporal. Portanto, um trauma na região geralmente envolve lesões em diversos tecidos moles (NEUMANN, 2018). 5.5.4 Articulação patelofemoral É uma articulação sinovial plana, que tem como superfícies articulares a face patelar do fêmur e a face posterior da patela. Por ser uma articulação plana, ocorrem somente deslizamentos da patela inferior e superiormente sobre a face patelar do fêmur durante os movimentos de flexão e extensão do joelho, respectivamente. Sua presença possibilita uma maior amplitude de movimento de flexão e uma maior eficiência do músculo quadríceps femoral, pois aumenta o seu braço de alavanca. A estabilidade da articulação é dada pelas forças produzidas pelo músculo quadríceps femoral, pelo ajuste das superfícies articulares e pela limitação passiva dos tecidos moles adjacentes (NEUMANN, 2018). 5.5.5 Meniscos São discos de fibrocartilagem com formato de meia-lua localizados na articulação do joelho. Eles são mais espessos na periferia e mais delgados no centro. São inseridos lateralmente aos côndilos da tíbia (por meio de espessamento da cápsula e pelos ligamentos coronários) e à patela (através dos ligamentos meniscopatelar ou tibiopatelar) (SACCO; TANAKA, 2008). Os ligamentos coronários são relativamente 138 Unidade II frouxos, o que permitirá aos meniscos, principalmente ao menisco lateral, deslizarlivremente durante o movimento acompanhando o rolamento dos côndilos, por exemplo, durante a flexão deslizam para trás e durante a extensão deslizam para frente; na rotação lateral da tíbia sob o fêmur, o menisco lateral desliza para frente e o medial desliza para trás; na rotação medial, o menisco lateral desliza para trás e o menisco medial desliza para frente. Os meniscos medial e lateral contribuem para a estabilidade do joelho, pois aumentam a congruência óssea. Além disso, têm a função de absorver impactos, diminuir o atrito ósseo, aumentar o encaixe ósseo, estabilizar a articulação durante o movimento, lubrificar a cartilagem articular, fornecer propriocepção e ajudar a orientar a artrocinemática (movimento entre as superfícies articulares) do joelho. O terço periférico recebe sangue por ramos da artéria poplítea que perfura a cápsula circundante. Os dois terços internos são essencialmente avasculares e recebem nutrição apenas do líquido sinovial. O potencial de cura após uma lesão está relacionado à sua vascularização e à gravidade da lesão (NEUMANN, 2018). O menisco medial é o menos móvel e, portanto, o mais lesado na sobrecarga mecânica junto com o ligamento cruzado anterior e o ligamento colateral medial. Essa lesão ocorre normalmente em uma rotação forçada dos côndilos femorais sobre o joelho levemente fletido e suportando peso. Tendão do m. semimembranáceo Lig. poplíteo oblíquo Lig. cruzado posterior Lig. colateral tibial (parte profunda ligada ao menisco medial) Menisco medial Membrana sinovial Face articular superior da tíbia (faceta medial) Cápsula articular Lig. cruzado anterior Lig. da patelaCorpo adiposo infrapatelar Trato iliotibial aderido à cápsula articular Face articular superior da tíbia (faceta lateral) Menisco lateral Recesso poplíteo (subpoplíteo) Tendão do m. poplíteo Bolsa Lig. colateral fibular Lig. poplíteo arqueado Lig. meniscofemoral posterior Figura 168 – Vista superior dos meniscos do joelho direito 5.5.6 Movimentos Como mencionado anteriormente, o joelho realiza os movimentos de flexão e extensão no plano sagital ao redor do eixo medial-lateral. As rotações medial e lateral ocorrem no plano transversal e ao redor do eixo longitudinal somente quando o joelho está flexionado. 139 CINESIOLOGIA O movimento de flexão aproxima a face posterior da perna da face posterior da coxa por meio de um rolamento posterior e deslizamento anterior dos côndilos femorais sobre os platôs tibiais com a amplitude de 130° a 140º. Sua amplitude se reduz para 120º se o quadril estiver estendido devido ao aumento da tensão do músculo reto femoral e diminuição da ação dos isquiotibiais já encurtados pela extensão do quadril. 5º-10º de extensão além da posição de zero grau 5º-10º de extensão além da posição de zero grau 140º de flexão 140º de flexão A) B) Figura 169 – Representação do movimento de flexão e extensão do joelho; A) movimento da tíbia em relação ao fêmur; B) movimento do fêmur em relação à tíbia A extensão do joelho afasta a face posterior da perna da face posterior da coxa por meio de um rolamento anterior e de um deslizamento posterior. Na posição ortostática, o joelho encontra-se estendido, porém é considerado normal uma hiperextensão de até 10º. Fêmur TíbiaTíbia Deslizamento anterior Deslizamento posterior Rolamento anteriorRolamento posterior A) B) Figura 170 – Representação do rolamento e deslizamento entre as superfícies articulares durante o movimento de A) flexão e B) extensão do joelho O movimento de rotação medial leva a tuberosidade da tíbia medialmente e a patela desloca-se lateralmente, sendo que sua amplitude é de 30º; a rotação lateral leva a tuberosidade da tíbia lateralmente e a patela desloca medialmente, sua amplitude é de 40º. 140 Unidade II A) B) C) Figura 171 – Deslocamentos da patela durante as rotações do joelho: A) rotação medial do joelho deslocando a patela para fora; B) posição neutra; C) rotação lateral do joelho deslocando a patela para dentro 5.6 Sistema ligamentar do joelho (estabilizadores passivos) A estabilidade do joelho é garantida tanto por estabilizadores passivos quanto por ativos. São estabilizadores passivos: cápsula articular, ligamentos colaterais medial e lateral (ou tibial e fibular, respectivamente), ligamento transverso, ligamentos cruzados anterior e posterior, banda iliotibial, banda femoral, bolsas sinoviais e meniscos. A cápsula articular é um tecido conjuntivo denso e possui duas camadas: membrana fibrosa (externa) e membrana sinovial (interna). Envolve as articulações femorotibial e patelofemoral, reforçada anteriormente pelo ligamento patelar e tendão patelar, medial e lateralmente pelos ligamentos colaterais e, posteriormente, pelo músculo poplíteo e ligamento transverso do joelho. O joelho apresenta três bolsas sinoviais: suprapatelar, infrapatelar e pré-patelar, sendo sua função diminuir o atrito entre as estruturas adjacentes. Os ligamentos são responsáveis por controlar extensões excessivas, estresses em varo e valgo, anteriorização e posteriorização da tíbia em relação ao fêmur e as rotações medial e lateral. Os principais ligamentos presentes no joelho são os ligamentos cruzados anterior (LCA) e posterior (LCP) e os colaterais lateral ou fibular (LCL) e medial ou tibial (LCM). Suas funções estão descritas no quadro a seguir. Quadro 14 – Função dos ligamentos no joelho Ligamento Função LCM Resistir ao valgo. Resistir à extensão do joelho. Resistir à rotação lateral do joelho. LCL Resistir ao varo. Resistir à extensão do joelho. Resistir às rotações do joelho. LCA Resistir à extensão (translação anterior da tíbia e/ou translação posterior do fêmur). Resistir aos extremos do varo, do valgo e da rotação do joelho. LCP Resistir à flexão (translação posterior da tíbia e/ou translação anterior do fêmur). Resistir aos extremos do varo, do valgo e da rotação axial. 141 CINESIOLOGIA Lig. cruzado posterior Côndilo medial do fêmur (superfície articular) Menisco medial Lig. colateral tibial Côndilo medial da tíbia Tuberosidade da tíbia Lig. cruzado posterior Lig. cruzado anterior Lig. meniscofemoral posterior Côndilo lateral do fêmur (superfície articular) Tendão poplíteo Lig. colateral fibular Menisco lateral Cabeça da fíbula Côndilo medial da tíbia Lig. colateral tibial Menisco medial Côndilo medial do fêmur (superfície articular) Tubérculo de Gerdy Cabeça da fíbula Lig. transverso do joelho Menisco lateral Lig. colateral fibular Tendão poplíteo Côndilo lateral do fêmur (superfície articular) Lig. cruzado anterior Vista anterior Vista posterior Tubérculo adutor (epicôndilo medial do fêmur) Figura 172 – Vista anterior e posterior do joelho direito Lembrete Os ligamentos colaterais são extra capsulares, sendo que o LCM tem origem no epicôndilo medial do fêmur e inserção na face ântero-medial da tíbia; já o LCL tem origem no epicôndilo lateral do fêmur e inserção na cabeça da fíbula. Os ligamentos cruzados são intracapsulares, sendo que o LCA tem origem anterior à eminência intercondilar da tíbia, na face lateral do platô medial da tíbia e inserção na face medial do côndilo lateral do fêmur; o LCP tem origem posterior à eminência intercondilar da tíbia, na face medial do platô lateral da tíbia e inserção na face lateral do côndilo medial do fêmur. 142 Unidade II Os ligamentos colaterais são extra capsulares, sendo que o LCM tem origem no epicôndilo medial do fêmur e inserção na face ântero-medial da tíbia; já o LCL tem origem no epicôndilo lateral do fêmur e inserção na cabeça da fíbula. Os ligamentos colaterais fornecem estabilidade transversal ao joelho resistindo aos estresses em valgo e varo. O movimento excessivo em um ou outro sentido pode levar à lesão do LCM ou do LCL. A) B) Figura 173 – A) Lesão do ligamento colateral medial (LCM) em um esforço em valgo e B) lesão do ligamento colateral lateral (LCL) em um esforço em varo Os ligamentoscruzados fornecem estabilidade ântero-posterior ao joelho resistindo à posteriorização e anteriorização da tíbia em relação ao fêmur. O movimento excessivo em um ou outro sentido pode levar a lesão do LCP ou do LCA. A) B) Figura 174 – A) Lesão do ligamento cruzado posterior (LCP) em uma posteriorização excessiva da tíbia; B) lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) em uma anteriorização excessiva da tíbia 5.7 Sistema muscular do joelho (estabilizadores ativos) Em situação de intensa sobrecarga mecânica, os estabilizadores passivos (ligamentos) recebem auxílio dos estabilizadores ativos (músculos) para garantir a estabilidade dinâmica do joelho. O músculo tensor da fáscia lata auxilia o ligamento colateral lateral, os músculos da “pata de ganso” (sartório, semitendíneo e grácil) auxiliam o ligamento colateral medial. Os músculos do joelho descritos a seguir são considerados como dois grupos: os extensores e os flexores-rotadores do joelho. 143 CINESIOLOGIA Espinha ilíaca anterosuperior Espinha ilíaca anterosuperior M. sartório (inserção proximal) Espinha ilíaca anteroinferior Lig. articulação do quadril M. pectíneo M. ilíaco M. psoas maior M. glúteo médio Lig. inguinal Tubérculo púbico M. tensor da fáscia lata M. pectnio M. tensor da fáscia lata (inserção proximal) M. reto femoral (inserção proximal) Trocanter maior M. iliopsoas (cortado) M. adutor longo M. grácil M. sartório M. reto femoral M. vasto lateral M. vasto intermédio M. vasto medial Trato iliotibial Crista ilíaca Aponeurose glútea cobrindo o m. glúteo médio M. glúteo máximo M. glúteo mínimo M. piriforme Nervo isquiático Lig. sucroespinal M. gêmeo superior M. obturador interno M. gêmeo inferior Lig. sacrotuberal M. quadrado femoral Túber isquiático M. semitendíneo Trocanter maior M. bíceps femoral (cabeça longa) M. adutor mínimo é parte do m. adutor magno M. semimembranáceo Trato iliotibial M. grácil M. bíceps femoral Cabeça curta Cabeça longa M. gastrocnêmio Cabeça medial Cabeça lateral M. semimembranáceo M. semitendíneo M. poplíteo Arco tendíneo do m. sóleo Tendão do m. plantar Vasos poplíteos e nervo tibial Nervo fibular comum M. plantar M. sartório Tendão do m. reto femoral (tornando-se parte do tendão do m. quadríceps femoral) Retináculo lateral da patela Patela Retináculo medial da patela Septo intermuscular vastoadutor (anteromedial)Lig. da patela Tendão do m. sartório** Tendão do m. grácil** Tendão do m. semitendíneo** Tuberosidade da tíbia Trato iliotibial (cortado) Tendão do m. reto femoral (cortado) Tendão do m. quadríceps femoral Patela Retináculo lateral da patela Retináculo medial da patela Cabeça da fíbula Lig. da patela Tuberosidade da tíbia Tendão do m. sartório **Pata de ganso (pes anserinus) Vista anterior Vista posterior Figura 175 – Vista anterior e posterior dos músculos localizados na coxa e parte proximal da perna responsáveis pelo movimento do joelho 144 Unidade II a) Reto femoral (quadríceps femoral) M. reto femoral Figura 176 – Músculo reto femoral Origem: espinha ilíaca anterior inferior e ílio acima do acetábulo. Inserção: base da patela e tuberosidade da tíbia, por meio do ligamento da patela. Inervação: nervo femoral. Ação: extensão do joelho e flexão do quadril. b) Vasto medial (quadríceps femoral) M. vasto intermédio M. vasto medialM. vasto lateral Figura 177 – Músculos vastos lateral, medial e intermédio 145 CINESIOLOGIA Origem: linha intertrocantérica e linha áspera do fêmur. Inserção: base da patela e tuberosidade da tíbia, por meio do ligamento da patela. Inervação: nervo femoral. Ação: extensão do joelho. c) Vasto lateral (quadríceps femoral) Origem: trocanter maior do fêmur e linha áspera do fêmur. Inserção: base da patela e tuberosidade da tíbia, por meio do ligamento da patela. Inervação: nervo femoral. Ação: extensão do joelho. d) Vasto intermédio (quadríceps femoral) Origem: superfície anterior e lateral do corpo do fêmur. Inserção: base da patela e tuberosidade da tíbia, por meio do ligamento da patela. Inervação: nervo femoral. Ação: extensão do joelho. e) Articular do joelho (compreende as fibras distais do músculo vasto intermédio) Origem: parte distal do fêmur. Inserção: bolsa suprapatelar. Inervação: nervo femoral. Ação: traciona superiormente a bolsa suprapatelar durante a extensão do joelho. 146 Unidade II f) Tensor da fáscia lata M. tensor da fáscia lata Figura 178 – Músculo tensor da fáscia lata Origem: espinha ilíaca anterior superior e crista ilíaca. Inserção: trato iliotibial que se fixa no côndilo lateral da tíbia. Inervação: nervo glúteo superior. Ação: abdução, rotação medial e flexão do quadril; auxilia na manutenção do joelho estendido. g) Semimembranáceo M. semimebranáceo Figura 179 – Músculo semimembranáceo Origem: túber isquiático. Inserção: côndilo medial da tíbia. 147 CINESIOLOGIA Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão e rotação medial do joelho; extensão do quadril. h) Semitendíneo M. semitendíneo Figura 180 – Músculo semitendíneo Origem: túber isquiático. Inserção: côndilo medial da tíbia. Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão e rotação medial do joelho; extensão do quadril. i) Bíceps femoral M. bíceps femoral Figura 181 – Músculo bíceps femoral 148 Unidade II Origem: cabeça longa – túber isquiático; cabeça curta – linha áspera e linha supracondilar lateral do fêmur. Inserção: cabeça da fíbula. Inervação: nervo isquiático. Ação: flexão e rotação lateral do joelho; extensão do quadril (cabeça longa). j) Sartório M. sartório Figura 182 – Músculo sartório Origem: espinha ilíaca anterior superior. Inserção: face medial da tíbia. Inervação: nervo femoral. Ação: abdução, rotação lateral e flexão do quadril; flexão e rotação medial do joelho. l) Grácil M. grácil Figura 183 – Músculo grácil 149 CINESIOLOGIA Origem: corpo e ramo inferior do púbis. Inserção: face medial da tíbia. Inervação: nervo obturatório. Ação: flexão e adução do quadril; flexão e rotação medial do joelho. m) Poplíteo Lig. poplíteo oblíquo M. poplíteo Figura 184 – Músculo poplíteo Origem: côndilo lateral do fêmur; menisco lateral. Inserção: face posterior da tíbia acima do sóleo. Inervação: nervo tibial (L4-S1). Ação: rotação interna da tíbia e flexão do joelho em cadeia cinética aberta. Rotação externa do fêmur em cadeia cinética fechada. Desbloqueio do joelho no início da flexão, quando ele está em extensão. n) Gastrocnêmio M. gastrocnêmio Tendão do calcâneo Figura 185 – Músculo gastrocnêmio 150 Unidade II Origem: cabeça lateral – côndilo lateral do fêmur. Cabeça medial – côndilo medial do fêmur. Inserção: calcâneo por meio do tendão calcâneo. Inervação: nervo tibial. Ação: flexão plantar do tornozelo. Auxilia a flexão do joelho. Eleva o calcanhar durante a marcha. o) Plantar M. plantar Figura 186 – Músculo plantar Origem: linha supracondilar lateral do fêmur e ligamento poplíteo oblíquo. Inserção: calcâneo por meio do tendão calcâneo. Inervação: nervo tibial. Ação: fraco colaborador do músculo gastrocnêmio. Os músculos que atuam na articulação do joelho estão descritos de acordo com sua função no quadro a seguir. 151 CINESIOLOGIA Quadro 15 – Músculos que atuam na articulação do joelho Flexores do joelho Semitendíneo Semimembranáceo Bíceps femoral Sartório Grácil Gastrocnêmio Plantar Extensores do joelho Reto femoral Vasto medial Vasto lateral Vasto intermédio Articular do joelho Tensor da fáscia lata Rotadores laterais do joelho Bíceps femoral Poplíteo Rotadores mediais do joelho Grácil Poplíteo Sartório Semimembranáceo Semitendíneo 5.8 Análise cinesiológica do joelho Considerando o que foi abordado até o momento, vamos analisar os exercícios a seguir com enfoque nos grupos musculares, tipo de contração muscular e cadeia cinética. No exercício 1, o indivíduo realiza um exercício de extensão do joelho e, no exercício 2, um exercício de agachamento.Será que os mesmos grupos musculares são recrutados na articulação do joelho? E os tipos de contração muscular? O indivíduo inicia o exercício com o mesmo tipo de contração muscular? A cadeia cinética é a mesma? Antes de respondermos essas questões, descreveremos o posicionamento de cada exercício com enfoque na articulação do joelho. Exercício 1 Posição inicial: indivíduo sentado com tornozeleira de 2 kg no membro inferior direito; Fase 1: realiza o movimento de extensão do joelho. Fase 2: retorna à posição inicial, isto é, realiza a flexão do joelho. 152 Unidade II A) B) Figura 187 – A) posição inicial; B) movimento de extensão do joelho Exercício 2 Posição inicial: indivíduo na posição ortostática. Fase 1: realiza o movimento de flexão do joelho (agachamento). Fase 2: retorna à posição inicial, isto é, realiza a extensão do joelho. A) B) Figura 188 – A) posição inicial; B) movimento de flexão do joelho 153 CINESIOLOGIA Vamos pensar primeiro sobre os movimentos. No exercício 1, o indivíduo realiza uma extensão do joelho contra a resistência externa (peso do segmento + tornozeleira) para depois retornar à posição inicial; já no exercício 2, o indivíduo realiza primeiro uma flexão do joelho a favor da resistência externa, ou seja, a força da gravidade, atuando sobre a massa corporal, empurra no sentido do chão o corpo, que, logo após, retorna à posição inicial. Os movimentos tanto no exercício 1 quanto no exercício 2 acontecem no plano sagital e ao redor do eixo medial-lateral. Considerando agora o tipo de contração muscular, observamos que no exercício 1 o músculo vence a resistência externa na fase 1, para tal, é necessário ocorrer uma contração concêntrica. Na fase 2, o músculo controla a resistência externa, já que o movimento ocorre no sentido da resistência e, para isso, ocorre uma contração excêntrica. No exercício 2, observamos o inverso, vale dizer, na fase 1 o movimento ocorre no sentido da resistência externa (contração excêntrica) e na fase 2 o músculo vence a resistência (contração concêntrica). Tanto no exercício 1 quanto no exercício 2, o mesmo grupo muscular é recrutado na articulação do joelho, ou seja, músculo quadríceps femoral nas duas fases. A diferença é que no exercício 1 ocorre primeiro a contração concêntrica e no exercício 2 a contração excêntrica desse grupo muscular. Entretanto as cadeias cinéticas são diferentes, o exercício 1 é realizado em cadeia cinética aberta e o exercício 2 em cadeia cinética fechada. Um fato importante a ser considerado quando pensamos na cadeia cinética é que o exercício, quando acontece na fechada, envolve a participação de mais articulações, portanto, mais grupos musculares estão envolvidos. Saiba mais Para ampliar o conhecimento sobre a articulação do joelho leia o livro: BEVILAQUA-GROSSI, D. et al. Ativação muscular estabilizadora da patela e do quadril durante exercícios de agachamento em indivíduos saudáveis. Revista Brasileira de Fisioterapia. v. 15, n. 3, maio/jun. 2011; p. 206-211. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1413-35552011000300006. Acesso em: 13 fev. 2020. MARQUES, A. P. et al. Ângulo-q na dor patelofemoral: relação com valgo dinâmico de joelho, torque abdutor do quadril, dor e função. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 51, n. 2, 2016, p. 181-186. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/rbort/v51n2/pt_0102-3616-rbort-51-02-00181.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020. SACCO, I. C.; TANAKA, I. Cinesiologia e biomecânica dos complexos articulares. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 154 Unidade II 6 TORNOZELO E PÉ O complexo articular do tornozelo e do pé constitui a porção mais distal do membro inferior e é formado por 34 articulações. Juntos apresentam duas importantes características: flexibilidade e rigidez; flexibilidade para se moldar às irregularidades da superfície e rigidez para sustentar o peso do corpo. Entre as funções da região, podemos destacar suporte do peso, controle e estabilização da perna sobre o pé plantígrado, ajuste às superfícies irregulares, elevação do corpo, amortecimento de choques ao andar, correr ou aterrissar de um salto, operação de controle de máquinas, além de substituição da função da mão em casos de amputações ou paralisias dos membros superiores. 6.1 Osteologia do tornozelo e pé O tornozelo é formado pela tíbia, fíbula e tálus, enquanto o pé é formado pelos ossos do tarso, metatarsos e falanges. Tíbia Linha epifisal Tróclea do tálus Maléolo medial TálusMaléolo lateral Articulação talocrural Sindesmose tibiofibular Fíbula Figura 189 – Radiografia AP da articulação do tornozelo (talocrural) 155 CINESIOLOGIA Articulação transversa do tarso Navicular Cuneiforme intermédio Cuneiforme lateral Articulações tarsometarsais Metatarsais Falanges Cabeça do metatarsal VTuberosidade do metatarsal V Ossos tarsais Tálus Articulações tarsometatarsais Cuboide Articulação transverso do tarsoSeio do tarso Tuberosidade do calcâneo Trócela fibular Calcâneo Proc. posterior do tálus, tubérculo lateral Face maleolar lateral Colo do tálus Tróclea do tálus Figura 190 – Vista lateral dos ossos do pé direito O tarso é formado pelos seguintes ossos: tálus, calcâneo, navicular, cuboide, cuneiforme medial, cuneiforme intermédio e cuneiforme lateral. O metatarso é formado por cinco ossos numerados de I a V, de medial para lateral. O primeiro dedo, chamado de hálux, apresenta duas falanges: proximal e distal; já do II ao V dedo observamos três falanges: proximal, intermédia e distal. Funcionalmente no pé existem três regiões, cada uma com ossos e articulações específicas: retropé, mediopé e antepé. O retropé consiste no tálus e no calcâneo; o mediopé é formado pelo navicular, cuboide e os três cuneiformes; o antepé, pelos metatarsos e falanges. Articulação talocrural Articulação subtalar Articulação transverso do tarso Falanges Metatarsos Tarsos MediopéRetropé Antepé Tálus Calcâneo Tíbia Fíbula Posterior (proximal) Anterior (distal) Inferior (plantar) Superior (dorsal)Vista lateral Figura 191 – Organização geral dos ossos, algumas articulações e regiões do pé e tornozelo 156 Unidade II Distalmente, tíbia e fíbula apresentam duas proeminências ósseas conhecidas como maléolo medial e maléolo lateral, respectivamente. Os maléolos funcionalmente formam a pinça bimaleolar que se articula com a face superior da tróclea do tálus. Ao analisarmos a posição dos maléolos, observa-se que o maléolo lateral é posterior e inferior em relação ao maléolo medial. A tíbia é a responsável direta pela transmissão do peso corporal à tróclea do tálus e este é o responsável pela distribuição da carga para as demais partes do pé. 6.2 Artrologia 6.2.1 Tornozelo Além de duas articulações localizadas na perna, tibiofibular proximal e tibiofibular distal, o tornozelo apresenta a articulação talocrural. A articulação talocrural é sinovial tipo gínglimo e permite somente um grau de liberdade, e, vale dizer, realiza os movimentos de dorsiflexão e flexão plantar no plano sagital e ao redor do eixo medial-lateral. Enquanto a articulação tibiofibular proximal é sinovial tipo plana que permite pequenos deslizamentos da cabeça da fíbula em relação à tíbia, a articulação tibiofibular distal é uma juntura fibrosa do tipo sindesmose ligada por uma membrana interóssea que forma a pinça bimaleolar. Articulação tibiofibular, lig. anterior da cabeça da fíbula Tuberosidade da tíbia Membrana interóssea da perna Maléolo medial Sindesmose tibiofibular, lig. tibiofibular anteriorMaléolo lateral Cabeça da fíbula Figura 192 – Vista anterior dos ossos da perna 157 CINESIOLOGIA 6.2.2 Pé O retropé apresenta a articulação subtalar também chamada de talocalcânea, formada pelos ossos tálus e calcâneo. No mediopé observamos a articulação transversa do tarso também conhecida como mediotarsal ou de Chopart, formada pelas articulações talonavicular e calcaneocuboide; a articulaçãointertársica distal, formada pelas articulações cuneonavicular, cuboideonavicular e complexo articular intercuneiforme e cuneocubóidea. O antepé é formado pelas articulações tarsometatársicas, intermetatársicas, metatarsofalangeanas e interfalangeanas. Cada dedo do pé apresenta três falanges (proximal, média e distal) e, portanto, duas articulações interfalangenas (proximal e distal); já o primeiro dedo (hálux) apresenta duas falanges (proximal e distal) e, portanto, somente uma articulação interfalangeana. Articulações interfalangeanas Articulações metatarsofalangeanas Artivulações interfalangeanas Articulações tarsometatársicas Complexo articular intercuneiforme e cuneocubóideo Articulação cuneonavicular Articulações intertarsais distais Articulação transversa do tarso Mediopé Antepé Retropé Articulação cuboideonavicular Articulação talonavicular Articulação calcaneocubóidea Articulação subtalar Tendão calcanear Fibular curto Figura 193 – Ossos e articulações do pé Os tipos de cada articulação encontram-se descritos quadro a seguir. Quadro 16 – Articulações do pé com seus respectivos tipos articulares Articulação Tipo Subtalar (talocalcânea) Sinovial condilar Talonavicular Sinovial condilar Calcaneocuboide Sinovial selar Cuneonavicular Sinovial plana Cuboideonavicular Sinovial plana 158 Unidade II Articulação Tipo Intercuneiforme Sinovial plana Cuneocubóidea Sinovial plana Tarsometatársicas Sinovial plana Intermetatársicas Sinovial plana Metatarsofalangeanas Sinovial condilar Interfalangeanas Sinovial gínglimo 6.3 Movimentos 6.3.1 Tornozelo A articulação do tornozelo realiza os movimentos de dorsiflexão (aproximação do dorso do pé da face anterior da perna), com amplitude de movimento de 20º a 30º e flexão plantar (afastamento do dorso do pé da face anterior da perna), com amplitude entre 30º e 50º. Para a realização desses movimentos, ocorre a participação das articulações tibiofibular proximal e distal, além da talocrural. B) A) C) Figura 194 – Movimentos do tornozelo: A) neutro; B) dorsiflexão; C) flexão plantar Durante a dorsiflexão observa-se que o maléolo lateral se afasta do maléolo medial promovendo a abertura da pinça bimaleolar, o maléolo lateral sobe e gira sobre si mesmo no sentido da rotação medial, horizontalizando as fibras da membrana interóssea. Durante a flexão plantar, o maléolo lateral se aproxima do maléolo medial promovendo um fechamento da pinça bimaleolar, o maléolo lateral abaixa e gira no sentido da rotação lateral. 159 CINESIOLOGIA Na articulação talocrural observamos também um ângulo de torção tibial, formado entre os eixos horizontais do joelho e do tornozelo com uma amplitude média entre 10 e 15º. 6.3.2 Pé O movimento de eversão do pé ocorre quando a planta do pé se dirige para fora e o movimento de inversão ocorre quando esta se dirige para dentro. Ambos ocorrem no plano frontal ao redor do eixo ântero-posterior e ocorrem principalmente na articulação subtalar com pequenas participações das articulações do mediopé e antepé. A mobilidade de inversão é quase o dobro da eversão. A abdução e adução do pé são movimentos que ocorrem no plano transversal ao redor do eixo longitudinal. Abdução/adução (eixo vertical) Eversão/inversão (eixo AP) Dorsiflexão/flexão plantar (eixo ML) Figura 195 – Movimentos do tornozelo e pé ao redor dos seus eixos de rotação: longitudinal, ântero-posterior (AP) e medial-lateral (ML) Devido ao formato dos ossos do tarso, essa movimentação não ocorre de maneira isolada no pé, resultando nos movimentos de pronação e supinação. A supinação combina os movimentos de inversão, adução e flexão plantar; já a pronação combina os movimentos de eversão, abdução e dorsiflexão. Esses movimentos ocorrem na articulação subtalar com ajustes em diversos planos de movimento. As articulações metatarsofalangeanas realizam os movimentos de flexão, extensão, adução e abdução dos dedos. As articulações interfalangeanas realizam apenas movimentos de flexão e extensão dos dedos. 6.4 Sistema ligamentar do tornozelo e do pé (estabilizadores passivos) 6.4.1 Estabilizadores do tornozelo A estabilização da articulação do tornozelo é garantida principalmente pelo seu sistema ligamentar, visto que não apresenta um suporte muscular adequado. A união entre tíbia e fíbula é garantida pela membrana interóssea e, na sua extremidade distal, por três ligamentos que asseguram a estabilidade da articulação tibiofibular: tibiofibular anterior, tibiofibular posterior e transverso inferior. 160 Unidade II Lig. tibiofibular anterior Anterior Posterior Face articular do maléolo lateral da fíbula Face articular do maléolo medial da tíbia Maléolo medial da tíbia Face articular inferior da tíbia Lig. tibiofibular posterior Fossa do maléolo lateral da fíbula Figura 196 – Vista das faces articulares dos maléolos medial e lateral com seus respectivos ligamentos A cápsula articular da articulação talocrural é reforçada pelos ligamentos colaterais medial e lateral. O ligamento colateral medial é formado pelo ligamento deltoide composto de quatro ligamentos: tibiotalar posterior, tibiocalcâneo, tibionavicular e tibiotalar anterior. Todos com origem no maléolo medial e responsáveis por limitar o movimento de eversão do pé. Tíbia Lig. talocalcaneano medial Processo posterior do tálus Lig. talocalcâneo posterior Tendão calcâneo (de Aquiles) (seccionado) Sustentáculo do tálus do calcâneo Lig. plantar longoLig. calcaneanonavicular plantar (espiral) Tendão do tibial posteriorTendão do tibial anterior Tuberosidade do Iº osso metatarsal Iº osso metatarsal Lig. tarsometatársicos dorsais Lig. intercuneiforme dorsal Osso cuneiforme médio Lig. cuneonaviculares dorsais Osso navicular Lig. talonavicular dorsal Lig. tibiotalar anterior (parte do lig. deltoide) Lig. tibionavicular (parte do lig. deltoide) Lig. tibiocalcâneo (parte do lig. deltoide) Lig. tibiotalar posterior (parte do lig. deltoide) Figura 197 – Vista medial do tornozelo direito Os ligamentos colaterais do tornozelo constituem os ligamentos talofibular anterior, talofibular posterior e calcaneofibular. São responsáveis por limitar a inversão do pé, além de os talofibulares 161 CINESIOLOGIA controlarem a anteriorização e posteriorização do pé em relação à perna. O ligamento talofibular anterior é o mais comumente lesado no tornozelo. Lig. talofibular posterior (um componente do lig. colateral lateral) Lig. calcâneo fibular (um componente do lig. colateral lateral) Lig. talofibular anterior (um componente do lig. colateral lateral) Lig. talocalcâneo interósseo Lig. talonavicular dorsal Parte calcaneonavicular do ligamento bifurcado Parte calcaneocubóide do ligamento bifurcado Lig. cuboidenavicular dorsal Lig. cuneonaviculares dorsais Lig. intercuneiformes dorsais Lig. tarsometatársicos dorsais Ligs. metartársicos dorsais Lig. cuneocubóideos dorsais Osso cuboide Lig. calcaneocubóide dorsalTendão do fibular curto Tendão do fibular longo Lig. plantar longo Lig. talocalcâneo lateral Retináculo fibular inferior Tendão calcâneo (de Aquiles) (seccionado) Retináculo superior do fibular Lig. tibiofibular posterior Lig. tibiofibular anterior Fíbula Tíbia Figura 198 – Vista lateral do tornozelo direito 6.4.2 Estabilizadores do pé Os ligamentos que oferecem a principal estabilização da articulação subtalar são: ligamento calcaneofibular, fibras tibiocalcâneas do ligamento deltoide, ligamentos interósseos (talocalcaneares) e ligamentos cervicais. Os ligamentos calcaneofibular e as fibras do ligamento deltoide limitam a inversão e eversão excessivas, respectivamente. Os ligamentos interósseo e cervical unem o tálus ao calcâneo e limitam os extremos de todos os movimentos, principalmente a inversão. A cápsula da articulação talonavicular é estabilizada pelos ligamentos: calcaneonavicular plantar (mais conhecido como ligamento em mola que forma uma faixa fibrocartilaginosapara a cabeça do tálus); ligamento talonavicular dorsal (reforça na região posterior); ligamento bifurcado (reforça a cápsula lateralmente); fibras tibionaviculares e tibiotalares anteriores do ligamento deltoide (reforçam na região medial). A articulação calcaneocuboide é estabilizada pelo ligamento calcaneocuboide dorsal (reforça a cápsula dorsolateralmente), pelo ligamento bifurcado (reforça a cápsula dorsalmente) e ligamentos plantares longo e curto que (reforçam a cápsula pelo lado plantar). 162 Unidade II A cápsula das articulações metatarsofalangeanas é reforçada por um par de ligamentos colaterais. Lig. plantar (lâmina)Ligs. colaterais Cápsulas articulares e ligamentos das articulações metatarsofalângicas e interfalângicas: vista lateral Osso metatarsal Cápsula articular Proximal Falanges MédiaDistal Figura 199 – Vista lateral das articulações metatarsofalangeana e interfalangeanas 6.5 Sistema muscular do tornozelo e do pé (estabilizadores ativos) Os músculos extrínsecos estão distribuídos em três compartimentos: anterior, lateral e posterior, sendo que cada compartimento é inervado por um diferente nervo. Os músculos intrínsecos estão organizados em quatro camadas. Vejamos os quadros a seguir Quadro 17 – Músculos extrínsecos da perna e do pé Compartimento Músculos Inervação Anterior Tibial anterior Extensor longo dos dedos Extensor longo do hálux Fibular terceiro Ramo profundo do nervo fibular Lateral Fibular longo Fibular curto Ramo superficial do nervo fibular Posterior Gastrocnêmio Sóleo Plantar Tibial posterior Flexor longo dos dedos Flexor longo do hálux Nervo tibial Quadro 18 – Músculos intrínsecos do pé Camada Músculos Camada 1 Flexor curto do dedo Abdutor do hálux Abdutor do dedo mínimo Camada 2 Quadrado plantar Lumbricais Camada 3 Adutor do hálux Flexor curto do hálux Flexor do dedo mínimo Camada 4 Interósseos plantares Interósseos dorsais 163 CINESIOLOGIA Observação Os músculos que atuam no tornozelo e no pé são classificados em extrínsecos e intrínsecos. Os músculos extrínsecos têm origem na perna e inserção no pé, já os músculos intrínsecos têm origem e inserção no interior do pé. Os músculos serão apresentados individualmente com suas respectivas origem, inserção, inervação e ação muscular. A seguir, os músculos serão agrupados de acordo com sua ação muscular. M. plantar M. poplíteo M. tibial posterior M. flexor longo do hálux M. fibular curto M. plantar Mm. sóleo e gastrocnêmio via tendão do calcâneo (de Aquiles) M. fibular longo M. flexor longo dos dedos M. extensor longo dos dedos Inserção proximal (ponto fixo) Inserção distal (ponto móvel) M. extensor longo do hálux M. tibial anterior M. quadríceps femoral via lig. da patela M. gastrocnêmio (cabeça medial) M. gastrocnêmio (cabeça lateral) M. semimembranáceo M. plantar M. sóleo M. flexor longo dos dedos M. tibial posterior M. fibular terceiro M. fibular curto M. fibular terceiro M. fibular curto M. extensor longo do hálux M. extensor longo dos dedos M. fibular longo M. bíceps femoral M. iliotibial Vista anterior Vista posterior M. tibial anterior M. flexor longo do hálux M. semitendíneo* M. grácil* M. sartório* *Pata de ganso (pes anserus) Figura 200 – Face anterior e posterior da perna e do pé direito. As origens musculares são indicadas em vermelho e as inserções musculares são indicadas em azul 164 Unidade II a) Tibial anterior M. tibial anterior Figura 201 – Músculo tibial anterior Origem: côndilo lateral, metade proximal da tíbia; membrana interóssea da perna. Inserção: cuneiforme medial e I metatarso. Inervação: nervo fibular profundo. Ação: dorsiflexão do tornozelo e inversão do pé. b) Gastrocnêmio M. gastrocnêmio Tendão do calcâneo Figura 202 – Músculo gastrocnêmio Origem: cabeça lateral: côndilo lateral do fêmur. Cabeça medial: côndilo medial do fêmur. Inserção: calcâneo por meio do tendão calcâneo. 165 CINESIOLOGIA Inervação: nervo tibial. Ação: flexão plantar do tornozelo. Auxilia a flexão do joelho. Eleva o calcanhar durante a marcha. c) Sóleo M. sóleo Tendão do calcâneo Figura 203 – Músculo sóleo Origem: região posterior da fíbula. Inserção: calcâneo. Inervação: nervo tibial. Ação: flexão plantar do tornozelo. Estabiliza a perna sobre o pé. d) Plantar M. plantar Figura 204 – Músculo plantar 166 Unidade II Origem: linha supracondilar lateral do fêmur e ligamento poplíteo oblíquo. Inserção: calcâneo por meio do tendão calcâneo. Inervação: nervo tibial. Ação: fraco colaborador do músculo gastrocnêmio. e) Tibial posterior M. tibial posterior Figura 205 – Músculo tibial posterior Origem: face posterior da tíbia e fíbula; membrana interóssea da perna. Inserção: tuberosidade do navicular, cuneiformes e base do II ao IV metatarso. Inervação: nervo tibial. Ação: flexão plantar do tornozelo e inversão do pé. 167 CINESIOLOGIA f) Fibular curto Fibular curto Figura 206 – Músculo fibular curto Origem: 2/3 distais da fíbula. Inserção: tuberosidade do V metatarso. Inervação: nervo fibular superficial. Ação: eversão do pé; fraco flexor plantar. g) Fibular longo Fibular longo Figura 207 – Músculo fibular longo Origem: 2/3 proximais da fíbula. 168 Unidade II Inserção: tuberosidade do I metatarso e cuneiforme medial. Inervação: nervo fibular superficial. Ação: eversão do pé; fraco flexor plantar. h) Fibular terceiro Fibular terceiro Figura 208 – Músculo fibular terceiro Origem: 1/3 distal da fíbula e da membrana interóssea. Inserção: V metatarso. Inervação: nervo fibular profundo. Ação: eversão do pé. Auxilia a dorsiflexão. i) Flexor longo dos dedos M. flexor longo dos dedos Figura 209 – Músculo flexor longo dos dedos 169 CINESIOLOGIA Origem: face posterior da tíbia. Inserção: falange distal do 2º ao 5º dedo. Inervação: nervo tibial. Ação: flexão do 2º ao 5º dedo; flexão plantar e sustentação do arco longitudinal do pé. j) Flexor curto dos dedos Nervos digitais plantares próprios (do nervo plantar medial) Artérias digitais plantares próprias Artérias digitais plantares comuns (das artérias metatarsais plantares) Mm. lumbricais Ramo superficial da artéria plantar medial Cabeça lateral e Cabeça medial do m. flexor curto do hálux Tendão do m. flexor longo do hálux M. abdutor do hálux e tendão M. flexor curto dos dedos Aponeurose plantar (cortada) Ramos calcâneos mediais do nervo tibial e ramos do calcâneo da artéria tibial posteriorTuberosidade do calcâneo Processo lateral da Processo medial e M. abdutor do dedo mínimo (profundamente à fáscia “plantar lateral) M. flexor curto do dedo mínimo Artéria metatarsal plantar (da artéria plantar lateral) Tendões do m. flexor longo dos dedos Tendões do m. flexor curto dos dedos cobrindo os Bainhas (fibrosas) dos tendões dos mm. flexores dos dedos Nervos digitais plantares próprios (do nervo plantar lateral) Figura 210 – Músculos flexor curto dos dedos, abdutor do hálux e abdutor do dedo mínimo Origem: tuberosidade do calcâneo, aponeurose plantar e septo intermuscular. Inserção: falange média do II ao V dedo. Inervação: nervo plantar medial. Ação: flexão do II ao V dedo. 170 Unidade II k) Flexor longo do hálux Músculo flexor longo do hálux Figura 211 – Músculo flexor longo do hálux Origem: 2/3 distais da fíbula e da membrana interóssea. Inserção: falange distal do I dedo. Inervação: nervo tibial. Ação: flexão de todas as articulações do I dedo; fraco flexor plantar do tornozelo. l) Flexor curto do hálux Tendão do m. flexor longo dos dedos Tendões do m. flexor curto dos dedos Bainhas fibrosas dos dedos do pé (abertas) Ossos sesamoides Nervos e artérias digitais plantares comuns Mm. lumbricais Cabeça lateral e Cabeça medial do m. flexor curto do hálux Tendão do m. flexor longo do hálux M. abdutor do hálux (cortado) e tendão Tendão do m. flexor longo dos dedos Ramos superficial e profundo da artéria plantar medial Artériae nervo plantares mediais Tendão do m. tibial posterior Tendão do m. flexor longo do hálux Artéria tibial posterior e nervo tibial (dividindo-se) Retináculo dos mm. flexores M. abdutor do hálux (cortado) Ramos calcâneos mediais do nervo tibial e ramos do calcâneo, da artéria tibial posterior Tuberosidade do calcâneo Ramos calcâneos laterais do nervo sural e ramos do calcâneo da artéria fibular M. flexor curto dos dedos e aponerusoe plantar (cortados) Nervo para o m. abdutor do dedo mínimo (do nervo plantar lateral) M. abdutor do dedo mínimo (cortado) M. quadrado plantar Nervo e artéria plantares laterais Ramo profundo do nervo plantar lateral Ramo superficial e M. flexor curto do dedo mínimo Nervos digitais plantares prórpios (do nervo plantar lateral) Nervos digitais plantares prórpios (do nervo plantar medial) Mm. e tendões da segunda camada em negrito Figura 212 – Músculos flexor curto do hálux, flexor curto do dedo mínimo, lumbricais e quadrado plantar 171 CINESIOLOGIA Origem: cuboide e cuneiforme lateral. Inserção: falange proximal do I dedo. Inervação: nervo plantar medial. Ação: flexão da falange proximal do I dedo. m) Flexor curto do dedo mínimo Origem: base do V metatarso. Inserção: falange proximal do V dedo. Inervação: ramo superficial do nervo plantar lateral. Ação: flexão da falange proximal do V dedo. n) Extensor longo dos dedos M. extensor longo dos dedos Figura 213 – Músculo extensor longo dos dedos Origem: côndilo lateral da tíbia e superfície anterior da membrana interóssea e da fíbula. Inserção: falanges média e distal do II ao V dedo. Inervação: nervo fibular profundo. Ação: extensão do II ao V dedo; dorsiflexão do tornozelo. 172 Unidade II o) Extensor longo do hálux Músculo extensor longo do hálux Figura 214 – Músculo extensor longo do hálux Origem: superfície anterior da membrana interóssea e da fíbula. Inserção: falange distal do I dedo. Inervação: nervo fibular profundo. Ação: extensão do I dedo; dorsiflexão do tornozelo. p) Extensor curto dos dedos e extensor curto do hálux Tendão do m. tibial anterior Artéria tibial anterior e nervo fibular profundo Tíbia Tendão do m. extensor longo do hálux Bainha dos tendões do m. extensor longo dos dedos Maléolo medial Bainha do tendão do m. tibial anterior Bainha do tendão do m. extensor longo do hálux Artéria maleolar anterior medial Artéria dorsal do pé e “ramo medial“ do nervo fibular profundo Artéria tarsal medial Artéria arqueada Artéria plantar profunda, passando entre as partes do 1º m. interósseo dorsal para se unir ao arco plantar profundo Tendão do m. extensor longo do hálux “Expansões extensoras“ Nervos digitais dorsais do pé (do nervo fibular profundo) Nervos digitais dorsais do pé (do nervo fibular superficial) Ramos dorsais das artérias e nervos digitais plantares próprios Artérias digitais dorsais do pé Artérias metatarsais dorsais Artérias metatarsais dorsais Nervo cutâneo dorsal lateral (continuação do nervo sural) (cortado) Tendões do m. extensor longo dos dedos M. extensor curto dos dedos e extensor curto do hálux Tendão do m. fibular terceiro Tuberosidade do quinto metatarsal (V) Artéria tarsal lateral e ramo muscular (“lateral“) do nervo fibular profundo (para os mm. do dorso do pé) Retináculo inferior dos mm. extensores Maléolo lateral e artéria maleolar anterior lateral Ramo perfurante da artéria fibular Fíbula Retináculo superior dos mm. extensores M. extensor longo dos dedos e tendão Tendão do m. fibular longo M. fibular curto Nervo fibular superficial (cortado) Figura 215 – Músculos extensor curto dos dedos e do hálux 173 CINESIOLOGIA Origem: calcâneo; ligamento talocalcâneo lateral, retináculo inferior dos músculos extensores. Inserção: primeiro tendão na falange proximal do hálux; outros três tendões nos tendões do músculo extensor longo dos dedos (II ao IV dedo). Inervação: nervo fibular profundo. Ação: auxilia o músculo extensor longo dos dedos na extensão dos dedos. q) Abdutor do dedo mínimo Origem: tuberosidade do calcâneo; aponeurose plantar e septo intermuscular. Inserção: falange proximal do V dedo. Inervação: nervo plantar lateral. Ação: abdução e flexão da falange proximal do V dedo. r) Abdutor do hálux Origem: tuberosidade do calcâneo; retináculo dos músculos flexores e aponeurose plantar. Inserção: falange proximal do I dedo. Inervação: nervo plantar medial. Ação: abdução e flexão da falange proximal do I dedo. 174 Unidade II s) Adutor do hálux Artéria digital plantar própria (do ramo superficial da artéria plantar medial) Ramos perfurantes para as artérias metatarsais dorsais Tendões dos mm. lumbricais (cortados) Ossos sesamoides Cabeça transversa e Cabeça oblíqua do m. adutor do hálux Cabeça medial e Cabeça lateral do m. flexor curto do hálux Ramos superficiais da artéria e nervo plantares mediais Tendão do m. flexor longo do hálux (cortado) M. abdutor do hálux (cortado) Ramos profundos da artéria e nervo plantares mediais Tendão do m. flexor longo dos dedos (cortado) Tendão do m. tibial posterior Artéria e nervo plantares mediais Tendão do m. flexor longo do hálux Retináculo dos mm. flexores M. abdutor do hálux (cortados) M. flexor curto dos dedos e aponeurose planter (cortado) Ramos calcâneos mediais do nervo tibial e ramos do calcâneo, da artéria tibial posterior Tuberosidade do calcâneo Ramos calcâneos laterais do nervo sural e ramos do calcâneo, da artéria fibular M. abdutor do dedo mínimo (cortado) Artéria e nervo plantares laterais M. quadrado plantar (cortado e levemente tracionado) Tendão do m. fibular longo e bainha fibrosa Tendão do m. fibular curto Tuberosidade do quinto metatarsal Arco plantar profundo (arterial) e ramo profundo do nervo plantar lateral Mm. interósseos plantares Artérias metatarsais plantares M. flexor curto do dedo mínimo Tendões do m. flexor curto dos dedos (cortado) Tendões do m. flexor longo dos dedos (cortado) Tendões dos mm. lumbricais (cortados) Nervos digitais plantares próprios (do nervo plantar lateral) Nervos digitais plantares próprios (do nervo plantar medial) Figura 216 – Músculos adutor do hálux, flexor curto do hálux e flexor curto do dedo mínimo Origem: cabeça oblíqua – II ao IV metatarso. Cabeça transversa – ligamentos das articulações metatarsofalângicas do III ao V dedo. Inserção: falange proximal do I dedo. Inervação: ramo profundo do nervo plantar lateral. Ação: adução e flexão da falange proximal do I dedo e sustentação do arco transverso. 175 CINESIOLOGIA t) Lumbricais Origem: tendões do músculo flexor longo dos dedos. Inserção: expansões digitais dorsais do II ao V dedo. Inervação: nervo plantar medial e lateral. Ação: flexão das articulações metatarsofalangeana e extensão das articulações interfalangeanas proximais e distais do II ao V dedo. u) Interósseos dorsais (quatro músculos) Osso navicular Osso cuneiforme lateral Osso cuneiforme intermédio Osso cuneiforme médio Iº osso metatarsal Iª falange proximal Iª falange distal Vª falange distal Vª falange média Vª falange proximal Vº osso metatarsal Mm. interósseos dorsais (bipenados) Tuberosidade do Vº ossos metartarsal Osso cuboide Figura 217 – Músculos interósseos dorsais Origem: superfícies adjacentes do I ao V metatarso. Inserção: 1º – falange proximal do II dedo; 2º ao 4º – superfície lateral do II ao IV dedo. Inervação: nervo plantar lateral. Ação: abdução do II ao IV dedo; flexão das articulações metatarsofalangeanas e extensão das falanges. 176 Unidade II v) Interósseos plantares (três músculos) Iª falange distal Iª falange proximal Ossos sesamoides Iª osso metatarsal Osso cuneiforme lateral Osso cuneiforme intermédio Osso cuneiforme médio Osso navicular Osso cuboide Tuberosidade do Vº osso metartarsal Vº osso metartasal Mm. interósseos plantares (unipenados) Vº falange proximal Vº falange média Vº falange distal Figura 218 – Músculos interósseos plantaresOrigem: III ao V metatarso. Inserção: falange proximal do III ao V dedo. Inervação: nervo plantar lateral. Ação: adução do III ao V dedo; flexão das articulações metatarsofalangeanas e extensão das falanges. w) Quadrado plantar Origem: calcâneo. Inserção: tendão do músculo flexor longo dos dedos. Inervação: nervo plantar lateral. Ação: auxilia a flexão dos dedos. Oponente do dedo mínimo (não está presente em todos os seres humanos) Origem: ligamento plantar longo, V metatarso e bainha tendinosa do músculo fibular longo. Inserção: V metatarso. Inervação: nervo plantar lateral (S2, S3). 177 CINESIOLOGIA Ação: flexão da falange proximal do V dedo na articulação metatarsofalangeana. O quadro a seguir apresenta os músculos distribuídos de acordo com sua ação no tornozelo e no pé. Quadro 19 – Músculos que atuam no tornozelo e no pé (MTF: articulação metatarsofalangeana; IFP: articulação interfalangeana proximal; IFD: articulação interfalangeana distal) Dorsiflexores do tornozelo Tibial anterior Fibular terceiro Extensor longo dos dedos Extensor longo do hálux Flexores plantares do tornozelo Gastrocnêmio Sóleo Plantar Tibial posterior Fibular longo Fibular curto Flexor longo dos dedos Flexor longo do hálux Inversores do pé Tibial anterior Tibial posterior Eversores do pé Fibular longo Fibular curto Fibular terceiro Flexores dos dedos Flexor longo dos dedos Flexor curto dos dedos Quadrado plantar Flexor longo do hálux Flexor curto do hálux Flexor curto do dedo mínimo Lumbricais (MTF) Interósseos dorsais (MTF) Interósseos plantares (MTF) Oponente do dedo mínimo Extensores dos dedos Extensor longo dos dedos Extensor curto dos dedos Extensor longo do hálux Extensor curto do hálux Lumbricais (IFP e IFD) Interósseos dorsais (IFP e IFD) Interósseos plantares (IFP e IFD) 178 Unidade II Abdutores dos dedos Interósseos dorsais Abdutor do hálux Abdutor dedo mínimo Adutores dos dedos Interósseos plantares Adutor do hálux 6.6 Arcos plantares Conforme discutido inicialmente, o pé apresenta uma característica de flexibilidade e rigidez simultâneas, e a capacidade de mudar de uma condição para outra durante um passo, está relacionada à presença da estrutura óssea que forma os arcos plantares, do suporte passivo ligamento-fascial e da atividade muscular dinâmica. Devido à mudança na curvatura e elasticidade, o pé pode se adaptar às irregularidades da superfície, transmitir ao solo os esforços e peso do corpo, amortecer o impacto e impulsionar o corpo para frente. São observados três arcos na região da planta dos pés: arco longitudinal medial, arco longitudinal lateral e arco transverso. O arco longitudinal medial é o mais evidente e o principal responsável pela sustentação do peso e amortecimento de impacto, sendo formado pelos ossos calcâneo, tálus, navicular, cuneiformes e os três metatarsos mediais. O arco longitudinal lateral é o menos evidente e rígido, sendo formado pelos ossos calcâneo, cuboide e quinto metatarso. O arco transverso é côncavo de medial para lateral e é composto pela cabeça dos metatarsos. A A B B C C Figura 219 – Arcos plantares: arco longitudinal medial (AC), arco longitudinal lateral (BC) e arco transverso (AB) Os arcos são mantidos por ligamentos e músculos da superfície plantar e os principais ligamentos e músculos que os mantêm são descritos no próximo quadro. 179 CINESIOLOGIA Quadro 20 – Arcos plantares com ligamentos e músculos que os sustentam Arco Ligamento Músculo Longitudinal medial Calcaneonavicular plantar Talocalcâneo interósseo Tibial anterior Tibial posterior Fibular longo Flexor longo do hálux Abdutor do hálux Adutor do hálux Longitudinal lateral Calcaneocuboide plantar Fibular curto Fibular longo Abdutor do V dedo Transverso Intermetatarsal Feixe transverso do abdutor do hálux 6.6.1 Aplicações clínicas Como descrito, os arcos são estabilizados por ligamentos e músculos, sendo que um desequilíbrio pode levar a alterações. Discutiremos algumas das disfunções mais comuns na região. • Pé plano: está presente quando os arcos estão aplainados pelo peso do corpo, pela contratura dos músculos que se fixam na sua convexidade (tibial posterior, fibular terceiro, extensor longo dos dedos e extensor longo do hálux) e/ou pela fraqueza dos músculos da concavidade. • Pé cavo: caracterizado por um excessivo aumento do arco longitudinal que pode ocorrer pela contratura dos músculos que se inserem em sua concavidade (tibial posterior, fibulares, plantares e flexores dos dedos) e/ou pela insuficiência dos músculos que agem na convexidade. • Arco transverso rebaixado: serão observadas calosidades na face plantar das cabeças dos metatarsos e está frequentemente associado ao pé cavo e aos dedos em martelo. • Hálux valgo: desvio do hálux em valgo e do I metatarso em varo. Um achado comum é a subluxação dos ossos sesamoides. Essa condição clínica pode levar à dor e instabilidade e à diminuição do equilíbrio, além de aumentar o risco de quedas em idosos. • Dedo em martelo: ocorre uma hiperextensão da articulação metatarsofalangeana e flexão da articulação interfalangeana proximal. As causas são desequilíbrio dos músculos sinérgicos, hereditariedade e condições mecânicas. • Dedo em garra: apresenta uma hiperextensão da articulação metatarsofalangeana com flexão dos dedos. As causas são fraqueza dos músculos interósseos e lumbricais. 180 Unidade II 6.7 Coxim adiposo Formado por tecido adiposo comprimido em compartimentos delimitados por septos fibrosos resistentes. Tem como função amortecer impactos e proteger o aparelho motor contra traumas, podendo suportar cargas que correspondem em até sete vezes o peso corporal. Com o envelhecimento, sua capacidade de absorção e proteção são diminuídas. Artérias e nervos digitais plantares próprios Fascículos transversos Feixes digitais da aponeurose plantar Fáscia plantar medial Ramos cutâneos da artéria e nervo plantares mediais Aponeurose plantar Ramos mediais do calcâneo do nervo tibial e artéria tibial posterior Tuberosidade do calcâneo com coxim adiposo de cobertura (parcialmente removido) Banda lateral da aponeurose plantar (ligamento calcaneometatarsal) Ramos cutâneos da artéria plantar lateral e nervo Fáscia plantar lateral Ligamentos metatarsais transversos superficiais Figura 220 – Vista plantar do pé com coxim adiposo parcialmente removido e aponeurose plantar 6.8 Aponeurose plantar A aponeurose plantar é uma densa fáscia presente em todo o comprimento do pé (estende-se do calcâneo até as falanges proximais), sendo importante para manter a estrutura e a função dos arcos plantares. Estrutura importante para dar resistência às sobrecargas compressivas e ao estresse de tensão aplicado na aponeurose plantar tensionada. 6.9 Análise cinesiológica do tornozelo e do pé Considerando os aspectos articulares e musculares discutidos até aqui sobre o tornozelo e o pé, vamos aplicar esse conhecimento na análise de exercícios. Serão abordados dois exercícios de fortalecimento. Lembre-se de que a ativação de um grupo muscular ou outro sempre dependerá do local e do sentido da resistência imposta ao movimento. Sabendo-se disso, vamos pensar no seguinte exercício: 181 CINESIOLOGIA Exercício 1 Considerando o indivíduo que realiza o exercício com as características detalhadas a seguir, descreveremos os músculos contraídos, tipo de contração muscular e cadeia cinética. Posição inicial: indivíduo na posição ortostática. Fase 1: realiza flexão plantar do tornozelo. Fase 2: retorna à posição inicial. A) B) Figura 221 – A) posição inicial; B) flexão plantar do tornozelo Durante a fase 1, os músculos flexores plantares (gastrocnêmio, sóleo, plantar, tibial posterior, fibular longo, fibular curto, flexor longo dos dedos e flexor longo do hálux) contraem-se concentricamente para vencer a resistência externa (peso do corpo). Durante a fase 2, para retornar à posição inicial, ocorre uma dorsiflexãocontrolada, pois agora quem vence é a resistência externa. Para realizar esse controle, os músculos flexores plantares contraem-se excentricamente. O movimento ocorre com o segmento distal da cadeia fixo no chão, o que vai caracterizar uma cadeia cinética fechada. 182 Unidade II Exercício 2 Nesse exercício vamos nos atentar para a mudança do sentido da resistência externa sobre o segmento, o que influenciará no grupo muscular recrutado. Levando isso em consideração, descreveremos os músculos contraídos e tipo de contração muscular. Fase 1: realiza inversão do pé. Fase 2: realiza eversão do pé. Figura 222 Na fase 1, o movimento de inversão do pé ocorre contra a resistência da faixa elástica e, para tal, é necessário que ocorra uma contração concêntrica dos músculos inversores; já na fase 2, o movimento de eversão do pé ocorre contra a resistência da faixa elástica, portanto agora será uma contração concêntrica dos músculos eversores. Saiba mais Leia o artigo científico disponível a seguir: PEZZAN, P. A. O.; SACCO, I. C. N.; JOÃO, S. M. A. Postura do pé e classificação do arco plantar de adolescentes usuárias e não usuárias de calçados de salto alto. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 13, n. 5, 2009; p. 398-404. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v13n5/aop051_09. pdf. Acesso em: 14 fev. 2020. 183 CINESIOLOGIA Resumo Embora existam semelhanças entre as articulações dos membros superiores e dos membros inferiores, o membro superior apresenta maior mobilidade que permite posicionar a mão em qualquer local no espaço, já os membros inferiores apresentam maior estabilidade visto sua grande importância na locomoção e sustentação de peso. Nesta unidade estudamos as articulações que formam os membros inferiores, ou seja, quadril/pelve, joelho, tornozelo e pé. Sendo que em todas as articulações foram abordados os tópicos osteologia, artrologia, sistema ligamentar, sistema muscular e atividade cinesiológica. O quadril é responsável pela distribuição das cargas da parte superior do corpo para os membros inferiores durante condições estáticas e dinâmicas, sendo que funcionalmente seus movimentos acontecem principalmente em cadeia cinética fechada acompanhados muitas vezes de movimentos da pelve e coluna lombar. O joelho é a articulação intermediária do membro inferior e garante ao homem executar a maioria das atividades de vida diária, seja estabilizando a posição ortostática, dando mobilidade ao membro inferior, seja permitindo a este maior alcance funcional e ajuste do corpo ao ambiente. O tornozelo e o pé constituem a porção distal do membro inferior formando a unidade funcional receptora de carga e propulsora do membro inferior, com diversas ações, entre elas receber o peso corporal e adaptar-se às irregularidades da superfície. Exercícios Questão 1. (FCC 2018) Uma mulher apresenta quadro de dor patelofemoral para subir e descer escadas. O fisioterapeuta que atende a paciente adicionou ao seu tratamento exercícios de fortalecimento dos abdutores do quadril, rotadores laterais e extensores. A racionalidade para essa decisão clínica está baseada no fato de que: A) Esses exercícios podem reduzir a adução excessiva do quadril e a rotação medial durante as atividades de suporte de peso e diminuir o estresse da articulação patelofemoral. B) Esses exercícios podem reduzir a abdução excessiva do quadril e a rotação medial durante as atividades de peso e diminuir o estresse da articulação patelofemoral. 184 Unidade II C) Esses exercícios podem reduzir a adução excessiva do quadril e a rotação lateral durante as atividades de suporte de peso e diminuir o estresse da articulação patelofemoral. D) O efeito direto desses exercícios aumenta a estabilidade do tornozelo, refletindo na melhora da dor patelofemoral. E) O efeito direto desses exercícios aumenta a estabilidade do tronco, refletindo na melhora da dor patelofemoral. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a articulação do quadril tem uma característica especificamente de mobilidade, dito isso, o fortalecimento se torna essencial a fim de promover uma maior estabilidade sobre a região durante atividades físicas. B) Alternativa incorreta. Justificativa: o indivíduo com a musculatura fortalecida adequadamente às suas atividades exercidas resultará em um melhor controle neuromuscular e equilíbrio das forças externas e internas em ação no movimento dinâmico, melhorando assim o alinhamento postural nas atividades. C) Alternativa incorreta. Justificativa: esses exercícios podem reduzir a adução excessiva do quadril e a rotação medial durante as atividades de suporte de peso e diminuir o estresse da articulação patelofemoral. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o fortalecimento dos músculos do tronco pode estar inserido em programas de treinamento e reabilitativos, para que o melhoramento na força desses músculos possa incidir de maneira positiva no alinhamento dos membros inferiores, reduzindo o joelho valgo e os riscos de lesões. E) Alternativa incorreta. Justificativa: no intuito de evitar lesões sobre o joelho, o indivíduo deve estar atento a melhorar seu nível de força, flexibilidade, controle neuromuscular, equilíbrio e outros fatores. 185 CINESIOLOGIA Questão 2. (FCC 2018) A ação de inclinar o tronco para frente e para baixo em direção ao solo, mantendo os joelhos em extensão requer a contribuição da articulação do quadril e da coluna lombar (ritmo lombo pélvico). O grau de flexão do quadril e da coluna lombar nessa ação, respectivamente, são: A) 50° – 50° B) 60° a 70° – 40° a 45° C) 40° a 45° – 40° a 45° D) 60° – 60° E) 70° a 90° – 40° a 45° Resposta correta: alternativa E. Análise da questão Justificativa geral: como não há flexão na coluna torácica e postulando que 75% da flexão lombar se dá na articulação lombossacral, pode-se argumentar que então 75% de toda a flexão da coluna ocorre nesta articulação, variando de 70º a 90º. A flexão possível nos quadris é atribuída à mobilidade da cintura pélvica. Por exemplo, quando se realiza a flexão do quadril com os joelhos estendidos, vários fatores podem restringir potencialmente a amplitude de movimento. As causas mais comuns são os músculos tensos da coluna lombar e os músculos tensos posteriores da coxa. Obviamente, com os músculos da coluna lombar tensos, a flexão lombar é restrita (CAILLIET, 1979). Os músculos de cada uma das cinco unidades funcionais da coluna lombar alongam-se suficientemente para permitir que as unidades funcionais separadas se curvem. Cada unidade funcional é fletida de aproximadamente 8 a 10 graus. Uma vez que há cinco unidades funcionais na coluna lombar, a parte lombar pode flexionar-se num total de 40 a 45 graus do centro de gravidade. Quando a coluna tiver inclinado 45 graus, os músculos terão sido alongados em seu limite máximo, e seus revestimentos fibrosos, chamados de bainhas, não se esticarão mais. A coluna lombar estará agora totalmente curvada (RASCH, 1991).